Marcas
de
interação
no
processo
de textualização na
escrita
Cláudia J. G. Lemos (VIZIVALI e NRE)
Helena Maria Guareschi (VIZIVALI-e
NRE )
INTRODUÇÃO
A
primeira
reflexão a
ser realizada neste
trabalho
gira
em
torno de
que o
texto
escrito apresenta
marcas de
interação
que estabelecem uma
conexão
direta
entre o
escritor (escrevente)
e
seu
interlocutor. No
entanto,
como a
interação foi investigada
quase
que
exclusivamente na
fala, o
seu
desconhecimento na
escrita levou
muitos
autores a acreditarem
que a
escrita
não apresentaria
marcas de interatividade
explícita. E
assim, se passou a
caracterizar a
escrita
como a
linguagem do
distanciamento e a
fala
como a
linguagem da
proximidade.
A
escrita apresentaria
assim
um
duplo
distanciamento:
por
um
lado,
um
distanciamento
físico
que se dava
pela
ausência do
interlocutor e
por
outro
lado,
um
distanciamento
funcional
já
que o
escrevente se envolveria
com as
idéias. A
rigor, esta
posição
não seria de
todo
inaceitável, uma
vez
que a
ausência do
leitor “desobrigaria” o
autor de manifestar-se de
forma
dialogal marcada,
pois
seu
interlocutor
não teria a
palavra da
mesma
maneira
que ocorre na
interação
face a
face.
Contudo, é
essencial
ter
presente
que
quando se escreve, escreve-se
para
alguém e
este
alguém (o
outro, o
interlocutor) está
presente no
horizonte do
escrevente.
Isto,
em
essência, equivale à
teoria do dialogismo
como
fenômeno
universal
em
todos os
usos da
língua, seja na
fala
ou na
escrita.
Este
aspecto diz
respeito ao
princípio da
interlocução
presente
também na
escrita. A
propriedade de
interação é
um
aspecto
inerente à
própria
língua e comprova a
tese
geral do dialogismo.
A
fala tem
como
característica o envolvimento
com o
interlocutor; e a
escrita, o envolvimento
com o
conteúdo.
Não
obstante essas
posições, a interatividade é uma
propriedade
geral de
todo e
qualquer
uso da
língua e
não de uma das
modalidades de
uso.
Pois
ninguém escreve/fala
sem
ter
em
mente
um
leitor/ouvinte, o
que se
expressa
como
propriedade
dialógica da
linguagem, no
dizer de Bakhtin.
Na
concepção interacional de
língua, os
sujeitos
são
vistos
como
atores/construtores
sociais e o
texto
passa a
ser considerado o
próprio
lugar da
interação e os
interlocutores,
como
sujeitos
ativos
que nele constróem e
são construídos. Na
realidade, temos o
texto
como
evidência da
organização
social realizada
pela
prática do
uso da
língua.
Outra
observação
que se pode
fazer
quanto ao
título deste
trabalho é a de
que
não há
gramática
sem
discurso
nem
discurso
sem
gramática.
Não se
trata de
anular as
diferenças
entre
fala e
escrita,
mas de
evidenciar a
qualidade dessas
diferenças.
É
conveniente
lembrar
que há
vários
modos de
entender o
termo
gramática. Relato
três: o
primeiro e
mais
conhecido
conceito de
gramática é
aquele
que a
toma
como equivalente a
sintaxe da
língua, tendo
como
unidade a
frase
ou
então o
sintagma; – a
segunda
noção é a subentendida
em
expressões do
tipo “gramática de
texto”, “gramática
da
conversação” e pode
ser traduzida
como
um
conjunto de
regras
que expressam a
sintaxe da textualização dessas
unidades suprafrasais;– a
terceira
maneira de
entender
gramática é a
mais
ampla de todas e a
menos
conhecida; vem
expressa na
formulação de Wittgenstein
quando
fala na “gramática de uma
palavra” e envolve nisto os
processos de
construção de
sentido e
não propriamente
questões de
sintaxe.
Concordamos
com a
variedade e a heterogeneidade. Estas
são
pertinentes à
própria
noção de
regra,
ou seja,
regra
não tem a
ver
com
leis da
natureza
nem
com
imposições.
Assim
não vamos
nos
referir
aqui ao
conjunto de
regras
até
certo
ponto
inevitáveis no
sentido
estrito de
regras da
sintaxe. Vamos
sim
reafirmar
que a variação é
um
traço
significativo na
língua e produz
efeitos de
sentido no
processo
interativo, podendo
ser usada de
maneira
expressiva,
tal
como o fazem os
escritores regionalistas e a
literatura de
cordel de uma
maneira
geral.
