Traduzindo Esforços: Educação e Linguagem Rumo ao Século XXI
Gabriele Greggersen 20 de agosto,
1999
Resumo: Grande parte dos desafios do educador de hoje passa pela questão
da linguagem: como administrar a grande variedade de significados? Que tipo de
diálogo privilegiar com o aluno, que linguagem utilizar? Essa problemática
evidencia-se no trabalho de tradução. O tradutor, mais do que ninguém, sabe
como é difícil manter um sentido, apesar da variedade do contexto. E, o
que é um educador, se não um “tradutor” de significados? C. S. Lewis tem muito a contribuir a esse debate, com o seu estudo
do fenômeno de “entropia” ou lei da depreciação do sentido das palavras. A pouco explorada importância da
linguagem na educação, tem gerado inconsistências nos discursos da área que um
Projeto Pedagógico coordenado entre educadores e lingüistas poderia evitar. Introdução: Nesse artigo, falaremos sobre a relação entre educação,
comunicação e lingüística, lançando as bases para um projeto pedagógico, capaz
de fazer frente aos desafios tanto da língua, quanto da educação, na era da
globalização. Defenderemos assim, a necessidade do educador
"tradutor" de significados, com um discurso mais coerente e
consistente, consciente da relação entre educação e comunicação, que se pauta
por uma tábua de valores humanos comuns. Comunicação e
Sentido Antes de abordarmos nosso tema, lembramos um diálogo entre Alice e
Huempty Deumpty em Alice no País das Maravilhas: - Não sei o que vocês entendem por
‘glória’ – diz Alice (Heumpty Deumpty sorri com um ar de desprezo) - É claro que você não sabe porque
ainda não lhe expliquei. Eu entendia por isso: eis para você um belo argumento
sem réplica! - Mas ‘glória’ não significa ‘ belo argumento sem réplica’ – objetou Alice. - Quando emprego uma palavra – respondeu
Heumpty Deumpty, com um tom algo desdenhoso – ela significa exatamente o que eu
desejo que ela signifique... nem mais nem menos. - A questão é saber – diz Alice – se
você tem o poder de fazer com que as palavras signifiquem outra coisa diferente
do que querem dizer. - A questão é saber – respondeu Heumpty Deumpty – quem será o Mestre... nada
mais.[1]: Como em todo bom conto de
fadas, podemos observar neste exemplar elementos importantes da comunicação e
que são também fundamentais para a educação. Esse trecho mostra que nem tudo o
que dizemos, é recebido da forma como imaginamos ou desejamos; mostra que entre
emissor, receptor e mensagem, há necessidade de algo mais do que simples transmissão. Pois as palavras não podem passar
de simples etiquetas, e quem quiser, pode dar o sentido que bem entende a elas.
Não podemos Ter certeza se as palavras não passam de ideais, invenções ou ilusões,
mas também não há nada que sustente esta hipótese. O jornalista britânico G.K.Chesterton
já dizia que seria no mínimo desequilibrado aquele que ateasse fogo em Roma,
esperando que em poucos minutos seu servo viesse acordá-lo para mais um belo
dia. Vamos
imaginar a remota possibilidade de que
um professor pensasse como Heumty Deumpty, acreditando que as palavras são
arbitrariedades e que depende exclusivamente de cada um, dar o sentido que
quiser a elas. Nesse caso, poderemos pensar em um diálogo aluno-professor, nos
seguintes termos: Professor
- Hoje eu explicarei a vocês o que é um
discurso. Discurso é a arte de falar alguma coisa muito bonita, a que os alunos
devem prestar muita atenção. Alunos
-
Mas, professor, para nós, “discurso” é uma espécie de sermão. E, se é que é uma
arte, é a de falar muito, sem dizer
nada. Não estamos entendendo... Professor
-
Não importa o que discurso é `para vocês’. O que interessa é, se aprenderam o
que eu ensinei. Agora vocês captaram o que é um discurso? Alunos – Se é o senhor
que diz... Note-se que esse professor, além de não ter consciência do poder
implicado nas palavras, cometeu alguns
erros gravíssimos, indicadores de uma postura equivocada diante da linguagem e
que refletem fielmente uma postura diante do conhecimento e da educação.
Primeiro: “Hoje eu ensinarei...”.
