Resumos do III CNLF

4000 ANOS DE IDIOMA SE ENCONTRANDO: SINCRONIA E DIACRONIA NA POESIA DE RACHEL

Jane Bichmacher de Glasman (UERJ)

A língua hebraica tem uma evolução histórica sui generis em virtude de fatores peculiares da sociedade a que tem servido de veículo de comunicação. Falada pelo povo judeu desde 1200a.C. até aproximadamente 200 d.C., teve seu uso corrente interrompido pela dispersão do povo, que passou a viver em diferentes países e a falar várias línguas, inclusive criando idiomas judaicos, como o ídishe e o ladino. Entretanto, o hebraico foi sempre conservado nas práticas religiosas e continuou sendo cultivado como língua escrita, com vasta produção literária.

O hebraico contemporâneo é o exemplo mais extraordinário da ressurreição de uma língua. Ele não é o resultado de uma natural evolução orgânica e sim um sistema sincrônico, onde coexistem elementos lingüísticos de todas as fases anteriores. Um dicionário do hebraico contemporâneo contém material formado de várias camadas lingüísticas superpostas. Não é possível reconhecer pela aparência externa se a palavra é antiga ou recente. Somente o estudo de livros escritos em diferentes períodos pode revelar quando determinado vocábulo começou a ter curso na língua.

O renascimento do hebraico originou-se do movimento iluminista judaico que iniciou a pesquisa no sentido de um aproveitamento vocabular de todas as épocas e a adaptação de formas arcaicas às novas necessidades.

Uma característica essencial desse renascimento foi a restauração da fala. Lançadas as bases do renascimento do hebraico deu-se início a um trabalho disciplinado de criação de novos vocábulos, realizado pelo Comitê (mais tarde Academia) da Língua Hebraica. Em fins do século passado, com o início da colonização de Israel, a tarefa de renovação do idioma teve maior incremento. Entre os pioneiros, vieram vários escritores destacados da época e outros, cuja estréia se deu na então Palestina. A obra literária desta geração se caracteriza pelo uso da língua clássica revivida e renovada. Rachel é uma poeta deste período, que vai em sua obra, tanto utilizar o hebraico bíblico, mantendo seu sentido original, como renovações e inovações semânticas, sendo objetivo desde trabalho descrever os processos citados, exemplificando-os com o universo vocabular da poesia de Rachel.

 

A AMBIGÜIDADE DOS POSSESSIVOS NAS TRADUÇÕES DOS EVANGELHOS QUE SE UTILIZAM DA SEGUNDA PESSOA INDIRETA COMO FORMA PREFERENCIAL DE TRATAMENTO

Francisco Carlos Rabelo de Luna (UECE)

As formas mórficas dos possessivos da 2ª pessoa indireta são similares às da 3ª. Um texto com tratamento em 2ª pessoa indireta pode ter dois problemas: a) ambigüidade sintático-semântica dos possessivos de 3ª pessoa e de 2ª indireta; b) ambigüidade de referenciação anafórico-catafórica não resolvida pelo princípio de cooperação. Algumas traduções da Bíblia escolheram esse tipo de tratamento. Nestas estas ocorrem? Se ocorrem, como ocorrem, por que ocorrem e como poderiam ser evitadas? 1. Arrolagem dos possessivos de 2ª e 3ª pessoa nos textos-críticos-fontes; 2. Arrolagem dos possessivos de 2ª e 3ª pessoa em oito traduções que usam a 2ª pessoa indireta como tratamento; 3. Análise da inserção sintático-semântica dos possessivos de 2ª e 3ª pessoas no textos-críticos-fontes e nas oito traduções; 4. Testes de leitura para medir a resolução, por alunos de ensino médio, das ambigüidades nas traduções; 5. Análise dos processos cognitivos na resolução das ambigüidades; 6. Contraste das opções tradutórias, averiguando suas adequabilidades. A) Ausência quase total dos possessivos de 2ª pessoa plural; B) Alternância entre os possessivos de 2ª pessoa singular e os de 2ª pessoa singular indireta; C) Presença de trechos que apresentam ambigüidades não resolvidas pelo princípio de cooperação; D) Correspondência flexível entre o texto crítico e a tradução no que se refere aos possessivos, com omissões, intromissões e adaptações. A cooperação nem sempre é suficiente para resolver uma informação lingüística inadequada, faltando ao leitor mais subsídios. Algumas vezes os critérios usados foram inadequados, dificultando ou impedindo a correta correlação dos elementos do texto.

 

A APRESENTAÇÃO DE DOIS VERBETES BILÍNGÜES VALENCIAIS PARA O VERBO FALAR:PORTUGUÊS-ITALIANO E PORTUGUÊS-FRANCÊS

Adriana Zavaglia (UNESP)
Claudia Zavaglia
(UNESP

A teoria valencial (Tesnière, 1965; Borba; 1996), no que diz respeito ao verbo, incide sobre a classificação do sujeito (animado ou não animado, por exemplo) e sobre o número de argumentos do verbo e sua natureza sintático-semântica.

Percorrendo dicionários e gramáticas do português do Brasil, do italiano e do francês, procuramos verificar o comportamento valencial do verbo "falar" nessas diferentes línguas. Realizamos também uma descrição dos verbetes "falar", "parlare" e "parler" em: Dicionário de Usos do Português Contemporâneo do Brasil (DUP), Zingarelli e Le Nouveau Petit Robert, respectivamente, com o intuito de apreender a teoria implícita, ou explícita, presente em sua elaboração, se normativa ou valencial. Em seguida, construímos dois verbetes bilíngües valenciais, com base no DUP, do português para as duas outras línguas.

Trazendo informação a propósito da correspondência da valência verbal de uma língua para outra, os verbetes elaborados apresentam traduções das diversas valências em contexto, com definições em português e na língua estrangeira, traduções dos tipos de argumentos que podem acompanhar o verbo, das preposições possíveis, dos exemplos ou citações, e indicações a respeito da existência ou não de correspondência entre as línguas de determinada valência verbal. Desse modo, abandonando-se a visão tradicional dos dicionários bilíngües referente ao tratamento verbal, dá-se lugar a um novo tipo de análise, em que o verbete, elaborado a partir de uma teoria valencial, fornece uma visualização imediata de seu valor semântico bem como do tipo de complemento e de preposição que requer o verbo com determinado significado em contextos específicos.

A ARGUMENTAÇÃO NO TEXTO ESCOLAR

Marísia Teixeira Carneiro (UERJ)

O objetivo deste trabalho é apresentar algumas análises de redações escolares em que os aprendizes exercitam a produção do texto argumentativo. Estamos analisando textos produzidos por alunos da 6ª (textos narrativos) e da 8ª série (textos argumentativos) do Colégio Pedro II - Unidade Engenho Novo. Nosso corpus é constituindo de cerca de 350 redações, escritas em duas situações distintas: a primeira sem a variável filme publicitário, a segunda com essa variável. Pretendemos, dessa maneira, verificar os efeitos da propaganda nos textos desses alunos, quanto ao aspecto ideológico e formal. Sabemos que os filmes publicitários são persuasivos na medida em que são produzidos para mudar o comportamento do consumidor e persuadi-lo a comprar determinados produtos de que ele, muitas vezes, sequer necessita. A propaganda busca anular as diferenças, universalizando as preferências e o comportamento de modo geral, sobretudo dos jovens. Adotamos o referencial teórico da semiolingüística de Patrick Charaudeau (1992). Em nossa apresentação vamos ilustrar como os alunos compõem seus textos, tendo em vista um modelo de estrutura em que ele deve partir de uma asserção de partida e fechar o texto com uma asserção de chegada, apresentando entre ambas a asserção de passagem.

A ATUAL SITUAÇÃO DOS ESTUDOS DAS LÍNGUAS INDÍGENAS BRASILEIRAS

Jociney Rodrigues dos Santos (UFRJ)

Nesta comunicação, pretendemos apresentar um panorama geral da atual situação dos estudos das Línguas Indígenas Brasileiras, mostrando não só os problemas que esta área atravessa (numero limitado de pesquisadores, falta de verbas para a realização de pesquisas de campo, etc.), mas também, o desenvolvimento das pesquisas destas línguas, a luz de teorias lingüísticas recentes.

Esperamos, com isso, poder relatar a realidade deste campo de estudos aqueles que não atuam nesta área.

A AUTORIA DAS POESIAS ATRIBUÍDAS A GREGÓRIO DE MATTOS E GUERRA

Sylvia Costa Barbosa (UERJ)

Ao trabalhar com o projeto "Edição Crítica dos Apógrafos de Poesias Atribuídas a Gregório de Mattos e Guerra", elaborado pelo Prof. Dr. Ruy Magalhães de Araujo, que tem como finalidade um exame crítico desses apógrafos, com a intenção de dar ao público uma visão mais científica sobre o assunto com relação ao ,problema de autoria, foi possível perceber que nem todas as poesias atribuídas a Gregório de Mattos e Guerra são, de fato, de sua autoria.

Seguindo os postulados da Crítica Textual, estabelecidos por Karl Lachman, este projeto está sendo desenvolvido em sua primeira etapa, isto é, a "recensio", ou recolha do material manuscrito e impresso sendo encontrado em bibliotecas e acervos públicos e particulares, em consonância com o projeto elaborado pelo Prof. Dr. José Pereira da Silva, "Edição Diplomática dos códices atribuídos a Gregório de Mattos e Guerra", realizando-se uma rigorosa revisão nos códices encontrados, de forma a obter-se uma equivalência entre o material impresso e os manuscritos originais, conservando-se as características dos originais registradas pelos copistas.

Desta forma, este trabalho, A autoria das Poesias Atribuídas a Gregório de Mattos e Guerra, tem como objetivo apresentar alguns textos que estão incluídos na obra do grande escritor baiano, mas que na verdade, por indicação dos copistas, pertencem a outros autores. Algumas poesias foram escritas por outras pessoas de conhecimento do autor; outras foram apenas completadas por ele.

 

A BIBLIOTECA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS E A PESQUISA NAS ÁREAS DE LINGÜÍSTICA E LETRAS

Luiz Antônio de Souza (UERJ/ABL)

Breve relato da sua história, constituição e organização da Academia Brasileira de Letras. A história, as características, a composição do acervo e os usuários reais e potenciais da Biblioteca da Academia Brasileira de Letras.

O uso do acervo como garantia da preservação documentação para nós e para as futuras gerações.

 

A CATEGORIA DE ASPECTO NA CONJUGAÇÃO DO VERBO LATINO

Syllas Mendes David (UFF)

Possibilidades aspectuais na conjugação do verbo latino, sem oposição grega entre aoristo e perfeito e sua atualização no português e outras línguas românicas, sem a oposição explícita entre infectum e perfectum.

 

A CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE NAS CANTIGAS DE SANTA MARIA

Vanda de Oliveira Bittencourt (PUC-Minas)

Monumento documental do medievo ibérico, as Cantigas de Santa Maria, compostas por D. Afonso X, o Sábio, e seus colaboradores, e datadas do século XIII, se ressentem da merecida divulgação entre os estudiosos interessados em desvendar aspectos sociais, culturais, artísticos, literários e lingüísticos desse instigante (e nem sempre justiçado) período da nossa história. Voltando-me para esse último, busco, neste trabalho, focalizar o jogo dialógico empreendido virtualmente pelo rei-autor e a Virgem Maria (alvo de sua homenagem), a sua interação à distância com o ouvinte/leitor e a sua relação com o objeto de dizer, no intuito de apontar e analisar a indiciação da subjetividade, materializada, na superfície verbal de alguns exemplares de cantigas de louvor e de milagres, por meio de estratégias de cunho discursivo e gramatical.

A CONSTRUÇÃO DE INSTÂNCIAS ENUNCIATIVAS EM TEXTOS ESCRITOS DO PORTUGUÊS CULTO DO BRASIL

Edna Maria Santana Magalhães (UFMG)

Esse estudo sobre as marcas lingüísticas utilizadas na construção de instâncias de enunciação (CIE) de um texto escrito nasceu da observação de textos produzidos por alunos do IV Ciclo do Ensino Fundamental de uma escola pública de Belo Horizonte. Constatamos que esses textos (assim como todo texto escrito) possuem, em seu corpo, um conjunto de pistas que consideramos como índices de estratégias discursivas reveladoras do trabalho do seu autor com e na linguagem. Postulamos que tais pistas remetem a estratégias discursivas adotadas pelo próprio autor, ao instituir-se como enunciador e/ou ao agenciar outros enunciadores a quem dá voz, na construção de seu texto. Em vista disso, partimos das premissas: (a) um texto evidencia, em sua materialidade, as marcas lingüísticas de estratégias discursivas adotadas pelo seu autor na CIE; (b) tais estratégias envolvem mecanismos e/ou princípios de construção de textos; (c) essas estratégias revelam as pistas do processamento discursivo de um texto. Pretendemos, dentre outros objetivos, contribuir para que se focalizem, no ensino/aprendizagem da língua materna, as referidas estratégias discursivas e evidenciar a importância de uma mudança do que, hoje, se considera relevante no contexto escolar e nas pesquisas lingüísticas: o deslocamento do foco no enunciado para enfatizar a enunciação.

 

A CRIAÇÃO MUSICAL DE GILBERTO MENDES. UM ESTUDO EM CRÍTICA GENÉTICA

Rosemara Staub de Barros Zago (PUCSP/FUA)

A partir da teoria "Gesto do Inacabado" desenvolvida pela Profa. Dra. Cecília Almeida Salles ( COS/PUCSP), esta pesquisa visa, através da análise dos documentos de processo do compositor Gilberto Mendes, percorrer parte da trajetória da criação musical do compositor. É possível conhecer e analisar seus procedimentos de "armazenamento e experimentação", de "movimento tradutório", bem como, demonstrar a "ação transformadora" que os elementos extra musicais e também os elementos especificamente musicais são trabalhados pelo compositor.

As experimentações e armazenamento de idéias musicais estão presentes em um caderno pentagramado cujas experimentações são de um percurso que vão desde as polifonias bachianas até estudos de música serial e aleatórias.

Nos projetos musicais das composições: "Santos Football Music" (1969), "Partitura para um quadro de Gastão Frazão"(1985), "Ulisses em Copacabana surfing with James Joyce"( 1988), "O Pente de Istambul" (1990), dentre outras, podemos analisar como movimento tradutório, os registros realizados na narrativa verbal; diagramas de notas musicais; desenhos gráficos; operações lógicas, bem como, poemas, telas de artistas plásticos e canções do cinema americano da década de 30 a 50 que serviram como traduções intersemióticas para muitas de suas composições. É interessante observar a ação transformadora destes elementos aqui apontados, bem como o efeito destes elementos, é detonada para os projetos musicais. Trata-se de um processo híbrido de criação, tendo em vista, que as composições contemporâneas atualmente, não são escritas em um único código. As tendências de escrituras musicais pós guerra, são de natureza híbrida, tal como suas obras.

A EXPRESSÃO DA CONTRARIEDADE NAS RELAÇÕES SINTÁTICO-SEMÂNTICAS

Rosane Santos Mauro Monnerat (UFF)

Este trabalho apresenta uma análise de alguns meios de expressão da contrariedade, num corpus constituído de cartas de leitores opinativas ou de reclamações, segundo um enfoque semiolingüístico, o que significa a preocupação simultânea com o discurso e com o sistema lingüístico. Considerando a área semântica da oposição lato sensu, pretende estudar o mecanismo da contrajunção - encadeadores do discurso - (Ducrot), através da apresentação das estratégias de relação - suspense e antecipação - estabelecendo comparação com o enfoque da Gramática Tradicional - coordenação adversativa e subordinação concessiva. Analisa paralelamente as relações lógicas (Charaudeau), estabelecendo a diferença entre os mecanismos de restrição e oposição stricto sensu, para assinalar a diversidade de marcas lingüísticas que se colocam a serviço da expressão dessa relação sintático-semântica.

 

A GÊNESE DA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA DE ROTA 66 DE CACO BARCELLOS

Sandra Regina Moura (PUCSP/UFPB)

O objetivo deste trabalho é compreender a produção jornalística de Rota 66, de autoria de Caco Barcellos, a partir dos documentos de processo, expressão empregada pela pesquisadora Profa. Dra. Cecília de Almeida Salles (PUCSP), para designar todo e qualquer registro do ato criador. Dos suportes materiais identificados estão pautas, fichas, anotações, laudos de exames de cadáveres, rascunhos e fotografias. Com base nesses documentos, apontaremos a construção de Rota 66 como ato comunicativo, em que o jornalista dialoga com ele mesmo e com os pesquisadores envolvidos com o trabalho.

 

A HIPÓTESE DA PERFORMATIVIDADE NA LINGUAGEM POLÊMICA E REPERCUSSÕES NA LINGÜÍSTICA PRAGMÁTICA

Mariluci Novaes (UFF)

A performatividade, enquanto propriedade da linguagem nos atos de fala, é uma forma de comunicação que ultrapassa a transmissão de um conteúdo semântico já autenticado como verdade por outros enunciados. Nesse sentido, ao não exigir a referência fora de si como condição de produção, coloca na intenção do sujeito falante a determinação da operação total de circunscrição dos efeitos de significação produzidos na comunicação. Assim, a comunicação não seria de significados mas de intenções de causar efeitos de significação sobre o interlocutor. Dessa formulação, três pontos surgem como polêmicos ao entrarem em conflito com algumas conceituações aceitas tradicionalmente na Lingüística Pragmática: (1) o princípio de cooperação é subvertido ao ficar na dependência da fonte de enunciação a escolha das intenções que será determinante dos efeitos de significação responsáveis pela comunicação; (2) o conceito de contexto, como significativo no sucesso da comunicação, envolve um conhecimento compartilhado pelos dois participantes, portanto, com referências fora do ato em si e das intenções conscientes do enunciador, preexistentes ao ato de enunciação; e (3) os efeitos de significação sobre o interlocutor não sendo previsíveis podem ultrapassar as intenções conscientes do enunciador. Que repercussões tais conflitos teóricos trazem para uma noção de sujeito necessária para se determinar o seu lugar como fonte de enunciação na comunicação? Traria a performatividade impasses teóricos para as noções de cooperação e de contexto como princípios básicos da Lingüística pragmática?

