Resumos do II CNLF

 
A CORRESPONDÊNCIA DE GONÇALVES DIAS HISTÓRIA PESSOAL E OBRA
 Matildes Demétrio dos Santos (UFV/UFF)

Gonçalves Dias deixou um vasto material epistolar, indispensável ao conhecimento em profundidade de sua vida e obra. No conjunto, suas cartas criam uma ficção de múltiplos aspectos com confissões, desejos, amores desencontrados, pessimismo e muita angústia. Lá estão também o cotidiano do Segundo Reinado e episódios que demonstram de que maneira Dom Pedro II envolvia-se com os poetas brasileiros. Gonçalves Dias, por exemplo, prestava conta ao Imperador de seu trabalho de pesquisa e tradução na Europa, onde exercia a função de correspondente literário, informando-o sobre o que acontecia de novo na Alemanha, Holanda, Inglaterra e Portugal, países que visitava com freqüência.
Assim, este trabalho dialoga com a intimidade das cartas do grande poeta do Romantismo brasileiro com o objetivo de melhor compreender sua obra.
 
A CRÍTICA LITERÁRIA NA BAHIA
Itana Nogueira Nunes (UFBA/UNEB)

Este estudo foi iniciado no primeiro semestre de 1996, no Mestrado em Letras da Universidade Federal da Bahia, com o objetivo de efetuar um levantamento do trabalho realizado pelo crítico literário David Salles (1938-1986) em jornais de Salvador como A Tarde, Diário de Notícias e Jornal da Bahia, além de jornais de outros Estados como O Estado de São Paulo e o Minas Gerais Suplemento Literário. Tomou-se, para o trabalho proposto, o pensamento crítico de David Salles a partir dos seus artigos de crítica literária publicados em jornais brasileiros, assim como a sua obra de cunho acadêmico. Para tal reflexão foi preciso, inicialmente, retomar o panorama da crítica literária no Brasil nas primeiras décadas do nosso século, situando alguns estudiosos que tiveram papéis decisivos na construção de um perfil da crítica literária nacional.
 
A ETIMOLOGIA SEGUNDO SANTO ISIDORO DE SEVILHA
Edison Lourenço Molinari (UFRJ)

Santo Isidoro de Sevilha (562-636), cuja vasta produção aborda assuntos variados, celebrizou-se através dos séculos, graças às Etimologias ou Origens. Trata-se de uma enciclopédia do conhecimento antigo, clássico e cristão, dividida em vinte livros, podendo ser resumida conforme indicamos a seguir: as sete artes liberais: gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, música, astronomia (1-3); medicina (4); leis e divisões do tempo (5); livros e bibliotecas (6); Deus e a vida religiosa (7); Igreja, heresias e paganismo (8); línguas, povos e organização familiar (9); etimologias de palavras dispostas em ordem alfabética (10); o corpo humano (11); zoologia (12); o céu, a terra e as águas (13); continentes e acidentes geográficos (14); as cidades e os ambientes rurais (15); mineralogia (16); agricultura (17); atividades bélicas, jogos e espetáculos (18); embarcações, moradia e vestuário (19); alimentação, utensílios domésticos e rurais (20).
O autor parte do princípio de que, para a aquisição do saber, é necessário interpretar as palavras que designam os objetos, porque através da etimologia dos termos que designam os seres é possível conhecer o universo, em todas as suas manifestações culturais. No início de sua obra são estabelecidos os mecanismos que devem orientar a investigação etimológica das palavras. Embora não desconheça a existência de elementos arbitrários no domínio lexical, Santo Isidoro mostra-nos que a etimologia pode ser deter-minada pela causa, pela origem, pelos contrários, pela derivação, por onomatopéia (Etimologias, 1, 29). Este ideal etimológico, entretanto, no decorrer da obra, certamente em virtude das fontes consultadas, é enriquecido por procedimentos diversos.
 
A FILOLOGIA ROMÂNICA NA PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS DA UFBA
Célia Marques Telles (UFBA)

A Filologia Românica tem gozado de uma posição privilegiada na Universidade Federal da Bahia desde o final da década de 50, graças, como é sabido, aos esforços e ao  dinamismo do Prof. Dr. Nilton Vasco da Gama. É devido a essa situação especial que a Filologia Românica, na instalação do Curso de Mestrado em Letras em 1976, foi uma das áreas de Concentração Menor. Com a reestruturação do Curso de Mestrado em Letras em 1992, passou a ser uma das áreas de concentração da Macroárea de Estudos Lingüísticos. Reiteradas vezes a CAPES apontou a Lingüística Histórica como um dos aspectos fortes da Pós-Graduação em Letras da Bahia, área em que se inserem os estudos de Filologia Românica. Tal fato levou a uma nova e revolucionária reestruturação da Pós-Graduação em Letras em 1995. A partir de então, os Cursos de Doutorado em Letras e de Mestrado em Letras oferecem duas linhas de pesquisa diretamente ligadas ao ensino da Filologia Românica, a de Mudanças Lingüísticas na România  e a de Crítica Textual. Esta configuração tem feito do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia um polo formador em Filologia Românica.
 
A FORMAÇÃO DE NOVOS ITENS LEXICAIS NO PORTUGUÊS ESCRITO CONTEMPORÂNEO DO BRASIL A PARTIR DE PEREGRINISMOS
Isabel Aparecida de Souza Stamato (UNESP)

Os peregrinismos são itens lexicais provenientes de uma língua A e que estão em vias de se instalar numa língua B. É a fase neológica do item lexical, é a fase da difusão, na qual poderá ser ou não aceito pelos falantes. Diferenciamos peregrinismos, segundo DEROY (1956), de empréstimos (GUILBERT, 1975). Nesse último, o item lexical já faz parte da língua acolhedora, ou seja, já se encontra desneologizado. Buscamos para esse estudo um corpus constituído das revistas Veja e Isto É durante os anos de 1995 e 1996. Utilizamos como critério neológico o não registro nos dicionários: AURÉLIO (1986), MELHORAMENTOS (1990) e BIDERMAN (1992); e os propostos por GUILBERT (1975), que são os critérios: (i) morfossintático, (ii) fonológico, e (iii) semântico; uma vez que, como lembra REY-DEBOVE (1978), a fronteira se um item lexical é ou não de uma dada língua é extremamente frágil, pois o léxico pertence ao sistema aberto da língua. Ainda, reportando o mesmo lingüista, partimos do fato de que toda frase faz parte de uma dada língua, ou seja, é uma comunicação completa e possui uma morfossintaxe própria. Desse modo, todo item lexical neológico que for diferente dessa língua será analisado por nós.
 
A GÊNESE DE UM POEMA
Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

Apresentação, palavra por palavra, verso por verso, estrofe por estrofe, a maneira como foi criado o poema “Filhos da Omissão”, que teve como inspiração as crianças de rua.  A relação entre a realidade e o processo criativo, a forma como uma palavra faz evocar outra, através das relações sintagmáticas e paradigmáticas, a persistência da memória, o processo de revitalização de clichês e de deslocamento sintático como fatores determinantes da criação poética.
A valorização que o poeta faz da poesia conteudista em detrimento da poesia puramente formal.
 
A GEOGRAFIA LINGÜÍSTICA
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV/UERJ)

1. A Geografia Lingüística: história e desenvolvimento.
2. Geografia Lingüística e Dialetologia – Atlas Lingüísticos – Cartas Lingüísticos – Palavras e Coisas – Onomasiologia.
3. Atlas Lingüístico Nacional – Estadual – Municipal – Um projeto de Atlas Lingüístico Municipal em elaboração.
 
A HIPÓTESE NAS LÍNGUAS PORTUGUESA E LATINA
Mônica Alvarez Gomes das Neves

O presente trabalho tem por objetivo discutir e apresentar algumas da formulações hipotéticas nas línguas portuguesa e latina.
Para tanto, lançou-se mão de textos atuais em português e prescrições gramaticais vistas em gramáticas latinas e, ainda, exemplos literários em latim para constituir o corpus.
Algumas das análises propostas nesta oportunidade constam em um subcapítulo da dissertação de mestrado da autora, cujo título é “O Se hipotético e o editorial jornalístico”, defendida na Faculdade de Letras da UFRJ.
As conclusões a que se chegou apontam o caminho percorrido até hoje e as tendências futuras da gramática do português no que se refere à explicitação da formulação do raciocínio hipotético.
 
A INTERFACE PROSÓDIA-MORFOLOGIA E O MODELO DA FONOLOGIA LEXICAL
Carlos Alexandre Gonçalves (UFRJ)

Nesta comunicação, pretendo analisar a conexão Prosódia-Morfologia e, para tanto, tomo por base o modelo da Fonologia Lexical (cf. BOOIJ & RUBACH, 1987).  A discussão sobre o lugar do acento de palavra (se no léxico ou fora dele) e a proposição de um não-isomorfismo entre estruturas fonológicas e morfológicas constituem os principais objetivos da exposição.  Para tanto, observo a regra de neutralização da vogal não-acentuada em português, verificando se há restrições morfoprosódicas atuando como bloqueio.
Em português, as vogais médias de primeiro grau ([?]) e ([?]) só podem ocorrer em sílabas acentuadas.  Por essa razão, encontra-se alternância entre n[?]va e n[o]vata.  Itens lexicais como n[?]víssima e n[?]vamente, entretanto, apresentam [?] em posição pretônica.  A fim de explicar essa excepcionalidade, pretendo caracterizar o acento como propriedade da palavra prosódica e, com isso, considerar determinados afixos como palavras prosódicas independentes.
A exposição intenta mostrar que há hierarquia de constituintes prosódicos no léxico, sendo esses constituintes motivados pelo não-isomorfismo entre a Fonologia e a Morfologia.  Com isso, evidencio que a palavra prosódica não é necessariamente isomórfica em relação ao output do componente de formação de palavras e que o acento em português afigura-se como regra lexical cíclica.
 
A INTERTEXTUALIDADE NO TRATADO MEDIEVO CASTELO PERIGOSO
João Antônio de Santana Neto (UCSal/UNEB)

Era corrente na elaboração de textos medievais a utilização, muitas vezes não marcada, de fragmentos pertencentes a outros textos. Pretendemos apresentar uma amostragem da intertextualidade presente no tratado ascético-místico Castelo Perigoso, contido nos códices alcobacenses 199 e 214 da Biblioteca Nacional de Lisboa. Tomaremos como referencial teórico a corrente francesa da Análise do Discurso.
 
A INVESTIGAÇÃO DO LÉXICO
Rosires Picarelli (UNIBAN)

Esta sessão apresenta trabalhos que envolvem o estudo do léxico na Iniciação Científica da UNIBAN.  Atualmente, contamos com três trabalhos ligados à lexicologia, um voltado para a linguagem específica de dois es-portes de quadra, voleibol e basquetebol.  Os dois outros refletem a busca da análise do texto literário, no que tange às palavras-tema usadas pelo au-tor.  Esses dois últimos utilizam o método da lexicologia computadorizada, no emprego do programa Tact.
 
A LINGUAGEM DO PODER E O PODER DA LINGUAGEM:
LIMA BARRETO E A LÍNGUA PORTUGUESA
Maurício Pedro da Silva (USP)

O presente ensaio aborda a ideologia lingüística presente na produção literária de Lima Barreto, por meio de um discurso metalingüístico. Com efeito, a perspectiva lingüística adotada por Lima Barreto revela o poder absoluto da linguagem, que é utilizado pelo romancista na luta contra os preconceitos sociais e lingüísticos.
Tendo como fundamento metodológico conceitos retirados tanto da Análise do Discurso quanto da Historiografia Lingüística, nosso ensaio trata ainda da presença do estilo academicista, do purismo lingüístico e do preciosismo gramatical na linguagem pré-modernista brasileira.
 
 A NOITE MUDOU DE PERFUME UM PASSEIO PELA RETÓRICA DA IMAGEM
Márcia Atálla Pietroluongo (UFRJ)

Os fenômenos de polivalência e polifonia que regem as leis da retórica da linguagem verbal podem ser encontrados igualmente na linguagem icônica, uma vez que a comunicação e a significação obedecem a leis gerais que independem de um campo específico de manisfestação.
Manifestam-se, pois, na Imagem, diversos procedimentos retóricos, tais como metáforas, metáforas literalizadas, metonímias, sinédoques, entre outros.  O presente trabalho tem como objeto o estudo do funcionamento retórico da publicidade do perfume francês Sinam, veiculada na revista Marie Claire, salientando os efeitos nela produzidos.
Tratando-se de uma prática social cuja significação é intencional, a imagem publicitária, aliada ao texto que de forma geral a acompanha, está a serviço de várias formações ideológicas.  Essas formações tentam responder aos anseios dos diversos públicos que procuram atingir e ancoram-se em valores, atitudes, representações almejadas por estes.
 
A ORDEM DOS CLÍTICOS EM DIACRONIA
Roberta Lelis de Aguiar (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

 As gramáticas tradicionais apresentam os clíticos em três posições, explicadas como variação condicionada por fatores intralingüísticos.
Com base nessa visão tradicional e com o conhecimento de falante nativo da língua portuguesa, demos início à investigação, buscando outros fatores lingüísticos, mas também extralingüísticos, que pudessem dar conta de explicar a mudança de hábitos dos falantes do português do Brasil quanto ao uso desses elementos.
Na fase inicial, a mais trabalhosa, constituímos o corpus diacrônico com o qual iríamos trabalhar, e alguns documentos mais antigos ainda são necessários ao nosso acervo para esta análise. Concluído, em parte, esse levantamento, detemo-nos mais incisivamente na análise dos dados do século XX.
Esses dados foram selecionados em cartas da correspondência passiva de Clarice Lispector, cartas da correspondência passiva de Fidelino de Figueiredo, cartas trocadas entre Manuel Bandeira e Mário de Andrade e redações de alunos universitários da década de 90.
O tratamento dos dados seguiu a metodologia proposta pela Teoria da Variação e Mudança, de William Labov, e as hipóteses levantadas deram origem aos seguintes grupos de fatores: faixa etária, sexo, grau de escolaridade, tipo de documento, pessoa gramatical.
 
A ORGANIZAÇÃO ARQUIVÍSTICA DOS DOSSIÊS PREPARATÓ-RIOS DAS LETRAS GALEGAS PERTENCENTES AO ESPÓLIO DE GODOFREDO FILHO
Zeny Duarte de Miranda Magalhães dos Santos (UFBA)
Paula Magalhães de Lima (UFBA)

O Acervo de Manuscritos Baianos (AMB) da Universidade Federal da Bahia reúne arquivos privados de escritores baianos e os documentos de Instrução Pública da Comarca de Santo Amaro. O trabalho ora apresentado conta com o apoio da CAPES e do CNPq e objetiva versar sobre a organi-zação do espólio de Godofredo Filho pertencente ao AMB, mais especifi-camente, sobre a existência nele de um dossiê preparatório que trata de es-tudos galegos na produção literária do poeta baiano e que será motivo da demonstração do processo de organização arquivística do seu espólio. Este processo vem sendo realizado a partir da organicidade própria do escritor titular do espólio. O espólio de Godofredo Filho possui uma multiplicidade temática na qual as letras galegas mereceram, por parte do poeta, destaque especial e, por isso, foi escolhido o resultado da sua análise e descrição para a exposição neste Congresso. Aliado a esse processo contemporâneo inter-disciplinar, as referências sobre as letras galegas avançarão em aspectos que dizem respeito às etapas de organicidade deste espólio, sem as quais se mostra impossível a preservação de uma memória cultural.
 
A RELAÇÃO DE BILINGÜISMO ENTRE AS LÍNGUAS GALEGA E CASTELHANA
Valéria Gil Condé (USP )

 O objetivo desse estudo é o de analisar e investigar a legitimidade da lei que, a partir de 1978, na Constituição Espanhola, dividiu o estado espanhol em comunidades autônomas e garantiu ao galego e ao castelhano a condição de línguas oficiais da Galiza. Como se comporta uma população que possui mais de 76% de galego-falantes, e, que, por mais de seis séculos, aprendeu que a língua do estado era-lhes estranha e bem diferente da sua norma regional? Existe uma situação de igualdade e que incentivos são dispensados a essa população para usar uma ou outra língua? Quais estímulos e receptividade social estarão sendo dispensadas à língua galega? Será que a oficialidade corresponde à realidade, se nessa convivência bilingüe entre as línguas galega e castelhanas, existe o cultivo, respeito e preservação da identidade da norma regional; ou o castelhano continua sendo a língua de promoção social, ficando o galego circunscrito à oralidade?
 
A SEMIÓTICA DO TEXTO
 Marindir Pinto Simões (UERJ/SUESC)

Hipótese principal: Transferência dos esquemas semióticos de leitura para qualquer atividade relativa à produção/compreensão de textos.
Propõe-se a formulação de uma metodologia de trabalho com o texto apoiado na pedagogia da imaginação, fundada nas capacidades de percepção imanentes ao seres  animais (cf. NÖTH, 1995: 147). A saber, pretendemos demonstrar a cada aprendiz as suas potencialidade imaginativas enquanto possibilidade de aprendizagem geral, a partir do que buscamos encorajá-lo para o enfrentamento dos atos de interação comunicativa (de leitura ou de produção textual, posto que entendemos que a leitura é, em última análise, uma co-produção).
Voltamo-nos ainda para a comprovação da multiplicidade do potencial semântico dos códigos, dos textos e dos leitores, para a plurissignifica-ção imanente aos signos e captável pelos leitores. Portanto,  evocamos a teoria peirceana da semiose ilimitada, onde cada  signo cria um interpretante que, por sua vez, é representâmen de um novo signo, a semiose resulta numa “série de interpretantes sucessivos”, ad infinitum. (CP 2.303, 2,92 — Apud NÖTH, 1995b: 74). A conseqüência disto é uma leitura abundante, plural, ainda que correspondente aos limites da contextualização do sinal.
Nossa proposta metodológica de encaminhamento da leitura na esteira da iconicidade sustenta-se na convicção peirceana de que qualquer signo, mesmo o mais convencional, é apreendido em primeira instância como ícone, isto é, como impressão qualitativa de sua qualidade concreta (SANTA-ELLA, 1996: 152), ou seja, é percebido em sua “materialidade”. Partiremos da premissa de que o texto (produzido em qualquer código) é uma imagem perceptível e interpretável.
 
A TENSIVIDADE  NO RITUAL DE UMBANDA
Sílvio de Santana Júnior (UNESP)

Através da  Teoria  Semiótica de A.-J. Greimas, faremos uma abordagem no ritual de Umbanda, enfocando o aspecto tensivo do transe e o ritmo ritual. Esse culto se caracteriza pelas danças, pelos toques de tambores (atabaques) e pelos pontos cantados executados pelos ogãs, onde ante-passados divinizados, reconhecidos pelo dualismo Santo-Orixá, se manifestam através do transe mediúnico.
 À medida que a gira se desenrola no tempo e no espaço, o fazer da mãe-de-santo transforma os estados. Deste vir-a-ser constante no transcurso da seqüências rituais do culto Umbanda resulta o movimento que nos permite apreender, num dado momento, o ser do sujeito que, por sua vez, só se constitui semioticamente nos enunciados de estado em junção com os obje-tos de valor.
Na segmentação da gira, nomeamos as seqüências resultantes, como um resumo aproximativo de ordem temática, decompostas uma por meio de dêiticos temporais, a outra por denominações temporais: antes-rituais preliminares; durante invocação/transe; depois-encerramento.
Essas seqüências são marcadas por gritos de saudação proferidos pela dirigente que, por sua vez, são respondidos pelos filhos-de-santo  - e até mesmo pelo público. Esta modalização factitiva enquanto fazer cognitivo procura incitar-lhes o fazer somático (resposta verbal, palmas, rufo de tambor) com a finalidade de transmitir o objeto-valor /bem-estar/ ao público por meio do transe.

A TRANSIÇÃO LATIM-ROMANCE EM ALGUMAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
Antônio Hauila (UFRJ)

A coexistência lingüística latim-romance em alguns textos românicos considerados pioneiros. As marcas que o idioma etimológico gravou na ainda frágil e nascente lexicologia das línguas emergentes; suas vitórias e derrotas na irradiação de ditongos, na coesão e significado de lexemas e na transformação e perpetuidade de étimos mais antigos.
 
