DA ORGANIZAÇÃO DO ESPÓLIO À EDIÇÃO CRÍTICA
DA OBRA DE EULÁLIO DE MIRANDA MOTA
Patrício Nunes Barreiros (UEFS)
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, pretende-se demonstrar como se está processando a organização do espólio da obra do escritor baiano Eulálio de Miranda Mota, com vistas à edição crítica da mesma. Considerando que Eulálio de Miranda Mota não pertence ao cânone da literatura baiana, o interesse pelo estudo de sua obra foi motivado pelo fato do escritor ter deixado um grande acervo de obras editas e inéditas. Portanto, resgatar do quase anonimato e inseri-lo na fenomenologia literária, constitui-se num desafio. E ao que nos parece, a edição crítica de sua obra é o caminho mais seguro para traze-lo a lume.
A obra de um escritor percorre um longo caminho até chegar aos olhos de seus leitores. Dos primeiros rabiscos que ganharão corpo até a primeira edição, o autor torna-se crítico de si mesmo, compondo versões diferentes do mesmo texto, elegendo quais textos merecem ser publicados e aqueles que não são dignos de serem apreciados. Há ainda textos que não interessam aos editores e outros que foram publicados e esquecidos, sem que houvesse outras edições. Assim, ao longo do tempo, um escritor pode acumular grande quantidade de material de estimado valor. Cartas, fotografias, documentos pessoais, manuscritos de textos éditos e inéditos, diários e anotações ajudam a montar o mosaico que pode revelar detalhes que o conjunto da obra publicada não consegue expressar, como aconteceu com o romance Macunaíma do escritor modernista Mário de Andrade que os estudos de anotações contidas em documentos do espólio do autor, puderam elucidar importantes dados sobre a obra. Se não existissem pessoas preocupadas em preservar a memória através da conservação de documentos que permitem novos olhares para a obra do escritor, seguramente ainda teríamos uma visão equivocada da produção literária de Camões ou talvez, jamais conheceríamos a obra de um escritor como Gregório de Matos. Quantos equívocos foram esclarecidos a partir dos manuscritos preservados de Fernando Pessoa? O trabalho de organização, catalogação e preservação de documentos constituem-se nos primeiros passos para que a memória de um escritor ou um fato histórico se perpetue no tempo e expresse fidedignidade. Em se tratando de trabalhos de edição crítica, torna-se indispensável que o filólogo disponha de um conjunto de documentos que viabilizará um bom trabalho de edição. Segundo CASTRO (1995: 515) “o estabelecimento do texto é a tarefa para que convergem directa ou indirectamente, todos os esforços do filólogo, consistindo em preparar para o uso do leitor uma cópia de determinado texto, geralmente sob a forma de edição crítica (...)”. Mas para que o texto seja apresentado com fidedignidade aos leitores, o filólogo necessita realizar uma pesquisa exaustiva em documentos que possam servir de testemunha no estabelecimento do texto autêntico.
(...) não há limites a impor aos conhecimentos que possam ser exigidos do editor, conforme as necessidades do caso: conhecimentos estéticos, literários, jurídicos, históricos, teológicos, científicos, filosóficos; acerca de quanto o texto contenha deve o editor obter todas as informações que as pesquisas anteriores forneceram. AUERBACH (1972: 17)
Para que se proceda em uma edição crítica de uma obra, conforme afirma AUERBACH é imprescindível conhecer a obra e tais conhecimentos são inesgotáveis. Não há pesquisas, até o momento, sobre a obra de Eulálio Mota, basicamente a única fonte de pesquisa é o seu espólio que contem uma infinidade de materiais ricos de informações, desde diários a textos inéditos e documentos pessoais. O autor publicou três livros, alguns textos em forma de folhetos outros em jornais e revistas. Portanto, organizar os documentos deixados pelo escritor é tarefa que deve preceder a edição crítica de sua obra. O espólio de Eulálio Mota encontra-se disperso e necessita ser organizado e catalogado para que facilite o manuseio e garanta a sua preservação. Quando se trata de um escritor canônico, geralmente já existem acervos organizados, disponíveis aos pesquisadores em biblioteca, arquivos e institutos, sob a proteção de profissionais. Mas quando se trata de um escritor pouco conhecido, como é o caso de Eulálio Mota, sem um acervo documental já organizado, o primeiro desafio do pesquisador é chegar a tais documentos e organizá-los. A seguir demonstraremos como se encontra o processo de organização do espólio de Eulálio Mota que foi iniciado em 1999 e até o momento não se encontra totalmente concluído. Acreditamos que antes de proceder na edição crítica da obra do autor, faz-se necessário uma organização sistemática do material que compõe o seu espólio.
