baixa densidade populacional, depois para suprir a ausência de mão-de-obra para as lavouras cafeeiras,
provocada pela abolição e pelo deslocamento dos antigos escravos para os centros urbanos.
Cada um desses povos trouxe consigo sua cultura, língua e dialetos, chamados genericamente
línguas de imigração recente, instalando-os nas regiões onde passaram a viver, constituindo, ao longo do
século XX, várias ilhotas linguísticas no Brasil, nas quais seus descendentes lhes conservam o falar e
outros costumes. A convivência dos imigrantes em grupos relativamente coesos e o isolamento de suas
colônias em relação aos demais centros de povoamento contribuíram para a manutenção dessas línguas.
Assim, hoje, boa parte dessas minorias linguísticas é bilíngue em sua língua materna e em português.
Contudo, exceto em relação ao alemão, ao italiano e sua(s) comunidade(s) – sobre cuja implantação,
bilinguismo com o português do Brasil (doravante, PB), interferência deste e neste (via herança lexical), há
um número já considerável de estudos sistêmicos e relativamente adensados –, a contribuição das demais
comunidades imigrantes e a relação de suas línguas com o PB não vêm sendo estudada pela nossa
academia, constituindo uma lacuna a ser preenchida. Sobre a maioria delas há, no máximo, trabalhos
genéricos sobre os empréstimos, em que se identificam vocábulos de uso geral, em todo o país, e aqueles
bem mais geograficamente localizados, que acabaram aprofundando as diferenças regionais do PB.
Até a Constituição Federal de 1988, a situação dessas comunidades bilíngues (e de outras, como as
indígenas) era bastante complicada, porque o Estado não reconhecia sua existência. Neste sentido, um
importante aspecto da atual Carta Magna é a caracterização do Brasil como país de língua oficial
portuguesa. Assim, desde 1988, o Estado brasileiro admite que, embora majoritário, o português não é
língua de todos os seus cidadãos, abrindo a brecha para que as minorias linguísticas sejam inicialmente
escolarizadas em suas efetivas línguas maternas. A partir dessa prerrogativa, alguns municípios
resultantes de antigos núcleos de colonos europeus, em suas Leis Orgânicas, oficializaram, ao lado do
português, a língua materna de sua população, base da escolarização inicial.
Este dado da realidade linguística brasileira aponta um aspecto básico de nossa problemática
alfabetização: se em relação às línguas de imigrantes, é relativamente mais fácil a solução (material
didático e humano para a alfabetização e escolarização nessas línguas não são raros) e se mesmo
algumas línguas autóctones já estão suficientemente estudadas a ponto de possuir material didático e
humano para a empreitada, sua implementação, na maioria dessas, ainda é utopia.
Nesta e nas próximas edições, trataremos dos casos de algumas línguas de imigração recente de per
si, destacando aspectos de sua influência no PB e de algumas questões identitárias da população falante.
Iniciemos pelo italiano, língua românica cujos primeiros falantes ingressos no Brasil procediam da
Lombardia, de Trento (Alto Ádige, Friuli), Venécia Júlia e do Vêneto – é atualmente falado no Acre, sul da
Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, sul de Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo, sendo um dos mais difundidos
idiomas da chamada imigração recente. (GUIMARÃES, 2005)
Não se pôde ainda precisar o número de imigrantes italianos que entraram no Brasil no período do
grande movimento de imigração, em função da alta proporção de imigração clandestina, não registrada.
Ademais, muitos falantes de dialetos italianos nascidos no Brasil foram registrados como brasileiros e
falantes de português. A interdição das línguas estrangeiras apressou a nacionalização dos imigrantes
italianos no Brasil. Assim, durante longo tempo, sua língua e a memória histórica foi silenciada.
Atualmente, muitos brasileiros provenientes da imigração italiana falam o português com traços de
italiano. Esses traços estão presentes desde a fonologia, passando pelo léxico, pela semântica e pela
morfologia, até a sintaxe, apresentando-se ainda em fragmentos de discursos, em provérbios e