Não há
dúvida de
que a variação
lingüística,
quando usada na
escrita, pode
ser tida
como
um
recurso de
efeitos de
sentido,
que
não ocorrem na
escrita
padrão.
Tratemos
então de
identificar, na
escrita,
marcas
ou
indícios
que
nos apontem a interatividade
que sugerem uma
relação
direta e
intencional do
autor
com o
suposto
leitor, uma
relação
clara
entre
um
eu e
um
tu. Esta
relação se
manifesta
como
um
tipo de envolvimento
interpessoal e pode apresentar-se de
diferentes
formas,
com
intensidade variada
nos
diversos
gêneros
textuais.
Quanto a
isto
vale
ressaltar
que o
escrevente
sempre imagina
um
leitor
para
seu
texto,
mesmo
que seja
um
leitor
genérico. Os
diversos
gêneros
textuais distinguem-se
em boa
medida
pelo
tipo de
leitor imaginado. Neste
sentido, é
hoje consensual a
idéia de
que o
destinatário é
um
aspecto
central na
construção de
qualquer
tipologia
textual
Portanto, vamos
supor
aqui
algo
próximo a
segunda
noção de
gramática
já
exposta, admitindo
que uma das
características do
material
lingüístico
que cumpre a
função de
indício de interatividade é o
fato de
não
apresentar o
mesmo
grau de informatividade
que os
outros
materiais do
texto,
tanto na
fala
como na
escrita.
Ou seja, a interatividade é
um
movimento
que sugere envolvimento
interpessoal e vem marcada na
superfície
textual fazendo
parte do
próprio
texto. Trata-se de uma
especial
relação do
sujeito
com a
linguagem e
por
isso
mesmo produz
efeitos de
sentido,
mas
não do
ponto de
vista do
conteúdo
factual.
IDENTIFICANDO AS
MARCAS DE
INTERAÇÃO
No
texto
escrito, entendemos
como interatividade, o
movimento
típico e
explícito do
escrevente direcionado a
um
leitor pretendido.
Assim, as
marcas pretendidas de interatividade
serão constituídas
por aquelas
expressões
ou
formas
lingüísticas
que subentendem a
presença de
um
leitor ao
qual o
escrevente está se referindo de
maneira
clara e inambígua naquele
momento.
Sua
relação
com a
gramática se deve ao
fato de estas
expressões serem
usuais na
língua,
ou seja, previstas e realizadas de
acordo
com o
sistema
lingüístico.
Analisar essas
marcas de interatividade no
texto
escrito
não equivale a
afirmar a
presença da
fala na
escrita,
mas
sim
um
movimento
específico no
processo de textualização
em
que a
presença do
interlocutor está marcada na
própria
realização
textual.
Nem se
trata de
sugerir
que a
escrita seja uma
representação do
falado,
pois o
que se dá no
caso da
relação fala-escrita é uma
relação
um
tanto
diferente do
sujeito
com a
linguagem. Essa
diferença se deve aos
contratos a
que essa
relação se
acha submetida,
ou seja, aos
requisitos da textualização.
Certamente,
nem
todos os
gêneros
textuais terão
tais
marcas de interatividade na
mesma
intensidade e
com
evidências
tão
claras. As
cartas
pessoais,
por
exemplo,
são
casos
típicos de interatividade,
como na
ocorrência (3):
Carta
pessoal
(Núcleo
de
Ensino
do
Bugre)
[1]
Barra
Grande,
20/06/2002
Querida
Amiga
Simone
Oi!
...
Para
ser
mais
precisa
estou na
cozinha,
escrevendo na
mesa,
com
um
bolo no
forno e
o
aparelho
de
som
ligado (bem
alto,
por
sinal ).
Está ligado na
Vizinhança
FM –
ou
rádio
dos apaixonados –
eu adoro
música
sertaneja
romântica,
principalmente
com
passos
marcados.
Aqui
na
escola
é o
ritmo da
galera...
e
você,
gosta
desse
tipo
de
música?
/.../
Gostei de
ter
recebido uma
carta
sua,
sabia?
Você
deve
ter
um
ótimo
humor;
eu
também
sou
assim. É
muito
difícil
eu
ficar
séria,
na
minha;
não fico
chateada
por
pouca
coisa. O
que
eu quero
mesmo é
dançar
muito na
festa
junina
do
colégio,
você
lembra
como
são?
Não
lembra? .
Por
falar
nisso,
você
poderia
vir
não
acha?
Quem
sabe se
não
vamos
juntas
neste
ano,
Ah, vem ?
Agora
vou “entregar”:
acho
que
estou apaixonada
também,
pelo
que
você
disse o
seu
deve
ter
um
corpo!...Não
é
só
eu
que
olho
isso,
viu?!