Pergunta-se, até que ponto o professor pode reivindicar para si ser o sujeito
exclusivamente responsável pelo ensino e sobre o tempo necessário para a
aprendizagem? Outra questão chave é saber, se é possível sequer determinar o
momento exato do ensino. De acordo com Mc Keachie: Não existe um só método que tenha dado o
mesmo resultado com todos os alunos... O ensino torna-se mais eficaz quando o professor conhece a
natureza das diferenças entre seus alunos (Wilbert J. Mc Keachie). [2] Para o educador, há muitos mistérios e poucas teorias generalizáveis
ou pautáveis de sucesso. Educar é sempre um investimento de altíssimo risco!
Não basta aplicar uma teoria ou método miraculoso. Para a educação vale o mesmo
que para a leitura: não se trata de um simples processo de codificação e
decodificação, de uma questão de domínio da gramática do saber como querem
alguns professores, para a qual bastasse um clicar na tecla “enviar”. De acordo com Blikstein, O conhecimento da gramática é apenas um dos meios para chegarmos a uma comunicação correta,
mas não é um fim em si mesmo. Ao escrever, não devemos
ficar obcecados em demostrar
erudição e cultura gramatical. Se quisermos escrever
bem, isto é, de modo eficaz, devemos dirigir a nossa preocupação para a três funções básicas (da
comunicação), produzir resposta, tornar comum e persuadir.(Blikstein, 1985: 23)[3] Apesar do conceito ser amplamente adotado, que ensinar é “
transmitir” de informações. Será possível assim "passar" conhecimentos,
como se fossem arquivos de computador? Será que a educação se completa quando
os alunos "captam" informações? No entanto, essa metáfora, da
“transmissão” do “passar” conhecimento é muito popular entre os educadores. Outro aspecto interessante é a forma de avaliação, totalmente
limitada ao nível conceitual, sendo aferida por uma resposta induzida. “Compreender, na perspectiva
discursiva, não é, pois, atribuir um sentido, mas conhecer os mecanismos
pelos quais se põe em jogo um determinado
processo de significação (Orlandi, 1993:
117). [4] O professor do nosso exemplo não estava muito interessado nos
mecanismos de aprendizagem e muito menos na diferença específica do aluno, mas
somente em respostas positivas às suas expectativas. Mas o equívoco fundamental nessa relação de comunicação não se
limita ao significado dos termos “ensinar” e “aprender”. Há toda uma postura
ética equivalente. O professor recaiu na arbitrariedade ideológica,
determinando previamente e sem contexto, o sentido que atribui à palavra e
fazendo pouco caso, tanto do sentido mais universal das palavras, quanto da
pessoa dos alunos. Não devemos esquecer que " comunicação" traz implícito no termo a idéia de algo comum, tanto no sentido de algo compartilhado ou participado (o que exige do professor certo grau de empatia),
quanto no sentido de simples. Se atentarmos para a origem etmológica de simplex, notaremos que a palavra
significa “sem plicas”, ou seja, sem dobras, plano, claro, sem com-plicações.
Ser e tornar as coisas simples é uma das habilidades e compromissos éticos que
todo professor deve assumir. Como já dizia Rogers, ... o fim da educação ... é facilitar a mudança
e a aprendizagem... facilitar a aprendizagem reside em certas qualidades de
atitude que existem na relação pessoal entre o facilitador e o aprendiz. [5] Perguntamo-nos, assim, que contribuição a lingüística pode trazer
para facilitar a aprendizagem, no sentido de ajudar o educador a melhor
explicitar os conceitos fundamentais e traduzi-los para a prática de sala de
aula? Educação e Sentido Podemos buscar alguma luz para o mistério da relação entre a linguagem
e a educação no insuspeito conceito bíblico de Logos. Reza a Bíblia que “ No princípio era o Logos, e o Logos
estava com Deus e o Logos era Deus.” (João 1:1). A palavra tem várias acepções esclarecedoras para a relação entre
educação e linguagem. A primeira delas é a de verbo, ou seja, da palavra
proferida por Deus na Criação: “ Haja luz...” A Segunda é a do próprio Filho de
Deus, Cristo, que é, não por acaso, também chamado de “Verbo encarnado”. Outra
acepção é a de intimidade revelada por Deus na criação específica do homem,
através do seu “sopro divino”. E finalmente, Logos também é sinônimo de ratio, ou seja, sentido, lógica de
funcionamento de um ser, conforme um projeto “bolado” na mente de alguém.
