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O FILÓLOGO DE PLANTÃO
“Um jornal que teima em buscar a verdade na doce ilusão de encont-la”
Publicação do CIFEFIL Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos.
Rio de Janeiro, Nova Série, ano 1, n.º 10, dezembro de 2021.
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Verba Sapientiae
EDITORIAL
Com esta edição, encerramos o primeiro ano
de nossa Nova Série. Ao longo de dez meses,
esperamos ter conseguido trazer, num registro
acessível a não especialistas, informação
atualizada sobre temas e pesquisas dos campos
da Linguística e Filologia, especificamente, mas
também do dos Estudos Literários, bem como de
produção literária e cinematográfica recente.
Neste número, destacamos:
o artigo da coluna “Flashes de Lusofonia”,
em que abordamos curioso fenômeno, visto em
português e em outras línguas: o palíndromo;
em “Nossos povos, nossas línguas”,
encerramos o ciclo de apresentação dos troncos
etnolinguísticos brasileiros, tratando de aspectos
da história, cultura e línguas tupis;
“Holofotes: Linguística” apresenta livro
lançado por duas editoras universitárias (EDUEL
e UFBA) em tributo à dialetóloga brasileira
Suzana Alice Cardoso (1937-2018), com a
reunião de artigos dispersos da homenageada.
Além disso, ao final, trazemos um índice dos
artigos e textos publicados em 2021, separados
por colunas, com indicação autoral para facilitar
a consulta do público.
Agradecendo a lealdade de todo(a)s é que
lhes desejamos boas festas e um 2022 pleno de
saúde, disposição, desafios e conquistas.
Pax et bonum!.
As pessoas felizes lembram o passado
com gratidão, alegram-se com o
presente e encaram o futuro sem medo”.
Epicuro (341 a.C. c. 271 a.C.)
(EPICURO. Carta a Meneceu sobre a felicidade.
Tradução e apresentação: Lúcio Jakobsmuschel. São
Paulo: Montecristo, 2019, p. 83.)
EXPEDIENTE
CiFEFiL
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e
Linguísticos
Gestão 2020-2024:
Diretor-Presidente
Prof. Dr. José Mario Botelho
Vice-Diretor
Prof.ª Dr.ª Anne Caroline de M. Santos
Secretário
Prof. Ms. Juan Rodrigues da Cruz
Diretora de Publicações
Prof.ª Ms. Aline Salucci Nunes
Vice-Diretor de Publicações
Prof. Dr. Ricardo Tupiniquim Ramos
Diretor Cultural
Prof. Dr. Leonardo Ferreira Kaltner
Diretora Financeira
Prof.ª Dr.ª Dayhane Alves E. Ribeiro Paes
--------------------------------------
O Filólogo de Plantão
Editor-geral; autor dos textos não assinados
Prof. Dr. Ricardo Tupiniquim Ramos
ERRATA
Na última edição, na coluna “Holofotes: Estudos
Filológicos”, apresentamos o resumo da
Dissertação de Mestrado de DANIELLY
PEREIRA DOS SANTOS, não de DANIELA
PEREIRA DOS SANTOS, conforme publicado.
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Flashes de Lusofonia
PALÍNDROMOS
Fenômeno também registrado noutras línguas1, palíndromo (< ingl. palindrome2 < gr.
πάλιν palin ‘para trás, novamente’ + δρόμος dromos ‘caminho, rua’) é uma sequência linear
simétrica de elementos gráficos, ou seja, uma sílaba, palavra, sintagma ou frase com a
mesma sequência de letras (lidas sem considerar acentos, cedilhas e pontuação) em qualquer
ordem de leitura, da esquerda para a direita ou vice-versa, como Ada, aia, ala, Ana, anilina,
arara, ele, Hanah, Maram, metem, Natan, omissíssimo3, Oto, radar, ralar, rasar, Reiner,
Renner, rever, rir, saias, socos, sós, etc.
O palíndromo mais antigo é a frase latina Sator arepo tenet opera rotas ‘O lavrador
diligente conhece a rota do arado’, criado entre os séculos II e V. Em português, esse posto é
ocupado pela sentença "Roma me tem amor", citada como único exemplo no verbete
“palíndromo” de Morais e Silva (1789).
Também vista como arte ou jogo de palavras, os palíndromos, se não usados em
excesso, podem causar diversão e irreverência, porque se tornam fonte de entretenimento e
até de exercício lógico para quem gosta de brincar com o português e descobrir coisas novas
dentro da nossa língua. Além disso, despertam a curiosidade das pessoas, algumas das quais
passam a estudá-los. Malba Tahan (pseudônimo de Júlio César de Mello e Sousa),
provavelmente o primeiro estudioso do tema entre nós, publicou “Matemática criativa” (1963),
com 231 palíndromos frásicos. Ademais, analisou propriedades de alguns números primos
(191, 313, etc.) e os chamados números de Lychrel, que, diferente da maioria dos inteiros, não
são transformáveis em palíndromos pela soma com os dígitos invertidos.
Palíndromos são classificáveis a parir de dois critérios: o material usado em sua formação
e a qualidade do texto. Quanto ao primeiro, os palíndromos podem ser:
a) linguísticos subdivisíveis em:
abreviativos: AMA (Associação de Moradores de Aracruz), SOS (Save our souls ‘Salve
nossas almas’), etc.
silábicos: coco, danada, cararaca, acidência, etc.
vocabulares: afã, aibofobia4, ama, anã, ata, asa, esse, mamam, matam, mirim, oco,
osso, ovo, raiar, rapar, reger, reler, reter, reviver, sacas, salas, sopapos, etc.;
sintagmáticos: após a sopa, arara rara, a rua Laura, a torre da derrota, laço bacana para
panaca boçal, luz azul, mega bobagem, o céu sueco, o teu dueto, o trote torto, etc.
frásicos ou anacíclicos (< gr. anakúklein ‘que volta em sentido inverso’): "Socorram-me, subi
no ônibus em Marrocos” (talvez o mais conhecido em português, anônimo), “Irene ri”, etc.
