Marketing: um olhar crítico

Célia Barros (UCB)
Fernanda Costa Marconi (UCB)
Maria Antonia da
Costa Lobo (UFRJ, UCB eUniverCidade)
Maria Helena Carvalho da Silva (UCB)
Maria Vergínia Chambella
(UCB)
Thiago Baptista da Silva (UFRJ)

 

Existe a ilusão de que se pode industrializar um país construindo fábricas. Não é verdade. Um país industrializa-se construindo mercados. (Paul G. Hoffman).

 

O trabalho em questão tem por finalidade uma abordagem de base lingüística (verbal/não-verbal), centrada nos efeitos do marketing, através de publicidade e de propaganda veiculada em revistas.

É sabido que há, na temática em questão, a presença de relações de troca[1], orientados para a satisfação dos desejos e necessidades dos consumidores, em especial as psicológicas.

Nessas relações aparecem produtos destinados a grupos de consumidores específicos e que apresentam características distintivas.

Na base fundamental de divulgação desses produtos aparece um conjunto de atividades comerciais de um lugar, Estado ou Nação, ou do próprio mundo, pois mercado compreende a oferta e a procura de quaisquer bens ou serviços de primeira necessidade. (Barretti & Standerbi) – o marketing.

Assim, na prática dessas atividades de mercado são utilizados meios para esclarecer e sensibilizar o consumidor, pela divulgação, pela publicação, pela propagação de informações referentes ao produto, através do diálogo.

Então, entra em ação o marketing em um trabalho voltado para a seleção de clientes, a fidelização dos mesmos, buscando um relacionamento com esses clientes, por estratégias que favoreçam esse relacionamento dentro de um certo comprometimento.

Para isso, dentro do marketing existem a propaganda e a publicidade, conjunto-chave para a entrada do produto no mercado, respeitando pesquisas e informações obtidas, intermediadas por essas pesquisas, sem deixar de levar em conta os estudos de neurolingüística.

Ressalte-se que a American Marketing Association[2] (SINCLAYR, 1999) definiu marketing comoexecução das atividades e negócios que encaminham o fluxo de mercadorias e serviços, partindo dos produtores até os consumidores finais”, e mais é “a atividade de fazer mercado, colocando junto ao mercado consumidor os produtos da empresa.”

É importante frisar que o marketing tem funções, embutidas nos seguintes setores: pesquisa de mercado, merchandising, canais de distribuição, propaganda, promoção de vendas e gerência de marketing.

Considerando-se a extensão de temática, optou-se por uma abordagem voltada basicamente para a propaganda e a publicidade, e os respectivos pontos de vista.

Embora a propaganda esteja acoplada ao marketing, muitas vezes isso é esquecido. Através dela objetivos são plenamente acatados e aceita a delegação ao marketing da responsabilidade pelo sucesso ou pelo fracasso de campanhas.

Assim, a efetivação desejada dependerá de uma análise sistemática e permanente das necessidades dos consumidores, incluindo o desenvolvimento de conceitos de produtos rentáveis, destinados a grupos de consumidores específicos e que apresentam características distintas que os diferencie de outras não específicas.


 

Aspectos Relevantes

Alguns artifícios são importantes e fundamentais para a elaboração de uma propaganda implícita na publicidade.

É preciso lembrar então que a publicidade é uma forma de emitir uma informação comercial para atrair possíveis compradores, utilizando-se de meios de comunicação, tais como jornais, revistas, televisão, outdoors...

Na publicidade, embute-se a propaganda, um gerúndio latino do verbo propagāre, indicando a propagação, a multiplicação ou difusão de uma idéia que pode ser de caráter político, social, religioso, econômico, com o objetivo de extrair do público-alvo qualquer vantagem.

Assim, para a constituição de um texto publicitário, recursos artificiais são capitais, tais como: atenção, interesse, memória, percepção, imagem, imaginação, vontade ou desejo, sensação, associação de idéias, estimulação (aromas apresentados pelos produtos) e incentivação.