Legal se
você puder
vir , vou
falar
com
minha
mãe
para
você
ficar
aqui
em
casa,
implore
para a
sua
deixar, tá?
Ah, aproveite
que é
meu
aniversário
e faça duas
coisas
ao
mesmo
tempo
e o
seu
que
dia
é
mesmo?
Eu
faço
dia
03 de
julho.
É acho
que
vou terminando......escreva!
Faz
um
favor?
Diga
pra
tua
mãe
que
eu
vou
morrer
se
ela
não
deixar
você
vir
e espere,
não
demoro a
escrever
Sinto muitas
saudades
de
todos
vocês!
OBS: Acho
que
vou
pedir
pra
minha
mãe
conversar
com a
sua
o
que
acha?
Será
que
ajuda
? ,
depois
pede
você
com
jeitinho!
Não
esquece,
mas
por
enquanto
mando
muitas
lembranças
a
todos,
OK?
Um
beijão!
Da
amiga
V. S.
15:16h |
Nesta
carta, todas as
partes
em sublinhado apresentam uma
relação
interpessoal
direta da
escrevente
com
sua
destinatária.
Tudo se
passa
como se
ela estivesse na
presença de
sua interlocutora. Trata-se de
um
gênero
que tem
um
interlocutor
definido,
único,
bem desenhado e
íntimo.
Além disso, há uma
suposição de
conhecimentos partilhados
que
sustenta uma
série de
conhecimentos
que
não compartilhamos.
Quanto as
características da interatividade, observamos a
própria
construção de boa
parte da
carta no
estilo e a
relação
direta
com
interlocutor
são
também
marcas discursivas
que nesta
carta aparecem
em
abundância.
Alguns
textos
quase
não apresentam
relações diretas de interatividade, marcadas
com
um
discurso
interpessoal do
tipo
visto na
carta,
mas se observarmos
com
calma, poderemos
encontrar uma
série de
sugestões de
relação
com o
leitor e,
sobretudo
um
trabalho de explicitação e
explicação
para o
leitor convidando-o a
partilhar
algo
que
supostamente
não
lhe
era
conhecido,
como
por
exemplo, os
textos
jornalísticos. Temos
um
trabalho do
escrevente
que explicita uma
informação
para
que
seu
leitor partilhe
um
conhecimento interessante,
talvez
por
ele ignorado. A
exclusão dessa
informação ( pode
não
trazer
prejuízo ao
conjunto da
notícia)
mas,
tal
informação seja
um
auxílio
para o
leitor
que foi imaginado
pelo
escrevente. A
rigor, trata-se de
algo
perfeitamente
dispensável
contudo, é
útil
para
marcar uma
determinada
relação do
escrevente
com
seu
público.
ALGUNS DOS
TIPOS DE
MARCAS
E
INDÍCIOS DE INTERATIVIDADE
Feitas as
considerações
iniciais, vejamos
alguns
detalhes de
como a interatividade se
manifesta na
escrita e
quais
suas
marcas
ou
indícios.
Nem
todos os
indícios de interatividade
serão
aqui abordados.
Apenas
alguns deles
serão mostrados de
maneira
sistemática. Trata-se, neste
momento, de
um
proposta
que deverá
ser
retomada
para
posterior complementação.
Indícios de
orientação
diretiva
para
um
interlocutor
determinado
Trata-se da
referência ao
leitor
com
marcas
por
vezes nítidas,
tais
como as
que apareceram na
carta
acima citada.
Estes
marcadores interacionais
ou discursivos
diretos
que estabelecem
relações imediatas
com o
leitor
são
comuns a
alguns
poucos
gêneros
textuais.
Não aparecem no
noticiário
jornalístico (a
menos
que pretenda uma
ruptura
com o
gênero e
um
efeito de
sentido
especial,
tal
como ocorre
com o
Jornal
que
busca o
sensacionalismo).
Indícios de
premonição
face a
leitores
definidos
As
formas de
manifestação desses
indícios
são muitas e às
vezes
elas constituem
um
encadeamento de
elementos
que constróem
um
ciclo
completo contendo: (a)
proposta– uma
espécie de
declaração de
intenções; (b)
defesa
ou explicitação da
proposição; (c) antevisão de
objeções (reconhecimento
de
alternativas); (d)
resposta às
objeções.
Isto constitui uma
ação
dialógica
em
que o
escrevente envolve o
seu
interlocutor
diretamente na
construção do
texto.
Indícios de
suposição de partilhamento
ou de
convite ao partilhamento
Muitas
vezes, o
escrevente tem
em
mente
um
leitor
com o
qual
ele dialoga supondo nele
conhecimentos
específicos.