NOS TRILHOS DE UMA VIDA:
EULÁLIO DE MIRANDA MOTA
A gêneses da pesquisa
Em Mundo Novo, cidade natal do escritor Eulálio de Miranda Mota, ele é bastante conhecido, ainda que as gerações mais jovens não conheçam a sua obra. O fato é que o nome de Eulálio Mota foi incorporado à memória da cidade. Ruas, praças, escolas, bibliotecas e até mesmo a casa da cultura da cidade levam o seu nome. Em todos os livros sobre Mundo Novo, o seu nome é mencionado como sendo “o poeta da cidade”, exemplo de cidadão ilustre. Em 1999, empreendemos uma pesquisa sobre o poeta Eulálio Mota, com o intuito de elaborar uma monografia do curso de Licenciatura em Letras da Universidade Estadual de Feira de Santana, orientada pelo professor Adeítalo Pinho. Inicialmente, mantivemos contato com alguns pequenos comentários biografias e poemas em livros sobre a história de Mundo Novo. Descobriu-se que Eulálio havia publicado três livros: Ilusões que Passaram (1931), Alma Enferma (1933) e Canções do Meu Caminho (1979). Outra descoberta que motivou a pesquisa foi o farto de Eulálio ter participado da vida literária de Salvador durante a década de 1920, ter publicado em diversas revistas e jornais desta época e ter sido amigo de diversos escritores como Jorge Amado, Adonias Filho e Plínio Salgado, por exemplo. A possibilidade de investigar qual a participação do poeta mundunovense na literatura baiana foi o que primeiramente motivou a pesquisa. A partir de então, o desafio seria encontrar as obras publicadas por Eulálio e investigar suas publicações em jornais e revistas. Foi com este intuito que procuramos a família do poeta, em Mundo Novo. Como Eulálio não se casou, seus legítimos herdeiros eram seus irmãos e sobrinhos. Na verdade, somente um irmão de Eulálio está vivo e ainda mora em Mundo Novo, onde moram também dois sobrinhos: Helder Mota e Tertuliano Mota que também são poetas. Os familiares do poeta demonstraram grande satisfação pelo interesse em pesquisar a sua obra e, muito prontamente, colocaram-se à disposição para contribuir com a pesquisa. O livro Canções do Meu Caminho foi o primeiro a ser estudado e logo de início percebemos a sua preferência pelo soneto e adesão ao parnasianismo, atendendo ao gosto dos soteropolitanos da década de 20. Neste livro de poemas, percebemos a recorrências de algumas temáticas como: o sertão, a ilusão perdida, a mulher amada. Com o andar das investigações e durante os encontros com os familiares do poeta, fomos nos aproximando da sua trajetória literária.
Em 1999, fizemos uma visita a casa do poeta, lá encontramos uma grande quantidade de material que consideramos o nosso maior achado. A biblioteca do poeta estava intacta, os móveis conservados, as fotografias continuavam nas paredes, na verdade, na ocasião, já faziam 11 anos que Eulálio havia morrido. Em um velho guarda-roupas encontramos diversas caixas, latas, pastas, livros e uma infinidade de cadernos manuscritos e folhas de papel almaço com manuscritos de poemas e crônicas. Tudo guardado cuidadosamente. De repente, nos deparamos com um enorme acervo de documentos inéditos, coleções de jornais, centenas de panfletos, cartas, diplomas e até documentos pessoais.A impressão era de que o poeta, antes de morrer, resolveu guardar todo aquele material que representa o seu memorial, sua herança. O cuidado ao guardar recortes de poemas publicados em jornais, cartas de amigos, diários, fotográficas, nos fez perceber a intenção do poeta de que aquilo fosse encontrado por alguém que pudesse fazer bom uso. Foi como se estivéssemos diante do tesouro escondido. A família do poeta confiou-nos, gentilmente, a guarda do material encontrado, principalmente os manuscritos, fotografias e documentos pessoais e desde então, empreendemos a tarefa de organizar o que podemos chamar de “Espólio de Eulálio Mota”. Somente ficaram naqueles velhos guarda-roupas objetos pessoais, algumas fotografias e livros. Hoje, quando olhamos para o material que compõe o espólio de Eulálio Mota percebemos o desafio que é montar o grande quebra-cabeças e desvendar o mistério que ainda é a sua obra. É como se ouvíssemos o oráculo dizer: “decifra-me ou te devoro”.
