O GALEGO DE HOJE

Alfredo Maceira Rodríguez (UCB)

1. INTRODUÇÃO
Sabemos que o galego foi um romanço originado do latim, como as demais línguas neolatinas. O galego formou um complexo lingüístico com antigos dialetos portugueses do norte do Douro, denominado galego-português, língua em que se produziu uma vasta literatura lírica popular, de influência provençal, conhecida como literatura galego-portuguesa. Após a independência de Portugal, o centro de influência do português deslocou-se para o sul, em virtude da expansão do novo país para o sul à custa do terri-tório conquistado aos árabes. Com isso, o português recebeu novas influên-cias, particularmente dos moçárabes , que se conservaram em território árabe. Além disso, Portugal tornou-se um país em expansão no ultramar, o que fez com que a língua tivesse que se adaptar às necessidades de uma nova nação e recebesse influência dos diferentes territórios com que entrou em contato. Isso motivou seu paulatino afastamento do galego. A partir do século XV, o português e o galego já são dois dialetos  diferentes, embora possuam a mesma estrutrura e muitas características em comum.
Enquanto o português evoluiu pelos motivos apontados, o galego deixou de ser língua de cultura, papel reservado ao castelhano, língua da Espanha, de quem a Galiza passou a formar parte. Durante vários séculos, o galego permaneceu limitado ao uso oral, principalmente nas zonas rurais, muitos extensas na região. Os serviços burocráticos, a escola e as demais instituições representativas de alguma parcela de influência usavam o cas-telhano, porém o galego não foi totalmente abandonado, embora permane-cesse numa situação de diglossia. De um modo geral, a imensa maioria dos nativos da Galiza eram até há muito pouco tempo de origem rural e, por tradição, bilíngües: sua língua materna era o galego, usado no ambiente doméstico e cotidiano, enquanto eram alfabetizados no espanhol. Criava-se, assim, uma situação diglóssica. Falava-se o galego, mas escrevia-se em castelhano, mesmo para as pessoas com quem se conversava cotidianamente em galego. O galego era a língua para se falar, mas não para se escrever, mesmo porque não era ensinada.

2. RESSURGIMENTO DO GALEGO
No século XIX e primeiras décadas do século XX teve lugar o mo-vimento romântico, que valorizava as raízes nacionais dos antigos povos da Europa. Esse movimento, aliado a fatores políticos e militares ocorridos na Espanha, fez despertar o sentimento nacionalista da Galiza, procurando pesquisar e valorizar as tradições do povo e, entre estas, uma das mais im-portantes é a língua. Assim, nessa época, o galego volta a ser usado na lite-ratura. A literatura deste período está mais voltada para retratar e valorizar as tradições da pátria galega e as peculiaridades de seu povo. Destacam-se nesta primeira fase do Renascimento, ou Rexurdimento, do galego alguns grandes literatos como Francisco Añón, Rosalía de Castro, Valentín Lamas Carvajal, Curros Enríquez, entre outros. A modalidade de galego emprega-do obedecia apenas à preferência do autor, sem ter que obedecer a qualquer norma, porque não existia tradição literária. Escrevia-se com base na língua falada, transmitida oralmente através das sucessivas gerações, pois o refe-rente escrito era o castelhano, língua, aliás, que muito influenciou a maior parte dos escritores que se decidiram a escrever em galego. Outros preferi-ram como modelo o português, mas qualquer um destes referentes se afas-tava do galego preservado na fala. Este galego falado, por sua vez, também não mantinha muita uniformidade devido a seu isolamento, pelo que se dialetalizara em diversas zonas geográficas de seu domínio. Estas varieda-des dialetais não comprometiam, no entanto, sua intercompreensão, pois sua uniformidade superava de longe suas variantes, conhecidas também no restante do território.

