BREVES CONSIDERAÇÕES
SOBRE A LÍNGUA ALEMÃ NA IDADE MÉDIA
REPERCUSSÕES NOS TEXTOS LITERÁRIOS

Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)

“behauptet soll allerdings werden, da? der Weg zur euro -päischen Moderne damals begonnen hat, welche dann über Renaissance/Humanismus und Aufklärung schlie?lich ins tecnische Zeitalter und in die Moderne geführt hat.”

I) INTRODUÇÃO
 
“Mittelhochdeutsche Lyrik und Epik werden, wie das gesamte Mittelalter, als längere Zeit verschütteter, ja gerade zu verdrängter Teil er eigenen kulturellen  Vergangenheit wenigstens in Ansätzen neu entdeckt, und zwar als Erinnerung an jene ferne Zeit, die einerseits von der unsrigen   sosehr verschieden ist, in der aber gleichwohl unsere heutige Moderne ihre ers-ten Anfänge hatte.”

A partir desta afirmação de Müller e Weiss (1993:50) tencionamos discutir com os colegas aqui presentes alguns pontos sobre o trabalho com literatura em língua alemã, mais especificamente, sobre a produção lírica em althochdeutsch (antigo-alto-alemão) e mittelhochdetusch (médio-alto-alemão), na tentativa primeira de chamar a atenção dos colegas para a neces-sidade da revitalização dos estudos na área de medievística de língua alemã e, consequëntemente, ampliar espaços e canais para debates que tragam ao público moderno as tensões inerentes a praticamente seis séculos de cultura em alemão, mais próximas de nós e modernas do que podemos supor. Em virtude do tempo de exposição ao nosso dispor - vinte minutos - não nos alongaremos mais em palavras introdutórias! Nossa intenção é explorar o debate posterior, que almejamos seja profícuo.

II) DIAGNÓSTICO SUMÁRIO DA MEDIEVÍSTICA LITERÁRIA ALEMÃ NO ENSINO SUPERIOR DO BRASIL

Em primeiro lugar, entendamos nosso conceito de medievística lite-rária alemã como o conjunto de ciências que se ocupa do estudo e melhor conhecimento da produção literária da Idade Média em língua alemã. Nossa proposta de definição deste termo prende-se ao ramo das disciplinas minis-tradas nos currículos universitários brasileiros que se destinam ao estudo das primeiras fases de formação da língua e das literaturas de língua alemã. Em sua grande maioria, os cursos de graduação em português-alemão apresen-tam de maneira bastante sucinta (ou não apresentam) um curso específico destinado a tal finalidade. Isso pode ser corroborado, de outro modo, através da bibliografia em língua portuguesa dos compêndios sobre história da lite-ratura em língua alemã  , cuja maior parte destina muito poucas folhas acer-ca do tema.
Após um estudo do currículo de boa parte das instituições de ensino superior do Brasil na área do curso de Letras em português-alemão, consta-tamos que a disciplina Fundamentos da Cultura Literária Alemã (doravante denominada FUNDAL), oferecida pela Universidade Federal do Rio de Ja-neiro para estudantes do terceiro semestre do curso de bacharelado em por-tuguês-alemão com carga horária semanal de praticamente duas horas, é a única que se dedica in toto à apresentação e ao estudo do surgimento e des-envolvimento da literatura em alemão até o século XV  . Desde os primeiros contatos entre romanos e germanos, passando pela tradução da Bíblia para o gótico, através das inscrições rúnicas, chegando ao século oitavo com a as-censão de Karl der Gro?e e o surgimento de dicionários e glossários bilin-gües, vislumbrando a produção quase que exclusivamente monacal dos sé-culos nono e décimo para finalmente alcançarmos o esplendor exuberante dos Minnesänger e a introspecção contemplativa dos místicos, intenta-se fornecer ao aluno não apenas as informações de cunho histórico, cultural, social e político pertinentes à época em estudo, mas, principalmente, estabe-lecer pontos de contato (e há muitos) entre a Idade Média e a nossa tão de-cantada Modernidade!

