POLISSEMIA E HOMONÍMIA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA À LUZ DA LINGÜÍSTICA MODERNA

Tadeu Luciano Siqueira Andrade (UNEB)

 

Dedico este trabalho aos alunos do 1º semestre do Curso de Direito – Universidade do Estado da Bahia – UNEB, porque, nas aulas de Língua Portuguesa, surgiram as divergências em relação aos conceitos de Homonímia e Polissemia.

 

 

INTRODUÇÃO

Apesar dos grandes avanços nos estudos lingüísticos, o ensino de Português, nas escolas, permanece sendo caracteristicamente normativo, isto é, não só ensino da língua, como o ensino de modo geral.

A gramática ainda é o centro das atividades pedagógicas. A visão reducionista da língua, provinda desse ensino e respaldada no condicionamento, exige que o aluno decore classificações, estruturas e significados presentes nos manuais de gramáticas para reproduzi-los nas atividades metalingüísticas.

As palavras surgem a cada momento, umas entram em desuso; outras voltam a serem usadas com um novo conceito e assim o léxico torna-se dinâmico.

As atividades de semântica, vistas nas aulas e nos livros de Língua Portuguesa, estão voltadas para a definição de polissemia, homonímia, sinonímia e antonímia.

São dadas listas de palavras com seus respectivos significados, em algumas ocasiões, havendo palavras repetidas tanto nos exemplos de polissemia como nos exemplos de homonímia e.g. manga e cravo. Para alguns autores, tais palavras são exemplos de homonímia; para outros constituem exemplos de polissemia.

A dificuldade está no fato de que a semântica não está lado a lado com a morfologia e nem com a sintaxe. Ao contrário, ela é vista como um apêndice nos diversos manuais gramaticais.

É necessário que a semântica seja inserida nas gramáticas e que o estudo dos lexemas1[1][2] não fique preso somente ao campo gramatical, mas faça uma abordagem léxico-semântica.

Dessa forma, verificar-se-á a necessidade de um estudo mais aprofundado e fundamentado na história do léxico, uma vez que as palavras também sofrem influência do processo histórico.

 

A PESQUISA

Para fundamentar a problemática referida neste artigo, foi realizado um estudo em dez manuais de Gramática da Língua Portuguesa, procurando responder às seguintes questões:

1. Como os manuais de gramática abordam a semântica?

2. Como são trabalhadas a polissemia e a homonímia?

3. Que atividades são exploradas acerca da polissemia e da homonímia?

 

Os autores, cujas gramáticas foram analisadas, são os mais trabalhados nas escolas de 2º e 3º graus. A seguir, serão transcritos alguns trechos inerentes ao conteúdo:

1. Domingos Pascoal Cegalla (1994: 284 / 285):

Homônimas são palavras que têm a mesma pronúncia e, às vezes, a mesma grafia, mas significação diferente.

Polissemia uma palavra pode ter mais de um significado. A esse fato lingüístico, dá – se o nome de polissemia.”

 

2. Ernani Terra(1995:22):

Homônimas palavras que têm a mesma pronúncia, mas significados diferentes.

 

3. Evanildo Bechara (1999: 402/ 403):

Homonímia propriedade de duas ou mais formas, inteiramente distintas pela significação ou função, terem a mesma estrutura fonológica e os mesmos fonemas dispostos na mesma ordem e subordinados ao mesmo tipo de acentuação.

Polissemia é o fato de haver mais uma só forma (significante) com mais de um significado unitário pertencentes a campos semânticos diferentes(...) A polissemia é um conjunto de significados, cada um unitário, relacionados com uma mesma forma.

 

4. Faraco & Moura (1998):nada consta, nesta gramática, referente à polissemia e à homonímia.

5. João Domingues Maia (1994: 297):

Homonímia palavras foneticamente iguais que possuem sentidos diferentes.

Polissemia uma palavra pode apresentar mais de um significado como nos indicam os dicionários de tal modo que somente o contexto determina seu significado.

 

6. Luiz Antonio Saconni (1995: 431 e 433):

Homonímia(...) duas ou mais palavras são homônimas quando apresentam identidade de sons ou de forma, mas diversidade de significado.

A polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir multiplicidade de sentidos que só se explica dentro de um contexto, trata – se de uma única palavra que abarca grande números de acepções dentro de seu próprio campo semântico.

 

7. Mauro Ferreira (1994: 192):

Homônimos são palavras escritas ou pronunciadas da mesma maneira, mas com significados diferentes.

 

8. Roberto Melo Mesquita (1997:89)

Homônimos palavras que se assemelham na forma (pronúncia ou grafia) que têm significados diferentes.

 

9. Rocha Lima (1994 : 485 / 487):

Homônimos a rigor, só deveriam ser consideradas como tais aquelas palavras que, tendo origem diversa, apresentassem a mesma forma, em virtude de uma coincidência na evolução fonética (...) costuma – se entender essa designação todas as palavras que, possuindo forma idêntica, designem coisas distintas.

Polissemia – no âmbito puro da denotação, é preciso levar em conta a polissemia – vale dizer a multiplicidade de sentidos imanentes em toda palavra(...).

 

10. William Roberto Cereja & Tereza Cochar Magalhães (1999: 386 e 423):

Polissemia é a propriedade de uma palavra apresentar vários sentidos.

Homônimas – apresentam diferença na escrita e semelhanças na pronúncias.

 

 

RESULTADOS DA ANÁLISE

Após a análise dos manuais, concluiu – se que os autores, à exceção de Evanildo Bechara, Luiz Antonio Saconni e Rocha Lima, apresentam quase a mesma fundamentação no que se refere aos processos semânticos, tendo os seguintes itens:

a. A homonímia e a polissemia são trabalhadas, em alguns autores, no capítulo de ortografia;

b. As listas de palavras soltas, sem contextualizá-las, para exemplificarem os conteúdos;

c. Exercícios repetidos com os processos semânticos;[3]

d. A polissemia e a homonímia fazem parte do capítulo Semântica, o qual, em algumas gramáticas constitui um apêndice

e. divisão da homonímia[4]

 

BECHARA (1999), em sua obra, fundamenta as alterações semânticas no critério histórico, mostra uma diferença mais clara da homonímia e da polissemia (c.f. o autor à p 403).

Rocha Lima (1994) aponta a homonímia tanto no aspecto histórico, como nos aspectos fônico e mórfico, fazendo uma análise dos processos semânticos.

SACONNI (1995: 433) embora trate da homonímia e da polissemia na visão tradicional, traz uma observação veemente para os dois processos:

No campo diacrônico4[5] ou histórico cumpre distinguir a homonímia da polissemia. Diacronicamente só há homonímia quando a palavra resulta de vocábulos distintos.

 

Uma observação que merece uma reflexão foi o fato de os gramáticos estudados neste artigo questionarem mais a homonímia que a polissemia, excetuando Faraco & Moura que nada apresentam em relação aos dois processos semânticos estudados.

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

Analisadas as gramáticas citadas, procedeu-se a um estudo da homonímia e da polissemia, confrontando a abordagem de conteúdo pela Gramática Tradicional à luz da Lingüística Moderna, tendo como elemento norteador as divergências na definição de polissemia e homonímia.

Para LYONS (1987: 143) “a única forma de resolver ou talvez de delimitar o problema tradicional da homonímia e polissemia é abandonar totalmente os critérios semânticos na definição do lexema, contando apenas com os critérios sintáticos e morfológicos.”

Preocupar-se com a definição dos processos semânticos, sem uma análise mais profunda do lexema, não interessa à língua, uma vez que os processos semânticos vão além do que os manuais gramaticais definem.

É preciso analisar a homonímia e a polissemia, partindo de uma descrição semântica mais profunda, pois há uma questão histórica nos significados das palavras, o que torna a questão mais complexa v.g. a palavra pedagogo5, que hoje constitui uma nova interpretação do lexema.

A diferença entre a homonímia e a polissemia não deve ficar restrita ao que definem as gramáticas.