A percepção é a responsável primeira pela influência do registro de um objeto na consciência de cada consumidor. Através da percepção, chega este à atenção, que é a capacidade de concentração da consciência a respeito de um objeto, com o poder de destacá-lo dentre o(s) produto(s) oferecido(s) ao consumidor.

Por sua vez, a atenção vai despertar, então, o interesse, o qual vai levar à memorização, voluntária ou involuntariamente, relacionando o produto com o objeto de interesse. A memória tem a faculdade de conservar, reproduzir e reconhecer estados de consciência anteriores, relacionando-os com experiências passadas.

Mas, além do papel de memória, existe um outro centrado na vontadecapacidade do indivíduo de agir conforme as preferências – e no desejo: expressão consciente da necessidade, por parte do consumidor, de obter o produto.

Esses elementos atuam na estimulação que é a pré-disposição para o indivíduo agir de maneira determinada. Logo, o consumidor terá a sensação da ocorrência de alterações na vida pessoal.

Paralelamente a isso e agindo como auxiliar na propagação, entra em cena também o papel da imagem transmitida e fixada no psíquico do público, a partir de um produto apresentado.

Pela imagem, enfocada dentro da relação de “palavras e coisas”, o despertar da imaginação aflora, uma vez que esta tem a capacidade de representar objetos ausentes e até mesmo de atuar sobre a emoção, resultante de modificação súbita no meio que cerca e envolve o consumidor; ela aflora no instante em que se conhece algo de novo ou de inesperado.

 

A linguagem constatada

Alguns textos publicitários serviram de base para essa constatação.

O primeiro deles (Revista Bons Fluidos nº 37 – junho de 2002) refere-se à venda de roupa de cama, apresentada pela loja MUNDO DO ENXOVAL.

Neste caso, o texto é assim iniciado:

Roupa de camaPercal 180 fios.

Disponível nas melhores lojas do país.”

Verifica-se o uso de um superlativo (melhor), flexionado (-es) que denota uma comparação com outras lojas que vendem também roupa de cama. No caso, o operador argumentativo une o melhor da roupa ao melhor consumidor elitizado.

Na afirmação “um mundo de sonhos apresentado pelo mundo do enxoval”, há identificação entre ambiente, e o sonho de um casal – o mundo idealizado. Trata-se do ato de dormir bem e de ter uma vida idealizada. Logo, sonho(s) tanto na vida, quanto na cama, constituindo um mundo (interior e exterior) que se identifica com interesses particulares. O mundo constitui um universo de todas as realidades existentes ou imaginadas, o que se integra em determinado ambiente: espaço interno para certo modo de viver.

Logo, capturar e manter a isca fisgada.

Sonho, desejo vivo, intenso, constante, aspiração e anseio ou um ideal que alguém busca com interesse, ao lado do Enxoval, formado pelo conjunto de roupas e acessórios, seja do vestuário, seja para o serviço de casa.

O “mundo do enxoval” se serve ainda do seguinte recurso lingüístico – o estrangeirismo – Exclusive nautical Line, (Bons Fluidos número 33 (fevereiro de 2002) e 32 (janeiro de 2002)), mesclando dois tipos de códigos, transmitindo idéia de alegria, bem estar, prazer, leveza, e harmonia do ambientemês de férias.

Outra constatação ocorre pelo emprego da linguagem nãoverbal, calcada no apelo cromático (Bons Fluidos, número 34, março de 2002) presença do amarelo e do vinho, marcando o término de férias e o início de atividades.

No apelo cromático, uma intenção é verificada, onde o amarelo representa a força da mente que estimula o raciocínio e o trabalho intelectual, além de aumentar a capacidade de concentração, estimulando também a alegria.

