Resumos do II CNLF
A CORRESPONDÊNCIA DE GONÇALVES DIAS HISTÓRIA PESSOAL E OBRA
Matildes Demétrio dos Santos (UFV/UFF)
Gonçalves Dias deixou um vasto material
epistolar, indispensável ao conhecimento em profundidade de sua vida e obra. No
conjunto, suas cartas criam uma ficção de múltiplos aspectos com confissões,
desejos, amores desencontrados, pessimismo e muita angústia. Lá estão também
o cotidiano do Segundo Reinado e episódios que demonstram de que maneira Dom
Pedro II envolvia-se com os poetas brasileiros. Gonçalves Dias, por exemplo,
prestava conta ao Imperador de seu trabalho de pesquisa e tradução na Europa,
onde exercia a função de correspondente literário, informando-o sobre o que
acontecia de novo na Alemanha, Holanda, Inglaterra e Portugal, países que
visitava com freqüência.
Assim, este trabalho dialoga com a intimidade das cartas do grande poeta do
Romantismo brasileiro com o objetivo de melhor compreender sua obra.
A CRÍTICA LITERÁRIA NA BAHIA
Itana Nogueira Nunes (UFBA/UNEB)
Este estudo foi iniciado no primeiro semestre
de 1996, no Mestrado em Letras da Universidade Federal da Bahia, com o objetivo
de efetuar um levantamento do trabalho realizado pelo crítico literário David
Salles (1938-1986) em jornais de Salvador como A Tarde, Diário de Notícias e
Jornal da Bahia, além de jornais de outros Estados como O Estado de São Paulo
e o Minas Gerais Suplemento Literário. Tomou-se, para o trabalho proposto, o
pensamento crítico de David Salles a partir dos seus artigos de crítica
literária publicados em jornais brasileiros, assim como a sua obra de cunho
acadêmico. Para tal reflexão foi preciso, inicialmente, retomar o panorama da
crítica literária no Brasil nas primeiras décadas do nosso século, situando
alguns estudiosos que tiveram papéis decisivos na construção de um perfil da
crítica literária nacional.
A ETIMOLOGIA SEGUNDO SANTO ISIDORO DE SEVILHA
Edison Lourenço Molinari (UFRJ)
Santo Isidoro de Sevilha (562-636), cuja vasta
produção aborda assuntos variados, celebrizou-se através dos séculos,
graças às Etimologias ou Origens. Trata-se de uma enciclopédia do
conhecimento antigo, clássico e cristão, dividida em vinte livros, podendo ser
resumida conforme indicamos a seguir: as sete artes liberais: gramática,
retórica, dialética, aritmética, geometria, música, astronomia (1-3);
medicina (4); leis e divisões do tempo (5); livros e bibliotecas (6); Deus e a
vida religiosa (7); Igreja, heresias e paganismo (8); línguas, povos e
organização familiar (9); etimologias de palavras dispostas em ordem
alfabética (10); o corpo humano (11); zoologia (12); o céu, a terra e as
águas (13); continentes e acidentes geográficos (14); as cidades e os
ambientes rurais (15); mineralogia (16); agricultura (17); atividades bélicas,
jogos e espetáculos (18); embarcações, moradia e vestuário (19);
alimentação, utensílios domésticos e rurais (20).
O autor parte do princípio de que, para a aquisição do saber, é necessário
interpretar as palavras que designam os objetos, porque através da etimologia
dos termos que designam os seres é possível conhecer o universo, em todas as
suas manifestações culturais. No início de sua obra são estabelecidos os
mecanismos que devem orientar a investigação etimológica das palavras. Embora
não desconheça a existência de elementos arbitrários no domínio lexical,
Santo Isidoro mostra-nos que a etimologia pode ser deter-minada pela causa, pela
origem, pelos contrários, pela derivação, por onomatopéia (Etimologias, 1,
29). Este ideal etimológico, entretanto, no decorrer da obra, certamente em
virtude das fontes consultadas, é enriquecido por procedimentos diversos.
A FILOLOGIA ROMÂNICA NA PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS DA UFBA
Célia Marques Telles (UFBA)
A Filologia Românica tem gozado de uma
posição privilegiada na Universidade Federal da Bahia desde o final da década
de 50, graças, como é sabido, aos esforços e ao dinamismo do Prof. Dr.
Nilton Vasco da Gama. É devido a essa situação especial que a Filologia
Românica, na instalação do Curso de Mestrado em Letras em 1976, foi uma das
áreas de Concentração Menor. Com a reestruturação do Curso de Mestrado em
Letras em 1992, passou a ser uma das áreas de concentração da Macroárea de
Estudos Lingüísticos. Reiteradas vezes a CAPES apontou a Lingüística
Histórica como um dos aspectos fortes da Pós-Graduação em Letras da Bahia,
área em que se inserem os estudos de Filologia Românica. Tal fato levou a uma
nova e revolucionária reestruturação da Pós-Graduação em Letras em 1995. A
partir de então, os Cursos de Doutorado em Letras e de Mestrado em Letras
oferecem duas linhas de pesquisa diretamente ligadas ao ensino da Filologia
Românica, a de Mudanças Lingüísticas na România e a de Crítica
Textual. Esta configuração tem feito do Instituto de Letras da Universidade
Federal da Bahia um polo formador em Filologia Românica.
A FORMAÇÃO DE NOVOS ITENS LEXICAIS NO PORTUGUÊS ESCRITO CONTEMPORÂNEO DO
BRASIL A PARTIR DE PEREGRINISMOS
Isabel Aparecida de Souza Stamato (UNESP)
Os peregrinismos são itens lexicais
provenientes de uma língua A e que estão em vias de se instalar numa língua
B. É a fase neológica do item lexical, é a fase da difusão, na qual poderá
ser ou não aceito pelos falantes. Diferenciamos peregrinismos, segundo DEROY
(1956), de empréstimos (GUILBERT, 1975). Nesse último, o item lexical já faz
parte da língua acolhedora, ou seja, já se encontra desneologizado. Buscamos
para esse estudo um corpus constituído das revistas Veja e Isto É durante os
anos de 1995 e 1996. Utilizamos como critério neológico o não registro nos
dicionários: AURÉLIO (1986), MELHORAMENTOS (1990) e BIDERMAN (1992); e os
propostos por GUILBERT (1975), que são os critérios: (i) morfossintático, (ii)
fonológico, e (iii) semântico; uma vez que, como lembra REY-DEBOVE (1978), a
fronteira se um item lexical é ou não de uma dada língua é extremamente
frágil, pois o léxico pertence ao sistema aberto da língua. Ainda, reportando
o mesmo lingüista, partimos do fato de que toda frase faz parte de uma dada
língua, ou seja, é uma comunicação completa e possui uma morfossintaxe
própria. Desse modo, todo item lexical neológico que for diferente dessa
língua será analisado por nós.
A GÊNESE DE UM POEMA
Afrânio da Silva Garcia (UERJ)
Apresentação, palavra por palavra, verso por
verso, estrofe por estrofe, a maneira como foi criado o poema “Filhos da
Omissão”, que teve como inspiração as crianças de rua. A relação
entre a realidade e o processo criativo, a forma como uma palavra faz evocar
outra, através das relações sintagmáticas e paradigmáticas, a persistência
da memória, o processo de revitalização de clichês e de deslocamento
sintático como fatores determinantes da criação poética.
A valorização que o poeta faz da poesia conteudista em detrimento da poesia
puramente formal.
A GEOGRAFIA LINGÜÍSTICA
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV/UERJ)
1. A Geografia Lingüística: história e
desenvolvimento.
2. Geografia Lingüística e Dialetologia – Atlas Lingüísticos – Cartas
Lingüísticos – Palavras e Coisas – Onomasiologia.
3. Atlas Lingüístico Nacional – Estadual – Municipal – Um projeto de
Atlas Lingüístico Municipal em elaboração.
A HIPÓTESE NAS LÍNGUAS PORTUGUESA E LATINA
Mônica Alvarez Gomes das Neves
O presente trabalho tem por objetivo discutir e
apresentar algumas da formulações hipotéticas nas línguas portuguesa e
latina.
Para tanto, lançou-se mão de textos atuais em português e prescrições
gramaticais vistas em gramáticas latinas e, ainda, exemplos literários em
latim para constituir o corpus.
Algumas das análises propostas nesta oportunidade constam em um subcapítulo da
dissertação de mestrado da autora, cujo título é “O Se hipotético e o
editorial jornalístico”, defendida na Faculdade de Letras da UFRJ.
As conclusões a que se chegou apontam o caminho percorrido até hoje e as
tendências futuras da gramática do português no que se refere à
explicitação da formulação do raciocínio hipotético.
A INTERFACE PROSÓDIA-MORFOLOGIA E O MODELO DA FONOLOGIA LEXICAL
Carlos Alexandre Gonçalves (UFRJ)
Nesta comunicação, pretendo analisar a
conexão Prosódia-Morfologia e, para tanto, tomo por base o modelo da Fonologia
Lexical (cf. BOOIJ & RUBACH, 1987). A discussão sobre o lugar do
acento de palavra (se no léxico ou fora dele) e a proposição de um
não-isomorfismo entre estruturas fonológicas e morfológicas constituem os
principais objetivos da exposição. Para tanto, observo a regra de
neutralização da vogal não-acentuada em português, verificando se há
restrições morfoprosódicas atuando como bloqueio.
Em português, as vogais médias de primeiro grau ([?]) e ([?]) só podem
ocorrer em sílabas acentuadas. Por essa razão, encontra-se alternância
entre n[?]va e n[o]vata. Itens lexicais como n[?]víssima e n[?]vamente,
entretanto, apresentam [?] em posição pretônica. A fim de explicar essa
excepcionalidade, pretendo caracterizar o acento como propriedade da palavra
prosódica e, com isso, considerar determinados afixos como palavras prosódicas
independentes.
A exposição intenta mostrar que há hierarquia de constituintes prosódicos no
léxico, sendo esses constituintes motivados pelo não-isomorfismo entre a
Fonologia e a Morfologia. Com isso, evidencio que a palavra prosódica
não é necessariamente isomórfica em relação ao output do componente de
formação de palavras e que o acento em português afigura-se como regra
lexical cíclica.
A INTERTEXTUALIDADE NO TRATADO MEDIEVO CASTELO PERIGOSO
João Antônio de Santana Neto (UCSal/UNEB)
Era corrente na elaboração de textos
medievais a utilização, muitas vezes não marcada, de fragmentos pertencentes
a outros textos. Pretendemos apresentar uma amostragem da intertextualidade
presente no tratado ascético-místico Castelo Perigoso, contido nos códices
alcobacenses 199 e 214 da Biblioteca Nacional de Lisboa. Tomaremos como
referencial teórico a corrente francesa da Análise do Discurso.
A INVESTIGAÇÃO DO LÉXICO
Rosires Picarelli (UNIBAN)
Esta sessão apresenta trabalhos que envolvem o
estudo do léxico na Iniciação Científica da UNIBAN. Atualmente,
contamos com três trabalhos ligados à lexicologia, um voltado para a linguagem
específica de dois es-portes de quadra, voleibol e basquetebol. Os dois
outros refletem a busca da análise do texto literário, no que tange às
palavras-tema usadas pelo au-tor. Esses dois últimos utilizam o método
da lexicologia computadorizada, no emprego do programa Tact.
A LINGUAGEM DO PODER E O PODER DA LINGUAGEM:
LIMA BARRETO E A LÍNGUA PORTUGUESA
Maurício Pedro da Silva (USP)
O presente ensaio aborda a ideologia
lingüística presente na produção literária de Lima Barreto, por meio de um
discurso metalingüístico. Com efeito, a perspectiva lingüística adotada por
Lima Barreto revela o poder absoluto da linguagem, que é utilizado pelo
romancista na luta contra os preconceitos sociais e lingüísticos.
Tendo como fundamento metodológico conceitos retirados tanto da Análise do
Discurso quanto da Historiografia Lingüística, nosso ensaio trata ainda da
presença do estilo academicista, do purismo lingüístico e do preciosismo
gramatical na linguagem pré-modernista brasileira.
A NOITE MUDOU DE PERFUME UM PASSEIO PELA RETÓRICA DA IMAGEM
Márcia Atálla Pietroluongo (UFRJ)
Os fenômenos de polivalência e polifonia que
regem as leis da retórica da linguagem verbal podem ser encontrados igualmente
na linguagem icônica, uma vez que a comunicação e a significação obedecem a
leis gerais que independem de um campo específico de manisfestação.
Manifestam-se, pois, na Imagem, diversos procedimentos retóricos, tais como
metáforas, metáforas literalizadas, metonímias, sinédoques, entre
outros. O presente trabalho tem como objeto o estudo do funcionamento
retórico da publicidade do perfume francês Sinam, veiculada na revista Marie
Claire, salientando os efeitos nela produzidos.
Tratando-se de uma prática social cuja significação é intencional, a imagem
publicitária, aliada ao texto que de forma geral a acompanha, está a serviço
de várias formações ideológicas. Essas formações tentam responder
aos anseios dos diversos públicos que procuram atingir e ancoram-se em valores,
atitudes, representações almejadas por estes.
A ORDEM DOS CLÍTICOS EM DIACRONIA
Roberta Lelis de Aguiar (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
As gramáticas tradicionais apresentam os
clíticos em três posições, explicadas como variação condicionada por
fatores intralingüísticos.
Com base nessa visão tradicional e com o conhecimento de falante nativo da
língua portuguesa, demos início à investigação, buscando outros fatores
lingüísticos, mas também extralingüísticos, que pudessem dar conta de
explicar a mudança de hábitos dos falantes do português do Brasil quanto ao
uso desses elementos.
Na fase inicial, a mais trabalhosa, constituímos o corpus diacrônico com o
qual iríamos trabalhar, e alguns documentos mais antigos ainda são
necessários ao nosso acervo para esta análise. Concluído, em parte, esse
levantamento, detemo-nos mais incisivamente na análise dos dados do século XX.
Esses dados foram selecionados em cartas da correspondência passiva de Clarice
Lispector, cartas da correspondência passiva de Fidelino de Figueiredo, cartas
trocadas entre Manuel Bandeira e Mário de Andrade e redações de alunos
universitários da década de 90.
O tratamento dos dados seguiu a metodologia proposta pela Teoria da Variação e
Mudança, de William Labov, e as hipóteses levantadas deram origem aos
seguintes grupos de fatores: faixa etária, sexo, grau de escolaridade, tipo de
documento, pessoa gramatical.
A ORGANIZAÇÃO ARQUIVÍSTICA DOS DOSSIÊS PREPARATÓ-RIOS DAS LETRAS GALEGAS
PERTENCENTES AO ESPÓLIO DE GODOFREDO FILHO
Zeny Duarte de Miranda Magalhães dos Santos (UFBA)
Paula Magalhães de Lima (UFBA)
O Acervo de Manuscritos Baianos (AMB) da
Universidade Federal da Bahia reúne arquivos privados de escritores baianos e
os documentos de Instrução Pública da Comarca de Santo Amaro. O trabalho ora
apresentado conta com o apoio da CAPES e do CNPq e objetiva versar sobre a
organi-zação do espólio de Godofredo Filho pertencente ao AMB, mais
especifi-camente, sobre a existência nele de um dossiê preparatório que trata
de es-tudos galegos na produção literária do poeta baiano e que será motivo
da demonstração do processo de organização arquivística do seu espólio.
Este processo vem sendo realizado a partir da organicidade própria do escritor
titular do espólio. O espólio de Godofredo Filho possui uma multiplicidade
temática na qual as letras galegas mereceram, por parte do poeta, destaque
especial e, por isso, foi escolhido o resultado da sua análise e descrição
para a exposição neste Congresso. Aliado a esse processo contemporâneo
inter-disciplinar, as referências sobre as letras galegas avançarão em
aspectos que dizem respeito às etapas de organicidade deste espólio, sem as
quais se mostra impossível a preservação de uma memória cultural.
A RELAÇÃO DE BILINGÜISMO ENTRE AS LÍNGUAS GALEGA E CASTELHANA
Valéria Gil Condé (USP )
O objetivo desse estudo é o de analisar
e investigar a legitimidade da lei que, a partir de 1978, na Constituição
Espanhola, dividiu o estado espanhol em comunidades autônomas e garantiu ao
galego e ao castelhano a condição de línguas oficiais da Galiza. Como se
comporta uma população que possui mais de 76% de galego-falantes, e, que, por
mais de seis séculos, aprendeu que a língua do estado era-lhes estranha e bem
diferente da sua norma regional? Existe uma situação de igualdade e que
incentivos são dispensados a essa população para usar uma ou outra língua?
Quais estímulos e receptividade social estarão sendo dispensadas à língua
galega? Será que a oficialidade corresponde à realidade, se nessa convivência
bilingüe entre as línguas galega e castelhanas, existe o cultivo, respeito e
preservação da identidade da norma regional; ou o castelhano continua sendo a
língua de promoção social, ficando o galego circunscrito à oralidade?
A SEMIÓTICA DO TEXTO
Marindir Pinto Simões (UERJ/SUESC)
Hipótese principal: Transferência dos
esquemas semióticos de leitura para qualquer atividade relativa à
produção/compreensão de textos.
Propõe-se a formulação de uma metodologia de trabalho com o texto apoiado na
pedagogia da imaginação, fundada nas capacidades de percepção imanentes ao
seres animais (cf. NÖTH, 1995: 147). A saber, pretendemos demonstrar a
cada aprendiz as suas potencialidade imaginativas enquanto possibilidade de
aprendizagem geral, a partir do que buscamos encorajá-lo para o enfrentamento
dos atos de interação comunicativa (de leitura ou de produção textual, posto
que entendemos que a leitura é, em última análise, uma co-produção).
Voltamo-nos ainda para a comprovação da multiplicidade do potencial semântico
dos códigos, dos textos e dos leitores, para a plurissignifica-ção imanente
aos signos e captável pelos leitores. Portanto, evocamos a teoria
peirceana da semiose ilimitada, onde cada signo cria um interpretante que,
por sua vez, é representâmen de um novo signo, a semiose resulta numa “série
de interpretantes sucessivos”, ad infinitum. (CP 2.303, 2,92 — Apud NÖTH,
1995b: 74). A conseqüência disto é uma leitura abundante, plural, ainda que
correspondente aos limites da contextualização do sinal.
Nossa proposta metodológica de encaminhamento da leitura na esteira da
iconicidade sustenta-se na convicção peirceana de que qualquer signo, mesmo o
mais convencional, é apreendido em primeira instância como ícone, isto é,
como impressão qualitativa de sua qualidade concreta (SANTA-ELLA, 1996: 152),
ou seja, é percebido em sua “materialidade”. Partiremos da premissa de que
o texto (produzido em qualquer código) é uma imagem perceptível e
interpretável.
A TENSIVIDADE NO RITUAL DE UMBANDA
Sílvio de Santana Júnior (UNESP)
Através da Teoria Semiótica de
A.-J. Greimas, faremos uma abordagem no ritual de Umbanda, enfocando o aspecto
tensivo do transe e o ritmo ritual. Esse culto se caracteriza pelas danças,
pelos toques de tambores (atabaques) e pelos pontos cantados executados pelos
ogãs, onde ante-passados divinizados, reconhecidos pelo dualismo Santo-Orixá,
se manifestam através do transe mediúnico.
À medida que a gira se desenrola no tempo e no espaço, o fazer da
mãe-de-santo transforma os estados. Deste vir-a-ser constante no transcurso da
seqüências rituais do culto Umbanda resulta o movimento que nos permite
apreender, num dado momento, o ser do sujeito que, por sua vez, só se constitui
semioticamente nos enunciados de estado em junção com os obje-tos de valor.
Na segmentação da gira, nomeamos as seqüências resultantes, como um resumo
aproximativo de ordem temática, decompostas uma por meio de dêiticos
temporais, a outra por denominações temporais: antes-rituais preliminares;
durante invocação/transe; depois-encerramento.
Essas seqüências são marcadas por gritos de saudação proferidos pela
dirigente que, por sua vez, são respondidos pelos filhos-de-santo - e
até mesmo pelo público. Esta modalização factitiva enquanto fazer cognitivo
procura incitar-lhes o fazer somático (resposta verbal, palmas, rufo de tambor)
com a finalidade de transmitir o objeto-valor /bem-estar/ ao público por meio
do transe.
A TRANSIÇÃO LATIM-ROMANCE EM ALGUMAS LÍNGUAS
ROMÂNICAS
Antônio Hauila (UFRJ)
A coexistência lingüística latim-romance em
alguns textos românicos considerados pioneiros. As marcas que o idioma
etimológico gravou na ainda frágil e nascente lexicologia das línguas
emergentes; suas vitórias e derrotas na irradiação de ditongos, na coesão e
significado de lexemas e na transformação e perpetuidade de étimos mais
antigos.