Assim, os ingredientes usados por Deus na criação do mundo foram Linguagem e
Sentido, com uma pitada especial, no caso do homem, do ingrediente principal:
amor. Pedagogia e
Lingüística Como podemos ver no exemplo acima, grande parte dos desafios do
educador passa pela questão da linguagem. E os aspectos abordados nos levam a
outra grande questão: como pode o professor orquestrar essa variedade de
significados? Que tipo de diálogo privilegiar com o aluno? Que linguagem
utilizar para provocar nele esse tipo de compreensão abrangente e, ao mesmo
tempo profunda das coisas? Essa problemática evidencia-se no trabalho de
tradução. Todo tradutor sabe como é difícil manter um sentido, apesar da
variedade do contexto. E, o que é um educador, se não um “tradutor” de
significados? Ser um trans-dutor é muito diferente de um simples “transferidor”.
Um transmissor não pensa, só executa, enquanto para o tradutor, não há um
método único, e nem sequer um caminho seguro, mas as melhores traduções são
aquelas baseadas em muito diálogo e reflexão. E o diálogo urgente a que nos
propomos aqui, é aquele entre educação e linguagem. Intercambiando
esforços A pouco explorada importância da linguagem na educação, tem gerado
inconsistências nos discursos do campo de educação: na década passada
enfatizava-se a denúncia do elitismo, da massificação e a valorização das
capacidades individuais. Uma
das poucas linhas de pesquisa que continuaram férteis foi a de estudo do papel
da linguagem na educação (podemos citar os estudos do e relacionado ao famoso
autor russo Vygostky e seu companheiro, Luria, os pensadores da Escola de
Frankfurt, e os discípulos de Piaget, além de vários autores brasileiros, que
estão desenvolvendo estudos nesta área). Não por acaso temos observado hoje uma
busca pela identidade e unidade do campo educacional, através de discussões em
torno de um Projeto Pedagógico, Parâmetros Curriculares Nacionais, Planos de
“Uma Escola Só para Todos”, etc. Contudo, os nexos com a linguagem estão por toda a parte. Por exemplo,
o " ensino" é considerado na atual LDB 9394/96 (§ 1º do art. 1º) o
principal meio educacional. No art.
3º, são explicitados seus princípios: igualdade, liberdade, pluralismo,
tolerância, gratuidade em estabelecimentos públicos; valorização do educador,
gestão democrática, qualidade e associação a práticas sociais. É destacado
ainda como meio de união entre teoria e prática (art.35º) e de estímulo aos
estudantes, adotando uma metodologia (art. 36º). Trata-se ainda de uma forma de
"comunicar o saber" (art.
43º). Em outro momento (art 4º), a lei se refere ao ensino como um direito do cidadão e um dever do Estado.
Mas, na maioria das vezes, a palavra " ensino" é o prefixo para
distinguir os níveis, modalidades e sistemas que compõe a estrutura escolar. Embora não com a mesma freqüência, a palavra "aprender"
(e seus derivados) também ocorre nos mesmos contextos que a palavra
"ensinar" (e seus derivados), exceto quanto a ser um meio. A
aprendizagem não é um meio, e sim, um
processo (art. 23º). A relação é tão
importante que se criou até um termo novo " ensino-aprendizagem",
empregado duas vezes no texto da lei (art. 5º e 42º). Alegria e Ensino Nesse contexto, o catedrático de literatura medieval e
renascentista de Oxford e Cambridge, C.S. Lewis, muito contribui para esse
debate, com o seu estudo do fenômeno de “entropia” ou lei da depreciação do
sentido das palavras. De acordo com a sua filosofia, sempre que tratamos de assuntos
complexos (como praticamente todos as questões educacionais) é preciso
distinguir os níveis da discussão ou o sentido que se está atribuindo aos
termos, que são, no mínimo dois: o nível mais essencial e o nível secundário ou
relativo. Tomemos a palavra happiness ou
joy, por exemplo, sobre a qual o
autor comenta: “Chamo-o Alegria, que aqui é um termo técnico e precisa ser