3. A GUERRA CIVIL ESPANHOLA
Em 1936, a Espanha mergulhou numa sangrenta guerra civil que terminou com a implantação de um regime autoritário, o qual se manteve no poder até 1975. Durante este longo período, o galego e as línguas das outras comunidades históricas da Espanha (basco e catalão) foram, se não proibi-das, quando menos desestimuladas em função do centralismo político. O uso dessas línguas não deixava de ser visto como porta-voz de ideologias políticas e, portanto, não poderia deixar de ser alvo da atenção dos donos do poder. Contudo, algo foi publicado em galego nesse período, mesmo na Galiza, principalmente explorando temas folclóricos da tradição rural, mas a maior e mais livre contribuição foi realizada nas grandes comunidades de emigrantes galegos, principalmente em Havana (Cuba) e Buenos Aires (Argentina), onde tradicionalmente existiam grandes colônias de emigrantes galegos e de seus descendentes, às que se acolheram muitos exilados do franquismo. Mesmo com altos e baixos, a literatura em galego não mais deixou de existir desde seu reaparecimento no século XIX.

4. A AUTONOMIA
Em 1975, com a morte do ditador Francisco Franco, a Espanha vol-tou ao regime democrático. Em 1978 foi promulgada a nova Constituição do Estado Espanhol, constituído por comunidades autônomas. Entre estas, algumas possuem língua própria, como é o caso da Galiza. A nova consti-tuição estabelece como língua oficial de todo o Estado o castelhano, tam-bém denominado espanhol, porém às comunidades que têm outra língua é-lhes permitido seu uso oficial na respectiva comunidade, ao lado do espa-nhol, idioma oficial de todo o Estado. A partir de então, as comunidades de fala catalã (Catalunha, Baleares e Valência), a do Basco (País Basco) e a do galego (Galiza) começaram uma nova fase de luta para a valorização e uso de suas respectivas línguas. Tornou-se urgente algum tipo de padronização, tarefa difícil e até hoje não totalmente resolvida.

5. O PROBLEMA DA PADRONIZAÇÃO DO GALEGO
Com a autonomia, as elites culturais galeguistas viram na língua um dos mais importantes símbolos da identidade do povo galego, o que também ocorreu, talvez com maior intensidade, nas demais regiões ou nacionalida-des históricas. Na Galiza, o galego manteve-se vivo durante vários séculos apenas em sua forma oral, principalmente no meio rural, onde até há pouco residia a grande maioria da população galega. Ainda hoje, mesmo tendo decaído o sistema agrícola minifundiário de subsistência, que vigorou du-rante séculos, a Galiza não se caracteriza pela existência de grandes urbes. A população espalha-se por cidades de meio e pequeno porte, embora tenha diminuído o contingente propriamente rural. O galego conservou-se mais e melhor nas áreas rurais, pois nas cidades, mais cosmopolitas e com forte influência alienígena, o galego não era, ou ainda não é, visto como língua de cultura. É língua que se fala no ambiente familiar e na informalidade, mas não é a língua da escola, dos meios de comunicação, do comércio, etc. Muitos pais, mesmo nativos do galego, e que muitas vezes nem dominam o espanhol, esforçam-se para ensinar a seus filhos essa língua, na crença de que o galego vai dificultar-lhes seu progresso escolar e seu futuro profissio-nal. Preferem que seus filhos conheçam exclusivamente o castelhano, em vez do bilingüismo, que é regra geral na comunidade.
A administração autonômica e as elites preocuparam-se logo com a introdução do galego em todos os meios: administração, escolas, meios de comunicação, cultos religiosos, etc., mas depararam-se com uma língua muito dialetalizada, mesmo recorrendo à literatura tradicional. Para que o galego pudesse ser usado oficial ou oficiosamente era preciso algum tipo de uniformidade, ao mesmo tempo que tinha que ser aceito pelo maior número de falantes possível. Partiu-se então para a busca de um dialeto que seria estabelecido como padrão para a comunidade, com base nos dialetos exis-tentes do galego. Foi preciso selecionar e filtrar os elementos lingüísticos considerados como mais característicos e mais divulgados. Em muitos casos foi preciso permitir o uso em variação livre de dois ou mais elementos lin-güísticos. A tarefa não foi fácil devido não só aos fatores lingüísticos apon-tados, mas também devido a fatores políticos. A política do idioma revestiu-se de certa militância na comunidade autônoma recém estabelecida.
Sabemos que o galego e o português têm basicamente a mesma es-trutura, pois o português só se foi afastando do galego a partir do século XIII, mas, além de sua estrutura, ainda conservam muito em comum. Não há duvida de que o galego está muito mais próximo do português que do espanhol, embora esta língua muito tenha contribuído nestes últimos séculos para o galego moderno, principalmente pela influência exercida recente-mente pela rádio e pela televisão.
Ao tratar-se da escolha de um galego padrão para as necessidades da vida moderna, surgiram problemas de difícil solução, com várias correntes de opinião se entrechocando. Uma corrente denominada reintegracionista ou lusista preconizava, ou preconiza, a reintegração do galego a seu tronco comum, ou seja, sua aproximação ao português. Argumentam partidários desta solução que o galego deve-se depurar da contribuição castelhana, que o teria corrompido e desnaturalizado. Para eles, o galego deveria retomar sua herança lingüística histórica, permanecendo o mais próximo possível de sua língua irmã, a língua portuguesa. Por outro lado, o pragmatismo da vida moderna se impõe. O longo período de bilingüismo com o castelhano foi deixando o galego num segundo plano. A diglossia foi e continua sendo a realidade lingüística da Galiza. Nas grandes cidades existem os que só usam o castelhano porque são alienígenas e desconhecem o galego ou porque simplesmente preferem ignorá-lo na presunção de que o galego é fala de gente inculta, que não gosta de progresso e que não tem capacidade de usar o castelhano. É claro que o castelhano dos que assim procedem é geral-mente incorreto, um castrapo, como pejorativamente se denomina o caste-lhano estropiado pela interferência do galego.

