CULTURA E INTERAÇÃO NO ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA INGLESA
Teresinha de Fátima Nogueira
(UNIVAP)
Claudio Bertolli Filho (UNESP)
O ensino de língua e literatura inglesa tem sido, de regra, tratado
como duas atividades estanques, sendo que a noção da importância
do enfoque cultural e a possível interação entre
leitor e texto concentra-se no estudo da literatura, enquanto que o processo
ensino-aprendizagem da língua, ao contrário, parece não
carecer tanto dos aspectos históricos-culturais quanto de uma maior
empatia com o texto trabalhado. Partindo-se do princípio que o educando,
ao ser apresentado ao campo lingüístico, não se depara
apenas com palavras e sentenças, mas com significados que só
podem ser apreendidos através de um campo de significantes mais
amplo, postula-se que, também nesta atividade, é necessária
a ocorrência de uma interação positiva, na qual os
nexos culturais de uma época demonstram importância vital
na compreensão das palavras e das estruturas discursivas.
Neste encaminhamento, fala-se na insuficiência dos paradigmas
utilizados nas últimas décadas para o ensino de línguas
estrangeiras. Se até a década de 40, os professores recorriam
aos textos literários para o ensino de língua, abordando-os
apenas como matéria-prima da compreensão, identificação
de estruturas gramaticiais e tradução, sem haver um diálogo
mais aprofundado entre leitor e obra, tal atitude mostrou-se fator limitante
no processo de interação, ditando limites comprometedores
na apropriação da língua (Paro, 1998). No final dos
anos 60, tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos, o deslocamento
da valorização do aprendizado da língua como herança
cultural e intelectual de uma sociedade para ferramenta de comunicação
imediata e dinâmica, favoreceu uma redefinição que
implicou na substituição dos modelos vigentes. As novas
necessidades sociais cobraram novos posicionamentos docentes que, a partir
de então, passaram a recorrer ao uso de materiais que privilegiavam
a linguagem oral e comunicativa, instigando o diálogo e a abordagem
de temas relativos a situações cotidianas vivenciadas pelos
aprendizes como forma de ensino da língua alvo (Gumperz e Hymes
(1972), Wilkins (1976) e Widdowson (1978).
A recorrência a este novo modelo, se importante, resultou numa
carência cultural e literária dos educandos, impondo contínuas
retificações da prática de ensino. Afinal, passou-se
a questionar o fato de, se a língua constitui-se em recurso privilegiado
de comunicação, também é estratégia
de apropriação de um conhecimento mais complexo e que envolve
valores culturais, visões de mundo e sensibilidades individuais
e coletivas. Em conseqüência, a língua também
passou a se revelar como caminho possível de entendimento
do Homem e da Sociedade, podendo ser pensada como dispositivo de ampliação
da capacidade de análise crítica dos mecanismos da existência
individual e coletiva, tanto no tempo pretérito quanto no presente.
Nesta cirurgia, o uso do texto literário como recurso do ensino
de línguas ganhou uma nova função, não apenas
como pretexto para a aquisição de estruturas gramaticais,
mas também como elemento constitutivo de um saber mais abrangente,
conferindo uma perpectiva holística e interdisciplinar às
atividades que foram tidas como complementares, porém distintas
em objetivos educacionais específicos.
O presente texto insere-se nesta nova tendência do ensino de
línguas, buscando apoios em setores que comumente são qualificados
como extra-lingüísticos. Nas palavras de Izarra (1996:22),
"a abordagem do texto literário deve implicar uma abordagem
interdisciplinar onde a crítica literária e os estudos culturais
devem interagir com sociologia, história e teoria da comunicação",
acrescentando-se também a importância da antropologia e, mais
do que isto, não só para o estudo da literatura, mas também
da lingüística.
A opção pela recorrência a um novo paradigma no
ensino da literatura e da lingüística, segundo os parâmetros
apresentados, resultou em algumas questões cruciais, que se constituem
em objetivo desta pesquisa: Quais são as estratégias que
podem ser empregadas pelo docente de língua inglesa, ao trabalhar
um texto literário, auxiliando o educando a apropriar-se de um código
lingüístico produzido no passado e que sofreu sensíveis
alterações no decorrer do tempo? No processo de interação
leitor/texto, quais são os módulos mediadores que favorecem
a atividade interativa? Com que intensidade a experiência com a história
e os valores culturais específicos do alunado favorece ou inibe
o processo ensino-apredizagem? Para além destas questões,
como o ensino de língua inglesa pode contribuir para a constituição
de uma postura crítica acerca do próprio indivíduo
e sua postura frente à pluralidade de expressões culturais
do passado e presente?
O mundo dos universitários observados
Antes de discutir a problemática desta pesquisa, faz-se necessário
traçar um perfil dos graduandos observados e situar o contexto educacional
que os rodeia. Estes alunos são segundanistas do curso de Letras
de uma Universidade particular, situada no Vale do Paraíba paulista.