agudamente distinguido tanto de Felicidade quanto de Prazer”.[6]
A palavra happiness, no inglês, guarda relação tanto com happy, quanto com happen e per hapst. Qual será a relação primária? Todos conhecemos bem o
sentido da alegria. Embora não saibamos bem como defini-la e distinguí-la
muitas vezes do outro conceito correlato, o da felicidade, contudo, temos
facilidade de reconhecê-la e senti-la quando ela ocorre. Alegria é algo que
simplesmente acontece. Não a "planejamos", por assim dizer. O
planejamento demasiado pode até vir a estragá-la, ao contrário da felicidade,
que pode e deve ser intencional (por outro lado, muitas vezes, se tanto
meramente desejamos a felicidade, de
tanto querer, deixamos a felicidade escapar entre os dedos) . Feliz é aquele
que leva a bom termo um projeto. Por outro lado, o que unifica o
a felicidade ao estar alegre (happy)
é que ela não seja algo que acontece
sempre ou garantidamente. Daí que a relação com per hapst, no pareça secundária, pois parte do pressuposto de que
ela acontece. Não se pode obrigar
ninguém a estar alegre ou ser feliz. Trata-se de um evento que pode acontecer ou não. Apesar
do conceito de alegria não ter aparentemente nada a ver com a educação e muito
menos com a escola, o autor faz constantes referências a ela ao longo da
narrativa da sua peregrinação em busca da alegria, como podemos observar nos
seguintes trechos: "Quando entrávamos na escola às
nove da manhã, cada um pegava a sua lousa e começava a fazer cálculos. Logo
depois, éramos chamados a ´recitar a lição´. Terminado isso, cada um voltava ao
seu lugar e fazia mais cálculos - infinitamente. Assim, todas as outras artes e
ciências surgiam como ilhas (na maioria, ilhas rochosas e perigosas).[7]
Naquela escola eu sabia que a maioria
dos meninos não aprendia nada, e que nenhum deles aprendia muito.[8] Se em cada geração os pais sempre, ou
freqüentemente soubessem o que acontece de verdade nas escolas dos seus filhos,
a história da educação teria sido muito diferente.[9]
Nas páginas seguintes, Lewis narra ainda seu processo de
amadurecimento de cético, questionador e ateu, para teista e, finalmente, já na
fase adulta, para cristão " autêntico“. Com
isso o autor parece querer nos dizer que, antes de lidar com os assuntos
complexos da vida, devemos aprender a distinguir o essencial do que é
secundário e saber estabelecer pontes entre esses níveis hierárquicos, para não
perdermos a visão do conjunto. Essa postura aberta e equilibrada, é a um tempo
a metodologia por ele adotada e a melhor condição para propiciar uma real
aprendizagem. Graças a essa postura podemos concluir do testemunho vivo deste
velho professor que, por mais negativa que possa ser, num primeiro momento,
toda experiência de vida é educadora. Através dela podemos aprender tudo,
inclusive a ensinar. Ela, a experiência viva, é que é o verdadeiro
"mestre". Como já dizia Guimarães Rosa, “Mestre não é aquele que ensina, mas
aquele que, de repente, aprende...” Ou seja, mestre não é o que reproduz, transmite ou passa conhecimento,
mas aquele que é humilde o suficiente para aprender, com a vida, a gerenciar
experiências, que, se tudo correr bem, acontecem, eu diria quase que
"apesar do professor", nesse velho e conhecido espaço vivo chamado
sala-de-aula. Por outro lado, essas experiências só podem realizar-se por
completo, quando transcendem esse mesmo espaço. Do contrário, perderão o
sentido para o aluno e com isso, perdem também a chance de real aprendizagem. O ensino, assim, nada mais é do que a conseqüência natural e
repentina de uma busca que deu certo (mas que poderia muito bem não Ter dado):
a busca pela educação. Pode-se dizer até que o melhor método didático para a aprendizagem
efetiva é o da transposição, ou seja, de transporte, tradução de significados
para fora de um contexto e "encarnação" em outro contexto diferente,
