Este trabalho tem por objetivo estabelecer os contextos sintático-semânticos que favorecem o emprego da preposição DE ou EM nos casos em que sua alternância de uso não implica mudança de sentido.
A hipótese para a elaboração do projeto baseia-se nas afirmações de Lapa (1968: 203) e de Avelar (2004). Segundo Lapa, a preposição DE pode marcar tanto origem, quanto causalidade, referência e finalidade. De acordo com Avelar, a possibilidade de a preposição DE intermediar relações semânticas diversas deriva de seu esvaziamento semântico.
O que evidencia esta hipótese é o fato de a preposição DE, em muitos casos, pressupor uma significação que pode ser veiculada por outras preposições ou até por predicadores de outra natureza.
Fala:
(1) depende da hora da da aula da / na faculdade (inq. 003 / a.C. – L. 19)
(2) não deixa o menino comer nada de açúcar / que tenha açúcar (inq. 002 R – l. 41)
(3) o dia que ela tiver de / com bom-humor (inq. 003 / a.C. – L. 45/46)
(4) oficinas de / para carros (inq. 133 / 70 – l. 26)
Escrita:
(4) na delegacia de/ em Meriti... (anún. 1/ l. 1)
(5) existem ambições de mando/ que tenham mando (edit. 1/ l. 3)
(6) apenas impõe que se reitere o compromisso de dotar a região de/ com condições infra-estruturais... (edit. 2/ l. 13)
(7) chegou o momento de/ para resolver o problema... (edit.7/ l. 51)
Para a implementação desta pesquisa foram analisados, na fala, 18 inquéritos, 6 da década de 70 e 12 da década de 90, todos eles distribuídos por gênero e por faixa etária – 25 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 anos em diante. Em cada inquérito foram coletadas, em média, 50 preposições chegando a um total de 934 ocorrências.
Em relação à escrita, foram utilizados 21 textos jornalísticos – 7 anúncios, 7 notícias e 7 editoriais – que fazem parte do corpus VARPORT – (em cada texto foram coletadas, em média, 40 preposições), totalizando 821 dados.
A partir da análise dos dados, foram observadas cinco preposições, as mais recorrentes tanto na escrita quanto na fala: DE, EM, COM, PARA e POR.
preposições |
de |
em |
com |
para |
por |
oco/ total |
399/934 |
239/934 |
76/934 |
55/934 |
37/934 |
(%) |
43 |
26 |
8 |
6 |
4 |
Tabela 1 – Distribuição das preposições na fala
Preposições |
DE |
EM |
COM |
PARA |
POR |
Oco/ Total |
402/821 |
146/821 |
42/821 |
63/821 |
63/821 |
(%) |
49 |
18 |
6 |
8 |
8 |
Tabela 2 – Distribuição das preposições na escrita.
A maior ocorrência de DE pressuporia o fato de a mesma ser menos marcada, assumindo diferentes sentidos. A partir daí, observou-se o uso da preposição DE em contextos em que outras preposições poderiam ser utilizadas, sem mudança ou com mudança sutil de sentido.
Das 399 ocorrências da preposição DE, 38% são intercambiáveis por outras, enquanto 62% não o são, como observa-se no gráfico que segue:
Gráfico 1 – Percentual de possibilidade de substituição na fala.
Na escrita, pode-se observar que das 402 ocorrências da preposição DE 21% são intercambiáveis por outras, enquanto 79 % não o são, o que pode ser visto no gráfico a seguir:
Gráfico 2 – Percentual de possibilidade de substituição na escrita
Observando as tabelas abaixo, fica nítido que as preposições que co-ocorrem com maior freqüência são DE/ EM.
|
DE/ EM |
DE/ COM |
DE/ PARA |
DE/ POR |
DE/ ZERO |
Oco/ Total |
62/ 151 |
30/ 151 |
20/ 151 |
11/ 151 |
10/ 151 |
(%) |
41 |
20 |
13 |
7 |
7 |
Tabela 3 – Possibilidade de alternância das preposições na fala
|
DE/ EM |
DE/ COM |
DE/ PARA |
DE/POR |
DE/ ZERO |
Oco/ Total |
59/ 135 |
4/135 |
8/135 |
9/ 135 |
1/ 135 |
(%) |
43 |
3 |
6 |
7 |
1 |
Tabela 4 – Possibilidade de alternância das preposições na escrita
(8) a primeira greve do / no país foi em mil novecentos e dezessete (Inq. 164 R – l. 25)
(9) eu chamo de / Ø subcultura de Botafogo (Inq. 133 / 70 – l. 20/21)
(10) quem é o atual prefeito do / no Rio? (edit. 6/ l.24)
A análise dos dados mostra ainda que a maior possibilidade de alternância da preposição DE, tanto na fala quanto na escrita, ocorre na função de adjunto adverbial, como se observa nos gráficos que seguem:
Gráfico 4 – Possibilidade de alternância das preposições por função sintática.
(13) um diretor da empresa não quis se identificar para a reportagem.
Uma conclusão a que se pode chegar é a de que não há diferenças significativas entre fala e escrita, apenas diferenças percentuais. O uso da preposição DE ou EM corresponderia a estratégias morfossintáticas distintas de uma mesma gramática, não havendo condicionamento sociolingüístico.
Referências bibliográficas
AVELAR, Juanito. Traços do item de em preposições simples e complexa. Comunicação apresentada no VI Encontro do CELSUL. Florianópolis: 2004.
LAPA, M. Rodrigues. Estilística da língua portuguesa. 5ª ed. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1968.
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