O curso tem duração de quatro anos e, seguindo o parecer
no 283/62 do CFE que fixou o currículo mínimo, é composto
por disciplinas obrigatórias, a saber, Línguas Materna e
Estrangeira Moderna e suas respectivas Literaturas, Língua Latina,
Teoria da Literatura e Lingüística e pelas matérias
pedagógicas por se tratar de uma Licenciatura. O curso é
oferecido apenas no período noturno, pois a clientela constitui-se,
em sua quase totalidade, por alunos que trabalham durante o dia. O tipo
de atividade profissional destes discentes é variável, desde
aqueles que já atuam no setor educacional até os que trabalham
no mercado empresarial e comercial. Cada série possui uma média
de quarenta alunos, sendo que aproximadamente 10% ingressa com domínio
das quatro habilidades em língua inglesa, do restante 30% é
considerado aluno em nível intermediário e 60% não
domina o idioma inglês. Em decorrência desta escassa competência
lingüística os alunos encontram muita dificuldade quando a
atividade em sala de aula é leitura e análise de obras da
literatura inglesa, criando uma barreira entre leitor e texto, resultando
em desinteresse e desânimo por parte do alunado. Tal postura não
é apenas decorrente da falta de conhecimento lingüístico
da língua alvo, mas também de ausência de uma prática
de discussão de textos litarários em aulas de inglês
nas escolas de ensino fundamental e médio (Paro, 1996).
Vários fatores contribuem para manter este fenômeno ,
mas no presente estudo, discutir-se-á as questões do desconhecimento
histórico-cultural dos períodos em que as obras literárias
foram produzidas e da falta de domínio do código lingüístico
inglês. Em ambos os casos a dificuldade aumenta quando os textos
literários pertencem à época medieval e/ou elizabetheana.
Para discutir a problemática apresentada nesta pesquisa, foram
selecionadas duas obras: The Canterbury Tales de Geoffrey Chaucer e As
You Like It de Willian Shakespeare, que foram utilizadas como material
de estudo na aula de Língua Inglesa, integrada com a disciplina
Literatura Inglesa.
O contexto sócio-histórico da produção literária
As idéias aqui apresentadas partem do suposto que o conhecimento
das grandes estruturas da sociedade na qual é produzida a obra literária
constitui-se em estratégia fundamental para a compreensão
tanto do enredo quanto do vocabulário situado no tempo histórico.
A partir disto, pensa-se tal princípio como recurso dinamizador
e fomentador de novas perspectivas do processo de ensino-aprendizagem,
não só referente ao conhecimento da literatura, mas também
de uma língua. Isto porque, se há muito tornou-se regra pensar
a produção literária como reflexo de uma conjuntura
histórico-social específica, parece que, com freqüência,
os docentes deixam de lado a dimensão da língua como um produto
histórico, e portanto mutável no tempo, fato que aflora como
obstáculo para a aprendizagem e contingência desmotivadora
do interesse dos discentes pela literatura clássica a partir de
textos não traduzidos para o idioma nacional.
Esta constatação, definida pelos próprios educandos,
impõe o enfoque dos autores e do tempo em que teceram seus textos,
colocando em tela, no presente artigo, a inserção social
de Chaucer e de Shakespeare e as circunstâncias sócio-culturais
que lhes permitiram dedicar-se à literatura e, a partir disto, voltar-se
para temas específicos.
O londrino Geoffrey Chaucer veio à luz em data incerta, provavelmente
por volta de 1340. Membro de uma família burguesa, dedicada ao comércio,
reuniu condições de estudar Direito, tornando-se soldado
nas guerras contra a França e, na seqüência, perambulou
por vários países europeus, retornando à Inglaterra
para assumir inicialmente a posição de valete do rei Eduardo
III e, logo após, participar do alto escalão da burocracia
britânica. Nesta trajetória, Chaucer entrou em contato com
os mais diferentes tipos sociais, de mendigos a nobres e membros da realeza,
ouvindo suas estórias e examinando suas estratégias de sobrevivência.
Produto desta experiência social diversificada, o escritor reuniu
informações sobre os valores mentais e os compromissos materiais
de praticamente todos os estratos da sociedade, utilizando-as como matéria-prima
de suas composições, especialmente The Canterbury Tales.
Nesta obra, escrita nos anos finais da vida do autor, entre 1386 e
1440 e que permaneceu inacabada, Chaucer atingiu o auge da qualidade de
sua escrita, alinhando personagens e enredos que sintetizam todo um momento
da história inglesa, marcado menos pela dimensão medieval
dos valores e mais pela problemática estabelecida por um período
de transição do feudalismo para o capitalismo e firmação
do "ethos" britânico. A complexidade do tempo histórico favoreceu
a definição de um estilo de escrita, recalcitante em recorrer
às alegoriais produzidas pela Idade Média e importadas predominantemente
da França, também permitindo a apresentação
de uma multiplicidade de tipos sociais e de estratégias de sobrevivência
que, em conjunto, apresentam-se com um minucioso inventário de um
período histórico (Wright, 1988:XIX).