sem danos ao sentido total. É interessante, nesse sentido, lembrar o significado de ensinar em
hebraico, vem de uma antiga tradição, chamada “ hannuk”, que consistia em
passar óleo no palato do bebê recém-nascido, estimulando-o a mamar sem qualquer
dificuldade, ou seja, preparar ou treinar a criança para receber alimento sólido,
vida e prazer. O processo de transposição ou encarnação de conceitos vivos pode
ser muito estimulado ainda por atividades como quando contamos um
conto-de-fadas ou quando interpretamos uma parábola; quando resolvemos um
problema algébrico, analógico ou probabilístico; quando jogamos um jogo
educativo; etc. Não por acaso experiências milenares e “educativas por
excelência” como essas, que combinam tão pouco com o “espírito do tempo”, são
periodicamente revitalizadas nos meios educacionais (daí que, todos esses métodos
da chamada “aprendizagem vivencial” são alternativas viáveis para enfrentamento
dos desafios da educação na atualidade). Como dizia Lewis em The
Weight of Glory (O Peso da Glória),
o problema do homem de hoje não é o excesso de prazeres e luxúria e sim, a
incapacidade de distinguir o que é essencial do secundário. Assim deixa de
valorizar as coisas e os momentos da vida que o valem de fato, contentando-se
muitas vezes com migalhas... De acordo com o Dr. Thomas Howard (autor de vários
livros, entre os quais uma biografia de Lewis), enquanto acadêmico e professor
(scholar), Lewis nunca defendeu
coisas materiais como livros, em si
mesmas, nem mesmo os clássicos. Valorizava, isso sim, as mentes vivas por detrás dos textos. Para que
sejam bons, os livros devem refletir o caráter do autor, através de um estilo
claro, humilde, rico em imagens e capacidade de síntese. Assim, como apologeta,
Lewis foi um grande crítico do espírito moderno e sua tendência de, por um lado
deshumanizar e coisificar o homem e, em contrapartida, relativizar ou tornar
subjetivos, principalmente os valores humanos. Nos seus escritos, Lewis respeita
a racionalidade do leitor e o fato de que o hábito da reflexão mais profunda
não é algo espontâneo, muito menos fácil nesses tempos de stress e correria e decrescente hábito de leitura. E quanto à relação entre os verbos “ensinar” e “aprender”? É
interessante notar que não existe essa distinção no inglês, por exemplo. O
verbo to learn pode ser usado tanto
para o estudo, quanto para o ensino e a aprendizagem dele resultante. Aliás, learning é sinônimo de knowledge, (conhecimento), erudition (erudição), information (informação), education (educação), science (ciência), wisdom (sabedoria), scholarship
(ser acadêmico), lore (lição), understanding (compreensão).
"Aprender" em português é, no máximo, sinônimo de estudar, conhecer e
instruir-se. De fato, no inglês, a aprendizagem
é mais utilizada para designar o ensino, do que teaching. Por exemplo, uma instituição de ensino é denominada Learning Organization (e não teaching...), o processo de
ensino-aprendizagem chama-se learning
process. Método de estudo é learning
method, etc. A partir deste pequeno esforço de tradução e interpretação,
pudemos notar uma diferença de uma postura focada no ensino-transmissão e
outra, na aprendizagem e no conhecimento objetivo, o que está intimamente
relacionado à cultura. [10]Como
autora de um trabalho acadêmico sobre o que se tornou seu clássico da
literatura infanto-juvenil, O Leão, a
Feiticeira e o Guarda-Roupa, da série de contos As Crônicas de Nárnia (recentemente relançadas pela Editora Martins
Fontes), empenho-me hoje na difusão da literatura de escritores considerados clássicos, no Brasil. Para isso,
inspiro-me em alguns dos objetivos da C.S.
Lewis Foundation, sediada na Califórnia, e que organizou as comemorações do
centenário de sua morte em Oxford e Cambridge em 1998 e por nós sintetizadas
nos seguintes tópicos: 1.)