A cor de vinho aparece associada à espiritualidade e à harmonia, purificando emoções negativas como a raiva e o medo: trata-se de uma cor ligada à conexão com planos divinos.

Logo, no texto publicitário nada é gratuito: tudo tem uma direção, um objetivo e um públicoalvo; nele a linguagem verbal/nãoverbal une propósitos.

O aspecto esotérico é também explorado/aproveitado: é ele passível de ser ministrado ao grande público e não somente a um grupo seleto. Em verdade, ensinamentos e doutrinas que, nas escolas da Antigüidade grega, eram transmitidos para todos.

Textos publicitários, cujo foco central estava em instituições bancárias, foram também analisados. Observou-se, no caso, a constância de slogans.

Estes slogans são desenvolvidos nos textos, numa identificação entre público e prestabilidade dos produtos bancários em foco.

No caso do banco Itaú é o “feito para você”. O alvo do slogan é o cliente, independentemente da classe social na qual esse cliente se enquadre; cada um assume o próprio espaço social, sem constrangimentos.

Esseslogan” é inserido no texto publicitário, a partir de uma temporalidade: “Há quatro anos”... “Há 60 anos”,“Pelo quarto ano consecutivo... ao longo desses 60 anos”.

Essa temporalidade foi abalizada extra-banco: “segundo a Consultoria Internacional de Interbrand, a marca Itaú vale 1,34 bilhões de dólares”. (Época, nº 375 – 25/07/2005).

Em outro texto publicitário da mesma Instituição Bancária, a temporalidade também é o ponto de partida para a construção textual: “Chegou a Super poupança Itaú. Faça a sua, porque dinheiro nãoem árvore”.

A ênfase discursiva é a grandiosidade entre empresa e cliente, através do prefixo “SUPER”, seguido de poupança, sigilo simples, conveniência, tranqüilo (Veja – nº 1913 – 13 de julho de 2005)

Outra instituição Bancária (Caixa) utiliza também um slogan: “Para você. Para todos os brasileiros”. Na realidade, uma chave para toda a inclusão social e para qualquer tipo de serviço também: Caixa capitalização, “confiança para a vida toda”, crédito com desconto em folha, Proger Investgiro, “a melhor opção de crédito para expressão e produtividade de empresas”. (Veja nº 1913 de 13 de julho de 2005 e Época nº 374 – 18 de julho de 2005).

Em outro texto publicitário, o foco está no relógio Euro. (Cláudia, dezembro de 2004).

“Nas reuniões de negócios quem me acompanha é o meu Euro”.

Na construção retórica, optou-se pelametonímia” (substituição do termorelógio”, produto, pela marcaEuro”), em uma mensagem curta e simples direcionada ao público feminino.

A linguagem cotidiana (vocabulário simples) foi usada para uma manipulação disfarçada através da persuasão. É visível a intenção de despertar o desejo através do testemunho de uma mulher famosa (Adriane Galisteu) como forma de dar credibilidade ao produto e fazer com que a mulher consumidora se identifique com a estrela insinuante da mensagem.

Existe uma ambigüidade na palavraEuro”, pois euro é a marca do relógio, mas também é a moeda corrente da comunidade européia (moeda valiosa) que reforça toda a qualidade e confiabilidade no produto.

É um apelo persuasivo racional (palavras voltadas para trabalho: reuniões, negócios, euro).

A integração entre linguagem verbal e não-verbal pode ser notada através da seriedade e solidariedade do modelo e da cor da roupa da artista que está de acordo com a situação formal (negócio).

O controle entre a cor neutra, que (re)veste a modelo e o colorido dos relógios alinhados, ao lado, deixa a idéia de que existem também relógios para outras ocasiões.

Ainda na revista Cláudia, (dezembro de 2004) outra mensagem é endereçada ao público feminino:

“É um sapato para você usar 24 horas. Se bem que fica meio estranho você dormir com ele”.