A definição de Chaucer como "pai-fundador da poesia inglesa"
exige, antes de tudo, algumas observações. A primeira delas
refere-se a uma possível imitação por parte do autor
inglês do Decameron, de Giovanni Boccacio, composta entre os anos
de 1348 e 1353. Se é verdade que Chaucer visitou a Itália,
tornando-se amigo de Petrarca, intelectual que o apresentou à literatura
local, também é certo que há pouco em comum entre
o Trecento italiano e a literatura inglesa do final do século seguinte,
ressaltando-se que a técnica de relatos conjugados de viajantes
ou transfugas sobre episódios vividos ou ouvidos precede ao tempo
vivido por Boccaccio. Assim, em relação a esta questão,
acredita-se mais na existência de similaridades entre as inserções
sociais e os propósitos literários e políticos dos
dois autores do que pura imitação da peça italiana
pelo escritor inglês (Carpeaux, 1985:227). No mesmo sentido, alguns
críticos registram que a dimensão universalista conferida
aos personagens chaucerianos deve-se ao propósito de copiar as intenções
dos escritores italianos, assim como o experimentalismo com a língua,
a pluralidade dos gêneros e a tecitura da The Canterbury Tales em
dialeto da média-Inglaterra e não em latim. Sobre estas
pontificações, pensa-se mais que o escritor respondia às
circunstâncias do momento em que vivia do que na hipótese
simplista de que Chaucer buscava o êxito literário através
da pura imitação de autores estrangeiros (Vizioli, 1992:24).
Outra questão que se apresenta refere-se à variedade
de estilos literários empregados por Chaucer, fazendo com que cada
uma das narrativas dos peregrinos que se dirigiam ao túmulo do Santo
Tomás Beckett caracterize-se por uma identidade literária
peculiar. Mais do que a incapacidade do escritor de ser fiel a um estilo
único, acredita-se que a pluralidade de situações
- reais ou imaginárias - experimentadas por uma sociedade em transição,
assolada pela Guerra dos Cem Anos e recém-saída da crise
sanitária que cobrou a vida de mais de 2/3 da população
inglesa, exigia tal recurso não só como forma de exposição
de um real singularmente complexo, mas também como estratégia
de, com a diversidade da escrita, conferir maior dinamismo ao texto, atendendo
a gostos diferenciados do público leitor (Vizioli, 1988:XIV).
Para além destas questões, acredita-se que seja mais
importante entender The Canterbury Tales a partir de seu contexto. Nesta
rota, o traço fundamental desta obra consiste na operação
chauceriana de dar voz aos diferentes tipos sociais, não só
mediante a apresentação do taverneiro, do sacerdote, do médico,
da viúva em série, dentre outros, mas também de toda
uma gama de personagens constantes nos contos recitados, descrevendo idéias,
valores norteadores da existência, estratégias de sociabilidade,
trajes, e aspectos físicos. Rompendo com a tradição
insular da poesia medieval britânica e também com a rígida
ordem social imposta pelos nexos feudais, nem assim Chaucer dedicou-se
à produção de uma obra panfletária, orientando
sua escrita para o esclarecimento do novo momento da história inglesa.
A dimensão realista da obra em pauta, convergiu para a articulação
do retrato plurifacetado do tempo de transição, tingido por
uma ordem indefinida que concomitantemente guardava ranços feudais
mas que, mesmo assim, já anunciava a gestação do modelo
burguês. Talvez devido a isto, cada um dos contos recitados pelos
peregrinos da Cantuária é impregnado de confrontos nutridos
por personagens que ocupam posições sociais distintas, se
não opostas, fazendo lembrar a estratégia narrativa, empregada
no século XX, por vários estudiosos que se reportaram ao
período de transição do feudalismo para o capitalismo,
dentre eles Johan Huizinga e Georges Duby. No contexto da inexistência
de uma ordem social clara e que pudesse se fazer reconhecida coletivamente,
os personagens chaucerianos experimentam uma espécie de liminaridade
que induz ao igualitarismo, viabilizando o confronto sem reticências
e medos: o mendigo defronta-se com o burguês, o comprador com o vendedor,
o analfabeto com o universitário, o fiel com o sacerdote.
Uma oposição que merece destaque constitui-se nas relações
engendradas entre os homens e as mulheres. A esta cabe um papel destacado
em alguns dos contos, tornando-se agente comandante da trama não
por seus padecimentos e santidade, como advogava a literatura medieval
de cunho religioso, mas pela astúcia, capacidade de engodo e de
enriquecimento quase ilícito, pela capacidade de driblar o mando
masculino e impor-se como agente decisório.
No momento de ruptura com os postulados feudais, a sexualidade também
se tornou tema abordado, não como pecado ou apanágio masculino,
mas como prática e assunto de exposição pública,
inclusive através de pronunciamentos articulados pelas mulheres.
Vários personagens femininos buscam declaradamente o prazer, ora
com seus esposos, ora com indivíduos com os quais não mantinham
afetividade mais intensa, ajudando os companheiros, quando casadas, a criar
armadilhas para enganar os próprios maridos.
