A CRIAÇÃO NEOLÓGICA NO JORNAL IMPRESSO
DISCURSO E INFORMALIDADE

Joana D’arc O. Canônico (UERJ)

O objetivo deste trabalho é analisar a criação neológica de algumas palavras no jornal, atentando para o discurso e a informação que emanam dos novos termos, destacando o papel social do jornal como instrumento de leitura de mundo e veículo formador de opinião, pois através da língua o homem expressa suas idéias; é o uso ideológico da linguagem manifesto em termos criados intencionalmente para atingir o leitor. Assim, não basta apenas analisar os enunciados em seus aspectos informativos, deve-se atentar, sobretudo, para os aspectos discursivos que envolvem os dois participantes do diálogo intertextual: o escritor e o leitor.

O texto jornalístico, por suas características contemporâneas e funcionais é um material abalizado para pesquisa no campo da criação lexical, em Língua Portuguesa. Nele, os vocábulos se transmutam e se revestem de novos significados, dando origem a outros termos, promovendo a renovação lingüística e semântica das palavras. Resultado da seleção de quem escreve, a palavra, no texto do jornal, deve ser observada sob duas perspectivas: a informativa e a discursiva, pois se trata de um texto que dialoga com um número incontável de leitores e reflete uma visão de mundo, na qual acredita.

A língua está em constante modificação, acompanhando a modernidade dos tempos que nela imprime as marcas de uma época. Através dos vocábulos e dos discursos por eles produzidos, podemos ter acesso à produção lingüística de um dado período. As modificações na linguagem são, muitas vezes, incorporadas pelo léxico, que organizado em discurso, se oferece aos falantes de uma comunidade.

Pretendemos discutir a produção lingüística de alguns termos, procurando depreender a necessidade comunicativa que motivou cada criação, para produzir sentidos textuais. Nosso objetivo é discutir de que forma a criação de novos termos atesta um discurso premeditado e, ao mesmo tempo, leva informação. Para tanto, a análise dos constituintes semânticos dos termos, criados é propósito, também, de nosso estudo.

O trabalho será dividido em duas partes: na primeira, apresentaremos a revisão bibliográfica da teoria necessária ao estudo; na segunda, procederemos à análise dos termos selecionados e contextualizados.

Trabalharemos com corpus jornalístico pesquisado nos meses de março/05 a julho/05, nos jornais: O Globo e O Dia e utilizaremos as seguintes abreviações: cad. para caderno; p. para página e col. para colunas.

A LÍNGUA TRANSPLANTADA

A Língua Portuguesa que aportou junto com os descobridores em “Terra Brasilis”, trouxe consigo toda uma herança latina, para aclimatar-se e amalgamar-se com vários falares, em um novo território, com povos de etnias diversas, que a ela acrescentaram “cor e beleza” tropical. Desta forma, a Língua de Camões, que desembarcou em terras tropicais, há muito perdeu o sotaque lusitano, para tornar-se o Português do Brasil, multifacetado em sua conformação, por isso singular, idioma de um povo plural.

No início, do confronto com mais de 350 falares indígenas, constituídos de troncos, famílias e línguas isoladas, mestiços e aculturados estabeleceu-se a “ Língua Geral”, falada pela população integrante do sistema colonial brasileiro, firmada já na segunda metade do século XVII e suplantada pela superioridade da “Lusitânia Antiga”, em fins dos século XVIII.

Não só a influência indígena recebeu o Português do Brasil. Também a Língua Africana, trazida pelos escravos, atingiu alto grau de divulgação e marcou seu prestígio em regiões brasileiras, sucumbindo-se à cultura lusitana, deixando-nos, contudo, marcas indeléveis que para sempre se farão presentes nas linhas do nosso idioma.

Consolidada, a Língua Portuguesa, em território brasileiro, não mais poderia livrar-se das “cores” que aqui encontrou e que a marcaram para sempre. Tampouco ficou imune à leva de imigrantes que, oriundos de países distantes, no início do século XX escolheram o solo brasileiro como pátria, trazendo consigo a herança cultural que as nações imprimem nos povos, transmutando-a com o legado da terra acolhedora.

A esse amálgama lingüístico que se tornou a Língua Portuguesa no Brasil, adicionaram-se os estrangeirismos, que chegaram por meio de empréstimos, principalmente de origem francesa (séc. XX) e, com o advento da globalização, os de origem inglesa, contribuindo, assim, para o aumento do acervo de termos brasileiro.

