PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA UMA GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Walmírio Macedo (UFF e ABF)
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O tema de que vou tentar discutir, neste momento, é muito
rico e dele me tenho ocupado ao longo de minha vida profissional.
Além disso, devo dizer que se trata de tema polêmico
na sua origem, pois, de algum tempo para cá, se tem desencadeado
uma campanha de desmoralização da gramática.
Sente-se, às vezes, nas pessoas um certo pudor de ensinar a
gramática de sua língua, colocando-a na lista das coisas
inúteis com as quais não se deve perder
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o precioso tempo. Por outro lado e contraditoriamente, tem surgido
do público em geral um interesse muito grande pelos assuntos gramaticais
que o oportunismo dos jornais tem aproveitado para criar colunas
de Língua Portuguesa nas suas edições de domingo.
O debate e conflito de posições sobre esse assunto não
são objeto de nosso tema presente.
É pela linguagem que o homem marca a sua natureza e se distingue
de tudo que o cerca
É a marca de sua personalidade, da terra natal,
da sua nação, do seu próprio ser.
É pela linguagem que o homem segue seu destino na aquisição
de sua ciência e na transmissão de seus conhecimentos.
Num círculo como este - só de pessoas que integram o
seleto grupo dos que se dedicam ao conhecimento da linguagem, qualquer
exposição sobre sua importância seria desnecessária
e vã.
A introdução, feita há pouco, vale para ressaltar
a importância, a necessidade e a relevância do estudo da linguagem
de forma clara, objetiva e coesa.
Enfim, defendemos uma “exigência metodológica”,
usando o termo de Hjelmslev, que nos mostre caminhos claros com uma descrição
que não seja contraditória, mas exaustiva e tão simples
quanto possível.
Assim, uma teoria deve ser geral, colocando-nos à mão
um instrumento que nos permita reconhecer, identificar todos os “objetos”
da mesma natureza e não apenas um deles.
É no texto que as palavras ganham vida e dentro dele que devem
ser estudadas, compreendidas e analisadas.
A teoria gramatical, mesmo estudada fora do texto, há de estar
voltada para ele e nele embasada.
As palavras não existem isoladamente, mas em grupos, em séries
sociativas, formais ou semânticas.
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Sabemos todos que o estudo da linguagem vem ocupando e interessando
a humanidade de épocas remotas até hoje.
Dos gregos e através dos romanos herdamos uma gramática
que percorreu os séculos, a Idade-Média e o Renascimento
e chegou até nós, pouco renovada.
O termo gramática tradicional é perfeitamente próprio
e adequado, pois foi pela tradição que nos chegou.
Entre suas características - se assim podemos denominar - está
o critério de autoridade em que se baseia.
Nas suas preocupações, ocupa lugar principal, não
a verificação dos fatos de uso da língua, mas a escolha
entre empregos legítimos e ilegítimos.
Como de alguma forma esteve sempre influenciada pela filosofia, o resultado
foi uma gramática lógica, ou, pelo menos, com a pretensão
de ser lógica..
Partir de supostos extralingüísticos, como veremos
adiante, foi ( ou é) o primeiro grande equívoco dessa gramática.
Mas nem tudo era ( ou é) condenável na gramática
tradicional. Nela há coisas boas, muito boas, utilizáveis
até hoje.
O culto exagerado à diacronia, no século passado, provocou
uma reação, dando origem a um entusiasmo avassalador - logo
exclusivista segundo Pottier - pelos estudos sincrônicos.
A partir de Saussure, os estudos sincrônicos ganharam a importância
merecida.
Bernard Pottier vê exagero nessa colocação sincronia
/v/ diacronia e assim expõe o mestre francês o seu pensamento.
Diz o conhecido lingüista que existem partidários da sincronia
e da diacronia, mas é lamentável que alguns oponham enfoques
de uma mesma realidade: a linguagem. Todos temos
à nossa disposição um sistema sincrônico. Utilizamos
e realizamos em qualquer momento no ato da expressão. Apesar
da aparente estabilidade, ou melhor da relativa estabilidade que permite
que hoje nos expressemos como ontem, todo o sistema se acha tocado por
um movimento, lentíssimo mas contínuo que o transforma sensivelmente.