(Sandália Picadilly)

Coleção primavera/verão

Nesta mensagem, a figura de linguagem destacada é a hipérbole, através de uma construção curta para rápida apreensão pelo público-alvo (a mulher).

O vocabulário é simples, pois esta marca de calçados é direcionada para o público feminino em geral.

O tipo de manipulação disfarçada vem através da sedução, com palavras do léxico de prazerdormir com ele”. A estrutura lingüística é dividida em dois segmentos: em primeiro lugar, o exagero e, em segundo lugar, a tentativa de justificar esse exagero que poderá ou não acontecer.

A integração entre linguagem verbal e não-verbal está adequada ao segmento de mercado a que se destina (a mulher), através das flores e do colorido. As flores são a primavera e o colorido. As flores remetem à primavera e o colorido, ao sol do verão uma vez que o nome da coleção é Primavera/Verão.


 

Público–alvo, um sustentáculo
– a
passagem pela titulação

Uma estrita relação entre os títulos das revistas e o públicoalvo constitui ainda um pilar para o marketing.

Dentro de uma crença mística, do ponto de vista psíquico, o indivíduo, enquanto ser social, busca sempreBons fluidos”, conforme afirma Gonzaguinha: “ninguém quer a morte, Saúde e Sorte”.

A escolha de um título para um periódico reflete uma grande consonância até mesmo com textos publicitários constantes em cada número dessa revista, tais como: produtos oferecidos pelo BOTICÁRIO, e serviços do gênero Costão do Santinho (Spa – Florianópolis/Santa Catarina), ligados à preservação da auto-estima; produtos relacionados ao repouso físico e mental, como roupas de cama, vendidos por: KA arymare, Mundo do Enxoval, Scarone, Marlene Enxovais, Erika Pagano, Produtos Indianos, encontrados na Casa da Índia, pedras preciosas, em Legep Mineração LTDA.

Toda uma publicidade voltada para objetos enigmáticos que atingem um públicoalvo, conforme a crença e a energia positiva que o produto traga ou possa trazer para o consumidor.

Consoante as crenças, existe a indicação de velas e artigos que possam atrair BONS FLUIDOS, produtos que revelam aspectos cromáticos positivos, o jogo das cores:

- o vermelho: representa a necessidade, a paixão, a chama, o calor;

- o verde: a tranqüilidade;

- o azul: ligado a funções emocionais;

- o amarelo: os anseios coletivos, as disposições afetivas e as iniciativas;

- o branco: que oferece uma sensação de paz para produtos e serviços que precisam de demonstrar segurança e estabilidade;

- a junção do vermelho e do amarelo como estimulante e eficaz em publicidade.

Bons fluidos marcam época.

Época é outro título atribuído a um periódico, que tem graficamente um globo terrestre como intermediário entre a letra /p/ e a letra /c/, simbolizando a letra /o/ no registro do próprio título. O globo lembrando a Editora, responsável pela publicação da revista, e remetendo aos enfoques apresentados pela mesma.

Este periódico, em uma associação entre titulação, retratação de fatos e informações, passa por um PORTAL, pelo BRASIL, pela Ciência e Tecnologia, pela sociedade, pela cultura e pelos colunistas, sem deixar de excluir as seções, com as respectivas cartas do Editor e dos leitores.

Com jornalismo diversificado e uma apresentação investigativa, Época transforma-se em uma fonte importante de informação, marcando (Houaiss – Dicionário da Língua Portuguesa, p. 1182) um instante memorável determinado, selecionado para servir de início a um novo período ou a um novo desenvolvimento”.

O título marca um determinado tempo considerado em relação aos acontecimentos nele ocorridos, com características distintas, incluindo indivíduos que neles viveram.É ÉPOCA marcando época.

Mas a ÉPOCA leva à VEJA.