Mas, a troca expressiva que permeia o intercâmbio social e a necessidade de nomear novas realidades é perene, razão que leva os falantes a criarem termos que satisfaçam aos objetivos comunicacionais e discursivos, surgindo, assim, os neologismos– termos novos criados na Língua.

A Língua mãe, tem, porém, seus mecanismos de coerção a impedir que se subvertam certas regras básicas, o que poderia causar sua dissolução. Por isso, para se criarem palavras novas na Língua, há que se submeter aos mecanismos impostos pelo idioma, assunto que abordaremos na seqüência do estudo.

A CRIAÇÃO DE PALAVRAS NA LÍNGUA

A Língua Portuguesa possui regras as quais devem se submeter seus usuários, quando precisam criar novos termos. Celso Cunha e Lindley Cintra citando Jean Dubois et alii explica que “Chama formação de palavras o conjunto de processos morfossintáticos que permitem a criação de unidades novas com base em morfemas lexicais. Utilizam-se assim, para formar as palavras, os afixos de derivação ou os procedimentos de composição”

Com a ressalva de que há outros processos de formação de palavras, na Língua, os autores destacam como principais a Derivação e a Composição.

Formação por derivação

São quatro os processos de formação de palavras por prefixação, segundo Celso e Lindley: A derivação prefixal, a sufixal, a parassintética, a regressiva e a imprópria.

No processo de formação por derivação prefixal, formam-se vocábulos a partir do acréscimo de um prefixo – geralmente latino ou grego – à vogal ou consoante da “palavra derivante”. Em relação à derivação sufixal, são formados novos substantivos, adjetivos, verbos ou advérbios a partir de sufixos nominais, verbais ou adverbiais, ligados a radicais.

Na derivação parassintética temos, concomitantemente, o acréscimo de prefixo e sufixo a um radical; o novo termo só existe com ambos.

Outros processos são: a derivação regressiva, onde “ há a redução de palavra derivante por uma falsa análise de sua estrutura” e, por último, temos a derivação imprópria, mecanismo pelo qual as palavras mudam de classe gramatical, na maioria das vezes, com a anteposição de um artigo.

Formação por composição

A formação por composição é o processo pelo qual dois radicais de significados distintos unem-se para dar origem a um terceiro sentido. A composição pode surgir apenas da união de dois radicais, sem perda de fonema (composição por justaposição) ou com perda de fonemas (Composição por aglutinação).

Há, além desses, outros processos de criação lexical em Língua Portuguesa: o hibridismo, a onomatopéia e as siglas.

Outros processos

Hibridismo á o processo pelo qual radicais de Línguas diferentes juntam-se, formando palavra nova. A onomatopéia dá origem a palavras que imitam os sons, já na abreviação, que reflete a economia lingüística, tem-se a subtração de fonemas, resultando em novo vocábulo, enquanto as siglas, bastante produtivas na Língua Portuguesa, e por isso merecedoras de um estudo a parte (o que não é objetivo desta pesquisa), “é o processo de criação vocabular que consiste em reduzir longos títulos a meras siglas, constituídas das letras iniciais das palavras que os compõem. (CUNHA & CINTRA, 1985: 114).

A LÍNGUA E O DISCURSO

A Língua é, como vimos, o símbolo máximo de identidade de uma nação, posto que é (trans)formada com ela, adquirindo matizes próprios, molda-se aos seus usuário para refletir os costumes e valores de uma sociedade, conforme suas necessidades expressivas. Ao mesmo tempo em que é soberana, não admitindo que lhe subvertam certas regras, é maleável ao uso que se faz dela, permitindo aos falantes que a modifiquem, para a eficácia comunicativa.

Todo falante de uma Língua vive um momento histórico, influencia e é influenciado por sua história. Os registros das relações históricas e a ideologia vigente em cada período são transmitidos e perpetuados pela forma mais eficaz de propagação de idéias: a Língua. Portanto, todas as formas de pensamento que circulam em sociedade têm-na como instrumento de difusão. Desta forma, ela é ao mesmo tempo, elemento agregador, símbolo de nação, poderoso instrumento de informação, de cultura, mas é também o veículo que propaga a ideologia reinante em sociedade “A palavra nunca está só, ela está sempre num discurso...” (BACCEGA, 2000: 46). O homem não se expressa apenas para comunicar informações. Comunica-se e com os recursos que a Língua oferece, transmite pontos de vista, visão de mundo, pois “toda palavra precisa de alguém que a assuma, de outro que a ouça e tem por finalidade persuadir”. (Idem, p. 86).