A VARIAÇÃO DE USO TÁ / ESTÁ NO PORTUGUÊS POPULAR
Roseli da Silva (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
A língua popular é muito rica em estruturas e
é considerada por muitos estudiosos, a exemplo de Coutinho (1962), uma
variedade que possui lado a lado arcaísmos e formas inovadoras. No
sentido de investigar o uso variável de tá/está nessa variedade de língua,
gravamos entrevistas com idosas em asilos na zona Norte de São Paulo, seguindo
a metodologia da Sociolingüística Quantitativa.
O propósito deste trabalho foi o de investigar o uso de estar e sua forma
alterada por aférese tá no português falado por idosas analfabetas
paulistas. Sendo essas falantes moradores de asilos e não recebendo a
in-fluência social natural em situações interativas cotidianas, os usos
estariam menos impregnados de modismos. Uma vez que o texto analisado é
narrativa de experiência pessoal, o uso de primeira e terceira pessoas do
singular era esperado em freqüência relativamente alta.
Com os dados em mãos e constatando que essa variação ocorria, selecionamos os
seguintes grupos de fatores para análise: pessoa, tempo e presença do sujeito.
A VOZ GOVERNAMENTAL NA MÍDIA IMPRESSA: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA
Décio Orlando Soares da Rocha (UERJ)
Maria del Carmen F. González Daher (UERJ)
Cláudia da Conceição Santos (UERJ)
Mônica de Castro Guimarães (UERJ)
O presente trabalho tem por objetivo central a
análise do papel desempenhado pela mídia impressa na formação / informação
do público leitor. O horizonte teórico no qual nos situamos é o da
Análise do Discurso em sua versão francesa, com destaque à problemática
enunciativa.
Como corpus de análise, optamos por averiguar de que modo a voz governamental
surge nesse contexto, através do estudo do discurso sobre a votação da
previdência pronunciado recentemente pelo presidente Fernando Henrique Cardoso,
em função da derrota do governo na votação. O referido discurso foi
publicado na íntegra pela Folha de São Paulo de 07/05/98.
Buscamos na teoria polifônica de Ducrot argumentos de base teórica
relacionados aos seguintes conceitos pertinentes ao estudo: marcas de pessoa
(entendidas como lugar por excelência da inscrição do sujeito em sua
produção discursiva), distância entre “locutor” e “enunciador”,
negação descritiva / negação polêmica.
As noções de marcas de pessoa e a distância entre locutor e enuncia-dor nos
pareceram importantes pistas de pesquisa pelos seguintes motivos: primeiramente,
percebemos que o presidente utilizava diferentes marcas de pessoa (ora “eu”,
ora “nós”) em momentos diversos, o que nos levou a questionar o sentido de
tal variação; em seguida, constatamos que este locutor em primeira pessoa
colocava em cena diferentes enunciadores, incluindo-se mesmo a voz de seus
adversários políticos.
Além disso, reconhecer o valor de um “não polêmico” na atualização de
um discurso permitiu-nos também explicar o choque de pelo menos duas atitudes
antagônicas: o ponto de vista assumido pelo locutor e o ponto de vista que este
se propunha a combater, a saber, o de seus opositores no campo político.
ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA UM ENFOQUE DA GRAMÁTICA PORTUGUESA
Walmírio Eronides de Macedo (UERJ)
O palestrante tem como objetivo principal de
sua palestra, como o próprio título indica, apresentar pressupostos teóricos
para uma gramática da língua portuguesa. Dessa forma, depois de uma pequena
introdução sobre a necessidade do ensino da gramática, ressalta a
importância de uma metodologia, defendendo o que Hjelmslev chama de
"exigência metodológica".
Essa exigência metodológica implica a discussão de vários pontos da maior
importância como a confluência e o choque sincronia versus diacronia.
Nesse aspecto, a posição de Bernard Pottier muito relevante.. A seguir, mostra
as três posições diante das quais o estudioso da língua tem de fazer a sua
opção para construir a sua gramática. O que é condenável é não ter
posição alguma, ou misturá-las no tratamento do "fato" gramatical.
Nesse caminho, reflete sobre uma possível metodologia que deve orientar uma
visão gramatical. Segue numa reflexão sobre alguns enfoques da gramática
tradicional, especialmente no plano da sintaxe. O problema do conteúdo das
vozes verbais é apresentado para uma discussão metodológica.
O enfoque binário no estudo gramatical faz parte, entre outras coisas, da
exposição dos pressupostos.
ALGUNS PRONOMES DO XAVANTE
Edna Maria Fonseca da Costa (UFRJ)
O presente trabalho tem como finalidade
dissertar sobre os pronomes existentes na língua Xavante (tronco Macro-Jê).
E sabido que as línguas são classificadas segundo a sua referência
a pessoa, constituindo a relação das pessoas propriamente a
conjugação.
O material referente a esse campo de estudo, que foi utilizado para
análise, foi retirado dos arquivos do Museu Nacional.
ALUÍSIO AZEVEDO: A LITERATURA QUE VIVE
Afrânio da Silva Garcia (UERJ)
Uma análise da obra de Aluísio Azevedo em
contraste com a obra de Machado de Assis: enquanto esta pondera sobre a
realidade, aquela mergulha na realidade de uma maneia sensível e
comovente. Aluísio Azevedo foi o primeiro autor brasileiro importante a
fazer laboratório, a discorrer sobre o lesbianismo, a debater o amor
livre. A estilística vivaz: Aluísio Azevedo lança mão de uma multitude
de recursos estilísticos para embelezar e realçar a narrativa,
transformando-nos de meros espectadores em participantes ativos e emocionados da
estória. Apresentação de alguns dos trechos mais belos e significativos
da obra de Aluísio Azevedo.
ANÁLISE COMPARATIVA DA ESTRUTURA FLEXIONAL DO PLURAL NO INGLÊS E NO PORTUGUÊS
João Bittencourt de Oliveira (UERJ)
O presente trabalho tem por objetivo realizar
uma análise comparativa da estrutura flexional do plural no inglês e no
português. Como se sabe, o inglês e o português têm origens
diferentes: o português desenvolveu-se do latim vulgar da Península Ibérica;
o inglês, por sua vez, resultou da contribuição de línguas faladas por
vários povos, dentre eles os anglos, os saxões e os juntos que invadiram as
Ilhas Britânicas a partir do século V, onde se falavam línguas da família
céltica. Em diversas fases de sua história, o inglês recebeu
influência também do latim, em maior escala no léxico e na morfologia e em
menor escala na sintaxe.
No português, o plural é indicado pela desinência –s ou –es que
representa a terminação do acusativo latino. O inglês, porém, ao lado
do plural regular em –s ou –es, conservou, por razões históricas,
inúmeros vocábulos que fogem a essa regra geral e simplificada.
Daremos tratamento especial aos seguintes itens:
1. Substantivos invariáveis no singular.
2. Substantivos invariáveis no plural:
? Summation plurals
? Pluralia tantum
3. Substantivos não-marcados no plural.
4. Plurais irregulares:
? Mutação vocálica
? Plural em –en
? Plural zero
? Substantivos eruditos de origem estrangeira (gregos e lati-nos).
5. Razões históricas das formas irregulares.
ANÁLISE SEMÂNTICA DO LÉXICO DO SERINGUEIRO DO VALE DO RIO ACRE
Antonieta Buriti de Souza (USP)
O objetivo deste trabalho é estudar cinco
palavras pertencentes ao léxico especializado do seringueiro do Vale do Rio
Acre, segundo o método onomasiológico. O corpus desse estudo foi
constituído de quarenta e cinco entrevistas gravadas com os seringueiros
acreanos. O desenvolvimento deste trabalho restringiu-se a estudar
palavras pertencentes ao universo do vocabulário usado pelos seringueiros,
tanto na produção da borracha quanto na coleta da castanha. Para isso,
buscou-se a etimologia do vocabulário, a forma em algumas línguas românicas,
as acepções apresentadas em dicioná-rios dessas línguas, bem como a
acepção corrente nos pontos de pesquisa. A título de ilustração, mostrou-se
parte de depoimentos dos informantes. Ao lado de algumas palavras, são
apresentadas fotos que servem para ilustrar e auxiliar o entendimento da
formulação dos conceitos.
ANOTAÇÕES SOBRE O ESTILO DO “POEMA EM PROSA” DE JOSÉ DE ALENCAR
Kátia Vitória Santos (UFRJ)
A publicação de Iracema (1865) encontra o
Brasil em um contexto histórico propício à fundação de um mito nacional,
ainda necessário à consolidação literária e ideológica da Independência
política frente a Portugal. Experimentando uma nova forma de fazer literatura,
Alencar utiliza recursos estilísticos que singularizam a obra por sua
brasilidade e por seu caráter poético. Pretendemos verificar como a
preocupação com a nacionalidade, através desses recursos, faz-se presente em
Iracema.
AO VENCIDO, ÓDIO OU COMPAIXÃO; AO VENCEDOR, AS BATATAS
Maria Thereza de Sulima
Estamos em plena campanha eleitoral.
Convém relembrar a origem da palavra candidato, presente nas línguas
românicas, anglo-saxônicas e eslavas – ‘aspirante a um cargo eletivo’ (‘vestido
de branco, de puras intenções’).
A criatura humana aspira, em geral, a uma situação melhor. O pleito de
outubro é uma tentação para alguns, pois “os cargos são finitos, mas a
vontade de ocupá-los é infinita”, nas palavras de Inocêncio de Oliveira.
ARTIFÍCIOS POÉTICOS NA LATINIDADE DOS SÉCULOS XI E XII
Edison Lourenço Molinari (UFRJ)
Apresentaremos sucintamente as características
próprias do verso hexâmetro datílico, que atingiu plenamente suas formas
medievais a partir do século XI. Os estudos latinos aprofundaram-se cada vez
mais, de modo que mestres e alunos chegaram a possuir todos os requintes da
língua culta, tornando-se a perfeição lingüística um dos traços
característicos da literatu-ra latina no século XII. No que respeita à
estrutura melódica do hexâmetro, o virtuosismo versificatório dos professores
envolvia o léxico, a morfossin-taxe e os esquemas rímicos. Assinalamos abaixo,
dentre outros, os seguintes tipos de versos nos séculos XI e XII:
a) rapportati – versos cujos termos sintáticos equivalentes são agrupados
entre si;
b) aequivoci – dispostos em dísticos, admitem leitura horizontal ou vertical,
mas de sentidos contrários;
c) leonini – versos cujos hemistíquios rimam entre si;
d) caudati – versos onde só as palavras finais formam rimas;
e) collaterales ou concatenati – apresentam rimas cruzadas do tipo abab;
f) cruciferi ou crucifixi – apresentam rimas cruzadas do tipo abba;
g) unissoni ou quadrigati – são dois hexâmetros que formam rimas do tipo
aaaa;
h) trinini ou salientes – apresentam rimas nas cesuras pentemímere e
heptemímere, além da rima final;
i) tripartiti dactylici – apresentam rimas entre o segundo e o terceiro pé e
entre o quarto e o quinto pé;
j) adonici – são versos divididos pelas rimas em três partes iguais;
k) serpentini ou decisi – apresentam rimas entre a última palavra de um verso
e a primeira do verso seguinte.
ARTIMANHAS DO TEXTO PUBLICITÁRIO: LEITURAS SEMIÓTICAS E SIGNOS DA
DESCONFIANÇA
Darcília Marindir Pinto Simões (UERJ/SUESC)
Publicidade ou propaganda: um ato perlocutório. Perlocução: linguagem e ação. Relações de poder entre emissor e receptor. Semiótica e pragmática na interpretação de textos. O texto para além da palavra. Leitor semântico e leitor semiótico. Pistas de decifração do texto publicitário. Na trilha do signo da desconfiança.
Definir publicidade ou propaganda à luz dos
atos de fala, enfatizando o ato perlocutório e a capacidade de um ato de fala
produzir efeitos sobre o receptor. Examinar tais efeitos de um ponto de vista
semiótico-pragmático, observando o diálogo entre signos verbais e
não-verbais na produção do texto e na indução das leituras e dos
comportamentos, materializando a margem de previsibilidade das reações do
receptor-médio. Distinguir os leitores-modelo ingênuo (semântico) e
crítico (semiótico), discutindo-lhes reações potenciais ante textos
publicitários. Apontar sinais textuais que possam funcionar como guia-mapa de
interpretação, ao mesmo tempo que possam sugerir leituras diversas da
pretendida pelo emissor, promovendo assim a desconstrução do texto projetado
em benefício de um texto crítico que possa minimizar a eficácia das
artimanhas do texto publicitário.
AS CONCEPÇÕES DOS ALFABETIZANDOS SOBRE A ESCRITA: ANÁLISE DE CASOS
Rosimeire Aparecida Montezelli (UNESP)
A heterogeneidade, observada na aprendizagem de
alunos de uma primeira série do ensino fundamental da cidade de Araraquara,
revela diferentes fases evolutivas na aquisição da língua escrita em
alfabetizandos.
Através da coleta e análise (sob o enfoque lingüístico) de dados –
anotações de exercícios realizados pelos alunos tanto na sala de aula, quanto
de trabalhos feitos em folhas avulsas – é visível que, embora quase todos os
alunos associem o som à letra, alguns já representam cada segmento sonoro da
palavra (escrita alfabética) e outros, no entanto, não representam todos os
segmentos sonoros (apenas os mais relevantes).
A importância desta análise está diretamente ligada à necessidade que o
professor alfabetizador tem em conhecer a estrutura da língua de maneira
específica e, desta forma, mediar os processos de aquisição da língua
escrita pelo aluno, auxiliando-o.
AS MÚLTIPLAS FACES DAS PARTÍCULAS CI E NE
Alcebíades Martins Arêas (UERJ)
A ausência de uma classificação morfológica
fixa para as partículas Ci e NE representa um grande obstáculo para o
aluno brasileiro que estuda a Língua Italiana. Isto se deve ao caráter
plurissignificativo das partículas que ora funcionam como pronomes, ora como
advérbios, ora são um simples pleonasmo ou uma partícula fônica ou
expletiva. Por outro lado, não conhecendo a categoria ou espécie a que
pertencem as partículas, não será possível para o tradutor identificar a sua
função em um determinado contexto da língua-alvo.
Procuramos mostrar, através de exemplos extraídos do romance Il barone
rampante de Ítalo Calvino e suas respectivas traduções para a Língua
Portuguesa, que os procedimentos oblíquos: a adaptação, a equivalência e a
transposição são os mais eficazes para a tradução das partículas CI e NE.
Um estudo comparativo das línguas neolatinas nos levaria à constatação de
que, entre elas, há muitos pontos convergentes e divergentes, sobretudo em
relação ao léxico e à morfossintaxe
Comparando o português e o italiano, no tocante à formação de número,
observamos que a marca de plural da primeira tem sua origem no acusativo latino
enquanto a segunda herdou a terminação do nominativo.
AS PROPAROXÍTONAS NOS REGISTROS GEOLINGÜÍSTICOS
Maria do Socorro Silva de Aragão (UFC)
A tradição gramatical utilizada pela língua
culta distingue, nitidamente, palavras proparoxítonas das paroxítonas.
Contudo, trabalhos específicos sobre o uso das proparoxítonas na linguagem
não-padrão demonstram uma tendência para a modificação dessa tradição.
Embora quantitativamente sejam menos numerosas que as paroxítonas e oxítonas,
no acervo lexical do português, as proparoxítonas têm merecido atenção
especial dos estudiosos da língua portuguesa.
Ao analisarmos, mesmo numa fase preliminar, o corpus de atlas lingüísticos
publicados no Brasil: Atlas Prévio dos Falares Baianos, Esboço de um Atlas
Lingüístico de Minas Gerais, Atlas Lingüístico da Paraíba, Atlas
Lingüístico de Sergipe e Atlas Lingüístico do Paraná, percebemos essa
tendência.
Os falantes dessas regiões, num processo normal de economia da linguagem,
transformam as palavras proparoxítonas em paroxítonas, acarretando, deste
modo, uma redução das proparoxítonas nesse registro de fala.
Questões diversas são colocadas quanto às causas dessa transformação.
Seriam apenas fonético-fonológicas? Léxicas? Morfológicas? Teriam
implicações diatópicas ou diastráticas?
Esses são aspectos que nos levam a ir mais profundamente ao assunto.
ASPECTOS COMPARATIVOS ENTRE O ESPANHOL E O PORTUGUÊS
Alfredo Maceira Rodríguez (UERJ/UCB)
Comparação do quadro vocálico de ambas as
línguas. Semelhanças e diferenças nos fonemas consonantais. Semelhanças e
diferenças morfológicas e vocabulares. Paradigmas verbais. Evolução
semântica diferente em alguns itens lexicais. Diferenças sintáticas: emprego
dos pronomes átonos em início de frase, nos futuros, etc. Comparação de
pequenos textos.
ASPECTOS DA FALA RURAL DA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS ASPECTOS LEXICAIS:
LÉXICO RURAL
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV/UERJ)
Pesquisa realizada em 1990 na Microrregião de Viçosa forneceu da-dos para este
trabalho. São dados da fala rural, tirados especialmente das descrições
que os informantes faziam das doenças que atingem as criações e culturas
agrícolas nas propriedades rurais. Foram realizadas mais de 210
entrevistas nas propriedades rurais dos 20 municípios da microrregião.
Nelas os informantes davam os nomes das doenças que ali ocorriam e, a seguir,
descreviam como elas se manifestavam. O objetivo maior foi a busca do
léxico das doenças para a elaboração de um glossário popular-técnico e
técnico-popular para uso dos que se dedicam às ciências agrárias, visando
uma maior interação entre a linguagem técnica e a popular rural. Ao
lado do léxico das doenças, as descrições fornecem, ainda, uma riqueza muito
grande de informações referentes a outros aspectos lexicais bem como
morfológicos, sintáticos e fonéticos. Neste trabalho serão enfocados
alguns aspectos lexicais que despertaram maior atenção ao apresentar variantes
fonéticas como arrepiar, arripiar, arrupiar, re-piar, ripiar, rupiar, dentre
outros, como o comportamento das líquidas –l e –r, final de sílaba.
AS VÁRIAS VERSÕES DO “DIÁRIO ÍNTIMO” DE GODOFREDO FILHO: UMA
APRESENTAÇÃO
Elizabeth Hazin (UFBA)
O presente trabalho é uma tentativa de delinear um perfil intelectual do poeta
baiano Godofredo Filho, através da compreensão de sua postura diante do
diário que escreveu ao longo de cinqüenta anos, no período que vai de 1932 a
1987. Tal diário traz impressas as marcas de seu desejo de alterar a
própria natureza de um texto que se quer íntimo, em espelho ideal naquele que
o escreve. O estudo da gênese desses fólios pode, assim, apontar na
direção do “escritor” que deveria – segundo ele próprio - ser
apresentado a seus leitores.
Este trabalho surgiu no interior de um projeto de pesquisa intitulado Godofredo
Filho: o itinerário da poesia, o qual pretende reconstituir a biografia do
poeta através de seus diários, cadernos de viagem, correspondência, recortes
de jornais e periódicos, material iconográfico (fotografia e desenhos),
depositados – hoje – no Acervo de Manuscritos Baianos do Instituto de Letras
da Universidade Federal da Bahia.
ASPECTOS DA FALA RURAL DA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS ASPECTOS SINTÁTICOS:
CONCORDÂNCIA E COLOCAÇÃO
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV/UERJ)
Além dos dados fornecidos pela pesquisa
lexical, na busca de nomes de doenças de criações e culturas agrícolas,
realizada na Microrregião de Viçosa (MG), os dados das descrições das
doenças, feitas pelos informantes, apresentam aspectos relevantes quanto à
sintaxe de concordância e co-locação. Será enfocado, neste trabalho, alguns
aspectos da (dis)concordâncias verbal e nominal e colocação de termos na
oração, encontrados em mais de 21o propriedades rurais, espalhadas nos 20
municípios pesquisados da Microrregião de Viçosa. (Esta pesquisa se
estende, atualmente, às outras seis microrregiões da Zona da Mata de Minas
Gerais, elaborando o respectivos Atlas Lingüísticos Municipais Rurais).
33. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A LÍNGUA ALEMÃ NA IDADE MÉDIA: REPERCUSSÕES
NOS TEXTOS LITERÁRIOS
Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)
A partir da utilização de textos em
antigo-alto-alemão e médio-alto-alemão intentar-se-á fazer um estudo
evolutivo do léxico e da gramática alemã, tomando como pontos principais de
análise a evolução fonética, morfológica e semântica dos vocábulos até a
sua forma hodierna. Paralela-mente a esse procedimento metodológico,
salientar-se-á a beleza e riqueza da produção literária medieval em língua
alemã.