 A IMPORTÂNCIA DO ASPECTO VERBAL NO GREGO

Sílvia Costa Damasceno (UFF)

O aspecto verbal em grego é de suma importância para a compreensão de aspectos essenciais do texto.

 A INVENÇÃO ÓRFICA DE COCTEAU

Carlinda Fragale Pate Nuñez (UERJ)

O mito de Orfeu e Eurídice contém, entre outros elementos, motivos através dos quais se pode ler privilegiadamente o imaginário antropológico do poeta / artista, seja na Grécia antiga, seja nas épocas pós-clássicas. Destacamos deste conjunto: a complementaridade dos amantes, a catábase do herói, o tabu das direções e o ritual do estraçalhamento. A reatualização desses elementos se deixa ilustrar, no filme Orphée (1950), de Jean Cocteau.

 A LIRA E OS INFERNOS DA EXCLUSÃO

Victor Hugo Adler Pereira (UERJ)

As reatualizações cinematográficas do mito de Orfeu, através da peça de Vinícius de Moraes, acentuam ou desenvolvem potencialidades significativas da narrativa original que evidenciam circunstâncias inerentes ao espaço cultural em que se enraízam. A análise do tratamento concedido pelo cinema francês e brasileiro, em dois momentos diferentes de sua história, à temática do Carnaval e às suas relações com um conjunto de representações sobre a cultura brasileira levar-nos-á à discussão sobre as implicações dessas recentes atualizações do mito no contexto da indústria cultural. Será colocada em questão, dentro desse âmbito de discussão, a construção de modelos e estereótipos quanto ao amor nessas versões derivadas do mito, assim como o papel que nelas desempenha a problemática da identidade social e cultural / nacional.

 A MARCAÇÃO LINGÜÍSTICA DO JOGO TEMPORAL NA ESTRUTURAÇÃO DE DISCURSO-TESTEMUNHO DA HISTÓRIA ORAL DE BELO HORIZONTE

Lilian Aparecida Arão (UFMG)

À luz de uma concepção de linguagem como atividade que se faz no ato da enunciação, este trabalho propõe um estudo sobre a categoria de tempo, buscando determinar o modo como o narrador de história pessoal de vida concebe e expressa fatos e eventos concernentes à história de Belo Horizonte. Esse cunho pessoal obviamente confere ao texto-produto um caráter mais subjetivo do que o que se observa no registro escrito, uma vez que decorre de uma situação interativa mais espontânea e realizada face a face.

Tomando como corpus de análise, um dos inquéritos que integra o Projeto "Anônimos Notáveis" do CRAV (Centro de Referência Audio-Visual), pretende-se, aqui, detectar e examinar recursos lingüísticos- discursivos e gramaticais- utilizados na expressão do jogo temporal engendrado nas instâncias enunciativas e enunciva.

Com isso, espera-se mostrar como se constrói lingüisticamente a memória de fatos e eventos contados por um sujeito que os experienciou em sua própria vida.

 

A MEMÓRIA BROMATOLÓGICA DE PEDRO NAVA ENSAIO CRÍTICO-GENÉTICO NO ROMANCE MEMORIALISTA BAÚ DE OSSOS

Antônio Hauila (UFRJ)

Em Baú de Ossos, seu pioneiro texto memorialístico, Pedro Nava, a exemplo de Proust e sua tante Léonie, foge sinestesicamente para a longínqua e pranteada infância através da memória bromatológica, geratriz instigadora da criação de inúmeras e belas passagens, todas elas plenas de cores, aromas e sabores.

 A MÚSICA CONTEMPORÂNEA E A CRÍTICA GENÉTICA.

Nélio Tânios Porto (PUCSP)

A música contemporânea como processo permanente de experimentação, seus novos recursos criativos e os caminhos que o artista percorre como processo de conhecimento da criação musical. A Crítica Genética, estudo do processo criativo artístico através dos manuscritos e os caminhos seguidos pelo artista, um processo de contínua metamorfose. A estética do movimento criador e suas novas abordagens atualizam novos campos de estudos interdisciplinares. O estudo e análise da música atual sob o ponto de vista da Crítica Genética oferece uma nova visão da criação musical. Este é o tema de minha comunicação.

 

A RELATIVIZAÇÃO DA SIGNIFICAÇÃO DE "VERDADE" E "MENTIRA" NO PICAPAU AMARELO, DE MONTEIRO LOBATO

Ana Crélia Penha Dias dos Santos (UERJ/UFRJ)

É Monteiro Lobato o consolidador da Literatura Infantil Brasileira. Afinal, criou não só histórias e personagens, mas um universo onde a realidade e fantasia dialogam em função de um único objetivo: o prazer de mergulhar no imaginário.

O presente trabalho pretende galgar os campos semânticos dos vocábulos "verdade" e "mentira" a partir do livro O Picapau Amarelo, obra lobatiana que tem como subtítulo O Sítio de Dona Benta, um mundo de verdade e de mentira. Esses vocábulos assumem aqui significados diferentes: o impossível torna-se possível e as "verdades" são, em muitas situações, seriamente questionadas. Nesta obra, desfilam personagens das mais diferentes tradições e mitologias: os clássicos infantis, os a mitologia grega, alem do célebre herói Dom Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança. O Sítio é, assim, o espaço da permissão do prazer, onde sonhos concretizam-se a partir do desejo, e "verdade" e "mentira" são relativizadas.

 

A TRADUÇÃO X A INTERPRETAÇÃO

Leda Papaleo Ruffo (UFRJ)

Tradução é tema provocador para vários pesquisadores, principalmente os da área de Letras.

O estudo da metodologia para uma tradução bem próxima, tanto para a língua de partida quanto para a língua de chegada vem sendo perseguido por vários estudiosos.

A fim de exemplificar o cuidado que devemos ter para um belo trabalho de tradução, apresento parte de tradução de um conto de Leonardo Sciascia, onde a ironia sciasciana alimenta no leitor a empatia com o criminoso Giufà.

 

A VOZ PASSIVA NAS TRADUÇÕES DOS EVANGELHOS: RECONSTRUÇÃO OU DESTRUIÇÃO? A TENSÃO ENTRE A EQUIVALÊNCIA FORMAL E A DINÂMICA

Francisco Carlos Rabelo de Luna (UECE)

O tradutor é ao mesmo tempo um leitor do texto-de-partida e um co-autor no texto-de-chegada. Durante a reescritura do texto-fonte, tenta ele obter, na língua-cultura-de-chegada, uma satisfatória transposição intersemiótica de significantes que proporcione tanto um sentido quanto uma significância semelháveis ao original. Não à toa, portanto, a equivalência dinâmica deve predominar sobre a formal. Nida (1974) chegou a dizer que "a forma era oposta ao sentido e destituída deste". Ora, na realidade o texto não é dúplice, mas múltiplo. Não há duas coisas dissociadas, heterogêneas. Não há só a forma, nem só o sentido num texto, mais um todo que possui ambos, que não se opõem, mas se complementam.

"As vozes verbais mostram a ação em seu aspecto dinâmico, ou como processo ou como resultado, e estabelecem relações entre os elementos da frase, que marcam a direção e o andamento do processo verbal, ou pondo em relevo quem prática a ação e/ou quem a recebe" Andrade & Medeiros (1997). Portanto, as vozes verbais não se distinguem apenas formalmente, mas também semanticamente, bem como se constituem como elementos discursivos que o autor se mune para concretizar as suas intencionalidades.

Analisando a discurso do texto-de-partida defendemos que a passiva, neste, funciona como um recurso argumentativo. Assim, sua correspondência no texto-de-chegada deve considerar a significância não apenas da passividade mas também da forma, sob pena de furtar do leitor um seu reconhecimento como estratégia discursiva, alterando-lhe o relevo, a direção semântica, a intenção argumentativa do autor/original, o aspecto dinâmico de resultado para processo. 

AINDA SOBRE GRAMÁTICA A CONCORDÂNCIA DO VERBO SER

José Sueli de Magalhães (UFU)

O objetivo deste trabalho é analisar a concordância do verbo ser, relacionando a forma complexa como os manuais de gramática e livros didáticos tratam esse assunto com o seu uso concreto na produção escrita de textos.

Para isso, averiguamos o uso de verbo ser em 44 redações produzidas por alunos da terceira série do ensino médio, a fim de realizar o confronto proposto com oito compêndios gramaticais amplamente utilizados nas aulas de Língua Portuguesa de diversas escolas do município de Uberlândia (MG). O trabalho foi desenvolvido respaldado, principalmente, pelos conceitos de gramática defendidos por CASTILHO (1988), FRANCHI (1991) e TRAVAGLIA (1996).

O ESTUDO ESTILÍSTICO DE O CORUJA DE ALUÍSIO AZEVEDO

Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

Apresentação dos adjetivos encomiásticos e pejorativos em "O Coruja" de Aluísio Azevedo, como parte da pesquisa sobre Relativismo Lingüístico: relações entre semântica, cultura e sociedade. A significação dos adjetivos encomiásticos e pejorativos na obra em questão. Suas relações paradigmáticas e sintagmáticas, a partir do método de comutação. Sua colocação (de acordo com Lyons) e sua contextualização. Conclusões.

 

AMPLIAÇÃO E GERAÇÃO DE IDÉIAS EM MÁRIO DE ANDRADE

Rosemary Affi Santos Costa (UFMT/PUCSP)

De um estudo de caso em Crítica Genética - ciência que percorre os meandros da criação de uma obra-de-arte - surgiu o recorte desta comunicação: duas possíveis descobertas, nos rastros de Mário de Andrade, no Processo de Criação de "Primeiro de Maio" e "O Poço", narrativas que compõem o livro Contos Novos.

Partindo de documentos de processo e seguindo trilhas que guardaram a gênese dessas escrituras, observaram-se vestígios que possibilitaram adentrar no universo literário, da linguagem mariodeandradiana, para compreender a tendência do caminho através da história do nascimento de uma arte.

Esses dois percursos chamam a atenção do pesquisador pelo fato de existirem embriões, que afloram dos manuscritos, desde o início do processo.

Intui-se que a construção dos personagens, nos dois contos, começa a partir de idéias embrionárias já que 35 e Joaquim Prestes, surgem descaracterizados.

À medida que se avança, na observação, percebe-se, como realce deste fazer criativo a constância das rasuras de adição e deslocamento que acrescentam detalhes aos personagens e a geração de idéias numa cadeia infinita.

Esse modo de ação do escritor é tão consistente que idéias embrionárias crescem em evolução contínua, desenvolvem-se em uma ação transformadora dos personagens que passa da generalidade para a singularidade pela ampliação e carregam o poder de "imagens fortes", como desencadeadoras de novas idéias, já que abrem as portas da possibilidade de geração contínua.

 

ANÁLISE ESTILÍSTICA DO POEMA CRIANÇA, DE CECÍLIA MEIRELES

Alessandra Almeida da Rocha (UERJ)

Dando continuidade ao estudo apresentado no Congresso anterior sobre a autora Cecília Meireles, no qual fizemos uma comparação entre ela e Vinícius de Moraes, retomamos à nossa grande estrela modernista, da fase espiritualista, considerada uma das maiores representantes desse grupo e a estudaremos neste III Congresso, isoladamente.

O poema escolhido foi Criança, no qual a autora descreve com genialidade os sentimentos e sofrimentos de uma criança, que ao final do poema notamos que ele é uma metáfora de sua infância.

Enfocaremos a Estilística para compreendermos como a poetisa "constrói" a criança em cada verso, em cada palavra, em cada rima e, principalmente, em cada recurso usado, inconscientemente, acreditamos, pela autora.

Ao final da comunicação, com certeza, nos apaixonaremos mais por esta grande escritora brasileira.

 

ANIMIZAÇÃO, PERSONIFICAÇÃO E ZOOMORFIZAÇÃO ESTUDO DO VOCABULÁRIO DE PESCADORES ARTESANAIS

Katia Carlos Alves (UFRJ)

Maria Emília Barcellos da Silva (UFRJ)

Vanessa Sant’Anna Tavares (UFRJ)

Esta pesquisa tem por objetivo fazer um levantamento e posterior análise da animização, da personificação e da zoomorfização no vocabulário dos pescadores do Norte-fluminense, cogitando do teor dos elementos a serem estudados.

Assim sendo, para a obtenção dos dados ora trabalhados, analisou-se o falar dos informantes insertos nas ambiências lacustre, marítima e fluvial.

Nesse sentido, trabalhou-se com o corpus do Projeto APERJ ¾ Atlas Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro, cujos informantes são pescadores artesanais que atuam naquela região do Estado, analfabetos ou semi-analfabetos, todos do sexo masculino em virtude da natureza da atividade.

 

AS DIFICULDADES E A IMPORTÂNCIA DE SE FAZER UMA EDIÇÃO CRÍTICA DA OBRA DE ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA

Flavia da Silva Pires (UERJ)

José Pereira da Silva (UERJ)

Luciana Ferreira (UERJ)

A principal finalidade deste trabalho consiste em mostrar as dificuldades e importância da edição crítica da obra de Alexandre Rodrigues Ferreira, resultante da viagem científica empreendida pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, de 1783 a 1792.

Na verdade esta edição crítica visa a publicação de um material segundo a última vontade do autor. Este é um dos problemas nessa edição, visto que, existem várias cópias, com versões diferentes de um mesmo documento, como é o caso da Notícia Histórica da Ilha de Joanes ou Marajó, onde encontramos cópias nos códices 21.1.1.32; 21.2.37; 21.2.2.16; 21.2.2.17 e outros

Queremos ainda explicitar a importância do estudo sobre este autor, em primeiro lugar, por ter sido o primeiro naturalista de todo Domínio Português, um cientista de fulcral importância para a História do Brasil; por ter explorado uma área pouco conhecida no Brasil, a Amazônia, descrevendo cientificamente: o reino animal, o reino vegetal e o mineral. Suas descrições, através de documentos manuscritos por ele e por seus auxiliares, desenhos feitos pelos desenhistas ou "riscadores" e pelo envio dos próprios objetos estudados para o antigo "Real Museu da História Natural de Lisboa", hoje "Museu da Ajuda" em Portugal. E em terceiro lugar, porque esses documentos são de um período em que não havia imprensa no Brasil, conservados principalmente na Biblioteca Nacional, no Instituto Histórico Geográfico Brasileiro.

Esses documentos contribuíram e contribuem para a elaboração de uma verdadeira História do Brasil. Alguns desses documentos, por serem muito antigos, já se perderam e outros estão sendo destruídos pelo tempo. Por isto, é necessário publicá-los para preservá-los, para que as gerações futuras possam também conhecer um pouco dessa obra e as maravilhas da nossa História.

Desde de o século XVIII se tem a intenção de publicar esta obra, todavia sem grandes sucessos. Hoje, nossa equipe está conseguindo realizar esse antigo sonho.

 

AS MARCAS DE ORALIDADE NA PRODUÇÃO ESCRITA DO ALUNO

Vânia Carmem Lima (UFU)

Neste trabalho de oralidade e escrita será apresentado e discutido o resultado de uma pesquisa em duas escolas públicas do estado de Goiás, de onde colheram-se produções escritas dos alunos para analisá-las. O foco de análise incidiu nas marcas da oralidade presentes nos textos dissertativos dos alunos.

A coleta de dados para a análise foi feita a partir de propostas de produção textual feitas por dois professores e as produções foram tomadas sem nenhuma seleção prévia para se ter a idéia de conjunto e não de determinados alunos em termos de domínio da língua escrita.

A reflexão feita procura mostrar que o contexto imediato da produção do aluno, bem como o conhecimento do professor sobre a língua oral e escrita, suas formas de uso e registro são fatores que contribuem para o domínio da modalidade escrita da língua.

A prática dos professores em relação ao ensino da língua escrita tem se mostrado ineficaz. Muitos professores não têm sabido conduzir o aluno na transposição do oral para o escrito, deixando de mostrar as propriedades de cada um.

Assim, o aluno acaba transferindo para a escrita aquilo que é próprio da fala.

Para a fundamentação teórica deste trabalho foram essenciais as obras de K. Pereira (1984), Luiz Percival (1997), Maurizio Gnerre (1994), Ingedore &Travaglia (1993), Ezequiel Theodoro (1995), que serviram como suporte para a análise dos dados.

Tomando os textos dos alunos em relação com as suas condições de produção, serão analisadas as marcas de oralidade na produção escrita do aluno, buscando entender as razões para tal ocorrência.

 

AULA DE LEITURA E MODELOS DECODIFICADOR, PSICOLINGÜÍSTICO E INTERATIVO

Sílvio Ribeiro da Silva (UFU)

Neste trabalho de lingüística aplicada ao ensino de língua materna será apresentado e discutido o resultado de uma pesquisa feita em uma escola pública do estado de Goiás. As aulas analisadas foram de leitura. O foco principal da pesquisa era a detecção do modelo de leitura (decodificador, psicolingüístico ou interativo) usado pelos professores.

A coleta dos dados para análise foi feita através da atividade etnográfica pela perspectiva que oferece de investigar questões de difícil abordagem através de pesquisas experimentais, principalmente aquelas relacionadas com o comportamento humano no contexto social.

A reflexão feita procura mostrar que as concepções de leitura apresentadas pelos professores pesquisados são ainda distantes daquelas que levam em consideração a atividade de leitura como sendo uma das propiciadoras de interação.