Mattoso Câmara (1984) define homonímia como duas formas e a polissemia uma só forma, apontando dois critérios: o diacrônico6[6] que considera as formas convergentes7[7] e o sincrônico8[8] que considera homonímia as formas logicamente iguais, cujas significações não conseguem associar um campo semântico.

A polissemia e a homonímia não estão presentes apenas no campo da semântica, elas vão além, chegando aos campos de significação gramatical ou interna9[9] como também na significação externa10[10].

Em todas as gramáticas analisadas, percebe-se a problemática na definição da polissemia e da homonímia. Todas elas apontam quase o mesmo conceito, mudando apenas alguns exemplos.

Os lingüistas modernos propuseram acabar com o conflito gerado pelas definições da homonímia e da polissemia: adotar um caso de homonímia e não de polissemia.

LYONS (1987: 143) critica tal proposta, afirmando que “está na própria essência das línguas naturais o fato de os significados lexicais se mesclarem uns com os outros advém de lexemas serem indeterminadamente ampliáveis.”

Não abordar a polissemia como um processo lingüístico – semântico é considerar a língua como um organismo morto e estático; analisar a homonímia sem um processo histórico é considerar que as palavras não sofreram nenhuma transformação na sua constituição semântica. (grifo meu)

Em que aspecto pode-se diferenciar a homonímia da polissemia?

“Na polissemia, o escritor alarga as acepções de uma única palavra, enquanto na homonímia, ele distingue várias palavras” (ANDRADE & DAMIÃO – 1999: 44)

Segundo BORBA (1982: 94), “a linguagem é naturalmente polissêmica porque o signo, tendo o caráter arbitrário, não tem significação fixa(...)”

Assim, é impossível imaginar uma língua sem polissemia.

A gramática tradicional considera polissemia apenas na linguagem figurada ou nas várias faces que os lexemas apresentam.

Em parte, essa afirmação é aceita, mas é preciso considerar outros pontos.

Analisando ULLMANN, encontram-se, além do contexto e da conotação, outras fontes da polissemia:

1. Mudança de aplicação: é o contexto que vai definir o significado do lexema, fonte mais comum da polissemia;

2. Especialização num meio social: as palavras, nas profissões, adquirem um sentido especial presente na mente de cada um, a exemplo tem – se a palavra ação que recebe conotações diferentes nos campos jurídico, militar e teatral;

3-- Linguagem figurada: a palavra, conservando o caráter polissêmico, apresenta as várias faces.

ULLMANN, nesse caso, chama a atenção para a metonímia, também outro caso de polissemia, considerando as relações apresentadas pelos termos, como por exemplo: a palavra lanterninha nas sentenças: Ele é o lanterninha do cinema. O Guarda usava sua lanterninha11[11].

Nesse exemplo de metonímia, verifica – se a aquisição de outros significados, devido a uma relação de implicância.

4- Homônimos reinterpretados: nesta fonte, consideram – se as palavras, cuja etimologia o escritor desconhece. Assim, ele associa relações psicológicas, e.g. a palavra emérito que apresenta dois significados:

1- jubilado; 2 - muito versado em uma ciência ou arte; sábio insigne” (AURÉLIO – 1986: 634). O lexema outrora apresentava um significado, verbete 01; hoje, apresenta um novo conceito, verbete 02.

5 - Influência estrangeira: são os empréstimos semânticos, ou seja, o sentido importado é abolido ou passará a conviver com ele, estabelecendo assim a polissemia.

No fragmento abaixo, percebe-se a nova acepção dada ao lexema IMPEACHMENT:

(...) E esse tal de impíxima, dotô, que tão querendo botá pra cima dele? É alguma mandinga?

- Não Félix, Impeachment quer dizer impedimento, como no futebol.

- E por que ficam chamando impedimento de impíxima?. Tudo hoje é impíxima. Impíxima pra lá. Impíxima pra cá. Todo mundo só fala nisso(...) . O vizinho disse que a mulher de meu primo tinha passado lá cedo e deu uma impíxima nele... fui na vendinha tomei umas duas. Deu vontade de ir no banheiro, mas não pude porque o banheiro tava cheio de impíxima até a boca(...)