textuais:
O azar é de razão
O açude da dedução
O alívio foi vilão
O âmago do gamão (WANKE, 1995)
b) numéricos: formados por palíndromos de algarismos, como 191, 313, 606, 808, etc.;
c) cronológicos: referentes a datas, só acontecem a cada mil anos, como 20/02/2002;
d) naturais: sequências de DNA palindrômicas, talvez responsáveis pelo aumento da
tendência a determinadas doenças. (CARNEIRO, 2015)
De aplicação restrita a palíndromos frásicos e textuais, o critério qualidade do texto,
proposto por Marinho (1988), os classifica em:
explícitos: dotados de mensagem direta, clara e inteligível, como “A grama é amarga”
(Millôr Fernandes);
interpretáveis: coerentes, mas requerem esforço intelectual do leitor para serem
entendidos, como "A Rita, sobre vovô, verbos atira";
insensatos: apenas juntam letras ou palavras sem se preocupar com o sentido, como
"Olé! Maracujá, caju, caramelo".
Apesar do caráter curioso e do grande esforço para elaborá-los, consideramos artificiais
essas frases e textos, como continuam a demonstrar estes exemplos:
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A base do teto desaba.
A cara rajada da jararaca.
A dama admirou o rim da amada.
A Daniela ama a lei? Nada!
A diva em Argel alegra-me a vida.
A droga do dote é todo da gorda.
A gorda ama a droga.
A lupa pula.
A mãe te ama.
A mala nada na lama.
A miss é péssima!
A pateta ama até tapa.
À Rita, sátira!
“A semana toda lemos: só melado tá na mesa”. (Marcelo Coimbra)
Acuda cadela da Leda caduca.
Adias a data da saída.
Aí, Lima falou: “Olá, família!”.
Ajudem Edu, já!
Ame o poema.
Amo Omã. Se Roma me tem amores, amo Omã!
Anotaram a data da maratona.
Assim a aia ia à missa.
E até o Papa poeta é.
“Lá vou eu em meu eu oval”. (Marina Wisnik)
Luza Rocelina, a namorada do Manuel, leu na moda da romana: "anil é cor azul".
Me vê se a panela da moça é de aço, Madalena Paes, e vem.
Missa é assim.
O galo ama o lago.
O lobo ama o bolo.
O romano acata amores a damas amadas e Roma ataca o namoro.
Olá, galo!
Ótimo, só eu que os omito.
“Oto come doce seco de mocotó”. (Rômulo Marinho, escritor brasileiro)
Oto come mocotó.
“Rir, o breve verbo rir”. (Laerte)
Roma é amor.
Roma me tem amor.
Saíram o tio e oito Marias.
“Seco de raiva, coloco no colo caviar e doces”. (Rômulo Marinho)
Zé de Lima, Rua Laura, mil e dez.
Referências
CARNEIRO, Raquel. O que é um palíndromo? Superinteressante, dez/2015. Disponível em:
<https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-um-palindromo/>. Acesso: 13.nov.2021.
MARINHO, Rômulo. Tucano na CUT. Brasília: LGE, 1988.
MORAIS E SILVA, Antônio de. Dicionário da língua portuguesa. Lisboa: Oficina de Simão
Thaddeo Ferreira, 1789.
TAHAN, Malba. Matemática recreativa. São Paulo: Saraiva, 1963.
WANKE, Eno Teodoro. O livro dos palíndromos. João Pessoa: Plaquette, 1995.
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1. Em inglês, temos Was it a car or a cat I saw? ‘Foi um carro ou um gato que eu vi?’; em espanhol, Yo
hallé ropa, yo voy a por ella hoy ‘Eu encontrei a roupa, eu vou vesti-la hoje’.
2. Termo cunhado em inglês no século XVII, tendo os escritores Henry Peacham (1578-1644) e Ben
Jonson (1572-1637) os primeiros a o utilizarem em 1638 e 1640, respectivamente.
3. Este é o maior palíndromo em português.
4. Curiosamente, este palíndromo é a palavra indicativa da aversão a palíndromos.
4
Nossos povos, nossas línguas
LÍNGUAS INDÍGENAS BRASILEIRAS: PATRIMÔNIO E DIVERSIDADE O TRONCO E OS
POVOS TUPIS
duas edições, começamos a apresentar ao leitor uma visão panorâmica do amplo espectro da
diversidade representado pelas línguas indígenas brasileiras que, de um ponto de vista da origem
comum, podem se apresentar isoladas ou agrupadas em famílias, por sua vez, também isoladas (karib,
maku, mura, etc.) ou reagrupadas em troncos. Na ocasião, abordamos o tronco Aruaque e, na edição
passada, o Macro-jê. Nesta, cabe-nos tratar do tronco (Macro-)Tupi e dos povos a ele associados, o que
faremos seguindo de perto exposição feita alhures (RAMOS, 2018). O mais estudado de nossos troncos
etnolinguísticos é composto de 40 línguas faladas, 17 línguas extintas documentadas (destaque: tupi-
antigo ou tupinambá), cinco línguas isoladas e sete famílias:
• Juruna – Línguas: juruna e xipaia;
• Mondé – Línguas: aruá, cinta larga, gavião, ikãrã ou digût; mondé, suruí ou paitér e zoró;
• Munduruku – Línguas: munduruku e karuaya;
• Tupari – Línguas: aruju ou wayoró; makuráp, mekém, sakirabiar, tupari;
Tupi-guarani nguas: akwáwa (dialetos asurini do Tocantins ou trocará e paranã), amanayé,
anambé, apiaká, araweté, asurini do Xingu, avá ou canoeiro, guajá, guarani (dialetos kaiowá, mbyá,
nhandeva), (urubu-)kaapor, kamayurá, kayabi, kokáma (dialetos kokáma e omágua), língua geral
amazônica (LGA) ou nheengatu; parintintin (dialetos diahói, juma, kagwahib, tenharin), surui do Tocantins,
tapirapé, tenetehara (gajajara, tembé), wayãpi, xetá. (RODRIGUES, 1986)
Segundo Pereira (2000 [1943], p.27), os diferentes grupos tupis-guaranis espalhados pela costa
brasileira no início da era colonial procediam dum mesmo grupo etnolinguístico originário das planícies
bolivianas: “Tupis e Guaranis viviam ‘em uma nação na alta planície boliviana, que das cabeceiras
mais remotas do rio Madeira, se alongava para o noroeste até o lago Titicaca e nas cabeceiras do rio
Beni”. De lá, entre 3 mil e 2 mil a.C., teriam feito sucessivas migrações para o Caribe e várias regiões sul-
americanas, diferenciando-se étnica e linguisticamente. Causado pela expansão do império inca, o
grande último desses movimentos foi há cerca de mil anos.