A VARIAÇÃO DE USO TÁ / ESTÁ NO PORTUGUÊS POPULAR
Roseli da Silva (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

A língua popular é muito rica em estruturas e é considerada por muitos estudiosos, a exemplo de Coutinho (1962), uma variedade que possui lado a lado arcaísmos e formas inovadoras.  No sentido de investigar o uso variável de tá/está nessa variedade de língua, gravamos entrevistas com idosas em asilos na zona Norte de São Paulo, seguindo a metodologia da Sociolingüística Quantitativa.
O propósito deste trabalho foi o de investigar o uso de estar e sua forma alterada por aférese tá no português falado por idosas analfabetas paulistas.  Sendo essas falantes moradores de asilos e não recebendo a in-fluência social natural em situações interativas cotidianas, os usos estariam menos impregnados de modismos.  Uma vez que o texto analisado é narrativa de experiência pessoal, o uso de primeira e terceira pessoas do singular era esperado em freqüência relativamente alta.
Com os dados em mãos e constatando que essa variação ocorria, selecionamos os seguintes grupos de fatores para análise: pessoa, tempo e presença do sujeito.
 
 A VOZ GOVERNAMENTAL NA MÍDIA IMPRESSA: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA
Décio Orlando Soares da Rocha (UERJ)
Maria del Carmen F. González Daher (UERJ)
Cláudia da Conceição Santos (UERJ)
Mônica de Castro Guimarães (UERJ)

O presente trabalho tem por objetivo central a análise do papel desempenhado pela mídia impressa na formação / informação do público leitor.  O horizonte teórico no qual nos situamos é o da Análise do Discurso em sua versão francesa, com destaque à problemática enunciativa.
Como corpus de análise, optamos por averiguar de que modo a voz governamental surge nesse contexto, através do estudo do discurso sobre a votação da previdência pronunciado recentemente pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em função da derrota do governo na votação.  O referido discurso foi publicado na íntegra pela Folha de São Paulo de 07/05/98.
Buscamos na teoria polifônica de Ducrot argumentos de base teórica relacionados aos seguintes conceitos pertinentes ao estudo: marcas de pessoa (entendidas como lugar por excelência da inscrição do sujeito em sua produção discursiva), distância entre “locutor” e “enunciador”, negação descritiva / negação polêmica.
As noções de marcas de pessoa e a distância entre locutor e enuncia-dor nos pareceram importantes pistas de pesquisa pelos seguintes motivos: primeiramente, percebemos que o presidente utilizava diferentes marcas de pessoa (ora “eu”, ora “nós”) em momentos diversos, o que nos levou a questionar o sentido de tal variação; em seguida, constatamos que este locutor em primeira pessoa colocava em cena diferentes enunciadores, incluindo-se mesmo a voz de seus adversários políticos.
Além disso, reconhecer o valor de um “não polêmico” na atualização de um discurso permitiu-nos também explicar o choque de pelo menos duas atitudes antagônicas: o ponto de vista assumido pelo locutor e o ponto de vista que este se propunha a combater, a saber, o de seus opositores no campo político.
 
ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA UM ENFOQUE DA GRAMÁTICA PORTUGUESA
Walmírio Eronides de Macedo (UERJ)

O palestrante tem como objetivo principal de sua palestra, como o próprio título indica, apresentar pressupostos teóricos para uma gramática da língua portuguesa. Dessa forma, depois de uma pequena introdução sobre a necessidade do ensino da gramática, ressalta a importância de uma metodologia, defendendo o que Hjelmslev chama de "exigência metodológica".
Essa exigência metodológica implica a discussão de vários pontos da maior importância como a confluência e o choque sincronia versus diacronia.
Nesse aspecto, a posição de Bernard Pottier muito relevante.. A seguir, mostra as três posições diante das quais o estudioso da língua tem de fazer a sua opção para construir a sua gramática. O que é condenável é não ter posição alguma, ou misturá-las no tratamento do "fato" gramatical.
Nesse caminho, reflete sobre uma possível metodologia que deve orientar uma visão gramatical. Segue numa reflexão sobre alguns enfoques da gramática tradicional, especialmente no plano da sintaxe. O problema do conteúdo das vozes verbais é apresentado para uma discussão metodológica.
O enfoque binário no estudo gramatical faz parte, entre outras coisas, da exposição dos pressupostos.
 
ALGUNS PRONOMES DO XAVANTE
Edna Maria Fonseca da Costa (UFRJ)

O presente trabalho tem como finalidade dissertar sobre os pronomes existentes na língua Xavante (tronco Macro-Jê).
E sabido que as línguas são classificadas segundo a sua referência a   pessoa, constituindo a relação das pessoas propriamente a conjugação.
O material referente a esse campo de estudo, que foi utilizado para   análise, foi retirado dos arquivos do Museu Nacional.
 
ALUÍSIO AZEVEDO: A LITERATURA QUE VIVE
Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

Uma análise da obra de Aluísio Azevedo em contraste com a obra de Machado de Assis: enquanto esta pondera sobre a realidade, aquela mergulha na realidade de uma maneia sensível e comovente.  Aluísio Azevedo foi o primeiro autor brasileiro importante a fazer laboratório, a discorrer sobre o lesbianismo, a debater o amor livre.  A estilística vivaz: Aluísio Azevedo lança mão de uma multitude de recursos estilísticos para embelezar e realçar a narrativa, transformando-nos de meros espectadores em participantes ativos e emocionados da estória.  Apresentação de alguns dos trechos mais belos e significativos da obra de Aluísio Azevedo.
 
ANÁLISE COMPARATIVA DA ESTRUTURA FLEXIONAL DO PLURAL NO INGLÊS E NO PORTUGUÊS
João Bittencourt de Oliveira (UERJ)

O presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise comparativa da estrutura flexional do plural no inglês e no português.  Como se sabe, o inglês e o português têm origens diferentes: o português desenvolveu-se do latim vulgar da Península Ibérica; o inglês, por sua vez, resultou da contribuição de línguas faladas por vários povos, dentre eles os anglos, os saxões e os juntos que invadiram as Ilhas Britânicas a partir do século V, onde se falavam línguas da família céltica.  Em diversas fases de sua história, o inglês recebeu influência também do latim, em maior escala no léxico e na morfologia e em menor escala na sintaxe.
No português, o plural é indicado pela desinência –s ou –es que representa a terminação do acusativo latino.  O inglês, porém, ao lado do plural regular em –s ou –es, conservou, por razões históricas, inúmeros vocábulos que fogem a essa regra geral e simplificada.
Daremos tratamento especial aos seguintes itens:
1. Substantivos invariáveis no singular.
2. Substantivos invariáveis no plural:
? Summation plurals
? Pluralia tantum
3. Substantivos não-marcados no plural.
4. Plurais irregulares:
? Mutação vocálica
? Plural em –en
? Plural zero
? Substantivos eruditos de origem estrangeira (gregos e lati-nos).
5. Razões históricas das formas irregulares.
 
ANÁLISE SEMÂNTICA DO LÉXICO DO SERINGUEIRO DO VALE DO RIO ACRE
Antonieta Buriti de Souza (USP)

O objetivo deste trabalho é estudar cinco palavras pertencentes ao léxico especializado do seringueiro do Vale do Rio Acre, segundo o método onomasiológico.  O corpus desse estudo foi constituído de quarenta e cinco entrevistas gravadas com os seringueiros acreanos.  O desenvolvimento deste trabalho restringiu-se a estudar palavras pertencentes ao universo do vocabulário usado pelos seringueiros, tanto na produção da borracha quanto na coleta da castanha.  Para isso, buscou-se a etimologia do vocabulário, a forma em algumas línguas românicas, as acepções apresentadas em dicioná-rios dessas línguas, bem como a acepção corrente nos pontos de pesquisa. A título de ilustração, mostrou-se parte de depoimentos dos informantes.  Ao lado de algumas palavras, são apresentadas fotos que servem para ilustrar e auxiliar o entendimento da formulação dos conceitos.
 
ANOTAÇÕES SOBRE O ESTILO DO “POEMA EM PROSA” DE JOSÉ DE ALENCAR
 Kátia Vitória Santos (UFRJ)

A publicação de Iracema (1865) encontra o Brasil em um contexto histórico propício à fundação de um mito nacional, ainda necessário à consolidação literária e ideológica da Independência política frente a Portugal. Experimentando uma nova forma de fazer literatura, Alencar utiliza recursos estilísticos que singularizam a obra por sua brasilidade e por seu caráter poético. Pretendemos verificar como a preocupação com a nacionalidade, através desses recursos, faz-se presente em Iracema.
 
AO VENCIDO, ÓDIO OU COMPAIXÃO; AO VENCEDOR, AS BATATAS
Maria Thereza de Sulima

Estamos em plena campanha eleitoral.  Convém relembrar a origem da palavra candidato, presente nas línguas românicas, anglo-saxônicas e eslavas – ‘aspirante a um cargo eletivo’ (‘vestido de branco, de puras intenções’).
A criatura humana aspira, em geral, a uma situação melhor.  O pleito de outubro é uma tentação para alguns, pois “os cargos são finitos, mas a vontade de ocupá-los é infinita”, nas palavras de Inocêncio de Oliveira.
 
ARTIFÍCIOS POÉTICOS NA LATINIDADE DOS SÉCULOS XI E XII
Edison Lourenço Molinari (UFRJ)

Apresentaremos sucintamente as características próprias do verso hexâmetro datílico, que atingiu plenamente suas formas medievais a partir do século XI. Os estudos latinos aprofundaram-se cada vez mais, de modo que mestres e alunos chegaram a possuir todos os requintes da língua culta, tornando-se a perfeição lingüística um dos traços característicos da literatu-ra latina no século XII. No que respeita à estrutura melódica do hexâmetro, o virtuosismo versificatório dos professores envolvia o léxico, a morfossin-taxe e os esquemas rímicos. Assinalamos abaixo, dentre outros, os seguintes tipos de versos nos séculos XI e XII:
a) rapportati – versos cujos termos sintáticos equivalentes são agrupados entre si;
b) aequivoci – dispostos em dísticos, admitem leitura horizontal ou vertical, mas de sentidos contrários;
c) leonini – versos cujos hemistíquios rimam entre si;
d) caudati – versos onde só as palavras finais formam rimas;
e) collaterales ou concatenati – apresentam rimas cruzadas do tipo abab;
f) cruciferi ou crucifixi – apresentam rimas cruzadas do tipo abba;
g) unissoni ou quadrigati – são dois hexâmetros que formam rimas do tipo aaaa;
h) trinini ou salientes – apresentam rimas nas cesuras pentemímere e heptemímere, além da rima final;
i) tripartiti dactylici – apresentam rimas entre o segundo e o terceiro pé e entre o quarto e o quinto pé;
j) adonici – são versos divididos pelas rimas em três partes iguais;
k) serpentini ou decisi – apresentam rimas entre a última palavra de um verso e a primeira do verso seguinte.
 
ARTIMANHAS DO TEXTO PUBLICITÁRIO: LEITURAS SEMIÓTICAS E SIGNOS DA DESCONFIANÇA
Darcília Marindir Pinto Simões (UERJ/SUESC)

Publicidade ou propaganda: um ato perlocutório. Perlocução: linguagem e ação. Relações de poder entre emissor e receptor. Semiótica e pragmática na interpretação de textos. O texto para além da palavra. Leitor semântico e leitor semiótico. Pistas de decifração do texto publicitário. Na trilha do signo da desconfiança.

Definir publicidade ou propaganda à luz dos atos de fala, enfatizando o ato perlocutório e a capacidade de um ato de fala produzir efeitos sobre o receptor. Examinar tais efeitos de um ponto de vista semiótico-pragmático, observando o diálogo entre signos verbais e não-verbais na produção do texto e na indução das leituras e dos comportamentos, materializando a margem de previsibilidade das reações do receptor-médio. Distinguir os leitores-modelo ingênuo (semântico) e  crítico (semiótico), discutindo-lhes reações potenciais ante textos publicitários. Apontar sinais textuais que possam funcionar como guia-mapa de interpretação, ao mesmo tempo que possam sugerir leituras diversas da pretendida pelo emissor, promovendo assim a desconstrução do texto projetado em benefício de um texto crítico que possa minimizar a eficácia das artimanhas do texto publicitário.
 
AS CONCEPÇÕES DOS ALFABETIZANDOS SOBRE A ESCRITA: ANÁLISE DE CASOS
Rosimeire Aparecida Montezelli (UNESP)

A heterogeneidade, observada na aprendizagem de alunos de uma primeira série do ensino fundamental da cidade de Araraquara, revela diferentes fases evolutivas na aquisição da língua escrita em alfabetizandos.
Através da coleta e análise (sob o enfoque lingüístico) de dados – anotações de exercícios realizados pelos alunos tanto na sala de aula, quanto de trabalhos feitos em folhas avulsas – é visível que, embora quase todos os alunos associem o som à letra, alguns já representam cada segmento sonoro da palavra (escrita alfabética) e outros, no entanto, não representam todos os segmentos sonoros (apenas os mais relevantes).
A importância desta análise está diretamente ligada à necessidade que o professor alfabetizador tem em conhecer a estrutura da língua de maneira específica e, desta forma, mediar os processos de aquisição da língua escrita pelo aluno, auxiliando-o.
 
AS  MÚLTIPLAS FACES DAS PARTÍCULAS  CI  E  NE
Alcebíades Martins Arêas (UERJ)

A ausência de uma classificação morfológica fixa para as partículas Ci e NE  representa um grande obstáculo para o aluno brasileiro que estuda a Língua Italiana.  Isto se deve ao caráter plurissignificativo das partículas que ora funcionam como pronomes, ora como advérbios, ora são um simples pleonasmo ou uma partícula fônica ou expletiva.  Por outro lado, não conhecendo a categoria ou espécie a que pertencem as partículas, não será possível para o tradutor identificar a sua função em um determinado contexto da língua-alvo.
Procuramos mostrar, através de exemplos extraídos  do romance Il barone rampante de Ítalo Calvino e suas respectivas traduções para a Língua Portuguesa, que os procedimentos oblíquos: a adaptação, a equivalência e a transposição são os mais eficazes para a tradução das partículas CI e NE.
Um estudo comparativo das línguas neolatinas nos levaria à constatação de que, entre elas, há muitos pontos convergentes e divergentes, sobretudo em relação ao léxico e à morfossintaxe
Comparando o português e o italiano, no tocante à formação de número, observamos que a marca de plural da primeira tem sua origem no acusativo latino enquanto a segunda herdou a terminação do nominativo.
 
AS PROPAROXÍTONAS NOS REGISTROS GEOLINGÜÍSTICOS
Maria do Socorro Silva de Aragão (UFC)

A tradição gramatical utilizada pela língua culta distingue, nitidamente, palavras proparoxítonas das paroxítonas. Contudo, trabalhos específicos sobre o uso das proparoxítonas na linguagem não-padrão demonstram uma tendência para a modificação dessa tradição.
Embora quantitativamente sejam menos numerosas que as paroxítonas e oxítonas, no acervo lexical do português, as proparoxítonas têm merecido atenção especial dos estudiosos da língua portuguesa.
Ao analisarmos, mesmo numa fase preliminar, o corpus de atlas lingüísticos publicados no Brasil: Atlas Prévio dos Falares Baianos, Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais, Atlas Lingüístico da Paraíba, Atlas Lingüístico de Sergipe e Atlas Lingüístico do Paraná, percebemos essa tendência.
Os falantes dessas regiões, num processo normal de economia da linguagem, transformam as palavras proparoxítonas em paroxítonas, acarretando, deste modo, uma redução das proparoxítonas nesse registro de fala.
Questões diversas são colocadas quanto às causas dessa transformação. Seriam apenas fonético-fonológicas? Léxicas? Morfológicas? Teriam implicações diatópicas ou diastráticas?
Esses são aspectos que nos levam a ir mais profundamente ao assunto.

ASPECTOS COMPARATIVOS ENTRE O ESPANHOL E O PORTUGUÊS
Alfredo Maceira Rodríguez (UERJ/UCB)

Comparação do quadro vocálico de ambas as línguas. Semelhanças e diferenças nos fonemas consonantais. Semelhanças e diferenças morfológicas e vocabulares. Paradigmas verbais. Evolução semântica diferente em alguns itens lexicais. Diferenças sintáticas: emprego dos pronomes átonos em início de frase, nos futuros, etc. Comparação de pequenos textos.
 
ASPECTOS DA FALA RURAL DA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS  ASPECTOS LEXICAIS: LÉXICO RURAL
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV/UERJ)
Pesquisa realizada em 1990 na Microrregião de Viçosa forneceu da-dos para este trabalho.  São dados da fala rural, tirados especialmente das descrições que os informantes faziam das doenças que atingem as criações e culturas agrícolas nas propriedades rurais.  Foram realizadas mais de 210 entrevistas nas propriedades rurais dos 20 municípios da microrregião.  Nelas os informantes davam os nomes das doenças que ali ocorriam e, a seguir, descreviam como elas se manifestavam.  O objetivo maior foi a busca do léxico das doenças para a elaboração de um glossário popular-técnico e técnico-popular para uso dos que se dedicam às ciências agrárias, visando uma maior interação entre a linguagem técnica e a popular rural.  Ao lado do léxico das doenças, as descrições fornecem, ainda, uma riqueza muito grande de informações referentes a outros aspectos lexicais bem como morfológicos, sintáticos e fonéticos.  Neste trabalho serão enfocados alguns aspectos lexicais que despertaram maior atenção ao apresentar variantes fonéticas como arrepiar, arripiar, arrupiar, re-piar, ripiar, rupiar, dentre outros, como o comportamento das líquidas –l e –r, final de sílaba.

AS VÁRIAS VERSÕES DO “DIÁRIO ÍNTIMO” DE GODOFREDO FILHO: UMA APRESENTAÇÃO
Elizabeth Hazin (UFBA)
O presente trabalho é uma tentativa de delinear um perfil intelectual do poeta baiano Godofredo Filho, através da compreensão de sua postura diante do diário que escreveu ao longo de cinqüenta anos, no período que vai de 1932 a 1987.  Tal diário traz impressas as marcas de seu desejo de alterar a própria natureza de um texto que se quer íntimo, em espelho ideal naquele que o escreve.  O estudo da gênese desses fólios pode, assim, apontar na direção do “escritor” que deveria – segundo ele próprio - ser apresentado a  seus leitores.
Este trabalho surgiu no interior de um projeto de pesquisa intitulado Godofredo Filho: o itinerário da poesia, o qual pretende reconstituir a biografia do poeta através de seus diários, cadernos de viagem, correspondência, recortes de jornais e periódicos, material iconográfico (fotografia e desenhos), depositados – hoje – no Acervo de Manuscritos Baianos do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia.
 
ASPECTOS DA FALA RURAL DA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS ASPECTOS SINTÁTICOS: CONCORDÂNCIA E COLOCAÇÃO
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV/UERJ)

Além dos dados fornecidos pela pesquisa lexical, na busca de nomes de doenças de criações e culturas agrícolas, realizada na Microrregião de Viçosa (MG), os dados das descrições das doenças, feitas pelos informantes, apresentam aspectos relevantes quanto à sintaxe de concordância e co-locação. Será enfocado, neste trabalho, alguns aspectos da (dis)concordâncias verbal e nominal e colocação de termos na oração, encontrados em mais de 21o propriedades rurais, espalhadas nos 20 municípios pesquisados da Microrregião de Viçosa.  (Esta pesquisa se estende, atualmente, às outras seis microrregiões da Zona da Mata de Minas Gerais, elaborando o respectivos Atlas Lingüísticos Municipais Rurais).
 
33. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A LÍNGUA ALEMÃ NA IDADE MÉDIA: REPERCUSSÕES NOS TEXTOS LITERÁRIOS
Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)

A partir da utilização de textos em antigo-alto-alemão e médio-alto-alemão intentar-se-á fazer um estudo evolutivo do léxico e da gramática alemã, tomando como pontos principais de análise a evolução fonética, morfológica e semântica dos vocábulos até a sua forma hodierna. Paralela-mente a esse procedimento metodológico, salientar-se-á a beleza e riqueza da produção literária medieval em língua alemã.