III ) POR QUE QUASE NÃO SE ESTUDA LITERATURA ALEMÃ MEDIEVAL NO BRASIL? - POSSÍVEIS CAUSAS

O quadro que ora desenhamos é, de modo aparente, extremamente sedutor para pesquisadores e estudiosos da língua e da literatura em alemão. Entretanto, salta aos nossos olhos a falta quase que total de trabalhos aca-dêmicos sobre o legado cultural dos textos em antigo-alto-alemão e em mé-dio-alto-alemão. Nem mesmo na Alemanha, onde a publicação de compên-dios e obras referentes à literatura medieval é freqüente, se foge a um certo “determinismo” nos estudos literários que valorizam a produção post Luther. Hans Jürgen Koch (19761:22) já advertia sobre a necessidade de retomada pelos alemães do passado de seu próprio fazer literário:
“Aus Kenntnis der Vergangenheit lassen sich die Bedingungen und Bedingtheiten der Gegenwart besser einschätzen.  Das mag nicht son-derlich progressiv oder aktuell klingen in einer geradezu ahistorisch sich gebenden Gegenwart. Aber es bleibt die Frage, ob der Mensch ohne seine Geschichte eine Zukunft, ob die Mittelalter-Germanistik ohne ei nen neuen Geschichtsbegriff noch eine Chance hat, sich aus ihrer Erstarrung zu befreien.”

No campo brasileiro, pesquisadores como Erwin Theodor Rosen-thal e Wira Selanski trabalharam com autores e temáticas medievais, mas atualmente, percebe-se nas linhas de pesquisa dos docentes a falta de estudos medievísticos. Indagamo-nos o porquê disso e somos de opinião que existiri-am três possíveis respostas:
a) a inexistência ou quase ausência, no currículo dos cursos de Letras, de disciplinas como Filologia Germânica;
b) a quase que absoluta falta de docentes qualificados na área de Literatura Alemã da Idade Média;
c) a moderna visão acadêmica, por parte de docentes, que não privilegia os estudos de ordem diacrônica de uma língua estrangeira.
No que tange ao item a, entendemos Filologia Germânica como “lato sensu, a ciência que estuda a cultura dos povos que falam línguas ger-mânicas, isto é, o estudo da vida espiritual e intelectual dos povos germâni-cos através de sua língua literatura, arte, religião, usos e costumes, direito, etc.; stricto sensu, como a ciência que estuda as línguas e literaturas germâ-nicas”,  atendo-nos à segunda definição e explicitando-a na análise da língua e da literatura em textos de língua alemã.
Quanto ao segundo ponto, um breve vislumbre das linhas de pes-quisa dos docentes de Germanística do país já é suficiente para observarmos a predileção dos colegas por temas a partir da Idade Moderna.
A questão diacronia versus sincronia reflete-se no esvaziamento e conseqüente fechamento da área de Filologia de diversos cursos de Pós-Graduação no Brasil, pois um professor-filólogo requer uma formação ex-tremamente ampla, fato hoje praticamente impossível em nossa sociedade anti-humanista e compartimentalizadora de saber. O antigo aqui contrapõe-se ao novo de forma negativa, não o enriquece e a Sprachwissenschaft se impõe sobre a “amizade ao saber”, perdendo-se aquilo que Rudolf Pfeiffer (apud Bunse, 1983) afirma como sendo o cerne da philologia:   “ A Filolo-gia não é uma atividade fria de investigação.  Traz no seu próprio nome a ?????, o amor pelo logos, e o ato de ensinar deve transferir esse calor e essa alegria para os que se preparam para aprender.”
Sem criticar, de forma alguma, as opções de trabalho acadêmico dos pares, apenas esboçamos sumariamente um retrato do atual estado dos estudos sobre a produção da literatura medieval em alemão antes de assu-mirmos a docência de uma turma de FUNDAL na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
 

