AS EDIÇÕES IMPRESSAS DO AUREO THRONO EPISCOPAL: SUBSÍDIOS PARA UMA EDIÇÃO CRÍTICA

Maria Regina Pante (UNESP)

Neste presente artigo nosso objetivo maior é apresentar, em poucas palavras, as edições de uma obra rara, cujo assunto está voltado para a história eclesiástica do Brasil colonial. Trata-se de uma obra publicada em Lisboa, na oficina do impressor do Santo Ofício, Miguel Manescal da Costa, em 1749, em virtude da criação da Diocese de Mariana, cidade localizada  no estado de  Minas Gerais, Brasil. A obra veio a lume sob o título:
 
AUREO THRONO/ EPISCOPAL,/ COLLOCADO NAS MINAS DO OURO,/ OU/ Notícia breve da Creação do novo Bispado Marianense, da sua feli-/ cissima posse, e pomposa entrada do seu meritissimo, primeiro/ Bispo, e da jornada, que fez do Maranhão, O EXCELLENTISSIMO, E REVERENDISSIMO/ SENHOR D. FR. MANOEL/ DA CRUZ,/ Com a Collecção de algumas obras Academicas, e ou-/ tras, que se fizerão na dita função,/ AUTHOR ANONYMO,/ Dedicado ao/ ILLUSTRISSIMO PATRIARCA/ S. BERNARDO,/ E DADO À LUZ POR/ FRANCISCO RIBEIRO DA SILVA,/ Clerigo Presbytero, e Conego da nova Sé Marianense.//  Na Officina de MIGUEL MANESCAL DA COSTA, Impressor do Santo Officio. Anno 1749./ com todas as licenças necessarias. 20 x 14; 5 fls. s/n com dedicatória e licenças, 246 p.
 
Encontram-se nela, além do relato, também conhecido por Relação, — por tratar-se de uma descrição já na época considerada  obra de cunho jornalístico, — poesias em português, espanhol e latim, todas apresentando um estilo encomiástico, como era de costume no período colonial.
Affonso Ávila  expõe de maneira magistral seu estudo sobre a obra, oferecendo-nos não só uma reprodução fac-símile ( que tomamos por edição princeps  ), mas também ampla pesquisa acerca do assunto.
Ali encontramos toda a obra reproduzida, bem como a tradução dos fragmentos em latim, elaborada pelo Prof. J. Lourenço de Oliveira, glossário e notas ao texto, bibliografias dos personagens da época e das obras onde podemos encontrar as edições impressas e comentários sobre elas.
 As informações para a obtenção dessas edições foram extraídas de sua obra, mas ainda não estamos convencidos de que não haja um manuscrito autógrafo perdido em alguma biblioteca. Bem sabemos o quão árduo e difícil é pesquisar em bibliotecas brasileiras, mas uma vez que nos propusemos estabelecer uma edição crítica das poesias em latim, é necessário que continuemos pesquisando no sentido de esgotar os exemplares existentes. Por enquanto, pudemos recensear quatro edições, a saber:

I - Edição princeps, publicada por Affonso Ávila  –  na falta do manuscrito autógrafo, como   já dissemos, torna-se o modelo de colação.

II - Revista do Archivo Publico Mineiro, Anno VI, Fascículo II. Abril a Junho de 1901. Imprensa Official de Minas Geraes, Belo Horizonte, 1901, pp. 445 – 449. O Arquivo Público Mineiro encarregou-se de publicar uma nova edição, em 1901, de toda a obra, embora não seja uma edição crítica.
 
III - Revista da Archidiocese de Mariana – Subsídios para a sua história. São Paulo, Escolas Profissionais do Lyceu Coração de Jesus, 1929, Vol. III. pp. 1582 – 1587.  Publicada sob o encargo do  Diretor do Arquivo  Diocesano, Cônego Raymundo Trindade. Também  apresentada como  nova edição da obra, mas não é uma edição crítica.
 IV - Movimento Academicista no Brasil (1641 – 1820/22 ). São Paulo, Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1978, vol. III, Tomo 2, pp. 175-180. Esta obra de José Aderaldo Castello tem por objetivo maior estabelecer uma coletânea, a mais abrangente possível, das obras compostas durante a data estipulada acima. A sua importância consiste não só na  grande quantidade de obras nela relacionadas, já que não deve ter sido fácil coletar todos os dados em tantos volumes e tomos, bem como na importância dada pelo organizador quanto à apresentação das mesmas. José Aderaldo Castello  procurou oferecer uma edição mais próxima do original, mas não apresentou uma edição crítica, já que não seguiu as normas da crítica textual, ou seja, não apresentou o aparato crítico, os critérios adotados, etc.
 Confrontando os quatro exemplares, podemos, num primeiro momento, fazer um breve levantamento das variantes neles encontradas.
Classificando-os de acordo com as datas de publicação, denominamos A, a edição princeps, B a do Archivo Publico Mineiro, C a da Revista da Archidiocese de Mariana e D a de José Aderaldo Castello.
 Assim sendo, podemos ilustrá-los da seguinte maneira:
 