CAMINHOS E DESCAMINHOS DA TRADUÇÃO
Amarilis Gallo Coelho (UFRJ)

Inúmeras e infindáveis são as considerações a serem feitas sobre o percurso da tradução, diante das dificuldades de adaptação entre o texto de partida e o texto de chegada, em diferentes contextos histórico-culturais, em espaços e tempos diversos. A tradução, como saída e limite à criatividade do tradutor, deve manter o equilíbrio entre a crítica e a cumplicidade, caminho este que leva à verdade textual.
Portanto, como sabemos, a tradução deve ser definida com precaução, como uma operação de sucesso relativo, variando de acordo com os níveis de comunicação por ela atingidos. Nunca será impossível traduzir, apesar da experiência pessoal ser incomunicável em sua unicidade e as peculiares “visões do mundo” dificultarem o contato entre diferentes sociedades.
Discorrendo assim sobre tradução, corremos sempre o risco do lugar comum, ou seja, repetir aquilo que já foi bastante dito ou analisado. Contudo, para os estudiosos dos processos de transposição de um código lingüístico a outro, é sempre importante conhecer e discutir diferentes métodos e experiências de trabalho. A isto me proponho nesta oportunidade: informar aos colegas sobre minha experiência pessoal nesta área, principalmente no tocante a traduções de obras regionais brasileiras e italianas.
 
CAMÕES E A CRÍTICA TEXTUAL
Leodegário A. de Azevedo Filho (UERJ/UFRJ)

Há mais de trinta anos nos dedicamos, com todas as energias, à difí-cil tarefa de organizar uma edição da Lírica de Camões, planejada para oito volumes.  Para isso, procuramos mergulhar fundo na tradição dos cancioneiros manuscritos daquela época, que são as fontes existentes, sem um autógrafo sequer.
Como se sabe, todas as edições da Lírica de Camões toparam sempre com dois grandes problemas: a questão de autoria e a questão textual.
Coube a Emmanuel Pereira Filho propor a solução que nos parece a de maior rigor e a de maior acerto.  A sua morte prematura, entretanto, impediu que desse continuidade a sua monumental pesquisa.  Para ele, a segura elaboração de um “Índice Básico de Autoria” deveria centrar-se no critério do tríplice testemunho quinhentista incontestado, exigência que alteramos para dois testemunhos quinhentistas incontroversos e com apoio em manuscrito, recusando também o testemunho único, por falta de indispensável comprovação.
A  questão textual é ainda mais complexa, exatamente pela inexistência de autógrafos que nos possam indicar quais as lições a serem seguidas, respeitando-se a vontade do Poeta.
Do extremo rigor do método adotado para o estabelecimento crítico dos textos, longamente tratamos no primeiro volume de nossa edição, que foi publicado no ano de 1985, onde fazemos um estudo das três questões básicas da lírica camoniana, que são: a ecdótica, a lingüística e a literária.  A última, naturalmente, vai depender da boa ou má solução que for encontrada para as duas primeiras.
 
CHIAPAS E RETÓRICA
Tatiana Cristina Ferreira (UNESP)

A comunicação ocupar-se-á com a leitura dos textos A flor prometida, do subcomandante Marcos – um dos líderes do movimento mexicano  zapatista – em tradução portuguesa de Clara Allain, e Chiapas, nome de dor e de esperança, do escritor português José Saramago, publicados ambos na Folha de São Paulo, em 02-04-95 e 07-06-98 respectivamente.  Embora entre um e outro medeie o espaço de alguns anos, apresentam ambos os textos um mesmo centro de interesse, além de marcarem-se por uma intenção persuasiva comum, embora demonstrem perseguir objetivos diferentes.  Admitindo que, por sua própria configuração, sejam os textos caracterizados pela presença de instrumentos que lhes assegurem uma eficácia discursiva, a comunicação procurará determinar quais, dentre os instrumentos utilizados, são os principais e em que grau colaboram para a eficácia do próprio discurso.
 
CONFLITOS E HARMONIAS ENTRE PROCESSOS DE CRIAÇÃO NO TEATRO: AUTOR VERSUS ATOR VERSUS DIRETOR
Marlene Fortuna (PUCSP)

Autor, ator e diretor, três mundos em permanente confronte. Ora se hostilizando, ora se harmonizando, contudo sempre se enfrentando. Isto porque, cada um, com direito as suas licenças poéticas, tende a invadir as licenças poéticas do outro. São vários processos de criação se defrontando: o processo do autor, que entrega seu texto “sagrado” ao ator; o processo do autor que sente a necessidade de reprocessar este texto porque conta agora com o corpo, voz e emoção vivos!, e o processo de criação do diretor, mediando autor, mediando ator e invadindo os processos de ambos. São três gêneses diferentes, cada uma a defender seu espaço singular dentro de um espaço plural: o teatro. O que discuto em minha pesquisa é uma questão de tradução intersemiótica entre processos: autor (escritura)versus ator, o mestre do jogo, (oralidade, corpo e emoção = performance) versus diretor (o juiz do jogo). E proponho que toda esta transcodificação se faça de forma lúdica. O jogo é inerente ao processo teatral. Astúcia para assimilar técnicas leva à competência para usá-las. Eficácia lúdica para trabalhar emoções sem se entregar cegamente a elas, mas sendo o ator o seu domador, só pode conduzir a um estado estético de domínio. Estado este de sublimidade com a platéia, levando-a a empatia, a persuasão e a eloquência porque, magnetiza-da, carrega o ator consigo, dentro de si e não apenas o deixa ao final da trama. Um jogo de feras entre processos de criação e gêneses que deve terminar bem: autor oferecendo-se ao ator, este embelezando ainda mais o texto porque vivificando-o, e o diretor orquestrando todos os elementos da estética cênica para a beleza do instante mágico: o espetáculo em sedução!

CONSIDERAÇÕES SOBRE UM DOCUMENTO NOTARIAL (SÉC. XVIII) DA COMARCA DE SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO RELATIVO À INVENTÁRIO DE BENS
Arlete Silva Santos (UFBA)

Tecem-se considerações sobre o manuscrito M2C1, TOM  0811-0842 CRO, datado de 30...1730 – 1763, séc. XVIII. Trata-se de um documento notarial, inventário dos bens de  Antônio Gomes de Souza, perfazendo um total de 46 fólios recto e verso, que será apresentado como dissertação de mestrado, em 1999. O documento faz parte da coleção Santo Amaro da Purificação, Bahia, sob a guarda do Departamento para  o Estudo das Letras desde l975, quando ficou sob os cuidados do Setor de Filologia Românica. Considerando-se a importância de documentos desta natureza, re-veladores de uma época, pretende-se abordar alguns aspectos históricos relacionados ao período (l730-l763), sua importância para a Bahia colonial e em particular para o Recôncavo baiano, tecendo-se alguns comentários so-bre o teor e características do documento em questão.
 
CONSTITUIÇÃO DE CORPUS DE LÍNGUA FALADA EM SÃO PAULO
Sumaia Chahine (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

Esta comunicação tem o objetivo de dar notícias sobre o andamento do Projeto Corpus de Língua Falada, iniciado em meados de maio de 1998, e relatar algumas dificuldades inerentes.
Quando se tem consciência de que as línguas mudam e que essas mudanças podem ser observadas em sincronia na língua em uso, a constituição de um material de língua falada por indivíduos de vários socioletos torna-se imprescindível ao pesquisador lingüista.
Com base na metodologia proposta pela Sociolingüística Quantitativa, instituímos uma comunidade lingüística paulista virtual a partir da estratificação dos falantes segundo os seguintes fatores extralingüísticos: sexo e faixa etária. O acervo conta atualmente com 86 horas de língua falada, gravadas a partir de entrevista com 77 falantes.
Muitas são as dificuldades do entrevistador que enfrenta o desafio de gravar dados espontâneos, entretanto é possível minimizar os efeitos da tensão em alguns momentos durante a entrevista, numa metodologia adequada.
 
CORPO, VOZ E ESCRITURA
Amálio Pinheiro (PUCSP)

A mente trabalha os signos, neste continente, mais através da fricção de superabundância alógenas (daquilo que alegoricamente diz o outro) do que pelos mecanismos binários de índice de inclusão e exclusão. Esse fenômeno combina ao da fixação tardia, entre nós, da escritura com sua capa-cidade de mapear o mundo em dígitos gráfico-visuais que têm de ser lidos separada, aditiva e sucessivamente pelo olho e ouvido. Disso resulta que a nossa escritura vem sendo invadida pelo acúmulo dos materiais analógicos (indivisíveis por meio de sinais) do universo da voz enquanto tal: sua inseparabilidade em dígitos discretos, sua fisicalidade gestual e móbil, seu nomadismo radical, sua rapidez e brevidade, sua intervocalidade anônima, sua erótica performática.
Desse modo, os elementos orais, entre nós, na maioria dos casos, são o material genético que constitui as performances escriturais.
 
CRIAÇÃO COREOGRÁFICA EM PROCESSO
Rosana van Langendonck Augusto (PUCSP)

O objetivo deste trabalho foi o estudo sobre o movimento criador que aparece nos documentos de processo de um coreógrafo. A Crítica Genética e a teoria geral dos signos de Charles Sanders Peirce foram as ferra-mentas que nos auxiliarem na descoberta do caminho percorrido durante o fazer da obra. Através do material que precedeu a composição coreografia de “A Sagração da Primavera” do coreógrafo Luís Arrieta, tentamos desvendar alguns mecanismos desde tipo de produto artística, bem como, compreender o sistema responsável por sua geração.
Destacamos três eixos, que consideramos revelantes no estudo do processo específico da coreografia de Arrieta:
- observamos os diferentes papéis desempenhados pelas linguagens expressas nos documentos de processo;
- destacamos a dimensão coletiva do processo;
- estudamos a articulação do ritmo da criação com o ritmo da música e da dança, presentes nos documentos de processo.
 
 CRÍTICA TEXTUAL, CRÍTICA GENÉTICA E CRÍTICA FEMINISTA
Ceila Ferreira Brandão (USP)

Nossa participação versará sobre as contribuições que a crítica textual e a crítica genética poderão dar à crítica feminista e aos estudos sobre Mulher e Literatura.
Teceremos algumas considerações a respeito do novo campo de pesquisa e dos desafios à crítica textual e à crítica genética abertos pela redes-coberta e estudo de textos de escritores antes esquecidas pela história oficial da literatura brasileira.

CRÍTICA TEXTUAL E ECDÓTICA
Edwaldo Machado Cafezeiro (UFRJ)

Problemas relativos à edição crítica: estabelecimento e fixação do texto diante da complexidade da tecnologia moderna.  O jardineiro, filólogo tradicional, não mais consegue regar seu jardim porque a obra, pássaro in-domável em sua autonomia, quebra a finitude do animus autorandi.  A crítica textual moderna preocupa-se antes com a análise do que com o julga-mento.  O texto é definido como experiência de vida, tentando fixar-se em novos espaços e tempos metafóricos e fragmentados.  E o discurso que ser-penteia pelas águas de múltiplos rios não pode ser visto nem detido num só curso.  As imagens refletem-se como puras textualidades, através da desconstrução e construção de regras.  A tarefa de Hermes já não se limita a desocupar e transmitir a mensagem das Musas, mas permanentemente desbravar novos territórios.
 
CULTURA E INTERAÇÃO
NO ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA INGLESA
Teresinha de Fátima Nogueira (UNIVAP)
Cláudio Bertolli Filho (UNESP)

Este trabalho é fruto de experiências e discussões em sala de aula acerca do processo de leitura de textos literários em língua inglesa nos cursos de Letras. Tomando-se como exemplo textos de Chaucer e Shakespeare, foi percebido que o alunado tende a demonstrar maior interesse e empatia  na leitura da obra do primeiro autor do que no segundo, por mais que Shakespeare seja, aparentemente, mais conhecido. Mesmo que,  em ambos os casos, o aproveitamento mostra-se bem abaixo do esperado pelo docente, o maior interesse por Chaucer, segundo os próprios leitores, dá-se pelo fato de este autor "falar coisas do povo", enquanto que Shakespeare reporta-se mais à cultura dominante na corte e no ambiente da nascente burguesia britânica. Outro obstáculo no entendimento necessário se dá  pelo escasso domínio lingüístico do inglês antigo e medieval. Nossa discussão, acompanhando as novas tendências do ensino de literatura, aliado à lingüística, baseia-se no fato de tanto a literatura quanto a lingüística, serem tradicional-mente ensinadas como áreas desvinculadas da História. Nesse sentido, uma discussão prévia do contexto histórico no qual uma obra está inserida, assim como do estilo de composição textual e dos níveis sintático e morfológico da língua vigentes num dado período histórico mostram-se vitais para a interação leitor/texto.

DA PRECARIEDADE DAS EDIÇÕES CRÍTICAS — O CASO DE ALVARENGA PEIXOTO: UM INÉDITO E ALGUMAS VARIANTES
Francisco Topa (Univ. do Porto)

Com base na descoberta de novas fontes testemunhais manuscritas, o autor apresenta uma série de contributos para a reformulação da edição crítica da obra do poeta arcádico mineiro Inácio José de Alvarenga Peixoto (1744-1792), publicada em 1960 por Rodrigues Lapa. Esses contributos constam de um soneto inédito, alusivo à construção da cadeia de Vila Rica, e de um conjunto de variantes significativas referentes a sete poemas publicados por Lapa, a partir das quais são propostas algumas emendas.

DA SEGMENTAÇÃO LEXICAL DO VOCABULÁRIO ESPECÍFICO  DE PESCADORES ARTESANAIS
Kátia Carlos Alves (UFRJ)
Nelson Carlos Tavares Júnior (UFRJ)
Vanessa Sant’Anna Tavares (UFRJ)
Maria Emília Barcellos da Silva (UFRJ)

O objetivo desta intervenção é demonstrar as dificuldades na distribuição das lexias mapeadas, a partir da segmentação do vocabulário específico da pesca artesanal no que tange aos inquéritos distribuídos pelos campos semânticos propostos na pesquisa.
Tratar-se-á de alguns dos problemas surgidos quando do mapeamento desse inventário, tais como a marcação a ser conferida a algumas ex-pressões como “lexias simples” ou “complexas”; a distribuição, por campos semânticos distintos, das lexias que estão arroladas num mesmo campo semântico; a definição de expressões como função dentro da pesca X função fora da pesca, petrecho X parte de embarcação, ou ainda a atenção para a presença de um mesmo vocábulo específico em campos distintos, dependendo da função do indivíduo e do momento em que o profissional da pesca exerce a sua atividade.
Apresentar-se-ão propostas para a solução dos problemas levantados sem que se deixe de valorizar tanto a produtividade da língua quanto a complexidade da organização social e profissional do grupo ora estudado.
Serão trabalhados os dados recolhidos nas três ambiências que situam a pesquisa.
Nesse sentido, trabalhou-se com o corpus do Projeto APERJ – Atlas Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro, cujos informantes são pescadores artesanais que atuam naquela região do Estado, analfabetos ou semi-alfabetizados, todos do sexo masculino, em virtude da própria atividade desenvolvida.

DESENVOLVIMENTO DA INFORMATIVIDADE E CRIATIVIDA-DE EM REDAÇÕES DO ENSINO MÉDIO
Poliana Rossi Borges (UNESP)
Antônio Suárez Abreu (UNESP)

Um texto deve apresentar equilíbrio entre informações “novas” e “velhas”: às informações já conhecidas ou que são de domínio geral é preciso acrescentar dados não-previsíveis, assim entendidos aqueles que fogem ao discurso do senso comum.  Além disso, o texto deve apresentar criatividade, ou seja, deve revelar eficiência no uso de recursos lingüísticos e discursivos.  No entanto, análises de redações de vestibular revelam que esses requisitos não são atendidos.  Efetuou-se, assim, uma análise de textos escritos produzidos por alunos do ensino médio, visando determinar em que medida os dois requisitos anteriores são (ou não) atingidos.  Em outros termos, verificou-se se há equilíbrio entre o dado e o novo e se o aluno foge do domínio genérico e do senso comum.  Os dados obtidos revelam que os requisitos não são atingidos: a maioria dos textos são excessivamente repetitivos e revelam domínio parcial e insuficiente dos recursos lingüísticos.  Em vista disso, foram propostos exercícios para superar as falhas detectadas, tendo sido esses exercícios aplicados nas mesmas turmas que forneceram o corpus.  A análise dos novos textos obtidos revela que houve um progresso sensível na superação das falhas apresentadas, o que estimula a seqüência deste trabalho.

DESENVOLVIMENTO E AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NOS EDUCANDOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA MENTAL
Flavia da Silva Pires (UERJ)
Jaqueline da Silva Brito (UERJ)

É possível estabelecer limitações para aprendizagem de um indivíduo com deficiência mental? Este trabalho tem por finalidade apresentar o desenvolvimento e a aquisição da linguagem nos educandos portadores de deficiência mental. Procuraremos demonstrar como a linguagem poderá ser adquirida pelos educandos supracitados.
O presente estudo também tem por finalidade ressaltar a importância de se ajudar as pessoas mentalmente retardadas a desenvolver sua aptidões na linguagem oral e escrita.
A realidade destes educandos é muito diferente da maioria dos educandos considerados normais e, portanto eles, merecem uma educação especial por parte dos professores e demais profissionais em educação. Por este motivo “a educação especial consiste num conjunto de objetivos que irão garantir o atendimento educacional às crianças portadoras de necessidades educativas especiais, que devem ser respeitadas e dada a oportunidade de adquiri-las”. (Política Nacional de Educação Especial, MEC, 1994).
Abordaremos a situação dos educandos portadores de deficiência mental e a atuação do professor, fazendo-se necessário verificar a prática da alfabetização pedagógica do professor junto a alunos portadores de deficiência mental, procurando identificar seus aspectos lingüísticos, como se dá a integração deste aluno no sistema regular de ensino e como o processo ensino-aprendizagem atende às necessidades educativas especiais destes educandos.

DO ACENTO LATINO AO ACENTO NAS LÍNGUAS ROMÂNICAS: TRANSFORMAÇÕES NO VOCALISMO
Denize Elena Garcia da Silva (UNB)

O propósito do trabalho é expor um breve percurso reflexivo em torno de uma longa trajetória, que vai do acento latino ao acento nas línguas românicas, visando discutir algumas transformações pertinentes ao vocalismo. As mudanças no vocalismo românico encontram-se ligadas à natureza do acento, ou seja, decorrem das alterações no sistema prosódico latino. Sabe-se que a quantidade é relevante no latim porque condiciona a posição do acento. No entanto, na transição do sistema quantitativo para o qualitativo distintos procedimentos ocorrem nas línguas românicas. Estas e outras questões estarão sendo enfocadas com vistas a uma contribuição no espaço das pesquisas voltadas para os estudos filológicos romanísticos.

DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Aileda de Mattos Oliveira

Ensinar a Língua Portuguesa, embora pra muitos seja uma arte, a dificuldade de os professores encontrarem o caminho adequado a cana nova situação em que se deparam, para transmitir os conhecimentos básicos da língua, não é um fato característico dos dias de hoje.
O filólogo Silva Ramos, já em 1916, apresentava um panorama dessa difícil arte de conciliar os ensinamentos das normas gramaticais e o estudo de consagradas produções de renomados escritores, produções literárias ou não, que, nos vários planos da estruturação sintática, iam de encontro ao canonicamente estabelecido pelas leis gramaticais.
Hoje, surge um novo entrave ao bom desempenho de considerável parcela de professores. O advento da Lingüística Aplicada surge, aos olhos de muitos, como uma forma camuflada de eliminar a gramática, como uma maneira de considerá-la uma obra ultrapassada, com o objetivo único de os professores modernos substituírem os parâmetros tradicionais do bem dizer e do bem escrever, pelo falar indisciplinado das ruas.
Por essa razão, reagem de maneira radical, como se retrocedessem no tempo, tempo em que Silva Ramos lamentava, de maneira crítica, aqueles que insistiam em se manter no ádito de seus conhecimentos, de seus conceitos, de seus preconceitos.