 

(AYRES, Carlos Eugênio Junqueira. O Impíxima. In. A Tarde. Salvador, 05/09/92.)

Dentre essas fontes arroladas, ULLMANN considera a mudança de aplicação, a especialização num meio social e a linguagem figurada as mais importantes no campo da polissemia.

Referindo-se à homonímia, as gramáticas analisadas consideram-na apenas no plano grafofônico, não consideram a etimologia dos lexemas, chegando a definirem os homônimos perfeitos, ou seja, aqueles que são iguais em tudo. (c.f. as gramáticas citadas nesta pesquisa).

“A diferença de significados decorre de etimologias diferentes que convergem, por acidentes fonéticos, para uma forma vocabular.” (Zélio Santos apud. ANDRADE: 1999: 73)

Não se pode falar em homonímia apenas no que se refere à grafia e a à fonia, como os o gramáticos o fazem.

É preciso considerar o processo pelo qual os lexemas chegaram à língua.

Não se está querendo transformar as gramáticas em manuais de Filologia, no entanto, urge que o escritor, neste caso, tenha um conhecimento sobre a formação da língua da qual ele é usuário.

ULLMANN, em seu livro de Semântica, aponta três fontes prováveis de homonímia:

1. Convergência Fonética – neste processo, encontram-se as formas convergentes, a exemplo a palavra rio nas orações: “O rio São Francisco vai bater no meio do mar”. (Zé Dantas). Eu rio com as brigas no Congresso.12[12]

2. Divergência Semântica: ocorre quando dois ou mais significados de uma palavra se difere de tal forma que acaba por ocorrer uma plena ruptura entre eles, e. g. escudo (símbolo oficial) e escudo (moeda de Portugal);

Canto (lugar) e Canto (melodia, por exemplo, o canto do sabiá).

Refletindo sobre este processo de homonímia, encontra-se uma semelhança com a polissemia. Para compreender tal processo, é preciso uma reconstituição histórica das palavras.

3. Influência estrangeira: os empréstimos13[13] são incorporados ao sistema fonético da língua acabam coincidindo com vocábulos já existentes, são também considerados formas convergentes, como podem-se citar: mangaparte do vestuário e mangafruta. Cabochefe e cabo14[14] - ponta de terra que entra pelo mar”. (AURÉLIO – 1986: 302).

Os processos polissêmicos e homônimos, às vezes, apresentam igualdades, como o já citado exemplo de influência estrangeira, por isso nem sempre as diferenças apontadas pelos lingüistas dão explicações coerentes.

Para encerrar, serão apontadas as seguintes diferenças no que se refere aos processos estudados:

“Homonímia é a identidade fônica (homofonia) ou a identidade gráfica(homografia) de dois ou mais morfemas que não têm o mesmo sentido de um modo geral”. (DUBOIS: 1978: 326).

 

“Polissemia é a situação em que uma palavra assume significados variáveis de acordo com o contexto, mas cuja origem é única com relação à polissemia, os dicionários, via de regra, apresentam uma entrada.” (SILVEIRA & ZILBERKNOP – 1994 : 43)

“Homonímia é a situação em que uma palavra assume duas ou mais significações diferentes, mas cuja origem admite vocábulos heterogêneos, com relação à homonímia, os dicionários, via de regra, apresentam mais de um verbete (entrada)” (Ibidem)

Se se observarem as definições apontadas, pode-se chegar às seguintes conclusões:

A homonímia apresenta lexema com a mesma forma, mas há uma diferença no significado. Na polissemia, há apenas um lexema para vários significados.

Considerando a dificuldade de se distinguir a polissemia da homonímia, BECHARA (1999: 403), aponta alguns critérios para aclarar:

...se trata de uma mesma palavra com dois ou mais significados diferentes (polissemia) ou de duas palavras distintas com idênticos fonemas (homonímia):

Critério histórico – etimológico – é o que fazem, em geral, os nossos dicionários;

A consciência lingüística do falante;

Critério das relações associativas;

Critério dos campos léxicos.”