Eulálio Motta, Brás Cubas, Liota... um escritor
Após entrevistar amigos e parentes de Eulálio Mota e ler os seus diários, percebeu-se que ele não teve uma vida comum. A atitude poética não estava somente em seus versos, ele vivia poeticamente e carregou consigo a fidelidade ao amor, assumindo, com esta atitude, o risco de ser condenado à solidão. E foi o que de fato aconteceu. Esta solidão o levaria a alguns momentos de profundo pessimismo e desencanto pela vida. A prova disso é que durante algum tempo, Eulálio passou a assinar seus textos com o pseudônimo de Brás Cubas, como se a sua vida fosse marcada pelo que poderia ter sido, pela impossibilidade. O poema em destaque expressa muito bem este sentimento.
Epitáfio: Uma vida sem vida; minha vida... quando morrer.. um epitáfio seria adequado: Aqui jaz alguém que nasceu condenado a olhar a vida sem poder viver!. (MOTTA, 1979: 80)
O poeta solitário que fora condenado a ver a vida passar sem poder viver, deixara um legado, mas quem seriam os herdeiros deste legado? Não se casou, não teve filhos. Assim como Brás Cubas, Eulálio deixou somente o legado de sua memória, mas como não estamos numa ficção machadiana onde é possível evocar o espírito do protagonista morto para narra a suas memórias, resta aos pesquisadores, a tarefa de resgatar a memória de Eulálio Mota. As informações sobre a vida de Eulálio são difíceis de serem colhidas porque o poeta teve uma vida de isolamento, sem muitos amigos e os poucos que teve não discutiam sobre a sua obra, mas sim sobre a criação de gado, sobre as chuvas e as constantes secas. Os diários, cartas e anotações são as mais importantes e seguras fontes de informação sobre a vida literária do escritor. Assim, com base nestes documentos e em entrevistas, sabe-se que Eulálio de Miranda Mota nasceu em 15 de abril de 1907 no arraial Alto Bonito, no município de Mundo Novo, como atesta o datiloscrito do poema:
15 de abril de 1907,
começo deste século fantástico.
Naquele dia,
em casa de meu pai,
alegria! alegria! alegria!
porque aquele dia
nasceu um menino!
Imagino o ambiente,
em casa de meu pai
e no arraial, naquele dia:
Metila mãe-preta da gente,
ansiosa para ver o recém-nascido
para ver com quem seria parecido.
(...)
Era o assunto do dia no arraial.
Na venda de seu Tito
no balcão de Tio Zé Motta,
na casa da professora,
o assunto da conversa era aquele:
na casa de seu Totonho...
O nascimento de um menino!
Qual seria o seu destino?!
Hoje... 15 de abril de mil, novecentos e oitenta e tantos
Alto Bonito ainda existe.
E é só!