DOCUMENTOS NOTARIAIS DA COMARCA DE SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO RELATIVOS À COMPRA E VENDA DE ESCRAVOS: EDIÇÃO DIPLOMÁTICO-INTERPRETATIVA
Mônica Pedreira de Souza (UFBA)

Trata-se de documentos não literários de uma das coleções do Acervo de Manuscritos Baianos: a Coleção Santo Amaro, somando um total de 3.084 documentos tombados. Quando ao histórico, infelizmente,  não é possível traçar o itinerário desses documentos até o momento de sua guarda no Setor de Filologia Românica do Departamento de Fundamentos para o Estudo das Letras.  Trabalhar-se-á apenas com alguns documentos relativos à compra e venda de escravos no Recôncavo Baiano, estudando-se a escrita da época e exemplificando-se com fotocópias. Pretende-se mostrar a metodologia utilizada, assim como os critérios para a leitura diplomático-interpretativa dos textos (eliminando-se as dificuldades de natureza paleográfica, em especial, a divisão de palavras e o desdobramento de abreviatu-ras). Explicam-se, desse modo, as características dos documentos, escritos nos séculos XVIII e XIX.

DOSSIÊ PARA UMA EDIÇÃO GENÉTICA DE SAGARANA
Sônia Maria van Dijck Lima (UFPB)

No calor do sucesso de Sagarana, Guimarães Rosa concedeu entrevista a Ascendino Leite, publicada em O Jornal (Rio de Janeiro, 26 maio 1946), e por nós reeditada em Ascendino Leite entrevista Guimarães Rosa (João Pes-soa: Ed. Universitária/ UFPB, 1997). A conversa entre o escritor e o jornalista aponta alguns aspectos da poética rosiana, tais como: saudade da terra, lembranças da infância, preferência pelo ambiente rural. Quanto à temática, disse estar interessado na investigação do “problema do destino, sorte e azar, vida e morte”. Quanto à experimentação lingüística, afirmou a neces-sidade de uma língua poética: “simples, formosa, exata em força e sutileza”.
A fortuna crítica rosiana tem verificado abundantemente as características fundamentais da produção literária do criador de Sete-de-Ouros. Sem querer discutir o programa poético de Guimarães Rosa, nosso interesse consiste em contribuir para a reconstituição dos comportamentos autorais, apresentando a organização dos originais de Sagarana, conservados no Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade de São Paulo, e na biblioteca do Dr. José E. Mindlin, tendo em vista nossa proposta de uma edição genética, em fase de preparação.

E EM QUE TRECHO DO MAR À LUZ DE CÉU MALDITO DE ARTHUR DE SALLES: PROCESSOS CRIATIVOS
Rosa Borges Santos Carvalho (UFBA/UNEB)

O poema apresenta-se em quatro versões: uma autógrafa e três impressas. É possível perceber, nestas versões, quando colacionadas, o movimento de escritura do texto e os processos de criação. Desse modo, firma-se como propósito desta comunicação, tecer algumas considerações a respeito do processo criativo do poema em questão, partindo-se de um estudo genético, resultante da análise e comparação das quatro versões.

ECOS DE MEMÓRIA: MACHADO DE ASSIS EM HAROLDO MARANHÃO
Lucilinda Ribeiro Teixeira (PUCSP/UNAMA-PA)

Olhar para os manuscritos de Haroldo Maranhão é assistir ao tempo de sua criação e à história de sua obra: Memorial do Fim. Neste livro, há quatro capítulos montados com base em fragmentos retirados dos seguintes obras de Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba e Memorial de Aires. Haroldo Maranhão, com um método singular de montagem justaposta, concebe uma nova obra, sinalizando ainda para uma nova maneira de construção por meio de transcrição.
Num primeiro momento, partiu-se para uma análise comparativa com os manuscritos de Haroldo Maranhão para que depois se começasse a estabelecer relações, objetivando entender o movimento em ação no seu processo criativo. O escritor parte de leituras dos livros de Machado para depois fazer um levantamento de trechos do mesmo, que vão compor várias listas, geradoras do seu primeiro manuscrito. Assim Haroldo vai se apropriando do texto machadiano para formar sua própria escritura. Daí se ter escolhido o conceito de montagem de Eisenstein, o diálogo com os pressupostos de Calvino e com a polifonia de bakhtiniana, para referencial teórico-metodológico da pesquisa. Haroldo Maranhão joga com pedaços de linguagem de Machado de Assis, aparentemente sem ter noção muito definida de que vai criar. A sua narrativa é tecida a partir de associações múltiplas de fragmentos que vão se ampliando no universo machadiano e fora dele. Seu recurso criativo é condensar em cada capítulo um livro de Machado de Assis. A montagem lhe dá uma narrativa em mosaico. Seu processo de criação-transformação é alicerçado na justaposição em forma de montagem.

ELEMENTOS COESIVOS REFERENCIAIS EM TEXTOS DE ALUNOS DO CICLO BÁSICO (1ª E 2ª SÉRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL)
Odete de Oliveira (UNESP/PAE)

Este texto discute o emprego de elementos coesivos referenciais em textos produzidos por alunos das duas séries iniciais do ensino fundamental. Segue-se a classificação exposta por  Favero (1995), que divide os elementos coesivos em três categorias: referenciais (responsáveis pela retomada do assunto),  recorrenciais (voltados simultaneamente para o que foi dito e para o que ainda vai ser dito) e seqüenciais (responsáveis pela junção de novas orações ou segmentos de tópicos).  Os elementos referenciais são representados por pronomes – especialmente os pessoais, os possessivos e os demonstrativos – e pela elipse (elementos referenciais gramaticais), ou ainda por nomes (repetição de palavras, sinônimos, hipônimos, heperônimos, nomes genéricos, expressões nominais definidas).  São analisados doze textos, nos quais é feito o levantamento dos citados elementos.  Esse levantamento permite verificar como os assuntos são introduzidos, retomados ou reintroduzidos e, bem assim, como é feita a introdução de novos assuntos.  Os resultados preliminares apontam para o predomínio dos casos de repetição dos elementos lexicais e no emprego dos pronomes pessoais do caso reto (ele, ela).

EMPRÉSTIMO SEMÂNTICO, DECALQUE E RETROVERSÃO BREVE ESTUDO TIPOLÓGICO DO EMPRÉSTIMO LINGÜÍSTICO
Vito César de Oliveira Manzolillo (UFRJ)

Ao lado de palavras próprias e características de sua língua nativa, às quais verdadeiramente parecem ter a “cara” desse idioma, qualquer falante é capaz de perceber também, em alguma medida, nos seus atos de fala e nos daqueles que o cercam, a presença de vocábulos, por assim dizer, estranhos, identificados com outras realidades lingüísticas.
Um dos meios pelos quais o léxico se enriquece, o empréstimo constitui o fenômeno sociolingüístico e cultural mais significativo resultante do contato entre línguas.
Caracterizado principalmente pela adoção de palavras pertencentes a outros idiomas, trata-se de recurso que igualmente apresenta modalidades mais sutis e menos óbvias, tais como o chamado empréstimo semântico (alargamento do significado de uma palavra já existente na língua graças à influência de outra, pertencente a sistema lingüístico diverso), o decalque (tradução, freqüentemente literal, de palavra ou expressão estrangeira), além do processo conhecido por retroversão ou torna-viagem (retorno ao sistema lingüístico exportador, de alguma maneira modificado, de vocábulo anteriormente tomado de empréstimo por outro sistema).
Assim sendo, caracterizar de forma detalhada – inclusive mediante o fornecimento de exemplos ilustrativos – cada um dos tipos de empréstimo lingüístico anteriormente mencionado é o objetivo desta comunicação.

ENGENHARIA LINGÜÍSTICA
Alfredo Maceira Rodríguez (UERJ/UCB)

Denomina-se Engenharia Lingüística a aplicação dos conhecimentos da Lingüística ao desenvolvimento de sistemas computadorizados, que podem reconhecer, entender, interpretar e gerar linguagem humana em todas as suas formas. Os recursos lingüísticos são os componentes essenciais da Engenharia Lingüística. Na prática, ela compreende uma série de técnicas e recursos lingüísticos, alguns já alcançados e outros em desenvolvimento. Como a voz humana é tão individual quanto uma impressão digital, é possível identificar um falante e usar esta identificação para acesso a um serviço, por exemplo. Ainda há muito que fazer neste terreno, porém já se avançou muito no reconhecimento de caracteres e já se engatinha no reconhecimento da voz. As técnicas são implementadas em programas de computador e os recursos constam de um repositório de conhecimentos, que podem ser acessados através de software. A tecnologia lingüística pode ser aplicada a uma ampla faixa de problemas no comércio e serviços para obter melhores resultados, assim como na educação, na ajuda a deficientes e no oferecimento de novos serviços a organizações e consumidores. Existem muitas áreas em que seu impacto é significativo. Em alguns países da Europa estão sendo implementados custosos programas de Engenharia Lingüística, visando o grave problema lingüístico da União Européia.
Com.?063
ERA UMA VEZ...
Maria Thereza de Sulima

Vivemos em uma época difícil, muito violenta, em que predominam a ciência e a tecnologia.  Mais do que nunca, os indivíduos procuram o trans-real para contrabalançar os efeitos do grande caos aparente.
A novela Era uma vez..., da Globo, apresenta, claramente, essa dicotomia – mundo imaginário e mundo real –, vivida pelas quatro crianças, órfãs de mãe, disputadas pelos avós.
Em todos os idiomas, os contos de fadas e os contos maravilhosos começam por uma expressão, usada no tempo mítico, imutável, algumas vezes de origem comum nos termos que analisaremos.

ESPANHOL EUROPEU X ESPANHOL AMERICANO
Alfredo Maceira Rodríguez (UERJ/UCB)

O espanhol tradicional ou acadêmico. Variedades fonéticas em algumas regiões da Espanha, principalmente em Andaluzia. Influência do andaluz na formação do espanhol das Américas. As cinco zonas do espanhol americano de Henríquez Ureña. Diversas variantes fonéticas em Hispano-América, algumas comuns a diversas regiões do espanhol europeu: Andalu-zia, Extremadura, Canárias O seseo e o ceceo. O yeísmo. Variedades do yeísmo. O yeísmo portenho (Buenos Aires, Montevidéu e circunvizinhan-ças). Voseo X tuteo. O papiamento de Curaçao. Alguns aspectos morfológi-cos e sintáticos do espanhol americano.
O vocabulário em diversas áreas do espanhol americano. Grande in-fluência de línguas indígenas vivas ou mortas. Outros fatores de influência. Variantes lexicais em diversos países. O espanhol nos Estados Unidos. O Spanglish. Tendências para o futuro da língua. O papel da Real Academia Española de la Lengua. Unidade na diversidade.

ESTABELECIMENTO DO TEXTO E EDITORAÇÃO DO TEATRO DE ARTHUR AZEVEDO
Antônio Martins de Araújo (UFRJ)

Por uma série de rações, até este final de século, não se tem podido resgatar em toda sua integridade, como era de esperar-se, a produção literária brasileira que ficou esparsa nos jornais e periódicos deste quase século e meio de história literária.
Arbitra-se como ponto de referência o ano de 1870, em que termina a Guerra do Paraguai, pré-requisito das grandes mudanças que se operarão nas duas décadas que se lhe seguirão.  Sem trocadilho, o caso do teatro (gênero que foi criado para o “milagre” das quatro paredes) chega a ser dramático.  Não fossem os, hoje anacrônicos,  “livros de ponto” que resistiram ao tempo e as cópias apógrafas de peças, iniciativa de descontentes e admira-dores de nossos dramaturgos, considerável parte dessa memória teatral haver-se-ia fatalmente perdido.  A presente intervenção visa mostrar as soluções encontradas para o estabelecimento do texto e a editoração das cerca de 3.600 páginas dos seis tomos do Teatro de Arthur Azevedo (então com cerca de 20% ainda inédito em livro); bem como a análise valorativa de mais de setecentas testemunhas relacionados de sua fortuna crítica.  Só a partir desse corpus, foi possível ao expositor redigir mais de doze ensaios e, mais ainda, uma obra de crítica filológico-estilística sobre essa dramaturgia única, hoje, em nossa língua.

ESTADO ATUAL DA LEXICOGRAFIA PORTUGUESA NO BRASIL
Antônio Geraldo da Cunha (FCRB/UERJ)

É lamentável o estado em que se encontram os estudos lexicográficos no Brasil (e também em Portugal), quando comparados com o avanço extraordinário da lexicografia nos países de língua inglesa, alemã, francesa e italiana, principalmente.
Faltam-nos trabalhos voltados para a história do nosso vocabulário.  Não dispomos de um dicionário do período medieval (séculos XIII, XIV e XV), nem dos séculos XVI, XVII e XVIII; não conhecemos, com a profundidade necessária, a evolução que se processou em nossa língua no século XIX, e mais particularmente em nossos dias, com o extraordinário progresso das ciências, das técnicas e dos novos recursos introduzidos pela infomática.
É interessante observar que a lexicografia de língua portuguesa foi muito bem estudada no século XVIII e na primeira metade do século XIX.  Referimo-nos, especialmente, aos dicionários de Bluteau e de Morais.  O monumental dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, de 1793, inter-rompido no fim da letra A, ficou muito incompleto, infelizmente.
Parece-nos que uma das causas do atraso da nossa Lexicografia decorre da nossa situação sociocultural, que não nos permite a realização de empreendimentos de vulto e de longo prazo.  Apesar deste panorama som-brio a que acabamos de nos referir, somos de opinião que não devemos esmorecer.  Urge, portanto, preparar o caminho para a elaboração do grande dicionário da língua, baseado em princípios históricos.  É este o nosso parecer e é nesse sentido que vimos procurando incentivar os jovens professores e estudiosos do nosso formoso idioma para, na medida de suas forças, colaborarem para o progresso da nossa Lexicografia.

ESTRUTURAÇÃO DO LÉXICO EM CAMPOS UMA ANÁLISE PRELIMINAR DO GREGO ANTIGO
Sandra Lúcia Rodrigues da Rocha (UFBA)

A presente pesquisa constitui um estudo preliminar sobre a estruturação dos campos lexicais e sua relação com os conceitos de frame  e script.  A partir dela, pretendemos contribuir para o desenvolvimento de uma metodologia para a análise do léxico em campos, aqui concebida como uma etapa anterior e necessária à descrição lexicográfica (cfe. Mel’cuk, 1995).  Além disso, buscamos verificar em que medida a determinação do campo lexical pode ser importante para a seleção de exemplos/abonações nos verbetes de dicionários.  O corpus utilizado é o vocabulário de guerra do Episódio de Potidéia, do Livro I da História da Guerra do Peloponeso, de Tucídites.

ESTUDO COMPARATIVO ESPERANTO-PORTUGUÊS
José Passini (UFJF)

Neste estudo pretende-se pôr em evidência as características de economia do Esperanto face ao Português, nos seguintes campos:
Fonológico: A facilidade da representação gráfica e da sua reconversão sonora face à perfeita correspondência fonema/grafema e da constância do acento tônico;
Morfológico: O caráter aglutinante e regular do Esperanto, que confere ao seu usuário possibilidades a incursões mais profundas na morfologia, permitindo-lhe ampla criatividade num terreno muito pouco acessível ao usuário de línguas naturais, face à preocupação com o não-usual;
Sintático: Os recursos sintáticos oferecidos pelo Esperanto, no sentido de permitir que seu usuário mantenha os hábitos sintáticos da sua língua materna, sem prejuízo da comunicação.

 FILOLOGIA E HISTÓRIA DA LITERATURA
Ceila Maria Ferreira Batista Brandão (USP)

1. Relação entre Filologia e História da Literatura.
2. Discussão sobre o conceito de História.
3. A importância do método de pesquisa filológico nos estudos e pesquisas de História da Literatura.
4. Filologia e História da Literatura produzida por mulheres.
5. Filologia e uma História das Histórias da Literatura Brasileira.

.FORMAS ANALÓGICAS NA CONJUGAÇÃO VERBAL DO RETO-ROMÂNICO
Mário Eduardo Viaro (USP)

A analogia é muitas vezes vista ou como elemento de regularização paradigmática ou como elemento perturbador no desenvolvimento fonético das línguas. No caso das conjugações verbais das línguas românicas, a atuação da analogia é evidente, sobretudo no romeno, que aparentemente elimina as irregularidades de sua conjugação. Embora em menor grau, a analogia não poderia agir diferentemente nas variantes do reto-românico. Assim, por exemplo, o mesmo -n- que distingue a terceira pessoa do plural em relação à terceira do singular nas formas latinas (respectivamente, -nt e -t) aparece analogicamente sobre a base do singular no sobresselvano como elemento caracterizador do plural: el ei “ele é”, els ein “eles são”; el po “ele pode”, els pon “eles podem”. Também alguns sufixos associados a algumas conjugações que vêm antes das terminações número-temporais têm papel importante nas regras de analogia, sobretudo as oriundas do incoativo latinos, en-tre outras: assim, o latim -esc- tornar-se-á -eix- em catalão, -iss- em francês, -isc- em italiano, -esc- em romeno e -esch- em sobresselvano e em valáder, mas sua produtividade varia muito de língua para língua e isso é direta-mente proporcional ao papel da analogia em cada uma dessas línguas.
 
GLOSSÁRIO DO BASQUETEBOL: UMA EXPERIÊNCIA DA INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIBAN
Paula Delphino da Rosa (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

O subprojeto Glossário do Basquetebol faz parte de um projeto maior que objetiva criar um glossário com o vocabulário relacionado a dois esportes coletivos que a UNIBAN incentiva nas categorias universitária e profissional: basquetebol e voleibol.
Desde o início deste ano, temos acompanhado treinamentos, jogos, narrações esportivas e a linguagem da gíria usada entre os atletas. Fizemos também o levantamento bibliográfico de termos e expressões em livros técnicos da área. Contamos, atualmente, com 350 entradas, cuja grande maioria já foi definida.
A partir de outubro, daremos início à pesquisa específica do voleibol, seguindo a mesma rotina e, por volta de dezembro, deveremos concluir o projeto. Está prevista para início de 1999 a revisão técnica e lingüística de todo o material acumulado, quando trabalharemos em conjunto com professores da área de Esportes.

HISTÓRIA DA LÍNGUA ESPANHOLA
Maria de Lourdes Martini (UFRJ)

As quatro línguas existentes hoje na Espanha: o castelhano, o catalão, o galego e o basco. História do Castelhano e o conceito atual de língua espanhola.
 
IMAGINANDO O TEXTO DA IMAGEM DO TEXTO AO TEXTO DA IMAGEM UM ESTUDO DAS RELAÇÕES TEXTO-IMAGEM
NAS COLAGENS DE PRÉVERT
Maria Thereza Redig de Campos Barrocas (UFRJ)

Esta comunicação apresenta alguns resultados de uma pesquisa  que pretendia verificar a eventual ocorrência de processos retóricos equivalentes nas linguagens verbal e visual.
Uma tese sobre jogos verbais de tipo anagramático evidenciou o estreito parentesco entre o jogo da citação – verbal – e o jogo “infantil” de re-cortar e colar, do qual as colagens de Prévert oferecem um exemplo muito interessante. Os resultados da pesquisa revelaram a existência de processos retóricos visuais equivalentes aos verbais tanto na obra cinematográfica de Prévert quanto nas suas colagens, e se estenderam às equivalências entre diversos tipos de texto, no sentido amplo, incluindo narrativa, publicidade, cinema, televisão, música.
Baseado num conceito mais amplo de Retórica, e de re-visões do conceito de Texto, o estudo da imagem provou ser uma contribuição considerável para a  elaboração de uma Retórica que leve em conta o caráter visual de uma linguagem que, por alguma razão, sempre se chamou figurada.
Apresentaremos aqui alguns resultados, ainda não publicados, da pesquisa sobre dois tipos de colagens, que jogam com citações de quadros célebres e de material gráfico popular e anônimo, como postais e “santinhos”.

JORNAL DA TARDE: PRODUÇÃO COLETIVA E RECURSOS ESTÉTICOS
José Ribamar Ferreira Júnior (UFMA/PUCSP)

O Jornal da Tarde tem se apresentado, desde a sua criação, como um veículo que, num ambiente de produção da indústria cultural, conseguiu estabelecer alguns recursos de natureza estética, notadamente no que se refere à formatação de suas capas, cujas ousadias, na criação gráfico-visual, já se tornaram uma referência na imprensa brasileira.
No conjunto de elementos das capas do JT, encontram-se dispostas referências de como se pode realizar conexões com séries culturais, tais como a arquitetura urbana, a tradição hiperbólico-visual latino-americana e a mobilidade espacial de uma metrópole.
O aproveitamento dos materiais da cultura, numa obra de produção coletiva como o Jornal da Tarde, sinaliza para maneiras de amotinamento na instância da forma, a qual se posiciona de modo inovador, mesmo estando inserida em empresas de linha tendentemente conservadora – como é o caso do Jornal da Tarde de propriedade do grupo jornalístico Estado de S. Paulo.
O elevado número de tarefas da produção em jornal, por fim, faz com que o exercício controlador, por partes dos agentes de comando, seja dificultado a ponto de permitir nuanças renovadoras na estrutura da obra, reveladoras de contradições existentes nos recintos internos e externos da publicação.

