LINGUAGEM, LÍNGUA E DIALETO

Márlia Da Silva Castro Lima (UERJ)

 A  distinção  entre  a Linguagem, Língua ou  Dialeto  indispensável  do ponto de vista metodológico, não deixa de ser em  parte artificial. Em  verdade as 3 denominações aplicam-se a aspectos diferentes  mas  não opostos, do fenômeno  extremamente  complexo que  é  a comunicação humana.
 Percebemos que o mundo que nos rodeia possui uma forma de comunicação, mas é o homem  que  é  atribuído a  linguagem, as  demais conceituações  (linguagem  das cores, dos animais etc.) são metáforas.
        O instinto  de  sociabilidade  mais imperioso na  espécie humana não encontraria expressão mais adequada, ou mesmo se anularia, se não existisse a linguagem.
  A busca pela origem e como se processa a linguagem ainda não encontrou uma explicação clara e se confunde com a religião, resumindo a linguagem como dom divino. Portanto a linguagem é a faculdade humana através da qual o homem se comunica. O animal possui também sinais fônicos  e, por meio desses sinais é possível uma comunicação de sentimentos, como por meio de outros sinais. Nenhum animal, contudo, tem capacidade de expressão imediata do pensamento pelo som.
  Tem-se admitido que não se pode precisar a sede exata da faculdade da linguagem. Os indicadores direcionam a localização na região compreendida entre a base da terceira circunvolução frontal e da primeira temporal do cérebro.
  Conhecer a origem da linguagem é um desejo desde a  remota antigüidade. Na bíblia há a citação da  Torre de Babel e em Gêneses “No início era o verbo...”, onde Deus ( o ser criador ) ordena que surjam as coisas. O homem necessita conhecer para nomear.
O monogeísmo ou poligenismo racial confronta-se com a origem de uma linguagem articulada. Teria Deus revelado a linguagem ao homem ou a teria este inventado, no correr do tempo?
  Filósofos gregos e romanos foram defensores destas hipóteses. Epicuro achava que o homem observava os animais e chegou a linguagem inconscientemente, sendo o seu desenvolvimento convenções.
Lucrécio afirmava  que a aquisição da linguagem pelo homem foi espontânea e natural já que era cotado de órgãos, os quais facilitaram a linguagem articulada, de acordo com sua máxima: utilitas expressit nomina rerum.
  A tendência da ciência moderna é inclinar-se para a hipótese de que ela é criação humana. Mas de forma instantânea ou gradualmente? Renan, pôr exemplo, assevera que a sua aquisição foi instantânea e de um só jacto, no gênio de cada raça. Outros que constituem a maioria afirmam que a criação da linguagem pelo gênero humano se operou gradual e lentamente.
  “A linguagem repousa sobre uma estrutura inata ativada pelo meio social num processo que é o da aquisição da linguagem. A linguagem aparece, com efeito, com aptidão da espécie humana [...] , essa aptidão repousa em bases biológicas [...] , particularmente a localização da linguagem na parte posterior do hemisfério esquerdo do cérebro (JAN DEBOÁ ETÁ;I 1973:263-3).
  Chomsky afirma que a visão do “aprendizado da língua” como o “crescimento da linguagem” não pode ser como um depósito de elementos exteriores, impingindo à força de regras e sedimentos pôr servil memorização.
  A noção de  “programa genético” e “sistema geneticamente determinado” aparece também num discípulo de Chomsky:
  “ Esta em voga, nesta era de computadores usar metáforas eletrônicas. Podemos dizer que o comportamento inato [...] está programado no organismo. Condições ambientais podem desencadear a seqüência ( ou talvez pôr força impedir que ela ocorra mas, uma vez liberada, ela segue um curso prescrito” EH. Lennberg, in Chamsky ételi, 1970. 82-3).
  Ou seja, se os peixes são programados para nadar, o homem nasce para falar. Como o, homem é um ser social, sua necessidade de estabelecem comunicação é praticamente ininterrupta. Enviando ou recebendo mensagens por meio de um código, o ser humano atende a sua necessidade comunicativa, criando a atividade a que se dá o nome de linguagem.. Para a mensagem ser compreendida é necessário que os falantes a tenham entendido e intendido. O entendimento é o conhecimento que o falante traz, sobre determinado assunto.
  A compreensão mútua entre o emissor e o receptor  de uma mensagem é assegurada por um código comum a ambos. Esse código pode ser gestual, visual, olfativo, etc.
