A elaboração de um dicionário trilíngüe temático de cromônimos italiano-português-francês/francês-português-italiano: reflexões e considerações
Claudia
Zavaglia (Universidade Estadual Paulista – UNESP/IBILCE)
Adriana
Zavaglia (Universidade Estadual Paulista – UNESP/CAr)
0. Introdução
Baseando-se em Wenning (1985), e este por sua vez em Berlin e Kay (1969), Arcaini (1991) realiza um estudo comparativo sobre os nomes de cores em francês e em italiano, em que mantém a tipologia proposta por Berlin e Kay: preto, branco, vermelho, verde, amarelo, azul, marrom, rosa e cinza. O objetivo de seu trabalho consiste em explicar os usos dos nomes de cores e em dar legitimidade à análise comparativa que faz entre os universos cromáticos, segundo o autor similares, das duas línguas em questão. Além disso, pretende mostrar esses universos do ponto de vista fundamental e metafórico (como por exemplo "chemises marron": camisas marrom; "chemises brunes": nazistas), dando especial atenção às combinatórias sintagmáticas e às nuanças cromáticas (como "bleu", "azur" etc.). Assim, o autor pretende, por um lado, demonstrar por meio da comparação dos cromônimos (i.e., nomes de cor) em francês e em italiano que, para determinados sintagmas cromáticos, o relativismo lingüístico proposto pela hipótese Sapir-Whorf é válido, pois "cada língua traduz o mundo e a realidade social segundo o seu próprio modelo, refletindo uma cosmovisão que lhe é própria, expressa nas suas categorias gramaticais e léxicas" (Biderman, 1998), e, por outro lado, pretende abordar o valor simbólico dos nomes de cores, sua estruturação sintagmática e paradigmática, seu uso em determinados contextos e sua relação com a história.
No processo de elaboração de vocabulários monolíngües, bilíngües e multilíngües são levados em consideração elementos lingüísticos, sociológicos e metodológicos que são fundamentais para a descrição singular das unidades lexicais a serem tratadas, a saber: o seu significado, o seu uso e o seu funcionamento.
Na elaboração de obras bilíngües e multilíngües, as divergências existentes entre universos culturais diferentes impõem, muito freqüentemente, diferenças de correspondência lingüística entre as línguas. Dessa forma, na elaboração de obras temáticas bilíngües, e o que não dizer das multilíngües, verificam-se problemas de equivalência de lexias, levando o lexicógrafo-tradutor a refletir sobre tais questões e a exercitar sua capacidade de encontrar soluções definitórias e tradutórias que dirimam as divergências lingüístico-culturais entre as línguas.
1. Objetivos
O presente trabalho traz considerações a respeito da elaboração de um dicionário trilíngüe temático de cromônimos italiano-português-francês/francês-português-italiano (DTTC). Para tanto, foram utilizados os corpora de cromônimos organizados por Arcaini (1991), Zavaglia, C. (1996) e Zavaglia, A. (1998).
2. Considerações a respeito da tipologia de Dicionários Bilíngües (DBs)
O propósito que se pretende discutir nesta seção fundamenta-se nas lacunas ainda existentes nos atuais DBs que se encontram em circulação das mais variadas línguas, entre elas o italiano, o francês e o inglês.
Há muito, o professor e o aprendiz de língua estrangeira (L2), o tradutor ou qualquer outro tipo de consulente de DBs deparam-se com inexatidões semânticas, vazios lingüísticos e definições deficitárias nesse tipo de obra.
O Dicionário Bilíngüe tradicional, segundo Schmitz (1998:162), pode ser de vários tamanhos, arrola um número pequeno de vocábulos e "conduz [a] uma superficialidade na apresentação das ‘equivalências’ nas duas línguas". De fato, temos as seguintes entradas dos dicionários Spinelli (1983) e Azevedo (1998a), respectivamente, DB italiano-português e DB francês-português:
favola
f. fábula // narração // ficção // invenção // mentira // narração mitológica.
fable [fáble] s.f. Fábula, ficção mitológica // Fábula, a mitologia // Por ext. Fábula, narração de sucessos imaginários; falsidade, notícia falsa, alegação mentirosa.
Como se vê, em DBs desse tipo priviligia-se o uso de sinônimos da palavra-entrada, partindo-se do pressuposto que um termo de uma língua pode ser definido e compreendido a partir de um equivalente na língua de chegada, podendo, além disso, prescindir de explicações definitórias.
