"O
|
A
Verificou-se no Magistério, de uns tempos para cá, o desespero dos mais inquietos e conscientes, o afastamento de muita gente capaz, a invasão de muitos que nada têm a ver com o ensino, a revolta de outros, a alienação de muitos, o pouco caso de um bom número.
Há professores do lado dos que passam fome, é bom frisar. Sua desnutrição se processa na fome de alimentos e na fome de saber, posto que, se há falta recursos para as necessidades básicas, que dizer das necessidades de aperfeiçoamento e atualização.
Esqueceu-se – ou se fez esquecer – que de nada adiantam teorias sendo implantadas, ou impostas, sem que a peça-chave do processo, o professor, esteja bem. Ele só estará bem se a escola como um todo mudar, se o investimento em educação sair do discurso de campanha eleitoral para a prática, e se o professor, em lugar de gorjetas, receber um salário digno de sua missão de formar e informar.
A luta pela escola passa obrigatoriamente pelo professor, mas tem de ser deflagrada e sustentada por toda a sociedade. E ela está, a nosso juízo, diretamente ligada à luta contra a fome, e vice-versa. Não há como desvincular a erradicação do analfabetismo da erradicação da fome. São faces da mesma moeda sem lastro desse país que cabe tornar País.
E que se lembre que ambas as fomes não cessam de existir. Ficam mais seletivas e exigentes no paladar quando experimentam os vários pratos. Por isso assustam aqueles a quem interessa mantê-las, na ausência da alimentação mínima necessária à vida com qualidade, na inanição, que leva à morte, física e mental. Uma vez satisfeita uma delas, a luta pela satisfação da outra é incontrolável, no tão propalado, e nem sempre bem compreendido, exercício da cidadania.
[1] Publicado na Revista Plenitude (Universal Produções), seção "Reflexão, ed. n.º 106, 2004