Os professores costumam considerar seus alunos leitores a partir do momento em que são capazes de decodificar o signo. Essa consideração ignora o fato de que existem grandes diferenças na qualidade daquilo que vem a ser uma decodificação e daquilo que vem a ser uma leitura com enfoque sócio-interacional.

Os fundamentos teóricos de Ângela Kleiman (1995, 1996), Sylvia Terzi (1997), Ezequiel Theodoro (1998) e Sílvia Brággio (1992) são os essenciais para a fundamentação teórica e funcionaram como suporte para a análise dos dados.

Com base na atividade que foi desenvolvida pelos professores pesquisados a partir do texto Uma Vela para Dario, de Dalton Trevisan, serão comentadas suas práticas e discutido o modelo de leitura adotado por cada um dos dois.

 

CAJUNS: AMERICANOS A CONTRAGOSTO

Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

Introdução à cultura cajun na América do Norte. História das colônias francesas nas 13 colônias e na Louisiana. Resquícios da civilização francesa nos Estados Unidos. Uma tradição cajun que se espalhou: o Mardi Gras. Remanescentes lingüísticos da cultura francófona. Conclusões.

 

CLÁUSULAS ADJETIVAS VINCULAÇÕES SEMÂNTICAS E SINTÁTICAS

Eduardo Kenedy Nunes Arêas (UFF)
Mariângela Rios de Oliveira (UFF)

Este trabalho, parte do projeto integrado Gramaticalização e integração no encaixamento de cláusulas, desenvolvido pelo Grupo de Estudos Discurso & Gramática, na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Federal do Rio de Janeiro, pretende analisar, sob influência teórica sobretudo do funcionalismo lingüístico norte-americano, as estruturas oracionais adjetivas do português. Para tanto, foi feita uma pesquisa histórica, abrangendo textos da fase arcaica de nossa língua (Vita Christi, primeira obra publicada em língua portuguesa, 1495, e Crónicas de Fernão Lopes, escritas durante a primeira metade do século XV) e textos da atual sincronia, coletados na língua falada e escrita de informantes de escolaridade universitária, das cidades de Niterói, Rio de Janeiro, Rio Grande e Juiz de Fora.

De acordo com a pesquisa, constata-se que as orações adjetivas mantêm um continuum de integração sintática e semântica com o termo a que se referem, estando num extremo desse continuum as orações adjetivas - INTEGRADAS, ou explicativas, e noutro, as orações adjetivas + INTEGRADAS, ou restritivas. Fatores discursivos e pragmáticos, menos regulares e menos previsíveis, tendem a influenciar a incidência, no discurso, das orações adjetivas explicativas, que são, por isso, de uso muito menos freqüente que a estrutura oracional gramaticalizada, as orações adjetivas restritivas. Como se trata de um continuum, as orações adjetivas apresentam diversos graus de integração com o seu termo referente, havendo, portanto, vários tipos de "orações restritivas" e "orações explicativas". O trabalho analisa também o paradigma dos pronomes relativos, sobretudo a tendência para uniformização no uso do que em qualquer função sintática e a tendência para o desaparecimento do cujo, devido, sobretudo, a fatores estruturais e cognitivos.

 

COMPETÊNCIA LINGÜÍSTICA E DICIONÁRIO UMA FELIZ PARCERIA

Marisa Magnus Smith (PUCRS)

Depois de Chomsky, particularmente, popularizou-se a expressão "competência", inicialmente relacionada ao gramatical, mais adiante desdobrada em textual, referencial, pragmática, comunicativa, discursiva. Talvez por pertencer ao domínio da semântica, o que estamos aqui chamando "competência lexical" parece não ter merecido o mesmo destaque, embora o componente lexical seja indispensável para uma comunicação verbal bem sucedida.

Nesse sentido, aprofundamos algumas reflexões sobre a competência lexical dos falantes, particularmente explorando sua interface com a competência gramatical, em termos de semelhanças e diferenças, bem como analisando a relação do usuário do idioma com seu repertório vocabular e com o universo presumível das lexias dessa língua e observando as forças centrífugas e centrípedas atuantes sobre as relações de significação que tecem e sustentam os enunciados.

Com base nesses princípios, exploramos, na seqüência, o dicionário como objeto textual-discursivo, questionando sua situação no nível da língua e no nível do discurso. Sustentamos que, como qualquer outro discurso, o dicionário resulta de uma "tomada de palavra", uma manifestação intencional de um poder social e historicamente instanciado, e sugerimos, a partir de exemplos, que a análise de dicionários de uma língua pode fornecer subsídios importantes sobre aspectos da ideologia dos falantes dessa dada língua.

 

CONHECIMENTO PRÉVIO E LEITURA DE TEXTOS SOBRE A AIDS

Luiz Prazeres (UFMG)

Este trabalho investiga o papel dos conhecimentos prévios na compreensão do texto e na construção do conhecimento integrado, tendo como referência a leitura produzida por sujeitos em fase de reescolarização. No experimento foram utilizadas duas versões do mesmo texto informativo sobre a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida): um, o Texto Original, caracterizado pela presença de vocábulos de natureza científica, distribuído pelo Ministério da Saúde; outro, o Texto Modificado, ao qual foram acrescentados sinônimos e paráfrases para as palavras ou frases de cunho científico ou de uso pouco comum. A pesquisa, realizada com dois grupos de leitores, baseou-se nas respostas dadas a um questionário sobre o assunto.

Os resultados evidenciam a importância dos conhecimentos prévios na leitura, na integração de conhecimentos e nas formas de reorganizações textuais, como operações cognitivas significativas no processo de compreensão textual.

 

CONTRIBUIÇÕES DOS MANUSCRITOS DO PROF. H.J. KOELLREUTTER AOS PROCESSOS EDUCATIVOS

Maria Amélia Trigüis (PUCSP)

O trabalho do Maestro H.J. Koellreutter é analisado nesta pesquisa, com o objetivo de apontar suas contribuições à área da Educação, uma vez que, atualmente, sua notável produção teórica encontra seu lugar antes na Música que na Educação em geral.

Considerando-se os processos educacionais em meio às constantes transformações da época atual, levando-se em conta as diversas realidades sócio-econômicas e culturais de um modo geral, e ainda, diante do desenvolvimento tecnológico, observa-se que os estudos do Prof. Koellreutter são merecedores de toda a atenção de educadores.

Músico de formação iniciada na Europa, viveu por muito tempo no Oriente e no Brasil, onde reside até hoje, e, através da experiência com estas culturas, desenvolveu suas teorias. Construiu sua visão de mundo, que parte da Música e da Estética, para além destas, universalizando os conhecimentos destas áreas, integrando as Ciências, as Artes e a Filosofia como expressão de mutações do pensar através da história, criando conceitos e estabelecendo relações de conteúdos de forma inédita, chegando às suas concepções apresentadas em seus textos sobre Educação.

Nota-se que tais conhecimentos vão ao encontro de questões pertinentes à área da Educação, discutidas por pesquisadores, como as relações entre educador e aluno, didática e conteúdos, Artes e desenvolvimento de personalidade, interdisciplinariedade.

No contexto da Crítica Genética, esta pesquisa estuda os trabalhos do Prof. Koellreutter, quanto aos processos de criação de seus conceitos e de sua visão de realidade. Os conceitos são observados no sentido de que podem compor um sistema de idéias, do qual resulta sua concepção de dinâmica de integração de culturas.

Desta forma, com a análise do processo criativo, tornar possível o conhecimento do processo de construção da grande obra de um artista, a partir da análise de um conjunto de textos produzidos em muitos anos, até o surgimento de sua significativa concepção de Educação.

 

CRIAÇÃO LEXICAL: TRADIÇÃO X INOVAÇÃO

Cristina Alves de Brito

A adoção lingüística compreende etapas até a total identificação da palavra com a língua que a acolhe, o caso aqui é o termo "impeachment".

Cada vez mais constata-se que o uso de palavras estrangeiras representa, principalmente na era da globalização, nada mais do que a interpenetração de culturas, em conseqüência da alta velocidade das comunicações, da massificação de algumas culturas em relação a outras, fazendo com que os termos mais facilmente façam parte da comunicação dos indivíduos para que se sintam em sintonia com o mundo.

A constatação diante do resultado da pesquisa permite uma indagação: o que se observa é uma aversão aos termos estrangeiros, ou, hoje, há uma aceitação com menos restrições aos termos estranhos à língua?

 

DE "CAMINHA" A "CAMINHA" A PALAVRA QUE CRIA O PAÍS-PAISAGEM

Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo (UFF)

A pesquisa estuda o papel da palavra nos limites entre ficção e realidade, desde o escrivão Pero Vaz de Caminha, quando segura e esperançosa delineia os contornos de terra e homem. Retomada pela ficção romântica, a palavra adquire, por um lado, a grandiloqüência para construir o país e a paisagem exuberante e, por outro, expõe seus limites para indicar os dilemas do intelectual, enquanto intérprete da cultura, como exemplifica o narrador "Vaz Caminha", de As Minas de Prata, de José de Alencar.

Se os impasses abertos pela ficção romântica levarão a Riobaldo de Grande Sertão: Veredas, na difícil tarefa de "pontuar opostos", o marco crítico desse processo assenta-se nos principais romances de Lima Barreto. Estes constituem um conjunto de ficção a dialogar entre si, com toda a tradição cultural e literária e com as obras de seus contemporâneos (Monteiro Lobato, Euclides da Cunha) através de um tema comum: a reflexão crítica sobre o intelectual e a palavra (especialmente a ficcional), num contexto onde a exceção é a regra e a racionalidade contamina-se de imaginação.

O questionamento de como fazer, qual a melhor forma de abarcar as heranças culturais, díspares e concomitantes, configura a palavra tensa e fragmentada no escritor moderno, cuja metáfora é o escrivão "Isaías Caminha".

 

DEPOIMENTO SOBRE A CONSTITUIÇÃO DE UM CORPUS DIACRÔNICO DO PORTUGUÊS DO SÉCULO XVIII

Luiz Palladino Netto (UFRJ)

A comunicação visa a dar uma notícia sobre uma etapa de um projeto de pesquisa, ora em curso na Faculdade de Letras da UFRJ, vinculado ao programa mais amplo "Projeto para a História do Português Brasileiro".

O objeto de estudo, por meio do qual se pretende fornecer achegas para a constituição histórica do português, é constituído de uma série documental específica – cartas pessoais e oficiais, redigidas no século XVIII, sobretudo no Brasil e em Portugal, para um mesmo destinatário.

Com a revalorização dos estudos lingüísticos diacrônicos na década de 80, tem-se invocado implícita ou explicitamente a necessidade de uma "história renovada" da língua portuguesa. Neste afã, o século XVIII tem atraído o interesse de muitos estudiosos. Segundo Mattos e Silva (1998:29), pelo fim deste século o português brasileiro "nascia com diversidade", ou em outros termos, "a língua de colonização se torna hegemônica e oficial".

Impõe-se, naturalmente, que os materiais integrantes de um corpus lingüístico de referência para tal consecução tenham sustentação em diretrizes filológicas rigorosas, a fim de que "aproximações lingüísticas viáveis" e aquelas, imprescindíveis e correlatas, de caráter sócio-histórico não assentem em bases não-fidedignas. A lição de Labov (1996:45), por vezes invocada, é judiciosa: cabe ao investigador "hacer el mejor uso posible de datos deficientes".

A exposição trata, com efeito, dos critérios que têm norteado a leitura e transcrição do material. Focaliza, ainda, algumas especificidades do corpus. Por fim, são ressaltadas perspectivas programáticas, em função dos desdobramentos do projeto.

DO PÓS-LEXICAL AO LEXICAL A TRAJETÓRIA DO ACENTO DO LATIM AO PORTUGUÊS

Carlos Alexandre V. Gonçalves (UFRJ)

Nesta comunicação, analisa-se o percurso histórico do acento lexical do latim ao português. Para tanto, toma-se por base o modelo de Fonologia Lexical (doravante FL) estabelecido por Kiparsky (1982) e posteriormente refinado por Booij & Rubach (1986). No âmbito da FL, uma questão particularmente relevante é a diferença fundamental entre dois tipos de regras fonológicas: as lexicais (aplicadas no léxico, em conexão com as regras de formação de palavras) e as pós-lexicais (cuja aplicação se dá fora do léxico, na saída para o componente sintático).

Após discutir as diferenças entre regras lexicais e pós-lexicais, verifica-se o comportamento do acento em português e em latim, a fim de observar se esse fenômeno acessa informações morfológicas nas duas línguas, sendo sensível tanto a categoria lexical da palavra quanto a constituição interna da mesma.

A comunicação pretende mostrar que houve uma mudança considerável na acentuação do latim para o português, mudança essa que envolve o domínio e o módulo de aplicação das regras de acento. Desse modo, quanto ao domínio, a regra alça do nível pós-lexical ao lexical e, quanto ao módulo de aplicação, particulariza sua atuação do grupo clítico, em latim, para a palavra prosódica, em português.

 

 

ESTILÍSTICA: ESTÉTICA E EMOÇÃO

Esther Cardoso Antunes (UERJ)

Analisando mais de perto certas palavras, se estabelece uma imagem e sentimento que constitui seu valor expressivo.

Há palavras mais evocadoras do que outras. É preciso pensar e senti-las. Deve-se considerar o seu tempo da utilização, seu tempo histórico, seu sentido "removido" e como são projetadas.

A ênfase teórica dada na abordagem de Estilística da Língua Portuguesa costuma ser: nas séries sinonímicas, nos vestígios arcaicos, no uso do artigo e dos pronomes, nas vozes do verbo e na elipse do verbo.

Mostraremos como a estilística tem sido colocada em prática em Lima Barreto, Aluísio Azevedo, Roberto Drummond e noutros autores.

 

ESTRATÉGIAS ENUNCIATIVAS E EFEITO(S) DE SENTIDO(S)

Maria das Graças Lopes Morin do Amaral (IDEALE)

Inspirada na problemática enunciativa atual, a qual encontra-se centrada na questão da heterogeneidade e nas modalidades de (re)constituição de um sujeito, nas relações intersubjectivas no discurso, essa comunicação verificará o funcionamento das "estratégias enunciativas" num grupo de enunciados.

Descreveremos algumas dessas estratégias enunciativas, mais especificamente os traços das operações de um sujeito (suposto) do dizer (So e So), a heterogeneidade enunciativa, a heterogeneidade nas representações e a ambigüidade operatória, partindo da constituição do sentido que se estabelece no próprio texto.

Estaremos, portanto, propondo uma articulação entre as "estratégias enunciativas" utilizadas pelo enunciador e os sentidos que delas resultam, nas operações de produção e reconhecimento interpretativo da materialidade lingüístico-discursiva.

 

ESTUDO DA MORFOLOGIA VERBAL NAS LÍNGUAS GALEGA E PORTUGUESA

Valéria Gil Condé (USP)

O sistema verbal das línguas galega e portuguesa tem como paradigma o sistema latino. Das quatro conjugações latinas, tanto em galego como em português, houve a fusão da segunda e terceira conjugações. Compõem-se, desse modo, as conjugações em: 1ª conjugação –ar, 2ª conjugação –er, 3ª conjugação –ir. O presente estudo procurará demonstrar como galego e português procuraram uniformizar, eleger um paradigma verbal a ser seguido pela norma padrão. O exercício de depreensão dos morfemas verbais nas línguas galega e portuguesa, concerne no estudo dos verbos, proposto por um modelo baseado no nível culto. No caso português, a normativa já está consolidada, seja em escritores, ou usuários da língua. No galego, contudo, tal fato não ocorre; a língua passou por um processo de normativização há dezesseis anos, e busca ainda um caminho rumo à padronização.

 

ESTUDO DAS ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS

Karina Chrysóstomo de Sousa Nascimento (UFRJ)

Este trabalho pretende analisar a presença do modo argumentativo de organização do discurso na peça " O Oráculo" de Arthur de Azevedo.

Serão analisados os tipos de argumentos utilizados pelos personagens a fim de defender suas teses.

É importante ressaltar que qualquer tipologia textual só pode ser feita em termos de dominância, já que dificilmente se apresentam textos puros. Nesta peça, combinam-se seqüências argumentativas e narrativas. Pode-se considerar a existência da argumentação à serviço da narração.

A argumentação tem como objetivo modificar, através do discurso, as convicções e tentar obter a adesão do auditório para uma tese determinada.

Quando se lida com teses apresentadas no discurso argumentativo, elas têm como objetivo:

A aceitação de uma ou outra tese depende da apreciação dos argumentos apresentados. O argumento é a arma de debate a serviço de problemas incertos.

No discurso argumentativo, a escolha do tipo de argumento desempenha papel fundamental na persuasão do auditório.

No seu livro Tratado da Argumentação - A Nova Retórica, Chaïm Perelman e sua colaboradora Lucïe Olbrechts-Tyteca, ao analisar a estrutura da argumentação, estabelecem uma tipologia dos argumentos.

Os dados analisados serão descritos de acordo com a tipologia dos argumentos de Chaïm Perelman (1996) e o conceito de concessão de Charaudeau (1992).

 

FEIRA DO LIVRO: INTEGRAÇÃO E PRAZER NO ATO DE LER

Rosana Muniz Soares (UERJ)

Relato de experiências vividas no projeto Feira do Livro, com professores e alunos da Educação Juvenil e do Ensino Fundamental no Centro Educacional de Niterói.

Trata-se de trabalho integrador, com atividades articuladas por vários profissionais da educação, sempre ligadas à de leitura.

Não se verifica uma simples venda de livros, promovendo-se um mergulho da criança no processo sociocultural da escola e da comunidade, propiciando ao aluno momentos de integração e de prazer no ato de ler.