Deduz-se, assim, que um consulente deverá entender e compreender perfeitamente o significado do item lexical italiano "rododendro", por exemplo, a partir de sua entrada no Mea (1997) e da entrada "roitelet", extraída de Rónai (1989), respectivamente:
rododendro
s. m. (bot.) rododendro.
roitelet s.m. 1. reizete, régulo; 2. carriça, corruíra.
Note-se, ademais, que os exemplos acima contemplados não trazem nenhum tipo de contextualização dos itens lexicais, seja por meio de abonações ou frases forjadas, que poderia ajudar enormemente na compreensão de seu significado.
O Dicionário Semibilíngüe (DSB), segundo Schmitz (1998), é uma inovação e representa um avanço no campo da lexicografia. Como representantes dessa modalidade o autor cita dois DSBs em inglês: Parker (1998) e Sinclair (1995 apud Schmitz, op.cit.). Esses apresentam a inclusão de oração-modelo nos verbetes em inglês, o que auxilia o usuário a decodificar adequadamente o significado do verbete em questão.
Um fator não muito expressivo, a nosso ver, principalmente para consulentes que pouco dominam a língua inglesa, é o fato de a definição ser em L2, como mostra o seguinte exemplo extraído de Parker (op. cit.):
holster
noun the usually leather case for a pistol, usually worn on a person’s hips. Coldre
Se o consulente desconhecer o significado de "coldre", pouco lhe servirá a definição "the usually leather case for a pistol, usually worn on a person’s hips", na qual ele poderá não reconhecer também lexias como "worn", "leather", "hips".
Como visto, volta-se à estaca inicial da problemática do DB tradicional.
Longo (2000:290), por sua vez, atenta à problemática acima descrita e sugere uma nova proposta de elaboração de definição para as entradas em DBs (no caso, para alunos iniciantes): "(...) propomos que a definição seja dada na L1, com uma descrição física do referente que permita diferenciá-lo dos outros membros da sua classe, seguida por definição sinonímica e exemplos ilustrativos dos diferentes empregos", como exemplifica a autora:
Ladybird, ladybug
(US) n pequeno besouro de forma arredondada, vermelho com pintas pretas; joaninha: Ladybirds are lovely tiry beetles.
Paralelamente, Zavaglia, A. (2000:846-847) apresenta um verbete-modelo para um dicionário temático de cromônimos bilíngüe francês-português que vai além daquele exposto por Longo (op.cit.), uma vez que traz infomações adicionais à uma descrição física seguida por sinônimos e exemplos contextualizados:
Devendo ser o dicionário bilíngüe didático por natureza, pois serve como instrumento de trabalho ao tradutor, ao professor e ao estudante de determinada língua estrangeira, o verbete-modelo aqui proposto parece preencher esse papel: além de exibir uma transcrição fonética, que deverá obedecer às normas da Associação Fonética Internacional, apresenta a classificação gramatical do cromônimo, o registro de seu uso, uma definição na língua-meta, o equivalente tradutório, o plural irregular das palavras, as abonações ou exemplos forjados (a abonação vem seguida da fonte), a gradação do cromônimo e seu equivalente tradutório, os registros de uso e seus equivalentes tradutórios, as locuções ou expressões idiomáticas seguidas de edfinição, equivalente tradutório e exemplos em francês e em português, os sinônimos e as remissivas:
CROMÔNIMO [ transcriçãofonética ] class. gram. reg.
após a classificação gramatical e o registro de língua apresenta-se a definição em português da entrada em francês: equivalente tradutório * pl. se o plural for irregular # abonação ou exemplo forjado em francês // abonação ou exemplo forjado em português (autores ou fontes) * gradação da cor: equivalente tradutório * reg. registro específico: equivalente tradutório I. reg. locução em francês - definição em português: equivalente tradutório # abonação em francês // abonação em português (autores ou fontes) SIN. reg. sinônimo em francês V. REMISSÃO A OUTRO VERBETE"
Segundo Schmitz (1998), um Dicionário Bilíngüe Especializado (DBE) faz a apresentação de equivalências tradutórias de termos técnicos, devendo ser, conseqüentemente, atrelado ao estudo da Terminologia. É de praxe que um DBE não traga no corpo de seu verbete a definição do termo técnico a ser definido. O mesmo acontece para DBEs com formato plurilíngüe, i.e., trilíngües, quadrilíngües, etc.