É como se disséssemos que o minuto que passou já poderia
transformar-se num fato diacrônico.
Defende Pottier, ao lado da precedência da sincronia,
uma visão dupla do estudo lingüístico.
Acha utopia crer que se possa estabelecer uma estrutura unicamente sincrônica.
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O saber diacrônico, ressalta Pottier, só deve intervir
para ajudar a compreensão.
Esse não deixa de ser um ponto polêmico cuja discussão
pode trazer riquíssimas contribuições
Em alguns casos, pode contribuir para : ou confirmar um enfoque sincrônico,
ou detectar equívocos num enfoque sincrônico, ou estabelecer
caminhos num choque de enfoques da sincronia versus diacronia.
Se tempo e espaço houvesse, daríamos numerosos exemplos,
o que fugiria ao objetivo de nosso tema.
Mesmo assim, sem alongar, podemos citar alguns. casos. .
Um deles é o do imperfeito do indicativo dos verbos em
-er cuja análise mórfica é apresentada de forma divergente
em diferentes autores.
Alguns autores dão como sufixo modo-temporal -ia, enquanto
outros apresentam -i- como vogal temática –e-, modificada para -i-,
o que ocorre com freqüência no hiato, considerando-se
o -a- como sufixo modo-temporal.
A razão diacrônica está com o segundo enfoque:
e(b)a ) ea ) ia.
Pottier defende a diacronia como um recurso, uma ajuda,
uma comparação.
É claro que os estudos gramaticais devem situar-se no plano
sincrônico, mas há subsídios como esse que não
devem desprezar-se.
Outro ponto importante no estudo da linguagem é o ponto de vista
imanente.
Caracteriza-se por não se recorrer a elemento extrínseco
para se explicar elemento do sistema.
É imanente aquilo que se explica por si mesmo, que não
transcende do objeto analisado.
•O imanente em lingüística se opõe ao
não-lingüístico.
A descrição de uma língua é a depreensão
de sua estrutura e a explicação das relações
aí estabelecidas. Quando um analista toma
a frase “Eu sei quem chegou” e substitui “quem” por
“aquele que”, recorreu ao que não está escrito, ferindo o
princípio da imanência.
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Na verdade, a frase tem de bastar-se a si mesma.
Ao lado do princípio da imanência, há o da pertinência
segundo a qual se define como tal o que cabe sob o ponto de vista adotado
para o exame do sistema.
Esses dois princípios se integram por
sua importância.
É evidente que eles devem enquadrar-se
na posição assumida pelo estudioso
diante da língua.
São três as posições diante
das quais o estudioso tem de assumir
a sua escolha:
1. Semântica.
2.Formal.
3.Funcional.
A primeira posição defende
que o significado é o objeto especial
da pesquisa, que tudo deve centrar-se nele.
Já a segunda posição,
ao contrário, não leva em
conta o sentido, mas apenas - e
exclusivamente- a forma. É uma
posição materialista, física e,
por isso mesmo, pode levar a muitos
absurdos simplificadores, como poderemos ver
mais adiante.
Sabemos que o fato de minimizar a significação
como fator da descrição lingüística
foi, em princípio, uma reação saudável
contra o mau uso da significação
no estabelecimento das categorias lingüísticas,
mas hoje já não tem sentido
tal posição de alguns lingüistas.
A terceira posição - a funcional -
concilia um e outro aspectos
A gramática tradicional misturava os três aspectos ao
longo das interpretações.
Como sabemos, no estudo da língua, devem-se reconhecer três
componentes importantes:
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a forma (aspecto material da expressão)
a função (papel sintático da forma)
a substância semântica ( o conceito )
A visão global desses três aspectos é que nos há
de dar a exata compreensão do fato lingüístico.
Por isso, a opção pela terceira posição
é, a nosso ver, o melhor caminho.
A gramática tradicional apresentava um enfoque seccionado, repetitivo
dos fatos, numa ótica isolada, parcial e, sobretudo, subjetiva.
coisa que já mudou para melhor, graças ao trabalho
pertinaz, inteligente e moderno de alguns de nossos gramáticos.
