DA PRECARIDADE DAS EDIÇÕES CRÍTICAS
— O CASO DE ALVARENGA PEIXOTO
UM INÉDITO E ALGUMAS VARIANTES

Francisco Topa (Universidade do Porto)

Como é sabido, Inácio José de Alvarenga Peixoto só publicou em vida três poemas, dois sonetos e uma lira. Toda a sua restante obra poética foi dada à luz postumamente, a partir de fontes manuscritas nem sempre identificadas. Só em 1960, com o trabalho de Rodrigues Lapa , passou a obra poética do malogrado inconfidente a dispor de uma edição crítica.
Os méritos desta edição são inegáveis. Antes de mais, importa destacar a apresentação, apoiada numa série de documentação nova, da primeira biografia rigorosa do poeta. Por outro lado, o estudioso português — dando a melhor continuidade aos esforços do cónego Januário da Cunha Barbosa , Joaquim Norberto de Sousa Silva  e Domingos Carvalho da Silva  — procedeu, também com base na descoberta de novas fontes testemunhais, ao trabalho decisivo de reunião e apuramento textual da obra de Alvarenga Peixoto, agora fixada num total de 33 poemas, entre os quais 5 sonetos até à altura inéditos.
Isto não significa, contudo, que se trate de uma trabalho definitivo, como aliás dificilmente o é uma edição crítica. Qualquer trabalho deste tipo corre sempre o risco de ver algum texto acrescentado, expurgado ou emendado, seja a partir de uma revisão dos critérios que presidiram à sua elaboração, seja a partir da identificação de novas fontes testemunhais. O próprio Lapa, no prefácio do volume que dedicou ao inconfidente, manifestou-se consciente desse risco, alertando — e até incentivando os investigadores nesse sentido — para a possibilidade de aparecimento de novos poemas.
A nossa comunicação responde precisamente a esse desafio. Em pesquisas que temos vindo a realizar em diversas bibliotecas sobre a literatura do Brasil dos séculos XVII e XVIII, lográmos descobrir novas fontes testemunhais manuscritas da obra de Alvarenga Peixoto, o que nos permite apresentar um soneto inédito e um conjunto de variantes significativas referentes a seis poemas publicados por Lapa, a partir das quais é possível propor algumas emendas.
Comecemos então pelo soneto inédito. A fonte testemunhal é o Ms. 542 do Fundo Manizola da Biblioteca e Arquivo Distrital de Évora. Intitulado «Collecção / de varias obras poeticas / dedicadas / ás Pessoas de bom gosto / por / Henrique de Brederode», este manuscrito — que não se encontra datado — reúne matéria poética da segunda metade do século XVIII. Para além do soneto que daremos a conhecer, esta miscelânea inclui outros poemas de Alvarenga Peixoto já publicados, parte dos quais apresenta variantes com interesse, de que falaremos mais tarde.
Iniciado pelo verso «Chia de dia pela rua o carro», o soneto figura na p. 131 do manuscrito referido, vindo, no final da página, como indicação de autoria, a inscrição “Alvarenga”. Apresentamos de seguida a nossa proposta de edição, deixando para depois um comentário mais circunstanciado. Actualizámos a ortografia e a pontuação, respeitando contudo todos os aspectos característicos da época ou correspondentes ao usus scribendi do autor. No próprio corpo do poema virão assinaladas duas propostas de emenda: em ambos os casos, trata-se de supressões conjecturais, assinaladas por chavetas. No final do poema, em rodapé, virão as variantes de pontuação que decidimos alterar, e, logo depois, as justificações das emendas conjecturais, o glossário e um breve apontamento sobre a versificação.

  Chia de dia pela rua o carro,
  Tine de noute da corrente o ferro;
  Aqui me estruge do soldado o berro,
  Aqui ?me? ronca do oficial o escarro.
 
5  Uns trabalham na cal, outros no barro,
  Fugiu a vadiação, pôs-se em desterro;
  O soldado ali faz justiça ao erro,
  E a cada canto com galés esbarro.
 
  Não há milho, feijão, não há farinha,
10  O ro?n?ceiro de medo a tropa arreia,
  A nova lotaria se avizinha.
 