LEITURA, LEITOR, INTÉRPRETE E AUTOR
Iza Terezinha Gonçalves Quelhas (UERJ)

A presente comunicação pretende discutir alguns conceitos significativos para os estudos literários - leitura, leitor, intérprete e autor – a partir do romance São Bernardo, de Graciliano Ramos. O romance de Graciliano, escrito e publicado no início da década de 30, problematiza conceitos importantes para a Teoria Literária, o que reafirma a argúcia e a inteligência do autor na arquitetura do romance. Entre as questões formuladas na tessitura do enredo, encontra-se a do leitor como um autor ampliado. O narrador do romance, Paulo Honório, oferece àquele que lê o livro a escrita produzida por um "homem endividado", dramatizando os limites do sujeito que narra e daquele que lê, vale-se da elipse e da contenção para elaborar a forma do romance, conseguindo dar à morte uma função estruturante na narrativa.

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA LÍNGUA FALADA
Paulo de Tarso Galembeck (UNESP)

Objetivo: Expor as características da língua falada em geral e do texto conversacional em particular, de modo a encaminhar os interessados a estudos ulteriores acerca dos temas mencionados.
Ementa: Características da língua falada e do texto conversacional; a construção do texto falado.
Conteúdo programático:
1. Características gerais da língua falada: o planejamento local, o contexto partilhado, o envolvimento.
2. O escrito e o falado: contrastes e semelhanças.
3. Tipos de inquérito: elocuções formais, entrevistas e diálogos.
4. Técnicas de obtenção de material gravado.
5. Características do diálogo: o turno e a alternância de falantes.
6. A construção do texto falado: a articulação tema rema e as unidades discursivas.

LINGÜÍSTICA APLICADA
Décio Orlando Soares da Rocha (UERJ)
Maria Cristina Lírio Gurgel (UERJ)
Cristina de Souza Vergnano Junger (UERJ)
Maria del Carmen F. González Daher (UERJ)

1. Situação geral da Lingüística Aplicada
2. Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Materna
3. Compreensão leitora: o enfoque da Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Estrangeira
4. A Lingüística Aplicada em diferentes contextos institucionais: práticas de linguagem em situação de trabalho

LINGÜÍSTICA E FILOLOGIA ENCONTROS E DESENCONTROS
Violeta Virgínia Rodrigues (UFRJ)

Nos inícios dos anos oitenta, observa-se um reencontro entre Lingüística, Lingüística Histórica e Filologia nos estudos lingüísticos no Brasil, devido ao crescente interesse pelos estudos histórico-diacrônicos.
Este reencontro traz à tona a relação entre Lingüística e Filologia, uma questão histórica e polêmica, ainda que hoje ultrapassada. É a partir dessa questão dos meados desse século que se definiram como independentes os campos de trabalho da Filologia e da Lingüística.
O interesse em se resgatar a polêmica Filologia/Lingüística no Brasil relaciona-se exclusivamente à Lingüística Histórica, em função da História da Língua Portuguesa, e não no sentido de contribuir para a construção da historiografia da Lingüística no Brasil.
Assim, seguindo-se os passos de Mattos e Silva, pretende-se discutir o domínio da Filologia e da Lingüística na primeira metade do século XX no Brasil, o desencontro radical entre a Filologia e a Lingüística nos estudos histórico-diacrônicos, a partir dos anos oitenta.

LOUIS GAUCHAT, A DIALETOLOGIA E A SOCIOLINGÜÍSTICA
Luiz Palladino Netto (UFRJ)

Há quase cem anos, em 1899, o suíço Louis Gauchat iniciara suas inquirições na comunidade de Charmey. Em 1905, com efeito, a célebre monografia “A unidade fonética no patois de uma comunidade” corporifica o esforço do dialetólogo, numa publicação laudatória ao seu mestre Heinrich Morf. Consubstancia-se, pois, na perspectiva de Labov (1976:70), “o modelo de minuciosos estudos sobre a variação fonética no seio de uma comunidade específica”
A comunicação visa a reiterar o mérito do empreendimento de Gauchat e sublinhar certos desdobramentos da investigação em Charmey.
Para tanto, a exposição revisitará algumas conclusões do trabalho inaugural, segundo Labov, no campo dos “estudos de tendência”, levado a efeito uma geração mais tarde, precisamente em 1929, por E. Hermann, na mesma localidade francosuíça de Charmey.
Destacam-se, por fim, as linhas gerais da pesquisa recente em anda-mento a propósito da “mudança em tempo real” de curta duração com informantes do Projeto NURC-RJ. Dá-se uma notícia da metodologia sociolingüística adotada nesta iniciativa e dos resultados baseados nas análises de inquéritos realizados na década de 70 e das réplicas feitas na década de 90, na esteira do modelo pioneiro de Hermann-Gauchat.
 
 MAIS ALGUNS ESCLARECIMENTOS SOBRE O DICIONÁRIO BRASILEIRO DE FRASEOLOGIA
José Pereira da Silva (UERJ)

O Dicionário Brasileiro de Fraseologia tem um cronograma de construção porque o tema é infindável e não se poderá pesquisar indefinidamente sem produção de resultados.
No final deste período letivo de 1998, mesmo não se chegando à coleta de todos os dados existentes (que jamais será concluída porque o povo está permanentemente criando novas expressões e consagrando outras aparentemente esquecidas), encerraremos a busca sistemática dessas informações, passando à etapa final de organização do material (que já está sob a forma provisoriamente eleita, seguindo os passos de Antenor Nascentes no seu Tesouro da fraseologia brasileira).
Tudo isto estará disponibilizado aos pesquisadores interessados, através de disquetes, a partir de junho de 1999, para que trabalhos mais específicos e mais aprofundados possam ser elaborados a partir desses dados. Para isso, bastará escrever-nos uma carta, comprometendo-se a citar a fonte em suas pesquisas (porque é um produto do PROCIÊNCIA) e a não publicá-lo sem a autorização do autor.
A Lexicologia trabalha com material permanentemente reciclado e recriado. Por isto jamais apresentará resultado definitivo. Mas a UERJ prometeu colocá-lo gratuitamente à disposição dos pesquisadores, através da Internet, trazendo-nos uma bela novidade.

MANUEL DA COSTA: UM POETA DA RENASCENÇA
Alice da Silva Cunha (UFRJ)

O movimento humanista que de Florença se propagou por toda a Eu-ropa, na época renascentista, atingiu Portugal por volta de 1485, data mais provável da chegada ao país de Cataldo Parísio Sírculo, como preceptor de D. Jorge, filho de D. João II, e considerado introdutor do Humanismo em terras lusas. Preconizava o citado movimento uma valorização dos modelos clássicos da Antigüidade greco-romana consagrados como fonte inesgotável de inspiração.
Muitos autores adotaram o latim como língua de sua expressão poé-tica, o que contribuiu, de maneira bastante significativa, para uma maior projeção de suas obras a nível internacional.
Dentre os autores novilatinos portugueses destacam-se: André de Resende, Miguel de Cabedo, Diogo de Teive e Manuel da Costa.
A análise de dois poemas de Manuel da Costa – "De nuptiis Eduardi Infantis Portugalliae atque Isabellae..." e "In nuptiis Ioannis et Ioannae Lisitaniae Principum" – demonstra ter o autor moldado sua obra de acordo com os parâmetros que norteavam a estética clássica, conferindo-lhe, no entanto, uma feição própria, em consonância com os princípios vigentes em sua época.

METAMORFOSES TEXTUAIS
Wellington de Almeida Santos (UFRJ)

O presente trabalho destina-se ao estudo das transformações textuais operadas na narrativa de ficção, propostas por escritores obcecados pelo perfeccionismo literário.  Esse desejo permanente de aperfeiçoamento técnico os faz alterar, às vezes drasticamente, suas criações, na busca do melhor desempenho estético-literário.
No entanto, não obstante a variedade de resultados obtidos, é possível distinguir dois tipos genéricos para justificar as alterações, ensejando-se a necessidade de se desenvolver uma tipologia da metamorfose textual:
a) as alterações provêm de um controle da expressão lingüística, buscando conferir objetividade ao texto sem alterar-lhe a essência ficcional;
b) as mudanças buscam conferir ao texto densidade e complexidade narrativas.  Com esse procedimento, obtém-se um grau superlativo de ambigüidade, exigido pela arte literária, com considerável alteração da essên-cia ficcional.
Para ilustrar a primeira hipótese, desenvolveremos considerações críticas acerca das diferenças entre a primeira e a quarta edições de Vidas Secas (1938 e 1953, respectivamente), de Graciliano Ramos.
Para a análise da segunda hipótese, confrontaremos duas versões do conto “Teleco, o coelhinho”, de Murilo Rubião, tal como se encontram em O ex-mágico (1947) e em O pirotécnico Zacarias (1974).
 
MODALIZADORES DE CERTEZA E OBRIGATORIEDADE
NA FALA CULTA DE SÃO PAULO E DO RIO DE JANEIRO
(PROJETO NURC/SP E PROJETO NURC/RJ)
Ana Lúcia Vlach (UNESP)
Paulo de Tarso Galembeck (UNESP)

Vilela (1995) divide os componentes da frase em dois grupos: os componentes denotativos ou referências (seres e acontecimentos) e os com-ponentes do conteúdo comunicativo (especificadores temporais e espaciais, modalidade, emocionalidade, enfatização ou desenfatização).
Esta pesquisa efetuou o levantamento e a classificação dos modalizadores de certeza e obrigatoriedade, que figuram em excertos de textos orais representativos da fala culta de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Os modalizadores de certeza estão representados predominantemente por advérbios (absolutamente, realmente), e reforçam o enunciado dito pelo falante.
Os modalizadores de obrigatoriedade estão representados predominantemente pelos verbos modais (poder, dever, ter que, ser preciso) e por verbos que denotam obrigatoriedade (proibir, exigir).
Os modalizadores figuram mais no núcleo da UD, pois a expressão das atitudes do falante e sua apreciação acerca da cena apresentada estão associadas ao desenvolvimento do tema e à retomada dos assuntos já tratados.  Em casos reduzidos, os modalizadores figuram na margem esquerda, exprimindo uma preparação ou aviso sobre o que será dito, antes mesmo que se desenvolva o tema.

NO CAMINHO DE UM EDIÇÃO CRÍTICO-GENÉTICA
Célia Marques Telles (UFBA)

A filologia do manuscrito presente que se ocupa da edição de textos modernos preocupa-se tanto em editar um texto que corresponda à última vontade do autor, como em procurar mostrar o processo de criação desse texto. Beneficia-se dos métodos da Crítica Textual (sobretudo da crítica das variantes da escola italiana de G. Pasquali e G. Contini) e, bem mais recen-temente, daqueles da Crítica Genética (da escola francesa de L. Hay e A. Gresillon) na busca da construção do texto autoral. É nessa perspectiva da Crítica Textual Genética ?  como a denomina Luiz Fagundes Duarte ? que se vem trabalhando no Grupo de Filologia Românica da UFBA, na edi-ção crítica de textos modernos.  Uma edição crítico-genética ou uma edição crítica numa perspectiva genética é a meta atual a ser perseguida nos traba-lhos de Crítica Textual Moderna.

NOMINALIZAÇÃO NAS SALAS DE BATE-PAPO
DA INTERNET
Patrícia Aparecida Azevedo (UNIBAN)
Paulo Rogério de Souza (UNIBAN)
Sandra Regina Moreira Campello (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

É objetivo deste trabalho a identificação das formas mais usuais de nominalização utilizadas por falantes em conversas virtuais, a partir de aná-lise de fatores lingüísticos (categoria gramatical, gênero, campo semântico, tipo de apelido) e extralingüísticos (tipo de sala).
Para tratamento dos dados, optamos pela metodologia da Sociolingüística Quantitativa, por facilitar a correlação de grupos de fatores estatisticamente, além de não eliminar o tratamento qualitativo muitas vezes necessário à apreensão do fenômeno sob análise.  Com base em algumas hipóteses e no intuito de encontrar as invariâncias dentre as variações estilísticas do usuário, partimos dos grupos de fatores citados.
Alguns grupos de fatores mostraram-se relevantes para entender a nominalização nas salas de bate-papo.

NÚCLEO DE ESTUDOS SOCIOLINGÜÍSTICOS DA LÍNGUA PORTUGUESA
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

Em busca de um novo caminho metodológico para a orientação da disciplina de Língua Portuguesa, no curso de Letras, começou a ser implantada, desde 1995, a meta de se integrar a língua portuguesa às demais disciplinas.  No primeiro ano, integramos a língua portuguesa à informática, com o uso de softwares destinados à pesquisa lingüística.
No ano seguinte, integramos a língua portuguesa às disciplinas de lingüística I e II, nascendo os primeiros trabalhos investigativos na área de lingüística do Português.  Em 97, como resultado de todo o trabalho desenvolvido, contávamos com a atuação de seis grupos de iniciação científica que tiveram seus trabalhos divulgados em congressos no Rio de Janeiro e São Paulo.  Neste ano, o núcleo conta com quinze alunos de iniciação científica, dos quais três são bolsistas e os demais recebem apoio logístico e financeiro para participação em eventos acadêmicos em todo o Brasil.

O ASPECTO NO PORTUGUÊS
Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

1. A definição de aspecto segundo Comrie e as confusões que ela evita.
2. As relações aspectuais possíveis e suas combinações.
3. português: uma língua eminentemente aspectual.
4. Os aspectos do português.
5. Temas normalmente confundidos com o aspecto: fase, modalidade e eventividade.

O DISCURSO ARGUMENTATIVO NO SERMÃO DE VIEIRA
Carla da Penha Bernardo (UFRJ)

O objetivo do trabalho é observar as estratégias argumentativas do sermão do Padre Antônio Vieira. Nesse ponto, interessa notar de que maneira a questão estilística é fundamental no discurso vieiriano, seja com o intuito puramente artístico, seja com o objetivo maior do sermão, que é o de convencer a platéia. Para tanto, indicaremos algumas das mais recorrentes estratégias discursivas utilizadas pelo jesuíta em parte de um de seus sermões.

O ENSINO DE PORTUGUÊS
Carlos Eduardo Falcão Uchôa (UFF)

O ensino de Português: para uma prática fundamentada.  O professor de Língua materna: professor de linguagem.  Os saberes lingüísticos que se  que se manifestam pelo falar.  Para uma compreensão mais ampla da aula de Português: a consideração de condições sob as quais acontece a prática do professor de Língua Portuguesa.

O ENSINO DE REDAÇÃO VELHAS ATITUDES E NOVAS PERSPECTIVAS
Norma Cristina Guimarães Braga (UFRJ)

Mesmo com tantas pesquisas em nossas faculdades de Letras que trazem propostas inovadoras para o ensino de redação em cursos e escolas, nós, alunos e professores de Letras, somos vistos pela sociedade - e até pela sociedade acadêmica - como os detentores de um poder específico, o das regras do português. Nossas visões da língua são sempre, no olhar do outro, reduzidas a seu aspecto normativo, quando as novas teorias da linguagem já estão bastante desenvolvidas. Em nossa comunicação,   pretendemos analiar de forma panorâmica um manual de redação de cartas comerciais (1984) que foi reaproveitado para este ano, em que antigas e novas concepções se misturam sem chegar a um acordo, e demonstrar o quanto a atitude genera-lizada frente ao ato de escrever ainda é negativa e seu ensino, pautado por regras. Para finalizar, este enfoque será contraposto à corrente de aplicação didática da Análise do Discurso.

O ESTUDO DE EXPRESSÕES COM AS PALAVRAS “CABEÇA” E “BOCA”
Letícia Miranda Medeiros (UERJ)
Lígia Moraes de Matos (UERJ)

A idéia deste trabalho surgiu de muitas observações em nosso cotidiano. Uma grande variedade de expressões é criada a partir de um objeto ou de uma coisa. Percebemos que algumas dessas expressões já existiam há bastante tempo e eram facilmente encontradas em nossa literatura; algumas antigas, outras nem tanto; algumas que conseguiram resistir por décadas e saíram incólumes da luta que, com certeza, travaram com outras, que não foram suficientemente fortes para vencer o choque.
Sabemos que hoje, parte significativa da população que cria expressões é constituída de adolescentes; criam, recriam e inventam tantas expressões novas, que poderíamos reunir um grupo delas, formando um dicionário especial desses neologismos. É a “Biologia da Linguagem” tão poderosa que as palavras têm a possibilidade de ressurgir, ressuscitar, de tornar à vida depois de mortas.
O interesse da pesquisa é investigar a pluralidade de significados das palavras cabeça e boca dentro das expressões mais usadas pelo povo brasileiro, priorizando os métodos de trabalho da Dialetologia e o que se denomina de “Palavras e Coisas”.

O GALEGO ATUAL
Valéria Gil Condé (USP)

  I parte: Fundamentos histórico-sociais:
  1.1 Panorama histórico-social da língua e cultura galegas.
  1.2 O galego e a legislação atual.

  II parte: Subsídios lingüísticos e filológicos:
  2.1 Peculiaridades da língua galega.
  2.2 As tendências lingüísticas atuais.
Com.?093
O GALEGO DE HOJE
Alfredo Maceira Rodríguez (UERJ/UCB)

A situação lingüística na Galiza a partir da Autonomia e da Constituição Espanhola de 1978, que permite o uso das línguas das comunidades autônomas, junto com o espanhol - língua de todo o Estado Espanhol. A publicação das Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego pela Real Academia Galega e pelo Instituto da Lingua Galega, em 1982.
Opiniões favoráveis e contrárias a esta padronização. Oposição de grupos chamados reintegracionistas ou lusistas. Passados mais de 15 anos da publicação das Normas, este é o galego que domina nas instituições oficiais, no ensino e nos meios de comunicação. Existem várias rádios que transmitem em galego. Acaba de inaugurar-se mais uma: a Radio Obradoiro. Funciona também uma estação de televisão autônoma: a TVG. Existem diversos periódicos, mas o único diário é o Correo Galego, que também se encontra na Internet. A literatura em língua galega cresce em todos os gêneros, pode-se dizer que, se não toda, a quase totalidade da produção impressa do galego atual segue as Normas, afastando-se assim o galego, tanto do castelhano como do português, embora tenha muito em comum com ambas: o português pela sua herança comum e o espanhol pelos longos séculos de bilingüismo.

O LATIM POPULAR NO DE CORRECTIONE RUSTICORUM E O PROBLEMA DOS COPISTAS ERUDITOS
Syllas Mendes David (UFF)

Intuição sociolingüística de Martinho de Braga, no século VI, ante os dialetos sociais e regionais na sua diocese. O uso do latim vulgar no De correctione rusticorum, dirigido ao povo camponês, num contexto multicultural e uso do latim clássico na Formula vitae honestae, sobre as virtudes cardeais. Edições anteriores e a edição crítica de Barlow. Crítica textual e o problema dos copistas, a viciarem a fonte de vulgarismos, num texto por eles descaracterizado. Distinção de Martinho entre daemones e culturae e sua marca num idiomatismo da língua portuguesa, ante as línguas românicas, germânicas e eslavas.

O PERCURSO DA TRADUÇÃO NO TEXTO LITERÁRIO
Leda Papaleo Ruffo (UFRJ)

Há muitos e muitos anos, todo tradutor tem sido considerado um pouco traidor. A verdade, porém, é que a tradução implica em vários níveis, de diversas leituras. Umberto Eco já nos diz que cada leitura é um novo texto. A tradução, onde fica?
Não podemos esquecer que a tradução, além de ser um novo texto, se compõe de uma estruturação complexa quanto ao lugar de partida e quanto ao lugar de chegada. São vários os caminhos que nos levam a uma proximidade ou a um distanciamento do texto dito original.
Muitas vezes, incorporamos o autor ao nosso contexto de vida e provocamos variações que não estão muito próximas da palavra do autor. Isso aconteceu comigo nas traduções que desenvolvi a partir dos textos deleddianos, que tanto me faziam tentar conviver com os mesmos cenários da distante Sardenha, ou mais precisamente, do paesello de Nuoro.
A minha caminhada, como se vê, não terminou.