 

GREGÓRIO DE MATOS, O LOUCO JOCOSO E A INQUISIÇÃO

Adriano Alcides Espínola (UFC/UFRJ)

Um dos aspectos mais intrigantes da vida de Gregório de Matos reside no processo que o Santo Ofício moveu contra o poeta, em 1685, a partir de uma carta-denúncia de um inimigo. Acusado de herege e blasfemo, Gregório de Matos escapou, entretanto, ileso das garras da Inquisição. O que teria acontecido de fato? Quem teria intercedido a favor do poeta? Nesta comunicação, pretende-se responder a tais indagações históricas.

HEITOR VILLA-LOBOS O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO PRELÚDIO Nº 2

Fernando Antônio Pacheco (PUCSP)

O processo de criação do compositor Heitor Villa-Lobos, em seus 05 Prelúdios para violão solo - como em toda sua obra - revela uma significação de gestos, que caracterizam imagens geradoras de sua poética. Villa-Lobos utiliza uma metodologia paradigmática. A mente analisa os temas escolhidos, como significativos da semiose musical.

Prelúdio n. 1: "Homenagem ao sertanejo brasileiro"

Prelúdio n. 2: "Homenagem ao malandro carioca"

Prelúdio n. 3: "Homenagem a Bach"

Prelúdio n. 4: "Homenagem ao índio brasileiro"

Prelúdio n. 5: "Homenagem a vida social do Rio de Janeiro"

Dos quais extrai uma série de modelos analógicos que são os paradigmas das leis formadoras desses objetos e os torna operatórios numa simulação dos processos de criação.

Os 05 Prelúdios apresentam uma "fisionomia contemporânea": "achatamento e harmonização de contradições", com importante sentido do aspecto ideológico, atuando como neutralização das contradições sociais, abrandando as diferenças presentes na sua substância estética.

Villa-Lobos desenvolve uma "imaginação criadora" que trabalha como "imagens do pensamento", que não se atém a uma captação do real, mas busca a "função do virtual". A paisagem sonora é marcada pela instantaneidade do olhar transformador: ação do olhar sobre a realidade externa à obra.

Villa-Lobos se expressa através de códigos sonoros muito pessoais. Seu projeto poético são personagens conceituais que descrevem o seu plano de composição em gestos profundamente brasileiros, espontâneos, que soam originais na mescla de procedimentos onde o clássico e o popular se entrelaçam com indiscutível perícia, com notável naturalidade, em um percurso de experimentação onde são encontradas idéias musicais embrionárias bastante consistentes.

 

ÍNDICE DE FREQÜÊNCIA DO ROMANCE HELENA, DE MACHADO DE ASSIS

Cristiane de Gusmão (UERJ)

Léxico – "célula" primeira do homem, da sua cultura, da sua história, enfim, é o elemento ímpar que imortaliza, para além do ser humano, o humano.

Este vocabulário assume significativa importância pois registra a linguagem que, como sabemos, é uma inesgotável riqueza de múltiplos valores. Por isso, torna-se o objeto de pesquisa do nosso trabalho. É o ponto de partida para uma viagem na qual o itinerário apresenta-se múltiplo, infinito, visto que o seu estudo abrange duas disciplinas: a Lexicografia e a Lexicologia.

As pesquisas lexicográfica e lexicológica nos permitem analisar, de forma mais detalhada, os três planos da língua: o universal, o histórico e o individual, abrindo-nos campo para conhecermos, ainda, os saberes elocutivo, idiomático e expressivo, presentes nos falantes de quaisquer idiomas.

Toda sorte de pesquisas lingüísticas beneficiam-se com os estudos lexicográficos, posto que o campo de conhecimentos torna-se ilimitado, infinito, pois a cada dia solidifica-se mais a afirmação que é o léxico o componente da língua que mais sofre modificações. Podemos observar a variação do repertório lexical através das diferenças diatópicas, diastráticas e diafásicas, inseridas na língua histórica. Referindo-se à língua funcional, temos como produto as diferenças sintópicas, sinstratas e sinfásicas.

A magia desta disciplina consiste em explicar a língua pela própria língua, transformando-a, ao mesmo tempo, em objeto de seu estudo.

É a metalinguagem "entrando" em ação, isto é, mostrando-se na sua plurissignificação.

 

LÍNGUA PORTUGUESA EM SALA DE AULA ANOTAÇÕES SOBRE O COMPORTAMENTO LINGÜÍSTICO

DE PROFESSORES E ALUNOS

Alexandre do Amaral Ribeiro (UERJ)

Este trabalho procura investigar possibilidades de ampliação do entendimento dos problemas que envolvem o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa no espaço da sala de aula à luz das contribuições da sociolingüística. Para isso, discute a questão das diferenças de ordem sociolingüística, observadas no comportamento lingüístico de alunos e professores de língua portuguesa .

Este enfoque justifica-se na medida em que, sendo a gramática sensível às pressões do uso, a capacidade de escolha do falante em sua própria produção lingüística torna-se relevante no âmbito do acesso e da aquisição daquilo que é reconhecido como norma padrão. Assim, parece relevante , neste contexto, a busca de referenciais de análise da questão proposta ,que adotem a perspectiva da integração da organização gramatical a uma teoria global da interação. Tal perspectiva implica conceber a língua como um instrumento capaz de estabelecer relações comunicativas entre os seus usuários , viabilizando um domínio mais amplo do uso de variações lingüísticas existentes na sua própria língua .

Pretende-se ,ainda, sugerir um olhar multidisciplinar sobre as características do comportamento lingüístico de alunos e professores enquanto ensinantes e aprendentes da língua portuguesa que permita um entendimento mais amplo das peculiaridades existentes no uso da língua , em situação escolar e que contemple à luz dos conceitos básicos de uma Gramática Funcional , não apenas o nível formal da língua - aí incluídos os níveis fonológico, morfológico e sintático, mas também o semântico e o comunicativo.

 

LITERATURA EM ALEMÃO E IDADE MÉDIA LATINA CONSIDERAÇÕES GERAIS

Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)

Resumo: parafraseando em parte a consagrada obra de Ernest Robert Curtius, Literatura Européia e Idade Média Latina, pretendemos elaborar um cronologia dos principais acontecimentos de ordem histórico-político-social e suas repercussões na língua alemã durante a Idade Média. Do século VIII até o século XV vislumbrar-se-á, de forma sucinta, a evolução dos gêneros em prosa e verso mais importantes, bem como as suas mais significativas produções durante o medievo germânico, onde paralelamente à produção cultural em latim, língua das artes liberais, se desenvolvia e se apurava a beleza estética dos textos em alemão, configurando como reflexo o discurso literário de então.

 

MATTOSO CÂMARA E O VOCÁBULO-PROBLEMA DE 1939-1940

Ângela França (USP)

O propósito deste trabalho é examinar o conceito de vocábulo no conjunto dos textos das Lições de Lingüística Geral (1939 e 1940) de Mattoso Câmara (1904-1970). Isso porque, verificamos a ênfase em precisar o lugar e o valor exato da unidade vocábulo que perpassa todas as 12 Lições. A questão da definição da palavra e seu uso, juntamente com a determinação das unidades e dos seus respectivos planos – "como distinguir a frase do vocábulo?" (1940) – parece ter sido uma dificuldade relevante na época. Segundo Mattoso, enquanto alguns estudiosos negavam a sua existência, outros, aceitavam a sua realidade lingüística mas o consideravam como unidade da fala (1939), afirmação com a qual Mattoso não concordava.

De fato, o grande problema era a delimitação da palavra ora considerada do ponto de vista fonético, ora do ponto de vista semântico. Coseriu (1952) ainda não havia feito a sua famosa e importante distinção entre os níveis de atualização das unidades da linguagem - o sistema, a norma e a fala, determinando o vocábulo como a unidade no nível da norma e a palavra, unidade no nível do falar concreto.

Para nosso lingüista, era preciso estudar o vocábulo, fonético e formal, separadamente como dois elementos porque eram duas coisas diferentes: o vocábulo fonético como elemento da fonação e o "vocábulo propriamente dito", um elemento da fala.

Mas o estudo de Mattoso não se resumiu apenas a essas duas entidades lingüísticas. Mattoso partiu da análise do vocábulo fonético para chegar ao vocábulo-morfema, "unidade ideal da linguagem", do sistema homogêneo da langue. Como se deu esse processo cognitivo no contexto das Lições?

Nosso objetivo foi determinar a herança teórica admitida através das referências diretas aos autores e suas proposições e, tentativamente, observar a prática de análise que Mattoso efetivamente exerceu sobre essas entidades lingüísticas na Língua Portuguesa.

 

MEIOS DE COMUNICAÇÃO (MÍDIA) E ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

Amarilis Gallo Coelho (UFRJ)

A análise da relação entre linguagens e pensamento, linguagens e conhecimento, linguagens e aprendizagem, constitui um dos temas de estudo mais fascinantes e freqüentemente mais complexos, sobretudo em espaços de grande variação e diversidade lingüística.

Focalizando a pesquisa entre relações sociais e aquisição lingüística, ou seja, no campo sociolingüístico, as linguagens apresentam posição central na análise do processo de socialização, ou seja, na "localização" completa e coerente do indivíduo como ser social.

No processo de aquisição e domínio da língua, os meios de comunicação de massa representam fator essencial para o desenvolvimento da sociedade contemporânea, em seus aspectos socioculturais e educativos em geral.

Portanto, as reflexões sobre os mass media levam a conclusões práticas quanto à sua função na aquisição e divulgação do saber como um todo, ressaltando seus aspectos didáticos.

Procuraremos centralizar nossa análise no caso específico da sociedade italiana. O impacto educativo-informativo dos meios de comunicação oral e escrita, e entre estes, televisão, info-vias e chats, é um dos eventos determinantes na composição sociolingüística italiana atual.

E que uso podem fazer os pesquisadores e os divulgadores de língua e cultura italiana, em especial os professores, a partir deste material riquíssimo, que com a rapidez e a objetividade da tecnologia , apresenta aspectos diversos e relevantes para os métodos de ensino-aprendizagem?

 

NA INTIMIDADE DE UM ESTUDANTE SOLITÁRIO

Matildes Demétrio dos Santos (UFV)

Álvares de Azevedo, que transpira spleen, satanismo e paixão exacerbada na maior parte de sua obra literária, surpreende o leitor de sua correspondência, caso este esteja apenas interessado em devassar a vida íntima do jovem poeta romântico à procura de segredos ocultos, esperando a confissão de amores proibidos ou prevendo comprometedoras revelações de sua vida enquanto futuro bacharel da Faculdade de Direito da cidade de São Paulo durante o Segundo Reinado. Curiosamente, extravagâncias e desatinos não aparecem nas cartas mas um espírito meigo, sensível e solitário que sonha e deseja viver as diabruras e fantasias que conhecia dos poetas e romancistas estrangeiros.

Dessa forma, no exercício solitário da epistolografia para o leitor, um outro Álvares de Azevedo que este trabalho objetiva apresentar.

 

O ASPECTO VERBAL NO PORTUGUÊS

Alfredo Maceira Rodríguez (UCB)

Embora o eixo da estrutura verbal do português e das demais línguas românicas seja o tempo, a categoria aspecto não está ausente, ainda que muitas vezes se detecte seu valor como elemento subsidiário.

O sistema aspectual de ordenação envolve os valores inceptivo, cursivo e terminativo (há variações terminológicas).

O sistema aspectual de duração compreende os valores durativo (linear) e pontual (momentâneo).

Muitos destes valores podem vir implícitos na própria significação de certos verbos. São, assim, representados pelo léxico: partirchegar, marcando valores pontuais (inceptivo – terminativo); caminhar, dormir, indicando um valor durativo, etc.

Às vezes, a noção de iteratividade é manifestada por sufixos que denotam ação continuada: bebericar, saltitar, voejar, etc.

Com freqüência, certos valores aspectuais manifestam-se através do próprio paradigma verbal (tempos compostos, locuções verbais, perífrases verbais, etc.), principalmente quando se manifesta um valor durativo: tem estudado, tem estado estudando; eles estariam trabalhando, etc.

Há ainda diversas outras manifestações de valores aspectuais no português.

Nosso estudo se refere a pesquisas recentes na língua escrita do português do Brasil.

 

O COZINHEIRO, O LADRÃO, SUA MULHER E SEU AMANTE A SEMIÓTICA DA PERVERSÃO

Cristina Maria Teixeira Martinho (USS)

Este trabalho discute as isotopias narrativas do filme de Peter Greenaway, O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e seu Amante. Procura-se delinear os elementos básicos da narrativa como: personagens, ações, tempo, lugares, cores e certos leitmotifs como actantes da semiótica narrativa. O corpo humano é socialmente concebido; o cineasta explora os aspectos expressivos e simbólicos na implicação do corpo humano enquanto um locus grotesco, quando sexo, alimentação e defecção desencadeiam a isotopia central geradora da produção de sentido. A atuação das personagens é de natureza escatológica entre o espaço cênico, a unidade lingüística e os mecanismos da fabulação desenvolvidos de forma pervertida. Em todas as circunstâncias, quatro personagens fundamentam um discurso em que o alimento se transforma em metáfora do canibalismo e do tabu, um manjar de sofrimento e da morte.

 

O DESENREDO LINGÜÍSTICO EM GUIMARÃES ROSA

Tatiana Alves Soares ( UFRJ)

Guimarães Rosa, escritor mineiro celebrizado pela peculiaridade da linguagem, apresenta ao leitor um desafio: dotado de um estilo único, povoado por construções insólitas, o autor de Grande Sertão: Veredas realiza uma verdadeira recriação da linguagem, redimensionando o léxico e ultrapassando os limites do mero regionalismo. A linguagem do sertão rosiano é a um só tempo regional e universal, presente e atemporal, popular e erudita.

O presente trabalho estabelece uma análise do conto Desenredo, integrante de Tutaméia – Terceiras Estórias, a partir de seus elementos lingüísticos. Com base no levantamento dos provérbios populares, jargões e neologismos presentes na narrativa, nosso estudo enfoca a exploração de novas estruturas morfológicas e sintáticas efetuada por Rosa como eixo fundamental do conto em questão.

 

O DICIONÁRIO: MEMÓRIA LEXICAL DA SOCIEDADE

Maria Emília Barcellos da Silva (UFRJ)

Nas sociedades modernas mais evoluídas, a linguagem é – em termos práticos – modelada pela língua escrita, uma vez que a busca do entendimento e da clareza das interlocuções requer uma estabilidade lingüística que está longe de ser assegurada pela oralidade.

O dicionário, enquanto memória coletiva da sociedade, legitima os usos sociais da língua ao refletir os atos verbais que "na experiência social, desligaram-se de seus atores"(LARA, 1992). Na qualidade de depositário do acervo lexical da cultura, o dicionário estabelece a relação entre o momento histórico de um grupo e a norma nela vigente, ao recolher o uso lingüístico e as nuanças que a ele empresta a variação lingüística de cunho quer diatópico, quer diastrático, quer diafásico.

Esta comunicação tratará (1) do compromisso normativo dos dicionários, (2) da variação lingüística e (3) da canonização lexicográfica neles operacionalizadas, sem descuidar dos valores semânticos que se foram instalando no seio das sociedades, fatos que concorreram para eleger tais obras como verdadeiros árbitros das instabilidades significativas que, não raro, desestabilizam os sentidos e comprometem o bom entendimento entre usuários de uma mesma língua, de um mesmo idioma.

 

O DICIONÁRIO BRASILEIRO DE FRASEOLOGIA

Letícia Miranda Medeiros (UERJ)

José Pereira da Silva (UERJ)

O trabalho de pesquisa tem por objetivo selecionar e organizar todo material bibliográfico sobre expressões populares, locuções, ditados, adágios, expressões idiomáticas, dentre outros, sendo este, compilado em um conjunto de obras no qual posteriormente poderão ser consultados. Deste modo, este apresentará verbetes de grande valor para gerações futuras.

A primeira etapa constitui na escolha de uma bibliografia básica, sob a qual parte do projeto transcorrerá. A segunda etapa baseou-se na digitação de fraseologias, adágios, expressões populares e idiomáticas, dentre outras do texto base: "Tesouro da Fraseologia Brasileira", de Antenor Nascente, o qual estão sendo acrescidos novos verbetes. A terceira etapa, que está em andamento, é a de pesquisa e acréscimo de verbetes no corpo do texto de base até cessar as fontes acessíveis a nós pesquisadores. A Quarta e última etapa, consiste na digitação de todos os termos pesquisados e já revisados para arquivos no computador. Ao término, poderemos considerar todas as etapas do projeto concretizadas.

Não é possível determinar os resultados, afinal o projeto ainda encontra-se em desenvolvimento, todavia este tem acrescentado variados conhecimentos sobre Lexicografia aos pesquisadores nele envolvido, conhecimentos estes que estarão a disposição para futuros trabalhos de pesquisas, teses e monografias, em um tempo ainda não determinado.

Podemos concluir que ao término da pesquisa deste projeto, muitos serão os beneficiados com a grande utilidade da obra a qual se tem em mente ser publicada, afinal haverá um melhor conhecimento da língua portuguesa, tendendo este possuir expressões populares da nossa língua. Objetivamos que com este trabalho, possamos servir de subsídios para futuras monografias.

 

O DISCURSO FRAGMENTADO DO ROMANCE LUÍSA (QUASE UMA HISTÓRIA DE AMOR) DE MARIA ADELAIDE AMARAL

Nataniel dos Santos Gomes (UFRJ)

Parece que a cada dois ou três séculos ocorrem grandes transformações na história. Por causa dessas mudanças, a sociedade se reorganiza para poder se adequar à nova visão de mundo, rever seus valores, avaliar sua estrutura social e política, suas artes.