Falta, entretanto, uma teoria gramatical que indique caminhos ou até
ressalte os caminhos já seguidos por alguns dos nossos eminentes
gramáticos.
O que desejamos enfatizar é a necessidade de uma visão
metodológica que se norteie por premissas básicas ou princípios.
Além dos princípios já enunciados - o da imanência
e da pertinência -, é relevante o chamado princípio
das ocorrências.
Sendo a língua um sistema, há de se prever uma coerência,
ainda que relativa coerência.
Assim, um fato pode ser medido pela freqüência com que ocorre.
Não será uma regra, ou uma norma gramatical externa que
vai determinar o que deve ser ou não ser. Se assim fosse,
estaríamos trabalhando com o arbítrio, ou com mero
argumento de autoridade.
Uma coisa é porque é e não porque achamos que
deva ser.
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Uma pesquisa da freqüência pode determinar o que a chamada
gramática normativa chama de correto, ou por intuição,
ou por autoridade do expositor..
Pelo levantamento das freqüências o estudioso pode concluir
o fato lingüístico.
Um exemplo simples pode ilustrar.
As formas de diminutivo de devagar / devagarinho e devagarzinho / convivem
dentro do uso da língua.
Não se trata de se dizer qual a certa ou a errada. Nem muito
menos de se dizer qual a melhor.
Mas, antes e acima de tudo, escolher-se uma delas.
Se consultarmos algumas das gramáticas existentes, teremos em
algumas total omissão sobre o assunto e em outras uma regra imposta
aos oxítonos e nomes terminados em -r, -l ou ditongos, oxítonos
ou não.
No dia-a-dia, as duas formas convivem em harmonia.
Se aplicarmos o princípio da ocorrência, chegaremos a
uma opção sem necessidade de regra prévia.
Observe-se:
dor - dorzinha
par - parzinho
cor - corzinha
amor – amorzinho
Logo
devagar/devagarzinho.
A forma devagarinho destoaria da coesão da língua.
O que até agora estamos pretendendo mostrar é que,
antes e acima de tudo, é importante o conhecimento - e aqui se entenda,
como ressaltou com muita propriedade o professor Mário Perini- conhecimento
explicitado de sua estrutura, não apenas de seu uso correto.
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A construção da frase e a sua interpretação
constituem objeto primordial do ensino e/ou aprendizado da língua,
dotar o aluno da capacidade de escrever e de interpretar é meta
ambiciosa (sic) do professor de língua vernácula.
Para chegar a esse ponto, o aluno tem necessidade de conhecimentos
fundamentais da morfossintaxe.
Aqui entra uma séria discussão sobre o conteúdo
necessário para o aluno chegar à condição básica
que se deseja.
Assim, o estudo da sintaxe deverá dar ao aluno a capacidade
de definir, de saber quais são as frases bem formadas ma língua
e ainda de construir em Português frases bem formadas
com base nessa experiência.
Aqui muitas reflexões podem ser feitas.
Uma delas é “o que importa saber, aprender?
Há uma tradição no ensino da língua de
fazer com que os alunos aprendam definições em geral.
Uma definição é importante se ela ensejar a possibilidade
de identificar um fato, ou. dir-se-ia melhor, uma entidade gramatical.
Se a entidade gramatical já é conhecida pelos
alunos, a definição é inútil.
Além do mais, há uma proliferaçao
( o termo é forte?) de definições equivocadas.
Discute-se inutilmente a importância da análise sintática.
Usamos o advérbio “inutilmente” para o verbo discutir para chamar
a atenção para a importância da análise sintática.
Mas não defendemos uma análise sintática
pela análise sintática.
Vemos como um meio e não como um fim.
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Bem orientada, a análise sintática dotará o usuário
de meios seguros e claros para se expressar e compreender.
Aqui se aplica com extrema propriedade a posição
funcional de que já tratamos.
Forma e significado devem estar conjugados na análise da oração.
Não se trata de teorização pura e simples. Trata-se
de um caminho para melhor compreensão, de um método.
