UMA APROXIMAÇÃO ENTRE A LINGÜÍSTICA
E AS CIÊNCIAS EXATAS

A NEUROLINGUÍSTICA NO APRENDIZADO DA FÍSICA

D. C. Mir Almaguer, A. E. Marrades Cejas (Inst. Sup. Politécnico, Habana)
Susana A. Planas
(UFF, Brasil)

 

INTRODUÇÃO

A programação Neurolingüística (PNL) é um novo enfoque que trata de como as pessoas mudam e se comunicam. É a arte e a ciência da excelência pessoal. É um campo interdisciplinar. Envolve fundamentos de psicologia como: percepção, memória, lingüística -na sua função comunicativa - e as precondições neurológicas para a aprendizagem.

É uma arte porque cada um dá um único toque pessoal e de estilo ao que faz que não pode se expressar com palavras ou técnicas. Uma ciência, porque existe um método e um processo para descobrir modelos usados por indivíduos sobressalentes em um campo para obter resultados destacados.

Programação se refere à forma em que os padrões cerebrais do pensamento são reconhecidos e apreendidos através do processo mental e como podem ser alterados. Isto permite que a pessoa realize melhores opções a respeito do seu comportamento.

As técnicas da PNL mostram um caminho para saber o que se quer obter, ser capaz de perceber o que se está conseguindo e, de possuir flexibilidade para mudar constantemente na medida que se percebem os logros no caminho do autoconhecimento.

Neuro: pois corresponde a forma em que o cérebro funciona e como o pensamento humano mostra a existência de padrões consistentes e detectáveis.

Lingüística: relativo a expressões verbais e não verbais dos padrões cerebrais do pensamento.

Este, nosso enfoque da PNL, se baseia naquilo em que as pessoas usam para se relacionar com o meio, fundamentalmente, através de três canais: o auditivo, o motor e o visual, sendo um deles o reator para cada individuo.

Apresentamos os testes que nos permitirão saber qual é o canal reator e assim nos comunicaremos com este aluno, baseados nestes canais. A verdadeira comunicação radica na habilidade de sintonizar esses canais.

Mostramos as características que nos levam a identificar os canais reatores incluindo as séries de palavras que se podem usar para se comunicar com as pessoas de cada canal reator.

Desenvolvemos uma série de exercícios combinando todos os canais, motivadores, que foram aplicados ao ensino de Física para estudantes de nível Superior de Brasil e Cuba, que cumpriram o objetivo fundamental de conseguir alcançar um desenvolvimento espontâneo com habilidade na aplicação dos conhecimentos adquiridos.

 

Nossa Pesquisa: Docentes focalizando a PNL

Como ponto de partida, queremos identificar a nossos estudantes. Damos aqui algumas características que identificam a cada canal reator.

 

Visuais

- Falam com muita rapidez.

- A respiração e feita com a parte alta do tórax

- Tom de voz agudo-nasal e algo forçado

- Sinais de tensão muscular no ombro e no abdômen

- Tendência a sinalar com o dedo

- Ombros carregados e pescoço esticado

 

Auditivos

- Tem a voz melhor modulada com ritmo claro e ressonante.

- Respiração diafragmática.

- Mantém os ombros flácidos e cabeça inclinada para um dos lados com as mãos unidas e os braços cruzados

 

Cinestésicos

- Falam com ritmo lento, tom grave e fazem pausas longas entre palavras.

- Com frequência usam frases repetitivas

- Apresentam abundante movimento corporal

- Possuem relaxação muscular

- Tem postura firme com a cabeça erguida

- Falam com muita rapidez

- A respiração é feita com a parte alta do tórax

- Tom de voz agudo-nasal e algo forçado

- Sinais de tensão muscular no ombro e no abdômen

- Tendência a sinalar com o dedo

- Ombros carregados e pescoço esticado

 

Palavras

As palavras podem dar esperanças, estímulos ou podem matar ou provocar o desânimo. As palavras mudam a quem escuta e quem as pronuncia e leva a ações que podem mudar o curso da historia...

Existem palavras que estimulam vários sentidos ao mesmo tempo, e trabalhar com elas é trabalhar com um tesouro: coração, céu, sangue, vômito...

