Comentários filológicos de alguns verbetes de
DOM CASMURRO, de Machado de Assis.

 

Adotaremos o volume I (Romance) da Obra Completa de Machado de Assis, Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1971.
Selecionados os verbetes e as expressões, daremos sua classe lexical respectiva. A seguir, citaremos os mesmos de acordo com a sua localização textual, culminando por lhes registrar os correspondentes  comentários filológicos

Na elaboração deste trabalho, usaremos as seguintes abreviaturas:
s.m. (substantivo masculino)
s.f. (substantivo feminino)
expr. (expressão)
expr. fr. (expressão francesa)
expr. lat. (expressão latina)
top. (topônimo)
op. cit. (opus citatatum)
p. (página)
pp. (paginas)
pron. (pronome)
Bíbl. (Bíblico)
 

Rua de Mata-cavalos
S.m. Atual Rua do Riachuelo, no Rio de Janeiro.
Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Mata-cavalos,  (p. 809)
A edição da Livraria Garnier, 1988, registra Matacavalos.

César
S.m. Nome de homem. Refere-se a Júlio César (102-44 a.C.), famoso estadista, político e escritor romano , e um dos mais ilustres generais da Antiguidade.
Nos quatro cantos do tecto as figuras das estações,  e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo ... (p. 810)

Augusto
S .m. Nome de homem. Refere-se a Otávio Augusto (63 a.C. - 14 d.C.), sobrinho de Júlio César, e primeiro imperador romano.
Nos quatro cantos do tecto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo ... (p. 810)

Nero
S.m. Nome de Homem. refere-se ao imperador romano (54-68 a.C.), famoso por suas crueldades e monstruosidades.
Nos quatro cantos do tecto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo ... (p. 810)

Massinissa
S.m. Rei da Numídia (província romana no norte da África). Aliado dos exércitos romanos em diversas campanhas, foi o primeiro a abrir a África à penetração da civilização romana. Mandou de presente de núpcias a Sofonista uma taça de veneno, para poupar-lhe a vergonha de figurar no triunfo de Cipião. 238-418 a.C.)
Nos quatro cantos do tecto as figuras das estações,  e ao centro  das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massanissa, com os nomes por baixo... (p. 810)

Fausto
Obra do não menos famoso escritor alemão Goethe (1749-1832). A personagem-título vende a alma a
Mefistófeles (o demônio) em troca de eterna juventude e de muitas riquezas materiais.
Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras,  como o poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras... (pp. 810-811)

Gamão
S.m. Jogo de azar e cálculo, entre dois parceiros, com quinze tábulas cada um.
“os pequenos divertem-se, eu divirto-me; onde está o gamão?” (p. 811)

Manual
S.m. Trata-se do famoso CHERNOVIZ, Formulário e Guia Médico, de autoria de Pedro Luís Napoleão
Chernoviz, médico de origem polonesa, que andou pelo Brasil no século XIX.
“levava um Manual e uma botica”. (p. 814)

Rua das Violas
Antiga denominação da atual Rua Teófilo Otoni, no Rio de Janeiro.
“Tinha um escritório na antiga Rua das Violas, perto de júri, que era no extinto Aljube.” (p. 815)

Aljube
S.m. Antigo prédio, construído em 1733, para prisão de eclesiásticos que cometessem delitos graves. Dom João VI, em 1808, transformou-o em cadeia comum. Em 1840, deixou de servir de presídio e passou a ser o Tribunal do Júri. Transformou-se em cortiço, desapareceu a seguir.
Tinha o escritório na antiga Rua das Violas, perto do júri, que era no extinto Aljube. (p. 815)

Boceta de Pandora
Expr. Significa a origem de todos os males. Surgiu, primeiramente, em Os trabalhos e os dias, de Hesíodo. Pandora, a primeira mulher criada por Vulcano, foi dada como esposa a Epimeteu, o primeiro homem moldado por Prometeu. Logo que foi criada, os deuses ofereceram-lhe   preciosos dons. Zeus, de modo especial, presenteou-a com uma caixa (boceta), onde se guardavam todos os males do mundo, recomendando a ela que tivesse cautela em não abri-la. Pandora, muito curiosa, não resistiu e terminou por abrir a caixa, espalhando-se por toda a terra todos os males, restando somente no fundo um dom de cor verde: a esperança.
Nenhum premiado as acusou ainda de imorais, como ninguém tachou de má a boceta de Pandora, por lhe ter ficado a esperança no fundo; (p. 816)