No que tange ao aspecto cultural, que não pode ser analisado
como nível desvinculado dos planos econômicos e políticos,
tanto o nobre como o burguês e o antigo servo são igualmente
marcados por comportamentos que convergem para um território nebuloso
e indefinido. O cristão se encanta com os deuses e entidades sobrenaturais
execradas pela Igreja Católica, já destemidamente, falando
abertamente sobre o Diabo e as divindades greco-romanas, descrevendo-os
com simpatia e, não raramente, apresentado-os como seres solidários
e até amigáveis com os mortais. Ao retratar a cultura inglesa,
marcada por tons da excessividade, do prazer pelo que até então
constituía-se em pecado mortal e também pelo grotesco, Chaucer
retratava comportamentos que marcavam o tempo que se aproximava, o do Renascimento,
com as mesmas cores que hoje predominam na historiografia voltada para
o estudo das mentalidades, espelhada sobretudo num dos textos fundamentais
de Mikhail Bakhtin (Bakhtin, 1987).
Transcorridos mais de um século após a produção
de Chaucer, a Inglaterra apresentava novas perspectivas sociais; o país
firmara-se como monarquia absolutista com Henrique VIII e Elizabeth I,
iniciando a construção de um império que, graças
à concretização da aliança entre Estado e burguesia,
sob a égide da Reforma Protestante, definia-se, no final do século
XVI, como a principal potência européia, suplantando tanto
a França quanto os Reinos Ibéricos e duelando, em posição
de superioridade, com os comerciantes dos Países Baixos. A era de
indecisões em série vivenciada por Chaucer já se mostrava
superada, dando vez a um período de otimismo que encontrou em Shakespeare
um dos seus principais porta-vozes.
William Shakespeare nasceu em Strarford, interior da Inglaterra em
1564, no seio de uma família burguesa ameaçada pela decadência
econômica. Esta situação fez com que o futuro autor
teatral buscasse meios de sobrevivência como mestre-escola, transferindo-se
para Londres na última década do século renascentista.
Esta mudança permitiu que ele encontrasse oportunidade de fazer
encenar suas peças nos principais teatros da cidade e, devido ao
sucesso quase imediato, manter contato íntimo com a nobreza palaciana
tornando-se uma espécie de "intelectual orgânico", isto é,
representante, no campo literário, dos interesses da elite dirigente.
O conteúdo declaradamente simpático à coroa que
impregna a produção literária-teatral shakesperiana
impôs que as tramas e os personagens arquitetados sejam representados,
predominantemente, pela problemática da corte e de seus mais distintos
personagens. Isto implicou que, diferentemente dos escritos de Chaucer,
os estamentos mais baixos da sociedade inglesa aflorem, em Shakespeare,
como personagens apagados, na maior parte das vezes apenas como parte de
um cenário montado para destacar tramas dominadas pela nobreza,
tanto do seu tempo quanto do passado britânico e europeu, quanto
pela triunfante burguesia inglesa (Thornley, 1968:49).
O apego em mostrar as questões que envolviam a nobreza domina
as tramas shakesperianas, anunciando o exercício do poder, tanto
nas esferas públicas quanto privadas como tensas e geradoras de
padecimentos. Os reis apresentam-se ameaçados, ora por seus súditos
mais próximos, ora pela própria consciência. No período
em que se teorizava o absolutismo político, a questão central
não era reformar o exercício do poder, mas sim como torná-lo
mais fluído, preterindo as questões sociais, como as dificuldades
de vida impostas aos trabalhadores e os motins populares que, durante o
tempo de vida do autor, quase que anualmente ocorriam, colocando em risco
o funcionamento da city londrina.
Filho do seu tempo, o que primou nos textos de Shakespeare foi a preocupação
com a esfera privada. A intimidade dos nobres, mesmo daqueles que se apresentavam
decadentes, como em As you like it, encenada originalmente em 1599, mostrava-se
como um dos veios privilegiados de exposição, certamente
despertando a atenção do público. No contexto dominado
pelo individualismo, a dimensão psicológica dos personagens
ganhou destaque, no qual desejos e medos afinam-se com os princípios
da modernidade clássica, confirmando um modelo literário
e teatral destinado a ser reproduzido nos séculos seguintes (Maxwell,
1971:203).
A articulação da produção do teatrólogo
com a visão de mundo da elite política e econômica
fez de Shakespeare uma espécie de cronista da vida da corte. O caráter
protestante e moralista da sociedade inglesa impôs que as peças
praticamente excluíssem vestígios da cultura popular, refletindo-se
na concepção da sexualidade como algo impossível sem
o amor, mesmo que este se desse no momento da troca do primeiro olhar entre
os até então estranhos. Ao mesmo tempo, como na política,
o enlace amoroso exigia dos envolvidos o emprego de estratégias
de guerra, da concentração de poderes, de divagações
filosóficas, abrindo possibilidades para a orquestração
de uma espécie de jogo no qual, invariavelmente, havia
vencedor que não só poderia degladiar-se com a pessoa amada,
mas, solitariamente ou com a cumplicidade do amante, contra o destino e
as vicissitudes da vida familiar. A opção pelas questões
que atingiam a elite, no entanto, não inibiu que Shakespeare buscasse
- como fizera Chaucer - realizar experiências novas, tanto no campo
lingüístico quanto na recorrência e combinação
de gêneros literários distintos, conferindo-lhe uma fluência
verbal característica (Knights, 1960:40).