Mas, se no período conhecido como Modernidade, as pessoas diziam: "Deus está morto", na Pós-Modernidade, elas anunciam: "Marx também está, e eu estou doente de morte". Na realidade, o novo-homem que o niilismo sonhava tornou-se um primitivo e selvagem predador de seus semelhantes.

É óbvio que a Pós-Modernidade aconteceu também na esfera sociológica levando à secularização, à privatização e à pluralização que alteraram os pilares da sociedade: o convívio, as relações pessoais e a ética.

O Pós-modernismo prometeu liberdade, mas colocou o homem na pior das escravidões: a solidão.

A nossa proposta de trabalho é de analisar algumas características do discurso fragmentado da Pós-Modernidade, no romance Luísa (quase uma história de amor), de Maria Adelaide Amaral. Parece-nos que ele é um bom exemplo da fragmentação do ser numa obra literária; afinal, temos cinco narradores, que também são personagens. Cada um deles conhece um aspecto de Luísa, e traz uma perspectiva diferente, numa relação de compreensão / interpretação, contexto / leitor etc.

 

O ESTUDO FILOLÓGICO DO EVANGELHO DE MATEUS DO MANUSCRITO GREGO DA BIBLIOTECA NACIONAL

Maria Olívia dos Quadros Saraiva (UFMG)

O mais antigo manuscrito pertencente à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro é um códice em pergaminho, contendo os quatro Evangelhos do Novo Testamento, doado àquela instituição, em 1912, por Pandiá Calógeras. Foi descrito, pela primeira vez, por Bruce Metzger que, em 1952. Seu interesse era devido ao Projeto Internacional do Novo Testamento, com sede em Münster, sendo o Presidente da Comissão Americana de Versões. Afirmava que, a partir de microfilme da Biblioteca, estudaria o códice, visando à determinação do tipo.

As informações disponíveis dependem, ainda hoje, da "descoberta" de Metzger. Em artigo (1952) dá ele uma descrição do códice, anotando as características: é um manuscrito em minúsculas; conta-se um total de 234 folhas; etc. Acredita que o manuscrito deveria ser datado nos séculos XI ou XII, considerando-se o estilo de grafia. Esta datação (séc. XII) foi consagrada nos repertórios de Aland, embora não seja descartada a possibilidade de ter sido copiado no século anterior, pelo tipo de minúscula, que denuncia uma provável procedência bizantina para o códice. Em 1953, Kurt Aland repertoriava o manuscrito atribuindo-lhe o número 2437, e declara reproduzir as informações de Metzger. De novo, em listagem (dos manuscritos gregos do N.T.) de 1954, é registrado o da Biblioteca Nacional

A presente comunicação constará de estudo filológico da folha 20 (verso) do citado manuscrito (folha 4, verso, em algarismos arábicos ), incluindo a leitura paleográfica, transcrição diplomática acompanhada de notas críticas e tradução.

Destaco ainda a ocorrência de correção no próprio texto e de anotação, na margem superior, de variante textual, feitas por mão diferente da do primeiro copista. Há ainda marcação de início e fim de trecho destinado a leitura de liturgia. Todos esses elementos são importantíssimos para a datação e determinação do tipo de texto transmitido pelo ms. 2437.

 

O FLUXO DE CONSCIÊNCIA E A PAIXÃO DO TEXTO EM CLARICE LISPECTOR

Rosane Marins de Menezes (UERJ)

Nesta comunicação, depois de tratar da obra de Clarice Lispector em geral, definindo e caracterizando o "fluxo da consciência" em sua narrativa, enquanto narrativa moderna (reflexo do mundo moderno, projetado a partir de uma consciência individual e revitalizada; interpenetração dos espaços cênico e empírico e fusão dos tempos passado, presente e futuro) mostraremos como a autora tenta reproduzir este fluxo de consciência.

Essa tentativa (com a fusão dos níveis temporais) leva a autora à radicalização do monólogo interior (discurso indireto livre), fazendo desaparecer ou omitir-se o narrador, que nos apresenta a personagem no distanciamento gramatical do pronome "ele" e do tempo passado, desaparecendo também a ordem lógica da oração e a coerência da estrutura da narrativa clássica.

Isto será demonstrado através da análise estilística do conto "Amor", que se encontra em Laços de Família, de Clarice Lispector.

 

O HUMOR NAS TIRAS DE JORNAL

Vito César de Oliveira Manzolillo (UFRJ)

No âmbito da ciência da linguagem, estudos mais recentes – da década de 50 em diante – têm posto em evidência aspectos relacionados ao uso da língua que extrapolam o plano estritamente gramatical.

Assim sendo, na perspectiva atual, tornou-se possível estabelecer um contraste entre duas competências, a lingüística (relacionada ao conhecimento dos padrões formais da língua) e a comunicativa (capacidade apresentada pelo falante de usar a língua de forma adequada às várias situações).

Essa nova maneira, mais ampla e abrangente de observar o funcionamento da linguagem, naturalmente, propiciou a integração da Pragmática – estudo dos atos lingüísticos levando-se em conta os contextos nos quais são produzidos – à descrição lingüística.

Nesse sentido, a presente Comunicação pretende examinar o humor nas tiras de jornal com base no conceito de implicatura, sentido não-literal atribuído, em certas circunstâncias, a determinado enunciado.

Trabalha-se com a hipótese de que o uso de enunciados identificados com sentidos outros, que não o literal, funciona como recurso humorístico nos textos em questão.

O trabalho será composto de duas partes: uma teórica, na qual a noção de implicatura será discutida, e outra prática, ou seja, a análise de algumas tiras de jornal, selecionadas a partir daquelas publicadas pelos dois principais jornais cariocas – O Globo e Jornal do Brasil.

 

O LINGUAJAR CARIOCA

André Valente (UERJ)

Os estudos diatetológicos têm, ainda hoje, Antenor Nascentes como grande referência. No final do século, o seu estudo O linguajar carioca em 1922 (1ª ed. em 1923 e 2ª ed. em 1953) continua imprescindível àqueles que se interessam pelos rumos da Dialetologia no Brasil.

Na 1ª edição, Nascentes alertava que seu trabalho serviria a uma geração futura quando os estudiosos encontrariam em sua obra uma fotografia do estado da língua em 1922, o que não ocorreu com ele , que "nada encontrou do falar de 1822". Nesta edição, apresentava o dialeto brasileiro com quatro subdialetos: nortista, fluminense, sertanejo e sulista.

Na 2ª edição, com base no progresso da ciência, passa a utilizar a expressão falar brasileiro e divide o território nacional em seis subfalares: amazônico, nordestino, baiano, mineiro, fluminense e sulista.

Antenor Nascentes tenta situar o linguajar carioca no conjunto desses falares, após tecer considerações sobre o falar/dialeto brasileiro. As observações do autor revelam uma visão lingüística bem avançada para a época. Toma como objeto do seu estudo "a língua do povo" e justifica sua opção da seguinte forma:

"Pouco nos interessa a língua das classes cultas, primeiro porque é correta, segundo porque lhe falta a naturalidade, a espontaneidade da língua popular."

Coerentemente, o autor fornece, ao final do seu trabalho, um vocabulário de locuções populares do Rio de Janeiro e considera-o um "pequeno esboço que outros poderão melhorar".

Meu propósito , ao retomar a extraordinária obra de Nascentes, é não só apresentá-la à nova geração, mas também ressaltar a modernidade da sua proposta em perfeita consonância com as mudanças no ensino da Língua Portuguesa. Veja-se , por exemplo, a sua atualíssima opinião a respeito da relevância do conhecimento dos dialetos:

"São do mais alto valor científico os casos de patologia lingüística apresentados pelos dialetos; têm mais importância do que as questiúnculas sobre colocações de pronomes e outros assuntos". (o grifo é meu).

 

O PAPEL DAS EMENTAS E DOS REFRÃES NA NARRAÇÃO DOS MILAGRES NAS CANTIGAS DE SANTA MARIA

Meire Mara Coelho Nogueira (PUC-MINAS)

No trabalho aqui proposto, busco examinar o papel das ementas e dos refrães no processamento textual das narrativas de milagres produzidas por D. Afonso X e sua equipe nas Cantigas de Santa Maria (século XIII). Ciente de que o ementário pode resultar de um acréscimo feito posteriormente ao conjunto poético; num primeiro momento da análise, busco mostrar a sua função antecipatória, remissiva e sintetizadora dos milagres apresentados. A seguir, enfoco os refrães, assinalando-lhes os diferentes papéis na constituição da malha tópica tecida a cada milagre narrado.

 

O PERCURSO DA LÍNGUA ITALIANA SOB A ÓTICA SINCRÔNICA E DIACRÔNICA

Maria Franca Zuccarello (UERJ)

O propósito deste trabalho é fazer uma sucinta exposição de uma longa trajetória, que vai do italiano como língua romança até o italiano de hoje. É este fruto de experiências em sala de aula acerca da flexibilidade da língua, devido à história deste país.

Há uma grande variedade de maneiras para chamar um mesmo objeto ou para dizer uma mesma coisa. Algumas destas formas já existiam há tempo - aliás existem várias formas dialetais ao mesmo tempo, como mostra a própria história da literatura italiana -, outras, no entanto, mais recentes, foram criadas, em sua maioria, pelos jovens.

A Sociolingüística na Itália é um território fértil, um laboratório ideal, decorrente da própria história deste País. A presença, a tradição e a vitalidade dos dialetos, a importância das variedades da língua italiana, em suma a fragmentação histórico-cultural do país, constitui o melhor ponto de partida para uma colocação que tem como ponto central a variedade lingüística.

A Dialetologia, outra clássica disciplina lingüística e italianística, é também muito presente na situação dos falantes de toda a península. Seus temas principais são: tradição e inovação, italianização dos dialetos, dialetização do italiano e flexibilidade das variedades do repertório que fazem esta disciplina dinâmica e não arqueológica.

 

O POÉTICO NA CARICATURA "A PROPÓSITO DOS TRINTA BOTÕES" - ALUÍSIO AZEVEDO

Nadja de Moura Carvalho (PUCSP/UFPB)

Esta comunicação tenta examinar a presença do poético na caricatura "A Propósito dos Trinta Botões", com a qual Aluísio Azevedo fez a sua estréia em 1876, na imprensa ilustrada do Rio de Janeiro. O nosso objetivo, a partir daí, consiste em apresentar uma reflexão acerca do lugar poético ocupado na caricatura. A abordagem do tema, no entanto, resulta de uma averiguação inicial, assinalada por algumas indagações: O que é poético na caricatura? De que maneira são reveladas as marcas do poético? O que distingue a estratégia de leitura do poético?

Fornecemos um rápido esboço do episódio que, de certo, instigou a criação da caricatura de Aluísio Azevedo, sem a preocupação de estabelecer um itinerário histórico-social da sua criação, até mesmo por acreditar que o exame da expressão poética na caricatura não precisa estar vinculado ao tempo, ao acontecimento social. O contexto que suscita a criação da caricatura contribui com informações, ajuda a conferir significados, portanto, as referências históricas ou comunicacionais não nos dizem nada do poético que a caricatura possa contemplar.

Destacamos elementos e combinações que constituem a composição da caricatura selecionada, procurando ressaltar a configuração do poético em conformidade com o alcance da nossa percepção sensível. Procuramos levar em conta os artifícios poéticos de similaridade engendrados em alegorias, simbologias e enigmas, dessa maneira, o poético sugere uma violação das regras sociais (sejam morais, éticas, costumes, hábitos etc.), em vigor na época.

Ao final, examinamos a presença do poético na caricatura. Tomamos como ponto de partida o ato de sentir o poético, o que significa não perder de vista a sua liberdade em relação a realidade, na medida em que impõe uma ultrapassagem da figuração referencial. É no âmbito da representação denegada, na sua formulação de distorção, deformidades ou diferenças da natureza, que acreditamos poder distinguir ou demarcar a aparição do poético.

O RÁDIO E A FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA

Cláudia Eugênia de Mello (UFF)

Alvim Jacy Monteiro (UFF)

Este trabalho faz a análise semiótica de um segmento do Programa Haroldo de Andrade, que é veiculado diariamente pela Rádio Globo AM, líder de audiência no horário. Com a base teórica da semiótica greimasiana, são investigados os mecanismos argumentativos dos Debates Populares, após debates como um texto. Comprova-se, em meio à diversidade de temas tratados e de debatedores participantes, a existência de uma narrativa invariante de formação de opinião. Observa-se, então, como são reproduzidos, reiterados e mantidos, no debate, os valores ideológicos de formações discursivas representativas da tradição e do conservadorismo.

 

O USO DO COMPUTADOR EM LINGÜISTICA

Leila Bárbara (PUCSP)

O trabalho procurará apresentar evidências da utilidade de metodologia de análise de corpus na descrição de fenômenos lingüísticos.

Serão utilizados exemplos de pesquisas em análise de discurso, em dois gêneros de negócios, relatórios anuais e editais de licitação pública.

As pesquisas citadas desenvolvem análises tanto a nível de macro estrutura textual como de micro estrutura lexical e gramatical.

 

OBSERVAÇÕES SOBRE O TUPI ANTIGO

Nataniel dos Santos Gomes (UFRJ)

Há alguns anos estamos trabalhando com línguas indígenas brasileiras, usando as mais novas teorias da Lingüística Gerativa e Funcional.

Com o avanço das ciências da linguagem, temos feito descobertas impressionantes. Por exemplo, o tupi antigo (ou tupinambá) não possuía uma classe de adjetivos, mas verbos predicativos. Temos desenvolvido essas "novidades" em duas monografias, algumas comunicações, artigos e em nossa dissertação de mestrado.

Percebemos que ela também não tinha consoantes fricativas, exceto o /s/, não possuíam a lateral /l/ e nem a vibrante múltipla /R/, gerando um trocadilho, que afirmava que aquele povo não tinha nem fé, nem lei, nem rei, como referência à sua cultura e língua.

Na morfologia, o sujeito do verbo intransitivo é cindido, ou seja, o sujeito intransitivo tem a mesma forma que o objeto dos verbos transitivos. É uma língua ativa, com sintagmas nominais neutros e diferentes formas de clíticos referentes a pessoas.

Da mesma forma que a língua portuguesa, o tupi antigo é uma língua pro drop, ou seja, não existe a obrigatoriedade dos sintagmas nominais de sujeito ou objeto serem preenchidos lexicalmente.

Infelizmente, quando encontramos, as análises comparativas são quase sempre de sua influência sobre a língua portuguesa, sobretudo em topônimos.

É óbvio que o tupinambá não é (ou era, já que está extinto) a única língua indígena brasileira, como os leigos parecem sugerir. No Brasil, temos por volta de 180 línguas e muitas delas ainda sem nenhuma documentação escrita, algo por volta de dois terços. É aí que começa o nosso trabalho.

 

ORFEU EM REALIZAÇÃO CÊNICA

Geraldo Ramos Pontes Júnior (UERJ)

O mito de Orfeu chega às culturas modernas através de suas diversas versões, sobretudo por não ter sido incorporado à dramaturgia clássica. É também capitalizado pela teologia hebraico-cristã. Reproduz-se no cinema francês, com a obra de Cocteau, contemporaneamente à versão teatral de Vinícius de Moraes, Orfeu da Conceição, que, por sua vez, transforma-se em outras duas versões, cinematográficas. Baseando-me em Jean Ricardou, pretendo discutir o caráter produtivo deste gerador de textos em que o mito se torna. Para além de um motivo originário, consagram-se, nas suas várias versões, a diferença textual e a reescrita cultural, geradoras de múltiplos sentidos.

 

OS CÓDICES DE GREGÓRIO DE MATOS E GUERRA QUE SE ENCONTRAM NA BIBLIOTECA HISTÓRICA DO ITAMARATY

José Pereira da Silva (UERJ)

A Biblioteca Histórica do Itamaraty detém cinco importantes volumes de códices atribuídos a Gregório de Matos e Guerra, um deles, constituído de 299 folhas, foi descrito pela primeira vez por James Amado, quando preparava a sua edição da Obra Poética de Gregório de Matos.

Fichado como L. 15-1 e intitulado "Matos Parnaso Poetico", está guardado no mesmo cofre 15 em que se encontram os outros volumes descritos abaixo.

Alguém escreveu no verso de sua primeira folha: "Estas poesias são de Gregório de Mattos. Talvez seja dellas a coll. Mais authentica; visto que athe a enquadernação parece estranha; e acaso feita na Bahia p. algum curioso".

Os outros quatro volumes constituem um único códice (num total de 1578 páginas), proveniente da biblioteca particular de Varnhagen, nome pelo qual se tornou conhecido.

No primeiro volume do códice Varnhagen consta: "Em que no princípio se inclui a sua escrita por um amante da sua memória: e depois apurada melhor por outro curioso Engenho."

Nos outros três volumes se lê: "De suas composições métricas, escritas e distribuídas aqui pela ordem e divisão dos metros".

É o códice mais utilizado para as antologias existentes; no entanto, apresenta falhas evidentes, como o fato de ali se encontrarem separados os ciclos de poemas.

A BHI não permite a consulta direta por estagiários nem a reprodução por microfilme ou scanner. Por isto, temos de utilizar cópias duplicadas de microfilmes feitos pelo Prof. Francisco Topa (da Universidade do Porto) que se encontram na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Por sorte, há uma edição "atualizada" dessas poesias, organizada pela Academia Brasileira de Letras, que nos guiará nesse trabalho de transcrição daqueles códices.