  Vê-se a porta de mendigos cheia,
  E perguntada a causa desta tinha,
  Toda a gente me diz: «— Faz-se a cadeia».

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4. escarro.? escarro:
6. desterro;? desterro:
10. arreia,? arreia
12. cheia,? cheia
13. tinha,? tinha

Justificações
4. Trata-se seguramente de um erro cometido pelo copista, por analogia com o verso anterior. A sintaxe de regência de roncar não autoriza o uso deste pronome, cuja presença criaria, além disso, dificuldades métricas. Com esta supressão, e admitindo a existência de uma sinérese no final de oficial, a métrica fica também regularizada.
10. Supomos tratar-se igualmente de um lapso de cópia. A não ser assim, não conseguiríamos vislumbrar o sentido do verso.

Glossário
3. Estrugir — atroar.
10. Roceiro — o que faz e planta roçados.
Tropa — caravana de animais equídeos, especialmente os de carga.
13. Tinha — designação comum a várias espécies de infecções cutâneas fúngicas; no contexto, supomos que o termo surge numa acepção mais genérica de peste, epidemia, no seu sentido conotativo.

Versificação
Esquema rimático: ABBA / ABBA / CDC / DCD.
Acentuação: os decassílabos sáfico e heróico estão equilibrados. São sáficos os v. 1-4, 8, 12 e 13, e heróicos os restantes.
Apesar da ausência de uma epígrafe esclarecedora, é evidente que o soneto se refere à construção de uma cadeia. Admitindo que ele tenha sido escrito em Minas Gerais, parece-nos bastante plausível que aluda às obras de construção da cadeia de Vila Rica, iniciadas em 1784, sob o comando do Governador Luís da Cunha Meneses.
A ser assim, podemos aproximar o soneto de um outro texto literário da época que discute amplamente essa edificação. Trata-se da conhecida sátira Cartas Chilenas, cuja autoria foi durante muito tempo controversa — tendo chegado inclusivamente a ser proposto o nome de Alvarenga Peixoto —, sendo hoje bastante pacífico admitir que a obra tenha sido escrita pelo portuense Tomás António Gonzaga. Desconhece-se a data exacta da sua composição, mas é provável que ela seja pouco posterior à partida do grande visado na sátira, o Governador Cunha Meneses, ocorrida a 11 de Julho de 1788.
É nas cartas 3.ª e 4.ª que o tema da construção da sumptuosa cadeia ocupa a atenção de Critilo. Mas já na carta anterior, numa curta passagem de cunho mais intimista, se encontra provavelmente uma referência às obras da cadeia. Critilo diz-se incapaz de conciliar o sono, apresentando uma descrição dos ruídos das obras bastante próxima daquilo que encontramos no soneto de Alvarenga Peixoto: «Segunda vez o sono já tornava, / quando o estrondo percebo de outro carro; / outra vez, Doroteu, o corpo volto, / outra vez me agasalho, mas que importa? / Já soam dos soldados grossos berros, / já tinem as cadeias dos forçados, / já chiam os guindastes, já me atroam / os golpes dos machados e martelos / e, ao pé de tanta bulha, já não posso / mais esperança ter de algum sossego» (II, v. 46-55) .
Mas é nas duas cartas seguintes que o tema é focado mais de perto, inserido na estratégia de denúncia da prepotência do governador, o Fanfarrão Minésio. Na primeira delas, Critilo começa por condenar a sumptuosidade da obra: «Pertende, Doroteu, o nosso chefe / erguer uma cadeia majestosa, / que possa escurecer  a velha fama / da torre de Babel e mais dos grandes, / custosos edifícios que fizeram, / para sepulcros seus, os reis do Egipto» (III, v. 66-71), claramente desproporcionada face à pequenez do meio: «Verás se pede máquina tamanha / humilde povoado, aonde os grandes / moram em casas de madeira a pique» (III, v. 88-90).
Um primeiro aspecto de convergência entre a abordagem de Critilo e o soneto de Peixoto diz respeito à notícia da grande quantidade de mão-de-obra utilizada e à sua origem. Claro que, nas Cartas Chilenas, o autor utiliza um tom de denúncia que está ausente do soneto: «Os néscios comandantes e o bom cabo, / que fez o nosso herói geral meirinho, / remetem, nas correntes, povo imenso. / Parece, Doroteu, que temos guerras; / que, para recrutar as companhias, / de toda a parte vêm chorosas levas» (III, v. 221-226). Quanto à origem desses trabalhadores forçados, Critilo sublinha que, ao lado dos escravos foragidos, são utilizados todos aqueles que caem na subjectiva categoria dos vadios: «Ao bando dos cativos se acrescentam / muitos pretos já livres e outros homens / da raça do país e da europeia, / que, diz o grande chefe, são vadios / que perturbam dos povos o sossego» (III, v. 144-148).
Outros aspectos focados no soneto e nas Cartas são os problemas da alimentação e das doenças. Sobre este último, diz Critilo na carta seguinte, uma vez mais em tom de denúncia: «O calor da estação e os maus vapores / que tantos corpos lançam, mui bem podem / empestar, Doroteu, extensos ares. / A pálida doença aqui bafeja, / batendo brandamente as negras asas» (IV, v. 126-130).
Como se vê, cada um dos textos aproximados aborda o tema numa perspectiva própria. Ainda que o último terceto do poema de Alvarenga Peixoto pareça traduzir um distanciamento crítico pontuado de alguma ironia, não poderíamos esperar dele a mesma virulência que se encontra nas Cartas Chilenas. De resto, não podemos esquecer que, conforme mostrou Rodrigues Lapa, Peixoto devia alguns favores a Cunha Meneses, a começar pela nomeação para coronel do 1.º regimento de cavalaria da Campanha do rio Verde.
Posto isto, passaremos agora à segunda fase desta comunicação, em que daremos conta da descoberta de novas fontes manuscritas de sete poemas publicados por Rodrigues Lapa, a maior parte das quais apresenta variantes significativas, sendo que algumas delas permitem formular propostas de emenda. Os resultados do trabalho de colação entre estas novas fontes e a edição do estudioso português serão apresentados de forma esquemática. As passagens dos poemas em causa serão transcritas de acordo com os critérios seguidos por Lapa, mas segundo a norma ortográfica portuguesa.
 