CAMINHOS E DESCAMINHOS DA TRADUÇÃO
Amarilis Gallo Coelho (UFRJ)
Inúmeras e infindáveis são as
considerações a serem feitas sobre o percurso da tradução, diante das
dificuldades de adaptação entre o texto de partida e o texto de chegada, em
diferentes contextos histórico-culturais, em espaços e tempos diversos. A
tradução, como saída e limite à criatividade do tradutor, deve manter o
equilíbrio entre a crítica e a cumplicidade, caminho este que leva à verdade
textual.
Portanto, como sabemos, a tradução deve ser definida com precaução, como uma
operação de sucesso relativo, variando de acordo com os níveis de
comunicação por ela atingidos. Nunca será impossível traduzir, apesar da
experiência pessoal ser incomunicável em sua unicidade e as peculiares “visões
do mundo” dificultarem o contato entre diferentes sociedades.
Discorrendo assim sobre tradução, corremos sempre o risco do lugar comum, ou
seja, repetir aquilo que já foi bastante dito ou analisado. Contudo, para os
estudiosos dos processos de transposição de um código lingüístico a outro,
é sempre importante conhecer e discutir diferentes métodos e experiências de
trabalho. A isto me proponho nesta oportunidade: informar aos colegas sobre
minha experiência pessoal nesta área, principalmente no tocante a traduções
de obras regionais brasileiras e italianas.
CAMÕES E A CRÍTICA TEXTUAL
Leodegário A. de Azevedo Filho (UERJ/UFRJ)
Há mais de trinta anos nos dedicamos, com
todas as energias, à difí-cil tarefa de organizar uma edição da Lírica de
Camões, planejada para oito volumes. Para isso, procuramos mergulhar
fundo na tradição dos cancioneiros manuscritos daquela época, que são as
fontes existentes, sem um autógrafo sequer.
Como se sabe, todas as edições da Lírica de Camões toparam sempre com dois
grandes problemas: a questão de autoria e a questão textual.
Coube a Emmanuel Pereira Filho propor a solução que nos parece a de maior
rigor e a de maior acerto. A sua morte prematura, entretanto, impediu que
desse continuidade a sua monumental pesquisa. Para ele, a segura
elaboração de um “Índice Básico de Autoria” deveria centrar-se no
critério do tríplice testemunho quinhentista incontestado, exigência que
alteramos para dois testemunhos quinhentistas incontroversos e com apoio em
manuscrito, recusando também o testemunho único, por falta de indispensável
comprovação.
A questão textual é ainda mais complexa, exatamente pela inexistência
de autógrafos que nos possam indicar quais as lições a serem seguidas,
respeitando-se a vontade do Poeta.
Do extremo rigor do método adotado para o estabelecimento crítico dos textos,
longamente tratamos no primeiro volume de nossa edição, que foi publicado no
ano de 1985, onde fazemos um estudo das três questões básicas da lírica
camoniana, que são: a ecdótica, a lingüística e a literária. A
última, naturalmente, vai depender da boa ou má solução que for encontrada
para as duas primeiras.
CHIAPAS E RETÓRICA
Tatiana Cristina Ferreira (UNESP)
A comunicação ocupar-se-á com a leitura dos
textos A flor prometida, do subcomandante Marcos – um dos líderes do
movimento mexicano zapatista – em tradução portuguesa de Clara Allain,
e Chiapas, nome de dor e de esperança, do escritor português José Saramago,
publicados ambos na Folha de São Paulo, em 02-04-95 e 07-06-98
respectivamente. Embora entre um e outro medeie o espaço de alguns anos,
apresentam ambos os textos um mesmo centro de interesse, além de marcarem-se
por uma intenção persuasiva comum, embora demonstrem perseguir objetivos
diferentes. Admitindo que, por sua própria configuração, sejam os
textos caracterizados pela presença de instrumentos que lhes assegurem uma
eficácia discursiva, a comunicação procurará determinar quais, dentre os
instrumentos utilizados, são os principais e em que grau colaboram para a
eficácia do próprio discurso.
CONFLITOS E HARMONIAS ENTRE PROCESSOS DE CRIAÇÃO NO TEATRO: AUTOR VERSUS ATOR
VERSUS DIRETOR
Marlene Fortuna (PUCSP)
Autor, ator e diretor, três mundos em permanente confronte. Ora se hostilizando, ora se harmonizando, contudo sempre se enfrentando. Isto porque, cada um, com direito as suas licenças poéticas, tende a invadir as licenças poéticas do outro. São vários processos de criação se defrontando: o processo do autor, que entrega seu texto “sagrado” ao ator; o processo do autor que sente a necessidade de reprocessar este texto porque conta agora com o corpo, voz e emoção vivos!, e o processo de criação do diretor, mediando autor, mediando ator e invadindo os processos de ambos. São três gêneses diferentes, cada uma a defender seu espaço singular dentro de um espaço plural: o teatro. O que discuto em minha pesquisa é uma questão de tradução intersemiótica entre processos: autor (escritura)versus ator, o mestre do jogo, (oralidade, corpo e emoção = performance) versus diretor (o juiz do jogo). E proponho que toda esta transcodificação se faça de forma lúdica. O jogo é inerente ao processo teatral. Astúcia para assimilar técnicas leva à competência para usá-las. Eficácia lúdica para trabalhar emoções sem se entregar cegamente a elas, mas sendo o ator o seu domador, só pode conduzir a um estado estético de domínio. Estado este de sublimidade com a platéia, levando-a a empatia, a persuasão e a eloquência porque, magnetiza-da, carrega o ator consigo, dentro de si e não apenas o deixa ao final da trama. Um jogo de feras entre processos de criação e gêneses que deve terminar bem: autor oferecendo-se ao ator, este embelezando ainda mais o texto porque vivificando-o, e o diretor orquestrando todos os elementos da estética cênica para a beleza do instante mágico: o espetáculo em sedução!
CONSIDERAÇÕES SOBRE UM DOCUMENTO NOTARIAL
(SÉC. XVIII) DA COMARCA DE SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO RELATIVO À INVENTÁRIO
DE BENS
Arlete Silva Santos (UFBA)
Tecem-se considerações sobre o manuscrito
M2C1, TOM 0811-0842 CRO, datado de 30...1730 – 1763, séc. XVIII.
Trata-se de um documento notarial, inventário dos bens de Antônio Gomes
de Souza, perfazendo um total de 46 fólios recto e verso, que será apresentado
como dissertação de mestrado, em 1999. O documento faz parte da coleção
Santo Amaro da Purificação, Bahia, sob a guarda do Departamento para o
Estudo das Letras desde l975, quando ficou sob os cuidados do Setor de Filologia
Românica. Considerando-se a importância de documentos desta natureza,
re-veladores de uma época, pretende-se abordar alguns aspectos históricos
relacionados ao período (l730-l763), sua importância para a Bahia colonial e
em particular para o Recôncavo baiano, tecendo-se alguns comentários so-bre o
teor e características do documento em questão.
CONSTITUIÇÃO DE CORPUS DE LÍNGUA FALADA EM SÃO PAULO
Sumaia Chahine (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
Esta comunicação tem o objetivo de dar
notícias sobre o andamento do Projeto Corpus de Língua Falada, iniciado em
meados de maio de 1998, e relatar algumas dificuldades inerentes.
Quando se tem consciência de que as línguas mudam e que essas mudanças podem
ser observadas em sincronia na língua em uso, a constituição de um material
de língua falada por indivíduos de vários socioletos torna-se imprescindível
ao pesquisador lingüista.
Com base na metodologia proposta pela Sociolingüística Quantitativa,
instituímos uma comunidade lingüística paulista virtual a partir da
estratificação dos falantes segundo os seguintes fatores extralingüísticos:
sexo e faixa etária. O acervo conta atualmente com 86 horas de língua falada,
gravadas a partir de entrevista com 77 falantes.
Muitas são as dificuldades do entrevistador que enfrenta o desafio de gravar
dados espontâneos, entretanto é possível minimizar os efeitos da tensão em
alguns momentos durante a entrevista, numa metodologia adequada.
CORPO, VOZ E ESCRITURA
Amálio Pinheiro (PUCSP)
A mente trabalha os signos, neste continente,
mais através da fricção de superabundância alógenas (daquilo que
alegoricamente diz o outro) do que pelos mecanismos binários de índice de
inclusão e exclusão. Esse fenômeno combina ao da fixação tardia, entre
nós, da escritura com sua capa-cidade de mapear o mundo em dígitos
gráfico-visuais que têm de ser lidos separada, aditiva e sucessivamente pelo
olho e ouvido. Disso resulta que a nossa escritura vem sendo invadida pelo
acúmulo dos materiais analógicos (indivisíveis por meio de sinais) do
universo da voz enquanto tal: sua inseparabilidade em dígitos discretos, sua
fisicalidade gestual e móbil, seu nomadismo radical, sua rapidez e brevidade,
sua intervocalidade anônima, sua erótica performática.
Desse modo, os elementos orais, entre nós, na maioria dos casos, são o
material genético que constitui as performances escriturais.
CRIAÇÃO COREOGRÁFICA EM PROCESSO
Rosana van Langendonck Augusto (PUCSP)
O objetivo deste trabalho foi o estudo sobre o
movimento criador que aparece nos documentos de processo de um coreógrafo. A
Crítica Genética e a teoria geral dos signos de Charles Sanders Peirce foram
as ferra-mentas que nos auxiliarem na descoberta do caminho percorrido durante o
fazer da obra. Através do material que precedeu a composição coreografia de
“A Sagração da Primavera” do coreógrafo Luís Arrieta, tentamos desvendar
alguns mecanismos desde tipo de produto artística, bem como, compreender o
sistema responsável por sua geração.
Destacamos três eixos, que consideramos revelantes no estudo do processo
específico da coreografia de Arrieta:
- observamos os diferentes papéis desempenhados pelas linguagens expressas nos
documentos de processo;
- destacamos a dimensão coletiva do processo;
- estudamos a articulação do ritmo da criação com o ritmo da música e da
dança, presentes nos documentos de processo.
CRÍTICA TEXTUAL, CRÍTICA GENÉTICA E CRÍTICA FEMINISTA
Ceila Ferreira Brandão (USP)
Nossa participação versará sobre as
contribuições que a crítica textual e a crítica genética poderão dar à
crítica feminista e aos estudos sobre Mulher e Literatura.
Teceremos algumas considerações a respeito do novo campo de pesquisa e dos
desafios à crítica textual e à crítica genética abertos pela redes-coberta
e estudo de textos de escritores antes esquecidas pela história oficial da
literatura brasileira.
CRÍTICA TEXTUAL E ECDÓTICA
Edwaldo Machado Cafezeiro (UFRJ)
Problemas relativos à edição crítica:
estabelecimento e fixação do texto diante da complexidade da tecnologia
moderna. O jardineiro, filólogo tradicional, não mais consegue regar seu
jardim porque a obra, pássaro in-domável em sua autonomia, quebra a finitude
do animus autorandi. A crítica textual moderna preocupa-se antes com a
análise do que com o julga-mento. O texto é definido como experiência
de vida, tentando fixar-se em novos espaços e tempos metafóricos e
fragmentados. E o discurso que ser-penteia pelas águas de múltiplos rios
não pode ser visto nem detido num só curso. As imagens refletem-se como
puras textualidades, através da desconstrução e construção de regras.
A tarefa de Hermes já não se limita a desocupar e transmitir a mensagem das
Musas, mas permanentemente desbravar novos territórios.
CULTURA E INTERAÇÃO
NO ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA INGLESA
Teresinha de Fátima Nogueira (UNIVAP)
Cláudio Bertolli Filho (UNESP)
Este trabalho é fruto de experiências e
discussões em sala de aula acerca do processo de leitura de textos literários
em língua inglesa nos cursos de Letras. Tomando-se como exemplo textos de
Chaucer e Shakespeare, foi percebido que o alunado tende a demonstrar maior
interesse e empatia na leitura da obra do primeiro autor do que no
segundo, por mais que Shakespeare seja, aparentemente, mais conhecido. Mesmo
que, em ambos os casos, o aproveitamento mostra-se bem abaixo do esperado
pelo docente, o maior interesse por Chaucer, segundo os próprios leitores,
dá-se pelo fato de este autor "falar coisas do povo", enquanto que
Shakespeare reporta-se mais à cultura dominante na corte e no ambiente da
nascente burguesia britânica. Outro obstáculo no entendimento necessário se
dá pelo escasso domínio lingüístico do inglês antigo e medieval.
Nossa discussão, acompanhando as novas tendências do ensino de literatura,
aliado à lingüística, baseia-se no fato de tanto a literatura quanto a
lingüística, serem tradicional-mente ensinadas como áreas desvinculadas da
História. Nesse sentido, uma discussão prévia do contexto histórico no qual
uma obra está inserida, assim como do estilo de composição textual e dos
níveis sintático e morfológico da língua vigentes num dado período
histórico mostram-se vitais para a interação leitor/texto.
DA PRECARIEDADE DAS EDIÇÕES CRÍTICAS — O CASO DE ALVARENGA PEIXOTO: UM
INÉDITO E ALGUMAS VARIANTES
Francisco Topa (Univ. do Porto)
Com base na descoberta de novas fontes
testemunhais manuscritas, o autor apresenta uma série de contributos para a
reformulação da edição crítica da obra do poeta arcádico mineiro Inácio
José de Alvarenga Peixoto (1744-1792), publicada em 1960 por Rodrigues Lapa.
Esses contributos constam de um soneto inédito, alusivo à construção da
cadeia de Vila Rica, e de um conjunto de variantes significativas referentes a
sete poemas publicados por Lapa, a partir das quais são propostas algumas
emendas.
DA SEGMENTAÇÃO LEXICAL DO VOCABULÁRIO ESPECÍFICO DE PESCADORES
ARTESANAIS
Kátia Carlos Alves (UFRJ)
Nelson Carlos Tavares Júnior (UFRJ)
Vanessa Sant’Anna Tavares (UFRJ)
Maria Emília Barcellos da Silva (UFRJ)
O objetivo desta intervenção é demonstrar as
dificuldades na distribuição das lexias mapeadas, a partir da segmentação do
vocabulário específico da pesca artesanal no que tange aos inquéritos
distribuídos pelos campos semânticos propostos na pesquisa.
Tratar-se-á de alguns dos problemas surgidos quando do mapeamento desse
inventário, tais como a marcação a ser conferida a algumas ex-pressões como
“lexias simples” ou “complexas”; a distribuição, por campos
semânticos distintos, das lexias que estão arroladas num mesmo campo
semântico; a definição de expressões como função dentro da pesca X
função fora da pesca, petrecho X parte de embarcação, ou ainda a atenção
para a presença de um mesmo vocábulo específico em campos distintos,
dependendo da função do indivíduo e do momento em que o profissional da pesca
exerce a sua atividade.
Apresentar-se-ão propostas para a solução dos problemas levantados sem que se
deixe de valorizar tanto a produtividade da língua quanto a complexidade da
organização social e profissional do grupo ora estudado.
Serão trabalhados os dados recolhidos nas três ambiências que situam a
pesquisa.
Nesse sentido, trabalhou-se com o corpus do Projeto APERJ – Atlas
Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro, cujos informantes
são pescadores artesanais que atuam naquela região do Estado, analfabetos ou
semi-alfabetizados, todos do sexo masculino, em virtude da própria atividade
desenvolvida.
DESENVOLVIMENTO DA INFORMATIVIDADE E CRIATIVIDA-DE EM REDAÇÕES DO ENSINO
MÉDIO
Poliana Rossi Borges (UNESP)
Antônio Suárez Abreu (UNESP)
Um texto deve apresentar equilíbrio entre
informações “novas” e “velhas”: às informações já conhecidas ou
que são de domínio geral é preciso acrescentar dados não-previsíveis, assim
entendidos aqueles que fogem ao discurso do senso comum. Além disso, o
texto deve apresentar criatividade, ou seja, deve revelar eficiência no uso de
recursos lingüísticos e discursivos. No entanto, análises de redações
de vestibular revelam que esses requisitos não são atendidos.
Efetuou-se, assim, uma análise de textos escritos produzidos por alunos do
ensino médio, visando determinar em que medida os dois requisitos anteriores
são (ou não) atingidos. Em outros termos, verificou-se se há
equilíbrio entre o dado e o novo e se o aluno foge do domínio genérico e do
senso comum. Os dados obtidos revelam que os requisitos não são
atingidos: a maioria dos textos são excessivamente repetitivos e revelam
domínio parcial e insuficiente dos recursos lingüísticos. Em vista
disso, foram propostos exercícios para superar as falhas detectadas, tendo sido
esses exercícios aplicados nas mesmas turmas que forneceram o corpus. A
análise dos novos textos obtidos revela que houve um progresso sensível na
superação das falhas apresentadas, o que estimula a seqüência deste
trabalho.
DESENVOLVIMENTO E AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NOS EDUCANDOS PORTADORES DE
DEFICIÊNCIA MENTAL
Flavia da Silva Pires (UERJ)
Jaqueline da Silva Brito (UERJ)
É possível estabelecer limitações para
aprendizagem de um indivíduo com deficiência mental? Este trabalho tem por
finalidade apresentar o desenvolvimento e a aquisição da linguagem nos
educandos portadores de deficiência mental. Procuraremos demonstrar como a
linguagem poderá ser adquirida pelos educandos supracitados.
O presente estudo também tem por finalidade ressaltar a importância de se
ajudar as pessoas mentalmente retardadas a desenvolver sua aptidões na
linguagem oral e escrita.
A realidade destes educandos é muito diferente da maioria dos educandos
considerados normais e, portanto eles, merecem uma educação especial por parte
dos professores e demais profissionais em educação. Por este motivo “a
educação especial consiste num conjunto de objetivos que irão garantir o
atendimento educacional às crianças portadoras de necessidades educativas
especiais, que devem ser respeitadas e dada a oportunidade de adquiri-las”.
(Política Nacional de Educação Especial, MEC, 1994).
Abordaremos a situação dos educandos portadores de deficiência mental e a
atuação do professor, fazendo-se necessário verificar a prática da
alfabetização pedagógica do professor junto a alunos portadores de
deficiência mental, procurando identificar seus aspectos lingüísticos, como
se dá a integração deste aluno no sistema regular de ensino e como o processo
ensino-aprendizagem atende às necessidades educativas especiais destes
educandos.
DO ACENTO LATINO AO ACENTO NAS LÍNGUAS ROMÂNICAS: TRANSFORMAÇÕES NO
VOCALISMO
Denize Elena Garcia da Silva (UNB)
O propósito do trabalho é expor um breve
percurso reflexivo em torno de uma longa trajetória, que vai do acento latino
ao acento nas línguas românicas, visando discutir algumas transformações
pertinentes ao vocalismo. As mudanças no vocalismo românico encontram-se
ligadas à natureza do acento, ou seja, decorrem das alterações no sistema
prosódico latino. Sabe-se que a quantidade é relevante no latim porque
condiciona a posição do acento. No entanto, na transição do sistema
quantitativo para o qualitativo distintos procedimentos ocorrem nas línguas
românicas. Estas e outras questões estarão sendo enfocadas com vistas a uma
contribuição no espaço das pesquisas voltadas para os estudos filológicos
romanísticos.
DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Aileda de Mattos Oliveira
Ensinar a Língua Portuguesa, embora pra muitos
seja uma arte, a dificuldade de os professores encontrarem o caminho adequado a
cana nova situação em que se deparam, para transmitir os conhecimentos
básicos da língua, não é um fato característico dos dias de hoje.
O filólogo Silva Ramos, já em 1916, apresentava um panorama dessa difícil
arte de conciliar os ensinamentos das normas gramaticais e o estudo de
consagradas produções de renomados escritores, produções literárias ou
não, que, nos vários planos da estruturação sintática, iam de encontro ao
canonicamente estabelecido pelas leis gramaticais.
Hoje, surge um novo entrave ao bom desempenho de considerável parcela de
professores. O advento da Lingüística Aplicada surge, aos olhos de muitos,
como uma forma camuflada de eliminar a gramática, como uma maneira de
considerá-la uma obra ultrapassada, com o objetivo único de os professores
modernos substituírem os parâmetros tradicionais do bem dizer e do bem
escrever, pelo falar indisciplinado das ruas.
Por essa razão, reagem de maneira radical, como se retrocedessem no tempo,
tempo em que Silva Ramos lamentava, de maneira crítica, aqueles que insistiam
em se manter no ádito de seus conhecimentos, de seus conceitos, de seus
preconceitos.
DOCUMENTOS NOTARIAIS DA COMARCA DE SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO RELATIVOS À
COMPRA E VENDA DE ESCRAVOS: EDIÇÃO DIPLOMÁTICO-INTERPRETATIVA
Mônica Pedreira de Souza (UFBA)
Trata-se de documentos não literários de uma
das coleções do Acervo de Manuscritos Baianos: a Coleção Santo Amaro,
somando um total de 3.084 documentos tombados. Quando ao histórico,
infelizmente, não é possível traçar o itinerário desses documentos
até o momento de sua guarda no Setor de Filologia Românica do Departamento de
Fundamentos para o Estudo das Letras. Trabalhar-se-á apenas com alguns
documentos relativos à compra e venda de escravos no Recôncavo Baiano,
estudando-se a escrita da época e exemplificando-se com fotocópias.
Pretende-se mostrar a metodologia utilizada, assim como os critérios para a
leitura diplomático-interpretativa dos textos (eliminando-se as dificuldades de
natureza paleográfica, em especial, a divisão de palavras e o desdobramento de
abreviatu-ras). Explicam-se, desse modo, as características dos documentos,
escritos nos séculos XVIII e XIX.
DOSSIÊ PARA UMA EDIÇÃO GENÉTICA DE SAGARANA
Sônia Maria van Dijck Lima (UFPB)
No calor do sucesso de Sagarana, Guimarães
Rosa concedeu entrevista a Ascendino Leite, publicada em O Jornal (Rio de
Janeiro, 26 maio 1946), e por nós reeditada em Ascendino Leite entrevista
Guimarães Rosa (João Pes-soa: Ed. Universitária/ UFPB, 1997). A conversa
entre o escritor e o jornalista aponta alguns aspectos da poética rosiana, tais
como: saudade da terra, lembranças da infância, preferência pelo ambiente
rural. Quanto à temática, disse estar interessado na investigação do “problema
do destino, sorte e azar, vida e morte”. Quanto à experimentação
lingüística, afirmou a neces-sidade de uma língua poética: “simples,
formosa, exata em força e sutileza”.
A fortuna crítica rosiana tem verificado abundantemente as características
fundamentais da produção literária do criador de Sete-de-Ouros. Sem querer
discutir o programa poético de Guimarães Rosa, nosso interesse consiste em
contribuir para a reconstituição dos comportamentos autorais, apresentando a
organização dos originais de Sagarana, conservados no Instituto de Estudos
Brasileiros, da Universidade de São Paulo, e na biblioteca do Dr. José E.
Mindlin, tendo em vista nossa proposta de uma edição genética, em fase de
preparação.
E EM QUE TRECHO DO MAR À LUZ DE CÉU MALDITO DE ARTHUR DE SALLES: PROCESSOS
CRIATIVOS
Rosa Borges Santos Carvalho (UFBA/UNEB)
O poema apresenta-se em quatro versões: uma
autógrafa e três impressas. É possível perceber, nestas versões, quando
colacionadas, o movimento de escritura do texto e os processos de criação.
Desse modo, firma-se como propósito desta comunicação, tecer algumas
considerações a respeito do processo criativo do poema em questão,
partindo-se de um estudo genético, resultante da análise e comparação das
quatro versões.
ECOS DE MEMÓRIA: MACHADO DE ASSIS EM HAROLDO MARANHÃO
Lucilinda Ribeiro Teixeira (PUCSP/UNAMA-PA)
Olhar para os manuscritos de Haroldo Maranhão
é assistir ao tempo de sua criação e à história de sua obra: Memorial do
Fim. Neste livro, há quatro capítulos montados com base em fragmentos
retirados dos seguintes obras de Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás
Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba e Memorial de Aires. Haroldo Maranhão, com
um método singular de montagem justaposta, concebe uma nova obra, sinalizando
ainda para uma nova maneira de construção por meio de transcrição.
Num primeiro momento, partiu-se para uma análise comparativa com os manuscritos
de Haroldo Maranhão para que depois se começasse a estabelecer relações,
objetivando entender o movimento em ação no seu processo criativo. O escritor
parte de leituras dos livros de Machado para depois fazer um levantamento de
trechos do mesmo, que vão compor várias listas, geradoras do seu primeiro
manuscrito. Assim Haroldo vai se apropriando do texto machadiano para formar sua
própria escritura. Daí se ter escolhido o conceito de montagem de Eisenstein,
o diálogo com os pressupostos de Calvino e com a polifonia de bakhtiniana, para
referencial teórico-metodológico da pesquisa. Haroldo Maranhão joga com
pedaços de linguagem de Machado de Assis, aparentemente sem ter noção muito
definida de que vai criar. A sua narrativa é tecida a partir de associações
múltiplas de fragmentos que vão se ampliando no universo machadiano e fora
dele. Seu recurso criativo é condensar em cada capítulo um livro de Machado de
Assis. A montagem lhe dá uma narrativa em mosaico. Seu processo de
criação-transformação é alicerçado na justaposição em forma de montagem.
ELEMENTOS COESIVOS REFERENCIAIS EM TEXTOS DE ALUNOS DO CICLO BÁSICO (1ª E 2ª
SÉRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL)
Odete de Oliveira (UNESP/PAE)
Este texto discute o emprego de elementos
coesivos referenciais em textos produzidos por alunos das duas séries iniciais
do ensino fundamental. Segue-se a classificação exposta por Favero
(1995), que divide os elementos coesivos em três categorias: referenciais
(responsáveis pela retomada do assunto), recorrenciais (voltados
simultaneamente para o que foi dito e para o que ainda vai ser dito) e
seqüenciais (responsáveis pela junção de novas orações ou segmentos de
tópicos). Os elementos referenciais são representados por pronomes –
especialmente os pessoais, os possessivos e os demonstrativos – e pela elipse
(elementos referenciais gramaticais), ou ainda por nomes (repetição de
palavras, sinônimos, hipônimos, heperônimos, nomes genéricos, expressões
nominais definidas). São analisados doze textos, nos quais é feito o
levantamento dos citados elementos. Esse levantamento permite verificar
como os assuntos são introduzidos, retomados ou reintroduzidos e, bem assim,
como é feita a introdução de novos assuntos. Os resultados preliminares
apontam para o predomínio dos casos de repetição dos elementos lexicais e no
emprego dos pronomes pessoais do caso reto (ele, ela).
EMPRÉSTIMO SEMÂNTICO, DECALQUE E RETROVERSÃO BREVE ESTUDO TIPOLÓGICO DO
EMPRÉSTIMO LINGÜÍSTICO
Vito César de Oliveira Manzolillo (UFRJ)
Ao lado de palavras próprias e
características de sua língua nativa, às quais verdadeiramente parecem ter a
“cara” desse idioma, qualquer falante é capaz de perceber também, em
alguma medida, nos seus atos de fala e nos daqueles que o cercam, a presença de
vocábulos, por assim dizer, estranhos, identificados com outras realidades
lingüísticas.
Um dos meios pelos quais o léxico se enriquece, o empréstimo constitui o
fenômeno sociolingüístico e cultural mais significativo resultante do contato
entre línguas.
Caracterizado principalmente pela adoção de palavras pertencentes a outros
idiomas, trata-se de recurso que igualmente apresenta modalidades mais sutis e
menos óbvias, tais como o chamado empréstimo semântico (alargamento do
significado de uma palavra já existente na língua graças à influência de
outra, pertencente a sistema lingüístico diverso), o decalque (tradução,
freqüentemente literal, de palavra ou expressão estrangeira), além do
processo conhecido por retroversão ou torna-viagem (retorno ao sistema
lingüístico exportador, de alguma maneira modificado, de vocábulo
anteriormente tomado de empréstimo por outro sistema).
Assim sendo, caracterizar de forma detalhada – inclusive mediante o
fornecimento de exemplos ilustrativos – cada um dos tipos de empréstimo
lingüístico anteriormente mencionado é o objetivo desta comunicação.
ENGENHARIA LINGÜÍSTICA
Alfredo Maceira Rodríguez (UERJ/UCB)
Denomina-se Engenharia Lingüística a
aplicação dos conhecimentos da Lingüística ao desenvolvimento de sistemas
computadorizados, que podem reconhecer, entender, interpretar e gerar linguagem
humana em todas as suas formas. Os recursos lingüísticos são os componentes
essenciais da Engenharia Lingüística. Na prática, ela compreende uma série
de técnicas e recursos lingüísticos, alguns já alcançados e outros em
desenvolvimento. Como a voz humana é tão individual quanto uma impressão
digital, é possível identificar um falante e usar esta identificação para
acesso a um serviço, por exemplo. Ainda há muito que fazer neste terreno,
porém já se avançou muito no reconhecimento de caracteres e já se engatinha
no reconhecimento da voz. As técnicas são implementadas em programas de
computador e os recursos constam de um repositório de conhecimentos, que podem
ser acessados através de software. A tecnologia lingüística pode ser aplicada
a uma ampla faixa de problemas no comércio e serviços para obter melhores
resultados, assim como na educação, na ajuda a deficientes e no oferecimento
de novos serviços a organizações e consumidores. Existem muitas áreas em que
seu impacto é significativo. Em alguns países da Europa estão sendo
implementados custosos programas de Engenharia Lingüística, visando o grave
problema lingüístico da União Européia.
Com.?063
ERA UMA VEZ...
Maria Thereza de Sulima
Vivemos em uma época difícil, muito violenta,
em que predominam a ciência e a tecnologia. Mais do que nunca, os
indivíduos procuram o trans-real para contrabalançar os efeitos do grande caos
aparente.
A novela Era uma vez..., da Globo, apresenta, claramente, essa dicotomia –
mundo imaginário e mundo real –, vivida pelas quatro crianças, órfãs de
mãe, disputadas pelos avós.
Em todos os idiomas, os contos de fadas e os contos maravilhosos começam por
uma expressão, usada no tempo mítico, imutável, algumas vezes de origem comum
nos termos que analisaremos.
ESPANHOL EUROPEU X ESPANHOL AMERICANO
Alfredo Maceira Rodríguez (UERJ/UCB)
O espanhol tradicional ou acadêmico.
Variedades fonéticas em algumas regiões da Espanha, principalmente em
Andaluzia. Influência do andaluz na formação do espanhol das Américas. As
cinco zonas do espanhol americano de Henríquez Ureña. Diversas variantes
fonéticas em Hispano-América, algumas comuns a diversas regiões do espanhol
europeu: Andalu-zia, Extremadura, Canárias O seseo e o ceceo. O yeísmo.
Variedades do yeísmo. O yeísmo portenho (Buenos Aires, Montevidéu e
circunvizinhan-ças). Voseo X tuteo. O papiamento de Curaçao. Alguns aspectos
morfológi-cos e sintáticos do espanhol americano.
O vocabulário em diversas áreas do espanhol americano. Grande in-fluência de
línguas indígenas vivas ou mortas. Outros fatores de influência. Variantes
lexicais em diversos países. O espanhol nos Estados Unidos. O Spanglish.
Tendências para o futuro da língua. O papel da Real Academia Española de la
Lengua. Unidade na diversidade.
ESTABELECIMENTO DO TEXTO E EDITORAÇÃO DO TEATRO DE ARTHUR AZEVEDO
Antônio Martins de Araújo (UFRJ)
Por uma série de rações, até este final de
século, não se tem podido resgatar em toda sua integridade, como era de
esperar-se, a produção literária brasileira que ficou esparsa nos jornais e
periódicos deste quase século e meio de história literária.
Arbitra-se como ponto de referência o ano de 1870, em que termina a Guerra do
Paraguai, pré-requisito das grandes mudanças que se operarão nas duas
décadas que se lhe seguirão. Sem trocadilho, o caso do teatro (gênero
que foi criado para o “milagre” das quatro paredes) chega a ser
dramático. Não fossem os, hoje anacrônicos, “livros de ponto”
que resistiram ao tempo e as cópias apógrafas de peças, iniciativa de
descontentes e admira-dores de nossos dramaturgos, considerável parte dessa
memória teatral haver-se-ia fatalmente perdido. A presente intervenção
visa mostrar as soluções encontradas para o estabelecimento do texto e a
editoração das cerca de 3.600 páginas dos seis tomos do Teatro de Arthur
Azevedo (então com cerca de 20% ainda inédito em livro); bem como a análise
valorativa de mais de setecentas testemunhas relacionados de sua fortuna
crítica. Só a partir desse corpus, foi possível ao expositor redigir
mais de doze ensaios e, mais ainda, uma obra de crítica
filológico-estilística sobre essa dramaturgia única, hoje, em nossa língua.
ESTADO ATUAL DA LEXICOGRAFIA PORTUGUESA NO BRASIL
Antônio Geraldo da Cunha (FCRB/UERJ)
É lamentável o estado em que se encontram os
estudos lexicográficos no Brasil (e também em Portugal), quando comparados com
o avanço extraordinário da lexicografia nos países de língua inglesa,
alemã, francesa e italiana, principalmente.
Faltam-nos trabalhos voltados para a história do nosso vocabulário. Não
dispomos de um dicionário do período medieval (séculos XIII, XIV e XV), nem
dos séculos XVI, XVII e XVIII; não conhecemos, com a profundidade necessária,
a evolução que se processou em nossa língua no século XIX, e mais
particularmente em nossos dias, com o extraordinário progresso das ciências,
das técnicas e dos novos recursos introduzidos pela infomática.
É interessante observar que a lexicografia de língua portuguesa foi muito bem
estudada no século XVIII e na primeira metade do século XIX.
Referimo-nos, especialmente, aos dicionários de Bluteau e de Morais. O
monumental dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, de 1793,
inter-rompido no fim da letra A, ficou muito incompleto, infelizmente.
Parece-nos que uma das causas do atraso da nossa Lexicografia decorre da nossa
situação sociocultural, que não nos permite a realização de empreendimentos
de vulto e de longo prazo. Apesar deste panorama som-brio a que acabamos
de nos referir, somos de opinião que não devemos esmorecer. Urge,
portanto, preparar o caminho para a elaboração do grande dicionário da
língua, baseado em princípios históricos. É este o nosso parecer e é
nesse sentido que vimos procurando incentivar os jovens professores e estudiosos
do nosso formoso idioma para, na medida de suas forças, colaborarem para o
progresso da nossa Lexicografia.
ESTRUTURAÇÃO DO LÉXICO EM CAMPOS UMA ANÁLISE PRELIMINAR DO GREGO ANTIGO
Sandra Lúcia Rodrigues da Rocha (UFBA)
A presente pesquisa constitui um estudo
preliminar sobre a estruturação dos campos lexicais e sua relação com os
conceitos de frame e script. A partir dela, pretendemos contribuir
para o desenvolvimento de uma metodologia para a análise do léxico em campos,
aqui concebida como uma etapa anterior e necessária à descrição
lexicográfica (cfe. Mel’cuk, 1995). Além disso, buscamos verificar em
que medida a determinação do campo lexical pode ser importante para a
seleção de exemplos/abonações nos verbetes de dicionários. O corpus
utilizado é o vocabulário de guerra do Episódio de Potidéia, do Livro I da
História da Guerra do Peloponeso, de Tucídites.
ESTUDO COMPARATIVO ESPERANTO-PORTUGUÊS
José Passini (UFJF)
Neste estudo pretende-se pôr em evidência as
características de economia do Esperanto face ao Português, nos seguintes
campos:
Fonológico: A facilidade da representação gráfica e da sua reconversão
sonora face à perfeita correspondência fonema/grafema e da constância do
acento tônico;
Morfológico: O caráter aglutinante e regular do Esperanto, que confere ao seu
usuário possibilidades a incursões mais profundas na morfologia,
permitindo-lhe ampla criatividade num terreno muito pouco acessível ao usuário
de línguas naturais, face à preocupação com o não-usual;
Sintático: Os recursos sintáticos oferecidos pelo Esperanto, no sentido de
permitir que seu usuário mantenha os hábitos sintáticos da sua língua
materna, sem prejuízo da comunicação.
FILOLOGIA E HISTÓRIA DA LITERATURA
Ceila Maria Ferreira Batista Brandão (USP)
1. Relação entre Filologia e História da
Literatura.
2. Discussão sobre o conceito de História.
3. A importância do método de pesquisa filológico nos estudos e pesquisas de
História da Literatura.
4. Filologia e História da Literatura produzida por mulheres.
5. Filologia e uma História das Histórias da Literatura Brasileira.
.FORMAS ANALÓGICAS NA CONJUGAÇÃO VERBAL DO RETO-ROMÂNICO
Mário Eduardo Viaro (USP)
A analogia é muitas vezes vista ou como
elemento de regularização paradigmática ou como elemento perturbador no
desenvolvimento fonético das línguas. No caso das conjugações verbais das
línguas românicas, a atuação da analogia é evidente, sobretudo no romeno,
que aparentemente elimina as irregularidades de sua conjugação. Embora em
menor grau, a analogia não poderia agir diferentemente nas variantes do
reto-românico. Assim, por exemplo, o mesmo -n- que distingue a terceira pessoa
do plural em relação à terceira do singular nas formas latinas
(respectivamente, -nt e -t) aparece analogicamente sobre a base do singular no
sobresselvano como elemento caracterizador do plural: el ei “ele é”, els
ein “eles são”; el po “ele pode”, els pon “eles podem”. Também
alguns sufixos associados a algumas conjugações que vêm antes das
terminações número-temporais têm papel importante nas regras de analogia,
sobretudo as oriundas do incoativo latinos, en-tre outras: assim, o latim -esc-
tornar-se-á -eix- em catalão, -iss- em francês, -isc- em italiano, -esc- em
romeno e -esch- em sobresselvano e em valáder, mas sua produtividade varia
muito de língua para língua e isso é direta-mente proporcional ao papel da
analogia em cada uma dessas línguas.
GLOSSÁRIO DO BASQUETEBOL: UMA EXPERIÊNCIA DA INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIBAN
Paula Delphino da Rosa (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
O subprojeto Glossário do Basquetebol faz
parte de um projeto maior que objetiva criar um glossário com o vocabulário
relacionado a dois esportes coletivos que a UNIBAN incentiva nas categorias
universitária e profissional: basquetebol e voleibol.
Desde o início deste ano, temos acompanhado treinamentos, jogos, narrações
esportivas e a linguagem da gíria usada entre os atletas. Fizemos também o
levantamento bibliográfico de termos e expressões em livros técnicos da
área. Contamos, atualmente, com 350 entradas, cuja grande maioria já foi
definida.
A partir de outubro, daremos início à pesquisa específica do voleibol,
seguindo a mesma rotina e, por volta de dezembro, deveremos concluir o projeto.
Está prevista para início de 1999 a revisão técnica e lingüística de todo
o material acumulado, quando trabalharemos em conjunto com professores da área
de Esportes.
HISTÓRIA DA LÍNGUA ESPANHOLA
Maria de Lourdes Martini (UFRJ)
As quatro línguas existentes hoje na Espanha:
o castelhano, o catalão, o galego e o basco. História do Castelhano e o
conceito atual de língua espanhola.
IMAGINANDO O TEXTO DA IMAGEM DO TEXTO AO TEXTO DA IMAGEM UM ESTUDO DAS
RELAÇÕES TEXTO-IMAGEM
NAS COLAGENS DE PRÉVERT
Maria Thereza Redig de Campos Barrocas (UFRJ)
Esta comunicação apresenta alguns resultados
de uma pesquisa que pretendia verificar a eventual ocorrência de
processos retóricos equivalentes nas linguagens verbal e visual.
Uma tese sobre jogos verbais de tipo anagramático evidenciou o estreito
parentesco entre o jogo da citação – verbal – e o jogo “infantil” de
re-cortar e colar, do qual as colagens de Prévert oferecem um exemplo muito
interessante. Os resultados da pesquisa revelaram a existência de processos
retóricos visuais equivalentes aos verbais tanto na obra cinematográfica de
Prévert quanto nas suas colagens, e se estenderam às equivalências entre
diversos tipos de texto, no sentido amplo, incluindo narrativa, publicidade,
cinema, televisão, música.
Baseado num conceito mais amplo de Retórica, e de re-visões do conceito de
Texto, o estudo da imagem provou ser uma contribuição considerável para
a elaboração de uma Retórica que leve em conta o caráter visual de uma
linguagem que, por alguma razão, sempre se chamou figurada.
Apresentaremos aqui alguns resultados, ainda não publicados, da pesquisa sobre
dois tipos de colagens, que jogam com citações de quadros célebres e de
material gráfico popular e anônimo, como postais e “santinhos”.
JORNAL DA TARDE: PRODUÇÃO COLETIVA E RECURSOS ESTÉTICOS
José Ribamar Ferreira Júnior (UFMA/PUCSP)
O Jornal da Tarde tem se apresentado, desde a
sua criação, como um veículo que, num ambiente de produção da indústria
cultural, conseguiu estabelecer alguns recursos de natureza estética,
notadamente no que se refere à formatação de suas capas, cujas ousadias, na
criação gráfico-visual, já se tornaram uma referência na imprensa
brasileira.
No conjunto de elementos das capas do JT, encontram-se dispostas referências de
como se pode realizar conexões com séries culturais, tais como a arquitetura
urbana, a tradição hiperbólico-visual latino-americana e a mobilidade
espacial de uma metrópole.
O aproveitamento dos materiais da cultura, numa obra de produção coletiva como
o Jornal da Tarde, sinaliza para maneiras de amotinamento na instância da
forma, a qual se posiciona de modo inovador, mesmo estando inserida em empresas
de linha tendentemente conservadora – como é o caso do Jornal da Tarde de
propriedade do grupo jornalístico Estado de S. Paulo.
O elevado número de tarefas da produção em jornal, por fim, faz com que o
exercício controlador, por partes dos agentes de comando, seja dificultado a
ponto de permitir nuanças renovadoras na estrutura da obra, reveladoras de
contradições existentes nos recintos internos e externos da publicação.
LEITURA, LEITOR, INTÉRPRETE E AUTOR
Iza Terezinha Gonçalves Quelhas (UERJ)
A presente comunicação pretende discutir
alguns conceitos significativos para os estudos literários - leitura, leitor,
intérprete e autor – a partir do romance São Bernardo, de Graciliano Ramos.
O romance de Graciliano, escrito e publicado no início da década de 30,
problematiza conceitos importantes para a Teoria Literária, o que reafirma a
argúcia e a inteligência do autor na arquitetura do romance. Entre as
questões formuladas na tessitura do enredo, encontra-se a do leitor como um
autor ampliado. O narrador do romance, Paulo Honório, oferece àquele que lê o
livro a escrita produzida por um "homem endividado", dramatizando os
limites do sujeito que narra e daquele que lê, vale-se da elipse e da
contenção para elaborar a forma do romance, conseguindo dar à morte uma
função estruturante na narrativa.
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA LÍNGUA FALADA
Paulo de Tarso Galembeck (UNESP)
Objetivo: Expor as características da língua
falada em geral e do texto conversacional em particular, de modo a encaminhar os
interessados a estudos ulteriores acerca dos temas mencionados.
Ementa: Características da língua falada e do texto conversacional; a
construção do texto falado.
Conteúdo programático:
1. Características gerais da língua falada: o planejamento local, o contexto
partilhado, o envolvimento.
2. O escrito e o falado: contrastes e semelhanças.
3. Tipos de inquérito: elocuções formais, entrevistas e diálogos.
4. Técnicas de obtenção de material gravado.
5. Características do diálogo: o turno e a alternância de falantes.
6. A construção do texto falado: a articulação tema rema e as unidades
discursivas.
LINGÜÍSTICA APLICADA
Décio Orlando Soares da Rocha (UERJ)
Maria Cristina Lírio Gurgel (UERJ)
Cristina de Souza Vergnano Junger (UERJ)
Maria del Carmen F. González Daher (UERJ)
1. Situação geral da Lingüística Aplicada
2. Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Materna
3. Compreensão leitora: o enfoque da Lingüística Aplicada ao Ensino de
Língua Estrangeira
4. A Lingüística Aplicada em diferentes contextos institucionais: práticas de
linguagem em situação de trabalho
LINGÜÍSTICA E FILOLOGIA ENCONTROS E DESENCONTROS
Violeta Virgínia Rodrigues (UFRJ)
Nos inícios dos anos oitenta, observa-se um
reencontro entre Lingüística, Lingüística Histórica e Filologia nos estudos
lingüísticos no Brasil, devido ao crescente interesse pelos estudos
histórico-diacrônicos.
Este reencontro traz à tona a relação entre Lingüística e Filologia, uma
questão histórica e polêmica, ainda que hoje ultrapassada. É a partir dessa
questão dos meados desse século que se definiram como independentes os campos
de trabalho da Filologia e da Lingüística.
O interesse em se resgatar a polêmica Filologia/Lingüística no Brasil
relaciona-se exclusivamente à Lingüística Histórica, em função da
História da Língua Portuguesa, e não no sentido de contribuir para a
construção da historiografia da Lingüística no Brasil.
Assim, seguindo-se os passos de Mattos e Silva, pretende-se discutir o domínio
da Filologia e da Lingüística na primeira metade do século XX no Brasil, o
desencontro radical entre a Filologia e a Lingüística nos estudos
histórico-diacrônicos, a partir dos anos oitenta.
LOUIS GAUCHAT, A DIALETOLOGIA E A SOCIOLINGÜÍSTICA
Luiz Palladino Netto (UFRJ)
Há quase cem anos, em 1899, o suíço Louis
Gauchat iniciara suas inquirições na comunidade de Charmey. Em 1905, com
efeito, a célebre monografia “A unidade fonética no patois de uma comunidade”
corporifica o esforço do dialetólogo, numa publicação laudatória ao seu
mestre Heinrich Morf. Consubstancia-se, pois, na perspectiva de Labov (1976:70),
“o modelo de minuciosos estudos sobre a variação fonética no seio de uma
comunidade específica”
A comunicação visa a reiterar o mérito do empreendimento de Gauchat e
sublinhar certos desdobramentos da investigação em Charmey.
Para tanto, a exposição revisitará algumas conclusões do trabalho inaugural,
segundo Labov, no campo dos “estudos de tendência”, levado a efeito uma
geração mais tarde, precisamente em 1929, por E. Hermann, na mesma localidade
francosuíça de Charmey.
Destacam-se, por fim, as linhas gerais da pesquisa recente em anda-mento a
propósito da “mudança em tempo real” de curta duração com informantes do
Projeto NURC-RJ. Dá-se uma notícia da metodologia sociolingüística adotada
nesta iniciativa e dos resultados baseados nas análises de inquéritos
realizados na década de 70 e das réplicas feitas na década de 90, na esteira
do modelo pioneiro de Hermann-Gauchat.
MAIS ALGUNS ESCLARECIMENTOS SOBRE O DICIONÁRIO BRASILEIRO DE FRASEOLOGIA
José Pereira da Silva (UERJ)
O Dicionário Brasileiro de Fraseologia tem um
cronograma de construção porque o tema é infindável e não se poderá
pesquisar indefinidamente sem produção de resultados.
No final deste período letivo de 1998, mesmo não se chegando à coleta de
todos os dados existentes (que jamais será concluída porque o povo está
permanentemente criando novas expressões e consagrando outras aparentemente
esquecidas), encerraremos a busca sistemática dessas informações, passando à
etapa final de organização do material (que já está sob a forma
provisoriamente eleita, seguindo os passos de Antenor Nascentes no seu Tesouro
da fraseologia brasileira).
Tudo isto estará disponibilizado aos pesquisadores interessados, através de
disquetes, a partir de junho de 1999, para que trabalhos mais específicos e
mais aprofundados possam ser elaborados a partir desses dados. Para isso,
bastará escrever-nos uma carta, comprometendo-se a citar a fonte em suas
pesquisas (porque é um produto do PROCIÊNCIA) e a não publicá-lo sem a
autorização do autor.
A Lexicologia trabalha com material permanentemente reciclado e recriado. Por
isto jamais apresentará resultado definitivo. Mas a UERJ prometeu colocá-lo
gratuitamente à disposição dos pesquisadores, através da Internet,
trazendo-nos uma bela novidade.
MANUEL DA COSTA: UM POETA DA RENASCENÇA
Alice da Silva Cunha (UFRJ)
O movimento humanista que de Florença se
propagou por toda a Eu-ropa, na época renascentista, atingiu Portugal por volta
de 1485, data mais provável da chegada ao país de Cataldo Parísio Sírculo,
como preceptor de D. Jorge, filho de D. João II, e considerado introdutor do
Humanismo em terras lusas. Preconizava o citado movimento uma valorização dos
modelos clássicos da Antigüidade greco-romana consagrados como fonte
inesgotável de inspiração.
Muitos autores adotaram o latim como língua de sua expressão poé-tica, o que
contribuiu, de maneira bastante significativa, para uma maior projeção de suas
obras a nível internacional.
Dentre os autores novilatinos portugueses destacam-se: André de Resende, Miguel
de Cabedo, Diogo de Teive e Manuel da Costa.
A análise de dois poemas de Manuel da Costa – "De nuptiis Eduardi
Infantis Portugalliae atque Isabellae..." e "In nuptiis Ioannis et
Ioannae Lisitaniae Principum" – demonstra ter o autor moldado sua obra de
acordo com os parâmetros que norteavam a estética clássica, conferindo-lhe,
no entanto, uma feição própria, em consonância com os princípios vigentes
em sua época.
METAMORFOSES TEXTUAIS
Wellington de Almeida Santos (UFRJ)
O presente trabalho destina-se ao estudo das
transformações textuais operadas na narrativa de ficção, propostas por
escritores obcecados pelo perfeccionismo literário. Esse desejo
permanente de aperfeiçoamento técnico os faz alterar, às vezes drasticamente,
suas criações, na busca do melhor desempenho estético-literário.
No entanto, não obstante a variedade de resultados obtidos, é possível
distinguir dois tipos genéricos para justificar as alterações, ensejando-se a
necessidade de se desenvolver uma tipologia da metamorfose textual:
a) as alterações provêm de um controle da expressão lingüística, buscando
conferir objetividade ao texto sem alterar-lhe a essência ficcional;
b) as mudanças buscam conferir ao texto densidade e complexidade
narrativas. Com esse procedimento, obtém-se um grau superlativo de
ambigüidade, exigido pela arte literária, com considerável alteração da
essên-cia ficcional.
Para ilustrar a primeira hipótese, desenvolveremos considerações críticas
acerca das diferenças entre a primeira e a quarta edições de Vidas Secas
(1938 e 1953, respectivamente), de Graciliano Ramos.
Para a análise da segunda hipótese, confrontaremos duas versões do conto “Teleco,
o coelhinho”, de Murilo Rubião, tal como se encontram em O ex-mágico (1947)
e em O pirotécnico Zacarias (1974).
MODALIZADORES DE CERTEZA E OBRIGATORIEDADE
NA FALA CULTA DE SÃO PAULO E DO RIO DE JANEIRO
(PROJETO NURC/SP E PROJETO NURC/RJ)
Ana Lúcia Vlach (UNESP)
Paulo de Tarso Galembeck (UNESP)
Vilela (1995) divide os componentes da frase em
dois grupos: os componentes denotativos ou referências (seres e acontecimentos)
e os com-ponentes do conteúdo comunicativo (especificadores temporais e
espaciais, modalidade, emocionalidade, enfatização ou desenfatização).
Esta pesquisa efetuou o levantamento e a classificação dos modalizadores de
certeza e obrigatoriedade, que figuram em excertos de textos orais
representativos da fala culta de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Os modalizadores de certeza estão representados predominantemente por
advérbios (absolutamente, realmente), e reforçam o enunciado dito pelo
falante.
Os modalizadores de obrigatoriedade estão representados predominantemente pelos
verbos modais (poder, dever, ter que, ser preciso) e por verbos que denotam
obrigatoriedade (proibir, exigir).
Os modalizadores figuram mais no núcleo da UD, pois a expressão das atitudes
do falante e sua apreciação acerca da cena apresentada estão associadas ao
desenvolvimento do tema e à retomada dos assuntos já tratados. Em casos
reduzidos, os modalizadores figuram na margem esquerda, exprimindo uma
preparação ou aviso sobre o que será dito, antes mesmo que se desenvolva o
tema.
NO CAMINHO DE UM EDIÇÃO CRÍTICO-GENÉTICA
Célia Marques Telles (UFBA)
A filologia do manuscrito presente que se ocupa
da edição de textos modernos preocupa-se tanto em editar um texto que
corresponda à última vontade do autor, como em procurar mostrar o processo de
criação desse texto. Beneficia-se dos métodos da Crítica Textual (sobretudo
da crítica das variantes da escola italiana de G. Pasquali e G. Contini) e, bem
mais recen-temente, daqueles da Crítica Genética (da escola francesa de L. Hay
e A. Gresillon) na busca da construção do texto autoral. É nessa perspectiva
da Crítica Textual Genética ? como a denomina Luiz Fagundes Duarte ? que
se vem trabalhando no Grupo de Filologia Românica da UFBA, na edi-ção
crítica de textos modernos. Uma edição crítico-genética ou uma
edição crítica numa perspectiva genética é a meta atual a ser perseguida
nos traba-lhos de Crítica Textual Moderna.
NOMINALIZAÇÃO NAS SALAS DE BATE-PAPO
DA INTERNET
Patrícia Aparecida Azevedo (UNIBAN)
Paulo Rogério de Souza (UNIBAN)
Sandra Regina Moreira Campello (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
É objetivo deste trabalho a identificação
das formas mais usuais de nominalização utilizadas por falantes em conversas
virtuais, a partir de aná-lise de fatores lingüísticos (categoria gramatical,
gênero, campo semântico, tipo de apelido) e extralingüísticos (tipo de
sala).
Para tratamento dos dados, optamos pela metodologia da Sociolingüística
Quantitativa, por facilitar a correlação de grupos de fatores
estatisticamente, além de não eliminar o tratamento qualitativo muitas vezes
necessário à apreensão do fenômeno sob análise. Com base em algumas
hipóteses e no intuito de encontrar as invariâncias dentre as variações
estilísticas do usuário, partimos dos grupos de fatores citados.
Alguns grupos de fatores mostraram-se relevantes para entender a nominalização
nas salas de bate-papo.
NÚCLEO DE ESTUDOS SOCIOLINGÜÍSTICOS DA LÍNGUA PORTUGUESA
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
Em busca de um novo caminho metodológico para
a orientação da disciplina de Língua Portuguesa, no curso de Letras, começou
a ser implantada, desde 1995, a meta de se integrar a língua portuguesa às
demais disciplinas. No primeiro ano, integramos a língua portuguesa à
informática, com o uso de softwares destinados à pesquisa lingüística.
No ano seguinte, integramos a língua portuguesa às disciplinas de
lingüística I e II, nascendo os primeiros trabalhos investigativos na área de
lingüística do Português. Em 97, como resultado de todo o trabalho
desenvolvido, contávamos com a atuação de seis grupos de iniciação
científica que tiveram seus trabalhos divulgados em congressos no Rio de
Janeiro e São Paulo. Neste ano, o núcleo conta com quinze alunos de
iniciação científica, dos quais três são bolsistas e os demais recebem
apoio logístico e financeiro para participação em eventos acadêmicos em todo
o Brasil.
O ASPECTO NO PORTUGUÊS
Afrânio da Silva Garcia (UERJ)
1. A definição de aspecto segundo Comrie e as
confusões que ela evita.
2. As relações aspectuais possíveis e suas combinações.
3. português: uma língua eminentemente aspectual.
4. Os aspectos do português.
5. Temas normalmente confundidos com o aspecto: fase, modalidade e eventividade.
O DISCURSO ARGUMENTATIVO NO SERMÃO DE VIEIRA
Carla da Penha Bernardo (UFRJ)
O objetivo do trabalho é observar as
estratégias argumentativas do sermão do Padre Antônio Vieira. Nesse ponto,
interessa notar de que maneira a questão estilística é fundamental no
discurso vieiriano, seja com o intuito puramente artístico, seja com o objetivo
maior do sermão, que é o de convencer a platéia. Para tanto, indicaremos
algumas das mais recorrentes estratégias discursivas utilizadas pelo jesuíta
em parte de um de seus sermões.
O ENSINO DE PORTUGUÊS
Carlos Eduardo Falcão Uchôa (UFF)
O ensino de Português: para uma prática
fundamentada. O professor de Língua materna: professor de
linguagem. Os saberes lingüísticos que se que se manifestam pelo
falar. Para uma compreensão mais ampla da aula de Português: a
consideração de condições sob as quais acontece a prática do professor de
Língua Portuguesa.
O ENSINO DE REDAÇÃO VELHAS ATITUDES E NOVAS PERSPECTIVAS
Norma Cristina Guimarães Braga (UFRJ)
Mesmo com tantas pesquisas em nossas faculdades
de Letras que trazem propostas inovadoras para o ensino de redação em cursos e
escolas, nós, alunos e professores de Letras, somos vistos pela sociedade - e
até pela sociedade acadêmica - como os detentores de um poder específico, o
das regras do português. Nossas visões da língua são sempre, no olhar do
outro, reduzidas a seu aspecto normativo, quando as novas teorias da linguagem
já estão bastante desenvolvidas. Em nossa comunicação,
pretendemos analiar de forma panorâmica um manual de redação de cartas
comerciais (1984) que foi reaproveitado para este ano, em que antigas e novas
concepções se misturam sem chegar a um acordo, e demonstrar o quanto a atitude
genera-lizada frente ao ato de escrever ainda é negativa e seu ensino, pautado
por regras. Para finalizar, este enfoque será contraposto à corrente de
aplicação didática da Análise do Discurso.
O ESTUDO DE EXPRESSÕES COM AS PALAVRAS “CABEÇA” E “BOCA”
Letícia Miranda Medeiros (UERJ)
Lígia Moraes de Matos (UERJ)
A idéia deste trabalho surgiu de muitas
observações em nosso cotidiano. Uma grande variedade de expressões é criada
a partir de um objeto ou de uma coisa. Percebemos que algumas dessas expressões
já existiam há bastante tempo e eram facilmente encontradas em nossa
literatura; algumas antigas, outras nem tanto; algumas que conseguiram resistir
por décadas e saíram incólumes da luta que, com certeza, travaram com outras,
que não foram suficientemente fortes para vencer o choque.
Sabemos que hoje, parte significativa da população que cria expressões é
constituída de adolescentes; criam, recriam e inventam tantas expressões
novas, que poderíamos reunir um grupo delas, formando um dicionário especial
desses neologismos. É a “Biologia da Linguagem” tão poderosa que as
palavras têm a possibilidade de ressurgir, ressuscitar, de tornar à vida
depois de mortas.
O interesse da pesquisa é investigar a pluralidade de significados das palavras
cabeça e boca dentro das expressões mais usadas pelo povo brasileiro,
priorizando os métodos de trabalho da Dialetologia e o que se denomina de “Palavras
e Coisas”.
O GALEGO ATUAL
Valéria Gil Condé (USP)
I parte: Fundamentos histórico-sociais:
1.1 Panorama histórico-social da língua e cultura galegas.
1.2 O galego e a legislação atual.
II parte: Subsídios lingüísticos e
filológicos:
2.1 Peculiaridades da língua galega.
2.2 As tendências lingüísticas atuais.
Com.?093
O GALEGO DE HOJE
Alfredo Maceira Rodríguez (UERJ/UCB)
A situação lingüística na Galiza a partir
da Autonomia e da Constituição Espanhola de 1978, que permite o uso das
línguas das comunidades autônomas, junto com o espanhol - língua de todo o
Estado Espanhol. A publicação das Normas Ortográficas e Morfolóxicas do
Idioma Galego pela Real Academia Galega e pelo Instituto da Lingua Galega, em
1982.
Opiniões favoráveis e contrárias a esta padronização. Oposição de grupos
chamados reintegracionistas ou lusistas. Passados mais de 15 anos da
publicação das Normas, este é o galego que domina nas instituições
oficiais, no ensino e nos meios de comunicação. Existem várias rádios que
transmitem em galego. Acaba de inaugurar-se mais uma: a Radio Obradoiro.
Funciona também uma estação de televisão autônoma: a TVG. Existem diversos
periódicos, mas o único diário é o Correo Galego, que também se encontra na
Internet. A literatura em língua galega cresce em todos os gêneros, pode-se
dizer que, se não toda, a quase totalidade da produção impressa do galego
atual segue as Normas, afastando-se assim o galego, tanto do castelhano como do
português, embora tenha muito em comum com ambas: o português pela sua
herança comum e o espanhol pelos longos séculos de bilingüismo.
O LATIM POPULAR NO DE CORRECTIONE RUSTICORUM E O PROBLEMA DOS COPISTAS ERUDITOS
Syllas Mendes David (UFF)
Intuição sociolingüística de Martinho de
Braga, no século VI, ante os dialetos sociais e regionais na sua diocese. O uso
do latim vulgar no De correctione rusticorum, dirigido ao povo camponês, num
contexto multicultural e uso do latim clássico na Formula vitae honestae, sobre
as virtudes cardeais. Edições anteriores e a edição crítica de Barlow.
Crítica textual e o problema dos copistas, a viciarem a fonte de vulgarismos,
num texto por eles descaracterizado. Distinção de Martinho entre daemones e
culturae e sua marca num idiomatismo da língua portuguesa, ante as línguas
românicas, germânicas e eslavas.
O PERCURSO DA TRADUÇÃO NO TEXTO LITERÁRIO
Leda Papaleo Ruffo (UFRJ)
Há muitos e muitos anos, todo tradutor tem
sido considerado um pouco traidor. A verdade, porém, é que a tradução
implica em vários níveis, de diversas leituras. Umberto Eco já nos diz que
cada leitura é um novo texto. A tradução, onde fica?
Não podemos esquecer que a tradução, além de ser um novo texto, se compõe
de uma estruturação complexa quanto ao lugar de partida e quanto ao lugar de
chegada. São vários os caminhos que nos levam a uma proximidade ou a um
distanciamento do texto dito original.
Muitas vezes, incorporamos o autor ao nosso contexto de vida e provocamos
variações que não estão muito próximas da palavra do autor. Isso aconteceu
comigo nas traduções que desenvolvi a partir dos textos deleddianos, que tanto
me faziam tentar conviver com os mesmos cenários da distante Sardenha, ou mais
precisamente, do paesello de Nuoro.
A minha caminhada, como se vê, não terminou.
O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO COMPOSITOR GILBERTO MENDES
Rosemara Staub de Barros Zago (PUCSP/FAU)
A pesquisa tem por objetivo compreender o
processo de criação do compositor Gilberto Mendes (1922), a partir da análise
dos documentos de processo. Entendendo aqui como documento de processo, todo e
qualquer registro que possa proporcionar informações sobre o percurso da
criação artística do compositor. Para esse tipo de análise, são pesquisadas
todas as possíveis marcas deixadas pelo compositor. Estão fazendo parte destes
documentos de processo, seu caderno pentagramado denominado por ele de “temas
e anotações”, fotos, cartas, anotações e partituras em processo dentre
elas, das obras musicais, “Santos Footbal Music” (1969); “Ulisses em
Copacabana” (1988); “Um quadro de Gastão Frazão”(1985); “O Pente de
Istambul”(1990), entre outras.
Como arcabouço teórico recorremos à Semiótica de Charles S. Peir-ce e à
Crítica Genética desenvolvida no programa de Comunicação e Semi-ótica da
PUC/SP, pela Dra. Cecília A. Salles.
Considerando os documentos de processo como um espaço de comunicação
intrínseca, onde o artista armazena informações e as testa, podemos encontrar
registros dos mais diversos, tais como, anotações musicais, melodias, ritmos,
escolha de instrumentos musicais, anotações verbais, onde o compositor está
dialogando consigo mesmo, elaborando projetos musicais, dando ordens a si mesmo
como regras de comportamento de composição.
Outro ponto a ser elaborado está em relação ao “movimento tradutório”,
onde estão relacionados todos os tipos de “tradução intersemiótica”,
imagens detonadoras”, “estimuladores de percurso” e os “elementos
auxiliares”, onde é possível abarcar elementos propulsores de seu método de
criação musical.
O PROCESSO TELEJORNALÍSTICO E A CRÍTICA GENÉTICA
Aline Grego (PUCSP-UNICAP/PE)
O Jornalismo, enquanto fenômeno de linguagem,
revela uma rede de mediações sígnicas para inteirar-se num contexto. Ele, em
si, é um signo, uma forma de “relatar o mundo”.
Identificar acontecimentos, transformá-los em notícias. Esse emaranhado de
ações sugere a existência de um processo de puro movimento, signos que geram
outros signos. Ao reconhecer o trabalho telejornalístico como processo, foi
natural encontrar os caminhos da Crítica Genética.
Não parece fértil analisar o processo telejornalístico a partir do que foi
entregue ao público, a exemplo dos trabalhos de análise de discurso. Ao
contrário, o que interessa nessa pesquisa é o percurso, o movimento, as
testagens travadas, no processo, pelos vários autores, uma vez que o
telejornalismo é resultado de uma produção coletiva.
A experiência em redações e no ensino de jornalismo, tem apontado um problema
anterior a análise do que é veiculado pela tevê. Entre profissionais e
estudantes a questão reside em como lidar com a tensão vivida na passagem do
processo da reportagem para a edição.
Um dos objetivos da pesquisa, a partir da Crítica Genética, da análise dos
documentos de processo (Salles, C.1997) – é o de procurar compreender melhor
a textura dessa construção telejornalística.
O PRODUTO E O PROCESSO NA PESQUISA ACERCA DA APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS EM
CONTEXTO EDUCACIONAL
Nelson Mitrano Neto (UFF)
Com base em um conceito transdisciplinar de
lingüística aplicada, discutiremos a questão metodológica na pesquisa em uma
das áreas da lingüística aplicada mais bem exploradas: a aprendizagem de
línguas em contexto educacional. Com um recorte em nível da pragmática
lingüística, tentaremos delinear uma visão de pesquisa empírica nesta área
que venha a se pautar pela natureza do fenômeno a ser investigado e não
somente pelas características específicas desta ou daquela metodologia.
O RETO-ROMÂNICO MODERNO
Mário Eduardo Viaro (USP)
1. Divisão dialetal do reto-românico.
2. A formação de uma norma culta: o Rumantsch Grischun
3. Aspectos de gramática histórica do reto-românico.
4. Descrição sincrônica das duas variantes mais comuns: o sobresselvano e o
valáder.
O VALOR EXPRESSIVO DA PALAVRA REDIMENSIONADA
Salatiel Ferreira Rodrigues (SEE/RJ)
A verdadeira literatura é aquela que faz da
linguagem a sua essência, que valoriza o estágio intermediário entre o mundo
real e as palavras que o representam e que atribui a estas um poder absoluto e
improvável, capaz de mover ou de limitar uma tensão de consciência. O
escritor não trabalha diretamente com a realidade, mas com a língua. Sua
tarefa é recortar da língua a sua fala, que se constitui no discurso
literário. Este se caracteriza pelo tratamento retórico emprestado ao
significante e pela inserção de semas particulares no significado. A fala,
processo vivo da comunicação, é o ponto de partida por excelência para uma
nova língua, onde sobressai o domínio da liberdade e da criação, pelo
redimensionamento das palavras através de novas falas.
ONDE ESTÁ A LÍNGUA PADRÃO?
Ana Flávia Lopes Magela Gerahrdt (UFRJ)
A concepção corrente sobre a língua está de acordo com teorias mágicas que
preconizam a invariabilidade e a imutabilidade dos sistemas lingüísticos. A
reboque destas teorias, vem a total identificação entre língua e norma
padrão, embora esta não exista em nenhum lugar além dos compêndios
gramaticais. Observa-se hoje que a língua não se constitui propriedade dos que
a utilizam, mas sim dos que receberam da sociedade o poder de descrevê-la e
manipulá-la - os gramáticos, os lexicógrafos e a mídia.
Pode-se buscar as raízes deste estado de coisas em mais de dois mil anos de
estudos que obedecem a uma conscientização reificada de língua.
OS CARMINA BURANAE A ORALIDADE NO LATIM MEDIEVAL
Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)
Sucinta caracterização histórica da Idade
Média. Discussão sobre a existência de um sermo latinus medii aevii. Paul
Zumthor e a questão da literatura oral medieval. A poesia em latim medieval dos
Goliardos – Poemas de Beuren. Exemplificação em alguns carmina burana.
OS ESTUDOS DE BASE LEXICAL:
PERCURSOS E PERCALÇOS
Maria Emília Barcellos da Silva (UFRJ)
Os estudos de base lexical –
especificadamente a lexicologia, a lexicografia e a terminologia – têm
apresentado tão significativo desenvolvimento nas últimas décadas que impõem
reflexões sobre os percursos e os procedimentos que distinguem cada um dos seus
campos de interesse. Enquanto a lexicologia procura dar conta do sistema léxico
da língua geral que a lexicografia se empenha em descrever, a terminologia se
ocupa dos termos, das palavras específicas das línguas de especialidades.
As áreas cobertas pelos estudos lexicográficos e terminológicos, de inegável
proximidade, precisam-se pelo método com que desenvolvem os seus fazeres: a
semasiologia preside os de natureza lexicográfica, e a onomasiologia, os
terminológicos.
A produção lexicográfica de maior representatividade em português data dos
albores do século XVIII, com a publicação do Vocabulário Português-Latino
do padre teatino Raphael Bluteau. Presentemente, é a vez da terminologia vir
crescendo de importância ao interesse dos estudiosos e mesmo no dos usuários
comuns da língua, em virtude da normativização que ela propõe aos discursos
técnico-científicos que circunstanciam essa nova maneira de estar-no-mundo,
hoje amplamente dominado por novas e ritualizadas formas de convivência.
OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA CRÍTICA TEXTUAL
Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)
As primeiras manifestações na
Antigüidade Clássica. Figuras mais representativas na Idade Média. A moderna
crítica textual: Karl Lachmann e Giorgio Pasquali. Os postulados instituídos
por Karl Lachmann e sua aplicação prática. Breve notícia sobre a crítica
textual no Brasil.
OS PROBLEMAS AUTORAIS E TEXTUAIS DA OBRA ATRIBUÍDA A GREGÓRIO DE MATOS —
ALGUNS EXEMPLOS
Francisco Topa (Univ. do Porto)
Antecipando alguns dados da dissertação de
doutoramento que prepara sobre o tema, o autor discute e apresenta em edição
crítica um pequeno conjunto de sonetos, procurando exemplificar os muitos erros
de atribuição autoral e os inúmeros lapsos textuais cometidos pelas duas
principais edições da obra do poeta barroco baiano Gregório de Matos
(1636-1695).
Com.?106
OS QUATRO ELEMENTOS NA ELEGIA TIBULIANA
Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)
1. A elegia teve seu esplendor em Roma, embora
encontrasse suas origens na Grécia. Na literatura latina, atribui-se a Catulo a
sua introdução, mas foi com Tibulo e Propércio que encontrou os maiores
cultores.
2. Álbio Tibulo teve sua produção poética reunida no corpus tibulli-anum,
onde se expressam temas de amor (com destaque para duas mulheres: Délia e
Nêmesis), religião, exaltação da vida campestre, louvor a conquistas romanas
por Messala, uma tônica constante de melancolia, demonstrando a
incompatibilidade do "eu" poético com a realidade do mundo exterior.
3. Os quatro elementos da natureza: a terra, a água, o ar, o fogo, constituem a
idéia medular de nosso trabalho.
OS RECURSOS ARGUMENTATIVOS EM SALA DE AULA
Ana Cristina Salviato (UNESP)
Paulo de Tarso Galembeck (UNESP)
Este trabalho tem por objetivo verificar a
utilização de recursos argumentativos em aulas para os ensinos médio e
superior. Será analisada a maneira pela qual os professores se utilizam
da argumentação para convencer os seus alunos e em que medida esses processos
contribuem para o estabelecimento e a manutenção de um canal de comunicação
efetivo entre os participantes do processo de comunicação. A
classificação dos procedimentos de argumentação aqui adotada é exposta por
Garcia (1976) e Penteado (1982), os quais dividem os processos de sustentação
de argumentos em evidências e raciocínio. As evidências dividem-se em
fatos, exemplos, ilustrações, dados estatísticos e testemunhos. Os
processos de raciocínio dividem-se em indução, dedução, relações causais
(causa ou conseqüência, ou de efeito e causa) e, por fim, analogia. O
presente estudo possibilitará a verificação dos recursos argumentativos mais
freqüentes, além de sua adequação ao assunto desenvolvido. Também se
discutirá o papel desses argumentos como recursos para ampliar ou desenvolver o
assunto tratado.
PALAVRAS INSTRUMENTAIS EM CONTO DE EÇA DE QUEIROZ
Alessandra Fernandes da Silva (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
O objetivo deste trabalho é identificar os
itens gramaticais que funcionam como palavras instrumentais no conto
Singularidades de uma rapariga loira, de Eça de Queiroz.
Utilizamos, para tanto, o Tact, que é um programa para microcomputadores do
tipo PC, elaborado por John Bradley, da Universidade de Toronto, Canadá.
Esse programa tem a função de localizar letra, palavra ou frase em textos e
também pode fornecer número de ocorrências, número de palavras no texto,
além de contextos.
PALAVRAS-TEMA EM CONTO DE EÇA DE QUEIROZ
Diana Oliveira Baptista (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
Nossa proposta de estudo concentra-se na
análise do léxico de um corpus específico, com vistas a identificar as
palavras-tema, enquanto sustentação da idéia central do texto.
O corpus de análise é formado pelo vocabulário do conto Singularidades de uma
rapariga loira, de Eça de Queiroz.
Como instrumental a este estudo, adotamos o programa Tact que proporciona ao
usuário a rápida e eficiente localização de palavras no texto, bem como o
número de ocorrências. Dessa maneira, eliminamos a possibilidade de se
cometer erros ou exclusões de palavras, principalmente na contagem de
freqüência.
PANORAMA DOS ESTUDOS FILOLÓGICOS NA BAHIA
Lucidalva Correia Assunção (UEFS)
Neste trabalho procuramos traçar o panorama
dos estudos filológicos na Bahia: do ensino à pesquisa. Para isso,
identificamos as instituições de ensino superior envolvidas com esses estudos;
oferecemos informações so-bre os programas das disciplinas e os projetos de
pesquisa desenvolvidos na área em questão.
PARA ESTUDAR OS ENCONTROS VOCÁLICOS EM PORTUGUÊS ARCAICO.
Fernanda Elias Zucarelli (UNESP)
A presente comunicação pretende discutir a
definição de encontros vocálicos sob uma perspectiva fonológica, utilizando
como corpus algumas cantigas de amigo do Cancioneiro da Biblioteca Nacional de
Lisboa.
A discussão baseia-se no fato de que uma simples seqüência de vo-gais
na escrita nem sempre constrói um encontro vocálico; para exemplifi-car,
tem-se as ocorrências:
Assim sendo, torna-se necessária uma reflexão e uma conseqüente
definição para encontros vocálicos, para isso pode-se utilizar a teoria
métri-ca, que facilita o trabalho por enfatizar a função de cada elemento
dentro da sílaba, ou seja, dentro da seguinte planilha silábica:
? (sílaba)
R (rima)
O(onset) N (núcleo) C (coda)
c c v v c c
E assim pode-se concluir, através da
perspectiva da fonologia métrica, que um encontro vocálico vem a ser uma
seqüência de núcleos, que, se ocorrer na mesma sílaba (dominados pela mesma
rima), forma um ditongo, se ocorrer em sílabas diferentes, tem-se um hiato.
PARA UMA EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA
Albertina Ribeiro da Gama (UFBA)
Mostrar-se-á, o comportamento que se está
adotando para a edição semidiplomática rigorosa ? em curso de preparação
? dos Libros de açedrex, dados e tablas de Alfonso X, códice j. T. 6 da
Biblioteca do Escorial, datado de 1283. Os Libros de açedrex , dados e tablas
de Alfonso X constituem uma compilação relativa ao lúdico. Tem fontes
orientais e é o “mais valioso tratado sobre o tema na época medieval”. A
necessidade de uma leitura conservadora apoiou-se nos critérios de Joseph
Maria Piel ? na sua edição crítica do Livro da ensinança de bem cavalgar
toda sela, ? nos argumentos de Ivo de Castro ? na introdução da edição
crítica de A Demanda do Santo Graal (edição de J. M. Piel, concluída por
Irene Freire Nunes) ?, no artigo de Heitor Megale ? O testemunho da dúvida: a
busca da boa edição, na miscelânea Para Segismundo Spina: língua. filologia
e literatura ?, corroborados pelo comportamento de Luiz Fagundes Duarte na
edição da Vida de Santa Pelágia. O texto dos Libros de açedrex, dados e
ta-blas de Alfonso X tem uma edição crítica de A. Steiger, totalmente
esgota-da.
POR QUE E PARA QUE É NECESSÁRIA UMA EDIÇÃO DIPLOMÁTICA DOS CÓDICES DA OBRA
DE GREGÓRIO DE MATOS?
José Pereira da Silva (UERJ)
A obra poética atribuída a Gregório de Matos
e Guerra constitui o maior problema ecdótico brasileiro.
As dúvidas estão em quase todos os seus detalhes, pois, nem mesmo se pode
afirmar com certeza que o poeta Gregório de Matos existiu de fato, como
pretende provar a Profa. Ingridy, do setor de Literatura Brasileira da
Universidade de Colônia, na Alemanha.
Do cidadão Gregório de Matos, questiona-se sobre o nome, nascimento, vida e
morte, restando-nos muito mais dúvidas do que certezas, mesmo tomando como
referência a obra de Fernando da Rocha Peres (UFBA).
De sua obra, cujo inventário sistemático foi elaborado por Francisco Topa
(Universidade do Porto), o que ficou nos acervos manuscritos se constitui de
cópias organizadas por admiradores daquelas poesias, freqüentemente
confundidas com obras de autores conhecidos, ou de imitadores anônimos do
estilo das poesias ditas “de Gregório de Matos”.
Além disso, “a questão do plágio”, a grande quantidade e a dificuldade de
acesso direto a esses códices (alguns excessivamente protegidos por seus
guardiães) levam-nos à certeza de que sua edição crítica e o adianta-mento
de seus estudos exigem uma edição diplomática imediata, para que os futuros
pesquisadores tenham acesso a esse material tão raro.
PORTUGUÊS E FRANCÊS A TRAJETÓRIA DE DUAS LÍNGUAS DA EUROPA À
AMÉRICA
Maria Imerentina Rodrigues Ferreira (UFRJ)
O português e o francês, duas
línguas, como se sabe, oriundas do latim, partem da Europa e colonizam
pontos diferentes das Américas.
Procuraremos, assim, abordar semelhanças e diferenças desde sua
formação, em que se distanciam rumo a uma fonética, morfologia e sintaxe
diversas, até nossos dias, em que verificamos pontos de contato, de
reintegração, através do empréstimo que recobre determinados campos
semânticos específicos, por necessidade de se traduzir sua cultura.
Nesse percurso, consideraremos quatro pontos geográficos: Brasil,
Portugal, França e Canadá para identificarmos as convergências e
divergências lingüísticas, que são produto de culturas semelhantes, mas com
sua identidade específica.
PÓS-GRADUAÇÃO INTERUNIVERSITÁRIA EM FILOLOGIA NA UFRJ
Antônio Hauila (UFRJ)
Trata-se de dar uma contribuição aos estudos
e pesquisas dessa área humanística, não só pelo seu indiscutível valor
científico, mas também pelo que desse mesmo humanismo – tomado em todos os
seus sentidos e significados – está começando a faltar na dedicação quase
que exclusiva dada aos estudos sincrônicos.
Como se pode depreender do título desta mesa redonda “Proposta de
pós-graduação interuniversitária em Filologia” o debate vai prestigiar,
lato sensu, a área filológica e, stricto sensu, a Filologia Românica,
apontando, ambas, para um consenso didático-pedagógico entre as unidades
federais que as ministram ou ministraram no nível pós-graduado.
A Filologia na UFRJ, desde a saudosa FNFi, sempre se representou com as mentes
científicas e argutas de Augusto Magne, Sousa da Silveira, Antenor Nascentes,
Celso Cunha, Matilde Matarazzo, e muitos outras.
Atualmente, a descendência de tão ilustres mestres discute Gregório de Matos
e Gil Vicente, examina os textos de João do Rio e de Pedro Nava, aborda a
didática da língua portuguesa, faz crítica textual e genética, procura a
razão do nome na coisa nomeada, e faz geografia lingüística com a Toponímia,
quer a cristã alienígena ou quer a indígena pagã.
Pode-se observar, então, por essa variada temática filológica que é
praticada também aqui na Faculdade de Letras da UFRJ, que, apesar de tudo, há
– parodiando a famosa metáfora de Skutsch – um caudal fluindo dinâmica e
conscientemente sob a espessa camada de gelo da indiferença dos tecnocratas e
do descaso administrativo.
Por isso tudo aqui estamos, coesos, firmes e conscientes de que sem a
contribuição do passado a evolução do presente não só é mais lenta como
fica seriamente comprometida.
PROBLEMAS DA LEXICOGRAFIA DE LÍNGUA PORTUGUESA
Cláudio Mello Sobrinho
Questões conjunturais: o atraso da pesquisa no
campo dos estudos etimológicos; a carência de pessoal especializado e a
descontinuidade na elaboração de trabalhos lexicográficos; a dificuldade de
acesso às fontes bibliográficas; a falta de um apoio mais efetivo de órgãos
governamentais e das instituições acadêmicas; a insuficiência de tempo para
a preparação das obras, em função das exigências do mercado editorial.
Questões preliminares na elaboração de um dicionário etimológico: o
levantamento bibliográfico; a nominata; a descrição mórfica, etimológica e
semântica dos afixos e dos elementos de composição; o critério de
transcrição de palavras estrangeiras e o de transliterações de palavras de
língua de alfabeto diferente; a conceituação das expressões “origem
obscura”, “origem desconhecida” e “origem controversa”; o critério
para o estabelecimento da etimologia dos termos científicos e eruditos entrados
no português principalmente a partir do século XIX; a explicitação do
relacionamento dos vocábulos do português com seus formantes latinos e gregos.
PROBLEMAS ECDÓTICOS DA EDIÇÃO DA OBRA COMPLETA DE ALEXANDRE RODRIGUES
FERREIRA
José Pereira da Silva (UERJ)
A publicação da obra completa de Alexandre
Rodrigues Ferreira já é absolutamente inexeqüível, graças ao descuido das
autoridades relativa-mente à proteção de sua produção científica, porque
alguns documentos desapareceram e outros foram parcialmente destruídos.
Depois de várias tentativas frustradas com verbas públicas aprovadas e
comissões de altíssimo escalão nomeadas, estamos ultimando os preparos de uma
edição que pretendia ser crítica, com o registro desses interessantes fatos,
sem nenhum auxílio governamental.
Registramos isto para que se constate a injustiça que se comete na
distribuição do dinheiro público, oferecendo-o a uns privilegiados e
negando-o a quem produz.
Além desses há problemas técnicos:
1) Documentos de autoria diversa incluídos entre os documentos de autoria
segura e/ou explícita; 2) Documentos desaparecidos dos quais só existem
cópias impressas; 3) Documentos desaparecidos dos quais só existem cópias
posteriores; 4) Documentos dos quais existem versões muito diferentes; 5)
Documentos dos quais só existem rascunhos ou minutas; 6) Documentos em grande
número de cópias ao lado de documentos em codex unicus; 7) Documentos
ilegíveis, borrados ou corroídos; 8) Documentos impressos com adulteração
das fontes; 9) Documentos não datados nem assinados; 10) Grande quantidade de
documentos (milhares de páginas).
Se fosse fácil, algum aventureiro já o havia feito, certamente.
PROCEDIMENTOS DE CORREÇÃO EM TEXTOS CONVERSACIONAIS (PROJETO NURC/SP)
Paulo de Tarso Galembeck (UNESP)
Mércia Reiko Takao (UNESP/PIBIC)
Castilho menciona três processos discursivos
que constituem a língua falada: a construção, a reconstrução e a
descontinuação. O processo de construção consiste em dois atos de
fala: a construção do tópico ou tema (como tal entendido o objeto da
predicação); a predicação sobre esse objeto (construção do tema em
foco). A construção não é um processo contínuo ou linear, pois está
sujeito a reformulações ou reconstruções (que retoma ou “emendam” o que
foi dito) e a descontinuidades ou rupturas (hesitações, pausas, elipses,
anacolutos, truncamentos).
Este trabalho enfoca um dos processos de reconstrução ou reformulação, a
correção, que é o processo de reelaboração do discurso por meio do qual se
procura “consertar os erros”, sejam eles fonéticos, prosódicos, léxicos,
gramaticais ou pragmático informacionais. As ocorrências são
classificadas quanto à posição (adjacente ou não-adjacente), à natureza do
erro (fo-nético-prosódico, léxico, gramatical, pragmático), à presença de
marcadores, à dimensão da correção (total ou parcial), a informante que
executa a correção (auto-correção e heterocorreção). Os dados
apontam para o predomínio da correção lexical, adjacente, sem marcadores,
parcial e executada pelo próprio informante. O corpus do trabalho é
constituído por textos conversacionais pertencentes ao arquivo do Projeto NURC/SP.
PROCEDIMENTOS LINGÜÍSTICOS NO GERENCIAMENTO DE RELAÇÕES EM ESPAÇO PÚBLICO
E PRIVADO
Andréia da Cunha Malheiros (UNESP)
Antônio Suarez Abreu (UNESP)
Esta comunicação tem por objetivo descrever
os procedimentos lingüísticos utilizados no gerenciamento de relação
entre os interlocutores. Para esse estudo, parto do pressuposto de que a
toda interação verbal correspondem dois tipos de gerenciamento.
Um deles, já mencionado, é o gerenciamento de relações, atividade
normalmente executada por marcadores de atenuação, que visam a preservação
da face dos interlocutores. O outro tipo seria o gerenciamento da
in-formação e consiste na obediência às máximas de Grice à verificação
do repertório a ser comunicado.
O corpus da pesquisa é constituído por uma entrevista concedida por Gustavo
Loyola, presidente do Banco Central, no programa Roda Viva, dia 14 de abril
deste ano. Nesse corpus serão levantadas as ocorrências de marcadores de
atenuação, visando a determinar o papel dos mesmos no gerenciamento de
relações.
Os resultados mostram que os marcadores mais utilizados são os indicadores de
atividade cognitiva, as formas de pluralização do sujeito e algumas
expressões que buscam a cumplicidade do interlocutor, visando sempre o
gerenciamento de relação.
PROPOSTA DE PÓS-GRADUAÇÃO INTERUNIVERSITÁRIA DE FILOLOGIA
José Pereira da Silva (UERJ)
A Filologia, no Rio de Janeiro, está com
dificuldade de organizar um programa estável de pós-graduação porque as
diversas faculdades ou departamentos de letras não possuem o número suficiente
de professores habilitados para oferecerem esse curso.
Por isto, os filólogos lotados ou residentes no Rio de Janeiro podem e querem
restabelecer o Curso de Filologia Românica da Faculdade de Letras da
Universidade Federal do Rio de Janeiro ou outro equivalente ou inspirado
naquele.
Parece justo que a sede e as bases para o seu funcionamento sejam as do
desativado curso da UFRJ, os docentes deverão vir da UERJ, da UFF, da UFRJ, da
PUC, de outras universidades particulares e do corpo docente aposentado que aqui
vive.
O Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos e a ACADEMIA
BRASILEIRA DE FILOLOGIA têm todo o interesse em garantir o restabelecimento dos
cursos de Extensão, Aperfeiçoamento, Mestrado e Doutorado em Filologia
Românica no Rio de Janeiro e farão o possível para garantir a sua
permanência.
Deste Congresso deverá sair uma Comissão Executiva para organizar e
implementar o PROGRAMA INTERUNIVERSITÁRIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA
ROMÂNICA NO RIO DE JANEIRO.
QUEM DISSE QUE NÃO HA INFIXOS EM PORTUGUÊS?
José Lemos Monteiro (UFC)
Com este estudo pretendemos demonstrar que,
embora em geral se pense o contrario, a infixação existe na configuração
atual da morfologia portuguesa. Depois de estabelecermos os critérios para que
os infixos não sejam confundidos com outros segmentos mórficos, tais como os
sufixos mediais e os interfixos, apresentamos algumas situações que atestam a
presença de infixos no processo de derivação em português, com a função de
acrescentar a bases verbais a noção diminutiva ou o aspecto freqüentativo,
bem como formar hipocorísticos ou diminutivos de bases nominais.
RASTREANDO A CATEGORIA DO MITO
DA ORIGEM E DO SAGRADO EM
O PÃO DE CADA DIA, DE NÉLIDA PIÑON
Maria Alice Aguiar (UERJ)
Nossa comunicação tem por objetivo rastrear a
esteira do sagrado e do mito da origem em O pão de cada dia , de Nélida
Piñon (1994). Nélida demonstra, neste seu livro de fragmentos, a
consciência de ter tatuados numa memória secular, profundos elos
com a terra natal de seus ancestrais. E, como demiurga, parece possuir
duplo nascimento: um na terra, Brasil e outro no sonho, Galiza. Seu
avô Daniel surge como homem intrépido, aliciante, outorgando-lhe a
ousadia da aventura que permeia toda a sua obra: a busca obsessiva
da origem. Assim, Nélida, consciente de sua gênese, assimila-a e, no
caudal de seu fazer literário arrasta consigo uma galeguidade plena,
espontânea, sagrada. Amalgamando fronteiras, separadas geograficamente
por milhares de quilômetros, congeminando-as numa mesma perspectiva
de afeto insiste em não laços de memória que a acorrentam, ao mesmo tempo que
lhe dão asas para preparar o ritual da festa de sua linguagem. Enquanto
resiste, libera-se.
Portanto, repescando origem e marcando o espaço do sagrado em sua obra,
Nélida está, sem dúvida dando sentido único à sua escritura ao imprimir às
palavras os sentimentos originários que traz dentro de si. Sentimentos
advindos de pés que pisaram, convictos, o santuário de Santiago de Compostela
- seus ancestrais -, lugar de segredos e de penetração nos mistérios
divinos.
RECURSOS LINGÜÍSTICOS QUE AUXILIAM NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO
PRESENTE SIMPLES, DA INTERROGAÇÃO E DA NEGAÇÃO NA LÍNGUA INGLESA
Deise Mação Puppin (UFV)
Regina Maria Zuccolo Barragat de Andrade (UFV)
Os problemas lingüísticos detectados na
aprendizagem de uma língua estrangeira (inglês) podem ser resolvidos com o
desenvolvimento de estudos na área de Lingüística Aplicada ao Ensino de
Línguas Estrangeiras.
Pesquisam-se situações lingüísticas que influenciem positivamente nas
estratégias de ensino/aprendizagem do presente simples, da negação e da
interrogação. Faz-se um estudo crítico dos recursos lingüísticos que
os professores utilizam em diversas situações de sala de aula, particularmente
em momentos de explicações e esclarecimentos.
O aprendiz de uma segunda língua, tende a transferir as estruturas de sua
língua materna para a língua estrangeira. Por isso, os professores
precisam conhecer as estruturas lingüísticas que se confrontam nas duas
línguas em situações de ensino/aprendizagem e buscar meios de evitar a
interferência da língua materna.
REFERÊNCIA DE PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
Márcia Maria Reyies Hosne (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
Esta comunicação visa à apresentação de
resultados parciais de pesquisa que vem sendo desenvolvida no segundo semestre
de 1998, com prazo final prevista para meados de 1999.
O tema da pesquisa insere-se numa preocupação variacionista, uma vez que faz a
análise do uso variável de “nós” e “a gente” para referência à
primeira pessoa do plural no Português do Brasil.
O corpus investigado foi constituído a partir de histórias em quadrinhos e as
ocorrências encontradas foram analisadas segundo os seguintes grupos de
fatores: função sintática, tipo de gibi e ano de publicação, seguindo a
metodologia proposta por William Labov.
REGÊNCIA VERBAL DE IR E VIR EM REDAÇÕES UNIVERSITÁRIAS
Ellen Cristina Paulino da Costa (UNIBAN)
Ana Lúcia Vieira (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
Esta comunicação visa à apresentação dos
resultados da pesquisa sobre a regência verbal de IR e VIR, enquanto verbos que
normalmente trazem problemas na complementação, pela troca da preposição A
por EM.
Utilizamos parâmetros lingüísticos (pessoa, tempo e complemento) e
extralingüísticos (idade, sexo e curso), num tratamento quantitativo dos
dados. O material utilizado para investigação é formado por 100
redações de seis cursos, resultando em 47 ocorrências desses verbos.
Somente no curso de Filosofia não encontramos o uso desses verbos.
RELATIVISMO LINGÜÍSTICO A NEGAÇÃO NO PORTUGUÊS, NO INGLÊS E NO FRANCÊS
Afrânio da Silva Garcia (UERJ)
Polaridade e negação. A negação no
português: a possibilidade ou não de ocorrência da dupla negação e seus
fatores determinantes. A negação no inglês: o uso do operador verbal
com função nítida na distinção entre negação e polaridade e a relação
dos pronomes indefinidos com a noção de foco. A negação no francês
(do Canadá): as situações que possibilitam a dupla negação e as formas
distintas de se expressar afirmação conforme a polaridade da pergunta.
RUMOS DA GRAMATICALIZAÇÃO NO PORTUGUÊS DO BRASIL
Vanda de Oliveira Bittencourt (PUCMG)
Taxados pelos vigilantes da língua como “heresias”,
“atentados contra a nossa língua”, “lepra” e outros tantos
qualificativos de teor negativo, termos e expressões como inclusive, tipo
(assim), de repente etc. vêm ganhando terreno em nosso uso lingüístico mais
espontâneo, aí assumindo um exercício polivalente de papéis intra- e
inter-sentencial, assim como o textual, discursivo e conversacional. Exemplo
disso é o seguinte emprego da ex-pressão de repente, que, desvestida de sua
acepção temporal, apresenta-se como elemento introdutor de estratégia
metalingüística de cunho corretivo, na qual o interlocutor busca acertar o
engano de leitura do parceiro, que confunde os termos “laser” ( inglês) com
“lazer” (português):
1) De repente o texto que você leu não estava falando de “lazer”, mas do
“laser” que vai ser usado na operação que o cara vai fazer.
De natureza aproximada é o processo de desnominalização do substantivo tipo
que vem incorporando uma série de novos papéis, conforme nos testemunham
exemplos como:
2) a) Eu só vou terminar esse trabalho tipo semana que vem.
b) Eu fiz de tudo, mas ele não entendeu nadica de nada. Tipo assim.
Investigaremos alguns desses casos de extensão, ou desvio, da função
originária de elementos, mostrando seus novos empregos e identificando os rumos
do processo de gramaticalização que podem estar consubstanciando.
SEMIÓTICA VISUAL E MARKETING A MANIPULAÇÃO ATRAVÉS
DA SÍNCOPA, NAS LINGUAGENS: VERBAL, MUSICAL
E IMAGÉTICA
Nícia R. D’Ávila (UNESP)
Os espaços rítmicos engendrados no interior
de um discurso musical, e1, e2, e3, designados respectivamente como: tético,
acéfalo e anacrúsico representam, em ritmo dinâmico periódico, instâncias
diversificadas produzindo frases, períodos, etc., que não se limitam aos
parâmetros dos compassos.
Na linguagem visual fílmica dos “jingles” de publicidade são estas
instâncias, sob forma de imagens, que surgindo na tela sobre um fundo
rítmico-estático, agenciam o visual ao musical, ao verbal e ao proxêmico.
Este último, com grande representatividade quanto ao “percurso da cerveja”
no “jingle” que apresentaremos, reagrupa caracteres rítmicos verbais,
percussivos, melódicos, visuais e gestuais, axiologizando-os, em linguagens
articuladas em sincretismo que conduzem o destinatário ao “feed-back”
positivo = fazer-comprar.
Ao som da melodia Garota de Ipanema de A. C. Jobim, realiza-se o marketing da
cerveja BRAHMA. A síncopa determina o caráter factitivo (persuasivo) da
significação implicando na forma do conteúdo da publici-dade enunciada
: enfática, inflexiva, imperativa, manipuladora.
Ainda que a linguagem verbal seja predominante em relação ao que do sentido,
são as linguagens musical e imagética (semi-simbólicas) que, através do como
do sentido, provam que a “maneira de dizer” (pragmática) - por meio da
síncopa e do caráter proxêmico, é mais importante do que aquilo que
foi dito.
SÍNCLISE PRONOMINAL: UM CONFRONTO DE CORPORA
Maria da Glória Rocha (UNEB)
O trabalho intitulado Sínclise Pronominal: um
confronto de corpora é desdobramento da dissertação de mestrado A Colocação
Pronominal na Norma de Estudantes Pré–Universitários para a qual pesquisamos
a colocação dos clíticos na norma de dez estudantes alagoinhenses com idade
entre dezesseis e dezoito anos, objetivando verificar o grau de conformidade
daquela norma às prescrições das gramáticas tradicionais. A continuidade da
pesquisa – pautada nos princípios teóricos da teoria variacionista –
vem-se dando com outro corpus de língua oral, com informantes da mesma
localidade, com idade entre trinta e quarenta cinco anos e escolaridade
superior. O confronto dos dois corpora nos dará subsídios para verificar se o
que foi confirmado no corpus da primeira pesquisa se repete em corpus de outra
procedência. As variáveis sociolingüísticas consideradas nesta etapa do
trabalho foram o sexo, a escolaridade superior e o discurso oral em estilo de
entrevista dos informantes.
SÍNTESE DA GRAMÁTICA TUPINAMBÁ
Nataniel dos Santos Gomes (UERJ/UFRJ)
Normalmente, quando se refere ao tupi antigo,
encontramos análises de sua influência sobre a língua portuguesa, sobretudo
em topônimos. Dessa forma esquece-se de seu valor lingüístico de resistência
à imposição.
Podemos perceber fatos lingüísticos muito interessantes na análise desta
língua. Por exemplo, percebemos que ela não tem consoantes fricativas, exceto
o /s/, também não possuíam a lateral /l/ e a vibrante múltipla /R/, gerando
um trocadilho, que afirmava que aquele povo não tinha nem fé, nem lei, nem
rei, como forma de referência à sua cultura e língua.
Outro fato interessante é que em sua estrutura morfológica, o sujeito do verbo
intransitivo é cindido, ou seja, o sujeito intransitivo tem a mesma forma que o
objeto dos verbos transitivos. São línguas ativas, com sintagmas nominais
neutros e diferentes formas de clíticos referentes a pessoas.
Assim como na língua portuguesa, não existe a obrigatoriedade dos sintagmas
nominais de sujeito ou objeto serem preenchidos lexicalmente, no tupinambá.
São as denominadas línguas pro drop.
Pretendemos desenvolver um resumo dessa gramática tão curiosa e tentar alertar
para os diversos erros clássicos, tais como sua classificação como língua
aglutinante e não como incorporante.
SITUAÇÃO ATUAL DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
Bruno Fregni Bassetto (USP)
A constituição da União Européia teve como
conseqüência uma série de fatores benéficos no campo cultural. Baseada
no respeito a seus constituintes plurirraciais, a União Européia empenhou-se
em estudar a situação presente das variedades lingüísticas em uso em seu
território e estimulou as diversas nações a apoiar as minorias
lingüísticas, buscando evitar-lhes a extinção. Este trabalho pretende
apresentar um panorama das variedades lingüísticas românicas na Europa, com
algumas indicações de sua situação no mundo, baseando-se no Livro Vermelho
das Línguas Ameaçadas (Europa) da UNESCO, no Informe Comunitário da União
Européia e nos dados da União Latina, além de dados bem recentes colhidos na
Internet. Tendo em vista a posição sólida das línguas românicas
oficiais (português, castelhano, francês, italiano e romeno), não pareceu
necessário tratar delas detalhada-mente. As outras não nacionalmente
oficiais, tais como o galego, o catalão, o provençal, o gascão, o
franco-provençal, o rético e o sardo, potencial-mente ameaçadas de extinção
e atualmente oficiais em seus respectivos territórios, são tratadas com
destaque. A conclusão a que se chega é que todas, ou quase todas,
recuperaram muito de seu vigor e ostentam, em nossos dias, notável vitalidade,
manifestada através de todo tipo de publicações, unificação e fixação de
normas ortográficas, ensino nas escolas, regras de financiamento, fundação de
institutos curadores etc. As ameaças diminuíram e a sobrevivência das
minorias lingüísticas românicas parece garantida.
SOBRE EMPRÉSTIMOS: ECOS DE UM ENCONTRO EM YALE
Emmanoel dos Santos (UFRJ)
Uma apresentação do problema do empréstimo
lingüístico no âmbito dos trabalhos do Primeiro Congresso Internacional da
American Portuguese Studies Association, realizado na Universidade de Yale, de
26 a 28 de março do ano em curso.
Levantamentos e estudos sobre o uso de empréstimos no discurso escrito sobre
cinema no português do Brasil, tomando como hipótese de trabalho uma crença
largamente assumida, mas que as investigações não confirmaram, nem no
discurso dos leigos, nem no discurso de especialistas quando dirigido ao grande
público, ficando a forte adoção de empréstimos circunscrita ao discurso
técnico (discurso de especialistas para especialistas).
Expansão da pesquisa para o exame do discurso sobre cinema em Portugal,
iniciando-se com a análise de textos sobre cinema assinados pelo polígrafo
(poeta, ensaísta, crítico, etc.) lusitano Jorge de Sena. (Motivo para o
privilegiamento: todos os textos sobre cinema desse autor foram reunidos e
publicados.) Tais textos e outros, examinados menos exaustivamente, apontam para
uma situação semelhante, no tocante a empréstimos, entre os discursos
escritos sobre cinema em Portugal e os escritos no Brasil.
Reflexões de ordem filológica: uma correspondência com a editora de Jorge de
Sena e o problema da fidedignidade dos textos.
TEXTUALIZAÇÃO DA IMAGEM
Adriano Chan (UNESP)
Antônio Suárez de Abreu (UNESP)
Quem nunca ouviu dizer que “uma imagem vale
muito mais que mil palavras”? Será?
Pretende-se, neste estudo, discutir as propriedades da imagem e os elementos
envolvidos em sua textualização. Trata-se de uma tarefa relevante, pois
a cognição e decodificação da imagem são um processo que envolve os mais
diversos níveis: o pictórico, o cognitivo e o alegórico. Elas
oferecem muitos atrativos, enter os quais podemos destacar a
fragmentação do momento, o que causa grandes repercussões na
argumentatividade da mensagem. As imagens não gozam de um sistema
definido e sedimentado, por isso, encontram-se em constante sistematização.
Tentar-se-á chegar às propriedades profundas que estruturam e fundamentam a
percepção de uma imagem como um texto icônico alegorizado passível de ser
decomposto em diversos níveis.
TIPOLOGIA DAS FORMAS DE TRATAMENTO ENTRE CASAIS
Eleonora Cordeiro (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
A proposta deste trabalho é observar como os
casais se tratam e estabelecer uma tipologia das formas de tratamento mais
recorrentes em situações informais.
A amostra é constituída de 72 casais, que respondem a perguntas sobre as
formas que se tratavam nominalmente, quanto à variação de usos desencadeada
pela discussão matrimonial. As respostas foram avaliadas segundo a faixa
etária do informante e o sexo.
Após a conclusão da coleta de dados, estabelecemos algumas hipóteses de
trabalho baseadas em nossas instituições, enquanto falantes nativos da
língua, com base nas quais elencamos alguns critérios que dessem conta de
propiciar respostas. No levantamento e análise dos dados, notamos que algumas
invariâncias tornavam-se cada vez mais evidentes e, a partir delas,
estabelecemos uma tipologia para as formas de tratamento entre casais na cidade
de São Paulo.
TRÊS TRATADOS MEDIEVAIS PORTUGUESES (EDIÇÃO CRÍTICA)
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS/USP)
Entre as obras do período medieval português
figura o texto ascético-místico Castelo Perigoso. Este texto encontra-se no
Códice Alcobacense 199 distribuído em sete tratados: o primeiro Castelo
Perigoso, aborda ensinamentos sobre como edificar um castelo no coração e como
defendê-lo contra ladrões e traidores; o segundo, dos Benefícios de Deus, é
um desdobramento, segundo Martins (1956), do primeiro; o terceiro, Do Livro da
Consciência e do Conhecimento Próprio, traz conselhos sobre auto-conhecimento;
o quarto, Da Amizade e das Qualidades do Amigo, aborda as qualidades que se deve
encontrar em um amigo; o quinto, Das Penas do Inferno, e o sexto, Das Alegrias
do Paraíso, tratam, respectivamente, sobre o tema da condenação eterna e
sobre a felicidade dos eleitos quando alcançarem o paraíso, livres de todo
sofrimento terreno; o sétimo e último tratado, Livro dos Três Caminhos e dos
Sete Sinais do Amor Embebedado, apresenta a vida espiritual direcionada por
três caminhos: o purgativo, o iluminativo e o contemplativo.
Constituir-se-á objeto deste trabalho apenas três tratados: o segundo, o
terceiro e o quarto; que serão editados criticamente a partir dos manuscritos
alcobacenses (mss. 199 e 214), pertencentes à Biblioteca Nacional de Lisboa.
UM ESTUDO SOBRE A INTELIGIBILIDADE DAS VOGAIS CANTADAS NO PORTUGUÊS
BRASILEIRO
Beatriz Raposo de Medeiros (UNICAMP)
Leonardo Couto Franco de Oliveira (UNICAMP)
Compreendendo uma manobra articulatória
típica das vozes femininas no canto erudito , que é o abaixamento da
mandíbula, pode-se compreender, também, o resultado acústico que permite à
voz grande amplitude e projeção (Sundberg, 1977).
No entanto, o sinal sonoro emitido por cantores eruditos (de ópera ou de
câmara), se por um lado ganha em amplitude, por outro, tem a inteligibilidade
do texto cantado comprometida.
Há mais de duas décadas a questão da inteligibilidade vem sendo estudada por
autores como Scotto di Carlo (1978) e Sundberg (1975, apud Scotto di Carlo,
1985), enfocando-se línguas como o inglês, o sueco e o francês e
principalmente o texto e a música operísticos.
O presente estudo tem caráter preliminar e visa, baseado nos autores já
citados, verificar a inteligibilidade de três vogais [i], [e] e [eh] faladas e
cantadas no estilo de música de câmara em português brasileiro ( PB).
Os resultados obtidos correspondem àqueles de pesquisadores como Sundberg e
Scotto di Carlo, mas devem ser entendidos dentro do seguinte quadro: pertencerem
à língua portuguesa do Brasil e à música de câmara brasileira – tendo
sido esta escolhida uma vez que sua tradição é bastante expressiva
comparando-se à ópera brasileira.
As outras vogais do PB serão estudadas ao longo do projeto de pesquisa em que
se insere o presente estudo.
Por ora, interessa-nos comparar estas vogais faladas às suas cantadas, focando
a questão da inteligibilidade destas últimas.
UMA COMPARAÇÃO ENTRE A ESTILÍSTICA FÔNICA DE CECÍLIA MEIRELES E VINÍCIUS
DE MORAES
Alessandra Almeida da Rocha (UERJ)
A estilística fônica nos ajuda a reconhecer o
caminho escolhido pelo autor, não só através de palavras, mas no interior das
mesmas, ou seja, em sua fonética, para expressar nos mínimos detalhes o que
sentimos em sua alma.
Nesta comunicação, compararemos a estilística fônica de Vinícius de Moraes,
em seu poema “Poética”, com uma outra poetisa contemporânea dele, Cecília
Meireles, em seu poema “Motivo”, um dos mais bonitos da autora, que mostra
sua característica existencialista. De certa forma, os poemas “Motivo”
e “Poética” apresentam semelhanças temáticas. Entretanto,
observaremos as semelhanças e diferenças fonéticas de cada um.
UMA EXPERIÊNCIA COM LEITURA / PRODUÇÃO DE TEXTOS NO ENSINO DE PORTUGUÊS PARA
ESTRANGEIROS
Norimar Júdice (UFF)
Apresentação de proposta pedagógica para o
ensino de Português para Estrangeiros, desenvolvida a partir de utilização de
material didático que tem por base reproduções de obras de artistas
plásticos brasileiros e estrangeiros configuradoras de imagens do Brasil.
Abordagem da leitura desses textos não-verbais – realizada pelos aprendizes
paralelamente à produção de textos verbais com diferentes modos de
organização – como procedimento dinamizador do processo de aquisição da
língua e da cultura do Brasil.
UMA MUDANÇA FONOLÓGICA PODE SER GERADA PELA NORMA ESCRITA?
Antônio Martins de Araújo (UFRJ)
Após os primeiros gramáticos – Fernão de
Oliveira (1536) e João de Barros (1540), fiéis à norma elocucional do idioma
português dessa época, haverem já omitido em seus tratados ortográficos
[-b-] e [-d-] em palavras como sustantivo, aggetivo e avverbio, por não se
pronunciarem mais ali e então, em 1576, na mesma cidade-corte de Lisboa, o
Licenciado Duarte Nunes do Lião [sic], em ? sua Orthographia da lingoa
portuguesa, recuperou não só essas, como também outras consoantes em
posição implosiva medial, tais como eram executadas há mais de quinze
séculos em latim, disponibilizando-as assim para sua recirculação no uso
oral.
UMA PROPOSTA PARA INTEGRAÇÃO INTERATIVA DA INTERNET EM CURSOS DE LEITURA
DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA
Lorena Ribeiro Fonseca (UFMG)
Como professora de Francês Língua Estrangeira
(FLE), tive interesse em estudar o uso da Internet como um recurso em cursos de
leitura em francês, depois da instalação do Laboratório de Auto-aprendizagem
de Línguas através da Internet na Faculdade de Letras da Universidade Federal
de Minas Gerais, no primeiro semestre de 1997.
Sem o poder de substituir a figura do professor e/ou educador, a Internet
mostra-se uma ferramenta de valor inestimável para a pesquisa, aprendizagem e
difusão de línguas modernas. Originalmente uma ferra-menta para comunicação
internacional entre a elite acadêmica global, a Internet passou a servir a
propósitos comerciais e culturais há cerca de apenas quatro anos. O seu
sucesso foi meteórico, os números do seu crescimento impressionam.
Esta mídia, que ainda nos seus primórdios já se mostra tão atraente,
conquistou professores e alunos de língua estrangeira da nossa faculdade,
sobretudo aqueles de língua inglesa, que já fazem do laboratório de Internet
uma extensão da sala de aula. O uso da Internet enriquece a aprendizagem de
línguas estrangeiras através da leitura maximizando aquilo que já é feito
através de textos impressos ao trazer uma variável nova: a interação com o
texto.
A leitura tridimensional e multimídia viabilizada pelo recurso multimeios e
hipertextual possibilita a interação com o texto que se vai construir segundo
interesse do usuário cujas ações modificam o desenvolvimento do texto, da
mesma forma que o desenvolvimento do texto influencia as ações sucessivas do
leitor. Mas a Internet não garante por si só a interação uma vez que a
dimensão interativa não se reduz ao simples manuseio da máquina.
Com.?141
USO VARIÁVEL DAS FORMAS NÓS E A GENTE
NA LINGUAGEM DE IDOSAS ANALFABETAS
Cristiane Fátima de Oliveira (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)
Esta comunicação tem por objetivo dar
notícias sobre a fase da pes-quisa em que nos dedicamos a examinar a faixa
etária dos 69 aos 86 anos, a fim de observar se o comportamento desses
falantes, quanto ao uso de nós e a gente, é similar aos de adultos
profissionalmente ativos. Para tanto, utili-zamos três entrevistas e
correlacionamos os dados aos grupos de fatores: concordância verbal, função
sintática, número de referência na cadeia dis-cursiva e referente. O
tratamento estatístico a que foram submetidos os da-dos é previsto no
algoritmo laboviano.
Na linguagem dos idosos, o uso desses pronomes demonstra-se um caso prototípico
de variação estável. Dessa maneira, encontramos muitos exemplares de
ambas as formas de referência à primeira pessoa do plural.
UTENSÍLIOS DE COZINHA: PORTUGAL DO SÉCULO XVI - BRASIL NO SÉCULO ATUAL
Celina Márcia de Souza Abbade (UFBA/UNEB)
Tentar-se-á fazer umas abordagem dos
vocábulos que designam os utensílios de cozinha utilizados em Portugal no
século XVI e, a partir daí, verificar-se-á a sobrevivência desses vocábulos
na língua portuguesa do Brasil atual.
Serão utilizados como textos de base, os do Livro de Cozinha da Infanta D.
Maria na edição crítica de Giacinto Manuppella, relativos ao século XVI e os
do Livro de Cozinha de Pedro Archanjo com as Merendas de D. Flor de Paloma
Amado, relativos ao século XX.
Escolheu-se esse tema com base nos estudos que já vêm sendo desenvolvidos com
o objetivo de se fazer o levantamento de três campos lexicais (utensílios,
condimentos e pesos e medidas), para a conclusão do Mestrado em Lingüística
Histórica na Universidade Federal da Bahia, sob a orientação da Professora
Doutora Célia Marques Telles.
VOCABULÁRIO DA MISCELÂNEA DE GARCIA DE RESENDE
Ronaldo Menegaz (UFRJ)
O Vocabulário da Miscelânea de Garcia de
Resende, publicado pela Biblioteca Nacional, em 1994, foi a última das obras
elaboradas como partes iniciais do grande projeto que o Instituto Nacional do
Livro desenvolveu durante os anos da década de 60, de preparar e editar um
grande Dicionário Nacional da Língua Portuguesa. De acordo com o plano
apresentado pelo renomado lexicógrafo Antônio Geraldo da Cunha, o Dicionário
deveria contemplar o léxico português em sua diacronia, a partir do século
XVI. Para tanto, foi inventariado o vocabulário de cerca de 150 obras
quinhentistas portuguesas, tanto as literárias, quanto as que continham o
registro das diferentes áreas do conhecimento, como: matemática, fabrico de
naus, astronomia, marinharia, a crônica das navegações e
descobrimentos. Ao mesmo tempo que a equipe do dicionário ia
desenvolvendo seu trabalho em busca do objetivo final, ia-se constituindo, como
resultados parciais, a coleção “Textos e Vocabulários”, cujos títulos,
hoje completamente esgotados, antecipavam o Dicionário Nacional da Língua
Portuguesa, já prestando inestimáveis serviços aos estudos filológicos,
lexicológicos e literários. Haja vista ao Índice Analítico do
Vocabulário de Os Lusíadas, as edições de autos de Antônio Ribeiro Chiado,
do anônimo Auto de Vicente Anes Joeira, do Vocabulário da Carta de Pero Vaz de
Caminha e outras mais. Elaborado nesse tempo, somente em 1994 foi
publicado o Vocabulário da Miscelânea de Garcia de Resende, já iniciando, na
Biblioteca Nacional, uma outra coleção, denominada “Coleção Celso Cunha”,
em homenagem ao saudoso mestre.
A OCULTAÇÃO NO DISCURSO
Maria Antônia da Costa Lobo
Na era da comunicação, os mais diversos tipos
de discurso se apresentam.
Alguns deles com mensagens nas quais se detecta a presença constante do emprego
de recursos lingüísticos interferentes no processo comunicativo, de forma
obscura.
Pretende-se, assim, sublinhá-los e, conseqüentemente, analisá-los, pela
aplicação de técnicas, com vistas à avaliação da intencionalidade neles
contida.
A PALATALIZAÇÃO NA HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV/UERJ)
Na apresentação deste trabalho serão
abordadas as palatais do latim e sua evolução para o português, bem como a
origem das palatais românicas. Será abordado, também, o comportamento
das palatais na fala popular atual que chegam ao ieísmo. Será
apresentado o comportamento das palatais na fala rural como regressão,
continuidade e progressão de palatais ocorridas no meio rural. A pesquisa
teve a abrangência de mais de 350 entrevistas, grafadas e gravadas em mais de
180 fitas K&, realizadas em propriedades rurais de 33 municípios das
microrregiões de Viçosa (20) e Ubá (13 de 17). Essa pesquisa
abrangerá, ainda, as outras 5 microrregiões da Zona da Mata de Minas Gerais,
como Ponte Nova, Manhuaçu, Muriaé, Juiz de Fora e Ca-taguazes, totalizando
cerca de 1.523 propriedades dos 126 municípios.
ALGUMAS DIFICULDADES NA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA ROMÂNICA
Bruno Fregni Bassetto (USP)
O Infocapes, vol. 5, nº 4, pág. 43, diz que
são poucos os pesquisadores na área de Filologia Românica. Realmente,
um levantamento da situação da área nas universidades brasileiras revela um
certo declínio. As causas lançam suas raízes nas condições gerais
deficitárias do ensino em nosso país. O abandono do estudo do latim
tirou a base sobre a qual se fundamentam os estudos românicos, já que se
eliminou o conhecimento do terminus a quo. Na Universidade de São Paulo,
um domínio razoável do latim é condição sine qua non par o ingresso na
pós-graduação em Filologia Românica. Por outro lado, parece-me
absolutamente indispensável redefinir o que se deve entender por Filologia,
dada a grande diversidade de conceitos. Urge ainda fazer com que a
Filologia seja considerada um campo específico de conhecimento, já que dispõe
de objeto próprio, metodologia adequada e uma tradição muito rica em estudos,
pesquisas e resultados, fato que não é reconhecido nos elencos da CAPES, da
FAPESP e de tantas outras instituições de fomento e de apoio. Em
conseqüência, não se sabe com clareza onde encaixar nossa disciplina.
CRÍTICA GENÉTICA OS BASTIDORES DE UMA OBRA LITERÁRIA
Maria Antônia da Costa Lobo
Modelar uma obra exige, acima de tudo, esboço,
quer relativamente à trama, quer referentemente aos participantes dessa trama.
Alguns escritores permitem, através das pegadas por eles deixadas, que se possa
perceber o trabalho de um inconsciente verdadeiramente maniesto
E o estudo científico da multiplicidade de processos de escritura é uma forma
de contribuição para o entendimento do produto resultante que é uma obra
literária.
DESENVOLVIMENTO DE UMA PESQUISA DIALECTOLÓGICA RURAL NA ZONA DA MATA DE MINAS
GERAIS
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV/UERJ)
Em 1990, iniciou-se, no DLA da UFV, pesquisa
Dialetológica Rural buscando os nomes populares de doenças de criações e
culturas agrícolas com o objetivo de elaborar um Glossário Popular-Técnico e
Técnico-Popular da Microrregião de Viçosa (MG). Foram levantados os
nomes das doenças e respectivas descrições feitas pelos informantes a fim de
compatibilizar as duas linguagens: a do campo e a do técnico de ciências
agrárias visto que um não entende a do outro. Elaborada a tese de
doutorado, a pesquisa estendeu-se às outras 6 microrregiões da Zona da
Mata. Em 1994, por nossa conta e com três alunos de Iniciação
Científica do CNPq, iniciou-se a pesquisa nos municípios de Astolfo Dutra,
Rodeiro, São Geral, Tocantins da microrregião de Ubá. Coma experiência
adquirida e com a pesquisa nesses municípios, a equipe procurou elaborar
os Atlas Lingüísticos Municipais Rurais dos municípios Rurais dos municípios
citados. Nesta mesa redonda, será apresentado o que foi e tem sido feito
na busca de sugestões dos participantes para melhoria dos trabalhos.
Será exposto o que se faz e o que se pode fazer neste tipo de pesquisa que
foge, no dizer de Sílvio Elia, dos parâmetros clássicos de pesquisa
Dialetológica e Geolingüística.
ENFRAQUECIMENTO DAS CONSOANTES NO PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA ANÁLISE EM
FONÉTICA EXPERIMENTAL
Denise Schetino Bastos Certo (UFF)
O presente trabalho reúne dados e resultados
de uma pesquisa em fonética experimental que consiste em uma análise
acústico-articulatória de fonemas consonantais do português do Brasil.
Foram escolhidos quatro informantes do sexo masculino, na faixa etária
compreendida entre 30 e 40, originários de Volta Redonda (RJ). o corpus
foi elaborado antecipadamente e se constitui de 200 frases, em que as consoantes
estudadas ocorrem sob a influência do mesmo acento da palavra e da frase.
O material sonoro é resultado de uma leitura realizada pelos informantes,
registrado em estúdio de gravação em fita e analisado através de um programa
de computador. O resultado demonstra que as consoantes oclusivas sonoras e
a vibrante múltipla do português estão sofrendo cada vez mais alterações em
suas realizações, conseqüência da atuação do fenômeno fonético do
enfraquecimento articulatório ou lenização. Quanto à sonoridade, por
exemplo, observamos um re-forço na articulação, pois a consoante realizou-se
predominantemente como som ensurdecido. À semelhança das vibrantes, há
coincidência dos processos de enfraquecimento, quanto ao modo de articulação,
e o reforço articulatório na passagem sonora ? surda, quanto à vibração das
cordas vocais. Supomos que esteja ocorrendo um processo de compensação
articulatório.
Nossos resultados não conseguiram opor os falantes de nível culto e de nível
popular quanto ao enfraquecimento das consoantes oclusivas e vibrantes.
Isto significa que este fenômeno se deu de modo bem marcado num e noutro falar.
ENSINO DE LINGÜÍSTICA NAS ÁREAS DE LETRAS, EDUCAÇÃO E SAÚDE
Maria Cecília Magalhães Mollica (UFRJ)
Com base em
Mollica (1998), teço considerações sobre a forma como o ensino de
Lingüística deve adequar-se às necessidades da formação dos profissionais
de Letras, de Educação e de Saúde. Dou ênfase na importância de se
incorporar o conhecimento que já temos na Ciência da Linguagem sobre a língua
falada, sobre os mecanismos discursivos e sobre os princípios basilares de
estruturação textual. Ao considerar o arsenal de pesquisa de que se dispõe e
a relação entre fala e escrita, indico em que perspectivas o professor de
Lingüística deve trabalhar, ministrando cursos nas três áreas mencionadas,
de modo a assegurar um perfil compatível ao que cada aluno terá que atingir
efetivamente em suas práticas profissionais.
METAPHOR: A POWER IN YOUR HANDS
Regina de Souza Ferreira Lima da Silva
Cada autor tem uma forma característica de
manifestar seu pensa-mento e sua sensibilidade. A expressão da linguagem
constitui o objeto próprio da Estilística. Quem fala ou escreve lança
mão de processos de manipulação da linguagem para exteriorizar conteúdos
emotivos e intuitivos por meio das palavras e de sua organização.
Recursos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos são explorados
no esforço de sedução do ouvinte ou leitor.
A metáfora é uma das principais figuras no estudo dos significados.
Veremos, pois, o que é metáfora, como ela se apresenta e como exerce seu poder
persuasivo. Sua presença será ilustrada com exemplos em inglês em
passagens de obras de Mawell, Shakespeare, Marlowe e outros.
OS TUPINISMOS COMO FORMA DE SÁTIRA EM GREGÓRIO DE MATTOS E GUERRA
Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)
A veia satírica de Gregório de Mattos e
Guerra não se fez pulsar apenas através da linguagem peculiar ao barroco
literário. Também se fez notar pelo emprego de palavras originárias do tupi,
com as quais o bardo baiano assacou ataques e críticas mordazes aos reinóis,
ao clero pecador, à falsa nobreza, à burguesia pretensiosa, aos militares
violentos, aos comerciantes desonestos, aos exploradores do povo, aos
escravizadores dos indefesos, enfim, a todo um sistema social viciado, corrupto,
que infestava o Brasil do século XVII.
Nessas vergastadas de poesia maldizente, encontramos, para exemplificar, alguns
termos como: quantimondé, tatus, teiús, surucucus, preá, tapiti, gebiracas,
puçás, murici, inhapupê, cumari, miraró, massapê, paiaiá, titara etc., os
quais serviram de fonte para que Antônio de Morais Silva fos-se abeberar-se
quando escreveu a sua memorável obra lexicográfica: Dicionário da Língua
Portuguesa.