Até os 15 anos, Eulálio viveu no arraial de Alto Bonito e na Fazenda Vaca Parida, lugares que deixou profundas marcas em seu imaginário. Com 16 anos Eulálio passou a viver em Monte Alegre, hoje Mairi, onde conheceu Edy que foi o primeiro e único amor de sua vida. Nesta época, o irmão mais velho de Eulálio já vivia em Salvador, seu pai percebendo sua inclinação para as letras o enviou a Salvador para seguir estudando. Em Salvador, Eulálio ingressou no Ginásio Ipiranga, onde conheceu Jorge Amado. Antes mesmo de partir para Salvador Eulálio já escrevia versos, mas foi no Ginásio Ipiranga que o poeta ganhou incentivo dos colegas e chegou a participar de concursos de poesias. Assim, aproveitando o clima literário de Salvador da década de 20, ainda sobre o influxo dos Cavaleiros da Nova Cruzada, Eulálio publica pela primeira vez um poema seu, na revista A Luva, em 1926. A partir de então, Eulálio passa a publicar com freqüência em jornais como O Imparcial, Caderno da Bahia, Diário de Notícias e A Tarde, em revistas como A Renascença, Vanguarda e a já citada A Luva. A poesia de herança parnasiana parecia interessar ao gosto do publico soteropolitano da época, pois Eulálio produzia com grande entusiasmo e publicava bastante. Em 1930, ele publicou um livro de poemas intitulado Ilusões que passaram e em 1931, publicou Alma enferma que mereceu destaque na imprensa local. No jornal A Tarde, na coluna Homens & Obras o crítico e escritor Carlos Chiacchio comenta:
Numa pequena brochura trabalho da graphica da Imprensa Vitória o Sr. Eulálio enfaixa várias poesias de seu livro. O autor é um contemplativo. Olha a vida através do vidro amarelo de uma resignação piedosa, locada das máximas renúncias.
A inteligência incontestável do poeta exurge com emanações subtís de uma flor agreste que se esteida, humildemente, à beira da estrada.
Mas o amor, esse grande mágico, vem, de quando em quando, sittea-lhe o coração e dizer-lhe baixinho que a Felicidade é a mulher”. (...)
Tem sentimento e o autor faz um pouco daquilo que Bilac aconselhava para o soneto: talento.” (Jornal A Tarde de 26/10/1933)
Carlos Chiacchio, neste comentário, capta algumas das características marcantes da obra de Eulálio Mota: o gosto pelo soneto, a mulher amada e uma profunda desilusão. Já Agberto de Campos, no Jornal Diário de Notícias, de 27 de outubro de 1933, capta outros aspectos do livro Alma Enferma.
Ainda quente dos prelos da Imprensa Vitória, acaba de sair a lume, em primorosa brochura, mais um livro – o segundo, me parece do Sr. Eulálio Mota, sob o título de “Alma Enferma”.
É um livro de versos, meio-sério, meio-humorista. Mas, em todo-caso, interessante. Que a gente lê com agrado. Há versos, em que a verve salta espontânea e livre como água da fonte.
(...)
Pois bem: é esse poeta sarcástico, satírico, todo cheio de ironia – porque o seu livro é bem assim – quem escreve a delicadeza lírica e sutil destas belas “redondilhas”.
É, como se vê, mais um poeta que aparece. Bem-vindo seja.(Jornal Diário de Notícias de 27/10/1933)
Percebe-se que o olhara de Egberto de Campos, capta o lado humorista e irônico do poeta Eulálio Mota. No final da década de 20, os poetas da Bahia já sofriam a influência dos poetas modernistas do sul do país e Eulálio não foi uma exceção, ainda que ele preferisse o verso ao sabor parnasiano. Em 1933, Eulálio conclui o curso de Farmácia na antiga Faculdade de Medicina da Bahia e retorna a Mundo Novo. Frustrado por perder o grande amor de sua vida, passa a viver na Fazenda Morro Alto, dedica-se à criação de gado e à prática literária. Sem incentivo editorial e distante da capital, publica seus textos em forma de panfletos os quais eram custeados por ele mesmo e distribuídos na cidade. Nesta ocasião Eulálio dedica-se à poesia lírica, ao cordel e à crônica. Funda o Jornal Mundo Novo e passa a ser o seu maior colaborador, não só como literato, mas também como jornalista. Durante as décadas de 40 a 60 mantém uma coluna intitulada Atualidades, no jornal O Serrinhense, da cidade de Serrinha. Viveu o resto de sua vida em Mundo Novo, mantendo o hábito de divulgar seus folhetins que com o tempo passam a ter uma função política. Eulálio era ligado ao partido Integralista, fora amigo de Plínio Salgado e, em Mundo Novo, teve considerável participação política, aliado ao Regime Militar.