PARA UMA ISOTOPIA ANTROPOLÓGICA DOS ARQUÉTIPOS SEMIÓTICOS LUZ/SOMBRA EM LEONARDO DA VINCI E THOMAS A. EDISON

Sady Carlos de Souza Júnior (USP)

Propomos expor, a nível de comparação lingüístico-histórica, pressupostos pertinentes a uma relação sígnica de elementos coincidentes num plano de abordagem do signo, um lugar de exercício das questões elementares da linguagem, no nível figurativo da forma - comparações entre duas personalidades afins no tocante aos seus desprendimentos e realizações: são as autorizações de "Leonardo da Vinci (1452-1519)" e "Thomas Alva Edison (1847-1931)", que apresentam actanciais uniformes dentro de uma narratologia eqüidistante e semiótica. São personagens históricos, modelos conhecidos de nosso tempo. Se trata, aqui, de um arrazoado inicial sobre os textos/discursos em que eles aparecem - um primeiro impulso para investirmos relações coincidentes. Quanto maior o desenvolvimento desta "arqueologia discursiva", maior a formalização expressiva do seu conteúdo. Uma leitura do contexto histórico, possibilitou a constatação sintático-semântica, e semiológica, de relações entre os dois contextos amostrados. Outrossim, víamos que numa leitura inicial, para um controle maior de definição e aprimoramento das deduções, optamos inserir, em algumas citações descritas, ilustrações correspondentes, corroborando os dados tratados, cada um ao seu modo, sobre o contínuo "recorte" de objetos entre um personagem e outro. Imprescindível também o exercício da constatação das palavras-ocorrência relativas aos termos técnicos lingüísticos compreendidos como marca da atividade de cada ator figurativizado, contendo em cada registro quantitativo/qualitativo, seus desmembramentos em semas e sememas, que, avaliaria, desde logo, o grau e peso de cada associação atuante no discurso.

 

PECULIARIDADES SINTÁTICAS DA LINGUAGEM FALADA BRASILEIRA DO SÉCULO XX

Evandro Eduardo Franklin Braga (UERJ)

O português do Brasil nos domínios da sintaxe é o tema sobre o qual incidirá esta comunicação.

Pretende-se comprovar a existência de discordâncias entre a sintaxe brasileira e a portuguesa, através de um rol de peculiaridades sintáticas da linguagem corrente falada brasileira deste século e do registro de ingresso e permanência de algumas dessas peculiaridades na literatura e na escrita culta.

 

POLIFONIA EM JORNAIS DO RIO DE JANEIRO UMA ABORDAGEM PELO DISCURSO RELATADO

Décio Orlando Soares da Rocha (UERJ)

Cláudia C. dos Santos (UERJ)

Maria Helena V. da Costa (UERJ)

Mônica de Castro Guimarães (UERJ)

Este trabalho tem por objetivo discutir o papel desempenhado pelo discurso relatado no modo pelo qual os discursos da mídia impressa de informação constróem o que denominamos "efeitos de atualidade". Pretendemos colocar em questão o caráter necessariamente relativo da denominada "função de informação" reivindicada pela mídia, a partir do modo pelo qual se atualizam nesses discursos os enunciados que remetem a outras vozes.

O quadro teórico a que recorremos tem como ponto de partida as contribuições de Bakhtin, tendo em vista sua crítica às formulações que apresentam o discurso relatado em suas diferentes manifestações (discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre) como categorias estanques. O autor procede ainda a uma crítica do tratamento dispensado ao discurso indireto livre, recusando-se a ver em tal modo de captação da voz do outro a simples fusão do discurso direto e do discurso indireto. Nesse sentido, a reflexão possibilitada por Authier-Revuz vem relativizar o lugar ocupado por cada uma dessas categorias, propondo uma revisão crítica dos fenômenos que dizem respeito ao discurso relatado, incluindo-se em tal categoria a modalização em discurso segundo.

O corpus sobre o qual trabalhamos foi extraído da mídia impressa de informação, sendo privilegiado o tema da CPI dos bancos em quatro jornais de grande circulação (Jornal do Brasil, O Globo, Extra e O Dia). Como hipótese de trabalho, entendemos que a multiplicidade de efeitos de sentidos que verificamos resulta, em grande parte, dos dispositivos acionados por cada jornal visando à captação da voz do outro.

 

POR UMA ABORDAGEM FUNCIONAL DA ORDENAÇÃO SINTÁTICA NO PORTUGUÊS ARCAICO

Cíntia Faria de Souza (UFF)

Este trabalho insere-se em pesquisa do projeto integrado Discurso & Gramática da UFF: Marcação e iconicidade em construções complexas. Visa apontar algumas tendências acerca da disposição sintática do sujeito (S) e do objeto direto (O) face ao verbo (V) no Português Arcaico.

O levantamento das diversas posições assumidas pelos constituintes S, V e O baseia-se em Vita Christi, traduzido/adaptado para o português em 1495 – época em que não existia uma gramática padrão que pressionasse a língua normativamente, aproximando-se mais, assim, a linguagem escrita da oral.

Observando a ordenação dos constituintes oracionais, evidenciamos a atuação de um dos princípios básicos da perspectiva funcional norte-americana: a iconicidade, que propõe a relação função > forma como motivadora dos usos lingüísticos, com duas dimensões: distância e ordem. De acordo com o subprincípio da distância, entidades que se encontram mais próximas entre si no plano do conteúdo tendem a se aproximar no plano sintático. Assim, em grande parte das ocorrências, o objeto aparece unido ao verbo sem a interposição do sujeito, manifestando um certo processo de fixação da ordem. De acordo com o subprincípio da ordem, observa-se a existência de "cadeias tópicas", constituindo blocos em que a topicalização de O quebra a tendência considerada "natural" (SVO) e não marcada, enfatizando um constituinte em detrimento de outros. Na maioria das ocorrências tópicas, o objeto, deslocado para posição inicial, tende a apresentar rastros após o verbo.

 

PROBLEMAS DE EQUIVALÊNCIA DE TERMINOLOGIA EM PORTUGUÊS E EM ITALIANO

Flora Simonetti Coelho (UERJ)

Este trabalho faz parte de um projeto de pesquisa para a elaboração de um dicionário bilíngüe que oferecerá ao estudante de italiano nos diferentes níveis de aprendizagem uma informação, já não puramente lexicográfica, mas também técnico-científica, de modo que, ao esclarecer o significado de uma palavra desconhecida, lhes ajude a estudar e a assimilar o estudado, reforçando cada etapa do conhecimento e do saber.

Contribuirá para a educação lingüística de adolescentes e adultos com vistas ao bom desempenho nos estudos da língua italiana, incentivando o conhecimento reflexivo da realidade que os rodeia;

Ampliará o horizonte dos significados das palavras que deixam de reunir interpretações e experiências variadas e enriquecedoras da comunidade italiana;

Servirá aos graduandos, graduados e licenciados em italiano, bem como a todos que desejem aprofundar seus conhecimentos nessa língua e estabelecer um critério mais claro e melhor documentado acerca da mesma.

Esse dicionário oferecerá a possibilidade de encontrar a palavra exata, com mais de 15000 verbetes. Além disso, proporcionará ao seu leitor a oportunidade de deslindar o campo semântico de um mesmo vocábulo que possui diferentes significados, através de exemplos reais, tipicamente atualizados e contextualizados.

É imprescindível lembrar que a palavra tem significação não por si mesma, mas a partir de sua relação com o contexto.

Não se pode esquecer também que os sinônimos não se reduzem à equivalência de uma palavra a outra. Não raras as vezes um vocábulo tem por sinônimo uma expressão ou uma frase inteira.

 

PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO NO GRUPO INDÍGENA XERENTE

Jayme Célio Furtado dos Santos (UERJ)

Nesta comunicação pretendemos tratar da influência dos processos fonético-fonológicos detectados no ensino da língua portuguesa para aquele grupo, estabelecendo conexões entre as línguas. Tal abordagem resulta de um trabalho de campo ao longo de quatro anos em que convivemos com o respectivo grupo. Destarte, apresentaremos um breve resumo da estrutura da língua Akwe-Xerente, falada por um povo que vive às margens do rio Tocantins, naquele mesmo Estado.

 

PROCESSOS CONTEMPORÂNEOS DE FORMAÇÃO DE NEOLOGISMOS

Isabel Aparecida de Souza Stamato (UNESP)

O objetivo desse trabalho é o estudo dos processos de formação de itens lexicais novos – os neologismos no português contemporâneo do Brasil, por meio de um corpus extraído de revistas e jornais brasileiros de caráter informativo e que atingem expressivo número de leitores. Desse modo, os neologismos contidos nessas fontes têm a possibilidade de serem difundidos e de refletir os expedientes de criação lexical contemporâneos.

 

REFORMAÇÃO DE ALGUMAS PALAVRAS QUE A GENTE VULGAR USA E ESCREVE MAL

Mônica Álvarez Gomes das Neves (UFRJ)

A gramática de Duarte Nunes do Lião se apresenta como importante material para as pesquisas do Português quinhentista e do atual. O leitor de nosso tempo pode aproveitar vários aspectos abordados pelo autor como, por exemplo, o acento diferencial atual indicando metafonia (dentre outras coisas).

Ortógrafo propriamente dito, Duarte Nunes do Lião já tenta (e isso o difere de muitos) uma distância dos latinismos, embora ainda conserve a etimologia latina em muitas ocasiões, como a letra dobrada das palavras que assim são grafadas em latim etc. Duarte N. do Lião traz, sem dúvida, preciosa contribuição para os estudos de língua portuguesa.

Pretende-se aqui tecer algumas considerações a respeito de fenômenos ocorridos na deriva da língua portuguesa e na gramática de D. N. do Lião (Orthographia da lingoa portuguesa, 1576), baseadas na "Reformação de alguas palavras que a gente vulgar usa e screve mal".

 

RELEITURA CAMONIANA DO AMOR BÍBLICO EM SETE ANOS DE PASTOR JACÓ SERVIA

Carla da Penha Bernardo (UFRJ)

Pretendemos apontar alguns dos elementos singulares utilizados por Camões na releitura da célebre passagem bíblica referente ao amor de Jacó. No poema camoniano, embora havendo a retomada intertextual da Bíblia, o poeta se afasta de seu modelo em muitos pontos. Em uma leitura comparativa de ambos os textos, apontaremos algumas das razões da fidelidade ou da infidelidade do poeta lusitano.

 

SÉCULO XX = O SÉCULO DA CONTROVÉRSIA NA LINGÜÍSTICA APLICADA E NO ENSINO DE GRAMÁTICA

Maria Alice Capocchi Ribeiro (UERJ)

Este trabalho apresentará as diferentes correntes lingüísticas que permearam este século e seu impacto no ensino de gramática. Serão apresentados os conceitos teóricos que embasam as diferentes visões de língua (e suas respectivas abordagens ao ensino de línguas e à gramática) propostas por Saussure, pelo movimento formalista (abordagens estrutural e funcional) e pelo movimento anti-formalista (abordagem comunicativa), bem como alguns exemplos da teoria na prática de ensino.

O embasamento teórico apresentará também considerações sobre a influência do pensamento científico da época e de outras disciplinas (Psicologia, Sociologia, Etnografia, etc.) nas correntes lingüísticas deste século.

A conceitualização teórica permitirá a análise dos diferentes métodos empregados no ensino de língua e sua relação com o ensino da gramática.

 

SIMETRIA E DISSIMETRIA DAS PREPOSIÇÕES PRÓPRIAS NA TRADUÇÃO PORTUGUÊS-ITALIANO

Alcebíades Martins Arêas (UERJ)

Uma mesma preposição pode estabelecer relações diversas ( Vado dal medico/ Vengo da Roma/ Leonardo da Vinci ). Por isso mesmo, os estudantes lusofônicos encontram muitas dificuldades no uso/tradução das preposições. A causa dos erros ou escolhas inadequadas depende, com freqüência, da interferência que a L1 exerce sobre a L2, quando os dois sistemas diferem, em parte ou no todo, na maneira de exprimir determinadas relações. No caso do português e do italiano, as coincidências superam os contrastes: apesar disso, consideramos ser útil examinar não somente as dissimetrias ( uso de diversas preposições em italiano e em português para exprimir a mesma relação), como também, as simetrias totais ( uso das mesmas preposições em italiano e em português para expressar a mesma relação).

 

TRADUZINDO ESFORÇOS EDUCAÇÃO E LINGUAGEM RUMO AO SÉCULO XXI

Gabriele Greggersen (USP)

Grande parte dos desafios do educador de hoje passa pela questão da linguagem: como administrar a grande variedade de significados? Que tipo de diálogo privilegiar com o aluno, que linguagem utilizar?

Essa problemática evidencia-se no trabalho de tradução. O tradutor, mais do que ninguém, sabe como é difícil manter um sentido, apesar da variedade do contexto. E, o que é um educador, se não um "tradutor" de significados?

C. S. Lewis (1898-1963), catedrático de literatura renascentista e medieval das universidades de Oxford e Cambridge, tem muito a contribuir a esse debate, com o seu estudo do fenômeno de "entropia" ou lei da depreciação do sentido das palavras.

A pouco explorada importância da linguagem na educação, tem gerado insistências nos discursos da área: na década passada enfatizava-se a denúncia do elitismo, da massificação e a valorização das capacidades individuais; hoje há uma busca pela unidade, através de discussões em torno de um Projeto Pedagógico, Parâmetros Curriculares Nacionais, Planos de "Uma Escola Só para Todos", etc.

Para Lewis, ao tratamos de assuntos complexos, é preciso distinguir os níveis da discussão, o sentido que se está atribuindo aos termos: o mais essencial e o secundário ou relativo. A palavra happiness, por exemplo, guarda relação tanto com happen, quanto com per hapst.

A partir desse e outros exemplos, buscaremos destacar indicativos importantes para capacitar o orientador, que é o educador do próximo milênio, a fazer frente aos desafios do novo milênio.

 

ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO?

Sérgio Paulo Gomes de Vasconcelos

O objetivo deste trabalho é apresentar a história da chegada dos romanos e da língua latina à Península Ibérica. Mostrar que, ao contrário da crença comum, a chegada deu-se pela África e não por expedições que atravessaram o Norte da Itália e a região hoje conhecida como França. Para corroborar os fatos históricos, mostraremos que estruturas existentes na língua portuguesa são características do latim falado à época da chegada dos romanos à península.

 

UMA ABORDAGEM DISCURSIVO-FUNCIONAL DA INTEGRAÇÃO SINTÁTICA NAS ORAÇÕES OBJETIVAS DIRETAS

Ângelo S. Farias (UFF)

Sebastião Josué Votre (UFF)

O trabalho aqui resumido é parte das pesquisas do grupo de estudos Discurso & Gramática da UFF e UFRJ, referente ao projeto integrado Marcação e iconicidade em construções complexas: a base cognitiva da gramaticalização.

Norteados pelos princípios funcionalistas de Givón (1995), segundo os quais a função motiva a forma, ou seja, à luz da iconicidade e de seus subprincípios: proximidade, quantidade e ordem, objetivamos analisar a integração sintática das orações objetivas diretas reduzidas. Focalizaremos mais precisamente as estruturadas com os chamados verbos auxiliares causativos e com os denominados sensitivos.

Para nós, a forma infinita dessas orações reflete a ascensão a um estágio de maior fusão sintático-semântica dentro do continuum estabelecido por Hopper e Trougott (1993), com três níveis, a saber: o da parataxe, o da hipotaxe e o da subordinação. Dentre as orações subordinadas, muitas se encontrariam no estágio da hipotaxe, menos integradas. Já as aqui analisadas estariam no estágio da subordinação, mais dependentes e encaixadas. Esta fusão apresentar-se-ia, sobretudo, como conseqüência da referida relação função – forma, consoante a qual as formas mais integradas no plano das idéias se realizaram do mesmo modo na fala e nos textos escritos dos falantes.

Tentaremos, então, descrever funcionalmente as motivações e alterações dessa junção avançada, partindo da análise das construções em narrativas de experiência pessoal do "Corpus D & G - A língua falada escrita na cidade de Niterói".

 

UMA ABORDAGEM LÉXICO-SEMÂNTICA DO PAI-NOSSO

Jaciara Ornélia Nogueira de Oliveira (UCSal)

Utilizando o texto do Evangelho de São Mateus no qual está inserida a oração do Pai-Nosso, extraído de : - Evangile de Saint-Mathieu VI,6,8,9-13, éd Klaus Heger, Romanische Paralleltexte , 1967 - faremos um estudo léxico semântico de vocábulos do texto em questão e alguns dos seus derivados, analisando as mudanças, sobretudo de conceitos, ocorridas na passagem do Latim para as línguas românicas, especialmente o sardo, o italiano, o francês, o espanhol e o português .

 

UMA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO DE PROPAGANDAS DO LLOYDS BANK E DO BANCO DO BRASIL

Sabrina Silveira de Souza Jorge (UFSC)

Muitos estudos têm sido feitos sobre textos publicitários sob a perspectiva da análise crítica do discurso. Com enfoque em um tipo específico de propaganda, o intuito desta pesquisa é fazer um estudo comparativo de folders bancários do Banco do Brasil (no Brasil) e do Lloyds bank (na Inglaterra). Com base nos conceitos de Fairclough que avaliam o discurso como prática social, o objetivo deste estudo é fazer um contraste do tipo de relação que os participantes mostram nos textos assim como a identidade apresentada pelas instituições bancárias. Outro aspecto a ser observado é a ideologia usada neste tipo de material e o quanto a mesma pode ser persuasiva. Com base na gramática funcional de Halliday, as sentenças dos textos são analisadas de acordo com a sua estrutura léxico-gramatical. Mais especificamente, através do sistema de transitividade, são analisados os tipos de processos encontrados no texto, o envolvimento dos participantes nestes processos a as circunstâncias nas quais tais processos são realizados. Resultados parciais mostram que, ambas as instituições se referem ao público de uma maneira informal. No entanto, enquanto o Lloyds bank expressa uma maior preocupação com a vida de seus clientes, o Banco do Brasil tenta alcançar os seus clientes através de uma linguagem mais enfática e direta, deixando-os sem muito tempo para refletir á respeito das ações a serem tomadas por eles.