O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO COMPOSITOR GILBERTO MENDES
Rosemara Staub de Barros Zago (PUCSP/FAU)

A pesquisa tem por objetivo compreender o processo de criação do compositor Gilberto Mendes (1922), a partir da análise dos documentos de processo. Entendendo aqui como documento de processo, todo e qualquer registro que possa proporcionar informações sobre o percurso da criação artística do compositor. Para esse tipo de análise, são pesquisadas todas as possíveis marcas deixadas pelo compositor. Estão fazendo parte destes documentos de processo, seu caderno pentagramado denominado por ele de “temas e anotações”, fotos, cartas, anotações e partituras em processo dentre elas, das obras musicais, “Santos Footbal Music” (1969); “Ulisses em Copacabana” (1988); “Um quadro de Gastão Frazão”(1985); “O Pente de Istambul”(1990), entre outras.
Como arcabouço teórico recorremos à Semiótica de Charles S. Peir-ce e à Crítica Genética desenvolvida no programa de Comunicação e Semi-ótica da PUC/SP, pela Dra. Cecília A. Salles.
Considerando os documentos de processo como um espaço de comunicação intrínseca, onde o artista armazena informações e as testa, podemos encontrar registros dos mais diversos, tais como, anotações musicais, melodias, ritmos, escolha de instrumentos musicais, anotações verbais, onde o compositor está dialogando consigo mesmo, elaborando projetos musicais, dando ordens a si mesmo como regras de comportamento de composição.
Outro ponto a ser elaborado está em relação ao “movimento tradutório”, onde estão relacionados todos os tipos de “tradução intersemiótica”, imagens detonadoras”, “estimuladores de percurso” e os “elementos auxiliares”, onde é possível abarcar elementos propulsores de seu método de criação musical.

O PROCESSO TELEJORNALÍSTICO E A CRÍTICA GENÉTICA
Aline Grego (PUCSP-UNICAP/PE)

O Jornalismo, enquanto fenômeno de linguagem, revela uma rede de mediações sígnicas para inteirar-se num contexto. Ele, em si, é um signo, uma forma de “relatar o mundo”.
Identificar acontecimentos, transformá-los em notícias. Esse emaranhado de ações sugere a existência de um processo de puro movimento, signos que geram outros signos. Ao reconhecer o trabalho telejornalístico como processo, foi natural encontrar os caminhos da Crítica Genética.
Não parece fértil analisar o processo telejornalístico a partir do que foi entregue ao público, a exemplo dos trabalhos de análise de discurso. Ao contrário, o que interessa nessa pesquisa é o percurso, o movimento, as testagens travadas, no processo, pelos vários autores, uma vez que o telejornalismo é resultado de uma produção coletiva.
A experiência em redações e no ensino de jornalismo, tem apontado um problema anterior a análise do que é veiculado pela tevê. Entre profissionais e estudantes a questão reside em como lidar com a tensão vivida na passagem do processo da reportagem para a edição.
Um dos objetivos da pesquisa, a partir da Crítica Genética, da análise dos documentos de processo (Salles, C.1997) – é o de procurar compreender melhor a textura dessa construção telejornalística.

O PRODUTO E O PROCESSO NA PESQUISA ACERCA DA APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS EM CONTEXTO EDUCACIONAL
Nelson Mitrano Neto (UFF)

Com base em um conceito transdisciplinar de lingüística aplicada, discutiremos a questão metodológica na pesquisa em uma das áreas da lingüística aplicada mais bem exploradas: a aprendizagem de línguas em contexto educacional. Com um recorte em nível da pragmática lingüística, tentaremos delinear uma visão de pesquisa empírica nesta área que venha a se pautar pela natureza do fenômeno a ser investigado e não somente pelas características específicas desta ou daquela metodologia.

O RETO-ROMÂNICO MODERNO
Mário Eduardo Viaro (USP)

1. Divisão dialetal do reto-românico.
2. A formação de uma norma culta: o Rumantsch Grischun
3. Aspectos de gramática histórica do reto-românico.
4. Descrição sincrônica das duas variantes mais comuns: o sobresselvano e o valáder.

O VALOR EXPRESSIVO DA PALAVRA REDIMENSIONADA
Salatiel Ferreira Rodrigues (SEE/RJ)

A verdadeira literatura é aquela que faz da linguagem a sua essência, que valoriza o estágio intermediário entre o mundo real e as palavras que o representam e que atribui a estas um poder absoluto e improvável, capaz de mover ou de limitar uma tensão de consciência. O escritor não trabalha diretamente com a realidade, mas com a língua. Sua tarefa é recortar da língua a sua fala, que se constitui no discurso literário. Este se caracteriza pelo tratamento retórico emprestado ao significante e pela inserção de semas particulares no significado. A fala, processo vivo da comunicação, é o ponto de partida por excelência para uma nova língua, onde sobressai o domínio da liberdade e da criação, pelo redimensionamento das palavras através de novas falas.

ONDE ESTÁ A LÍNGUA PADRÃO?
Ana Flávia Lopes Magela Gerahrdt (UFRJ)
A concepção corrente sobre a língua está de acordo com teorias mágicas que preconizam a invariabilidade e a imutabilidade dos sistemas lingüísticos. A reboque destas teorias, vem a total identificação entre língua e norma padrão, embora esta não exista em nenhum lugar além dos compêndios gramaticais. Observa-se hoje que a língua não se constitui propriedade dos que a utilizam, mas sim dos que receberam da sociedade o poder de descrevê-la e manipulá-la - os gramáticos, os lexicógrafos e a mídia.
Pode-se buscar as raízes deste estado de coisas em mais de dois mil anos de estudos que obedecem a uma conscientização reificada de língua.

OS CARMINA BURANAE A ORALIDADE NO LATIM MEDIEVAL
Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)

Sucinta caracterização histórica da Idade Média. Discussão sobre a existência de um sermo latinus medii aevii. Paul Zumthor e a questão da literatura oral medieval. A poesia em latim medieval dos Goliardos – Poemas de Beuren. Exemplificação em alguns carmina burana.

OS ESTUDOS DE BASE LEXICAL:
PERCURSOS E PERCALÇOS
Maria Emília Barcellos da Silva (UFRJ)

Os estudos de base lexical – especificadamente a lexicologia, a lexicografia e a terminologia – têm apresentado tão significativo desenvolvimento nas últimas décadas que impõem reflexões sobre os percursos e os procedimentos que distinguem cada um dos seus campos de interesse. Enquanto a lexicologia procura dar conta do sistema léxico da língua geral que a lexicografia se empenha em descrever, a terminologia se ocupa dos termos, das palavras específicas das línguas de especialidades.
As áreas cobertas pelos estudos lexicográficos e terminológicos, de inegável proximidade, precisam-se pelo método com que desenvolvem os seus fazeres: a semasiologia preside os de natureza lexicográfica, e a onomasiologia, os terminológicos.
A produção lexicográfica de maior representatividade em português data dos albores do século XVIII, com a publicação do Vocabulário Português-Latino do padre teatino Raphael Bluteau. Presentemente, é a vez da terminologia vir crescendo de importância ao interesse dos estudiosos e mesmo no dos usuários comuns da língua, em virtude da normativização que ela propõe aos discursos técnico-científicos que circunstanciam essa nova maneira de estar-no-mundo, hoje amplamente dominado por novas e ritualizadas formas de convivência.

OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA CRÍTICA TEXTUAL
Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)

 As primeiras manifestações na Antigüidade Clássica. Figuras mais representativas na Idade Média. A moderna crítica textual: Karl Lachmann e Giorgio Pasquali. Os postulados instituídos por Karl Lachmann e sua aplicação prática. Breve notícia sobre a crítica textual no Brasil.
 
OS PROBLEMAS AUTORAIS E TEXTUAIS DA OBRA ATRIBUÍDA A GREGÓRIO DE MATOS — ALGUNS EXEMPLOS
Francisco Topa (Univ. do Porto)

Antecipando alguns dados da dissertação de doutoramento que prepara sobre o tema, o autor discute e apresenta em edição crítica um pequeno conjunto de sonetos, procurando exemplificar os muitos erros de atribuição autoral e os inúmeros lapsos textuais cometidos pelas duas principais edições da obra do poeta barroco baiano Gregório de Matos (1636-1695).
Com.?106
OS QUATRO ELEMENTOS NA ELEGIA TIBULIANA
Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)

1. A elegia teve seu esplendor em Roma, embora encontrasse suas origens na Grécia. Na literatura latina, atribui-se a Catulo a sua introdução, mas foi com Tibulo e Propércio que encontrou os maiores cultores.
2. Álbio Tibulo teve sua produção poética reunida no corpus tibulli-anum, onde se expressam temas de amor (com destaque para duas mulheres: Délia e Nêmesis), religião, exaltação da vida campestre, louvor a conquistas romanas por Messala, uma tônica constante de melancolia, demonstrando a incompatibilidade do "eu" poético com a realidade do mundo exterior.
3. Os quatro elementos da natureza: a terra, a água, o ar, o fogo, constituem a idéia medular de nosso trabalho.

OS RECURSOS ARGUMENTATIVOS EM SALA DE AULA
Ana Cristina Salviato (UNESP)
Paulo de Tarso Galembeck (UNESP)

Este trabalho tem por objetivo verificar a utilização de recursos argumentativos em aulas para os ensinos médio e superior.  Será analisada a maneira pela qual os professores se utilizam da argumentação para convencer os seus alunos e em que medida esses processos contribuem para o estabelecimento e a manutenção de um canal de comunicação efetivo entre os participantes do processo de comunicação.  A classificação dos procedimentos de argumentação aqui adotada é exposta por Garcia (1976) e Penteado (1982), os quais dividem os processos de sustentação de argumentos em evidências e raciocínio.  As evidências dividem-se em fatos, exemplos, ilustrações, dados estatísticos e testemunhos.  Os processos de raciocínio dividem-se em indução, dedução, relações causais (causa ou conseqüência, ou de efeito e causa) e, por fim, analogia.  O presente estudo possibilitará a verificação dos recursos argumentativos mais freqüentes, além de sua adequação ao assunto desenvolvido.  Também se discutirá o papel desses argumentos como recursos para ampliar ou desenvolver o assunto tratado.

PALAVRAS INSTRUMENTAIS EM CONTO DE EÇA DE QUEIROZ
Alessandra Fernandes da Silva (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

O objetivo deste trabalho é identificar os itens gramaticais que funcionam como palavras instrumentais no conto Singularidades de uma rapariga loira, de Eça de Queiroz.
Utilizamos, para tanto, o Tact, que é um programa para microcomputadores do tipo PC, elaborado por John Bradley, da Universidade de Toronto, Canadá.  Esse programa tem a função de localizar letra, palavra ou frase em textos e também pode fornecer número de ocorrências, número de palavras no texto, além de contextos.

PALAVRAS-TEMA EM CONTO DE EÇA DE QUEIROZ
Diana Oliveira Baptista (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

Nossa proposta de estudo concentra-se na análise do léxico de um corpus específico, com vistas a identificar as palavras-tema, enquanto sustentação da idéia central do texto.
O corpus de análise é formado pelo vocabulário do conto Singularidades de uma rapariga loira, de Eça de Queiroz.
Como instrumental a este estudo, adotamos o programa Tact que proporciona ao usuário a rápida e eficiente localização de palavras no texto, bem como o número de ocorrências.  Dessa maneira, eliminamos a possibilidade de se cometer erros ou exclusões de palavras, principalmente na contagem de freqüência.

PANORAMA DOS ESTUDOS FILOLÓGICOS NA BAHIA
Lucidalva Correia Assunção (UEFS)

Neste trabalho procuramos traçar o panorama dos estudos filológicos na Bahia: do ensino à pesquisa. Para isso, identificamos as instituições de ensino superior envolvidas com esses estudos; oferecemos informações so-bre os programas das disciplinas e os projetos de pesquisa desenvolvidos na área em questão.

PARA ESTUDAR OS ENCONTROS VOCÁLICOS EM PORTUGUÊS ARCAICO.
 Fernanda Elias Zucarelli (UNESP)

A presente comunicação pretende discutir a definição de encontros vocálicos sob uma perspectiva fonológica, utilizando como corpus algumas cantigas de amigo do Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa.
 A discussão baseia-se no fato de que uma simples seqüência de vo-gais na escrita nem sempre constrói um encontro vocálico; para exemplifi-car, tem-se as ocorrências:
 Assim sendo, torna-se necessária uma reflexão e uma conseqüente definição para encontros vocálicos, para isso pode-se utilizar a teoria métri-ca, que facilita o trabalho por enfatizar a função de cada elemento dentro da sílaba, ou seja, dentro da seguinte planilha silábica:

                                        ? (sílaba)

                                                         R (rima)
 
                                O(onset)    N (núcleo) C (coda)

               c   c          v   v        c   c

E assim pode-se concluir, através da perspectiva da fonologia métrica, que um encontro vocálico vem a ser uma seqüência de núcleos, que, se ocorrer na mesma sílaba (dominados pela mesma rima), forma um ditongo, se ocorrer em sílabas diferentes, tem-se um hiato.

PARA UMA EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA
Albertina Ribeiro da Gama (UFBA)

Mostrar-se-á, o comportamento que se está adotando para a edição semidiplomática rigorosa ? em curso de preparação ?  dos Libros de açedrex, dados e tablas de Alfonso X, códice j. T. 6 da Biblioteca do Escorial, datado de 1283. Os Libros de açedrex , dados e tablas de Alfonso X constituem  uma compilação relativa ao lúdico. Tem fontes orientais e é o “mais valioso tratado sobre o tema na época medieval”. A necessidade de uma leitura  conservadora apoiou-se nos critérios de Joseph Maria Piel ? na sua edição crítica do Livro da ensinança de bem cavalgar toda sela, ? nos argumentos de Ivo de Castro  ? na introdução da edição crítica de A Demanda do Santo Graal (edição de J. M. Piel, concluída por Irene Freire Nunes) ?, no artigo de Heitor Megale ? O testemunho da dúvida: a busca da boa edição, na miscelânea Para Segismundo Spina: língua. filologia e literatura ?, corroborados pelo comportamento de Luiz Fagundes Duarte na edição da Vida de Santa Pelágia. O texto dos Libros de açedrex, dados e ta-blas de Alfonso X  tem uma edição crítica de A. Steiger, totalmente esgota-da.

POR QUE E PARA QUE É NECESSÁRIA UMA EDIÇÃO DIPLOMÁTICA DOS CÓDICES DA OBRA DE GREGÓRIO DE MATOS?
José Pereira da Silva (UERJ)

A obra poética atribuída a Gregório de Matos e Guerra constitui o maior problema ecdótico brasileiro.
As dúvidas estão em quase todos os seus detalhes, pois, nem mesmo se pode afirmar com certeza que o poeta Gregório de Matos existiu de fato, como pretende provar a Profa. Ingridy, do setor de Literatura Brasileira da Universidade de Colônia, na Alemanha.
Do cidadão Gregório de Matos, questiona-se sobre o nome, nascimento, vida e morte, restando-nos muito mais dúvidas do que certezas, mesmo tomando como referência a obra de Fernando da Rocha Peres (UFBA).
De sua obra, cujo inventário sistemático foi elaborado por Francisco Topa (Universidade do Porto), o que ficou nos acervos manuscritos se constitui de cópias organizadas por admiradores daquelas poesias, freqüentemente confundidas com obras de autores conhecidos, ou de imitadores anônimos do estilo das poesias ditas “de Gregório de Matos”.
Além disso, “a questão do plágio”, a grande quantidade e a dificuldade de acesso direto a esses códices (alguns excessivamente protegidos por seus guardiães) levam-nos à certeza de que sua edição crítica e o adianta-mento de seus estudos exigem uma edição diplomática imediata, para que os futuros pesquisadores tenham acesso a esse material tão raro.

PORTUGUÊS E FRANCÊS A TRAJETÓRIA DE DUAS LÍNGUAS DA   EUROPA À AMÉRICA
Maria Imerentina Rodrigues Ferreira (UFRJ)

  O português e o francês, duas línguas, como se sabe, oriundas do latim,  partem da Europa e colonizam pontos diferentes das Américas.
  Procuraremos, assim, abordar semelhanças e diferenças desde sua formação, em que se distanciam rumo a uma fonética, morfologia e sintaxe diversas, até nossos dias, em que verificamos pontos de contato, de reintegração, através do empréstimo que recobre determinados campos semânticos específicos, por necessidade de se traduzir sua cultura.
  Nesse percurso, consideraremos quatro pontos geográficos: Brasil,  Portugal, França e Canadá para identificarmos as convergências e divergências lingüísticas, que são produto de culturas semelhantes, mas com sua identidade específica.

PÓS-GRADUAÇÃO INTERUNIVERSITÁRIA EM FILOLOGIA NA UFRJ
Antônio Hauila (UFRJ)

Trata-se de dar uma contribuição aos estudos e pesquisas dessa área humanística, não só pelo seu indiscutível valor científico, mas também pelo que desse mesmo humanismo – tomado em todos os seus sentidos e significados – está começando a faltar na dedicação quase que exclusiva dada aos estudos sincrônicos.
Como se pode depreender do título desta mesa redonda “Proposta de pós-graduação interuniversitária em Filologia” o debate vai prestigiar, lato sensu, a área filológica e, stricto sensu, a Filologia Românica, apontando, ambas, para um consenso didático-pedagógico entre as unidades federais que as ministram ou ministraram no nível pós-graduado.
A Filologia na UFRJ, desde a saudosa FNFi, sempre se representou com as mentes científicas e argutas de Augusto Magne, Sousa da Silveira, Antenor Nascentes, Celso Cunha, Matilde Matarazzo, e muitos outras.
Atualmente, a descendência de tão ilustres mestres discute Gregório de Matos e Gil Vicente, examina os textos de João do Rio e de Pedro Nava, aborda a didática da língua portuguesa, faz crítica textual e genética, procura a razão do nome na coisa nomeada, e faz geografia lingüística com a Toponímia, quer a cristã alienígena ou quer a indígena pagã.
Pode-se observar, então, por essa variada temática filológica que é praticada também aqui na Faculdade de Letras da UFRJ, que, apesar de tudo, há – parodiando a famosa metáfora de Skutsch – um caudal fluindo dinâmica e conscientemente sob a espessa camada de gelo da indiferença dos tecnocratas e do descaso administrativo.
Por isso tudo aqui estamos, coesos, firmes e conscientes de que sem a contribuição do passado a evolução do presente não só é mais lenta como fica seriamente comprometida.

PROBLEMAS DA LEXICOGRAFIA DE LÍNGUA PORTUGUESA
Cláudio Mello Sobrinho

Questões conjunturais: o atraso da pesquisa no campo dos estudos etimológicos; a carência de pessoal especializado e a descontinuidade na elaboração de trabalhos lexicográficos; a dificuldade de acesso às fontes bibliográficas; a falta de um apoio mais efetivo de órgãos governamentais e das instituições acadêmicas; a insuficiência de tempo para a preparação das obras, em função das exigências do mercado editorial. Questões preliminares na elaboração de um dicionário etimológico: o levantamento bibliográfico; a nominata; a descrição mórfica, etimológica e semântica dos afixos e dos elementos de composição; o critério de transcrição de palavras estrangeiras e o de transliterações de palavras de língua de alfabeto diferente; a conceituação das expressões “origem obscura”, “origem desconhecida” e “origem controversa”; o critério para o estabelecimento da etimologia dos termos científicos e eruditos entrados no português principalmente a partir do século XIX; a explicitação do relacionamento dos vocábulos do português com seus formantes latinos e gregos.