Chianti
S.m. Famoso vinho tinto italiano da região de Chianti, zona montanhosa de Toscana. De fermentação incompleta ao ser engarrafado, adquire forte sabor picante que o torna muito apreciado.
Uma noite, depois de muito Chianti, repetiu-se a definição do costume, (p. 817)

Mulheres patuscas de Windsor
Expr. O mesmo que As Alegres Comadres de Windsor, comédia de William Shakespeare.
O grotesco, por exemplo, não está no texto do poeta; é uma excrescência para imitar as Mulheres Patuscas de Windsor. (p. 818)

Dominus, non dignus ...
Expr. lat. Usual no ritual de missas católicas. A frase completa é:
Domine, non sum dignus ut intres sub tectum meum, sed tantum dic verbo et sanabitur anima mea: “Senhor, não sou digno que entreis na minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”.
Dominus, non sum dignus ... (p. 820)

Elifás
S.m. Do hebraico Elifaz, pelo latim Eliphaz. Nome de homem e personagem bíblico. (Gênesis, 36, 4, 11, 12, 15)
mas o padre Cabral, que levava tudo para a Escritura, dizia que com o vizinho Pádua se dava a lição de Elifaz e Jó: “Não desprezes a correção do Senhor; Ele fere e cura.” (p. 826)


S.m. Do hebraico Iob, “odiado”, “molestado”, “atribulado”, pelo latim bíblico  Job, com a variante Jobus. É autor do Livro com o mesmo nome do Antigo Testamento.
mas o Padre Cabral, que levava tudo para a Escritura, dizia que com o vizinho Pádua se dava a lição de Elifaz e Jó : “Não desprezes a correção do Senhor; Ele fere e cura.” (p. 826)

“Ele fere e cura”.
Expr. bíblica contida no Livro de Jó (5:17-18) do Antigo Testamento. A frase completa é a seguinte:
 “Bem-aventurado o homem a quem deus corrige. /Não desprezes a lição do Todo-Poderoso. /Pois Ele fere e cuida; se golpeia, sua mão cura”.
mas o Padre Cabral, que levava tudo para a Escritura, dizia que com o vizinho Pádua se dava a lição de Elifás a Jó: “Não desprezes a correção do Senhor; Ele fere e cura. (p. 826)

Aquiles
S. m. Nome de homem. Personagem do poémio épico a Ilíada, de Homero: o rei Menelau, procurando  salvar um amigo, volteava em torno do mesmo, à guisa de uma vaca em redor de seu bezerr.
Quando, mais tarde, vim a saber que a lança de Aquiles também curou uma ferida que fez, tive tais ou quais veleidades de escrever uma dissertação a este propósito. (p. 826)

Walter Scott
S.m. Nome de célebre romancista inglês (1771-1832). Dentre as obras famosas que escreveu destaca-se o inigualável Ivanhoé.
José Dias vinha andando cheio de leitura de Walter Scott que fizera a minha mãe e a prima Justina. (p. 833)

Ariosto
S.m. Nome de homem. refere-se a Ludovico Ariosto (1474-1533), festejado autor de Orlando Furioso, poema épico de base nas histórias de cavalaria da Idade Média, publicado no Renascimento italiano. Segundo a opinião de  alguns  pesquisadores,  Orlando Furioso é a continuação de Orlando Enamorado, de autoria de Matteo Maria Bolardo (1434-1494)
Não, a imaginação de Ariosto não é mais fértil que a das crianças e dos namorados, nem a visão do impossível precisa mais que de um recanto de ônibus. (p. 838)