Mesmo que marcada pela tensão, tanto as tragédias como
as comédias shakesperianas convergem para o império da ordem.
A rebeldia, quando existente, é para confirmar a ordem moderna,
isto é, absolutista e burguesa, regida tanto pelas leis quanto pelo
florescimento de uma nova mentalidade social e, decorrente desta, os padrões
de uma nova sensibilidade individual e coletiva. Fala-se portanto de estruturas
definidoras da "civilidade" presentes nos manuais de boas maneiras que
colocavam os modos e os pensamentos dos integrantes da corte como modelo
comportamental ao qual todos deveriam obedecer, ditando os padrões
possíveis de sociabilidade que a elite deveria seguir, ditando um
sistema de valores e um imaginário social que definiam o tipo cortesão
(Elias, 1990-1993 e Burke, 1997).
Neste sentido, mesmo que por caminhos diferentes, Chaucer e Shakespeare
atuaram como escritores que apresentaram as questões vigentes no
tempo em que viveram, sendo que seus escritos serviram como páginas
de instrução das possibilidades e dos limites concernentes
a como os homens deveriam viver suas existências, conferindo cores
nacionais a uma problemática que, com a própria configuração
da hegemonia européia, ganharam dimensões universais. Em
decorrência, os autores mencionados e suas obras apresentam-se atuais,
envolvendo os leitores e coagindo-os, quase que sem perceber, a traçar
paralelos entre as tramas literárias e as questões predominantes
no tempo presente. Como marco diferenciador, indica-se que Chaucer retratou
predominantemente o que hoje pode-se denominar com a "cultura do povo",
enquanto que Shakespeare voltou-se para o retrato da vida dos extratos
mais privilegiados da sociedade. Esta distinção implica,
segundo o próprio alunado investigado, em fator crucial, mesmo que
não exclusivo, nas formas de recepção e interação
das obras indicadas, havendo maior simpatia e empenho discente nas tramas
expostas por Chaucer porque são mais identificadas e comparadas
pelos alunos com os problemas atuais da sociedade e cultura brasileiras,
enquanto que Shakespeare, segundo um graduando, "fala dos outros", relegando
a experiência e o conhecimento imediato da "gente comum" a um obscuro
segundo plano.
O campo lingüístico
Apesar das falas do alunado convergirem para a interação
mais positiva em relação aos textos de Chaucer por encontrar
neles maior identificação com as questões presentes,
esta observação não esgota o rol de fatores intervenientes
no processo de leitura e recepção dos textos utilizados em
sala de aula. É necessário frisar também que, tanto
na leitura das obras de Chaucer quanto de Shakespeare, os discentes encontraram
dificuldades em entender e analisar os textos mencionados, pois são
escritos em linguagem literária inglesa de pouco uso cotidiano,
chegando inclusive, em alguns casos, a manter parcialmente a escrita original,
mesmo nas obras publicadas em inglês moderno. Neste sentido, julgamos
que a barreira lingüística é um fator que gera problemas
na interação leitor/texto como revelou Paro (1996:30): “Embora
enorme, o problema com a língua estrangeira não é,
a nosso ver, o maior obstáculo nas aulas de literatura inglesa”.
Não obstante, a mesma autora ressaltou que uma das maiores barreiras
que afeta o entendimento do texto é um conhecimento teórico-prático
superficial de estratégias de leitura em língua estrangeira.
Acredita-se que uma prática pedagógica interdisciplinar,
envolvendo os professores de língua e de literatura pode proporcionar
uma participação mais ativa dos graduandos. O docente de
inglês deve criar situações em que os alunos percebam
as mudanças lingüísticas ocorridas na língua,
principalmente quando a obra em análise pertence a períodos
bem antigos e distantes dos leitores e quando se tem em mãos autores
consagrados como Chaucer e Shakespeare.
A questão de trabalhar técnicas de leitura e de criar
mecanismos para que o aluno apreenda o funcionamento da linguagem literária
e poética são fatores que estão interrelacionados
com a apropriação do código lingüístico,
portanto é fundamental que o professor universitário seja
um mediador entre o que o aluno domina/não domina em relação
à obra que está sendo analisada.
Em The Canterbury Tales a problemática do domínio lingüístico
se evidencia ora no título do conto, como por exemplo no The Reeve’s
Tale, os alunos tiveram dificuldade em entender a palavra “Reeve”, termo
antigo para designar “an English law officer in former times”(Longman Dictionary
of Contemporary English), não sendo comumente encontrada em dicionários
mais modernos, principalmente os bilingues. Pela própria definição
da palavra no dicionário não se torna fácil para o
estudante descobrir que seu significado é feitor. Sabe-se que no
período medieval muitas palavras foram oriundas do latim e, principalmente
do francês, sendo que várias áreas contribuiram para
tal origem, tais como, direito, religião, governo, marinha exército,
artes, medicina, etc.. Em alguns casos, muitos termos não encontram
mais correspondentes ou tornaram-se fósseis lingüísticos.