Diversas são as formas pelas quais as informações circulam em sociedade; o jornal impresso é uma delas.

A LINGUAGEM JORNALÍSTICA: DISCURSO E INFORMAÇÃO

A imprensa moderna nasceu com Gutenberg e marcou de forma decisiva a troca de informações, pela velocidade com que duplicava a comunicação entre as pessoas. No século XVII, o jornal passa a ter circulação diária; daquele tempo até os dias atuais, a imprensa escrita passou por inúmeras transformações, sempre com temática variada e de interesse público. Como porta voz de assuntos diversos, “o jornal sempre esteve cercado pela censura, por se entender que a notícia divulgada logo seria dominada por todos e por temer a influência do jornalismo na opinião pública...” (SOUZA, 1996: 15). Sua função precípua é levar informação à sociedade, no entanto, a capacidade de difusão rápida e generalizada dos fatos, tornaram-no instrumento de transmissão de idéias e “ os valores políticos, religiosos, nacionais são transmitidos pelo mass media de maneira direta ou indireta.” (VANOYE, 1998: 266).

É por isto que acreditamos que as palavras criadas no jornal têm como função muito mais que informar. São criadas com objetivos definidos: levar ao leitor o ponto de vista daquele que escreve, já que é por meio da Língua que o homem expressa suas idéias e as de seu tempo.

A Língua neste veículo, não pode ser analisada apenas como instrumento de comunicação, pois é, também, enunciação, discurso, usada para estabelecer relações de intercomunicação. A produção textual, por isto, deve ser vista como forma de interação entre escritor e leitor, cujas idéias se complementam no diálogo intertextual.

ANÁLISE DO CORPUS

Procederemos à análise dos termos selecionados, considerando os objetivos informacionais e discursivos que nortearam sua produção. Os vocábulos contextualizados obedecerão à ordem alfabética e os originais serão apresentados no anexo do trabalho.

!- Carmotismo: “ Em Carmo (RJ), com 16 mil habitantes, abundam os Soares- parentes do prefeito e do vice: mulheres, primo, irmão, e sogro do filho nas secretarias; primo na vigilância sanitária; sobrinhos na informática e, last but not least, água e esgoto com marido da filha de criação da sogra do prefeito.” (Cláudio Humberto, O Dia, 20/04/005, cad. De Olho Para Você, 22).

O termo registrado foi criado acrescentando-se, à base Carmo – nome de uma cidade do Rio de Janeiro, onde a prática de empregar parentes atinge quase todos os setores públicos da cidade– o sufixo ismo, formador de substantivo e indicativo de “modo de proceder ou pensar”, mais a terminação tismo de nepotismo. Observamos que este neologismo não só informa o que está ocorrendo na cidade, mas acrescenta um juízo de valor em relação ao fato noticiado. Este artifício no título da nota, antecipa para o leitor o assunto narrado e o ponto de vista de quem narra.

2- Desmedalhado: Roberto Jefferson, o deputado-parceiro, foi, digamos, desmedalhado.

Alberto Bejani, prefeito de Juiz de Fora, desistiu de dar ao presidente do PTB uma medalha que a cidade concede “por honradez e serviços prestados” “. (Ancelmo Góes, O Globo, 31/05/05, cad.. Rio, p.14).

O termo empregado por Ancelmo Góes, para informar o ocorrido com o Roberto Jefferson quando o deputado foi denunciado por corrupção nos Correios, demonstra o desdém do colunista ao comentar o episódio. O prefixo latino des, cujo significado é separação, ação contrária, anexado à base medalha, mais o sufixo ado, anexado à mesma base, passam a idéia de que a medalha foi tomada do personagem citado e não somente que ele deixou de ganha-lá.

3- Dizimão: “ Escândalo do dizimão “ Inquérito apura indícios de irregularidades no processo de compra da TV Cabrália, na Bahia “ ..A polícia Federal enviou, ontem, ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido para que o deputado João Batista (sem partido-SP) seja investigado por lavagem de dinheiro e crime contra a ordem tributária. (...). Ao ser flagrado, João Batista, presidente da Igreja Universal do Reino de Deus, declarou que o montante fora doado por fiéis” (Carolina Brígido, O Globo, 15/07/005, 1º cad., 10- O País).