VEJA, uma das flexões de ver, remete à percepção pela visão, ao ato de enxergar, de olhar para, de contemplar, em uma distinção ou alcançar com a vista. É marca do avistar, do divisar. É a pratica de estar presente a, de testemunhar, de tomar conhecimento, de dar-se conta de, de ter encontro com, de manter contato ou relacionamento com, de estar junto a. É a admissão de um valor de verdade, a constatação, o reconhecimento, que pode conduzir à educação, à inferência, à prova, à verificação, à imaginação e à fantasia.

É o veja passado à VEJA – é o exame com atenção, a ponderação, a consideração, o cálculo, em especial das (des)vantagens em função de aquisição de produtos, consoante o(s) preço(s) – o reconhecimento do encontro com algum estado ou situação.

Trata-se de um título no Imperativo, acentuando o caráter de mando, ou de autoridade, atuando na comunicação de fatos(ocorrências) históricos, políticos e sociais.

Mas o leitor deve também ter ousadia, audácia e atrevimento, características integrantes da personalidade do(a) jovem, o que leva à “atrevidinha”.

ATREVIDINHA é a revista mensal específica para pré–adolescentes do sexo feminino. Todas as páginas são integralmente coloridas, a cada mês o título é impresso em cores diferentes, mas utilizando o mesmo logotipo. Na linguagem não-verbal, no título, recursos como o coração, a flor e o pirulito são utilizados.

Em todas as revistas são incluídos um pôster e um “presentão” como brinde (um lindo esmalte, o primeiro botton para colecionar).

A linguagem verbal reflete um apelo ao público consumidor: “vem ”, “tudo de bom”, “cole na agenda”, pop star; horóscopo, “faça você mesma”, figuras de artistas (fichinhas), games, “no caldeirão”, “É meu”, objetos de adorno, etc. Toda a publicidade é voltada para o consumo da(s) pré-adolescente(s).

A editora Símbolo enfatiza a própria característica da revista que é idéias ousadas, criativas e emocionantes.

Os temas da capa, embora sejam para um público-alvo pré-adolescente, constituem um apelativo para que os responsáveis comprem a revista, buscando informações para estarem conectados com as idéias, com as emoções e com as sensações, e buscarem uma conveniência positiva (os assuntos são interessantes para a convivência sócio-familiar).

Tomou-se, ainda, por matéria de reflexão a Revista CRIATIVA por considerá-la integrante de um novo cenário de manifestação democrática, que põe em cena, conforme o próprio título demonstra, a participação da mulher no contexto social, com influência semiótica.

Segundo Lúcia Santaella (1996), “...semiótica tem por objetivo de investigação todas as linguagens possíveis... qualquer fenômeno de produção significa...”. De acordo com essa concepção, o foco desta pesquisa volta-se ainda para a revista CRIATIVA desde 1998 a 2005, por considerar que as mesmas passam despercebidas pela leitora não acostumada a ler novos códigos.

Observou-se que as estruturas apresentadas nos limites de tal espaço surgem como um emaranhado de informações, onde sistemas semióticos verbal e não-verbal são formas atuantes para a construção de um tipo de retórica fundamentada na trilha significante.

De acordo com Pierce, “O signo é signo quando alguém que possa interpretá-lo como signo de algo.

O título da revista CRIATIVA corresponde a um signo triádico por representar uma conexão tripla do signo, coisa significada e a cognição produzida na mente do intérprete, leitor. Esse título indica uma revista direcionada a um público feminino e que apresenta “algo”, com possibilidade de transformações, visando a construir o perfil de uma mulher originalmente independente, formadora de opinião, atuante na sociedade brasileira.

O não-lingüístico vem, através da imagem da mulher, reforçar a estrutura do sentido. Nessa complementariedade entre imagem e mensagem é detectado que a mulher é criativa no domínio do físico (corpo).

As formas verbais da capa apresentam uma linguagem transparente, objetiva, levando a leitora a uma decodificação exata daquilo que será abordado. Mesmo sem desfolhar a revista, o universo da mesma é compreendido pela capa.