As palavras selecionadas que aparecem à continuação foram comprovadamente estimuladoras dos diferentes canais:

 

VISUAIS AUDITIVOS CINESTÉSICOS

Viabilizar ouvir sensação

Quadro relatar mover

Imagem falar dureza

Perspectiva gritar concretizar

Luz conversar pressionar

Claro ruído sensível

Brilhante chamar irritado

Luminoso harmonia alfinetar

Colorido soar dor

Pintura agudo prazer

Pitoresco grave doce

Olhada música amargo

Mirada melodia leve

Escuro bagunça pesado

Mostrar zumbido ferida

Nublado contar torpe

 

Testes determinantes dos canais

Apresentamos agora os testes que nos permitem determinar qual o quais são os canais reatores para cada individuo, o que nos permitirá uma comunicação efetiva.

 

Visuais

1. Nos momentos nos quais não tenho o que fazer, prefiro ver TV.

2. Para relembrar situações uso imagens visuais.

3. Entendo mais uma instrução escrita que uma oral, por isso prefiro as instruções por escrito as instruções orais.

4. Quando tenho muitas coisas para fazer escrevo uma lista delas.

5. Construo (armo) facilmente diversas coisas seguindo instruções escritas.

6. Agrada-me fazer palavras cruzadas e jogos como “caça palavras”.

7. Importo-me muito com minha imagem pessoal.

8. Gosto de visitar museus.

9. Escrevo o que tenho feito.

10. Encontro facilmente um endereço se tenho um mapa ou instruções gráficas ou escritas.

11. Admiro as fotografias e os anúncios publicitários.

12. Agrada-me observar letras de diferentes tipos e estilos de escrituras.

13. Agrada-me olhar as pessoas.

14. Aprecio o fato de que as flores dão brilho e lucidez agradável a minha casa e ao lugar onde eu estudo e/ou trabalho ou na escola.

15. Para cozinhar prefiro seguir uma receita.

16. Quando estudo, repasso escrevendo resumos.

17. Decoro um número de telefone ou um código postal, escrevendo-o.

18. Uso imagens visuais para lembrar nomes.

19. Adoro ler.

20. Prefiro jogos de ler e escrever aos jogos de mesa ou exercícios físicos.

 

Auditivos

1. Para aprender alguma coisa ou para não esquecer de outra, repito-a mentalmente várias vezes.

2. Compreendo e entendo melhor as instruções e as explicações orais que às escritas.

3. Agradam-me os programas de opinião e entrevistas tanto na rádio quanto na TV e na imprensa escrita.

4. Sou um bom ouvinte.

5. Prefiro as noticias da radio e TV as da imprensa escrita.

6. Prefiro escutar um cassete musical a ler.

7. Sinto-me incomodado com o barulho (ou ruído).

8. Percebo o tom de voz das pessoas e as identifico pela sua voz.

9. Adquiro discos e cassetes pelo prazer de escutá-los.

10. Leio em voz alta para me sentir mais bem preparada.

11. Prefiro dar uma exposição oral a preparar um trabalho escrito.

12. Adoro concertos e eventos musicais.

13. Dizem que falo demais.

14. Falo em voz alta se estou resolvendo exercícios de física, química ou outro exercício que precise fazer cálculos matemáticos e raciocinar.

15. Decoro um número telefônico ou um código (postal, de uma conta, etc.) repetindo-o.

16. Uso palavras que tenham rima para lembrar nomes.

17. Prefiro jogos de perguntas e respostas a jogos de exercícios físicos como bola, futebol, tênis, etc.

18. Mantenho-me informado escutando as noticias pela rádio e/ou TV.

19. Sou capaz de me concentrar profundamente escutando outra pessoa.

20. Quando tenho tempo livre prefiro falar com outras pessoas a fazer outra atividade.

 

Cinestésicos

2. 1Gosto de fazer exercícios físicos.

3. Reconheço e identifico os objetos tocando-os.

4. Danço ou fico seguindo o ritmo de uma música.

4. Sou coordenado em meus movimentos em atividades esportivas, recreativas, laborais,...

5. Seleciono a roupa pelo tacto, de acordo com o tecido, e como sinta o material, tocando-o.

6. Quando falo com alguém gosto de tocá-lo.

7. Adoro fazer esportes.

8. Aprendo facilmente a tocar um instrumento ou equipamento de teclado.

9. Para meu asseio pessoal gosto mais de usar água morna que a fria.

10. Gosto de dançar.

11. Gosto de sentir a água morna correr pelo meu corpo.

12. Gosto de saborear os alimentos.

13. Adoro quando recebo massagens no meu corpo.

14. Quando me levanto, me espreguiço freqüentemente.

15. Uso meu senso do tacto para perceber uma situação.

16. Sinto profunda satisfação ao estar em lugares ao ar livre.

17. Passo grande parte do tempo fazendo trabalhos manuais quando tenho tempo disponível.

18. Prefiro os jogos de movimento aos jogos de mesa onde tenho que ficar sentado.

19. Sou uma das pessoas que, em um grupo, aprende uma nova habilidade facilmente, num breve tempo.

20. Quando tenho tempo livre prefiro fazer esportes.

 