Santo Antônio dos Pobres
Denominação da Igreja de Santo Antônio dos Pobres, fundada em 1808, junto à Irmandade do mesmo nome, na rua dos Inválidos, no Rio de Janeiro.
Ouço um sino; é, creio que é em Santo Antônio dos Pobres. (p. 838)

Opas
S.f. Espécie de capa sem mangas, com aberturas laterais, por onde se enfiam os braços, e de uso das confrarias e irmandades religiosas. Com flexão de número.
Quando o sacristão começou a distribuir as opas, entrou um sujeito esbaforido; (p. 839)
Cibório
S.m. Vaso onde se guardam as hóstias e partículas sagradas para a comunhão dos fiéis.
Opas enfiadas, tochas distribuídas e acesas, padre e cibório prontos, o sacristão de hissope e campainha nas mãos, saiu o préstito à rua.  (p. 839)

Hissope
S.m. O mesmo que aspersório, i.e., instrumento de metal ou madeira com que se asperge água benta.
Opas enfiadas, tochas distribuídas e acesas, padre e cibório prontos, e sacristão de hissope e campainha nas mãos, saiu o préstito à rua. (. 39)

Tu quoque, Brute?
Expr. lat. : Tu também, Bruto? pronunciada por Júlio César quando foi assassinado por conspiradores no Senado romano, dentre os quais se encontrava Marco Júnio Bruto, a quem Júlio César considerava como filho. Daí, também, a outra frase idêntica: Tu quoque, fili mili? Tu também, meu filho? O fato ocorreu em 44 a.C.
Tu quoque, Brute? (p. 841)

Sestércio
S. m. Pequena moeda de cobre, usada pelos antigos romanos. Valia dois asses e meio, ou um quarto de dinheiro
E quanto valia cada sestércio? (p. 841)

Maioridade
S.f. Com a abdicação de Dom Pedro I em favor de seu filho Pedro de Alcântara, ainda criança, em 1831 instalou-se o Período Regencial. A 23 de julho de 1840, o príncipe herdeiro foi considerado maior e apto a governar com o nome de Dom Pedro II, ato a que se denominou Maioridade. As festas da coroação foram muito pomposas e se realizaram a 18 de junho de 1841. Dom Pedro II subiu ao trono aos 15 anos de idade.
Ouvindo falar muitas vezes em Maioridade teimou um dia em saber o que fora este acontecimento; (p. 842)

Pataca
S.f. Moeda antiga brasileira de prata, valendo 320 réis.
era um espelhinho de pataca (perdoai a barateza), comprado a um mascate italiano, moldura tosca, argolinha de latão, pendente da parede, entre as duas janelas. (p. 842)

Dante
S.m. Nome de homem. Refere-se ao poeta italiano Dante Alighieri (1265-1321), autor da imortal Divina Comédia, que, na parte relativa ao Inferno, descreve execráveis castigos e suplícios infligidos às almas condenadas.
Este outro suplício escapou ao divino Dante; (p. 843)

Aurora
S.f. Nome de mulher. De acordo com a Mitologia romana, Aurora era a deusa do amanhecer tinha por tarefa abrir para o sol as portas do oriente.
Não pedi ao céu que eles fossem tão longos como a Aurora, (p. 844)

Tétis
S.f. A mais célebre de todas as nereidas da Mitologia grega. Aparece no poema épico Os Lusíadas, de  Camões.
Ainda há pouco, falando dos seus olhos de ressaca, cheguei a escrever Tétis; (p. 844)

Des Grieux
S.f. Nome da personagem do romance Manon Lescaut, de autoria do abade Prévost, no qual o protagonista é levado à perdição pela sua amante Manon. A obra veio a lume em 1731.
Com dezessete, Des Grieux (e mais era Des Grieux) não pensava ainda na diferença dos sexos. (p. 844)

Protonotário
S.m. É o representante da Cúria romana junto aos governos dos países onde não há núncio apostólico ou embaixador do Papa.
tu podes vir a ser protonotário apostólico. (p. 846)