Nessa estrutura sígnica, priorizam-se os signos lingüísticos referentes a “Sexocom uma maior incidência, depoisModa” e “Beleza”, além de outras formas casuais que se entrelaçam e reportam a uma simbiose ilimitada, pois o leitor é um signo que interpreta signos e para isso lança mão de signos. Ser CRIATIVA é ter amplo conhecimento sobreSexo”, domínio do corpo, andar na “Moda” e terBeleza”.

A invariabilidade de grupo lexical que aparece ao longo das publicações sugere, de antemão, um raciocínio silogístico na ordem do não-verbal:

“Todas as mulheres famosas obedecem a certas regras de “Sexo”, “Moda”, “Beleza”.

Você é uma mulher famosa.

Logo, você deve obedecer a essas regras.

Atrelado ao não-verbal, essas formas lingüísticas interagem com a representação da figura da mulher, midiática. Tem-se um corpo que continuamente produz textos em sua complexidade biológico-cultural, através de signos visuais como: a sinuosidade, os gestos, os cabelos, o olhar, a musculatura, a expressividade, o vestuário, os ornamentos, a maquiagem, as cores, a incidência da luz entre outros, cristalizando formas e assim criando no imaginário social o tipo de mulher cobiçada por todo homem – “MULHER CRIATIVA ideal”.

Tornando-se um ícone (signo que visa imitar o real por meio da captura do traço com que a coisa representada é identificada) faz com que a mulher-leitora busque aquele modelo metonimicamente, por ter o ícone alto poder de sugestão. O ícone é um “quase-signo” por guardar algumas propriedades do objeto, mas não ser real.

O presente objeto de estudo mostra numa interdependência semiótica, a mulher CRIATIVA no domínio do corpo, da vaidade, uma outra forma de escravidão da mulher. O corpo é uma “insígnia”, uma griffe, um prêmio, um valor. Coisificada, a mulher, nas capas das revistas, é reduzida a formas e trejeitos, vivendo a cultura da malhação onde ser magra é glamour; busca ela, com esse comportamento, resgate da auto-estima, por se encontrar abalada nos próprios direitos, idéias e valores.

 

CONCLUSÃO

Os artifícios então abordados influenciam na aquisição de um produto; eles são indispensáveis na propaganda, na publicidade e, conseqüentemente, no marketing.

Atuam eles na ideologia vinculante das incentivações do consumo referentes às mudanças comportamentais do indivíduo, uma vez que a ideologia atribui a origem das idéias humanas às percepções.

Sociologicamente mesmo, trata-se de um sistema de idéias, interdependentes sustentadas por um grupo social de qualquer natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais.

A ideologia relaciona-se à propaganda, porque está mais voltada para a permeabilidade do comportamento e reside nas possibilidades de como influenciá-lo.

Em verdade, quanto mais se propaga, mais o produto vai interessar o consumidor, independentemente de inclinações inatas de cada indivíduo.

Na ânsia de ver, o consumidor passa pelo produto e é por ele impressionado, estimulado e incentivado a adquiri-lo. Esses artifícios cristalizados e introjetados no(s) leitor(es) contribuem para que o marketing alcance a finalidade primeira – a aquisição de revistas pelo(s) consumidor(es).

No caso da Época, o(s) leitor(es) – cliente(s) não pode(m) ficar fora do próprio tempo em que vive(m)[3]. Através dessa revista, se cientificam da retratação de fatos cronologicamente localizados em uma inserção contextual.

Essa inserção situacional pode relacionar-se a várias etapas da vida do(s) indivíduo(s), como a pré–adolescência de comportamento marcante entre ambos os sexos.

No que se refere ao sexo feminino, é importante ser ousada, arrojada, petulante, despojada, insolente, atrevida, ou melhor atrevidinhaum diminutivo adequado à acentuação de uma qualidade.