IV) EXPERIÊNCIAS DOCENTES

“Como auxiliar nossos alunos a reconhecer a cultura germânica, em seus mais diferentes aspectos, cultura esta retratada nas fontes escritas de que dispomos? Como possibilitar a eles noções fundamentais dos estágios de desenvolvimento do alemão ... moderno? Como resgatar toda uma história das idéias de anglos, saxões, jutos, bávaros, alamanos, dentre outros po-vos?”
A partir destas indagações procuramos reestruturar o conteúdo programático da disciplina FUNDAL, ampliando-o e aproximando-o o mais possível do público estudantil de hoje em dia. Como ponto de partida, orga-nizamos uma apostila em forma de antologia contendo excertos dos princi-pais textos e documentos escritos em alt- e mittelhochdeutsch, à qual foi acrescida uma nova com rudimentos histórico-culturais para situar de forma mais precisa o homem e a inter-ação na literatura e vice-versa .
Talvez a principal inovação deste trabalho tenha sido a publicação dos fragmentos dos textos no estágio lingüístico de sua confecção, o que nos levou a pesquisar dicionários e Lesebücher com o intuito de, ao conhecer mais profundamente a evolução da língua e da literatura em alemão, traba-lhar com os textos fidedignos e fazer com que os estudantes, através do tra-balho de comparação dos mesmos com a versão em alemão moderno, pos-sam reconhecer e formular algumas regras da gramática histórica do alemão e os indicadores sociais de suas épocas históricas. À guisa de ilustração to-maremos como exemplo dois textos representativos da literatura em antigo-alto-alemão e médio-alto-alemão.

IV.1. Excerto de Das Wessobrunner Gebet - +/- 800 - althochdeutsch

Dat gafregin ih mit firahim         firiwizzo meista,
dat ero ni was      noh ûfhimil,
noh paum (...)       noh pereg ni wâs,
ni (...) nohkeinîg          noh sunna ni scein,
noh mâno ni liuhta,      noh der mâreo sêo.

Dô dâr ni was                  enteo ni wenteo,
enti dô was der eino       almahtîco cot,
manno miltisto,         enti dâr wârun auh manake mit inan
cootlîhhe geista.         enti cot heilac (...)

Cot almahtico, dû himil enti erda gaworahtôs, enti dû mannun sô manac coot forgâpi, forgip mir in dîno ganâda rekta galaupa enti côtan willeon, wîstôm enti spâhida enti craft, tiuflun za widarstantanne enti arc za pwîsanne enti dînan willeon za gawurchanne.

Tradução em Neuhochdeutsch

Das erfuhr ich unter den Menschen als das grösste der Wunder, dass (einst) weder die Erde noch eben der Himmel war, noch Baum ... noch Berg, kein ... (Stern?) noch die Sonne schien, noch der Mond leuchtete noch die mächtige See.

Als da nichts war an allen Enden und Grenzen, (und) da war (doch) der eine allmächtige Gott, der Männer freundlichster; und da waren auch viele bei ihm herrliche Geister. Und der heilige Gott...

Allmächtiger Gott, (der) du Himmel und Erde geschaffen und den Mens-chen so viel Gutes geschenkt hast, schenke mir rechten Glauben an deine Gnade, guten Willen, Verständnis und Klugheit und Kraft, den Teufeln zu widerstehen und das Böse zu vermeiden und deinen Willen zu erfüllen.
 
 

IV.2. Proposta de abordagem
Um texto de evidente mensagem cristã fornece, a partir do próprio vocabulário, subsídios para sua decodificação em nível da linguagem e da interpretação. Em primeiro lugar, procederíamos a um levantamento lexical dos termos em antigo-alto-alemão correspondentes, na forma gráfica, aos vocábulos da versão em alemão moderno. Teríamos, assim, um esquema, onde palavras como ih, ni, ûfhiimil, noh, paum, pereg, keinig, sunna, scein, dentre outras, teriam as formas ich, nicht, auf, Himmel, Baum, Berg, keines,  Sonne, schien (verbo scheinen). Termos como himil, Cot almahtico, erda, e tiuflun (Himmel, Allmächtiger Gott, Erde e Teufel) ao lado de substantivos abstratos como ganâda, galaupa, willeon e wîstôm (Gnade, Glauben. Wille e Weisheit) confeririam ao texto uma mensagem de invocação do suplicante ao Ser Criador, na qual a dicotomia expressa por côtan (das Gute) X arc (das Übel) representaria a própria dualidade existencial humana.
No plano eminentemente lingüístico, o conhecimento de outras lín-guas estrangeiras contribui para o enriquecimento de estágios anteriores da língua. Como exemplo, citam-se as palavras enti, miltisto, mannun, forgâpi e wîstôm, as quais coresponderiam às formas em inglês moderno and, mild, men, forgive e wisdom. Neste ponto, uma abertura para a discussão sobre a família das línguas germânicas e sobre o germânico como Ursprache pro-porcionaria ao estudante, conforme acreditamos, mais parâmetros para análi-se da própria língua que ele estuda, na medida que, ao usar uma segunda lín-gua (no caso, o inglês) como elemento mediador para conhecer o texto ori-ginal, ele interage com ambas.
Um fator facilitador para o trabalho com textos em althochdeutsch é a identificação rápida de palavras modernas do inglês, pois, em linhas ge-rais,  “mit dem Altsächsischen, Altniederfränkischen, Altenglischen und Al-tfriesischen hat das Althochdeutsch viele Spracherscheinungen gemeinsam, weshalb man früh eine ursprüngliche “westgermanische Einheit” an-nahm,...”
Esta concisa apreciação do texto acima, sob as bases ora apresenta-das, deve ser acrescida com dados de ordem cultural, sobre o que discorre-remos no capítulo cinco de nosso trabalho.