Tomemos alguns casos esporádicos a título de exemplificação.
Os exemplos serão dos diferentes planos da língua. Não
ficaremos restrito a apenas um deles por absoluta falta de espaço..
Como é no texto que tudo, ou quase tudo, se realiza, a sintaxe
termina por ser o plano de aplicação especial.
Não apresentaremos - não temos essa pretensão
- soluções.
Apresentaremos casos banais, do contexto de cada dia, que
temos a cada instante, diante dos olhos ou aos nossos ouvidos, sobre os
quais uma divagação metodológica poderia ou poderá
mostrar-nos muitos caminhos ou, ao menos, sugerir uma maior reflexão.
Observemos as frases:
a) Meninas jogam bola e quebram a vidraça.
b)Meninas jogam a bola e quebram a vidraça..
Embora pareça, à primeira vista, que as duas frases expressem
a mesma coisa, veremos, numa releitura, que há ou pode haver diferença.
Na primeira, está claro que as meninas “estão jogando
bola “.
Na segunda, poderiam estar jogando ou não. Simplesmente jogaram
a bola e quebraram a vidraça.
E isso acontece porque “jogar bola” não é a mesma coisa
que “jogar a bola”.
O verbo jogar apresenta significados diferentes nas duas frases.
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Na análise do fato, como já vimos ressaltando,
não se pode deixar de levar em conta o significado.,
Nas frases seguintes:
a) Maria tem ciúme da mãe.
b) Maria tem o ciúme da mãe,
a determinação da função sintática
só será possível com a compreensão da mensagem.
Seria um equívoco nivelar, pela forma, para determinação
da função, não se levando em conta a significação.
O analista há de refletir sobre cada frase e buscar estruturas
semelhantes para nas semelhanças aferir as diferenças e verificar
a inexistência de identidade.
Para chegarmos ao ponto ideal, temos de conjugar forma e significado
e estabelecer pontos de contato e pontos de divergência.
Observem-se, por exemplo, frases do tipo:
Ele comprou o carro.
Ele comprou muito.
A um analista cujo pressuposto teórico fosse exclusivamente
a forma pareceria claro e definitivo que carro e muito são objetos
diretos das respectivas orações.
Essa estranha concepção conflita com a significação
de cada oração.
No primeiro caso, temos um objeto direto expresso, claro que é
o carro, enquanto, na segunda oração, não está
expresso o resultado da ação verbal.
Há muitos conceitos da gramática
tradicional que hoje já não se podem aceitar.
Ou melhor, são inaceitáveis.
Creio que alguns desses casos se devem a
um erro da gramática tradicional que
é a generalização, ou seja,
a tentativa de se colocarem sob
o
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O mesmo rótulo fatos muito diferentes
entre si. Trata-se de uma visão
simplificadora que termina por prejudicar um
enfoque real do fato lingüístico.
Um exemplo típico do que acima
falamos é o caso das vozes verbais.
Tentar enquadrar os verbos da língua
em um dos três tipos de
vozes / ativa, passiva e reflexiva / é tarefa
impossível.
Voltamos aqui às três posições
diante do fato lingüístico: a
formal, a semântica e a funcional.
Se adotarmos uma posição formal,
enquadraremos a maioria dos casos,
mas, sem dúvida, cometeremos alguns
absurdos.
Frases do tipo:
O leão tem cor amarela.
Tenho sofrido muito nesta vida.
O pobre rapaz recebeu um tapa no rosto.
, seriam absurdamente colocadas no nível
de ativas, o que constituiria uma
aberração semântica.
Bernard Pottier, com a clarividência
que o torna tão particular, diante desse
problema e dessa impossibilidade, chega à
conclusão de que existem na língua
seis vozes verbais:
12. Voz existencial: ocorre nas orações em
que o sentido é de existir.
Exs. Existem muitas soluções.
Há muitas soluções.
Aparecem muitas soluções.
Ocorrem muitas soluções.
Eis o gato.
1.Voz equativa: ocorre com o verbo de
ligação acompanhado de predicativo/substantivo.
Maria é professora.
O gato é um animal.