Em outros casos, o estilo poético chauceriano aliado à escolha
das palavras utilizadas nos contos constituiram-se em obstáculo
para os discentes. De um lado, tem-se as características da estrutura
discursiva poética e de outro, o uso de várias palavras desconhecidas,
citadas pelos graduandos, que tendem a impedir uma relação
mais dialógica com o texto, pois não fazem parte do vocabulário
dominado pelos alunos, configurando-se em palavras que possuem sentidos
diferentes, podendo referir-se tanto a um sentido literal como a um metafórico.
Neste sentido, o docente de língua inglesa deve propiciar o desenvolvimento
e apropriação dos níveis lexical e semântico.
Uma alternativa consiste no professor pedir aos alunos que tentem produzir
um sentido para as palavras desconhecidas e aliado a estas tentativas exemplificar
utilizando os termos em outros contextos até chegar ao sentido mais
próximo, sem, contudo, perder de vista as características
do discurso literário poético.
Os graduandos confidenciaram que em vários momentos desconheciam
os termos empregados por Chaucer e tal desconhecimento pode causar uma
interferência no processo de leitura dos contos, pois estas palavras
não fazem parte do vocabulário utilizado pelo aluno no uso
funcional do inglês. Novamente, o docente de língua deve promover
atividades que envolvam o desenvolvimento de estratégias de inferência
lexical e contextual.
Julgamos de grande importância, também, o professor de
inglês mostrar o funcionamento da linguagem poética e como
a metáfora vai se constituir em recurso prático-discursivo
muito comum entre os escritores.
Embora inacabada, The Canterbury Tales é constituída
por um prólogo geral, em que Chaucer faz uma breve caracterização
e descrição dos personagens da obra, e pelos contos propriamente
ditos, cujo teor é o relato das histórias produzidas pelos
personagens-peregrinos. Diante destes dois momentos de produção
literária, o alunado procedeu a leitura de maneira diferenciada,
havendo uma maior interação e entendimento na parte dos contos.
Tal fato, pode ser decorrente da própria estrutura deste discurso,
que se constitui na narrativa de uma estória e também da
linguagem utilizada pelo autor, que, neste caso, faz ouvir a voz de cada
personagem, caracterizando-o como tal, em todos os aspectos.
Uma característica presente nos contos de uma maneira geral
é a ironia. Chaucer manejou com maestria esta questão e seu
entendimento se efetiva se o docente contextualizar tal produção
discursiva e se este fenômeno for compreendido nos termos apresentados
por Maingueneau (1989:77): “... um enunciado irônico faz ouvir uma
voz diferente da do “locutor”, a voz de um “enunciador” que expressa um
ponto de vista insustentável. O “locutor” assume as palavras, mas
não o ponto de vista que elas representam”. Neste sentido, pode-se
pedir ao alunado que analise os tipos de argumentos utilizados pelos personagens
para convencer os outros através de uma estrutura discursiva e trama
histórica bem elaboradas.
Outro fator que deve ter contribuído de maneira positiva no
diálogo do aluno com o texto é a sintaxe chauceriana em que
predomina o uso da coordenação à subordinação.
Além disso, as obras literárias no período medieval
eram produzidas para serem lidas ou cantadas, ou seja, a escrita constituia-se
em um instrumento usado pelos autores para atingir um grande número
de pessoas, mas através da linguagem oral, pois as obras eram representadas
num palco, geralmente na corte.
Mesmo havendo um melhor entendimento neste texto, os graduandos apontaram
o nível lexical como o fator de maior impedimento de compreensão
textual. Dizer que o léxico não se configura em aspecto relevante
no ensino-aprendizagem de língua e literatura inglesa é uma
concepção um tanto simplista. Não se é favorável
a uma prática isolada e centrada na questão lexical per se,
mas advoga-se que o vocabulário é peça fundamental
na interação leitor/texto e cabe ao professor desenvolver
atividades criativas e contextualizadas em relação à
apropriação e entendimento, do que os discentes geralmente
definem como “palavras desconhecidas” e que causam desânimo e desinteresse
no aluno no processo de leitura de textos estrangeiros, principalmente
os literários.
Quando se trata da leitura das obras de Shakespeare os graduandos de
Letras se vêm diante de uma situação multifacetada:
a curiosidade de conhecer o mundo poético do renomado escritor de
língua inglesa, as pré-concepções em relação
ao seu estilo e temas, conhecimento de suas obras por meio de outras fontes,
pois muitas já foram filmadas ou representadas em teatro, a falta
de domínio do código lingüístico inglês
e um incipiente manejo da linguagem literária.
Ao se deparar com tal situação, o professor de literatura
inglesa não consegue evitar que os alunos recorram às traduções
das obras shakespearianas como uma tentativa de amenizar a problemática
e ansiedade supracitadas. Para evitar esta estratégia, propõe-se
um trabalho interdisciplinar envolvendo os docentes de literatura e língua
inglesa.