IV.3. Poema Ich saz ûf eime steine de Walther von der Vogelweide (+/- 1170-1230) - mittelhochdeutsch
Ich saz ûf eime steine,
und dahte bein mit beine:
dar ûf satzt ich den ellenbogen:
ich hete in mîne hand gesmogen
daz kinne und ein mîn wange.
dô dâhte ich mir vil ange,
wie man zer welte solte leben:
deheinen rât kond ich gegeben,
wie man driu dinc erwurbe,
der keines nit verdurbe.
diu zwei sint êre und varnde guot,
daz dicke ein ander schaden tuot:
daz dritte ist gottes hulde,
der zweier übergulde.
die wolte ich gerne in einen schrîn.
jâ leider desn mac niht gesîn,
daz guot und weltlich êre
und gotes hulde mêre
zesamene in ein herze komen.
stîg und wege sind in benomen:
untriuwe ist in der sâze,
gewalt vert ûf der strâze:
fride unde reht sint sêre wunt.
diu driu enhabent geleites niht,
diu zwei enwerdent ê gesunt.

Tradução em Neuhochdeutsch de Eugen Thurnher

Ich sa? auf einem Felsen,
die Beinen übereinandergeschlagen.
Darauf stützte ich den Ellenbogen.
In meine Hand hatte ich das Kinn
und eine meiner Wangen geschmiegt.
So überlegte ich mir angestrengt,
wie man Erden leben solle.
Ich wu?te mir keinen Rat,
wie man drei Dinge erwerben könne,
ohne da? eines von ihnen verloren ginge.
Die beiden ersten, die einander Eintrag tun
sind Ansehen und irdischer Besitz.
Doch höher als der Wert der beiden,
ist als drittes Gottes Huld.
Sie alle wollte ich gern in einem Schrein.
Aber leider, es ist unmöglich,
da? Besitz, weltliches Ansehen
und göttliche Gnade
dazu in ein Herz zusammenkommen.
Steg und Weg sind ihnen versperrt:
Untreue lauert im Hinterhalt.
Gewalttätigkeit kommt auf der Stra?e her.
Frieden und Recht sind tödlich verletzt.
Die drei haben keinen Schutz,
wenn die zwei nicht vorher gesunden

IV.4. Proposta de abordagem

No tocante ao médio-alto-alemão, partiríamos, do mesmo modo, do léxico comparado como reconhecimento de peculiaridades distintivas entre o uso lingüístico do alemão nos séculos treze e vinte. Poderíamos arrolar, como exemplos, stein, bein, ellenbogen, hand, kinne, wange, welte, leben, ( Stein, Bein, Ellenbogen, Hand, Kinn, Wangen, Welt, leben) dentre inúmeros outros. O estudante imediatamente com a ajuda do dicionário e aqui, excep-cionalmente, através da conhecida gravura do Minnesänger sentado sobre uma pedra, teria um excelente Einstiegspunkt dentro do poema.
O próprio levantamento vocabular permitiria a ele, sempre sob a orientação do docente responsável, a tentativa de formulação de algumas re-gras para a gramática do mittelhochdeutsch, onde os traços fonéticos, morfológicos e sintáticos do alemão moderno estão mais visíveis do que no período lingüístico precedente. Guot e Gottes, gesîn e ûf servem para mos-trar os radicais de Gut e Gott, enquanto os dois últimos revelam a tendência da ditongação da vogal longa, isto é, sein e auf.
Walther von der Vogelweide constitui-se no mais completo Min-nesänger de língua alemã, tendo utilizado em seus poemas temas do amor cortês estilizado do hohe minne, do vero sentimento com relação às jovens simples do povo nos versos do niedere minne, para finalizar refletindo so-bre o mundo que viu e sentiu com as Spruchgedichte. A vida de Walther já traria consigo uma farta quantidade de elementos para uma análise das rela-ções sociais na Baixa Idade Média no ápice do sistema feudal. A questão da inassociabilidade dos valores do mundo material com as riquezas de uma vida pautada pela espiritualidade cristã é marcada no poema, revelando uma cisão d’alma que desaguará  no Renascimento de caráter antropocêntrico e que, do ponto de vista da modernidade, como se fosse um relato em forma de desabafo, mostra a crescente violência decorrente da busca humana pela eternização através do dinheiro, que fere os mais básicos princípios de con-vivência humana de fundamento cristão como a paz e a justiça.

V) A MODERNIDADE DO ESTUDO DA MEDIEVÍSTICA LITERÁ-RIA EM ALEMÃO

De que modo estudar literatura em língua alemã da Idade Média é moderno? Quais seriam as vertentes no campo da ciência da literatura e da diacronia do alemão postas em evidência através de trabalhos nesta área? A associação da pesquisa lingüística com procedimentos hermenêuticos é, em nosso entender, plenamente viável, como procuramos demonstrar nos exem-plos acima. A língua como ponto de partida para o texto literário proporcio-na todo o arcabouço indispensável para o entendimento da realidade cultural da época. Este tipo de premissa é hoje em dia objeto central da assim cha-mada “virada antropológica na ciência da literatura”(antropologische Wen-de in der Literaturwissenschaft).
Afinal de contas, o que vem a ser a antropologia cultural aplicada aos textos literários? Doris Bachmann-Medick (1996:10) assim a caracteriza:
“Kultur als Text aufzufassen hei?t, ein gemeinsames Feld abzuste-cken, das nur durch disziplinübergreifende Fragestellungen zu bearbei-ten ist: Kultur ist ein Bereich, der   ähnlich wie ein Text - zu verschiede-nen Lesarten aufruft .Die Aufmerksamkeit richtet sich auf die interpretie-renden Bedeutungsverdichtungen der kulturellen Darstellungsformen selbst sowie auf die rethorischen Strategien bei  der Darstellung von Kulturen.”

A plurissignificação cultural dentro do mosaico medieval abrangido pelos textos nas duas primeiras fases de desenvolvimento do idioma alemão já é ele próprio um Leitmotiv para as pesquisas. Dentro dos textos situam-se os elementos conflitantes formadores, conformadores, reformadores e deformadores do edifício social do medievo, que, muitas, vezes, passam des-percebidos ou ignorados por absoluta falta de conhecimento lingüístico. No caso dos poemas em mittelhochdeutsch, temas como o amor, a religião, moral, ética e política muito se assemelham às suas contrapartes contempo-râneas. Oswald von Wolkenstein situa-se na fronteira do moderno (apud Müller e Weiss, 1993:41)! Walther von der Vogelweide é um filósofo e o autor ou autores anônimo(s) da Canção dos Nibelungos forjou mitos pre-sentes até os dias de hoje na alma alemã.
Para sumarizar o até aqui exposto, arrolamos três justificativas a fa-vor da medievística, baseadas em nossa docência:
a) o conhecimento da língua em seus estágios primeiros de formação podem facilitar a compreensão de suas estruturas modernas. No caso do alemão, alt- e mittelhochdeutsch revelam através de sua história os processos pelos quais a língua passou até se gramaticalizar, guardando traços fonéticos, sin-táticos, morfológicos e semântico hoje desaparecidos, como, por exemplo, em hôchgezît, originalmente significando “festividades” e em neuho-chdeutsch “casamento”, Hochzeit;
b) do ponto de vista literário, a própria evolução de metros e estilos está eminentemente atrelada ao desenvolvimento cultural europeu. Não devemos nos esquecer, dentre outras coisas, que o sistema de acentuação intensiva, característico dos poemas em médio-alto-alemão, seguiu a tendência euro-péia da utilização da rima a partir da poesia religiosa do século dez;
c) a ambiência cultural de base antropológica, completamente moderna, teria a sua disposição um cabedal de informações preciosas sobre o modus cogi-tandi e o modus faciendi do homem medieval. Costumes, tradições, pre-conceitos, ritos e superstições que normalmente são rapidamente menciona-dos a partir da leitura de terceiros, poderiam agora ser discutidos e ilustrar os debates científicos com os alunos e com pesquisadores após a leitura dos textos pelo docente e estudantes, ocorrendo, assim, a tão propalada e dese-jada interação professor-aluno.

VI) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estas pouquíssimas linhas, resultantes de observações, práticas e leituras desde 1993, tencionam suscitar a mudança (Wende) de perspectiva referente à “Idade das Trevas”. À Germanística como ciência aglutinadora das pesquisas na área de expressão cultural em língua e literaturas de língua alemã cabe a tarefa de explorar mais esse universo palpitante de vida que é a media aetas como um conjunto de manifestações de ordem cultural, não de forma setorizada. Como já bem definia Hans Jürgen Koch (19761:21), o an-tigo papel daquela ciência era desolador:  “Die Mittelalter-Germanistik hat sich so lange und nahezu ausschlie?lich mit der Herstellung und Betrachtung  ihrer Texte beschäftigt, sie als von Zeit und Wirklichkeit isolierte Phänomene betrachtet, da? sie heute nach au?en das Bild einer abgeschlossenen, einer hermetischen und deshalb toten Wissenschaften bietet.”

A contextualização dos dados contidos nos textos seria o caminho primeiro para a justa avaliação desta época vital para a nossa modernidade. Fazemos aqui nossas as palavras de Koch (19762:23):
“Dissonanzen, Widespruüche, Kontraste - sie bestimmen auch die Literatur der Zeit; neben Weltfreude steht Weltangst, neben derer Sinnlichkeit in der Schwankdichtung die leidenschaftliche Gottsuche in der mystischen Erbau ungsliteratur. ...  Ob schlie?lich in solchem Wi-derspruchund Wandel literarischer Formen und Themen  unbedingt ein Verfall gro?er Literatur gesehen werden mu? oder ob darin nicht ge-rade die Voraussetzungen für einen befreienden Neubeginn im 15. Jahrhundert liegen, das festzustellen bleibt noch immer Aufgabe der Forschung.”

Portanto, para finalizar, pensamos que a literatura em alemão na Idade Média é e deve ser estudada nos currículos universitários brasileiros de germanística como disciplina obrigatória. Os textos deveriam ser apresenta-dos em suas versões originais, para que tanto professores quanto alunos se familiarizassem com as antigas construções das fases históricas do alemão. A escolha dos textos para o trabalho acadêmico deve seguir critérios determi-nados pelos docentes, que prezem a fidelidade filológica ao texto, a possibi-lidade de estabelecimento de analogias lingüísticas e a literariedade. Assim, quem sabe, resgatar-se-á e trar-se-á à vida todo um mundo ainda em grande parte esquecido em livros empoeirados em nossas bibliotecas das Faculdades de Letras!
 