Na história do Império Inca, consta que, na passagem do século XIII para o XIV, seu criador, Rocca,
submetera nações indígenas ocupantes do altiplano e as terras baixas do Peru e da Bolívia, eliminando
as que não aceitavam o seu jugo, e não foram muitas. Os antigos habitantes do lago Titicaca, ancestrais
dos povos tupis, não concordaram com a sujeição aos Incas, preferindo abandonar sua pátria e escapar
pelo único curso d’água conhecido (o rio Beni, afluente do Mamoré, este, do Madeira), que os levou à
Amazônia, seus rios e florestas tropicais. Nesse movimento, o grupo de dividiu em meados do século
XIV: descendo o rio Pilcomayo e o Chaco, uma parte alcançou o médio Paraguai, ocupando as duas
margens desse rio, em direção Norte-Sul, “até o rio Paraná, no qual se lança o Paraguai. Alguns [...]
continuaram pelo Paraná em terras argentinas, atingindo sua foz no Rio da Prata” (PEREIRA, 2000
[1943], p. 45; 49). Assim, em 1500, quando da chegada de Cabral a Porto Seguro, esse grupo, origem
dos guaranis, ocupava o sudeste da América do Sul. O outro grupo de ancestrais dos atuais tupis-
guaranis desceu o rio Madeira até o Amazonas, alcançando, antes, uma grande ilha, daí em diante
chamada Tupinambarana terra dos tupinambás’, transformada em núcleo original da dispersão desse
grupo daí por diante, conhecido por tupi pela bacia amazônica (rios Araguaia, Tocantins, etc.) em
direção às bacias do Sudeste e Nordeste até atingirem o litoral.
Esses movimentos migratórios levaram cerca de 150 a 200 anos para ocorrer. No entanto, tal lapso
temporal não foi longo o suficiente para acentuar diferenças significativas entre as falas das diversas
populações, constituintes do que aqui designamos como tupi-antigo:
Em seu avanço para as terras beirando o oceano, as áreas tomadas aos aborígines
litorâneos pelos Tupinambás amazônicos eram em número de seis. Tornaram-se nações
Tupis, com os nomes locais de Potiguaras, no Rio Grande do Norte e na Paraíba; Caetés
em Pernambuco e Alagoas; Tupinambás, em Sergipe e o norte da orla marítima da
Bahia; Tupiniquins, na costa sul da Bahia; Tamoios no Rio de Janeiro; e Tupis em São
Paulo. Os seus índios faziam questão de serem chamados Tupinambás, exceto os de
São Paulo das ‘bandeiras’, simplesmente Tupi. Todos, no entanto, aceitavam a
simplificação do nome para Tupi. (PEREIRA, 2000 [1943], p. 84)
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Entre os diversos grupos tupis, a distância variava em função das condições ecológicas e políticas
de cada região, com algumas áreas de grande concentração, outras menos densas. Além disso, as
fronteiras eram fluidas, fruto de processo histórico em andamento, de (re)definição de alianças.
Segundo os cronistas do século XVI, os povos tupis designavam por Pindorama ‘terra das palmeiras’
a área que habitavam. Suas aldeias eram extensas, divididas entre espaços dos vivos (cerimonial,
público e residencial) e espaço dos mortos e, em geral localizadas em planaltos ou terraços; algumas
delas eram fortificadas. Alguns estudiosos afirmam ter ocorrido macroblocos populacionais, algo
controverso. Porém, não dúvidas de que cada aldeia tinha população variável de 600 ou 700 até 3 mil
indivíduos, habitantes em 4 a 8 cabanas de até 60 de diâmetro, dispostas irregularmente em torno de
um pátio central, algo ainda hoje presente em diversas etnias do tronco.
Do ponto de vista político, não havia autoridade absoluta ou muito forte: os postos hierárquicos em
função do gênero (exclusivo dos homens), do mérito guerreiro (morubixabas) e dos poderes xamânicos
(pajés). Atualmente, muitas etnias (não só tupis) têm lideranças femininas internas (cacicas e pajés)
quanto externas (líderes de associações, militantes partidárias, intelectuais).
Às vésperas do “descobrimento”, os indígenas tupis viviam da caça e da agricultura (cará, feijão,
pimenta, amendoim, batata-doce, tabaco, algodão) pelo sistema de coivara (queima e preparo do terreno,
plantio, seguido de colheita). Além desses produtos, plantavam e beneficiavam a mandioca, dela
produzindo um conjunto de farinhas caseiras (a grossa, a refina, a torrada ou copioba) e gomas (a carimã
ou puba, a tapioca) o chamado complexo da mandioca , posteriormente adotado pelos invasores
portugueses e transmitido para a atualidade.
Embora utilitária, sua cerâmica, arte plumária e cestaria era (e ainda é) sofisticada e rica, situando-se
entre o artesanato e a arte.
Outras manifestações culturais de destaque eram (e são) as danças e canções, geralmente de
caráter ritual, além de sua oratura, com ricas narrativas cosmogônicas, muito coletadas por cronistas,
viajantes, indigenistas e etnólogos e recentemente contadas em livros por escritores indígenas.
Ao contrário da percepção de Pero Vaz de Caminha para quem os povos tupis não tinham fé ,
eles, de fato, tinham cultivavam uma religiosidade, com eventos de alcance amplo e congregantes de
diferentes etnias. De fato, ao longo de suas numerosas migrações pré-cabralianas, a religião lhes
garantiu a dispersão com homogeneidade cultural. Criam em espíritos (bons e maus), estes, afastados
por maracás manejados pelos pajés que, não aplacavam e agradavam os espíritos, como também,
manipulando ervas, raízes, animais e mineras, administravam a cura de doenças. Também criam na
existência da alma e da vida após a morte (muitos mitos tupis falavam de espíritos errantes). Eles
sepultavam seus mortos em urnas (só as pessoas ilustres) ou diretamente terra; todos, contudo, com
artefatos líticos.
Primeiro grupo a contatar os invasores europeus, os tupis foram os criadores da rede de dormir e do
complexo da mandioca, das bebidas de frutas e raízes, da carne e peixe moqueados, produtos essenciais
para o avanço da conquista e colonização pelo sertão adentro. Além disso, uma vez apropriados pelos
invasores portugueses, esses e outros elementos da cultura dos antigos índios tupis passaram a integrar
nossa base civilizatória, sendo, hoje, pan-brasileiros. A contribuição de outras etnias é relativa e variável
conforme a densidade populacional indígena em cada região.
Também em relação à língua majoritariamente falada no Brasil, comodamente chamada português
brasileiro (doravante, PB), a base indígena significativa é a tupi, embora a tendência dos estudos atuais é
considera-la apenas no léxico. De toda sorte, são escassos no país os estudos que tratem, por exemplo,
da interferência (e, portanto, influência) de línguas indígenas ainda faladas por populações em início de
aquisição do PB nesse mesmo português. Urgem, portanto, esforços nesse sentido.
Referências
PEREIRA, Moacyr Soares. Índios Tupi-guarani na pré-história: suas invasões do Brasil e do Paraguai,
seu destino após o descobrimento. Maceió: EDUFAL, 2001.
RAMOS, Ricardo Tupiniquim. Língua e cultura indígenas. 3e. rev./aum. Caetité: UNEB/ DCH Campus
VI, 2018.
RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São
Paulo: Loyola, 1986.
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PÍLULAS DE BAIANIDADE
COSMOLOGIAS TUPIS E BAIANIDADE
Embora normalmente associada às cosmologias africanas e afro-brasileiras, a identidade cultural da
Bahia e, especificamente, de Salvador e sua região metropolitana, têm uma relação antiga e profunda com
as cosmologias indígenas, sobretudo as tupis, como pretendemos demonstrar neste artigo.
Algumas cosmologias indígenas concebem a existência de um ser supremo e criador, mas distinto do
concebido pela judaico-cristã1, pois, concluída a criação, Ele se afasta dela. Entre os antigos tupis, o
criador do céu, da terra, dos animais e do homem era Monã (< Tp.-ant. monã ‘o ancião’) que, distante de
Sua obra, passa a nela interferir “[...] através de entidades espirituais ou heróis civilizadores, isto é,
humanos com grandes poderes” (PREZZIA, 2007, p.21), alguns deles, ancestrais de um povo.
Entre os civilizadores, os jesuítas ibéricos registraram Sumé2 ou Zumé, considerado em algumas
versões filho de Maíra-Monã3 e identificado pelos omáguas com Tupã (PINTO, 1938, p.198). Entidade
superior, homem branco de vida solitária e abstêmia, surgido entre os tupis antes de 1500, ensinou-lhes
regras morais e o cultivo da terra, mas, uma vez repelido, teria abandonado a região, prometendo retornar
um dia: Sumé em fuga teria sido cercado em Itapuã. É de cima daquelas lajes que teria tomado impulso
para o grande salto, livrando-se da perseguição dos índios ingratos (EDELWEISS, 2001, p.61).
Os religiosos ibéricos O associaram ao apóstolo Tomé pela semelhança dos nomes e por sua ideia
de ter o indígena uma vocação natural para o Evangelho, a ele pregado pelo santo, que teria evangelizado
a América antes de viajar para a Índia. Logo, vê-se que “desde os primeiros tempos da conquista, os
brancos aprenderam e relataram as crenças tupis-guaranis, delas retendo apenas os motivos que, nos
termos da sua própria religião, eles podiam reinterpretar” (CLASTERS, apud NAVARRO, 1999, p. 364).
Edelweiss (2011, p. 61) registra que, “Como a maioria das tribos tupis-guaranis possuíam a lenda,
encontramos as pegadas de São Tomé por toda a América do Sul, nas áreas habitadas por essa família”,
inclusive na Bahia, onde deixara pegadas, identificadas desde o início da colonização. Assim, Campos
(1930, apud Calasans, 1970) relata a descoberta, em 1602, de pegada humana gravado numa pedra e
cultuada como a de São Tomé, em lugar homônimo, no caminho das Armações, freguesia de Brotas:
A versão do Resumo Cronológico faz coincidir a descoberta da pegada 21 de dezembro,
com o dia em que a Igreja Católica celebra a festa de São Tomé [...]. A coincidência está a
indicar, evidentemente, a influência que a Igreja, decerto através dos padres da
Companhia, teria tido na determinação da data, uma vez que [...] muito antes de 1602, tido
como ano da descoberta da pedra, já era largamente conhecida a existência das pegadas.
O dia, supomos, valeria apenas para oficializar o culto popular. (CALASANS, 1970, p.12)
Antes, em 1515, a Nova Gazeta Alemã noticiou a existência, entre os nativos do Brasil, de uma
recordação da presença de São Tomé no país, onde cruzes indicariam sua passagem. Em 1549, logo
após a fundação de Salvador, um comunicado do padre Manuel da Nóbrega ao mestre Simão indicava
haver pegadas do santo na Bahia e em São Vicente. Em agosto do mesmo ano, em carta ao Dr. Navarro,
Nóbrega informa a passagem do santo pela Bahia, tendo deixado os tubérculos ainda usados como
alimento entre os nativos. Em 1550, Nóbrega relata sua visita ao local das pegadas, para onde levaria, em
1552, em peregrinação, os alunos do Colégio da Bahia (NÓBREGA, 2017).
Silva (1954, p. 8, apud Calasans, 1970) indica como local das pegadas as praias de Itapuã, mas
levanta dois outros locais com o registro delas em Salvador: o visitado por Nóbrega, com quatro pegadas,
junto a um rio; o descoberto por um pescador, com uma marca, fotografada por “A Tarde” em 1916,
imagem não mais disponível no arquivo do jornal; e o Unhão, início de Itapuã, diante de cruzeiro
encontrado pelo pesquisador. Teria havido um quarto sítio, a Pedra da Toca, em São Tomé de Paripe4,
subúrbio ferroviário de Salvador, com pegadas ainda vistas em 1926, muito apagadas, por Teodoro
Sampaio, desaparecidas no ano seguinte, devido ao corte do sítio por estrada. (CALASANS, 1970, p.13)
O subúrbio ferroviário de Salvador tem essa identidade definida a partir de 1860, com a construção
de linha da Viação Férrea Federal Leste do Brasil, entre os bairros da Calçada e de Paripe. Contudo, suas
localidades são muito antigas, tendo algumas a origem ainda no século XVI, como Escada5, ou ainda
antes, como Periperi (< Tp.-ant. peri ‘junco’) e Paripe (< Tp.-ant. pari ‘cerca’ -pe ‘em’), velhas aldeias
tupinambás, transformadas em engenhos após a fundação da capital.
Localizada no extremo litoral sul da capital baiana, no bairro de Paripe, como, aliás, o próprio nome
indica, a praia de São Tomé de Paripe tem a identidade devida à crença de estarem as pegadas de
Sumé/ São Tomé desaparecidas em 1926.
Referências
7
CALASANS, José. Folclore da geo-histórico da Bahia e seu recôncavo. Salvador: UFBA/ Centro de
Estudos Baianos, 1970. [Estudos Baianos, 1].
EDELWEISS, Frederico G. Apontamentos de folclore. Salvador: EDUFBA, 2011.
MELLATI, Júlio Cézar. Índios do Brasil. 7e. Brasília: EDUNB/Hucitec, 1993.
NAVARRO, Eduardo de Almeida. Método moderno de tupi-antigo. 2e. Petrópolis: Vozes, 1998.
NÓBREGA, Manuel da. Obra completa. São Paulo: Loyola/PUC-Rio, 2017.
PINTO, Estêvão. Os indígenas do Nordeste: organização e estrutura social dos indígenas do nordeste
brasileiro. São Paulo: Nacional, 1938, 2º tomo.
PREZIA, Benedito. O sagrado nas culturas indígenas. Revista Uniclar, São Paulo, ano 9, no. 1, p.21-4.
Faculdade Claretiano, 2007.
RAMOS, Ricardo Tupiniquim. “Religião e cosmologias tupis”. In: Id; LEITE, Gildeci de Oliveira. Leituras de
Letras e Cultura. Salvador: Quarteto, 2018, p. 19-69. (E-book distribuído gratuitamente; interessados,
podem solicitar pelo e-mail tupinikim@msn.com).
_________________
1. “Os Civilizadores tupis distinguem-se dos deuses das mitologias clássicas, do criador na religião judaica e da sua
descendente, a cristã, por um traço peculiar: são mais transformadores do que propriamente criadores e as suas obras
são sempre incompletas”. (EDELWEISS, 2011, p.60)
2. Sumé também designa um município paraibano, fundado em 1903, emancipado em 1951, localizado na região de
Campina Grande, a 264 Km da capital, João Pessoa.
3. Primeiro ente mítico civilizador, filho de (ou o próprio) Monã com funções organizadoras das bases sociais dos
povos tupis, por Ele criados. Narrativa registrada por Pinto (1938, p. 186) informa que, apesar do caráter divino e de
todos os benefícios trazidos à humanidade, o herói civilizador foi vítima da ingratidão dos homens, que decidiram
aniquilá-lo. Quando de Sua morte, a cabeça abriu-se com tal impetuosidade que o fragor chegou até o céu e originou
o relâmpago e o trovão; assim, Maíra-Monã gera Tupã (RAMOS, 2018).
4. Topônimos híbridos luso-tupis como esse nomeiam outras localidades igualmente antigas da Grande Salvador,
como Santo Amaro de Ipitanga (< Tp.-ant. y ‘rio’ + pitanga ‘vermelho’).
5. Este bairro continuidade à vila de pescadores emergente em torno da Igreja de Nossa Senhora da Escada,
fundada por Anchieta para a prática de retiro espiritual.
LIRA NOVA
ESPERA ANTIGA
Edegard Gomes*
Do tempo da meninice
guardo ainda as lembranças
do namoro, com meiguice,
de nós dois, duas crianças.
De mãos dadas, conversando,
sem destino, caminhando,
fomos gostando e crescendo,
prometendo, prometendo...
Depois, veio a mocidade.
Você partiu, eu fiquei,
esperando volte um dia,
minh’alma, que lhe dei.
______________
* O bibliófilo, escritor e jornalista carioca Edegard Gomes (1916-1998) publicou, em vida, algumas obras
literárias (poemas, contos, crônicas, teatro) e técnicas, deixando inúmeros textos dispersos na mídia impressa
de sua cidade natal e inéditos, como o aqui apresentado. Doado pela família para a pesquisa ecdótica, seu
espólio literário está sob guarda do Laboratório de Estudos da Diversidade Linguística e Cultural do
Departamento de Ciências Humanas do campus VI da Universidade do Estado da Bahia.
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HOLOFOTES
Estudos Literários
FERREIRA, Simone Cristina Salviano. A crônica: problemáticas em torno de um gênero.