Você está uma mulher.
3.Voz descritiva: ocorre com verbo de
ligação acompanhado de predicativo/adjetivo.
O gato é preto.
Eduardo é inteligente.
4.Voz situativa: ocorre com verbos intransitivos
com adjuntos adverbiais de lugar.
O gato está no jardim.
5.Voz possessiva: ocorre com o verbo
ter e sinônimos.
O gato tem bigode.
O leão tem cor amarela.
6.Voz subjetiva: ocorre com verbos que
indicam estados psíquicos, interiores, sentidos etc..
O gato olha o cachorro.
Estou sentindo a saudade.
Com seis vozes, todos os verbos podem perfeitamente
enquadrar-se.
Essa é a ótica de Pottier
como contribuição para solucionar um
problema.
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Essas colocações e/ou discussões podem
ficar num nível acadêmico, mas não
podem ser desconhecidas pelo professor. Ainda
que não as utilize diretamente no
ensino de cada dia, o professor passa
a saber o terreno em que pisa
e pode evitar muitas confusões e
absurdos.
Albert Sechehaye, diante de frases do tipo
“O leão tem cor amarela “, procura
resolver o problema de compreensão do verbo,
dizendo que o verbo “ter’ é ativo
por atribuição. Ou seja : não o
é.
Cremos que muitos problemas no ensino
da Língua Portuguesa decorrem da ausência
de um enfoque metodológico. Não se
confunda aqui o “metodológico “ com o
“ didático”.
Poderíamos, inspirado em Saussure, tentar
aplicar o binarismo nas diferentes visões do
fato gramatical. Veríamos que se tornariam
mais simples coisas aparentemente complexas.
A redução a uma visão
binária simplificaria o processo de
compreensão e eliminaria, possivelmente,
zonas cinzentas de dificuldade.
Por exemplo, no estudo do substantivo, a oposição
há de fazer-se entre próprio e comum
e não entre próprio e concreto,
ou entre comum e concreto etc..
O que temos é, pois, um
par próprio/comum e, neste, o par
concreto/abstrato.
Os exemplos seriam numerosos ao longo
de todos os conteúdos gramaticais.
Há certos enfoques da gramática
tradicional que merecem reestudo, ou, menos,
uma reflexão que possa levar a
uma reformulação. É o caso
da análise da oração “são
duas horas”. Apresentam-se visões incongruentes, contraditórias
e, até mesmo. absurdas.
Como se pode dizer que se trata de uma oração
sem sujeito e dá-se “duas horas” como
predicativo do sujeito?
Como se pode falar, no caso, de verbo de ligação
se o verbo no caso não está
ligando coisíssima alguma?
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Trata-se, no meu entender, de colocações inaceitáveis.
A metodologia do ensino da língua tem
de caminhar, lado a lado, com embasamento
seguro de uma doutrina gramatical coerente.
Na realidade, os alunos de letras, futuros
professores de Português são preparados com
muita eficiência nos conteúdos teóricos
da matéria e afins, mas não
lhe é passado um conhecimento metodológico
da disciplina. Cremos que, de uma maneira geral,
é o que acontece. É possível
que haja exceções.
O “como ensinar?”, “o que ensinar”, “em
que momento ensinar” são temas da
maior importância para o professor
de língua vernácula.
Há quem faça uma distinção entre gramática
natural ( a que cada um já possui) e a gramática artificial
(a que se aprende na escola ou nos livros). A gramática natural,
segundo os inventores do termo, é a de dentro para fora. A gramática
artificial seria a de fora para dentro. Para esses, cabe ao
gramático apenas registrar os fatos da gramática natural
e depreender as regras.
Nessa ótica, teríamos obrigatoriamente centenas de gramáticas,
ou melhor, variantes de gramática, ou ainda várias
gramáticas.
Cremos que não é por aí.
Ao professor cabe conhecer a estrutura e o funcionamento da língua
para construir a sua gramática e saber distinguir a boa gramática
da má gramática.
BIBLIOGRAFIA
Aqui estão indicados apenas os livros que, de alguma forma,
deram algum subsídio para o assunto exposto.
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