  Dentre os diferentes códigos comunicativos existentes, a língua é o mais importante, pois seu uso é universal generalizado nos diferentes grupos sociais.
  Aliás, o caráter social de uma língua é justamente sua característica mais evidente, sempre ligada a comunidade que possui. O lingüista Ferdinand Saussure diz que a língua “é a parte social da linguagem, exterior do indivíduo, que, por si só, não nem criá-la nem modifica-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade.
  Portanto a língua é um sistema de signos; pertence a toda uma comunidade de falantes.
  Os signos lingüísticos constituem-se pelo significado e significante unidos num só todo indissolúvel. O significante é a imagem acústica, correspondente à lembrança de uma seqüência de sons. O significado é um conceito, um dado do conhecimento humano sobre o mundo.
  A lingüística procura investigar a organização e  o funcionamento das diversas línguas existentes, estabelecendo relações entre essas línguas e as sociedades e homens que as produzem e utilizam. Saussure estabeleceu, além da distinção língua/fala ( é o uso que cada indivíduo faz da língua comunitária ), uma oposição fundamental para os estudos da linguagem: a diacronia e a sincronia.
  A diacronia analisa a língua a partir da sua evolução ao longo do tempo. Contar a história da língua portuguesa, mostrando suas diferentes fases evolutivas é fazer lingüística diacrônica.
  A sincronia procura explicar o funcionamento de uma língua dado momento do tempo, sem se preocupar com a evolução da linguagem, mas apenas com a sua maneira de ser. Descrever como é a língua portuguesa falada no Brasil, hoje, é fazer lingüistica sincrônica.
  O conceito de língua é bastante amplo, englobando todas as manifestações da fala. Há variações que não são  decorrentes do uso individual da língua, mas sim, de outros fatores. Esses fatores podem se:
  * Geográficos: há variações entre formas que a língua portuguesa assume nas diferentes regiões em que é falada. As variações regionais constituem os falares e os dialetos.
  * Sociais: o português empregado pelas pessoas que tem acesso à escola e aos meios de instrução, difere do português empregado pelas pessoas privadas de escolaridade. O idioma é um instrumento de dominação e discriminação social.
  Também são socialmente condicionadas certas formas de língua que alguns grupos desenvolvem a fim de evitar a compreensão pôr parte daqueles que não pertencem ao grupo. O emprego dessas formas de língua proporciona o reconhecimento fácil aos integrantes de uma comunidade restrita, seja um grupo de estudantes, seja uma quadrilha de contrabandistas. Assim se formam gírias, variantes lingüisticas sujeitas a contínuas transformações.
  * Profissionais: línguas técnicas. Essas variantes têm seu uso praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, médicos, químicos, lingüisticos etc.
  *Situacionais: em diferentes situações comunicativas, um mesmo indivíduo emprega diferentes formas da língua.
  Falar ou escrever também implicam profundas diferenças na elaboração de mensagens.
   A tal ponto chegam essas variações que acabam surgindo dois códigos distintos, cada qual com suas especialidades: a língua falada e a língua escrita.
   Quanto ao uso, as línguas são classificadas em vivas, mortas ou extintas.
   A língua só conserva o seu aspecto uniforme enquanto é falada pôr um pequeno agrupamento humano.
   Quanto mais dependente politicamente estiver a região, menos distante se acha da capital ou sede do poder central, mais facilidade houver de comunicação com ela, tanto maior será a resistência da língua em manter a sua unidade. Quebrados os laços políticos ou enfraquecida a ação da metrópole, começam logo surgir diferenças locais, que darão em resultado, no decorrer dos anos, a formação de dialetos.
   Em sua origem, toda língua é um dialeto, que, pôr circunstâncias várias, consegue predominar.
   Língua e dialeto são pois, termos relativos. O italiano, o francês, o espanhol, o português, etc., que tomadas separadamente, constituem verdadeiras línguas com relação ao latim, não passam de simples dialetos. `
  “Dialeto é a variedade (ou vertente) regional ou social de uma determinada língua. Também se denomina linguajar. De acordo com a definição regional de uma língua ou ainda, são línguas regionais que apresentam entre si coincidências de traços lingüísticos essenciais”.
  Portanto, pudemos compreender dialetos e falares regionais no mesmo patamar da conceituação?
  Ocorrem variações lingüísticas de ordem geográfica, chamadas de regionalismo, dialetos.
  Isso acontece porque em algumas regiões de um país certas expressões e mesmo construções são preferidas a outras; quando tais diferenças se aprofundam deixa-se de falar em regionalismo e fala-se em dialeto.