O professor de inglês deve estimular o interesse dos alunos na
leitura de obras literárias, no caso de Shakespeare, verificando
se eles já tiveram algum tipo de contato com a obra impressa e em
caso negativo, comentar alguns aspectos e características do texto
selecionado. Em As You Like It, pode-se contar, suscintamente, a trama
da peça, que gira em torno das relações amorosas e
da vida da corte e do campo, traçar um perfil dos personagens, contrastando
os bucólicos e os aristocratas.
É fundamental que o professor mostre aos alunos o porquê
da escolha do texto, a necessidade da leitura da obra literária
na formação do profissional de línguas, em outras
palavras, refletir sobre o processo de conscientização, entendido
como atitude para promover a compreensão de todos os aspectos envolvidos
no ensino-aprendizagem. Como observa Scott (1986:04) "If there is a reason
for teaching a particular part of course content, then presumably it is
also possible and desirable to let learners know what that reason is: otherwise
they will either obey blindly, learning because the subject matter is in
the course and will later be tested, or else they will not trouble to learn
the content properly because of lack of appreciation of its value".
Outro recurso que pode ser adotado pelo docente é o de verificar
o conhecimento prévio do alunado acerca de questões relativas
ao contexto da obra, no caso da peça supracitada, pedir aos alunos
que comentem o que sabem da vida da corte e do período Elizabetheano.
Na discussão, mencionar que os temas adotados em As You Like It
são relacionados ao período monárquico da rainha Elizabeth
e que naquela época causavam na platéia um efeito estimulador
para a reflexão dos problemas sociais que os atingia. Tais temáticas
não são aparentemente relevantes para o leitor atual, mas
se se adota uma postura de ler o passado com os olhos do presente, verificar-se-á
que muitas questões discutidas pelos antepassados ainda permeiam
o cotidiano de nossa sociedade capitalista.
Compartilhando com Holmes (1982) o entendimento de predição
como parte de um processo de compreensão como redução
de incerteza, em que o leitor faz uso de informações lingüísticas,
de pistas contextuais e de sua própria experiência, julga-se
que tal estratégia deve ser desenvolvida na leitura de textos literários.
Quando lemos em língua materna adotamos estes mecanismos de predição
de forma mais natural porque há uma liberdade de escolha do material
a ser lido. No contexto de sala de aula de literatura inglesa no curso
de Letras esta escolha, geralmente, fica a critério do professor.
Neste sentido, criar situações em que o alunado possa fazer
uso da predição torna a relação leitor-texto
mais motivadora e interativa. Na peça shakespeariana, o docente
pede aos alunos que leiam cada cena adotando este critério de leitura
e que cada um seja convidado a mencionar seu entendimento e também
as dificuldades encontradas em que o recurso preditivo não foi eficiente.
Em As You Like It, o obstáculo encontrado pelos alunos para realizar
tal atividade relacionava-se com o desconhecimento do vocabulário.
Finalizada esta discussão, o docente de inglês pode trabalhar
mais detalhadamente, mencionando aos alunos os elementos que aparentemente
não são considerados tão importantes, mas que se constituem
em questões essenciais na composição da obra. No caso
de As You Like It, o personagem Touchstone ( que não é o
protagonista) é o que se chamaria de bobo da corte, aquele que diverte
e serve a realeza. No entanto, sua função na peça
ultrapassa este limite, pois através de suas falas surgem comentários
sobre os outros personagens, usando uma linguagem poética reveladora
e irônica. Outra questão relaciona-se com o travestir de Rosalind
para poder fugir da corte para a floresta. Tem que ser mencionado que no
período elizabetheano os papéis femininos eram representados
por homens. Shakespeare ultrapassa esta questão e o disfarce funciona
não somente como um recurso cômico, como uma maneira de mostrar
a riqueza e complexidade da personagem, mas principalmente discutir as
convenções dos comportamentos sociais femininos e masculinos
da época.
No período elizabetheano era comum o uso de músicas nas
peças teatrais. Tal recurso foi adotado com freqüência
em As you like it, quase tornando-se uma comédia musical. O docente
de língua deve discutir com os alunos qual é, na visão
deles, o objetivo de utilizar a música na referida peça e
nas peças atuais. Esta estratégia enriquece e estimula o
processo de entendimento de um texto literário em língua
estrangeira. No caso da obra shakespeariana a função da música
atendia a propósitos práticos, ora para entreter a platéia
enquanto os personagens em cena sussurravam alguma coisa, ora para indicar
a passagem de um dia para outro, como na cena três do ato cinco.
Foi pedido que os graduandos pesquisassem uma peça teatral da atualidade,
em que a música fizesse parte de sua estrutura. A discussão
girou em torno da função da música e o resultado foi
muito enriquecedor, pois havia músicas e peças diferenciadas.