 

Embora as diferenças apontadas não resolvam totalmente o problema da homonímia e da polissemia, tais dificuldades servirão de ponto de partida para um estudo mais detalhado dos processos semânticos.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Definir polissemia e a homonímia, fundamentando-se nos parâmetros lingüísticos, não é tão fácil. Embora haja preocupações nesse aspecto, até hoje não se conhece uma forma precisa de diferenciar esses dois processos.

Sabe-se que uma palavra pode apresentar vários sentidos. Assim o lexema pena pode ser sofrimento, dó, pluma, cominação legal imposta pelo Estado, autor escritor. “Ele é uma pena inspirada.” (apud. Ronaldo Xavier).

Observando o rol dos significados, pode-se considerar pena como uma única palavra ou várias palavras.

Caso se observe que são várias palavras as quais apresentam igualdade nos planos fônico e gráfico, o vocábulo já citado será classificado como homonímia.

Se a considerar como um único significante com vários significados, ela será uma polissemia.

Como discernir se se trata de homonímia ou de polissemia?

A tradição gramatical estabelece vários critérios para diferenciar se uma determinada palavra é polissemia ou homonímia, embora, em alguns casos, a dúvida ainda persista.

Alguns lingüistas afirmam que duas ou mais palavras, considerando o processo etimológico, constituirão a homonímia, e.g. sanctu > são, sanu > são – sadio e sunt > são – verbo ser. Todas têm a mesma origem, o latim.

DUBOIS & DUBOIS (apud. PERINI – 1997: 250) diz “que se distinguem duas ou mais palavras (dois itens léxicos) quando há uma mudança de classe de palavra ou quando há uma diferença semântica grande e nítida”.

Uma só palavra, apresentando mais de um significado ocorrerá a polissemia e.g ponto. nas sentenças: marcava ponto na casa de Tadeu. O ponto da prova foi fácil. Estou “a ponto de bala”.

O problema está em discernir uma diferença grande de uma pequena no aspecto semântico. Qual ou quais os limites adotados?

Nesse ponto, concorda-se com PERINI (1997: 251) “Se não tivermos um critério facilmente aplicável para estabelecer esse limite, a proposta tradicional para distinguir homonímia da polissemia não terá grande utilidade”.

Acredita-se que a preocupação de os gramáticos analisarem mais a homonímia do que a polissemia advém da proposta de os lingüistas modernos adotarem um caso de homonímia e não de polissemia (c.f. LYONS – 1987: 143)

Ao contrário dos gramáticos analisados, Bechara, Mattoso Câmara, Lyons, Borba e Perini fundamentam a importância da polissemia para as línguas humanas, alegando que, sem ela, as línguas não funcionariam eficientemente.

Perlustrando as gramáticas analisadas, verifica-se a contradição no que refere ao aspecto dinâmico da língua, uma vez que os gramáticos dão prioridade à homonímia, e não à polissemia.

Assim, os gramáticos não vêem a polissemia como um processo lingüístico, dinâmico e responsável pela flexibilidade da língua, já que ela precisa da polissemia para exprimir os inúmeros aspectos dos lexemas.

Não se deve tirar o valor da homonímia no estudo da semântica, mas é preciso saber que “a homonímia é possível sem prejuízo da comunicação em virtude do papel do contexto na significação de uma forma”. (CÂMARA apud. BECHARA 1999: 403).

Considerando a pesquisa e a fundamentação teórica deste artigo, advém a necessidade de os gramáticos analisarem de forma crítica o papel da semântica na língua.

Conseqüentemente, reavaliar-se-á a homonímia e a polissemia no uso efetivo da língua, desligando-se das definições contraditórias e listas de palavras para memorização como o fazem os manuais gramaticais.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

l. Gramática analisadas

 

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro : Lucerna, 1999.

CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo : Nacional,1994.

CEREJA, Willian Roberto Cereja & MAGALHÃES, Tereza Cochar. Gramática Reflexiva: Texto, Semântica e Interação. São Paulo : Atual, 1999.

FARACO, Carlos Emílio & MOURA, Francisco Martos. Gramática. São Paulo : Ática, 1998.