DECIMA.  P. 142 (da edição princeps – A).

V. 5 A TUÆ   RADIIS   PRUDENTIÆ
 B TUŒ   REDIIS   PRUDENTIÆ
 C TUÆ   RADIIS  PRUDENTIÆ
D TUAE   RADIIS PRUDENTIAE
EPIGRAMMA.  P. 146
 

V. 6   A DUM    VIDET    AD    MUNUS    TE    ƒUBIIƒƒE   TUUM.
          B DUM    VIDET    AD    MUNUS    TE    SUBISSE    TUUM.
          C DUM    VIDET    AD    MUNUS    TE    SUBIISSE   TUUM.
          D DUM    UIDET    AD    MUNUS    TE    SUBIISSE   TUUM.

ALIUD.  P. 148
                                                                                                                           (DAM

V. 1   A TRIƒTIA   ROMULIDIS   AYO   DEUS   OMINA   QUON-
          B TRISTIA ROMULIDIS  AGO DEUS  OMINA  QUONDAM
         C TRISTIA ROMULIDIS  AYO DEUS  OMINA  QUONDAM
         D TRISTIA ROMULIDIS  AIO  DEUS  OMINA  QUONDAM

ELEGIA.  P. 148

V. 10 A  ALTA  TROPHÆA  PATENT,  GLORIA  ƒUMMA  ƒUBIT.
          B  ALTA  TROPHŒA  PATENT,  GLORIA   SUMMA SUBIT.
          C ALTA  TROPHŒA  PATENT,  GLORIA   SUMMA SUBIT.
          D ALTA  TROPHAEA PATENT,  GLORIA  SUMMA SUBIT.

 ELEGIA.  P. 149
 

V. 31 A   SIC  MARIANENƒIS     FELIX ECCLEƒIA  ƒURGET,
 B   SIC  MARIANNENSIS  FELIX  ECCLESIA  SURGET,
 C   SIC  MARIANNENSIS  FELIX  ECCLESIA  SURGET,
 D   SIC  MARIANNENSIS  FELIX  ECCLESIA  SURGET,
 
É possível perceber, através desses fragmentos,  que cada edição, à sua maneira, procura atualizar a ortografia, mas, quando isso ocorre, muitas vezes cometem erros, como é o caso da Elegia, p. 148 da edição C, que ao procurar atualizar o (ƒ)  para (s), em SUMMA SUBIT, cometeu um erro em TROPHŒA, onde o ditongo  empregado na edição princeps seria Æ.
 Assim sendo, interessados pela obra pertencente ao período barroco mineiro, propusemo-nos estabelecer o texto crítico tomando, como exemplar de colação, a edição reproduzida  na obra de Affonso Ávila.
Como ainda não terminamos a etapa  da  recensio, esperamos ainda encontrar outros exemplares para que possamos, dessa forma, estabelecer uma edição crítica das poesias em latim que fazem parte dessa obra de inestimável valor para o estudo da cultura da época em questão.
 

BIBLIOGRAFIA

CASTELLO, José Aderaldo. O Movimento Academicista no Brasil (1641 – 1820/22), São Paulo, Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas,1978, vol. III, Tomo 2, pp. 175-180.
TRINDADE, Cônego Raymundo. Revista da Archidiocese de Mariana – subsídios para a sua história . São Paulo, Escolas Profissionais do Lyceu  Coração de Jesus, 1929, vol. III, pp. 1582 – 1587.
ÁVILA, Affonso. Resíduos Seiscentistas em Minas – Textos do século o ouro e as projeções do mundo barroco. Belo Horizonte, Centro de Estudos Mineiros, 1967, 2 vol.
Revista do Archivo Publico Mineiro. Belo Horizonte, Imprensa Official de Minas Geraes, 1901, Anno VI, fascículo II. Abril a Junho de 1901.