6. AS NORMAS
Com a autonomia e a aceitação das línguas das comunidades históri-cas no Estado espanhol, ficou o campo aberto para o uso do galego na co-munidade. As elites intelectuais e políticas puseram-se em marcha para introduzir o galego em todas as esferas da Galiza, mas o galego oral domi-nante na maior parte do território parecia não se prestar às novas funções que agora lhe eram atribuídas. Seu vocabulário parecia limitado devido a seu uso quase exclusivamente oral apenas no cotidiano, pois quando havia necessidade de novos itens lexicais acorria-se ao castelhano com o qual o galega estava em situação diglóssica. As novas contribuições necessárias na vida moderna podiam galeguizar-se ou permanecer como empréstimos sem qualquer alteração, esquecendo-se, ou não se importando, com a origem. Por outro lado, o galego literário do passado, particularmente o do período do chamado Rexurdimento, não obedecia a qualquer norma, porque não existia e os grandes escritores e poetas daquela época preocupavam-se em recolher a fala do povo, tal como era ouvida e assim a reproduziam. Logo, esta fonte não poderia ser tomada como modelo em toda a sua extensão. Restavam os que pretendiam o retorno às bases históricas do galego medie-val do tronco galego-português e sua aproximação no aspecto moderno com o português atual, o que tampouco se mostrava factível devido à distância existente entre qualquer modalidade do galego de hoje e o português mo-derno. Este distanciamento manifesta-se no plano fonético-fonológico, morfológico, semântico e sintático. Embora haja similitude entre o portu-guês e o galego hodiernos, são atualmente dois dialetos que necessitam de estudo para sua mútua compreensão. Cientes deste problema, as autoridades da comunidade autônoma da Galiza partiram em busca de uma padroniza-ção para o galego poder ser usado oficialmente.
Duas entidades tradicionais nas atividades lingüísticas da Galiza (a Real Academia Galega e o Instituto da Lingua Galega) elaboraram em conjunto um projeto de padronização denominado Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego, que foram apresentadas e publicadas em 1982 . Estas Normas foram aprovadas pela Xunta de Galicia e adotadas como as únicas aceitáveis na redação oficial e em tudo o que tenha relação com o governo autônomo: documentos, publicidade, prêmios literários, etc.
No início houve reação dos partidários do reintegracionismo e de outros grupos. Acusaram-se as Normas de estarem muito castelhanizadas, de preferir uns dialetos a outros, etc., mas os critérios que foram seguidos para sua elaboração parece que não são mais contestados. Embora um pou-co longos, vale a pena transcrevê-los:
1. Excluí-lo diferencialismo radical porque, aínda querendo ser unha postura de defensa frente ó castelán, mani-festa de feito unha posición dependente e dominada con respecto a esta lingua. Han de excluírse, con maior razón, solucións dife-rencialistas que só sexan falsas analoxías e vulgarismos.
2. Excluír tamén a evasión cara a lingua medieval: formas definitivamente mortas e arcaicas non deben suplantar outras vivas e galegas.
3. Valora-lo aporte do portugués peninsular e bra-sileiro, pero excluír solucións que, aínda sendo apropiadas para esa lingua, sexan contrarias á estructura lingüística do galego. O punto de partida e de chegada en calquera escolla normativa há de ser sempre o galego, que non debe sacrifica-las súas caracte-rísticas propias e relevantes en beneficio das dunha lingua irmá, pero diferente.
As Normas contêm uma grande quantidade de notas explicativas in-formando e tentando justificar quais os critérios que determinaram a escolha de um item lingüístico em detrimento de outro, porém em muitos casos há itens que permanecem em variação livre, esperando que o uso da língua selecione ou dê preferência a um deles.

7. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO GALEGO DAS NORMAS
O galego das Normas procura transcrever a fonética do dialeto ado-tado, porém mantém a letra h como símbolo ortográfico, sem valor fonético, e a letra v, que também representa o fonema oclusivo bilabial surdo [b]: vaca [‘baka].
O galego normativo emprega só um acento gráfico, o agudo, mesmo para indicar a crase.
O galego desconhece alguns fonemas do português padrão. Entre eles o fonema consonantal oclusivo palatal sonoro representado em portu-guês pela letra j [Š]: hoje [‘oŠi]. O galego só conhece seu homorgânico surdo [?] hoxe [‘o?e] Por isso a letra j não consta no alfabeto do galego moderno. O mesmo ocorre com o fonema fricativo linguodental sonoro do português [z]. (casa), [‘kaza]. No galego não existe esse fonema. Usa-se seu homorgânico surdo, representado sempre com s, por não haver outro fone-ma para distinguir: casa [‘kasa], paso [‘paso](port. passo). Não existem, portanto, as grafias do fonema surdo do português: ss, ç.
A grafia z do galego corresponde a outro fonema, não pertencente ao português padrão. É um fonema interdental fricativo surdo que em galego tem a pronúncia [?], semelhante à correspondente ao th do inglês em think, three: zapato [?a’pato], moza [‘mo?a].
A grafia deste galego normativo está mais próxima da grafia do es-panhol do que da grafia do português. Os dígrafos lh e nh do português representam-se em galego, respectivamente, por ll e ñ: mollar = molhar, viño = vinho.
O grupo nh que ocorre no galego representa um fonema desconheci-do no português. A definição é a da ocorrência de uma prolação nasal . Este fonema não existia no latim nem na língua medieval.
As regras de acentuação gráfica do galego das Normas aproximam-se das do espanhol. Vimos que só existe um sinal gráfico, até para indicar a crase: Fomos á feira; foi ó teatro.
A acentuação das vogais em hiato e a das paroxítonas seguidas de ditongo não segue as regras do português: día, súa, aínda, porém ansia, consecuencia, misterio, etc., palavras foneticamente iguais ou semelhantes a suas equivalentes do português.
Uma característica do galego é a realização fonética do artigo defini-do. Ele liga-se foneticamente ao verbo e separa-se por hífen, como ocorre com o pronome átono no português: Vimo-lo amigo; dixo que ía compra-la casa nova; foron ó aeroportoespera-las visitas.(Vimos o amigo; disse que ia comprar a casa nova; foram ao aeroporto esperar as visitas).
Não nos podemos estender aqui apresentado as características do galego atual. O galego das Normas foi o que se impôs. É a modalidade usada pela mídia e, ao que parece, está sendo aceita pelo geral da comuni-dade de falantes do galego. Apenas para oferecer uma pequena amostra, transcrevemos um artigo do jornalista José Sousa, que escreve semanal-mente no jornal O Correo Galego.
 