Neste trabalho, estamos tratando de Dicionário Temático, ou seja, aquele que é elaborado a partir de um campo semântico, ou melhor, a partir de um dos vários microssistemas que o léxico de uma língua possui. De fato, os termos para cor se distribuem por campos semânticos, ou seja, associações de significação (Câmara Jr, 1986:157). Por conseguinte, estamos tratando de um tipo de Dicionário Bilíngüe Temático (DBT), com formato trilíngüe, que procura se apoiar na seguinte sugestão de Jakobson (1995:66):
Há a necessidade urgente, a importância teórica e prática de dicionários bilíngües diferenciais, que definam cuidadosa e comparativamente todas as unidades correspondentes, em sua extensão e profundidade.
3. Reflexões em relação à elaboração do dicionário
As reflexões realizadas até o momento são de cunho teórico geral, lingüístico e tradutório. A partir de agora, serão analisadas questões específicas como: (i) a nomenclatura do dicionário: tipo de entrada; (ii) a homonímia e a polissemia: linhas limítrofes; (iii) variação ortográfica das entradas; (iv) as expressões idiomáticas: a escolha do termo-entrada; (v) nível de linguagem: a sua demarcação; (vi) freqüência de uso das entradas; (vii) equivalência zero entre lexias: como traduzi-las; (viii) a inclusão de definição nos verbetes; (ix) a contextualização das lexias-entrada; (x) a informação morfossintática.
3.1. A nomenclatura do dicionário e as expressões idiomáticas: a escolha do termo-entrada
Os corpora utilizados constituem-se de sintagmas nominais e verbais cromáticos em francês/italiano/francês Arcaini (1991), em italiano/português/italiano Zavaglia, C. (1996) e em francês/português/francês Zavaglia, A. (1998). Estes podem possuir formas isomorfas cromaticamente ("marché noir" / "mercato nero"; "mercato nero" / "mercado negro"; "marché noir" / "mercado negro") e não-isomorfas cromaticamente ("sucre blanc" / "zucchero raffinato; "vino rosso" / "vinho tinto"; "vin rouge"/ "vinho tinto"). Além disso, foram detectados diversos tipos de expressões idiomáticas, provérbios e frases feitas nos corpora supra citados, como por exemplo: "arriver à la nuit noire", "être d’une humeur noire", "être dans le noir le plus complet", "il commence à faire noir", "marcher dans le noir", "il fait noir cette nuit", "l’enfant a peur du noir", "jeter un regard noir sur quelqu’un" e "cette jeune fille est un fruit vert", em francês, e em italiano: "avere pensieri neri", "rendere tutto nero", "mettere il nero per il bianco", "mangiare in bianco", "chi dice bianco, chi dice nero", "fare il viso rosso", "avere il pollice verde", "il giallo della rosa", entre outros, que geralmente figuram na microestrutura do verbete e não como entradas independentes, em dicionários monolíngües.
Assim, constituirão entradas do Dicionário Trilíngüe Temático de Cromônimos (DTTC) o sintagma nominal ou verbal cromático que for o núcleo da expressão e do seu significado, assim como o sintagma preposicional, ou até mesmo o cromônimo unicamente: NUIT NOIR, HUMEUR NOIRE, DANS LE NOIR, REGARD NOIR, FRUIT VERT, em francês; em italiano: PENSIERI NERI, IN BIANCO, VISO ROSSO, POLLICE VERDE, GIALLO.
3.2. A homonímia e a polissemia: linhas limítrofes
Formas que possuem mais de um significado para um mesmo significante serão caracterizadas como homônimas se possuírem ao menos um sema (traço semântico) distintivo e, ao contrário, como polissêmicas se contiverem pelo menos um sema em comum. As formas homônimas serão identificadas por entradas diferentes e pela distinção numérica, da seguinte maneira: homônimo1 e homônimo2. Por sua vez, as polissêmicas serão classificadas em uma entrada somente, com distinções numéricas no corpo do verbete para os diversos significados. Teremos, portanto:
Formas Homônimas:
BUCO NERO1 [ ] n.m. (astron.) - estágio final da evolução de uma dada estrela em que se há um colapso gravitacional no qual não escapam a luz, a matéria ou qualquer outro tipo de sinal. Forma-se um buraco negro quando o campo gravitacional se torna tão imenso que a velocidade de escape do corpo se aproxima da velocidade da luz. (A): Buraco negro
BUCO NERO2 [ ] n.m. - pessoa que come muito ou é muito gastadora; empreendimento muito dispensioso (A): Saco sem fundo.