Cântico
S.m. Refere-se ao Cântico dos Cânticos, do rei Salomão, livro do Antigo Testamento. Trata das relações amorosas entre os esposos.
Se conhecesse, é provável que o espírito de Satanás me fizesse dar à língua mística do Cântico um sentido direto e natural. (p. 848)

Lucrécia
S. f. Nome de mulher. Refere-se à esposa de Tarquínio Colatino, que foi violentada por Sexto, filho de Tarquínio, o Soberbo. Ela não resistiu à abominável desonra e enfiou um punhal no peito, fato que redundou em séria crise, quando se instalou a República em Roma, (510 a.C.)
Não conhecia a violação de Lucrécia. (p. 849)

Artinha
S. f. Artinha Latina era o subtítulo do livro Novo Método de Gramática Latina, de autoria do padre Antônio Pereira, manual muito divulgado no Brasil durante o século passado.
Dos romanos apenas sabia que falavam pela artinha do Padre Pereira e eram patrícios de Pôncio Pilatos. (p. 849)

Pôncio Pilatos
S. m. Nome do governador romano no Judéia, cerca de 39 d.C. Temendo uma revolta, entregou Jesus Cristo aos juízes religiosos, apesar de saber que Ele não era culpado pelos crimes que se lhe imputavam. Para fazer ver aos judeus que lhes deixava a responsabilidade da morte de Jesus Cristo, mandou trazerem-lhe água,  e ao lavar as mãos exclamou: Sou inocente da morte desse homem. A expr. Lavar as mãos significa: Declinar da responsabilidade;  eximir-se dela.
Dos romanos apenas sabia que falavam pela artinha do Padre Pereira e eram patrícios de Pôncio Pilatos. (p. 849)

Veja  S. Paulo
Expr. O texto remete aos Atos dos Apóstolos (9: 1-18), quando na conversão de Saulo, nos caminhos de Damasco. Depois de convertido, Saulo passou a chamar-se Paulo.
Um homem pode não ter gosto à igreja e até persegui-la, e um dia a voz de Deus lhe fala, e ele sai apóstolo; veja S. Paulo. (p. 851)

Santa Rita
Denominação da Igreja de Santa Rita de Cássia, no centro do Rio de Janeiro, na rua Miguel Couto. Antes foi denominada Igreja dos Malfeitores, porque nela os presos condenados recebiam as últimas consolações.
meu padrinho, que era coadjutor de Santa Rita, (p. 851)

Cavalo de Alexandre
Expr. O texto refere-se ao Bucéfalo, cavalo indomável que Alexandre Magno (rei da Macedônia) conseguiu montar. Descobrindo que o animal tinha medo da própria sombra, fê-lo andar contra o sol.
a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre; (p. 852)

Calundus
S.m. Do quimbundo, kilundu, ente sobrenatural que dirige os destinos da pessoa e que, quando incorporado, a torna triste, melancólica, nostálgica. O mesmo que mau-humor; amuo. Com flexão de número.
Capitu alegava a insônia, a dor de cabeça, o abatimento do espírito, e finalmente “os seus calundus”. (p. 859)

Junqueira Freire
S. m. Nome do poeta brasileiro Luís José Junqueira Freire (1832-1855), autor do livro Inspirações do Claustro, 1855.
aqui mesmo no seminário tive um companheiro que compôs versos, à maneira dos de Junqueira Freire,  (p. 864)

Santo Agostinho
S.m. Bispo de Hipona, filho de Santa Mônica (353-430). Depois de uma vida agitada, foi atraído à vida religiosa,  graças às prédigas de Santo Ambrósio. Foi um dos doutores da Igreja Católica. Autor de várias obras de vulto, deixou as célebres Confissões, em que narra os desregramentos da juventude e sua conversão ao Cristianismo.
Alcançou licença de imprimi-lo, e dedicou-o a Santo Agostinho.  (p. 864)

Meia-Ponte
S.f. Atual cidade de Pirinópolis, estado de Goiás.
Vi o Bastos, um magricela, que está de vigário em Meia-Ponte, se não morreu já; (p. 867)