A CRUZ DO SUR
O descubrimento real do Brasil

Cóntanme que avanzan a bo ritmo as obras da exposición mundial de Lisboa, dedicada aos océanos, que se vai celebrar en 1998 co gallo do medio milenio transcorrido da chegada de Vasco da Gama á India. Os pavillóns ofrecerán, seguro, aos dez millóns de visitantes previstos, parvadas semellantes ás da Expo de Sevilla e daráselle un aire tan de moderno centro comercial á vella capital que xa non sei se haberá sitio para locais de ambiente sórdido, como o Mascate da Atalaia, no Bairro Alto, onde cantaba fados o des-coñecido Antonio Paiva.
Dentro da promoción do evento, a Comisión Nacional para as Conmemoracións dos Descubrimentos Portugueses, creada polo Goberno lusitano, deulle carácter oficial á tese defendida por un dos seus membros, o profesor da Universidade de Lisboa, Jorge Couto, quen defende algo que se viña sospeitando desde hai tempo: que as terras que hoxe constitúen o Brasil non foron descubertas por pri-meira vez pola flota comandada por Pedro Álvares Cabral, o 22 de abril de 1500, cando avistou o chamado monte Pascoal ao sur do actual estado da Baía.
Segundo o libro deste historiador, “Portugal e a construcción do Brasil” – publicado o ano pasado e do que hai traducción es-pañola -, o primeiro europeo en chegar a terras brasileiras sería Duarte Pacheco Pereira, un xenio da astronomía, navegación e xeo-grafía, e home de absoluta confianza do rei Manoel I, a quen repre-sentou nas intricadas negociacións do tratado de Tordesillas nas que España e Portugal asinaron o reparto do mundo. Entre novem-bro e decembro de 1498, é dicir, un ano e medio antes da expedición de Cabral, Duarte Pacheco tería desembarcado nun punto do litoral localizado aproximadamente na fronteira dos actuais estados de Pa-rá e Maranhao, e de aí seguiría viaxe pola costa norte, entrando mesmo na foz do Amazonas.
Os resultados desa viaxe foron mantidos en secreto porque a terra firme recén descuberta atopábase na área de influencia da co-roa española. Cando o rei Manoel I lles comunicou posteriormente aos Reis Católicos a nova da viaxe de Cabral, fixoo cinicamente e atribuíndoo a un verdadeiro milagre. O descubrimento de Brasil ocorreu pois no contexto da intensa rivalidade entre os dous reinos ibéricos. Malia as evidencias históricas, as conclusións dos investi-gadores non van trastrocar, ao parecer, as solemnes conmemora-cións previstas en Brasil para o ano 2000 nin os plans do Goberno portugués que decidiu comprar e restaurar a casa natal de Pedro Álvares Cabral, en Santarem, que ata este ano viña funcionando como prostíbulo.
José Sousa.  O Correo Galego, 12/02/97 – Edição eletrônica

