UM GRANDE NEGÓCIO


 

                        Países cuja qualidade de vida e renda per capita são de dar inveja e cuja  maioria tem um discurso evangélico-cristão  quase que eliminaram o “traficante de drogas”. Os “viciados”, devidamente identificados e nem por isso discriminados, recebem gratuitamente a “droga” e são atendidos, cuidados, pela sociedade e pela família.

            A hipocrisia, ou esperteza, ou  ingenuidade, ou desinformação, ou burrice, que faz  com que se condene oficialmente as consideradas -  sabe-se lá sob que critérios - drogas e se propagandeie e estimule pelos quatro cantos o fumo e a bebida alcoólica é a mesma que condena os cassinos e certos jogos ditos de azar e  aceita os bingos,  loterias e congêneres.  Não será ela que contribui para que vinguem jogadas como os do 0900?

Alguns pesquisadores e médicos  recomendariam certas ervas para determinadas doenças crônico-degenerativas,  caso não fossem elas ligadas à contravenção penal. Milhares de pessoas teriam sua qualidade de vida melhorada se as consumissem nas doses e ocasiões ideais.

Tribos  indígenas mascam folhas de ervas consideradas “drogas” quando vão fazer grandes caminhadas  ou delas se utilizam em  práticas religiosas, e nem por isso  vivem se  “drogando” com elas.

            Há os que se enchem de remédio, por conta e risco próprios.  Outros acabam morrendo por terem sido, a vida toda, radicalmente contra tomar remédio,  que é uma droga, cabe lembrar. Por falar nisso, por que se deixou de chamar as Drogarias de Drogarias, passando-se a rotulá-las de Farmácias? E por que são elas, hoje, um grande negócio em nosso país?

Sou capaz de entender o sucesso das lojas de 1,99, mas o das de remédios, não; menos ainda por estarem eles cada vez mais caros. Aliás, por quê? 

            Por  que o consumo de cigarros e bebidas alcoólicas aumenta, malgrado as companhas contra eles? Aliás, como explicar para as crianças e jovens o fato de serem eles autorizados e as chamadas drogas não.

Ou não se tem que explicar nada? Afinal, fui criada sem saber porque podia jogar buraco, bisca, sueca, “no recesso do lar, sem nunca entender porque uns, os mais pobres, os ditos malandros, se escondiam no mato para jogar ronda e os mais ricos e bem situados se escondiam nos bem situados cassinos, clandestinos até que ponto.

Pelo que ouvi, na época, é  porque aqueles são à brinca, e esses, à vera.

O fumo e a bebida alcoólica, então, são à brinca?

 

 

 

(In O Correio, Rio de Janeiro, Ed. de 29/04 a 12/05/2000. P.13.)

 

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