1. Cantata «Oh, que sonho, oh, que sonho eu tive nesta»

Trata-se da peça n.º 28 da edição de Lapa (p. 44-45). Descobrimos uma nova fonte testemunhal manuscrita que inclui esta composição: o Ms. 542 do Fundo Manizola da Biblioteca e Arquivo Distrital de Évora, já referido na primeira parte desta comunicação. Nas p. 89-91, sob o título «Sonho Poetico» e atribuída a «Alvarenga», vem a cantata em causa. A única variante significativa face ao texto apurado por Rodrigues Lapa ocorre no v. 29: em lugar de saudosas, a nossa fonte regista sonoras. Vejamos a passagem do texto em que ocorre:

De inteiriço coral novo instrumento
as mãos lhe ocupa, enquanto ao doce aceno
das sonoras palhetas, que afinava,
Píndaro Americano assim cantava (v. 27-30).

Referido como está a um instrumento musical, supomos que o adjectivo que se adapta melhor ao contexto é o da nossa variante.
 

2. Ode «Invisíveis vapores»

Na mesma fonte, entre as p. 91 e 96, vem esta «Ode do m.mo A.». A nova versão manuscrita não apresenta variantes significativas relativamente ao texto de Lapa, que constitui a peça n.º 29 da sua edição (p. 46-50).
 

3. Ode «Não os heróis, que o gume ensanguentado»

É a peça n.º 14 da edição de Lapa (p. 17-19). Até ao momento não era conhecida nenhuma versão manuscrita identificada desta ode. A que nós lográmos encontrar figura nas p. 125-129 da miscelânea referida nos pontos anteriores, atribuída a «Alvarenga». Há seis passagens em que se evidenciam variantes significativas relativamente ao texto de Rodrigues Lapa.
A primeira diz respeito à epígrafe, ausente em Lapa, e que na nossa fonte consta do seguinte: Ao Marquês de Pombal.
A segunda ocorre no v. 58, que na lição de Lapa se lê deste modo: e em vez de sustos, mortes e desmaios, ao passo que a nossa fonte regista: em vez da morte, sustos e desmaios. Antes de nos pronunciarmos sobre as duas lições, atentemos no contexto:

Os altos cedros, os copados pinhos
não a conduzir raios,
vão romper pelo mar novos caminhos;
em vez da morte, sustos e desmaios,
danos da natureza,
vão produzir e transportar riqueza (v. 55-60).