8. CONCLUSÃO
A publicação das Normas já completou mais de 15 anos e parece que estão sendo acatadas por todos, ou por quase todos os meios galeguistas da comunidade. Não só é a modalidade aceita pelos meios administrativos, como pela mídia e pelos demais meios influentes em geral. Se de início houve setores resistentes, parece que já se renderam à evidência. Hoje em dia existe na Galiza uma emissora de televisão galega, a TVG, que emite em galego, assim como várias emissoras de rádio, uma delas inaugurada recentemente: a Radio Obradoiro. Os jornais diários da Galiza são todos editados em castelhano, com exceção de O Correo Galego, que tem uma edição em castelhano e outra em galego. Este jornal encontra-se também na Internet . Os demais jornais diários da Galiza dedicam algum espaço a tex-tos em galego. Além disso, há várias publicações periódicas que usam o galego ou são bilíngües. Uma das publicações periódicas mais conhecidas e batalhadoras de há longo tempo na defesa do galego é o semanário A Nosa Terra, que se mantém em circulação já há várias décadas. Este semanário aceita colaborações em outras normativas e até em português.
A produção literária destas últimas décadas tem sido muito intensa. As vitrines das livrarias estão repletas de publicações em galego, originais ou traduzidas. O governo autônomo estimula as publicações em galego, mas só aceita a normativa oficial e colabora na sua difusão através de prêmios, subvenções ou outros tipos de estímulos.
Não faltam dicionários atualizados e livros didáticos. Entre outros, o Diccionario Xerais da Língua segue a normativa oficial e atualiza-se cons-tantemente.
No ensino, o galego é obrigatório em alguns cursos e está penetrando cada vez mais em todos os níveis, contudo o castelhano ainda continua dominando em quase todas as áreas. Nos concursos para o magistério e para outras funções públicas da comunidade o galego é matéria obrigatória.
O período de padronização parece que está concluído ou em vias de conclusão. De vez em quando alguém propõe alterações em algum ponto das Normas, mas, por enquanto não há pressão séria para qualquer revisão. O galego usado atualmente pelos meios de comunicação, e o galego escrito em geral, é o galego normativo. Não parece provável que a corrente reinte-gracionista ou qualquer outra possa vir a substituir o galego atual por qual-quer outra modalidade. O problema com que se defronta o galego, assim como muitas outras ou todas as línguas minoritárias, é a globalização. So-mente algumas línguas com projeção internacional estão ganhando terreno. Aos valores culturais e à tradição dos povos que prezam a sua língua e com ela se identificam contrapõe-se o interesse econômico proporcionado ou sugerido pela poderosa máquina globalizadora em um mundo que cada dia se torna mais a aldeia global preconizada por Mac Luhan. A ameaça às línguas consideradas minoritárias não se concretizaria se se adotasse uma língua auxiliar como o esperanto, por não pertencer a país nenhum, e poder servir como língua-ponte entre as demais, porém o que realmente ocorre é que algumas (cada vez menos) grandes línguas nacionais dominam os meios de comunicação internacionais e trazem consigo uma cultura que acaba sendo absorvida pelos demais povos em detrimento de sua cultura autócto-ne. O futuro das línguas que recentemente adquiriram o status de línguas oficiais, como ocorre com o galego, é provável que dependa mais do empe-nho de seu povo em usá-la e da exigência de seu uso em todas as instâncias, do que nos muito propalados impedimentos oficiais. Assim, a sobrevivência ou não do galego como língua viva, e não apenas como curiosidade folcló-rica, irá depender da atitude dos donos da língua.

9. BIBLIOGRAFIA
CUNHA, Celso & CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
DICCIONARIO XERAIS da lingua. Barcelona: Edicións Xerais de Galicia, 1993.
FERNÁNDEZ REI, Francisco. Dialectoloxía da lingua galega. Vigo: Edi-cións Xerais de Galicia, 1990.
GARCÍA NEGRO, María Pilar. O galego e as leis: Aproximación sociolin-güística. Vigo: Edicións do Cumio, 1991
NORMAS ortográficas e morfolóxicas do idioma galego. Vigo: Instituto da Lingua Galega / Real Academia Galega, 1982.
JORNAIS:
A Nosa Terra (Desde 1985)
O Correo Galego (Desde 1997) Edição eletrônica.
Outros