A reconstrução de personalidades,
da identidade e do espírito acadêmico entre estudantes e professores. Se não
houver cura das memórias e reconstrução de uma visão clara e desimpedida do
sonho da universidade, continuaremos condenados à viver a fome intelectual e
cultural que vivemos hoje, além da espiritual. 2.) Ministrar e coordenar palestras, mesas-redondas e seminários
em entidades, universidades e faculdades, discutindo temas de interesse geral
não apenas de estudantes, mas também de todos os interessados na manutenção e
renovação do espírito acadêmico expresso nos Great Books. 3.) Contribuir para a re-construção do verdadeiro espírito
universitário.[11] Esses objetivos são ainda mais importantes, se considerarmos o
mundo de hoje, que se queixa da falta de grandes pensadores e grandes idéias,
capazes de reunificar os fragmentos de tantos paradigmas quebrados, dando um
norte ao tão falado processo de globalização não apenas da economia, mas também
da cultura e dos valores humanos. Diante do cenário de mudanças bruscas que vivemos hoje, uma das
habilidades exigidas do educador, constantemente desafiado pelas inovações
teóricas e práticas de sala-de-aula, e talvez até, uma das mais importantes, é
a de aprender a lidar com a diferença, sem danos à unidade do esforço
pedagógico. A descontinuidade e instabilidade que se pode observar dentro e
fora do contexto escolar reflete os paradoxos inerentes à fragmentação e
desigualdade (que, aliás, também manifesta uma crescente busca pela tal da
"globalização") predominantes no mundo de hoje. Considerações
Finais: Podemos afirmar então, que a educação de hoje sofre da falta de
uma nomenclatura ou tábua de conceitos coerente e consistente, capaz de
sustentar a união de esforços em torno de projetos comuns, o que parece ser um
reflexo da falta de coerência entre posturas educacionais divergentes e mal
orquestradas. A partir daí, podemos concluir a necessidade de um esforço por
aproximar os diferentes termos, adotados em diferentes culturas para os mesmos
fenômenos educacionais, buscando esse referencial universalizável, que possa
criar o espaço necessário para viabilizar um projeto educativo
interdisciplinar. O primeiro passo para tanto é o de criar nos educadores de hoje, o
bom hábito da tradução e análise de conteúdo dos textos e discursos com os
quais se confronta no seu dia-a-dia, num esforço que unifique educadores e
lingüistas num projeto de melhoria global da educação voltado para o novo
milênio. BIBLIOGRAFIA AMADO, Gilles e
GUITTET, André A Dinâmica da Comunicação nos Grupos. Trad. Analúcia T.
Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. BORDENAVE, Juan Díaz
e PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de
Esnsino-Aprendizagem. 10ª ed. Petrópolis: Ed. Vozes1988. EDWARDS, Bruce L. Taste Of The
Pineapple: Essays On C. S. Lewis As Reader, Critic, And Imaginative Writer. Bowling
Green, OH: Bowling Green State University Popular Press, 1988. LEWIS, C.S., Surprised
by Joy. New York: Harcourt Brace, 1954. (Lançado em
português pela Editora Mundo Cristão, com o título Surpreendido pela Alegria.) MEDEIROS, João
Bosco de. Redação Científica. 3ª ed.
São Paulo: Atlas, 1997.
Dra. Em História e Filosofia da Educação –
Universidade de São Paulo
[1]AMADO, Gilles e GUITTET, André A Dinâmica da Comunicação nos Grupos. Trad. Analúcia T. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p. 46-47.
[2]BORDENAVE, Juan Díaz e PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de Esnsino-Aprendizagem. 10ª ed. Petrópolis: Ed. Vozes1988, p.59
[3]MEDEIROS, João Bosco de. Redação Científica. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1997, p. 178.
[4] Idem, p. 132.
[5] BORDENAVE, Juan Díaz e PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de Esnsino-Aprendizagem. 10ª ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 1988, p.39.
[6]LEWIS, C.S., Surprised by Joy. New York: Harcourt Brace, 1954, p25. Lançado em português pela Editora Mundo Cristão, com o título Surpreendido pela Alegria.
[7]Idem, p.35.
[8]Idem, p.36.
[9] Idem, p.37.
[10] Aliás a dimensão antropológica das concepções ligadas à área educacional, revelada pelo uso da linguagem, é igualmente pouco explorada e precisa ser priorizada, se pretendemos levar a sério os compromissos universais da humanidade (com os direitos humanos, com a educação e com o meio ambiente, por exemplo).
[11]Consideramos clássicos todos aqueles autores que, como Josef Pieper, ao qual dedicamos outro trabalho, perguntam-se a respeito de conceitos essencialíssimos do homem, como por exemplo, “O que é acadêmico?” . Pieper defende que o espírito universitário tem a mesma estrutura do próprio filosofar, ou seja, o da atitude reflexiva e aberta para a totalidade do real.