Como se pode observar, a lição da nossa fonte parece mais adequada, na medida em que a enumeração aparece aí mais sequenciada, configurando uma gradação descendente.
Outra variante ocorre no v. 75: em lugar de pudessem, a nossa fonte regista puderem. Pouco mais à frente, no v. 78, em vez de tão temos e tão. Vejamos o contexto:

Que importam tribunais e magistrados,
asilos da inocência,
se puderem temer-se declarados
patronos da insolência?
De que servirão tantas
e tão saudáveis leis, sábias e santas,
se, em vez de executadas,
forem por mãos sacrílegas frustradas? (v. 73-80)

Parece-nos que a lição da nossa fonte é preferível em ambas as situações. No primeiro caso, o imperfeito do conjuntivo revela-se inadequado, dado que a oração condicional em que surge integrado exprime, não uma condição irrealizável ou improvável, mas antes uma hipótese, uma eventualidade, circunstância que se adequa ao futuro e não ao imperfeito deste modo. Aliás, repare-se que, no v. 80, num contexto idêntico, é esse o tempo usado: forem. Quanto à variante do v. 78, note-se que ela, não comprometendo a métrica, assegura uma ligação mais normal ao adjectivo do verso anterior.
Em penúltimo lugar, temos a variante do v. 81, também respeitante a uma forma verbal: em vez do presente do indicativo vives, a nossa fonte regista o imperativo vive. Embora ambas nos pareçam admissíveis, a segunda talvez seja preferível. Vejamos o contexto:

Mas vive tu, que para o bem do mundo
sobre tudo vigias,
cansando o teu espírito profundo,
as noites e os dias (v. 81-84).

Em último lugar, temos uma divergência no v. 88: enquanto a lição de Lapa aposta no polissíndeto — as leis e a guerra, e o negócio, e tudo? —, a da nossa fonte opta pelo assíndeto: as leis, a guerra, o negócio, e tudo? Não nos parece possível invocar razões de ordem métrica ou estilística para preterir uma ou outra, pelo que ambas nos parecem admissíveis. Vejamos contudo o contexto:

Ah! quantas vezes, sem descanso uma hora,
vês recostar-se o sol, erguer-se a aurora,
enquanto volves com cansado estudo
as leis, a guerra, o negócio, e tudo? (v. 85-88)
 

4. Soneto «Por mais que os alvos cornos curve a Lua»

Trata-se da peça n.º 7 da edição de Lapa (p. 7). Na mesma miscelânea manuscrita que vimos citando, este texto aparece na p. 130, atribuído a «Alvarenga». Há apenas uma variante significativa, respeitante ao v. 11: em vez de rumorosas, a nossa fonte regista cavernosas, que nos parece uma solução bem melhor. Vejamos então todo o primeiro terceto do poema:

Verás a Cíntia protestar o engano,
verás Tétis sumir-se envergonhada,
nas cavernosas grutas do oceano (v. 9-11).

Supomos que é bastante mais lógico qualificar as grutas como cavernosas, tanto mais que é a ideia de esconderijo que se pretende transmitir.
 

5. Soneto «A paz, a doce mãe das alegrias»

É a peça n.º 33 da edição de Lapa (p. 54). Na nossa miscelânea vem na p. 132 e passa a constituir a única fonte manuscrita conhecida do soneto. Uma primeira diferença ocorre ao nível da epígrafe, ausente na edição de Lapa, e que a nossa fonte apresenta assim: Feito pelo Doutor Inácio José d’Alvarenga, e junto aos autos e embargos da sua defesa, pelo crime imputado da sublevação de Minas. A segunda variante respeita ao v. 5: em vez de eternas, a nossa fonte propõe humanas. Vejamos o contexto:

Desce, cumprindo humanas profecias,
a nova geração dos céus à terra;
o claustro virginal se desencerra,
nasce o filho de Deus, chega o Messias (v. 5-8).