Em verdade, nenhum recurso deve ser dispensado pelo marketing. Qualquer um lhe serve de atuação, desde que o consumidor seja atraído e capturado pelo consumo do produto, finalidade maior a ser alcançada.

No caso da revista CRIATIVA, a análise revela que, mesmo experimentando ser dona da sua própria vida, a mulher ainda sonha com o total direito de igualdade instituído pela constituição brasileira. É do conhecimento de todos a existência de uma série de Tabus causadores de entraves na vida profissional da Mulher, inserida no mercado de trabalho. Forças culturais constroem e mantêm a mulher do século XXI ainda como ser submisso inferior ao homem. A mulher assume a condição de outra exigida por essa manipulação social, continuando a ser vista como objeto de prazer, comprovado pelas capas CRIATIVAS.

As transformações, que ocorrem no período Pós-moderno, são muito mais uma revolução simbólica do que uma revolução de grandes conquistas.

Assim, indaga-se:

1. No passado, a mulher apresentava uma forma escrava. Será que conseguiu alcançar a liberdade ou tornou-se uma “nova escrava” da própria forma?

2. A forma de mulher que a revista CRIATIVA exibe “do corpo e nãoCRIATIVA intelectual” é aquela que realmente o homem escolhe para construir família?

3. A mulher do século XXI conseguiu obter os mesmos direitos do homem no âmbito jurídico-social?

4. O objeto de estudo analisado estereotipa a mulher do ponto de vista de ser CRIATIVA ou CRIADA?

muito a se desvendar na mulher onde uma forma produz inúmeros “textos”.

A mensagem publicitária é construída através da integração da linguagem verbal e não-verbal, utilizando-se de palavras e imagens com consciência lingüística que, combinadas, produzem sentido, pois são elaboradas através de um senso comum carregado de valores e representações sociais, culturais, estéticas e políticas, que estão em consonância com a capacidade cognitiva interpretativa de um determinado receptor.

O discurso está presente na publicidade como retórica argumentativa persuasiva e manipuladora sob as formas textual e lingüística. É uma manipulação disfarçada para induzir, seduzir, capturar o receptor, sem deixar transparecer as verdadeiras intenções, idéias e sentimentos.

Assim:

- “Beba coca-cola”: intenção ordenativa, (fazendo agir) – trata-se de ação encabeçada pelo verbo;

- “ OMO lava mais branco”: intenção persuasiva (fazendo crer) – um único termo () permite a diferença; e

- “Se algum desconhecido lhe oferecer flores, isto é impulse”: intenção sedutora (buscando o prazer), no impulso.

As figuras de linguagem são inerentes à língua e estão presentes no cotidiano de todos os falantes. A todo momento, em todos os lugares, as figuras de linguagem estão sendo ouvidas, criadas e atualizadas, sendo, também, uma maneira de o ser humano assimilar e expressar as experiências diferentes, desconhecidas, novas.

Através desse modo de dizer, diferente do comum, a mensagem publicitária enfatiza sensações, argumenta e tenta impor, conservar ou mudar a opinião do público-alvo.

Os meios de comunicação constituem empresa de importante composição do imaginário social. Essa composição vem se traduzindo, sobretudo, pelo controle da crença numa suposta imparcialidade midiática, cujos efeitos, numa sociedade de dominância iletrada, parecem consolidar-se nos discursos de valoração à publicidade e diversidade culturais, encontrando apoio, por assim dizer, na chamada Pós-Modernidade.

 


 


 

[1] (Produtores/Consumidores)

[2] In SINCLAYR Luiz. Organização e técnica Comercial. S.P. Saraiva, 1999, p. 214.

[3] Hoje, dia 12 de agosto de 2005, segundo um dos Comunicadores da Rádio Globo, “O Presidente da República aguarda a chegada de Época às bancas”, para que possa fazer o pronunciamento à Nação.

 

...........................................................................................................................................................

Copyright © Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos