baixa densidade populacional, depois para suprir a ausência de mão-de-obra para as lavouras cafeeiras,
provocada pela abolição e pelo deslocamento dos antigos escravos para os centros urbanos.
Contudo, exceto em relação ao alemão, ao italiano e sua(s) comunidade(s) – sobre cuja implantação,
bilinguismo com o PB, interferência deste e neste (via herança lexical), há um número já considerável de
estudos sistêmicos e relativamente adensados –, a contribuição das demais comunidades imigrantes e a
relação de suas línguas com o PB não vêm sendo estudada pela nossa academia, constituindo uma lacuna
a ser preenchida. Sobre a maioria delas há, no máximo, trabalhos genéricos sobre os empréstimos, em
que se identificam vocábulos de uso geral, em todo o país, e aqueles bem mais localizados, que acabaram
aprofundando as diferenças regionais do PB.
Na edição anterior, tratamos do italiano. Nesta, com base em Bolognini; Payer (2005) e Guimarães
(2005), focaremos no alemão, cujos primeiros falantes ingressos no Brasil procediam da Alemanha, Suíça,
Rússia, Polônia e Áustria. Atualmente, ele é falado nas cidades de Santa Leopoldina (ES), Rio Negro,
Ponta Grossa, Rolândia, Entre Rios (PR), Blumenau, Joinville, São Francisco do Sul, Brusque, Itajaí, São
Bento (SC), São Leopoldo, Santa Augusta, São Lourenço, Lageado, Montenegro (RS).
As primeiras colônias fundadas por imigrantes teutofalantes foram Leopoldina e São Jorge, em 1818,
na Bahia, e depois Nova Friburgo, em 1820, no Rio de Janeiro. No fim de 1824, D. Pedro I enviou o major
Georg Schäffer a Hamburgo para recrutar soldados e colonizadores; ele voltou com cerca de 125 pessoas;
38 delas receberam terras na região do rio dos Sinos (RS), fixando-se onde depois surgiu São Leopoldo.
Entre 1824 e 1830, entraram cerca de 5 mil teutofalantes no país, fixando-se principalmente nos dois
Estados do extremo Sul, em locais a eles destinado pelo governo brasileiro, interessado em povoar a
região. Entre 1847 e 1854, entraram legalmente cerca de 2700. No Espírito Santo, entre 1860 e 1879
chegaram teutofalantes alemães e pomeranos (de região atualmente dividia entre Alemanha e Polônia),
fixando colônias nos atuais municípios de Domingos Martins, Santa Leopoldina, Santa Teresa, Alto Santa
Maria, 25 de Julho, Limoeira, Jatiboca, São João de Petrópolis. Esse fluxo migratório foi interrompido por
14 anos, devido à Revolução Farroupilha. Além disso, a propaganda para a imigração foi proibida na
Alemanha em 1859, só vindo a ser permitida em 1896 e, mesmo assim, só nos três estados sulistas.
Com a unificação da Alemanha (1875), missões nacionalistas protestantes voltaram para cá com a
doutrina religiosa e o alemão padrão (Hochdeutsch). É dessa época o surgimento de diversas publicações
em alemão no Brasil: jornais, cartilhas, manuais de orientação religiosa e familiar, manuais técnicos,
boletins informativos e livros de história e literatura inspirados na vida dos imigrantes.
Em 1917, o Brasil entra na I Guerra Mundial contra a Alemanha e a circulação de periódicos e as
instituições em alemão foram proibidas. Após o término desse conflito, as relações diplomáticas entre os
dois países foram reatadas e o alemão e seu funcionamento em escolas e igrejas, deixou de ser proibido.
Até o início da II Guerra Mundial, houve a entrada de cerca de 300 mil imigrantes alemães no Brasil
que, somados a seus descendentes, contavam 1,2 milhões de teutofalantes em 1935. Nessa época, eles
se organizavam em pequenos grupos onde mantinham os dialetos locais. Contudo, com a entrada do
Brasil no conflito, novamente escolas e igrejas alemãs foram fechadas e jornais, proibidos. Apesar disso,
um número considerável de brasileiros que se consideram falantes e alemão devido à sua ascendência. No
entanto, não há pesquisas recentes que possam fornecer dados numéricos confiáveis.
Ainda neste tópico, cabe tratar do pomerano, dialeto alemão praticado apenas na oralidade (embora
recentemente haja tentativas de fixar-lhe um padrão escrito) em Pomerode e Harmonia (RS), Santa
Leopoldina e Santa Maria de Jetibá (ES), uma vez que na Alemanha, com o fim da Pomerânia, não se tem
mais notícia dele. Nas cidades brasileiras de falantes de pomerano, o alemão padrão também é falado em
atos religiosos e festividades folclóricas e ensinado nas escolas após o 6º ano do Ensino Fundamental,
enquanto o português só é praticado na escola.
Referências
BOLOGNINI, Carmen Zink; PAYER, Maria Onice. Línguas de imigrantes. Ciência e Cultura, São Paulo, v.
57, n. 2, p. 42-46, jun./2005.
GUIMARÃES, Eduardo (Coord.). Enciclopédia das línguas do Brasil. Campinas: LEU/UNICAMP, 2005.
Disponível em: <https://www.labeurb.unicamp.br/elb/geral/busca.html>. Acesso: 13.jun.2009.