Como se verifica, tanto do ponto de vista semântico como métrico, ambas as soluções são admissíveis.
 

6. Soneto «Eu não lastimo o próximo perigo»

Trata-se da peça n.º 32 da edição de Lapa (p. 53). Na fonte que vimos citando, o texto ocorre na p. 133. Para além desta fonte manuscrita, descobrimos uma outra: o códice 854 da Biblioteca Nacional de Lisboa, f. 58v. Este manuscrito constitui também uma miscelânea.
Neste caso, possuímos duas versões desconhecidas e o número e tipo de variantes é consideravelmente maior, razão por que optámos por transcrever na íntegra o soneto tal como foi publicado por Rodrigues Lapa, anotando depois em rodapé as variantes. À primeira versão (a do manuscrito de Évora) chamaremos A, e à segunda B. Neste caso não nos pronunciaremos sobre a qualidade das variantes, na medida em que isso exigiria um trabalho mais complexo, que está fora dos propósitos desta comunicação.

  Eu não lastimo o próximo perigo,
  uma escura prisão, estreita e forte;
  lastimo os caros filhos, a consorte,
  a perda irreparável de um amigo.
 
5  A prisão não lastimo, outra vez digo,
  nem o ver iminente o duro corte;
  que é ventura também achar a morte,
  quando a vida só serve de castigo.
 
  Ah, quem já bem depressa acabar vira
10  este enredo, este sonho, esta quimera,
  que passa por verdade e é mentira!
 
  Se filhos, se consorte não tivera,
  e do amigo as virtudes possuíra,
  um momento de vida eu não quisera.
 

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Epígrafe. Do mesmo, feito depois da prisão A Soneto que fez o réu Inácio José d’Alvarenga, ouvindo ler a sentença e que o réu Doutor Cláudio Manuel da Costa, seu amigo, se matara na prisão B
2. a estreita prisão, escura e forte; B
4. irreparável de um? inseparável dum A
7. que é ventura também? é ventura também A pois também é B
9. Ah, quão depressa então eu não sentira A
10. este enredo, este sonho? este sonho, este enredo B
11. e é mentira? e que é mentira A
12. Se filhos, se consorte? Se filhos e consorte A Se os filhos e consorte B
13. e do amigo as virtudes? se do amigo as virtudes A se as virtudes do amigo B
14. só de vida um momento não quisera A nem da vida um instante só quisera B
 

7. Soneto «Não me aflige do potro a viva quina»

É a peça n.º 31 da edição de Lapa (p. 52). Na miscelânea de Évora, ocorre na p. 134. Dado que se trata de um texto curto e há um número considerável de variantes, optámos, à semelhança do que fizemos para o texto anterior, por transcrever na íntegra a versão de Lapa, anotando em rodapé as variantes da nova fonte testemunhal. À semelhança do caso precedente, também não nos pronunciaremos sobre a qualidade das variantes.
 

  Não me aflige do potro a viva quina;
  da férrea maça o golpe não me ofende;
  sobre as chamas a mão se não estende;
  não sofro do agulhete a ponta fina.
 
5  Grilhão pesado os passos não domina;
  cruel arrocho a testa me não fende;
  à força perna ou braço se não rende;
  longa cadeia o colo não me inclina.
 
  Água e pomo faminto não procuro;
10  grossa pedra não cansa a humanidade;
  a pássaro voraz eu não aturo.
 
  Estes males não sinto, é bem verdade;
  porém sinto outro mal inda mais duro:
  da consorte e dos filhos a saudade!
 

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3. sobre as chamas? e sobre a chama
4. não? nem
9. pomo? pão
12. é bem verdade? isto é verdade

Chega assim ao fim este nosso contributo para o melhoramento da edição da obra poética de Alvarenga Peixoto feita por Rodrigues Lapa. Esperemos que uma próxima edição possa integrar devidamente estas e outras achegas que venham a surgir.