2017), apesar de sua escrita padrão também ter registros no Brasil3.
Língua com cerca de 3300 anos de registro escrito – a mais antiga, nesse sentido – (JANSON, 2015),
aquilo que conhecemos como chinês, na verdade, é um conjunto de línguas (com dialetos e subdialetos)
da família sino-tibetana não tão semelhantes ou de fala inteligível entre si, unificadas num mesmo sistema
de escrita ideográfica, simplificado no século passado, mas ainda bastante complexo.
No Brasil, sua introdução data de 1810, data da chegada dos primeiros imigrantes, a maioria homens
solteiros oriundos de Guangdong ‘Cantão’ e instalados na região de Nova Friburgo (RJ) para o cultivo do
chá. Algum tempo depois, vieram trabalhadores da mineração e da construção civil da mesma área. No
século passado, houve pelo menos três grandes momentos4 de imigração chinesa para o Brasil, motivados
por acontecimentos políticos. Do início do século XIX a meados do século XX, a maioria dos adventícios
era do sul da China e falava os dialetos yue (cantonês) e wu (xangainês), reintroduzidos no final daquela
centúria; no início da década de 1970, os taiwaneses aqui trouxeram o seu minnan e o kejia ou hakka. Ao
longo desse tempo, o putonghuà (mandarim, língua oficial ou comum) sempre teve falantes no Brasil.
Ora, boa parte desses imigrantes pretendia enriquecer e retornar a seu país; todavia, os fatos políticos
indicados na nota 3 substituíram essa ideia pela de integração ao novo território e cultura, inclusive com o
aprendizado de uma nova língua. No Brasil, hoje, é de 190 mil a população de chineses e sino-brasileiros,
120 mil só no estado de São Paulo, uma população em geral bilíngue, traço manifestado numa das
seguintes configurações: chinês/português (imigrantes mais recentes e de idade mais avançada, com
vários níveis de fluência); chinês/inglês (imigrantes recentes, já usuários do inglês quando da chegada ao
Brasil); português/inglês (descendentes brasileiros dos imigrantes); chinês/japonês (imigrantes taiwaneses
maiores de 70 anos por ter sido a ilha ocupada pelo Japão de 1895 a 1945), entre outras. Além disso, os
imigrantes normalmente falam seu dialeto materno e dominam a língua comum que, quando não
coincidentes, aprendem na escola, mas não são raros falantes de três ou quatro dialetos, que, assim, além
do bilinguismo, vivenciam multidialetismo. (JYE, SHYU; MENEZES JR., 2009)
Principalmente na última década, dado o espantoso crescimento econômico da China e sua primazia
como parceira do Brasil no comércio internacional, vem crescendo o interesse de brasileiros – com ou sem
essa ascendência – pelo estudo do putonghuà, fazendo eclodir cursos, mesmo remotos, país afora,
inclusive no ambiente universitário (ROCHA, 2021), o que pode desfavorecer tendência apontada por Jye;
Shyu e Menezes Jr (2009) de fim do bilinguismo chinês/português entre os sino-brasileiros. O futuro dirá.
Quanto ao coreano5, no Brasil, seus falantes nativos procedem, em geral, da Coréia do Sul. Em São
Paulo, ele é falado na capital, em Santos, no ABCD e em Campinas; também é registrado na capital
federal e na dos estados do Sul, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
Oficialmente, essa imigração é uma das mais tardias, tendo se iniciado em 1963; contudo, já antes,
pequenos grupos de prisioneiros da Guerra da Coréia (1950-1953) haviam chegado ao país. Os primeiros
107 imigrantes oficiais eram agricultores desembarcados em Santos em busca de oportunidades. De 1963
a 1974, houve grande fluxo imigratório de coreanos para o Brasil que, em sua maioria, optou pelas cidades
devido à ausência de infraestrutura para agricultura ou a problemas impeditivos de sua fixação no campo.
Os imigrantes coreanos enfrentaram dificuldades na nova terra, no entanto, as superaram e hoje estão
começando a integrar-se no país através de seus filhos, que promovem a integração da cultura coreana
com a brasileira. Já na segunda geração, a língua está perdendo papel comunicativo, mas, junto com
outros elementos culturais, se conserva através de novelas coreanas, canções populares, salas de chat da
Internet e jogos interativos online, além do estudo nas escolinhas da língua coreana.
Atualmente, cerca de 50 mil sul-coreanos vivem no Brasil, a maioria na cidade de São Paulo (96,84%).
Estima-se que quase 60% de imigrantes são do centro-sul da Coréia do Sul, cujo dialeto é predominante
no Brasil, embora ainda se conservem traços de dialetos de outras procedências. Dos imigrantes coreanos,
os mais velhos falam primordialmente sua língua materna, usando o português como língua instrumental
limitada, somente relacionada ao comércio; por sua vez, o português predomina para os mais jovens,
usuários de um coreano bem limitado.
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1. As referências deste artigo encontram-se ao final deste exemplar.
2. Por outro lado, da assimilação de traços da cultura nipônica pela população brasileira, resultou, no português
brasileiro, uma série de empréstimos lexicais, principalmente nos campos da alimentação (sushi, sashimi, tempurá,
shoyu, shitake), esporte e lazer (judô, jiu-jitsu, karaokê, caratê), costumes (ofurô, tatame, quimono), religião (bonzo,
butsudan), ciências (tsunami), relações familiares (nikkei, issei, nissei, sansei), relações de trabalho (dekassegui), etc.
3. Desde o início da imigração japonesa para o Brasil, o japonês escrito tem lugar na publicação de jornais da
comunidade ou de suas associações, interrompidas no período da II Guerra Mundial. Além disso, desde aquela época,
diferentes manifestações literárias têm sido desenvolvidas no seio da comunidade sob a forma de contos, romances e
de formas poéticas, como o Haiku e o Tanka, também cultivadas por escritores brasileiros.
4. Momentos: 1. da Guerra Sino-japonesa (1931-1945) à Revolução Maoísta (1949), que aqui introduziram técnicos e
industriais chineses; 2. de 1967 (o início da ditadura Suharto pressionou os sino-descendentes da Indonésia a migrar)