O termo foi criado por Carolina Brígido em analogia ao termo mensalão. Dizimão expressa o ponto de vista da autora, já que não seria apenas um grande dízimo, como faz supor o sufixo aumentativo ão, seria dízimo com a s características de irregularidades, como o mensalão, termo originário. Desta vez, também, o termo cumpre o papel de informar, mas traz embutido o ponto de vista da autora.

4 – Ética Zero: “Hite parade: Se o programa Fome Zero não decolou, o Ética Zero é sucesso retumbante”. (Cláudio Humberto, O Dia, 27/05/05, cad. De Olho Para Você, p.16)

O vocábulo foi criado em referência à falta de ética na política. Analogia ao principal programa do governo Lula, Fome Zero, que prometia erradicar a fome no país e não saiu do papel. Percebe-se claro juízo de valor na comparação com o programa fome-zero, questão de honra para o presidente; ou seja, a prioridade foi outra.

5– Filiatória: “Sanha Filiatória: “O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcante (PP-PE), tem feito excursões aos estados pra engordar seu partido. Nem a acusação de que os parlamentares do PP teriam recebido o mensalão diminuiu o entusiasmo da caravana...” (Mônica Ramos, O Dia, 11/06/05, cad. Informe Do Dia, p.5).

O sufixo ória, idéia de lugar ou instrumento da ação, anexado ao verbo filiar, dando origem ao adjetivo, bem demonstra o objetivo da ação. O substantivo sanha antecipando-o reforça a idéia do objetivo discursivo, além do informativo.

6- Lulagate: “Lulagate e Watergate: O escândalo do governo Lula, o PT e o Congresso está atingindo dimensões históricas (...). Lembramos do escândalo de Watergate, nos Estados Unidos em 1972-74...” (Noeman Gall, O Globo, 10/06/005, cad. Opinião, p.7).

O termo surgiu por conta da onda de denúncias no governo Lula e em referência ao famoso caso Watergate, dos Estados Unidos em que “o presidente Richard Nixon sofreu impeachment e renunciou por tentar encobrir o ato criminoso de um assalto por seus subordinados ao escritório do partido de oposição”, “assim como Lula, o presidente Richard Nixon não foi acusado de ganhar dinheiro no conluio em que se envolveu”.

Mais um caso em que a criação do termo traz subjacente o juízo de valor sobre o fato comentado, sabe-se qual foi resultado nos Estados Unidos, quanto ao Brasil...

7- Lulite “ Terá sido lulite, itamarite, sarneyíte ou fhíte o mal que atacou a secretária de Estado americana, Condolezza Rice? Numa rádio de Moscou, achando que falava russo, trocou sete vezes o “sim” (da) pelo “não) (nyet).” (Cláudio Humberto, O Dia, 21/04/05, cad. De Olho Para Você, 24).

Para comentar o equívoco da secretária de Estado americana, o colunista comparou-a a presidentes brasileiros que, em algum momento, também se atrapalharam com idiomas estrangeiros. O sufixo ite empregado para designar doenças inflamatórias, tem aqui um uso próprio do termo, na Língua Portuguesa, quando se quer dizer que alguém está “atacado” de algo.

8-– Mensalão: “ Escândalo do Mensalão: Prisão foi a gota d’água para presidente do PT renunciar ao cargo, na semana passada.” (Gerson Camarotti, O Globo, 14/07/005, cad. O País, 8)

O termo, criado em referência à compra de votos de alguns deputados, pelo governo, para formar sua base aliada, utiliza o sufixo formador de aumentativo ão,atribuindo juízo de valor ao adjetivo mensal. O vocábulo, amplamente divulgado na imprensa, já deu origem a outro (dizimão) e caiu no gosto popular como sinônimo de mordomia, privilégio.

9- Nepotismo: Cobiçada pelo PSOL, a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), empregou o irmão Samuel Lins no gabinete d vereador Sérgio Novaes, e seu marido e a mãe, Luíza, no instituto cultural ligado à prefeitura”. (Cláudio Humberto, O Dia, 19/04/05, cad. De Olho Para Você, p.22).