2005. 206f. Dissertação: Mestrado em Linguística. Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia, 2005. Disponível em:
<www.ileel.ufu.br/travaglia/sistema/uploads/arquivos/DISSERT_simone_cristina.pdf >.
A partir aporte da Linguística Textual e de teorias discursivas e de traços que, em conjunto,
podem ser pertinentes para a distinção das crônicas, discute-se o conceito desse gênero,
partindo-se da hipótese de que, ao contrário do que aponta a maioria de seus estudiosos, a
crônica não é essencialmente narrativa, mas um gênero constituído pelos tipos narrativo e
dissertativo. Além disso, caracteriza-se pela informalidade, produzida por meio de uma
dialogia interna o discurso direto seja entre personagens, seja entre o autor e o leitor.
Quando narrativa, caracteriza-se por uma brevidade decorrente da supressão de
categorias próprias desse tipo, em função da fluidez e da coloquialidade das situações
representadas no texto. Quando dissertativa, mantém um estilo informal, mesmo diante do
sério, e muitas vezes se utiliza da narração como recurso argumentativo. Em ambos os
casos, tem uma relação estreita com o humor. Desse modo, a crônica se caracteriza por
um feixe de traços e seu funcionamento correlato.
Filologia
BARRETO, Josenilce Rodrigues de Oliveira. Edição e estudo lexical de documentos
novecentistas do sertão baiano. 2020. Tese Doutorado em Filologia e Língua
Portuguesa. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020. Disponível em:
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-28082020-120351/pt-br.php>.
Manuscritos atestam a língua e os aspectos da história e da cultura de uma sociedade.
Logo, acessando a documentos armazenados em acervos, o filólogo investiga tais
aspectos e preserva as informações neles constantes, mediante a edição. Ciência milenar,
a Filologia objetiva a preservação de documentos e, junto a suas ciências auxiliares
(Paleografia, Codicologia, Diplomática e Ecdótica), oferece o aparato teórico-metodológico
para a realização de edições e estudo de textos diversos, como três documentos do início
do século XX, guardados no Centro de Documentação e Pesquisa da Universidade
Estadual de Feira de Santana, Bahia: dois testamentos e do primeiro volume de um
inventário, lavrados entre 1918 e 1922 na mesma cidade, com 187 fólios, escritos no recto
e verso, em letra cursiva, em papel almaço e em formulários, nos quais constam carimbos,
selos, manchas, borrões, rasgões, furos etc. Estes últimos dificultaram, em parte, a leitura
de alguns trechos sem, no entanto, impedi-la. Além das edições, procedeu-se à descrição
codicológica de 27 documentos armazenados no mesmo órgão, entre eles os três editados
e paleográfica e diplomaticamente descritos para realizar a contextualização sócio-histórica
do corpus e dos seus escreventes. Após editados, os documentos foram alvo de estudo
lexical, a partir do método dos Campos Lexicais, estabelecido por Coseriu (1991 [1977]),
que possibilitou inventariar, alocar e analisar 369 lexias em 10 campos para evidenciar as
lexias consideradas mais representativas do corpus e, portanto, do vocabulário dos
escreventes, algo necessário para traçar o perfil sócio filológico-lexical dos escreventes.
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Linguística
AGUILERA, Vanderci de A.; MOTA, Jacyra Andrade; OLIVEIRA,
Josane M. (Org.). Suzana Cardoso: um legado para a dialetologia
brasileira. Londrina: EDUEL/ EDUFBA, 2021. Disponível em:
<https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/34398/1/suzana_cardos
o_RI.pdf. O>.
Baiana de Jacobina, Suzana Alice Marcelino da Silva Cardoso (1937-2018) foi um dos
principais nomes da Dialetologia brasileira, campo em que se destacou desde a graduação, na
década de 1960, quando integrou, sob orientação de Nelson Rossi, o grupo responsável pela
coleta de dados, organização e publicação do “Atlas Prévio dos Falares Baianos”, de 1963, o
primeiro do gênero no país. Nas décadas seguintes, professora da UFBA, organizou e
publicou o primeiro volume do “Atlas Linguístico de Sergipe” (1987), cujo segundo volume
constitui sua tese de doutorado, publicada em 2005. Ao longo da carreira, orientou diversas
pesquisas sobre fenômenos dialetais e sociolinguísticos registrados na Bahia e em outros
Estados, além da primeira tese sobre a toponímia da Boa Terra. Em 1996, propôs o projeto do
Atlas Linguístico do Brasil por ela coordenado até o fim de sua nobre existência , cujo
primeiro volume veio a lume em 2014. Sua dedicação à pesquisa sobre a variação do
português brasileiro acabou por render-lhe a eleição para a Academia de Letras da Bahia.
Devota mariana, integrou, ainda, a Academia de Letras Católicas Mater Salvatoris, sediada em
Salvador, da qual foi Secretária por vários anos. Reunidos em um volume, 19 de seus artigos,
anteriormente pulicados em periódicos diversos da área, dão uma ideia de sua profícua
produção acadêmica e perpetuam o seu legado.
LIRA NOVA
UM TANKA BILINGUE*
Ricardo Tupiniquim Ramos
AÛSUBA-I-BEBÉ-NO AMOR QUE ARREBATA
Momorang’-e’ẽ Doce carícia
Paran-usu-pe o-nhã De livre rio corrente
Y-pysyroma Pra o grande mar.
Xé a-î-potar mopara Quero a plenitude
Aûsuba-i-bebé-no Amor que arrebata
______________
* Tradicional forma lírica fixa de origem japonesa, o tanka é composto de um terceto com versos de 5, 7 e 5
sílabas e um dístico com versos de 7 sílabas, totalizando 31, num desafio à capacidade de síntese do poeta.
Além da exigência métrica, o tanka deve, ao final, compor uma cena na mente do leitor, como numa tomada
panorâmica de uma câmera. A escolha do tanka e do bilinguismo português/ tupi-antigo para a expressão de
minha poesia indígena é tentativa de rasura decolonial da língua opressora da cultura de meus ancestrais e,
ao mesmo tempo, da tradição poética ocidental.