Apesar de ter publicado cerca de 40 poemas e 80 crônicas em forma de folhetim, alguns poemas em jornais e revistas e três livros de poemas, a obra de Eulálio encontra-se em sua grande maioria, inédita. Percebe-se em seus diários a intenção de realizar algumas publicações como se pode perceber em anotações no CMPReA27-33 (p. 59r):
[O meu livro de versos, que será intitulado “Flores e espinhos”, compor-se-á dos seguintes versos:]
E no CMD33-38 (p. 6v):
[Meu terceiro livro de versos será intitulado – “Terceiro livro”. O prefácio será este: o meu 1º livro foi publicado em 1931, sobre o título de “Ilusões que passaram...” O segundo, intitulado “Alma enferma” foi publicado em 1933. Este é o meu “Terceiro livro”.]
Portanto, o espólio de Eulálio Mota compõe-se de rico material inédito que ele pretendia publicar, sem que chegasse a faze-lo. A reunião, catalogação e conservação do seu espólio permitirá que a vontade do autor possa se concretizar através de sucessivas edições críticas de sua obra, o que promoverá o resgate da sua memória e irá inseri-lo na fenomenologia literária.
O ESPÓLIO DE EULÁLIO DE MIRANDA MOTA
Para o Dicionário Essencial da Língua Portuguesa (2001: 383) a palavra espólio significa “o conjunto de todos os bens deixados como herança por quem morreu”. Portanto, quando nos referimos a espólio de Eulálio Mota, estamos fazendo alusão ao conjunto de documentos e objetos que se constituem bens culturais deixados como herança pelo escritor Eulálio Mota. Tais documentos e objetos são importantíssimos para traçar a trajetória artística do escritor, porque neles residem as suas memórias.
No caso específico de Eulálio Mota, torna-se impossível realizar estudos sobre sua obra sem a devida organização do seu espólio. Como já dissemos, Eulálio não deixou herdeiros e pouco se sabe sobre a sua vida literária. Os documentos que compõem o seu espólio são fontes inesgotáveis de informações sobre o artista e sua obra. É através de seus diários, cadernos de anotações, fotografias, documentos pessoais, manuscritos, datiloscritos e cartas que estamos compondo o gigantesco mosaico de sua produção literária. Antes de chegarmos aos seu cadernos de anotações apenas tínhamos conhecimento de que Eulálio havia publicado um livro (Canções do meu caminho). No CMD33-38 (p. 5v), Eulálio fez a seguinte anotação [26-10-933 - “A Tarde” publica uma nota boa, em pagina ótima, sobre “Alma enferma”]. A partir desta anotação, checamos o Jornal e encontramos a nota de Carlos Chiaccio. O mesmo aconteceu quando encontramos o CMPReA27-33, em cujo caderno de manuscritos o poeta anota em que revista ou jornal o poema foi publicado. Até então, nem mesmo a família do poeta havia nos dado a informação de que ele tinha publicado seus poemas em revistas como a A Luva, Renascença, e jornais como O Imparcial, Diário de Notícias etc. Se não fossem as cartas e seus diários e anotações, não teríamos chegado a tais informações. Há uma grande quantidade de fatos que foram elucidados pelos documentos e outros que surgiram a partir das análises e leituras destes documentos, tal é a importância do espólio de Eulálio Mota para que se possa conhecer a sua obra. Hoje, quem quiser conhecer um pouco sobre o escritor Eulálio Mota precisa recorrer ao seu espólio dada a insuficiência de informações publicadas até então.
A seguir apresentar-se-á a relação de documentos que compõem o espólio de Eulálio Mota. O material compreende o período de 1922 a 1988, ou seja, 66 anos de atividade literária. Para fazer a catalogação do material coletado, organizamos em 11 categorias: a) livros publicados; b) datiloscritos; c) cadernos de manuscritos – poesias; d) cadernos de manuscritos – textos diversos; e) manuscritos em papel almaço – poesias; e) panfletos – poesias; f) panfletos – crônicas; g) cartas; h) cadernetas; i) fotografias e j) documentos pessoais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatamos, portanto, que somente a partir do estudo detalhado do espólio do escritor Eulálio de Miranda Mota é que será possível editar criticamente a sua obra, já que o escritor não deixou outras fontes de informações sobre a sua trajetória literária. O ineditismo da obra de Eulálio e seu isolamento no interiro da Bahia contribuíram para que a sua obra não tivesse a projeção que mereceu em seu tempo. Assim, editar criticamente a sua obra é possibilitar um diálogo com cânone da literatura baiana e oferecer aos leitores e aos estudiosos da literatura um texto fidedigno e que represente a vontade do escritor.
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