Características dos exercícios usados para cada canal

 

Visuais

o Usar meios visuais como quadros, imagens desenhos, esquemas e filmes.

o Usar a predição: “como poderemos aplicar a lei de Ohm, que acabamos de estudar?”.

o Visualização

o Usar cores, objetos, símbolos...

 

Auditivos

o Usar música e sons em geral

o Fazer com que os alunos se ouçam

o Dar reconhecimento ao que fazem

 

Cinestésicos

o Sentir sensações corporais

o Fazer com que tenham uma resposta física

o Usar uma variedade de atividades e jogos

o Dar-lhes responsabilidade no grupo

o Aulas centradas na participação do estudante

o Atividades extra classe

 

Técnicas de PNL aplicadas ao curso de Física

Aplicamos as técnicas de PNL para alunos de Engenharia Elétrica e Química do ISPJAE, Habana, (Cuba), e alunos do Engenharia da UFF, Niterói, (Brasil).

Uma vez identificados os canais, aplicamos as técnicas que permitem romper as barreiras que impedem a comunicação e assim conseguir a “apropriação” do conhecimento de forma muito mais efetiva. Baseados nos três canais operacionais criamos exercícios que desenvolvem a imaginação, e permitem que os estudantes expressem sua relação com o meio e sua experiência sensorial, espontaneamente. São exercícios motivadores da observação e aplicados a experiências concretas, nas quais, aplicam todos os conhecimentos adquiridos na matéria e outras do curso, contando com o estudante como eixo fundamental do desenvolvimento da aula.

 

Exercício implementado nas aulas de Física Aplicada

Objetivos

Desenvolver habilidades e destrezas

Vincular com outras matérias

Desenvolver a imaginação- criatividade- pensamento usando os três canais operacionais e aplicar os conhecimentos adquiridos.

Procedimentos

- Pede-se individualmente, que cada estudante procure uma aplicação da física à sua especialidade - não necessariamente uma invenção embora fosse o ideal se o conseguisse espontaneamente-.

- Dá-se a eles tempo - um mês - para fazer este trabalho como tarefa extra classe. Durante este tempo os estudantes consultam bibliografia e outros especialistas de diversas áreas.

- O estudante apresenta ao grupo uma exposição utilizando os meios necessários, sendo que são motivados a usar meios modernos para a sua apresentação.

- Se o trabalho cumpre seus objetivos se outorga a classificação por parte do grupo e do professor e os melhores trabalhos se apresentam na Jornada Científica da Faculdade.

 

Este é um exercício integrador que resume os conhecimentos que os estudantes tem adquirido sobre as descrições técnicas as quais incluem as descrições físicas e funcionais.

Por meio destas atividades o estudante tem encontrado muitas aplicações para o tema estudado e tem surgido inventos, cheios de fantasia, que podem ser levados à realidade com um pouco de imaginação e dedicação.

 

Circuito Vivo

Objetivos

Entender e Aplicar a lei de Ohm e de Joule.

Somar Resistências em Série e Paralelo.

Vincular com outras matérias

Procedimento

Formar equipes de quatro ou cinco estudantes, de acordo a quantidade de alunos, que preparem um circuito elétrico com os elementos adequados para que funcione: bateria- interruptor- lâmpada- voltímetro- amperímetro, resistências.

Explica-se a cada protagonista a função que irá representar ao vivo a um componente do circuito e para isto somente tem que dizer a função a realizar para que o resto do grupo identifique qual é o elemento: BATERÍA, INTERRUPTOR, LÂMPADA, VOLTÍMETRO, AMPERÍMETRO, RESISTÊNCIAS.

As personagens-peças do circuito vivo devem se posicionar corretamente para realizar o enlace pertinente. As posições corretas são testadas pelo grupo.