BLANCHE1 [ ] n.f. nota musical: mínima.
BLANCHE2 [ ] n.f. mulher de raça branca: branca
BLANCHE3 [ ] n.f. a bola de cor branca no bilhar: bola branca
BLANCHE4 [ ] n.f. fam. tipo de droga: heroína
Formas Polissêmicas:
ABITO NERO [ ] n.m. 1. roupa masculina com paletó geralmente preto, de lapelas de cetim, usada como traje de cerimônia à noite (A): Smoking, Black-tie 2. roupa de cor preta cujo uso é destinado a ocasiões de luto: Roupa, vestido, terno preto(a).
POINT NOIR [ ] n.m. 1. nuvem que se avista de longe no céu, e por isso assemelha-se a um ponto, e anuncia tempo ruim ou tempestade: nuvem negra, preta 2. (fig.) o fato de prever uma desgraça: (ver) nuvens negras; ponto crítico.
3.3. Variação ortográfica das entradas
Formas que apresentarem variação ortográfica serão registradas concomitantemente:
NEROFUMO, NERO FUMO, NEGROFUMO [ ] n.m. pó de cor escura que se origina a partir da combustão de certas substâncias: negro-de-fumo
BLOUSON NOIR, BLOUSON-NOIR [ ] n.m. jovem pertencente a um bando suspeito de violência e delinqüência: maloqueiro SIN. mauvais garçon (fam.) loubard, loulou, blouson, hooligan.
3.4. Nível de linguagem: a sua demarcação
A microestrutura deverá contar também com a indicação do registro (gírico, familiar, literário, técnico) para cada ocorrência de significado do sintagma cromático em questão. O ideal seria encontrar equivalentes tradutórios de mesmo registro, como demostram os exemplos abaixo:
FIFA BLU [ ] n.f. (fam.) temor, medo provocado por algum acontecimento: grande susto.
LANTERNE ROUGE [ ] n.f. objeto que reluz uma luz vermelha, lanterna colocada na traseira do último veículo de um comboio: lanterna vermelha (ant.) a lanterna vermelha das casas de tolerância I. (fam.) être la lanterne rouge - ser o último de uma fila, de uma classificação, o último colocado: ser o lanterninha.
Da mesma forma, será importante o registro de um correspondente técnico para uma forma que possua também uma registro popular, que deverá ser indicado em sua microestrutura, sob a denominação de sinônimo:
PERDITE BIANCHE [ ] n.f.pl. (pop.) corrimento esbranquiçado da vulva, por vezes purulento: flores brancas SIN. (patol.) leucorréia.
PERTES BLANCHES [ ] n.f.pl. (pop.) corrimento esbranquiçado da vulva, por vezes purulento: flores brancas SIN. (patol.) leucorréia.
3.5. Demarcação de uso das entradas
É importante indicar o uso dos termos arrolados, se desusado, corrente, raro:
RUSSO BIANCO [ ] n.m. (desus.) nativo ou relativo à Rússia Branca ou Bielo-Rússia: russo-branco. SIN. bielo-russo.
ZONE BLEUE [ ] n.f. (desus.) espaço físico cujo estacionamento é limitado em uma cidade: zona azul.
3.6. Equivalência zero entre lexias: como traduzi-las
Como um dicionário bilíngüe é um instrumento que deve ajudar o tradutor ou o aluno a resolver um problema, apresentar uma definição sem uma opção de tradução não é conveniente. Assim, propor uma solução para sintagmas desse tipo, com a qual o consulente poderá concordar ou não, é o ideal:
BALLETTI VERDI [ ] n.m.pl. reunião onde meninas e meninos se prestam aos desejos eróticos de adultos: reuniões orgíacas com meninas e meninos
BALLETS ROSES [ ] n.f.pl. reunião onde meninas se prestam aos desejos eróticos de adultos: reuniões orgíacas com meninas
3.7. A definição nos verbetes bilíngües
A definição é importante para que se compreenda o significado do sintagma em questão, a partir de seu equivalente tradutório:
SINDACATI GIALLI [ ] n.m.pl sindicatos constituídos no século XIX na França e na Alemanha, contrários à greve, em oposição aos Sindicatos vermelhos socialistas. Por extensão, são aqueles financiados ou promovidos pelos patrões com o objetivo de defender os seus próprios intresses e não os dos trabalhadores: sindicatos amarelos.