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FICA A DICA
LITERATURA
“A estrada para São Paulo”, de Mariana Chazanas
Érica de Souza Oliveira*
Disponível como e-book, “A estrada para São Paulo” (2017), narra a história
de dois jovens irmãos africanos, Adeze, a mais velha, e Onyema o caçula. Ambos
viviam livremente em África até serem sequestrados e transportados para o Brasil
dentro de um tumbeiro. Na viagem, o mar foi o cemitério dos país, irmão e amigos
dos protagonistas, escravos. Já em terras brasileiras, eles se agarram ao amor fraternal como armadura
de sobrevivência, mas pouco conseguem fazer quando os comerciantes negreiros decidem vendê-los.
Batizada como Mical, Adeze fica na capital paulista como mucama de duas solteironas, enquanto
Onyema, agora Benjamim, é presenteado ao filho de um fazendeiro do interior da província. Embora
entendam a necessidade de ser gratos pelo tratamento um pouco distinto do dispensado aos outros
escravizados, nenhum dos dois sabe lidar com a perda da liberdade, de sua casa, de sua gente e país
e do(a) único(a) irmã(o) restante. Contudo, o bafo apodrecido da escravidão não sufoca o desejo do
reencontro e, cavalgando nele, a trama se desenrola.
O livro de Chazzanas é uma excelente oportunidade dos leitores e pesquisadores trocarem de pele
e conhecerem um romance histórico brasileiro contado pela perspectiva dos escravizados.
Referência:
CHAZANAS, Mariana. A estrada para São Paulo. New York: Kindle Direct Publishing, 2017. Disponível
em: <https://www.amazon.com.br/Estrada-Para-S%C3%A3o-Paulo-ebook/dp/B01NARWNVB>.
____________________
* Mestre em Estudos de Linguagem pela Universidade do Estado da Bahia.
CINEMA Pixiguinha, um homem carinhoso”, de
Denise Saraceni e Allan Fiterman
Estreia de Denise Saraceni como cineasta, esta biografia fílmica de Alfredo da
Rocha Vianna Jr. (1897-1973), o Pixinguinha, apresentando a infância do menino
negro humilde dos subúrbios cariocas, sua trajetória como músico, a composição de
suas obras com destaque para “Carinhoso”, de 1918, letrado em 1937, a canção
mais gravada da MPB , o auge de sua carreira, seus dramas pessoais e familiares,
sua decadência devido ao alcoolismo e ressurgimento na década de 1940, sua consagração na década
de 1960, puxada por novos movimentos, como a bossa nova, sua morte, decorrente de um infarto
fulminante, quando batizava uma criança na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema.
Concebido ainda em 2013 e lançado apenas no mês passado, o filme oportuniza ao público
conhecer a vida e a obra desse gênio brasileiro, incompreendido em seu tempo e muito à frente dele,
construtor de significativo elemento da brasilidade, qual seja, a MPB. Assim, não deixe de assistir!
Referência:
SARACENI, Denise; FITERMAN, Allan (Dir.). Pixinguinha, um homem carinhoso. Brasil:
DowntownFilmes, 2021, 100 min.
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INDEX - ÍNDICE ANUAL DE ARTIGOS POR COLUNA
Coluna “Flashes de Romanidade” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos)
• março: “O campo semântico do feminino em latim”
maio: “Mãe, maternidade e correlatos: das raízes latinas a um debate contemporâneo” (coautoria com Érica de
Souza Oliveira)
• junho: “As diferentes formas e sentidos do amor”
• setembro: “Apimentando a coluna: o sexo grupal em línguas românicas”
Coluna “Flashes de Lusofonia” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos, se não houver outra indicação)
• abril: “Empréstimos portugueses à língua omágua”
• julho: “As calendas gregas e os idos de março”
agosto: “A cor da saudade: entre manchas de memória, o mito da resistência” (coautoras: Márcia Silva Pituba
Freitas e Sandra Costa Lourenço)
• novembro: “Crioulos de base portuguesa”
dezembro: “Palíndromos
Coluna “Onomastikós” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos)
• maio: “Maria, o significado de um nome” (coautoria com Taís Oliveira Costa)
• junho: “Os santos juninos e o verdadeiro casamenteiro”
• outubro: “Uma personagem, seus múltiplos espelhos e nomes” (coautoria com Taís Oliveira Costa)
Coluna “Nossos povos, nossas línguas” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos)
• março: “Índio, a perpetuação do erro de Colombo”
• abril: “Os omágua/kambeba e o drama de sua língua originária”
• maio: “Maternidade indígena: modos diferentes de maternar”
• junho: “A origem dos povos nativos americanos e de suas línguas”
• julho: “Resistência indígena ontem, hoje, sempre”
• agosto: “Sociedades indígenas antes da invasão europeia”
• setembro: “Línguas indígenas brasileiras: patrimônio e diversidade”
• outubro: “Infâncias indígenas: modos diferentes de ser criança”
novembro: “Línguas indígenas brasileiras: patrimônio e diversidade – povos e línguas macro-jê”
• dezembro: “Línguas indígenas brasileiras: patrimônio e diversidade o tronco e os povos tupis
Coluna “Pílulas de Brasilidade” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos)
• abril: “Brasil, um país tupiniquim”
• setembro: “O Amado Jorge, intérprete do Brasil”
• novembro: “Além do português, línguas clássicas africanas no Brasil?”