A linguagem metafórica constitui-se em um recurso lingüístico-discursivo
comumente utilizado pelos escritores em suas obras literárias. O
entendimento desta linguagem requer uma compreensão do contexto
social, político, econômico, cultural e lingüístico
envolvido na produção do texto. Neste sentido, faz-se necessária
uma prática pedagógica multidisciplinar, em que as diversas
áreas do conhecimento se inter-relacionem na tentativa de propiciar
uma interação leitor-texto de forma mais significativa para
o alunado. Adotar este procedimento para a análise de As you like
it contribui para uma participação mais dialógica
entre os sujeitos envolvidos no ensino-aprendizagem de língua e
literatura inglesa. O docente de inglês verifica junto com os alunos
as metáforas usadas por Shakespeare e o(s) possível(is) sentido(s)
que suscitariam no período em que foram produzidas. A partir deste
ponto, pedir que os discentes criem suas próprias expressões
metafóricas, mas mantendo o sentido original proposto pelo autor
inglês. Refletir sobre os diversos momentos de criação
e sobre o seu próprio processo de produção escrita
constitui-se em uma estratégia fundamental na construção
do conhecimento.
Bakhtin (1981) ao analisar as obras literárias de Dostoieswsky
verificou que várias vozes se faziam presentes nas falas de um mesmo
personagem. Entender o conceito de polifonia e sua implicação
na trama lingüístico-literária configura-se em um recurso
discursivo que deve ser tema para debate em sala de aula. Na peça
shakespeariana, vários são os momentos em que deparamos com
os personagens falando não sob sua perspectiva, mas de outra. Para
ilustrar aos alunos, pode-se utilizar os diálogos de Rosalind nas
suas diferentes situações enunciativas. Quando ela está
diante da prima seu discurso representa sua própria voz; diante
do tio, incorpora a fala esperada por ele para poder legitimar e manter
sua presença na corte. Quando se traveste com o intuito de poder
fugir para a floresta, assume o papel masculino e passa a ser chamada de
Ganymede. Enquanto homem, sua enunciação configura-se como
tal nas diversas situações em que está exposta. Sua
própria voz só é ouvida pela prima, que também
adotou outra identidade, e por Touchstone, que são seus parceiros
de fuga.
É diante do amado Orlando que sua máscara discursiva
pode ser contestada: ao usar a voz de Ganymede para tentar descobrir se
ele realmente amava Rosalind, o que prevalece é a sua própria
fala e sentimento. Neste sentido, pode-se discutir que embora aparentemente
polifônico, pois fala sob a perspectiva do personagem masculino,
seus diálogos com Orlando constituem-se em discursos monofônicos,
por que convergem a uma única voz, a da mulher apaixonada.
Considerações Finais:
O ensino-aprendizagem de língua e literatura inglesa nos cursos
de graduação em Letras pode obter resultados mais efetivos
se houver uma integração entre estas duas disciplinas, sob
uma ótica multidisciplinar, em que os aspectos históricos,
sociais e culturais sejam incorporados na prática de leitura e análise
de textos literários. Se aceita esta proposta, o docente deve comprometer-se
com o desenvolvimento em sala de aula de atividades que promovam a inferência
lexical e especificar estratégias de leitura que favoreçam
a contextualização dos textos, tanto no que se refere ao
momento de produção textual quanto empenhar-se na discussão
comparativa entre as questões sociais tratadas no texto estudado
e a problemática contemporânea da sociedade brasileira. A
partir disto, acredita-se que tal postura docente favoreça uma interação
mais eficiente entre leitor e texto, alertando-se sobre a necessidade tanto
do professor quanto do discente para uma maior atenção sobre
o conhecimento e o debate das temáticas próprias, não
só de saberes de sua área profissional, mas também
da História e da Antropologia. Neste encaminhamento, avalia-se o
compromisso do ensino e da aprendizagem sob duas perspectivas: a primeira,
de âmbito específico, refere-se ao conhecimento e aplicação
de conteúdos relativos a uma ou mais disciplinas. A segunda perspectiva
afina-se com um saber mais amplo, que se relaciona com a construção
de uma consciência crítica que, a partir de conteúdos
particulares, direciona-se para uma aplicabilidade referente à realidade
circundante, que envolve aluno, professor e a sociedade brasileira como
um todo.
A universidade pesquisada, espelhando a problemática geral das
atividades desempenhadas nos cursos de Letras, entende a reestruturação
curricular como alternativa para concretizar a postura aqui sugerida, seguindo
as recentes tendências teórico-práticas que, aliás
encontram-se implicitamente presentes na nova Lei das Diretrizes e Base.
Se esta lei propõe um novo reagrupamento de disciplinas, também
cobra dos docentes uma posição favorável à
transversalidade, a qual mostrar-se-á eficiente, mediante um maior
diálogo entre saberes distintos e também através do
empenho docente em realizar um trabalho plurifacetado que envolva os personagens
da sala de aula e suas condições de vida.
Para além destas questões, deve-se buscar o desenvolvimento
e apropriação de competências e habilidades que estimulem
o pensamento reflexivo, incluindo uma atitude investigativa que confira
continuidade ao processo de construção do conhecimento. Mais
do que nunca, a função docente no curso de Letras mostra-se
como um desafio, cabendo a nós buscar soluções para
as questões do ensino, da aprendizagem e – por que não? –
do mundo que nos envolve.
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