PROBLEMAS ECDÓTICOS DA EDIÇÃO DA OBRA COMPLETA DE ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA
José Pereira da Silva (UERJ)

A publicação da obra completa de Alexandre Rodrigues Ferreira já é absolutamente inexeqüível, graças ao descuido das autoridades relativa-mente à proteção de sua produção científica, porque alguns documentos desapareceram e outros foram parcialmente destruídos.
Depois de várias tentativas frustradas com verbas públicas aprovadas e comissões de altíssimo escalão nomeadas, estamos ultimando os preparos de uma edição que pretendia ser crítica, com o registro desses interessantes fatos, sem nenhum auxílio governamental.
Registramos isto para que se constate a injustiça que se comete na distribuição do dinheiro público, oferecendo-o a uns privilegiados e negando-o a quem produz.
Além desses há problemas técnicos:
1) Documentos de autoria diversa incluídos entre os documentos de autoria segura e/ou explícita; 2) Documentos desaparecidos dos quais só existem cópias impressas; 3) Documentos desaparecidos dos quais só existem cópias posteriores; 4) Documentos dos quais existem versões muito diferentes; 5) Documentos dos quais só existem rascunhos ou minutas; 6) Documentos em grande número de cópias ao lado de documentos em codex unicus; 7) Documentos ilegíveis, borrados ou corroídos; 8) Documentos impressos com adulteração das fontes; 9) Documentos não datados nem assinados; 10) Grande quantidade de documentos (milhares de páginas).
Se fosse fácil, algum aventureiro já o havia feito, certamente.

PROCEDIMENTOS DE CORREÇÃO EM TEXTOS CONVERSACIONAIS  (PROJETO NURC/SP)
Paulo de Tarso Galembeck (UNESP)
Mércia Reiko Takao (UNESP/PIBIC)

Castilho menciona três processos discursivos que constituem a língua falada: a construção, a reconstrução e a descontinuação.  O processo de construção consiste em dois atos de fala: a construção do tópico ou tema (como tal entendido o objeto da predicação); a predicação sobre esse objeto (construção do tema em foco).  A construção não é um processo contínuo ou linear, pois está sujeito a reformulações ou reconstruções (que retoma ou “emendam” o que foi dito) e a descontinuidades ou rupturas (hesitações, pausas, elipses, anacolutos, truncamentos).
Este trabalho enfoca um dos processos de reconstrução ou reformulação, a correção, que é o processo de reelaboração do discurso por meio do qual se procura “consertar os erros”, sejam eles fonéticos, prosódicos, léxicos, gramaticais ou pragmático informacionais.  As ocorrências são classificadas quanto à posição (adjacente ou não-adjacente), à natureza do erro (fo-nético-prosódico, léxico, gramatical, pragmático), à presença de marcadores, à dimensão da correção (total ou parcial), a informante que executa a correção (auto-correção e heterocorreção).  Os dados apontam para o predomínio da correção lexical, adjacente, sem marcadores, parcial e executada pelo próprio informante.  O corpus do trabalho é constituído por textos conversacionais pertencentes ao arquivo do Projeto NURC/SP.

PROCEDIMENTOS LINGÜÍSTICOS NO GERENCIAMENTO DE RELAÇÕES EM ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO
Andréia da Cunha Malheiros (UNESP)
Antônio Suarez Abreu (UNESP)

Esta comunicação tem por objetivo descrever os procedimentos  lingüísticos utilizados no gerenciamento de relação entre os interlocutores.  Para esse estudo, parto do pressuposto de que a toda interação verbal correspondem dois tipos de gerenciamento.
Um deles, já mencionado, é o gerenciamento de relações, atividade normalmente executada por marcadores de atenuação, que visam a preservação da face dos interlocutores.  O outro tipo seria o gerenciamento da in-formação e consiste na obediência às máximas de Grice à verificação do repertório a ser comunicado.
O corpus da pesquisa é constituído por uma entrevista concedida por Gustavo Loyola, presidente do Banco Central, no programa Roda Viva, dia 14 de abril deste ano.  Nesse corpus serão levantadas as ocorrências de marcadores de atenuação, visando a determinar o papel dos mesmos no gerenciamento de relações.
Os resultados mostram que os marcadores mais utilizados são os indicadores de atividade cognitiva, as formas de pluralização do sujeito e algumas expressões que buscam a cumplicidade do interlocutor, visando sempre o gerenciamento de relação.

PROPOSTA DE PÓS-GRADUAÇÃO INTERUNIVERSITÁRIA DE FILOLOGIA
José Pereira da Silva (UERJ)

A Filologia, no Rio de Janeiro, está com dificuldade de organizar um programa estável de pós-graduação porque as diversas faculdades ou departamentos de letras não possuem o número suficiente de professores habilitados para oferecerem esse curso.
Por isto, os filólogos lotados ou residentes no Rio de Janeiro podem e querem restabelecer o Curso de Filologia Românica da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro ou outro equivalente ou inspirado naquele.
Parece justo que a sede e as bases para o seu funcionamento sejam as do desativado curso da UFRJ, os docentes deverão vir da UERJ, da UFF, da UFRJ, da PUC, de outras universidades particulares e do corpo docente aposentado que aqui vive.
O Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos e a ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOLOGIA têm todo o interesse em garantir o restabelecimento dos cursos de Extensão, Aperfeiçoamento, Mestrado e Doutorado em Filologia Românica no Rio de Janeiro e farão o possível para garantir a sua permanência.
Deste Congresso deverá sair uma Comissão Executiva para organizar e implementar o PROGRAMA INTERUNIVERSITÁRIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA ROMÂNICA NO RIO DE JANEIRO.

QUEM DISSE QUE NÃO HA INFIXOS EM PORTUGUÊS?
 José Lemos Monteiro (UFC)

Com este estudo pretendemos demonstrar que, embora em geral se pense o contrario, a infixação existe na configuração atual da morfologia portuguesa. Depois de estabelecermos os critérios para que os infixos não sejam confundidos com outros segmentos mórficos, tais como os sufixos mediais e os interfixos, apresentamos algumas situações que atestam a presença de infixos no processo de derivação em português, com a função de acrescentar a bases verbais a noção diminutiva ou o aspecto freqüentativo, bem como formar hipocorísticos ou diminutivos de bases nominais.

RASTREANDO A CATEGORIA DO MITO
DA ORIGEM E DO SAGRADO EM
O PÃO DE CADA  DIA, DE NÉLIDA PIÑON
Maria Alice Aguiar (UERJ)

Nossa comunicação tem por objetivo rastrear a esteira do sagrado e do  mito da origem em O pão de cada dia , de Nélida Piñon (1994). Nélida  demonstra, neste seu livro de fragmentos, a consciência  de ter tatuados  numa memória secular, profundos elos com a terra natal de seus  ancestrais. E, como demiurga, parece possuir duplo nascimento: um na  terra,  Brasil e outro no sonho, Galiza. Seu avô Daniel surge como homem  intrépido, aliciante, outorgando-lhe a ousadia  da aventura que permeia  toda a sua obra: a busca obsessiva da origem. Assim, Nélida, consciente  de sua gênese, assimila-a e, no caudal de seu fazer literário arrasta  consigo uma galeguidade plena, espontânea, sagrada. Amalgamando  fronteiras, separadas geograficamente por milhares de quilômetros,  congeminando-as numa mesma perspectiva  de afeto insiste em não laços de memória que a acorrentam, ao mesmo tempo que lhe dão  asas para preparar o ritual da festa de sua linguagem. Enquanto resiste, libera-se.
Portanto, repescando origem e  marcando o espaço do sagrado em sua obra, Nélida está, sem dúvida dando sentido único à sua escritura ao imprimir às palavras os sentimentos originários que traz dentro de si.  Sentimentos advindos de pés que pisaram, convictos, o santuário de Santiago de Compostela - seus ancestrais -, lugar de segredos e de  penetração nos mistérios divinos.

RECURSOS LINGÜÍSTICOS QUE AUXILIAM  NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO PRESENTE SIMPLES, DA INTERROGAÇÃO E DA NEGAÇÃO NA LÍNGUA INGLESA
Deise Mação Puppin (UFV)
Regina Maria Zuccolo Barragat de Andrade (UFV)

Os problemas lingüísticos detectados na aprendizagem de uma língua estrangeira (inglês) podem ser resolvidos com o desenvolvimento de estudos na área de Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas Estrangeiras.
Pesquisam-se situações lingüísticas que influenciem positivamente nas estratégias de ensino/aprendizagem do presente simples, da negação e da interrogação.  Faz-se um estudo crítico dos recursos lingüísticos que os professores utilizam em diversas situações de sala de aula, particularmente em momentos de explicações e esclarecimentos.
O aprendiz de uma segunda língua, tende a transferir as estruturas de sua língua materna para a língua estrangeira.  Por isso, os professores precisam conhecer as estruturas lingüísticas que se confrontam nas duas línguas em situações de ensino/aprendizagem e buscar meios de evitar a interferência da língua materna.

 REFERÊNCIA DE PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
Márcia Maria Reyies Hosne (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

Esta comunicação visa à apresentação de resultados parciais de pesquisa que vem sendo desenvolvida no segundo semestre de 1998, com prazo final prevista para meados de 1999.
O tema da pesquisa insere-se numa preocupação variacionista, uma vez que faz a análise do uso variável de “nós” e “a gente” para referência à primeira pessoa do plural no Português do Brasil.
O corpus investigado foi constituído a partir de histórias em quadrinhos e as ocorrências encontradas foram analisadas segundo os seguintes grupos de fatores: função sintática, tipo de gibi e ano de publicação, seguindo a metodologia proposta por William Labov.

REGÊNCIA VERBAL DE IR E VIR EM REDAÇÕES UNIVERSITÁRIAS
Ellen Cristina Paulino da Costa (UNIBAN)
Ana Lúcia Vieira (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

Esta comunicação visa à apresentação dos resultados da pesquisa sobre a regência verbal de IR e VIR, enquanto verbos que normalmente trazem problemas na complementação, pela troca da preposição A por EM.
Utilizamos parâmetros lingüísticos (pessoa, tempo e complemento) e extralingüísticos (idade, sexo e curso), num tratamento quantitativo dos dados.  O material utilizado para investigação é formado por 100 redações de seis cursos, resultando em 47 ocorrências desses verbos.  Somente no curso de Filosofia não encontramos o uso desses verbos.

RELATIVISMO LINGÜÍSTICO A NEGAÇÃO NO PORTUGUÊS, NO INGLÊS E NO FRANCÊS
Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

Polaridade e negação.  A negação no português: a possibilidade ou não de ocorrência da dupla negação e seus fatores determinantes.  A negação no inglês: o uso do operador verbal com função nítida na distinção entre negação e polaridade e a relação dos pronomes indefinidos com a noção de foco.  A negação no francês (do Canadá): as situações que possibilitam a dupla negação e as formas distintas de se expressar afirmação conforme a polaridade da pergunta.

RUMOS DA GRAMATICALIZAÇÃO NO PORTUGUÊS DO BRASIL
Vanda de Oliveira Bittencourt (PUCMG)

Taxados pelos vigilantes da língua como “heresias”, “atentados contra a nossa língua”, “lepra” e outros tantos qualificativos de teor negativo, termos e expressões como inclusive, tipo (assim), de repente etc. vêm ganhando terreno em nosso uso lingüístico mais espontâneo, aí assumindo um exercício polivalente de papéis intra- e inter-sentencial, assim como o textual, discursivo e conversacional. Exemplo disso é o seguinte emprego da ex-pressão de repente, que, desvestida de sua acepção temporal, apresenta-se como elemento introdutor de estratégia metalingüística de cunho corretivo, na qual o interlocutor busca acertar o engano de leitura do parceiro, que confunde os termos “laser” ( inglês) com “lazer” (português):
1) De repente o texto que você leu não estava falando de “lazer”, mas do “laser” que vai ser usado na operação que o cara vai fazer.
De natureza aproximada é o processo de desnominalização do substantivo tipo que vem incorporando uma série de novos papéis, conforme nos testemunham exemplos como:
2) a) Eu só vou terminar esse trabalho tipo semana que vem.
 b) Eu fiz de tudo, mas ele não entendeu nadica de nada. Tipo assim.
Investigaremos alguns desses casos de extensão, ou desvio, da função originária de elementos, mostrando seus novos empregos e identificando os rumos do processo de gramaticalização que podem estar consubstanciando.

SEMIÓTICA VISUAL E MARKETING  A  MANIPULAÇÃO  ATRAVÉS  DA  SÍNCOPA, NAS  LINGUAGENS:  VERBAL,  MUSICAL  E  IMAGÉTICA
Nícia R. D’Ávila (UNESP)

Os espaços rítmicos engendrados no interior de um discurso musical, e1, e2, e3, designados respectivamente como: tético, acéfalo e anacrúsico representam, em ritmo dinâmico periódico, instâncias diversificadas produzindo frases, períodos, etc., que não se limitam aos parâmetros dos compassos.
Na linguagem visual fílmica dos “jingles” de publicidade são estas instâncias, sob forma de imagens, que surgindo na tela sobre um fundo rítmico-estático, agenciam o visual ao musical, ao verbal e ao proxêmico. Este último, com grande representatividade quanto ao “percurso da cerveja” no “jingle” que apresentaremos, reagrupa caracteres rítmicos verbais, percussivos, melódicos, visuais e gestuais, axiologizando-os, em linguagens articuladas em sincretismo que conduzem o destinatário ao “feed-back” positivo = fazer-comprar.
Ao som da melodia Garota de Ipanema de A. C. Jobim, realiza-se o marketing da cerveja BRAHMA. A síncopa determina o caráter factitivo (persuasivo) da significação  implicando na forma do conteúdo da publici-dade enunciada : enfática, inflexiva, imperativa, manipuladora.
Ainda que a linguagem verbal seja predominante em relação ao que do sentido, são as linguagens musical e imagética (semi-simbólicas) que, através do como do sentido, provam que a “maneira de dizer” (pragmática) - por meio da síncopa e do caráter proxêmico, é mais  importante do que aquilo que foi dito.

SÍNCLISE PRONOMINAL: UM CONFRONTO DE CORPORA
Maria da Glória Rocha (UNEB)

O trabalho intitulado Sínclise Pronominal: um confronto de corpora é desdobramento da dissertação de mestrado A Colocação Pronominal na Norma de Estudantes Pré–Universitários para a qual pesquisamos a colocação dos clíticos na norma de dez estudantes alagoinhenses com idade entre dezesseis e dezoito anos, objetivando verificar o grau de conformidade daquela norma às prescrições das gramáticas tradicionais. A continuidade da pesquisa – pautada nos princípios teóricos da teoria variacionista – vem-se dando com outro corpus de língua oral, com informantes da mesma localidade, com idade entre trinta e quarenta cinco anos e escolaridade superior. O confronto dos dois corpora nos dará subsídios para verificar se o que foi confirmado no corpus da primeira pesquisa se repete em corpus de outra procedência. As variáveis sociolingüísticas consideradas nesta etapa do trabalho foram o sexo, a escolaridade superior e o discurso oral em estilo de entrevista dos informantes.

SÍNTESE DA GRAMÁTICA TUPINAMBÁ
Nataniel dos Santos Gomes (UERJ/UFRJ)

Normalmente, quando se refere ao tupi antigo, encontramos análises de sua influência sobre a língua portuguesa, sobretudo em topônimos. Dessa forma esquece-se de seu valor lingüístico de resistência à imposição.
Podemos perceber fatos lingüísticos muito interessantes na análise desta língua. Por exemplo, percebemos que ela não tem consoantes fricativas, exceto o /s/, também não possuíam a lateral /l/ e a vibrante múltipla /R/, gerando um trocadilho, que afirmava que aquele povo não tinha nem fé, nem lei, nem rei, como forma de referência à sua cultura e língua.
Outro fato interessante é que em sua estrutura morfológica, o sujeito do verbo intransitivo é cindido, ou seja, o sujeito intransitivo tem a mesma forma que o objeto dos verbos transitivos. São línguas ativas, com sintagmas nominais neutros e diferentes formas de clíticos referentes a pessoas.
Assim como na língua portuguesa, não existe a obrigatoriedade dos sintagmas nominais de sujeito ou objeto serem preenchidos lexicalmente, no tupinambá. São as denominadas línguas pro drop.
Pretendemos desenvolver um resumo dessa gramática tão curiosa e tentar alertar para os diversos erros clássicos, tais como sua classificação como língua aglutinante e não como incorporante.

SITUAÇÃO ATUAL DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
Bruno Fregni Bassetto (USP)

A constituição da União Européia teve como conseqüência uma série de fatores benéficos no campo cultural.  Baseada no respeito a seus constituintes plurirraciais, a União Européia empenhou-se em estudar a situação presente das variedades lingüísticas em uso em seu território e estimulou as diversas nações a apoiar as minorias lingüísticas, buscando evitar-lhes a extinção.  Este trabalho pretende apresentar um panorama das variedades lingüísticas românicas na Europa, com algumas indicações de sua situação no mundo, baseando-se no Livro Vermelho das Línguas Ameaçadas (Europa) da UNESCO, no Informe Comunitário da União Européia e nos dados da União Latina, além de dados bem recentes colhidos na Internet.  Tendo em vista a posição sólida das línguas românicas oficiais (português, castelhano, francês, italiano e romeno), não pareceu necessário tratar delas detalhada-mente.  As outras não nacionalmente oficiais, tais como o galego, o catalão, o provençal, o gascão, o franco-provençal, o rético e o sardo, potencial-mente ameaçadas de extinção e atualmente oficiais em seus respectivos territórios, são tratadas com destaque.  A conclusão a que se chega é que todas, ou quase todas, recuperaram muito de seu vigor e ostentam, em nossos dias, notável vitalidade, manifestada através de todo tipo de publicações, unificação e fixação de normas ortográficas, ensino nas escolas, regras de financiamento, fundação de institutos curadores etc.  As ameaças diminuíram e a sobrevivência das minorias lingüísticas românicas parece garantida.

SOBRE EMPRÉSTIMOS: ECOS DE UM ENCONTRO EM YALE
Emmanoel dos Santos (UFRJ)

Uma apresentação do problema do empréstimo lingüístico no âmbito dos trabalhos do Primeiro Congresso Internacional da American Portuguese Studies Association, realizado na Universidade de Yale, de 26 a 28 de março do ano em curso.
Levantamentos e estudos sobre o uso de empréstimos no discurso escrito sobre cinema no português do Brasil, tomando como hipótese de trabalho uma crença largamente assumida, mas que as investigações não confirmaram, nem no discurso dos leigos, nem no discurso de especialistas quando dirigido ao grande público, ficando a forte adoção de empréstimos circunscrita ao discurso técnico (discurso de especialistas para especialistas).
Expansão da pesquisa para o exame do discurso sobre cinema em Portugal, iniciando-se com a análise de textos sobre cinema assinados pelo polígrafo (poeta, ensaísta, crítico, etc.) lusitano Jorge de Sena. (Motivo para o privilegiamento: todos os textos sobre cinema desse autor foram reunidos e publicados.) Tais textos e outros, examinados menos exaustivamente, apontam para uma situação semelhante, no tocante a empréstimos, entre os discursos escritos sobre cinema em Portugal e os escritos no Brasil.
Reflexões de ordem filológica: uma correspondência com a editora de Jorge de Sena e o problema da fidedignidade dos textos.

TEXTUALIZAÇÃO DA IMAGEM
Adriano Chan (UNESP)
Antônio Suárez de Abreu (UNESP)

Quem nunca ouviu dizer que “uma imagem vale muito mais que mil palavras”?  Será?
Pretende-se, neste estudo, discutir as propriedades da imagem e os elementos envolvidos em sua textualização.  Trata-se de uma tarefa relevante, pois a cognição e decodificação da imagem são um processo que envolve os mais diversos níveis: o pictórico, o cognitivo e o alegórico.  Elas oferecem  muitos atrativos, enter os quais podemos destacar a fragmentação do momento, o que causa grandes repercussões na argumentatividade da mensagem.  As imagens não gozam de um sistema definido e sedimentado, por isso, encontram-se em constante sistematização.
Tentar-se-á chegar às propriedades profundas que estruturam e fundamentam a percepção de uma imagem como um texto icônico alegorizado passível de ser decomposto em diversos níveis.

TIPOLOGIA DAS FORMAS DE TRATAMENTO ENTRE CASAIS
Eleonora Cordeiro (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

A proposta deste trabalho é observar como os casais se tratam e estabelecer uma tipologia das formas de tratamento mais recorrentes em situações informais.
A amostra é constituída de 72 casais, que respondem a perguntas sobre as formas que se tratavam nominalmente, quanto à variação de usos desencadeada pela discussão matrimonial. As respostas foram avaliadas segundo a faixa etária do informante e o sexo.
Após a conclusão da coleta de dados, estabelecemos algumas hipóteses de trabalho baseadas em nossas instituições, enquanto falantes nativos da língua, com base nas quais elencamos alguns critérios que dessem conta de propiciar respostas. No levantamento e análise dos dados, notamos que algumas invariâncias tornavam-se cada vez mais evidentes e, a partir delas, estabelecemos uma tipologia para as formas de tratamento entre casais na cidade de São Paulo.