Coluna “Pílulas de Baianidade” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos)
• junho: “O Boitá”
• julho: “2 de Julho: a baianidade fundante da brasilidade”
agosto: “Oxalá: confluências fonético-religiosas afro-islâmico-baianas e a esperança em canção lusitana”
• dezembro: “Cosmologias tupis e baianidade
Coluna “Fica a Dica: Literatura” (autora: Érica de Souza Oliveira, se não houver outra indicação)
• março: “‘As alegrias da maternidade’, de Buchi Emecheta”
• abril: “Kumiça Jenó – Prefácio” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos)
• maio: “‘Cartas para minha mãe, de Teresa Cárdenas”
• maio: “‘As mães de maio’, de Débora Maria e Danilo Dara” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos)
• junho: “‘Lavoura arcaica’, de Raudan Nassar”
• julho: “‘O olho mais azul’, de Toni Morrison”
• agosto: “‘A fera mais bela’, de Bárbara Sá”
• setembro: “‘Flores para Algernon’, de Daniel Keys”
• outubro: “‘Txopai e Itohã’, de Kanátyo Pataxó”
• outubro: “‘Um dia na aldeia: uma história munduruku’, de Daniel Munduruku”
• outubro: “‘Pretinha, eu?’, de Júlio Emílio Braz” (Ana Francisca Neta)
outubro: “‘Histórias de Quilombo do Alto Sertão da Bahia’, de Jaqueline Santana” e “‘O mistério da Mula-sem-
Cabeça’, de Jaqueline Santana” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos)
• novembro: “‘O diário de Nisha’, de Veera Hiranandi”
dezembro: “‘A viagem para São Paulo’, de Mariana Chazzanas”
Coluna “Fica a Dica: Cinema” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos, se não houver outra indicação)
• março: “‘Negação’, de Mick Jackson”
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• abril: “‘Ex-pajé’, de Luiz Bolognese”
• maio: “‘As mães de maio’, de Daniela Santana”
• junho: “‘Skin a flor da pele’, de Guy Nattiv” (autor: Filipe Tupiniquim)
• julho: “‘A história de um casamento, de Noah Baumbach” (autor: Filipe Tupiniquim)
• agosto: “‘Doutor Gama’, de Jeferson De” (autora: Camila Santos)
• setembro: “The alienist”
• outubro: “‘Como estrelas na Terra: toda criança é especial’, de Aamir Khan” (autor: Filipe Tupiniquim)
• novembro: “‘Marighella’, de Wagner Moura”
• dezembro: “‘Pixiguinha, um homem carinhoso’, de Denise Saraceni e Allan Fiterman”
Coluna “Holofotes: Estudos Linguísticos”
março: “Estudo histórico-comparativo da prefixação no galego-português e no castelhano arcaicos (século XIII a
XVI)” (autor: Mailson dos Santos Lopes)
abril: “Sobre o uso da língua do príncipe: história social da cultura escrita, reconfigurações linguísticas e
populações indígenas na Bahia setecentista” (autor: Pedro Daniel dos Santos Souza)
• setembro: “Coisas que a gramática não explica” (autor: André L. Gáspari Madureira)
• outubro: “O apagamento da vogal alta anterior pretônica em sequencias [si]C” (autora: Amanda Fernandes Ivo)
novembro: “App resources for developing English pronunciation: a focus on mobiles techonlogies” (autora: Luana
G. Baldissera)
dezembro: “Suzana Cardoso: um legado para a dialetologia brasileira” (organizadoras: Vanderci A. Aguilera,
Jacira A. Mota e Josane M. Oliveira)
Coluna “Holofotes: Estudos Literários”
maio: “Imagens de maternidade negra em ‘Quarto de Despejo’ e ‘Dário de Bitita’” (autora: Érica de Souza
Oliveira)
junho: “Políticas, performance e identidades em expressão musical do DVD da banda Quilombo do Rio das Rãs”
(autora: Elisabete T. Santos)
julho: El aliento negros de los romanies: uma representação literária de identidades romà” (autora: Lorena
Oliveira Tavares)
• agosto: “Pistas e indícios: o gênero policial na ficção de Sônia Coutinho” (autora: Thaís Pires do Carmo Santana)
• setembro: “Da poetização do crime ao estratagema serenidade: um estudo sobre o desenvolvimento do clube da
luta em ‘Clube da Luta 1’ e ‘Clube da Luta 2’” (autora: Daiane N. de Oliveira)
• outubro: “Memória e recepção em ‘Terras do Sem Fim’, de Jorge Amado” (autor: José Otávio M. Badaró Santos)
novembro: “A literatura indígena contemporânea no Brasil: a autoria individual e a poética do eu-nós” (autora:
Julie Stephane Dorrico Peres)
• dezembro: “A crônica: problemáticas em torno de um gênero” (autora: Simone Cristina S. Ferreira)
Coluna “Holofotes: Estudos Filológicos”
setembro: “‘Elucidário de africanismos’: resultados de um garimpo o arquivo pessoal de Nelson Coelho de Sena”
(autora: Olívia Nogueira de Almeida)
• outubro: “Edição crítica das ‘Cartas de Amor’, de Edegard Gomes” (autora: Fernanda de Jesus Silva)
• novembro: “Manuscritos de Alfredo José Silva: reflexões sociais, políticas e identidades edição crítica e cartilha
de brasilidades” (autora: Danielly Pereira dos Santos)
dezembro: “Edição e estudo lexical de documentos novecentistas do sertão baiano” (autora: Josenilce Rodrigues
de Oliveira Barreto)
Coluna “Lira Nova”
• julho: “Uma casa, uma rede, um cão” (autor: José Mário Botelho)
• agosto: “Oração às minhas filhas” (autor: Antônio de Pádua)
• setembro: “Diálogo profano” (autor: José Mário Botelho); “Estaca perpétua” (autor: Giano)
• outubro: “O prazer interior” (autor: José Mário Botelho); “Mosaico” (autora: Malu Nvo)
• dezembro: “Espera antiga” (autor: Edegard Gomes)
Série “Um tanka bilíngue” (autor: Ricardo Tupiniquim Ramos)
• outubro: “O rio, a canoa, a árvore / Pará, ygara, ybá”
• novembro: “Dela, a raba / Xe-kunhã-kaîá
• dezembro: “Amor que arrebata / Aûsuba-i-bebé-no