Vaca de Homero
Expr. Faz referência à Ilíada, de Homero, canto XVII, v. 1-10, em que o rei Menelau, para proteger Pátroclo que está ferido, fica andando à sua volta, à guisa de  uma vaca a seu bezerro.
Podia compará-lo aqui à vaca de Homero; (p. 872)

Iago
S.m. Nome de homem. Refere-se a uma personagem da tragédia Otelo, de William Shakespeare, escrita em 1606. Iago é quem desperta em Otelo o desenfreado ciúme por Desdêmona, quando o mouro termina por assassiná-la.
Uma ponta de Iago. (p. 873)

Napoleão
S.m. Nome de homem. O texto alude a Napoleão Bonaparte, (1769-1821). De origem humilde, galgou todos os postos, chegando a imperador da França. Era seu desejo anexar toda a Europa à França, mas fracassou na guerra contra a Rússia, esmagado pelo frio e pela fome intensos. As palavras de Napoleão transcritas por Machado de Assis: todos os destinos estão neste século talvez queiram dizer: que, depois de Napoleão, todos os milagres são possíveis, como por exemplo, o que vai no texto, isto é, que Bentinho volte papa, na opinião de Massaud Moisés: Organização, Introdução, Revisão do testo e notas de Dom Casmurro, São Paulo: Cultrix, 1968, p. 225.
Depois de Napoleão, tenente e imperador, todos os destinos estão neste século. (p. 875)

Luciano
S.m. Nome de homem. Refere-se a Luciano de Samósata (125-192 d.C.), filósofo, retórico e satírico grego, que narra, em sua História Verdadeira, fantásticas viagens onde a única verdade é a mentira. Também escreveu os Diálogos dos Mortos, descrevendo uma ilha paradisíaca, verdadeira Pasárgada.
Quando eles moravam na Ilha que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu palácio, e donde os fazia sair com as suas caras de vária feição, dar-me-ia explicações possíveis. (p. 876)

Filipinas
Top. Ilhas situadas no arquipélago da Malásia, no mar da China.
As Filipinas foram colonizadas pelos espanhóis desde 1527. Em 1896,  revoltaram-se contra a Espanha e pediram ajuda aos Estados Unidos, que as incorporaram depois da luta contra aquele país. Em 1946, as Filipinas tornaram-se independentes.
Era uma alusão às Filipinas.  (p. 876)]

Rua dos Barbonos
Denominação da atual rua Evaristo da Veiga, no Rio de Janeiro.
Quanto mais andava aquela Rua dos Barbonos, mais me aterrava a idéia de chegar a casa, de entrar, de ouvir os prantos, de ver um corpo defunto... (p. 879)

Arcos
S.m. Faz alusão à Praça dos Arcos, hoje Largo dos Pracinhas, no Rio de Janeiro.
Fui, cheguei aos Arcos, entrei na Rua de Mata-cavalos. (p. 879)

Ce ne sont pas mes gestes que j’escris; c’est moi, c’est mon essence
Expr. francesa de autoria de Miguel de Montaigne (1533-1592), contida em sua famosa Essais, livro II, capítulo VI, e cuja tradução é a seguinte:
“Não são os meus gestos que escrevo; sou eu, é a minha essência”. Segundo Massaud Moisés, Op. cit. p.p. 226, 227 (...) a referência do texto está truncada, quer quanto à ortografia vigente na época, quer na pontuação e na inclusão da palavra pas, de vez que o trabalho teve três edições iniciais com emendas, em 1580, 1588 e 1595.
Montaigne escreveu de si: ce ne sont pas mes gestes que j’escris; c’est moi, c’est mon essence. (p. 80)

Voilà mes gestes, voilà mon essence
Expr. francesa com referência à frase anterior de Motaigne: Eis os meus versos, eis a minha  essência.
e no dia seguinte perdi o trem da mesma estrada, por ter ido dar a minha bengala a um cego que não trazia bordão. Voilà mes gestes, voilà mon essence. (p. 881)

Jeová
Nome do deus dos hebreus.
Jeová,  posto que divino, ou por isso mesmo, é um Rothschild muito mais humano, e não faz moratórias, perdoa as dívidas integralmente, uma vez que o devedor queira deveras emendar a vida e cortar nas despesas. (p. 881)

Rothschild
S.m. O texto faz alusão a um dos membros da família Rothscild, ricos e tradicionais bamqueiros israelistas. O antepassado dessa família foi Meyer-Anselmo Rothschild.
Jeová, posto que divino, ou por isso mesmo, é um Rothschild muito mais humano, e não faz moratórias, perdoa as dívidas integralmente, uma vez que o devedor queira deveras emendar a vida e cortar nas despesas. (p. 881)

Rua dos Pescadores
Antiga denominação da Rua Visconde de Inhaúma, no Rio de Janeiro.
Disse-me que o armazém do correspondente era na Rua dos Pescadores, (p. 883)

Otelo
S.m. Nome de homem e denominação da famosa tragédia de Shakespeare.
Otelo mataria a si e a Desdémona no primeiro ato,  (p. 884)

Desdêmona
S.f. Nome de mulher e personagem da famosa tragédia Otelo, de Shakespeare.
Otelo mataria a si a Desdêmona no primeiro ato,  (p. 884)

Asaverus
S.m. Variante gráfica de Aasvérus, o Judeu Errante, de autoria de Edgar Quinet (1803-1875).
A obra foi publicada em 1833, obtendo grande sucesso.
O principal personagem era Asaverus, (p. 884) A edição da livraria Garnier, de 1988, registra Ashaverus.

Relê Alencar
Expr. A referência é à comédia O Crédito, de José de Alencar (1829-1877),  levada à cena em 1858 e publicada em 1895-96, pela Revista Brasileira, quando, no ato I, cena sétima, o estudante Hipólito diz as seguintes palavras: porque, isto é sabido, um estudante de Medicina não pode estar sem duas cousas, um cavalo e uma namorada”.
Relê Alencar: “Porque um estudante (dizia um dos seus personagens de teatro de 1858) não pode estar sem estas duas cousas, um cavalo e uma namorada”. (p. 884)

Relê Álvares de Azevedo
Expr. O texto faz alusão ao poema de Álvares de Azevedo (1831-1852),  intitulado Namoro a Cavalo,  que consta da segunda parte da Lira dos Vinte Anos  (1853).
Relê Álvares de Azevedo. Uma das poesias é destinada à contar (1851) que residia em Catumbi, e, para ver a namorada do Catete, alugara um cavalo por três mil réis... (p. 884)
Segundo Massaud Moisés: o poema não vem datado, o que faz crer uma suposição de Machado de Assis ou  no apoiar-se em informação que não acompanha a peça poética. (op. cit. p. 227)

Campo da Aclamação
Antiga denominação da atual Praça da República, situada no centro do Rio de Janeiro. Construído onde era um pântano, inicialmente seu nome era Campo de Santana. Com a vinda de D. João VI, em 1808, recebeu muitas benfeitorias. Em 1822, chamou-se Campo da Aclamação. De 1831-1840, durante a Regência, teve o nome de Campo de Honra. Depois de 1840, voltou a chamar-se Praça da Aclamação. Com a República, denominou-se outra vez Campo de Santana e,  finalmente,  Praça da República.
morava no antigo Campo da Aclamação, e depois... e depois... (p. 885)

Ab ovo
Expr. lat. Significa desde o início.
Vontade divina podia ser a minha vida, sem necessidade de lha dedicar ab ovo. (p. 888)

Guerra da Criméia
Expr. Conflito internacional (1854-55) entre a Rússia e as nações aliadas França, Inglaterra, Turquia e Piemonte, saindo a Rússia derrotada.
como falássemos da guerra da Criméia, (p. 896)