VII) BIBLIOGRAFIA GERAL

A) Bibliografia em língua portuguesa
ANGELLOZ, J.F. A literatura alemã. São Paulo: Difel, 1956.
ARON, Irene & HEISE, Eloá (Org.). Curso de língua e literatura alemã. São Paulo: FFLCH/Universidade de São Paulo, 1994.
BEUTIN, Wolfgang et alii. História da literatura alemã. Lisboa: Cosmos & A páginas tantas, 1993. V.1
BÖSCH, Bruno. História da literatura alemã. São Paulo: Herder, E.P.U., 1967.
BRAGANÇA JÚNIOR, Álvaro Alfredo & ROCHA, Roberto Ferreira da. Notas para responder à pergunta: O que é filologia germânica? In: SILVA, Idalina Azevedo.  (Org.) Boletim Inter-cultural APA-Rio. Rio de Janeiro: APA-Rio, 1996. nº 11. p. 4-5
CAEIRO, Olívio. Oito séculos de poesia alemã. Antologia comentada. Lis-boa: Calouste Gulbenkian, 1983. pp. 11-36.
CARPEAUX, Otto Maria. A literatura alemã. 2. ed. São Paulo: Nova Ale-xandria, 1994.
HEISS, Eloá & RÖHL, Ruth. História da literatura alemã. São Paulo: Áti-ca, 1986. Série Princípios, v.92
MARTINI, Fritz. História da literatura alemã. Lisboa: Editorial Estúdios Cor, 1971.  2v.
ROSENFELD, Anatol. História da literatura e do teatro alemão. São Pau-lo, Campinas Perspectiva, EDUSP, EDUEC, 1993. Série Debates, v.255
ROSENTHAL, Erwin Theodor. Introdução à literatura alemã. Rio de Ja-neiro: Ao Livro Técnico, 1968.
_______. A literatura alemã. São Paulo: T.A.Queiroz, EDUSP,  1980.
_______. Perfis e sombras. Estudos de literatura alemã. São Paulo:  E.P.U., 1990.
SELANSKI, Wira. Antologia da lírica alemã. Rio de Janeiro: UFRJ, Facul-dade de  Letras, /s.d./
______. Épocas da literatura alemã. Rio de Janeiro: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1959.
______. Fontes - correntes de literatura alemã. Revisão de Álvaro Alfredo  Bragança Júnior.Rio de Janeiro: Impressora Velha Lapa, 1997.

B) Bibliografia em língua portuguesa - História da língua alemã
BUNSE, Heinrich A.W. Iniciação à filologia germânica. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1983.
POLENZ, Peter von. História da língua alemã. Tradução de Jaime Ferreira da Silva e  António Almeida. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gul-benkian, 1973.
ROSENTHAL, Erwin Theodor. A língua alemã. São Paulo: Herder, 1963.

C) Bibliografia em língua alemã
BACHMANN-MEDICK, Doris. Kultur als Text - Die anthropologische Wende in der Literaturwissenschaft. Frankfurt am Main: Fischer Tas-chenbuch Verlag, 1996.
BAUMANN, Barbara & OBERLE, Birgita. Deutsche Literaturgeschichte in Epochen. München: Max Hueber Verlag, 1985.
BEUTIN, Wolfgang et alii. Deutsche Literaturgeschichte von den Anfängen bis zur Ge genwart. Stuttgart: J.B. Metzlersche Verlagsbuchhan-dlung, 1979.
KOCH, Hans Jürgen. Die deutsche Literatur in Text und Darstellung - Mi-ttelalter I. Stuttgart: Phipipp Reclam jun., 1976. Band 1
______. Die deutsche Literatur in Text und Darstellung - Mittelalter II. Stuttgart: Phipipp Reclam jun., 1976. Band 2
MARTINI, Fritz. Deutsche Literaturgeschichte. Stuttgart: Alfred Kröner Verlag, 1968.
MÜLLER, Ulrich & WEISS, Gerlinde. Deutsche Gedichte des Mittelalters. Stuttgart: Philipp Reclam jun., 1993.

D) Gramáticas e dicionários especializados
D.1. Gótico

BRAUNE, Wilhelm & EBBINGHAUS, Ernst. Gotische Grammatik. 16. Auflage. Tübingen: Max Niemeyer, 1961.
HEMPEL, H. Gotisches Elementarbuch. Zweite, umgearbeitete Auflage. Berlin: Walter de Gruyter, 1953.
TOVAR, Antonio. Lengua gótica. (Paradigmas gramaticales, textos, léxico) Madrid: Ediciones Nueva Época, 1946.

D.2. Althochdeutsch

BRAUNE, Wilhelm & EBBINGHAUS, Ernst. Althochdeutsche Grammatik. 14. Auflage: Tübingen: Max Niemeyer, 1987.
______.Althochdeutsches Lesebuch.14. Auflage Tübingen: Max Niemeyer, 1965.

D.3. Mittelhochdeutsch

BOOR, Helmut de & WISNIEWSKI, Roswitha. Mittelhochdeutsche Grammatik. Achte durchgesehene Auflage. Berlin, New York: Wal-ter de Gruyter, 1978.
LEXER, Mathias. Mittelhochdeutsches Taschenwörterbuch. 35. Auflage. Stuttgart: S. Hirzel, 1979.