LIVRE BLANC [ ] n.m. compilação de peças oficiais, diplomáticas, publicada após um acontecimento importante (guerra etc.) a fim de permitir ao leitor que julgue o caso por si mesmo: livro branco SIN. livre bleu, jaune.
3.8. A contextualização das lexias-entrada e a informação morfossintática
A informação morfossintática dos cromônimos foi feita a partir da sua realização funcional, ou seja, o seu uso enquanto categoria gramatical. Assim, "magia bianca" é considerada como uma lexia complexa, e, portanto, não como dois elementos gramaticais distintos (no caso, nome e adjetivo), mas como ‘nome’ somente, já que, em uso, adquire a função de sujeito. As entradas já citadas contêm informação desse tipo.
É importante a documentação bilíngüe na microestrutura do verbete para que o consulente possa delimitar o significado de uma mesma palavra em diversos contextos. Tratando as diversas ocorrências de "bleu" como homônimas, pode-se apresentar a seguinte seqüência, partindo-se do sentido mais físico para o mais figurado:
BLEU1 [ ] n.m. a cor azul: azul # un ciel bleu // um céu azul (NPR)
BLEU2 [ ] n.m. mancha arroxeada na pele, resultado de um soco ou contusão: mancha roxa # il avait un bleu sur la peau // ele estava com uma mancha roxa na pele (D)
BLEU3 [ ] n.m. vestimenta de operário, em geral de tecido azul: macacão # la saleté de la machine avait tâché son bleu // a sujeira da máquina havia manchado seu macacão (DS)
BLEU4 [ ] n.m. (fam.) recém-admitido no exército ou na universidade: recruta; calouro / bicho # l’arrivée des bleus // a chegada dos novos recrutas (AS); le bal des bleus / o baile do bicho (DS)
4. Considerações acerca da elaboração do verbete trilíngüe
As reflexões realizadas nos permitem legitimar alguns princípios para a elaboração do verbete trilíngüe que ora propomos.
As classes de informação eleitas para a construção da microestrutura do dicionário, i. e., os paradigmas, são:
Paradigma informacional (PI),
Paradigma de formas equivalentes (PFE),
Paradigma pragmático (PP),
Paradigma Definicional (PD),
A disposição de tais paradigmas gerou os seguintes verbetes-modelo trilíngües:
Ü Para os cromônimos cuja entrada é em italiano e as línguas-de-chegada são o português e o francês:
CROMÔNIMO (em italiano) [transcriçãofonética], (categoria gramatical) (plural irregular) (registro) (área de especialidade). Possibilidades tradutórias: 1. em português 2. em francês (sinonímia). Exemplos contextualizados (de corpora) em italiano, português e francês: (it): Ex.; (port.): Ex.; (fr.): Ex. (autores ou fontes) #
Definição em português SIN. sinônimo em italiano V. REMISSÃO A OUTRO VERBETE
Exemplo:
PUNTO BIANCO [transcriçãofonética] s.m. (punti bianchi) (corr.) 1. Branco 2. Trou de mémoire (it.) Alle persone stanche ci ocorrono punti bianchi frequentemente (I); (port.) Que branco, ontem, na hora da prova! (I); (fr.) Quand je parle en public, j’ai des trous de mémoire (I) #
Incapacidade de raciocinar ou de recordar-se de algo; claro, vazio. V. AVERE PUNTO BIANCO
Ü Para os cromônimos cuja entrada é em francês e as línguas-de-chegada são o português e o italiano:
CROMÔNIMO (em francês) [transcriçãofonética], (categoria gramatical) (plural irregular) (registro) (área de especialidade). Possibilidades tradutórias: 1. em português 2. em italiano (sinonímia). Exemplos contextualizados (de corpora) em francês, português e italiano: (fr.): Ex.; (port.): Ex.; (it.): Ex. (autores ou fontes) #
Definição em português SIN. sinônimo em francês V. REMISSÃO A OUTRO VERBETE
Exemplo:
FRUIT VERT [transcriçãofonética] s.m. 1. fruto ou fruta verde 2. Frutta verde: (fr.) Les fruits verts ne sont pas bons à manger (I); (port.) Na feira, só havia frutas verdes esta manhã (AD); (it.) I frutti verdi non mi piacciono (I) #
Fruto que ainda não está maduro, nem bom para ser consumido. (fig.) menina que ainda não atingiu a maturidade sexual: criança, menina-moça.