In hoc signo vinces
Expr. lat. Com este sinal vencerás. Frase famosa proveniente de uma visão onírica do imperador Constantino: numa cruz de fogo surgida no céu estavam escritas estas palavras, quando da luta contra Maxêncio (312 d.C.), a quem infligiu derrota. Constantino mandou que o sinal fosse colocado em seu estandarte, e fez pintá-lo nos escudos, capacetes e armas de seus soldados.  Segundo consta, algumas de nossas moedas antigas traziam gravadas estas palavras com a seguinte tradução: com o dinheiro tudo alcançarás. No texto, Machado de Assis, com sutil ironia, transfere o símbolo de Cristo (a cruz) ao mundo interesseiro dos negócios (o comércio).
- In hoc signo vinces, disse eu rindo. (p. 904)

Cendal de Camões
Expr. Trata-se de véu de tecido muito fino e semitransparente. Camões escreveu em Os Lusíadas, na estrofe 37, canto II, referindo-se a uma ninfa que representava Vênus:
“C’um delgado cendal as partes cobre / De quem vergonha é natural reparo; / Porém nem tudo esconde nem descobre / O véu, dos roxos lírios pouco avaro.”
mas levou-os meio vestidos de escumilha ou não sei que, que nem cobria nem descobria inteiramente, como o cendal de Camões.  (p. 911)

Demóstenes
S.m. Nome de homem. Aqui se refere ao mais célebre dos oradores atenienses (384-322a.C.).
Usou toda a sua eloqüência  para combater as idéias ambiciosas de Filipe,  rei da Macedônia, que pretendia levar a Grécia à servidão, pronunciando  suas memoráveis Filípicas  e Olínticas,  peças de oratória de talento inigualável. Também pronunciou a Oração da Coroa  em defesa de Ctesifonte. Atribuem-se-lhe 61 discursos, 65 exórdios e 6 cartas.
ninguém diria o que veio a ser Demóstenes. (p. 914)

Embargos de terceiros
Expr. jurídica. Denominação jurídica que se dá à intervenção de pessoa estranha à causa, através de ato de diligência autorizada por juiz, para que se lhe faça respeitar um direito que foi  esbulhado ou violado. A turbação ou esbulho à posse dessa pessoa, que por esse meio vem intervir na causa, deve ser fundada em penhora, arresto, depósito, seqüestro, venda judicial,  partilha, arrecadação ou qualquer outro ato de apreensão judicial.
Eram uns embargos de terceiro; (p. 919)

Que no-las matasse
Expr. Aliás, “que no-las matassem”,  como manda a boa concordância lógica dos termos. É de notar-se que a 1ª e a 2ª edições, de 1899 e 1900, da Tipografia Garnier,  registraram a concordância correta.
vínhamos suspirando as nossas invejas, e pedindo mentalmente ao céu que no-las matasse... (p. 913)

Tristezas de Olímpio
S.m. Nome de homem. Faz referência ao poema de Victor Hugo, Tristeza de Olímpio. O poeta francês adotou o pseudônimo Olímpio em sua produção poética.
ela as desfez com a arte fina que possuía, um jeito, uma graça toda sua, capaz de dissipar as mesmas tristezas de Olímpio. (p. 920)

Nem digas que nos faltam Homeros, pela causa apontada em Camões
Expr. É alusiva a Camões, Os Lusíadas, v. V, 98: “Por isso, e não por falta de natura, / Não há também Virgílio nem Homeros;” cujo significado é o de que os portugueses não davam valor à cultura e às letras.
Nem digas que nos faltam Homeros, pela causa apontada em Camões; (p. 928)

Rinovellate di novelle fronde
Expr. Trata-se de fragmentos poéticos de Dante Alighieri, na Divina Comédia, o Paraíso: “Renovadas de novas frondes”.
Um dia, iremos daqui até à porta do céu, onde nos encontraremos renovados, como as plantas novas, ‘come piante novelle’, Rinovellate di novelle fronde. (p. 931)

SE
Pron. Na 1ª e na 2ª edição consta a forma lhe.
Quem se importará com datas, filiação, nem nomes, depois que eu acabar?” (p. 940)

Calcante pede
Expr. Subentenda-se a pé.
“As outras iam modestamente, calcante pede, (p. 944)

Jesus
S.m. Bíbl. Nome de homem. Trata-se do autor do Eclesiástico,  no Antigo Testamento, e que também era  filho de Sirac.
Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, (p. 944)