Ao dramatizar o circuito vivo, cada integrante diz em voz alta qual é a função que realiza no circuito (sem dizer o nome da peça), enquanto que o resto da turma observa a dramatização e tem que desenhar o circuito.

Um estudante desenha o circuito no quadro e todos verificam.

Designam-se diferentes valores aos diferentes elementos e se deixa algum elemento sem conhecer o valor para ser calculado. Todos participam no cálculo.

 

Estímulo

Como fazer um “gato” elétrico: uma ligação informal entre o transformador e o medidor de eletricidade em forma eficiente. Não pode provocar a queda de tensão do resto do circuito - nem pode morrer por alta tensão.

 

Resultados

Os resultados verificados foram excelentes, comprovando-se que o exercício é muito motivador, satisfazendo plenamente os objetivos planejados. Usam-se assim os três canais operacionais e desta forma faz-se a fixação dos elementos aprendidos. Selecionam-se outros exercícios usando os componentes do circuito atendendo a especialidade e objetivos propostos.

 

Nossa Equipe do Futuro

Objetivos

Desenvolver o raciocínio, imaginação e criatividade.

Aplicar os conhecimentos adquiridos

Usar os três canais

 

Desafio 1

Cada equipe deve desenhar um equipamento elétrico- eletrônico: computador, campainha, refrigerador, radio, cozinha do futuro.

Fazendo analise das sugestões e possibilidades lógicas

Contando com o conhecimento de outras assinaturas.

 

Desafio 2

Cada equipe deve identificar a aplicação de uma Lei Física em um lugar da Instituição: refeitório, biblioteca, etc-.

O tempo é predeterminado e o informe deve tentar levar em conta não só a localização senão detalhes de aplicação do conteúdo e de quem participa.

Uma vez realizada a experiência e escrito o informe, ao regressar à sala de aula, o professor recolhe os informes e troca as tarefas, agora já determinadas pelos trabalhos realizados com as outras equipes. Estes equipes agora devem fazer a mesma tarefa que já foi feita por outra equipe, fazendo seu relatório.

As equipes que fizeram os mesmos trabalhos analisam e discutem os diferentes pontos de vista.

Um informe oral de cada experiência é transmitido para a turma inteira com prolongada discussão.

Estas são atividades muito motivantes, pois os estudantes mudam de ambiente e quebram o esquema de aulas tradicional e se voltam para a realidade que os rodeia, sem que antes tivessem percebido.

 

RESULTADOS

Os estudantes

Expressaram melhor a sua relação com o meio e sua experiência sensorial.

Desenvolveram habilidades e destrezas.

Vincularam o estudo da física com outras matérias do curso

Desenvolveram e aplicaram criativamente os conhecimentos adquiridos.

Estatística da enquête realizada aos estudantes:

Perguntas - Respostas afirmativas Cuba Brasil

Entendem melhor a matéria? 100% 100%

Resolvem melhor os exercícios? 54% 70%

Dominam melhor os conceitos? 71% 80%

CONCLUSÕES

Apresentamos as técnicas de PNL que foram implementadas nas aulas de Física para estudantes universitários de Engenharia de Cuba e Brasil, IF, UFF.

Por meio destas técnicas os estudantes expressaram sua relação com o meio e sua experiência sensorial. Desenvolveram habilidades e destrezas, vincularam o estudo de física com outras matérias do curso, desenvolveram e aplicaram criativamente os conhecimentos adquiridos.

Os exercícios apresentados são o resultado da aplicação da PNL à aula de Física. Sua efetividade está validada pelas opiniões dos estudantes que responderam a enquête realizada ao final do semestre de estudo.

Analisando estes resultados consideramos que este enfoque é altamente positivo e pode ser aplicado a outras matérias de Ciências Exatas com tanto êxito quanto ao ensino da Física.

 

BIBLIOGRAFIA

Murphey, T., Teaching talking to teacher: Newsletter of the Japan Assoc. for Language Teaching Teacher Education SIG. Vol.4, p.18, June 1996.

Bandler, R., & Grinder, J., The structure of magic (I and II). Palo Alto, CA: Science and Behavior Books, 1975.

Bandler, R., & Grinder, J., Frogs into princes. Moab, Utah: Real people Press, 1979.

Laison, Susanne, “People Signals - Don’t Miss Them” Paul Welker, Ed.D. , Tyndale House Publisher, Oct.1981.

M. Argyle et al, British Journal of Social and Clinical Psychology, vol. 9, 1970.