FERREIRA, Mauro. Gramática: Aprender e Praticar. São Paulo : FTD, 1995.

LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro : José Olímpio, 1994.

MAIA, João Domingues. Gramática: Teoria e Exercícios. São Paulo : Ática, 1995.

MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo : Saraiva, l997

SACONNI, Luiz Antonio. Nossa Gramática: Teoria e Prática. São Paulo: Atual, 1995.

TERRA, Ernani. Curso Prático de Gramática. São Paulo : Scipione, 1995.

 

Referencial Teórico:

 

ANDRADE, Maria Margarida & HENRIQUES, Antonio. Língua Portuguesa: Noções Básicas para Cursos Superiores. São Paulo: Atlas, 1999.

BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos Estudos Lingüísticos. São Paulo: Nacional, 1982.

LYONS, John. Linguagem e Lingüística. Uma Introdução. Rio de Janeiro: Guanabara Koagan. 1987.

MARQUES, Maria Helena Duarte. Iniciação à Semântica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1996.

MARTINS, Dileta Silveira & ZILBERKNOP, Lúcia Scliar. Português Instrumental. Porto Alegre: Sagra Dcluzzato. 1994.

PERINI, M. A. Gramática Descritiva do Português. São Paulo: ática, 1997.

ULLMANN, S. Semântica : Uma Introdução à Ciência do Significado. Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian. 1977.

XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no Direito. Rio de Janeiro : Forense. 1994.

 

Dicionários:

CÂMARA JR, Joaquim Mattoso. Dicionário de Lingüística e Gramática. Petropólis : Vozes. 1985.

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de Lingüística. São Paulo : Cultrix. 1978.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1986.



1[2] Lexemas no decorrer deste artigo o termo lexema reportar – se – á à palavra no aspecto bio-social,correspondendo ao que Vendryes denominou de Semantema.

2[3] Processos semânticos referem – se à polissemia e à homonímia, como também à sinonímia, à antonímia, entre outros.

3[4] Todos os autores aqui analisados apresentam a classificação dos homônimos: homógrafos, homófonos e perfeitos.

4[5] O processo diacrônico interessa `a semântica histórica ou evolutiva, porque estuda todo o percurso histórico dos vocábulos. Ex. Cessão - Latim > cedere - Sessão - latim > secione.

6[6] Diacrônico estudo da língua em evolução no eixo temporal, e.g. a Gramática Histórica.

7[7] São as palavras que apresentam a mesma forma, mas que vieram de etimologias diferentes, por exemplo a palavra sanctu > são: sagrado. Sanu > são : sadio e Sunt > são verbo ser.

8[8] Sincrônico considera a língua num determinado momento sem levar em conta o processo histórico e.g. a descrição da Gramática Normativa.

9[9] Significação gramatical é aquela que vai marcar os aspectos gramaticais, ou seja, os processos de flexão. Ex. o morfema S em andas – indicando a pessoa gramatical – (morfema número – pessoal) e em casas – indicando a flexão de número (morfema nominal de número)

10[10] Significação externa – mudança de significado que não está subordinado à gramática, mas ao aspecto bio-social da palavra. Ex. a palavra PONTO em: Fazia ponto na casa da namorada. “ O ponto é uma vírgula sem rabo” (Luiz F.Veríssimo apud. Dilleta Silveira)

11[11] Relação de associação: o lanterninha: o funcionário , e lanterninha, o instrumento de trabalho.

12[12] Rio substantivo vem do latim RIVU e rio forma verbal vem do latim RIDEO, levando em conta as transformações que sofreram na passagem do latim para o português.

13[13] Palavras que, embora pertençam a outra língua, à exceção do latim, passam a fazer parte do léxico, resultando um empréstimo lingüístico.

14[14] Neste processo, observa-se a semelhança entre as palavras do léxico, considerando as influências estrangeiras. Ex. manga de origem malaia – fruta. E manga de origem latina manica > parte do vestuário. Capu > Cabo : Chefe – influência do francês. Cabo – extremidade, acidente geográfico palavras criadas na própria língua.