 

UMA LEITURA DE HOMBRE DE LA ESQUINA ROSADA, A LUZ DA ANÁLISE DO DISCURSO

Cristina de Souza Vergnano Junger (UERJ)

A Análise do Discurso de linha francesa, é considerada como uma disciplina que procura articular a enunciação do discurso, relacionando-o a um lugar social. Questões como a caracterização do enunciador, seu co-enunciador, tempo e espaço da enunciação, a eleição do código lingüístico, o lugar, papel e ethos dos participantes são focos de seus estudos.

Quanto ao discurso literário, poderíamos introduzir uma discussão relacionada à necessidade de considerar dois "planos" enunciativos: um cujo o enunciador seria o autor e outro, o de sua criação, com seus enunciadores e co-enunciadores próprios.

No caso do conto "Hombre de la esquina rosada", ao tratar da cenografia do primeiro "plano", teríamos Borges (enunciador) no lugar de autor, enunciando seu discurso na Argentina (espaço) do período de 1933-1934 (tempo) para os possíveis leitores (co-enunciadores). As seleções feitas para o tema, código lingüístico (profundamente regionalista) e forma de contar a história, bem como os seus participantes (enunciador e co-enunciadores) só poderiam estar presentes, com esse resultado (conto), neste contexto, estando ao mesmo tempo elementos relacionados ao enunciado como produto e à legitimação da enunciação (processo).

Já, no nível da obra, vamos ter como enunciador uma figura associável à do "contador de histórias", um "eu" não nomeado, mas cuja imagem pode ser reconstruída pela narração; um espaço que se identifica com um bairro de periferia argentino, num tempo presente, narrando fatos passados no mesmo local há muito tempo atrás, a um co-enunciador que, inicialmente, associamos a ouvintes e, ao final, é apresentado como o próprio Borges.

 

UTENSÍLIOS DE COZINHA PORTUGAL SÉC. XVI / BRASIL SÉC. XX

Celina Márcia de Souza Abbade (UNEB/UFBA)

Tentar-se-á fazer umas abordagem dos vocábulos que designam os utensílios de cozinha utilizados em Portugal no século XVI e, a partir daí, verificar-se-á a sobrevivência desses vocábulos na língua portuguesa do Brasil atual.

Serão utilizados como textos de base, os do Livro de Cozinha da Infanta D. Maria na edição crítica de Giacinto Manuppella (feita a partir do Códice português I.E.33 da Biblioteca Nacional de Nápoles e publicada em Lisboa, pela Imprensa Nacional / Casa da Moeda. em 1986), relativos ao século XVI e os do A Comida Baiana de Jorge Amado ou O Livro de Cozinha de Pedro Archanjo com as Merendas de D. Flor, de Paloma Amado, relativos ao século XX, publicado em 1994 em São Paulo, pela Maltese.

 

VARIABILIDADE NA TRAJETÓRIA DO PORTUGUÊS UMA ABORDAGEM FUNCIONAL

Mariângela Rios de Oliveira (UFF)

Na perspectiva teórica funcionalista, a variabilidade é entendida como uma das etapas de mudança cumpridas pelas formas lingüísticas em sua trajetória de regularização ou convencionalização gramatical. De acordo com tal abordagem, as camadas concorrentes ou variantes, segundo Hopper (91), são entendidas como referentes em competição num estágio do continuum de gramaticalização. Através de exemplos de variação na diacronia do português, de sua fase primeira até os dias de hoje, procuramos demonstrar a marca histórica da variabilidade e suas conseqüências para a configuração dos estágios lingüísticos subseqüentes. Tomamos como corpora a série de seis volumes organizada por Spina (87) História da língua portuguesa, para a análise diacrônica, e a coletânea Corpus Discurso & Gramática – A língua falada e escrita na cidade do Rio de Janeiro, organizada por Votre e Rios de Oliveira (95), para a investigação sincrônica.

 

VIDAS SECAS E A LINGUAGEM DA SEDE

Eliane Rodrigues da Costa Viana (UERJ)

O objeto deste trabalho consiste numa abordagem sintático-estilística de alguns capítulos do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, através do qual procuraremos mostrar a sede como a grande "tortura" que percebemos em todo o romance, onde o autor transporta os elementos distintivos do espaço e dos personagens para a linguagem. Partiremos da análise das principais características da linguagem apresentada na narrativa: o falar coloquial e regional dos personagens; a predominância de orações coordenadas; as frases e períodos curtos. Identificaremos assim, no desenvolver da narrativa e, principalmente, na fala dos personagens, a linguagem lacunosa, truncada, seca, retratando a realidade da sede no sertão nordestino.

 

A SEMÂNTICA NA OBRA DE SÍLVIO ELIA

Castelar de Carvalho (ABF/UFRJ)

A semântica da expressão e a orientação idealista vossleriana na redefinição do fato lingüístico presentes na obra de Sílvio Elia. A visão da língua como criação e expressão do espírito humano. Causa e condição nos condicionamentos recíprocos Lingüística/Estilística. Visão da linguagem com conteúdo e significação, como pensamento verbalizado.

 

AS POESIAS DE ANCHIETA EM PORTUGUÊS

Leodegário Amarante de Azevedo Filho (ABF/UERJ/UFRJ)

Na conferência, inicialmente serão consideradas quatro teorias que buscam explicar as origens da literatura brasileira. Em seguida, defendendo-se o ponto de vista de que a estética jesuítica, com Anchieta à frente, está não apenas nas origens de nossa literatura, mas também nas origens da própria cultura brasileira, o conferencista dará início à apresentação da obra poética do piedoso jesuíta, mostrando que ela gira em torno da programação artística do Concílio de Trento, pela qual se insere na órbita barroca. Serão lidos e comentados textos de poesias de Anchieta.

 

MARCAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER NA LÍNGUA PORTUGUESA

José Lemos Monteiro (UNIFOR/UFC/UNECE)

Este estudo parte do pressuposto da existência de uma relação íntima entre língua e cultura, muito mais profunda do que se imagina. O próprio sistema lingüístico, em função disso, reflete de certo modo os padrões de comportamento social variáveis no tempo e no espaço, o que explica os fenômenos de diversidade e até mesmo de mudança lingüística.

Assim sendo, partindo dessa idéia tão simples de que a língua é um espelho da sociedade e de uma constatação tão óbvia de que a nossa cultura é extremamente machista, não parece difícil encontrar indícios da discriminação contra a mulher enraizados na forma como as pessoas costumam usar o português.

Os indícios que analisamos se relacionam basicamente com a formulação das regras de concordância nominal, a ordem dos termos na frase, a relação gênero e espécie, o sistema de pronomes de tratamento, a degradação semântica nos nomes de gênero feminino, o registro nos dicionários, as expressões de insultos e ofensas, os provérbios e ditos, a marca de feminino nos derivados apreciativos, os termos designativos de cargos ou profissões, bem como uma série de conotações negativas associadas à expressão do gênero feminino em português.

Os fatos apresentados, de tão abundantes e evidentes, permitem concluir que o português não oferece o mesmo tratamento para as noções de masculino e feminino, o que sem dúvida pode ser interpretado como um reflexo da discriminação social que sempre existiu contra a mulher.

 

A INFLUÊNCIA DO LATIM NO LÉXICO INGLÊS

João Bittencourt de Oliveira (UERJ)

Na apresentação deste trabalho, procuraremos abordar a contribuição do Latim no enriquecimento do léxico inglês, hoje aceito senão como a língua universal, pelo menos como a língua internacional.

Basta uma ligeira análise do léxico inglês para que logo se conclua tratar-se de uma língua híbrida: basicamente seu vocabulário constitui-se de elementos anglo-saxões e latinos.

Em sua fase primitiva, eram os dialetos anglo-saxões pobres e rudes, servindo somente para a expressão das necessidades da vida doméstica, pastoril, agrícola ou guerreira, em cujos setores se desenrolavam então as atividades do povo inglês.

Muito antes de os romanos alcançarem as ilhas britânicas, tribos germânicas do Continente já haviam adquirido um número razoável de palavras latinas. Diferentes de muitos empréstimos posteriores, a maioria desses termos se referiam a assuntos militares, comércio, agricultura ou a certos requintes da vida que os povos germânicos haviam adquirido através de um contato bem íntimo com os romanos desde pelo menos o início da Era Cristã.

Com a chegada de Santo Agostinho, em 597, a influência do Latim se torna mais acentuada. As palavras introduzidas pelos missionários eram, em sua maioria, de origem grega, porém, já que haviam sido latinizadas, podem ser tratadas como tal.

Após a Conquista Normanda (1066), o influxo de palavras latinas através do francês contribuiu para a duplicação do léxico inglês para cerca de 100.000 itens, em vários domínios semânticos

Ao final do Renascimento, o aumento do vocabulário de derivação clássica, especialmente do Latim, mais uma vez havia duplicado o tamanho do léxico inglês

 

A INTERAÇÃO LINGÜÍSTICO-CULTURAL DE ROMANOS E GERMANOS

Antônio Hauila (UFRJ)

Ao longo da História romanos e germanos conviveram lingüística e culturalmente desde o remoto século V da nossa era, ocasião em que o império romano foi partilhado pelos germanos. Em 813 o Concílio de Tours já recomendava aos seus bispos e diáconos que traduzissem seus sermões na língua romana rústica ou na língua dos germanos, para que todos compreendessem o que se dizia. Nesse mesmo ano os mundos e as culturas romano-germânicas estabeleciam tratados de mútua cooperação transcrevendo-os na "teudisca e romana linguae", como é exemplo os Juramentos de Estrasburgo, documento mais antigo em língua vulgar, tanto da Aquitânia (França) como da Baviera e da Boêmia (Alemanha), códice que até hoje merece a atenção lingüística de romanistas e germanistas.

 

A LÍRICA DE CAMÕES E A CRÍTICA TEXTUAL

Marina Machado Rodrigues (UERJ/ABF)

A importância da crítica textual para uma edição da Lírica de Camões. As questões autoral e textual: dois problemas. Etapas de uma edição crítica. A reconstituição textual. Confronto entre as tradições manuscrita e impressa.

 

A PREOCUPAÇÃO DO TROCADILHO ITALIANO TRADUÇÃO E TRAIÇÃO É UMA CONSTANTE NO ATO DE TRADUZIR

Flora Simonetti Coelho (UERJ)

Tradução, para alguns, é uma reformulação de uma mensagem num idioma diferente; para outros é condução do leitor através de um código lingüístico determinado; para a maioria é também coisa mecânica.

Tradução, no entanto, é uma verdadeira arte; e o tradutor é um artista sui generis. Quando se pronuncia o famoso trocadilho italiano tradutor-traditori se ironiza a mensagem e surgem, conseqüentemente, diversas polêmicas interpretativas. Há, de fato, línguas que apresentam verdadeiras armadilhas e grandes obstáculos para o ato tradutório a tal ponto que o tradutor poderia criar uma ardilosa artimanha lingüística.

A problemática de tradução e do tradutor consiste na arte de surpreender e compensar as dificuldades de adaptação e de comprovação da veracidade textual. A veracidade textual de uma língua de partida ou o material textual de uma língua de chegada são fatores para tal objetivo.

Traduzir é ser capaz de captar as infinitas ressonâncias de cada palavra, de cada movimento do pensamento, de cada batida de coração e saber comunicá-lo ao leitor.

A tradução rompe barreiras lingüísticas e, sendo uma atividade dinâmica, possui a instabilidade e a variedade da linguagem em geral. Sendo dinâmica, é algo em transformação.

E a propósito, a definição de Benvenuto Tarracini parece muito significativa, quando nos diz: "... in un certo senso, fare uso del linguaggio è già tradurre; fu detto che ascoltare e capire colui che parla è trasportare il suo pensiero nel nostro." E continua Terracini: " Se l'esercizio del parlare si può considerare un dialogo, il dialogo è sempre una forma di dramma velata o evidente, urto ad un tempo e fratellanza di due individualità in cerca di una concordia fatalmente discorde, dramma che affonda in quell'antinomia tra universalità e soggettività che sta alle radici del problema della comprensione linguistica, e non linguistica soltanto.

 

ANTROPÔNIMO: A METONÍMIA DO PODER, DA LIBERDADE, DA COERÇÃO

Aileda de Mattos Oliveira (FGS)

São diversos os caminhos que o estudo da antroponímia oferece ao pesquisador; por isso, optou-se por aquele que se circunscreve ao nome como determinador do próprio comportamento ético do nomeado dentro de seu grupo social, nome e comportamento que afetam, em muitas circunstâncias, grupos sociais diferentes, levando os integrantes destes últimos, a perceberem diferenças de direitos e deveres entre os homens. Considerou-se, então, que nomear não significa tão-somente identificar, mas assinalar determinados indivíduos, transferir-lhe, com o nome recebido em batismo uma herança de poder, de liberdade, de coerção. Outros, não seriam assinalados, mas marcados pelo estigma da sujeição, da limitação, da inação. A magia que cerca determinados antropônimos induz o estudioso do assunto a refletir sobre o fato de determinados nomes pessoais se preencherem de significados, tornando-se autônomos, libertando-se dos próprios indivíduos que, um dia, nomearam. Não se teria, nesse caso, um estudo etimológico do nome, mas uma análise da semântica social, da semântica comportamental, da semântica econômica.

 

AS BASES HISTÓRICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL

Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)

Portugal no século XVI: o descobrimento do Brasil. Transplantação e implantação da língua portuguesa no Brasil. A colonização, os jesuítas e os índios. A linguagem do colonizador e a linguagem do colonizado. A escravidão negra e os falares africanos. As reformas pombalinas e seus efeitos no bilingüismo. O espírito nacionalista em prol do estabelecimento da língua nacional brasileira: principais figuras e a defesa de seus ideais.

 

EMPRÉSTIMOS LEXICAIS RECENTES DO INGLÊS AO PORTUGUÊS DO BRASIL

Alfredo Maceira Rodríguez (UCB)

Um grande influxo de elementos lexicais do inglês vem ocorrendo nas últimas décadas em diferentes áreas de atividade, principalmente naquelas mais expostas à influência da modernidade. Esta penetração se intensifica a cada dia, justificando-se alguns itens lexicais por corresponderem a representações sem equivalente na língua portuguesa, mas, na maioria dos casos, a língua dispõe de significantes que podem traduzir a contento qualquer novo significado. Essa enxurrada de novos empréstimos já vem preocupando há tempo os defensores do vernáculo, mas, até agora, o fluxo não parou de crescer.

Examinaremos a maneira como esses novos empréstimos se comportam na língua receptora. Alguns são introduzidos com a pretensão de serem usados sem qualquer alteração fonética ou gráfica, como uma extensão da língua e país de origem; outros sofrem alteração parcial, particularmente adaptações gramaticais (plural analógico, adoção de gênero, etc.); outros ainda se incorporam como decalques, aproximando-se mais à estrutura da língua portuguesa.

 

INFLUÊNCIAS LEXICAIS DO LATIM NO ALEMÃO MODERNO UM PASSEIO HISTÓRICO-LINGÜÍSTICO

Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)

Desde os primeiros contatos entre romanos e germanos, estabeleceu-se paulatinamente o fundamento de uma interrelação entre o sermo latinus e a thiudiska lingua, que, em um primeiro momento, levou César e Tácito a registrarem termos germânicos e, posteriormente, na Antigüidade Tardia e na Alta Idade Média, mais especificamente a partir do século VIII, propiciou a compilação de glossários e dicionário bilíngües latim antigo/alto alemão. Nesta fase surge o primeiro estágio da língua alemã, que até os dias de hoje possui no latim um riquíssimo repositório não apenas lexical, porém acima de tudo cultural, sobre o qual rapidamente teceremos algumas considerações em nossa discussão.

 

O "HOMENS ASSENTADOS" DAS MARGENS DO SÃO FRANCISCO

Salatiel Ferreira Rodrigues

O trabalho que ora apresentamos não resultou efetivamente de uma pesquisa previamente planejada. Surgiu de um contato ligeiro e casual que tivemos com os falantes da comunidade de Belém do São Francisco, à margem esquerda do rio. Estávamos à procura de um tio, pescador de profissão, que não víamos há muitos anos. As pessoas a quem nos dirigimos com perguntas sobre onde e como encontrar o Manuel Lino responderam-nos em uma linguagem rica em características peculiares: "Quale ele o Manuele?" A partir daí, fomos registrando, em cima do joelho, realizações como Siliveira (por Silveira), tiriscá (por triscar), pariceiro (por parceiro), porocotó (por procotó). O Alongamento de palavras através do desenvolvimento de uma vogal paragógica, epentética ou protética, com muita freqüência, nos fez pensar no falar dos "homens assentados", que Mário Marroquim encontrou no Nordeste.

 

O MUNDO ROMANO E AS INVASÕES GERMÂNICAS

Edison Lourenço Molinari (UFRJ)

Os primeiros contatos entre os romanos e o mundo germânico ocorreram no final do século II A.C., quando o general Caio Mário teve de combater e derrotar os Teutões e os Cimbros que ameaçavam as fronteiras do mundo latino.

Durante as campanhas da Gália (58 - 51 A.C.), Júlio César derrotou Ariovisto, o chefe dos germanos suevos.

Durante o governo de Augusto, porém, Quintílio Varo não teve o mesmo sucesso, perecendo numa emboscada armada pelos queruscos, em Teutoburgo.

Em 476, os hérulos chefiados por Odoacro depuseram Rômulo Augústulo, último imperador do Ocidente.