TRÊS TRATADOS MEDIEVAIS PORTUGUESES (EDIÇÃO CRÍTICA)
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS/USP)

Entre as obras do período medieval português figura o texto ascético-místico Castelo Perigoso. Este texto encontra-se no Códice Alcobacense 199 distribuído em sete tratados: o primeiro Castelo Perigoso, aborda ensinamentos sobre como edificar um castelo no coração e como defendê-lo contra ladrões e traidores; o segundo, dos Benefícios de Deus, é um desdobramento, segundo Martins (1956), do primeiro; o terceiro, Do Livro da Consciência e do Conhecimento Próprio, traz conselhos sobre auto-conhecimento; o quarto, Da Amizade e das Qualidades do Amigo, aborda as qualidades que se deve encontrar em um amigo; o quinto, Das Penas do Inferno, e o sexto, Das Alegrias do Paraíso, tratam, respectivamente, sobre o tema da condenação eterna e sobre a felicidade dos eleitos quando alcançarem o paraíso, livres de todo sofrimento terreno; o sétimo e último tratado, Livro dos Três Caminhos e dos Sete Sinais do Amor Embebedado, apresenta a vida espiritual direcionada por três caminhos: o purgativo, o iluminativo e o contemplativo.
Constituir-se-á objeto deste trabalho apenas três tratados: o segundo, o terceiro e o quarto; que serão editados criticamente a partir dos manuscritos alcobacenses (mss. 199 e 214), pertencentes à Biblioteca Nacional de Lisboa.

UM ESTUDO SOBRE A INTELIGIBILIDADE DAS VOGAIS CANTADAS NO PORTUGUÊS  BRASILEIRO
Beatriz Raposo de Medeiros (UNICAMP)
Leonardo Couto Franco de Oliveira (UNICAMP)

Compreendendo uma manobra articulatória típica das vozes femininas no canto erudito , que é o abaixamento da mandíbula, pode-se compreender, também, o resultado acústico que permite à voz grande amplitude e projeção (Sundberg, 1977).
No entanto, o sinal sonoro emitido por cantores eruditos (de ópera ou de câmara), se por um lado ganha em amplitude, por outro, tem a inteligibilidade do texto cantado comprometida.
Há mais de duas décadas a questão da inteligibilidade vem sendo estudada por autores como Scotto di Carlo (1978) e Sundberg (1975, apud Scotto di Carlo, 1985), enfocando-se  línguas como o inglês, o sueco e o francês e principalmente o texto e a música operísticos.
O presente estudo tem caráter preliminar e visa, baseado nos autores já citados, verificar a inteligibilidade de três vogais [i], [e] e [eh] faladas e cantadas no estilo de música de câmara  em português brasileiro ( PB).
Os resultados obtidos correspondem àqueles de pesquisadores como Sundberg e Scotto di Carlo, mas devem ser entendidos dentro do seguinte quadro: pertencerem à língua portuguesa do Brasil e à música de câmara brasileira – tendo sido esta escolhida uma vez que sua tradição é bastante expressiva comparando-se  à ópera brasileira.
As outras vogais do PB serão estudadas ao longo do projeto de pesquisa em que se insere o presente estudo.
Por ora, interessa-nos comparar estas vogais faladas às suas cantadas, focando a questão da inteligibilidade destas últimas.

UMA COMPARAÇÃO ENTRE A ESTILÍSTICA FÔNICA DE CECÍLIA MEIRELES E VINÍCIUS DE MORAES
Alessandra Almeida da Rocha (UERJ)

A estilística fônica nos ajuda a reconhecer o caminho escolhido pelo autor, não só através de palavras, mas no interior das mesmas, ou seja, em sua fonética, para expressar nos mínimos detalhes o que sentimos em sua alma.
Nesta comunicação, compararemos a estilística fônica de Vinícius de Moraes, em seu poema “Poética”, com uma outra poetisa contemporânea dele, Cecília Meireles, em seu poema “Motivo”, um dos mais bonitos da autora, que mostra sua característica existencialista.  De certa forma, os poemas “Motivo” e “Poética” apresentam semelhanças temáticas.  Entretanto, observaremos as semelhanças e diferenças fonéticas de cada um.

UMA EXPERIÊNCIA COM LEITURA / PRODUÇÃO DE TEXTOS NO ENSINO DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS
Norimar Júdice (UFF)

Apresentação de proposta pedagógica para o ensino de Português para Estrangeiros, desenvolvida a partir de utilização de material didático que tem por base reproduções de obras de artistas plásticos brasileiros e estrangeiros configuradoras de imagens do Brasil.  Abordagem da leitura desses textos não-verbais – realizada pelos aprendizes paralelamente à produção de textos verbais com diferentes modos de organização – como procedimento dinamizador do processo de aquisição da língua e da cultura do Brasil.

UMA MUDANÇA FONOLÓGICA PODE SER GERADA PELA NORMA ESCRITA?
Antônio Martins de Araújo (UFRJ)

Após os primeiros gramáticos – Fernão de Oliveira (1536) e João de Barros (1540), fiéis à norma elocucional do idioma português dessa época, haverem já omitido em seus tratados ortográficos [-b-] e [-d-] em palavras como sustantivo, aggetivo e avverbio, por não se pronunciarem mais ali e então, em 1576, na mesma cidade-corte de Lisboa, o Licenciado Duarte Nunes do Lião [sic], em ? sua Orthographia da lingoa portuguesa, recuperou não só essas, como também outras consoantes em posição implosiva medial, tais como eram executadas há mais de quinze séculos em latim, disponibilizando-as assim para sua recirculação no uso oral.

UMA PROPOSTA PARA INTEGRAÇÃO INTERATIVA DA INTERNET EM CURSOS DE LEITURA  DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA
Lorena Ribeiro Fonseca (UFMG)

Como professora de Francês Língua Estrangeira (FLE), tive interesse em estudar o uso da Internet como um recurso em cursos de leitura em francês, depois da instalação do Laboratório de Auto-aprendizagem de Línguas através da Internet na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, no primeiro semestre de 1997.
Sem o poder de substituir a figura do professor e/ou educador, a Internet mostra-se uma ferramenta de valor inestimável para a pesquisa, aprendizagem e difusão de línguas modernas. Originalmente uma ferra-menta para comunicação internacional entre a elite acadêmica global, a Internet passou a servir a propósitos comerciais e culturais há cerca de apenas quatro anos. O seu sucesso foi meteórico, os números do seu crescimento impressionam.
Esta mídia, que ainda nos seus primórdios já se mostra tão atraente, conquistou professores e alunos de língua estrangeira da nossa faculdade, sobretudo aqueles de língua inglesa, que já fazem do laboratório de Internet uma extensão da sala de aula. O uso da Internet enriquece a aprendizagem de línguas estrangeiras através da leitura maximizando aquilo que já é feito através de textos impressos ao trazer uma variável nova: a interação com o texto.
A leitura tridimensional e multimídia viabilizada pelo recurso multimeios e hipertextual possibilita a interação com o texto que se vai construir segundo interesse do usuário cujas ações modificam o desenvolvimento do texto, da mesma forma que o desenvolvimento do texto influencia as ações sucessivas do leitor. Mas a Internet não garante por si só a interação uma vez que a dimensão interativa não se reduz ao simples manuseio da máquina.
Com.?141
USO VARIÁVEL DAS FORMAS NÓS E A GENTE
NA LINGUAGEM DE IDOSAS ANALFABETAS
Cristiane Fátima de Oliveira (UNIBAN)
Maria Célia P. Lima-Hernandes (UNIBAN)

Esta comunicação tem por objetivo dar notícias sobre a fase da pes-quisa em que nos dedicamos a examinar a faixa etária dos 69 aos 86 anos, a fim de observar se o comportamento desses falantes, quanto ao uso de nós e a gente, é similar aos de adultos profissionalmente ativos.  Para tanto, utili-zamos três entrevistas e correlacionamos os dados aos grupos de fatores: concordância verbal, função sintática, número de referência na cadeia dis-cursiva e referente.  O tratamento estatístico a que foram submetidos os da-dos é previsto no algoritmo laboviano.
Na linguagem dos idosos, o uso desses pronomes demonstra-se um caso prototípico de variação estável.  Dessa maneira, encontramos muitos exemplares de ambas as formas de referência à primeira pessoa do plural.

UTENSÍLIOS DE COZINHA: PORTUGAL DO SÉCULO XVI - BRASIL NO SÉCULO ATUAL
Celina Márcia de Souza Abbade (UFBA/UNEB)

Tentar-se-á fazer umas abordagem dos vocábulos que designam os utensílios de cozinha utilizados em Portugal no século XVI e, a partir daí, verificar-se-á a sobrevivência desses vocábulos na língua portuguesa do Brasil atual.
Serão utilizados como textos de base, os do Livro de Cozinha da Infanta D. Maria na edição crítica de Giacinto Manuppella, relativos ao século XVI e os do Livro de Cozinha de Pedro Archanjo com as Merendas de D. Flor de Paloma Amado, relativos ao século XX.
Escolheu-se esse tema com base nos estudos que já vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de se fazer o levantamento de três campos lexicais (utensílios, condimentos e pesos e medidas), para a conclusão do Mestrado em Lingüística Histórica na Universidade Federal da Bahia, sob a orientação da Professora Doutora Célia Marques Telles.

VOCABULÁRIO DA MISCELÂNEA DE GARCIA DE RESENDE
Ronaldo Menegaz (UFRJ)

O Vocabulário da Miscelânea de Garcia de Resende, publicado pela Biblioteca Nacional, em 1994, foi a última das obras elaboradas como partes iniciais do grande projeto que o Instituto Nacional do Livro desenvolveu durante os anos da década de 60, de preparar e editar um grande Dicionário Nacional da Língua Portuguesa.  De acordo com o plano apresentado pelo renomado lexicógrafo Antônio Geraldo da Cunha, o Dicionário deveria contemplar o léxico português em sua diacronia, a partir do século XVI.  Para tanto, foi inventariado o vocabulário de cerca de 150 obras quinhentistas portuguesas, tanto as literárias, quanto as que continham o registro das diferentes áreas do conhecimento, como: matemática, fabrico de naus, astronomia, marinharia, a crônica das navegações e descobrimentos.  Ao mesmo tempo que a equipe do dicionário ia desenvolvendo seu trabalho em busca do objetivo final, ia-se constituindo, como resultados parciais, a coleção “Textos e Vocabulários”, cujos títulos, hoje completamente esgotados, antecipavam o Dicionário Nacional da Língua Portuguesa, já prestando inestimáveis serviços aos estudos filológicos, lexicológicos e literários.  Haja vista ao Índice Analítico do Vocabulário de Os Lusíadas, as edições de autos de Antônio Ribeiro Chiado, do anônimo Auto de Vicente Anes Joeira, do Vocabulário da Carta de Pero Vaz de Caminha e outras mais.  Elaborado nesse tempo, somente em 1994 foi publicado o Vocabulário da Miscelânea de Garcia de Resende, já iniciando, na Biblioteca Nacional, uma outra coleção, denominada “Coleção Celso Cunha”, em homenagem ao saudoso mestre.

A OCULTAÇÃO NO DISCURSO
Maria Antônia da Costa Lobo

Na era da comunicação, os mais diversos tipos de discurso se apresentam.
Alguns deles com mensagens nas quais se detecta a presença constante do emprego de recursos lingüísticos interferentes no processo comunicativo, de forma obscura.
Pretende-se, assim, sublinhá-los e, conseqüentemente, analisá-los, pela aplicação de técnicas, com vistas à avaliação da intencionalidade neles contida.

A PALATALIZAÇÃO NA HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV/UERJ)

Na apresentação deste trabalho serão abordadas as palatais do latim e sua evolução para o português, bem como a origem das palatais românicas.  Será abordado, também, o comportamento das palatais na fala popular atual que chegam ao ieísmo.  Será apresentado o comportamento das palatais na fala rural como regressão, continuidade e progressão de palatais ocorridas no meio rural.  A pesquisa teve a abrangência de mais de 350 entrevistas, grafadas e gravadas em mais de 180 fitas K&, realizadas em propriedades rurais de 33 municípios das microrregiões de Viçosa (20) e Ubá (13 de 17).  Essa pesquisa abrangerá, ainda, as outras 5 microrregiões da Zona da Mata de Minas Gerais, como Ponte Nova, Manhuaçu, Muriaé, Juiz de Fora e Ca-taguazes, totalizando cerca de 1.523 propriedades dos 126 municípios.

ALGUMAS DIFICULDADES NA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA ROMÂNICA
Bruno Fregni Bassetto (USP)

O Infocapes, vol. 5, nº 4, pág. 43, diz que são poucos os pesquisadores na área de Filologia Românica.  Realmente, um levantamento da situação da área nas universidades brasileiras revela um certo declínio.  As causas lançam suas raízes nas condições gerais deficitárias do ensino em nosso país.  O abandono do estudo do latim tirou a base sobre a qual se fundamentam os estudos românicos, já que se eliminou o conhecimento do terminus a quo.  Na Universidade de São Paulo, um domínio razoável do latim é condição sine qua non par o ingresso na pós-graduação em Filologia Românica.  Por outro lado, parece-me absolutamente indispensável redefinir o que se deve entender por Filologia, dada a grande diversidade de conceitos.  Urge ainda fazer com que a Filologia seja considerada um campo específico de conhecimento, já que dispõe de objeto próprio, metodologia adequada e uma tradição muito rica em estudos, pesquisas e resultados, fato que não é reconhecido nos elencos da CAPES, da FAPESP e de tantas outras instituições de fomento e de apoio.  Em conseqüência, não se sabe com clareza onde encaixar nossa disciplina.

CRÍTICA GENÉTICA OS BASTIDORES DE UMA OBRA LITERÁRIA
Maria Antônia da Costa Lobo

Modelar uma obra exige, acima de tudo, esboço, quer relativamente à trama, quer referentemente aos participantes dessa trama.
Alguns escritores permitem, através das pegadas por eles deixadas, que se possa perceber o trabalho de um inconsciente verdadeiramente maniesto
E o estudo científico da multiplicidade de processos de escritura é uma forma de contribuição para o entendimento do produto resultante que é uma obra literária.

DESENVOLVIMENTO DE UMA PESQUISA DIALECTOLÓGICA RURAL NA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV/UERJ)

Em 1990, iniciou-se, no DLA da UFV, pesquisa Dialetológica Rural buscando os nomes populares de doenças de criações e culturas agrícolas com o objetivo de elaborar um Glossário Popular-Técnico e Técnico-Popular da Microrregião de Viçosa (MG).  Foram levantados os nomes das doenças e respectivas descrições feitas pelos informantes a fim de compatibilizar as duas linguagens: a do campo e a do técnico de ciências agrárias visto que um não entende a do outro.  Elaborada a tese de doutorado, a pesquisa estendeu-se às outras 6 microrregiões da Zona da Mata.  Em 1994, por nossa conta e com três alunos de Iniciação Científica do CNPq, iniciou-se a pesquisa nos municípios de Astolfo Dutra, Rodeiro, São Geral, Tocantins da microrregião de Ubá.  Coma experiência adquirida e com a pesquisa nesses municípios,  a equipe procurou elaborar os Atlas Lingüísticos Municipais Rurais dos municípios Rurais dos municípios citados.  Nesta mesa redonda, será apresentado o que foi e tem sido feito na busca de sugestões dos participantes para melhoria dos trabalhos.  Será exposto o que se faz e o que se pode fazer neste tipo de pesquisa que foge, no dizer de Sílvio Elia, dos parâmetros clássicos de pesquisa Dialetológica e Geolingüística.

ENFRAQUECIMENTO DAS CONSOANTES NO PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA ANÁLISE EM FONÉTICA EXPERIMENTAL
Denise Schetino Bastos Certo (UFF)

O presente trabalho reúne dados e resultados de uma pesquisa em fonética experimental que consiste em uma análise acústico-articulatória de fonemas consonantais do português do Brasil.  Foram escolhidos quatro informantes do sexo masculino, na faixa etária compreendida entre 30 e 40, originários de Volta Redonda (RJ).  o corpus foi elaborado antecipadamente e se constitui de 200 frases, em que as consoantes estudadas ocorrem sob a influência do mesmo acento da palavra e da frase.  O material sonoro é resultado de uma leitura realizada pelos informantes, registrado em estúdio de gravação em fita e analisado através de um programa de computador.  O resultado demonstra que as consoantes oclusivas sonoras e a vibrante múltipla do português estão sofrendo cada vez mais alterações em suas realizações, conseqüência da atuação do fenômeno fonético do enfraquecimento articulatório ou lenização.  Quanto à sonoridade, por exemplo, observamos um re-forço na articulação, pois a consoante realizou-se predominantemente como som ensurdecido.  À semelhança das vibrantes, há coincidência dos processos de enfraquecimento, quanto ao modo de articulação, e o reforço articulatório na passagem sonora ? surda, quanto à vibração das cordas vocais.  Supomos que esteja ocorrendo um processo de compensação articulatório.
Nossos resultados não conseguiram opor os falantes de nível culto e de nível popular quanto ao enfraquecimento das consoantes oclusivas e vibrantes.  Isto significa que este fenômeno se deu de modo bem marcado num e noutro falar.
 
ENSINO DE LINGÜÍSTICA NAS ÁREAS DE LETRAS, EDUCAÇÃO E SAÚDE
Maria Cecília Magalhães Mollica (UFRJ)

      Com base em Mollica (1998), teço considerações sobre a forma como o ensino de Lingüística deve adequar-se às necessidades da formação dos profissionais de Letras, de Educação e de  Saúde. Dou ênfase na importância de se incorporar o conhecimento que já temos na Ciência da Linguagem sobre a língua falada, sobre os mecanismos discursivos e sobre os princípios basilares de estruturação textual. Ao considerar o arsenal de pesquisa de que se dispõe e a relação entre fala e escrita, indico em que perspectivas o professor de Lingüística deve trabalhar, ministrando cursos nas três áreas mencionadas, de modo a assegurar um perfil compatível ao que cada aluno terá que atingir efetivamente em suas práticas profissionais.

METAPHOR: A POWER IN YOUR HANDS
Regina de Souza Ferreira Lima da Silva

Cada autor tem uma forma característica de manifestar seu pensa-mento e sua sensibilidade.  A expressão da linguagem constitui o objeto próprio da Estilística.  Quem fala ou escreve lança mão de processos de manipulação da linguagem para exteriorizar conteúdos emotivos e intuitivos por meio das palavras e de sua organização.
Recursos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos são explorados no esforço de sedução do ouvinte ou leitor.
A metáfora é uma das principais figuras no estudo dos significados.  Veremos, pois, o que é metáfora, como ela se apresenta e como exerce seu poder persuasivo.  Sua presença será ilustrada com exemplos em inglês em passagens de obras de Mawell, Shakespeare, Marlowe e outros.

OS TUPINISMOS COMO FORMA DE SÁTIRA EM GREGÓRIO DE MATTOS E GUERRA
Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)

A veia satírica de Gregório de Mattos e Guerra não se fez pulsar apenas através da linguagem peculiar ao barroco literário. Também se fez notar pelo emprego de palavras originárias do tupi, com as quais o bardo baiano assacou ataques e críticas mordazes aos reinóis,  ao clero pecador, à falsa nobreza, à burguesia pretensiosa, aos militares violentos, aos comerciantes desonestos, aos exploradores do povo, aos escravizadores dos indefesos, enfim, a todo um sistema social viciado, corrupto, que infestava o Brasil do século XVII.
Nessas vergastadas de poesia maldizente, encontramos, para exemplificar, alguns termos como: quantimondé, tatus, teiús, surucucus, preá, tapiti, gebiracas, puçás, murici, inhapupê, cumari, miraró, massapê, paiaiá, titara etc., os quais serviram de fonte para que Antônio de Morais Silva fos-se abeberar-se quando escreveu a sua memorável obra lexicográfica: Dicionário da Língua Portuguesa.