Termo criado em analogia a nepotismo, prática de favorecimento de parentes em cargos públicos e cruzamento vocabular de nepotismo com a sigla do Partido dos Trabalhadores (PT), o termo agrega dupla informação, o nepotismo (favoritismo) e o fato de ser uma pessoa filiada ao PT, traduzindo ainda, um ponto de vista em forma de denúncia, já que, sabidamente, o Partido dos Trabalhadores condenava este tipo de prática, quando era oposição.

10- Rondonizou: “Nacionalizou: O PFL foi às ruas em Rio Branco, ontem, protestar na Assembléia Legislativa do Acre contra a corrupção. O lema foi: “PT rondonizou o Brasil”, numa referência às denúncias de mensalões de Rondônia e no Congresso”. (Cláudio Humberto, O Dia, 08/06/05, cad. De Olho Para Você, p. 22)

Ao empregar o substantivo transformado em verbo, flexionado no passado, indicando um fato concluído, o articulista informa a atitude do PFL ao mesmo tempo em que demonstra o sentido pejorativo da ação, condenando o PT pelos últimos acontecimentos, que, pelo termo, são comuns em Rondônia.

11- Severinês: Língua Morta: Severino Cavalcante diz que só aceita um “ministério de expressão”. Em severinês arcaico significa “ ministério de pressão”.” (Cláudio Humberto, O Dia, 22/03/03, cad. De Olho Para Você, 20)

O sufixo ês (origem) acrescido ao nome de Severino Cavalcante, presidente da Câmara (conhecido por tomar decisões pouco ortodoxas, sem considerar a opinião pública) demonstra claramente o ponto de vista do colunista em relação ao personagem citado. Observe-se que é apenas “em bom severinês arcaico”, como a conduta do citado.

12- Vale-transtorno: “A fila do vale-transtorno: ...Os problemas causados pela sobrecarga no sistema de vale-transporte eletrônico, o RioCard, que deixaram muitos usuários a pé quarta-feira, ainda ocorreram ontem...” (João Ricardo Gonçalves, O Dia, 03/06/05, cad. O Dia / Nosso Rio, p. 9).

O termo, criado em referência ao vale-transporte eletrônico, substituto de vale-transporte de papel, benefício concedido ao trabalhador, para o deslocamento trabalho/ residência, apresenta a opinião do colunista, a respeito dos “cuidados” tomados para a implantação do referido benefício. Vale-transtorno, pelos problemas causados na implantação deste novo modelo; aproveitando-se do termo vale, o colunista acrescentou um outro que bem define seu ponto de vista.

CONCLUSÃO

Muitos são os neologismos selecionados que nos fazem acreditar que a criação neológica no jornal impresso vai além da função de informar; apresentamos apenas alguns. Entendemos que a criação do neologismo muitas vezes serve aos propósitos enunciativos do escritor, assim sendo acreditamos que a enunciação que subjaz ao enunciado de certas criações tem duplo objetivo: informar e, complementarmente, veicular um ponto de vista sobre o fato noticiado.

Sabemos que o jornal é o espaço que prima pela concisão do um texto; a criação do neologismo tem, pois, um caráter funcional: pode agregar a um termo várias informações, viabilizando o aproveitamento do espaço do papel. Mas o jornal impresso é um instrumento de comunicação que utiliza a Língua como mediadora entre escritor e leitor e como produto do meio, o homem reflete em seus atos de fala conceitos que expressam além de conhecimentos lingüísticos, também uma avaliação pessoal; é possível perceber na criação de certos neologismos, que “ na palavra está a manifestação do sistema de valores , da ideologia a que está preso o discurso no qual ela se manifesta” (BACCEGA,2000: 46).

Acreditamos que o papel do professor de Português é despertar o aluno para estas filigranas presentes no jornal, para torná-lo um leitor atento aos artifícios criados com o recurso da Língua; é nossa função explicitar para os estudantes as possibilidades discursivas e informativas que os mecanismos lingüísticos nos oferecem, para a produção textual.

BIBLIOGRAFIA

ALVES, Ieda Maria. Neologismo: criação lexical. São Paulo: Ática: 1990.

BACCEGA, Maria Aparecida. Palavra e Discurso História e Literatura. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2000

CUNHA, Celso & Cintra, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 2ª ed.Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1985.

ELIA, S. A Língua Portuguesa no mundo. São Paulo. Ática, 1989.

LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1990.

VANOYE, Francis. Usos da Linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

 

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