Diferentemente das outras propostas de modelos de entrada para dicionários bilíngües apresentadas anteriormente, o nosso modelo procura simplificar a vida do consulente de DBs, dado que busca trazer além das mais variadas informações no corpo do verbete, uma forma de apresentação mais condizente com as suas necessidades. De fato, a inserção da definição do item lexical se dá ao final do verbete, proporcionando ao pesquisador a opção facultativa de consultá-la ou não. Dessa maneira, o consulente, em sua pesquisa, poderá encontrar rapidamente e de imediato o equivalente tradutório almejado (objetivo, esse, por excelência, da consulta a dicionários bilíngües e/ou multilíngües). Além disso, as lacunas que dizem respeito ao uso dos cromônimos pretendem ser sanadas, já que serão fornecidos exemplos nas três línguas em questão e não apenas em uma.
5. Bibliografia
ARCAINI, E. Analisi linguistica e traduzione. Bologna: Patron Editore, 1991.
AZEVEDO, D. de. Grande dicionário francês-português. 13 ed. Venda Nova: Bertrand, 1998a.
-----. Grande dicionário português-francês. 11 ed. Venda Nova: Bertrand, 1998b.
BERLIN, B. & KAY, P. Basic color terms: their universality and evolution. Berkeley & Los Angeles: University of California Press, 1969.
BIDERMAN, M. T. C. O dicionário como norma na sociedade. In: Lexicologia, lexicografia e terminologia: questões conexas. Anais do 1o Encontro Nacional do GT de Lexicologia, lexicografia e terminologia da ANPOLL, 22-24 abril de 1995, UFRJ - Rio de Janeiro, 1998, pp.161-180.
CÂMARA JR. J.M. Dicionário de Lingüística e gramática. Petrópolis: Vozes, 1986.
FERREIRA, A.B.H. Novo Aurélio da língua portuguesa. 2a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
JAKOBSON, R. Lingüística e comunicação. Tradução de Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1995.
LONGO, B. N. de O. Uma proposta de definição para dicionários bilíngües. In: Estudos Lingüísticos, v.29, Assis: UNESP, 2000. pp.286-291.
MEA, G. Dicionário de Italiano-português. Portugal: Porto Editora,1997.
PARKER, J. & STAHEL, M. (Edited by) Password: English dictionary for speakers of portuguese. 2a ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
RÓNAI, P. Dicionário francês-português/português-francês. Rio d eJaneiro: Nova Fronteria, 1989.
SCHMITZ, J.R. A problemática dos dicionários bilíngües. In: OLIVEIRA, A.M.P.P. ; ISQUERDO, A.N. (Orgs.) As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia e terminologia. Campo Grande: Editora UFMS, 1998. pp.159-168.
SPINELLI, V. & CASASANTA, M. Dizionario completo italiano-portoghese(brasiliano) e portoghese(brasiliano)-italiano. Milano: Ulrico Hoeri, 1988.
WENNING, W. Colours and Languages. In: GEORG DORN, P.W., Foundations of Logic and Linguistics, Problems and their solutions. New York: Plenum Press, 1985. pp.691-704.
ZAVAGLIA, A. Apresentação de um verbete-modelo para a elaboração de um dicionário temático bilíngüe de cores francês-português. UNESP, Araraquara, 1998, 36pp. (in mimmeo).
-----. A elaboração de um verbe-modelo para a construção de um dicionário temático bilíngüe de cores francês-português. In: Estudos Lingüísticos, v.29, Assis: UNESP, 2000, pp.843-848.
ZAVAGLIA, C. Os cromônimos no italiano e no português do Brasil: uma análise comparativa. Dissertação de mestrado. São Paulo. USP. 1996, pp.264.
-----. Aspectos semânticos dos cromônimos entre as línguas italiana e portuguesa do Brasil. In: Estudos Lingüísticos, v. 27, São Paulo,1998, pp. 912-917.