Dentre os inúmeros grupos germânicos que conquistaram os territórios ocidentais do Império Romano, destacamos:

1. os visigodos que se estabeleceram na Península Ibérica;

2. os longobardos que se estabeleceram na Itália, mas foram incorporados ao reino dos francos por Carlos Magno;

3. os francos que se estabeleceram na Gália, unificada pelo rei Clóvis. No século VIII, Carlos Magno fundou em seu palácio uma escola de artes liberais sob a direção de Alcuíno de York e fundou um império mundial de bases latinas.

O conhecimento dos germanismos que ingressaram no latim em decorrência das grandes invasões se deve em grande parte aos glossários, entre os quais citamos a segunda parte das Glosas de Reichenau.

A coleção intitulada Monumenta Germaniae Historica (MGH) reúne as obras de vários autores ligados ao mundo germânico.

 

O PÓS-MODERNISMO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

As principais características que norteiam as histórias em quadrinhos (e conseqüentemente, os desenhos animados) na era pós-moderna. A ultra-violência: Ranxerox e Lobo. A estupidez glorificada: Groo e Two Stupid Dogs. O herói aprisionado do lado de fora: Spawn e Silver Surfer. Observadores à espera do Renascimento: Watchmen. Conclusões.

 

POMOSEXUALS A LITERATURA PÓS-MODERNA DAS MINORIAS SEXUAIS

Eliane Borges Berutti (UERJ)

Ao se tratar de literatura norte-americana contemporânea, o estudo das literaturas das minorias faz-se necessário. A partir das revoltas de Stonewall (1969), as minorias sexuais têm reivindicado não apenas participação política na sociedade norte-americana mas também inclusão no cânon literário. A teoria queer, desenvolvida nos anos 80 e 90, também tem contribuído para o estudo da literatura de minorias sexuais. Como exemplo da qualidade e relevância dessa literatura, posso citar o escritor Michael Cunningham, contemplado com o prêmio Pulitzer por seu romance The Hours. Nesta comunicação, analisarei contos dessa produção literária, ressaltando sua contribuição lingüística para o pós-modernismo.

 

PÓS-MODERNISMO E CINEMA

Emmanoel dos Santos (UFRJ)

A pergunta inevitável: o que é pós-modernismo? A difícil apreciação do pós-modernismo como problema teórico. Os vários pós-modernismos. Um percurso por vários autores em lista que não esgota as fontes. O reconhecimento do pós-moderno remetido ao reconhecimento de um estilo e de uma sensibilidade. A arquitetura como referência: o que se entende como "presença do passado". A caracterização do pós-modernismo por meio de referência temporal: apelo a exemplos do cinema para recusar esse enfoque. O pós-modernismo em cinema claramente caracterizado.

 

REGOS E BURACOS

Antônio Leite Martins (FAHUPE/SUAM)

Publicado no Rio de Janeiro em julho de 1990 no jornal A Tribuna do Advogado (Transcrito de O Correio de S. Francisco - Juazeiro - BA - 1906)

Trata-se de um texto regulador de "posturas" que é o poder de polícia da Administração Pública para restringir e condicionar o uso e gozo dos direitos individuais em benefício do bem-estar geral.

Discurso interessante, apesar de ser uma peça técnica, no qual merecem destaque os aspectos morfológico, sintático, semântico e sociológico.

É o que pretendemos analisar neste - hoje curioso - documento que ditava normas, dentre outras: a) proibição da venda de leite com água ou água com leite; b) cantadores de modinhas desafinadas tarde da noite... cadeia...; c) ninguém poderá andar armado... ... nem de pau na mão de noite que é perigoso.

São alguns dos princípios estabelecidos no edital.

 

SÃO OS NOMES PRÓPRIOS PUROS "SIGNIFICANTES"?

Maria Lúcia Mexias Simon (USS / UVA)

As frases feitas incluem-se nas chamadas lexias, isto é, unidades lexicais que o falante tem em sua memória em virtude de ser membro de determinada comunidade lingüística. Contribui para o colorido das frases feitas a presença de topônimos ou antropônimos, como elemento de comparação. Toma-se um elemento concreto, mesmo fictício, para simbolizar uma situação abstrata, um ensinamento, uma lei de conduta, que, se for aplicada a esse ser nomeado (real ou imaginário), pode-se, por extensão, aplicar-se a todas as pessoas. A escolha dos antropônimos citados prende-se, unicamente, a questões de sonoridade, de ritmo, métrica e rima, pelo menos sincronicamente. Se há, na origem da expressão, um fato real que justifique essa escolha, é, na imensa maioria dos casos, impossível de se comprovar, a não ser que se criem teorias mais ou menos fantasiosas. Nota-se, porem, preferência por nomes bíblicos ou nomes de santos populares, o que dá à regra de conduta um valor verdade de fundo vagamente religioso.

 

SEMIÓTICA APLICADA À RENOVAÇÃO DO ENSINO DO PORTUGUÊS

Darcília Marindir Pinto Simões (UERJ/SUESC)

O presente trabalho pretende apresentar um breve roteiro para reflexões sobre a importância da ciência semiótica no ensino da língua portuguesa. Pretende-se dinamizar o processo de ensino-aprendizagem do vernáculo, dando-lhe uma dimensão miltissígnica. Por intermédio da Semiótica de Peirce, sobretudo explorando-se a tríade ícone, índice e signo, vimos tentando fazer análises diversas de textos híbridos quanto á natureza do signo por meio do qual é construído, com vistas a alargar a capacidade de interpretação na formação de nossos leitores. Focalizamos, assim: a questão do signo híbrido e da sinestesia; a visão ultrapassada da hegemonia do código verbal e a possibilidade de cruzarem-se dados da lingüística, da semiótica e da gramática da língua na construção de uma visão eminentemente estilística da produção textual em português, seja ela literária ou não.

A PARTICIPAÇÃO DE MARANHENESES NA ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOLOGIA

Antônio Martins de Araújo (ABF/UFRJ)

Rosalvo do Vale (ABF/UFF)

Com quatro ilustres maranhenses entre seus patronos: Antônio Gonçalves Dias, Francisco Sotero dos Reis, Filipe Franco de Sá e Hemetério José dos Santos, a Academia Brasileira de Filologia, através dos tempos, vem contando com o concurso de vários maranhenses radicados na cidade do Rio de Janeiro, a saber: Petrônio Mota, Orlando da Fonseca Pires, Jesus Bello Galvão, Rui da Cruz Almeida e Antônio Martins de Araújo. Será interessante conhecer-lhes as obras.

 

ASPECTOS DIALETOLÓGICOS DO PORTUGUÊS DO BRASIL

Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)

A língua portuguesa transplantada pelos colonizadores portugueses no século XVI era o galego-português, língua de grande prestígio internacional na época, não apenas em razão de ser usada por um povo que se encontrava em pleno desenvolvimento econômico por força dos grandes descobrimentos marítimos, mas também por ser a língua dos trovadores medievais portugueses, de onde floresceram memoráveis produções poéticas: as Cantigas d’amigo, d’amor, d’escárnio, de mal dizer, em paralelo a uma prosa respeitada, sobremaneira a voltada para o teatro vicentino.

Em contacto com a língua dos nativos, e, posteriormente, com as diversas línguas dos escravos afro-negros, a língua portuguesa foi aos poucos tomando variadas características, havendo ocasião em que não mais se falava o português, mas uma mistura de tupi e dialetos africanos, o que levou as cortes de Lisboa a adotarem medidas enérgicas, através do Marquês de Pombal, proibindo o uso de qualquer outra língua no Brasil que não fosse a portuguesa.

Dessa miscigenação lingüística, tivemos, então, na língua portuguesa usada no Brasil, um aspecto polimórfico. Notam-se evidentes diferenças no plano fonético, morfológico, sintático, lexical e também semântico em comparação com o português de Portugal, evidenciando-se maior ênfase no plano prosódico ou supra-segmental.

A estrutura lingüística, contudo, é a mesma, permanece incólume.

 

LÍNGUA GALEGA

Valéria Gil Condé (USP)

Objetivo: difundir a língua e cultura galegas; analisar o estágio atual da língua.

Ementa:

  1.  

  2. História Social da Galícia: séculos XIV ao XX.

  3.  

  4. O Conflito lingüístico na Galícia.

  5.  

  6. Os movimentos lingüísticos atuais.

  7.  

  8. Alguns pontos gramaticais.

  9.  

  10. Leitura de textos literários.

SÍLVIO ELIA E O ESTUDO DO PORTUGUÊS DO BRASIL

Hilma Pereira Ranauro (UFF/ABF)

Com esse minicurso, a Profa. Dra. Hilma Ranauro, pesquisadora da vida e da obra do saudoso mestre, busca destacar contribuições de Sílvio Elia ao estudo do português brasileiro: publicações, trabalhos apresentados em Congressos, informações colhidas em entrevistas e em depoimentos de outros estudiosos.

Busca a professora apresentar as interpretações de Sílvio Elia quanto à transplantação e implantação da língua portuguesa no Brasil, à contribuição indígena, à influência afro-negra, à questão da "língua brasileira" (do Romantismo ao Modernismo), aos estudos dialetológicos no Brasil (unidade e variedade panbrasileira), bem como suas posições com referência a uma política do idioma, contra a "oralização" e o "abastardamento do padrão culto da língua".

 

ANOTAÇÕES SOBRE A GRAMMAIRE DU SENS ET DE L’EXPRESSION, DE PATRICK CHARAUDEAU

Claudio Cezar Henriques (UERJ)

O objetivo desta comunicação é apresentar alguns comentários sobre a Grammaire du sens et de l’expression, de Patrick Charaudeau, reportando-nos a exposições e conteúdos da obra e partindo da afirmação do autor de que a linguagem é o material que permite ao homem construir o sentido no mundo e estabelecer uma comunicação com o outro, pois é ela sentido, expressão e comunicação, não sendo sucessivamente nem uma coisa nem outra, mas as três a um só tempo.

Esse é seu argumento para elaborar uma gramática do sentido e da expressão, que se interessa em descrever os fatos da linguagem em função de três condições: a primeira se refere às intenções do sujeito falante, as quais são suscetíveis de exprimir, o que requer que os diferentes sistemas da língua sejam reagrupados ao redor dessas intenções; a segunda se refere às instâncias comunicativas que os fatos da linguagem revelam, o que exige que os diferentes sistemas da língua sejam tratados do ponto de vista do sentido; a terceira se refere aos efeitos do discurso que os diferentes sistemas da língua podem produzir, o que exige que os variados registros de uso lingüístico sejam passados em revista, e não apenas os usos literários.

Se, por um lado, uma gramática com essas características só é possível na hipótese de resolver o problema da diversidade das teorias lingüísticas, por outro ela precisa levar em conta a existência de uma tradição gramatical essencialmente escolar, para pôr em cena uma gramática morfológica para descrever as partes do discurso (formas e sintaxe) e os componentes da frase (proposições), sempre ajudada por uma nomenclatura que esteja totalmente incorporada pelos usuários escolarizados da língua.

 

AS BARREIRAS LINGÜÍSTICAS E O ESPERANTO

Sylla Magalhães Chaves (EBAP/FGV)

A língua como janela para observarmos o mundo. A língua como elemento essencial das relações humanas. As barreiras lingüísticas: no funcionamento das organizações internacionais; na realização de congressos e encontros; no ensino primário, secundário e universitário; no aprimoramento literário; e na evolução da ciência. Língua e direitos humanos. Vantagens da leitura no texto original. Vantagens e limitações das traduções por computador. Tendenciosidade no fluxo das traduções no mundo. Viabilidade do uso internacional de uma língua planejada como língua-ponte. O poliglota e seu nível de conhecimento de cada língua em que fala, lê ou escreve. Sucessos e fracassos de um poliglota em suas viagens pelo mundo. As quatro maneiras básicas de comunicar-nos (ou de tentar comunicar-nos) pelas ruas do mundo. Características essenciais do esperanto. O que o esperanto é e o que pode vir a ser. Esperanto e esperantismo: motivos para estudar e trabalhar na divulgação do esperanto. A comunidade esperantista: não só idealistas, mas também realizadores.

 

CÓDIGOS E LINGUAGENS NOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS A FORMAÇÃO DOCENTE EM LETRAS

Darcília Marindir Pinto Simões (UERJ/SUESC)

A nova LDB carreou uma enxurrada de modificações estruturais no ensino nacional, dentre elas, o enfoque do trabalho na área dos Códigos e Linguagens no Ensino Médio. Como conseqüência disso, impõe-se uma revisão do paradigma aplicado na formação dos professores que atuam nesta área, quais sejam os de línguas, educação artística, educação física e informática aplicada ao ensino. Nessa palestra, pretendemos enfatizar alguns elementos atinentes à licenciatura em Letras. Considerando as pesquisas que vimos fazendo (desde 1984) no âmbito da Semiótica de Peirce e as imposições da modernidade tecnológica, vimos empreendendo um trabalho de discussão e atualização dos docentes de língua e literatura no sentido de apetrecharem a operar com outros códigos além do verbal, para que passem a encarar a linguagem como faculdade que permeia o conhecimento e as formas de conhecer, o pensamento e as formas de pensar, a comunicação e os modos de comunicar, a ação e os modos de agir; como produto e produção cultural nascida das práticas sociais. E mais, possam perceber que a linguagem é humana e destaca-se pelo seu caráter criativo, contraditório, pluridimensional, múltiplo e singular. Destarte, a formação do professor de LINGUAGENS, hoje, tem de ter obrigatoriamente uma fundamentação semiótica para que lhe seja possível opera nos eixos do desenvolvimento das operações extralingüísticas que vão desdobrar-se nos seguintes planos: intrapessoal (de auto-conhecimento), interpessoal (de interação social), proxêmico-geográfica (de situação físico-social), cinésica (de orientação dos movimentos ou coordenação motora) e musical (de percepção/discriminação dos sons ¾ sobretudo dos fonemas). Logo, nossa palestra visa a encaminhar a formação do professor de linguagens numa dimensão multimídia.

Em síntese, enfocaremos a era da informática, a INTERNET, a leitura e produção de textos e de ciência, a utilização da multiplicidade de códigos; a Semiótica e a nova atitude científica do professor de LINGUAGENS, pautada no redimensionamento dos objetivos do ensino da comunicação e da expressão, expressos nos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS.

 

CRONOS E AION NO TEMPLO ERÓTICO DE "MAGMA", DE OLGA SAVARY

Maria Alice Pires Cardoso de Aguiar (UERJ)

Retomando a conceituação deleuziana de Cronos e Aion em relação ao tempo, procuraremos demonstrar a razão pela qual a linguagem erótica de Olga Savary nasce e renasce como a Phênix: em direção ao futuro interminável ou em direção ao passado insondável. Para tal, analisaremos os poemas vertebrais do livro "Magma", enveredando-nos pelo veio do erotismo. "Magma" estrutura-se ciclicamente como o repetir do ato cosmogônico que transforma cada ato erótico na inauguração de uma Era, quando o verbo revelador do primeiro e do último poemas da obra em questão é "Sumidouro": abertura profunda por onde alguma coisa some. O fluxo das águas e do fogo que se espraia pela superfície - Aion - e a concentração das águas e do fogo que escavam a profundidade - Cronos - mesclam-se neste templo de significantes em que o exercício erótico da palavra se instaura. Aion e Cronos revelados fazem acontecer o ritual de Eros: a arte. Sensual e receptiva, a imaginação estética é criadora. É no espaço da dimensão estética que a natureza e a liberdade se encontram. Num fulcro livre de sua própria criação, a arte se faz beleza, daí sua atemporalidade: eternamente jovem, eternamente hoje, eternamente bela, logo eternamente erótica. Neste excitante encantamento, entra em ação o delírio dionisíaco que nos abandona e nos abraça numa sempre contradição fundamental: ultrapassar os limites da vida contínua e, ao mesmo tempo, manter a sua descontinuidade.

CRUZAMENTO DE VOZES RELATO TESTEMUNHAL NO PENTECOSTALISMO CATÓLICO

Lenice Amélia de Sá Martins (UNEB)

Originada nos Estados Unidos, a Renovação Carismática Católica, advogando uma vivência radical dos preceitos evangélicos e maior abertura ao protagonismo do Espírito Santo, vem-se propagando com uma rapidez surpreendente.

Esse Movimento apresenta especificidades próprias, principalmente no que diz respeito ao seu cerimonial sagrado que se traduz numa linguagem diversificada, segundo o ato praticado pelos atores da cena enunciativa.

O jogo polifônico que permeia tais atos devocionais ou carismas é constituído pelo cruzamento de vozes intra e inter-discursivas que se instalam no processo enunciativo.

A proposta deste trabalho é examinar alguns aspectos da linguagem veiculada por uma das práticas mais persuasivas do discurso carismático – o relato testemunhal.

O exemplo aqui selecionado constitui uma ilustração do que o Movimento chama de "TESTEMUNHO FORTE", ou seja, um fato que se explica por intervenção divina. No caso, trata-se da cura de uma criança que sofria de "Síndrome de West", mal ainda incurável pela medicina.

As vozes que se inscrevem nesse discurso são notavelmente variadas. O locutor – carismático aí se instala como narrador – testemunha, encarnando, portanto, a função de locutor LP. Esse locutor, "pessoa – no – mundo". Introduz nesse trama, o seu ouvinte, a assembléia, no papel de alocutário ALP. Esse sujeito-narrador, porém, assume ainda a função de enunciador, instalando nessa instância, seu ouvinte como destinatário.

Percebe-se, ainda, que o texto está permeado de debreagem interna, recurso que cria um simulacro de enunciação. Nesse processo, o protagonista incorporando a voz de terceiros, abre espaço para a enunciação reportada, trazendo para o presente fatos do passado.

Além dos actantes da instância enunciativa, saliente-se, a do delocutário representado pelos diversos referentes que integram a trama discursiva.

Embora sucinto, o traçado aqui delineado deixa claro que o discurso carismático, constitui um conceito, no qual está congregada uma variedade de vozes em superposição.