Este é o
caso de
muitos
artigos
científicos
em
que os
escreventes agem na
suposição de
um
leitor especializado. As
marcas de
suposição de
um
tal partilhamento
são,
por
exemplo, os
verbos na 2ª
pessoa do
plural
ou
então os
verbos epistêmicos do
tipo, “sabemos”, “compreendemos”, “achamos”,
“julgamos” etc. e,
mais
freqüentemente, os
advérbios
característicos de uma modalização epistêmica
que sugere partilhamento de pressupostos
ou
conhecimentos;
Outro é o
movimento
que se evidencia
como
convite ao partilhamento de
conhecimentos de
suposições e
conhecimentos. Neste
caso, o
escrevente imagina
um
interlocutor
que
não necessariamente partilha os
conhecimentos
necessários ao
entendimento dos
conteúdos
expostos.
Comum no
caso de
sugestão de
necessidade de partilhamento
são as explicitações de
sentidos de
palavras.
Este
movimento fazem
crer
que os
elementos explicados
não seriam do
conhecimento do
interlocutor
ou
que
eles tomam
sentidos
especiais na
exposição de
tal
modo
que
sua
informação se
torna
importante.
Como
exemplo, pode-se
considerar várias
passagens
iniciais desta
exposição
em
que tentamos
definir
alguns
termos
com os
quais
nem
todos concordam,
mas
que foram
por
nós
convidados a
pelo
menos temporariamente
ver essa
questão desse
jeito.
Indícios da
fala de
um
interlocutor
com o
qual se dialoga
Este
movimento do
escrevente é
conhecido
como a
sugestão de
presença da
alteridade
ou
proposição de uma
alteridade
efetiva, se
manifesta
em
certas
formas
características de
citações
que
são endossadas
ou revidadas. A
citação surge
quase
que
como
um
turno do
interlocutor
suposto.
Nem
toda a
citação (discurso
direto) pode
ser tido
como
um
caso de interatividade,
mas
toda a
citação é
um
caso de heterogeneidade,
polifonia,
alteridade, intertextualidade
ou interdiscursividade.
O
movimento
específico a
que
aqui
nos referimos é
aquele
que aparece
em
abundância
em
textos
acadêmicos.
Ali é
comum se
apresentar a
opinião de
alguém e
então endossá-la
ou criticá-la
com
alguns
argumentos
que retomam o citado. O
interlocutor
não está
ali
apenas
como uma
informação a
mais,
mas
como
um
parceiro do
debate
em
andamento.
São
formas
que sugerem a
emergência de
um
outro (não o
autor)
como enunciador no
texto.
Indícios de
oferta de
orientação e seletividade:
A
designação
aqui
dada a
este
tipo de
indício
não é
muito
clara,
mas o
fenômeno é
simples. Trata-se do
uso de dêiticos
textuais,
notas de
pé de
página etc.,
como
indícios
claros de interatividade.Quanto
às
notas de
pé de
página, temos
fórmulas
que se dirigem explicitamente a
um
leitor,
tais
como:“*
sobre o
conteúdo desse
termo,
ver o
livro de Pareto...”**
confira
com os
dados da
tabela 15 trazidos na p. 68”.
O
texto é
visto
como
um
espaço
em
que as
coisas estão distribuídas e situadas (essas
coisas
são as
proposições, os
conteúdos etc.) de
maneira
que o
texto é ao
mesmo
tempo
real e
virtual.
Por
outro
lado, o
texto é
também
um
tempo, seja
ele o
tempo da
ação do
produtor
ou do
leitor
ou do
conteúdo . O
escrevente, ao
usar as
marcas, está sugerindo ao
seu
leitor uma
orientação cognitiva (um
enfoque)
preferencial. Vejamos algumas das
realizações desses
indícios
que podem
revelar interatividade.
Nas
cartas: fico
por
aqui –
Por
aí
você
vê
porque
eu demoro
tanto; Nas
atas
outro
assunto abordado foi
a…Para
tanto foi nomeado...Em
textos
jurídicos:…
que no
final assina, fez esta
petição;pelos
motivos
práticos e
jurídicos
abaixo aduzidos;Em
artigos e
trabalhos
científicos:Essa
posição é
controvertida.. o
que foi
dito
até
aqui...
Penso,
aqui,
nos…oi
tendo
em
vista
tudo o
que se acaba de
afirmar
que escolhemos.
OBSERVAÇÕES
FINAIS
Esses
indícios de interatividade revelam
que o
escrevente age na
suposição de
um envolvimento
que é orientado de diversas
maneiras,
ou seja, envolve-se:
com
seu
interlocutor;
com
seu
tema;
consigo
mesmo;
com
práticas
sociais específicas.
Portanto,
mais do
que
simples
presença de
estratégias de textualização típicas da
fala
nos
processos de textualização da
escrita, parece
que estas
marcas
são
um
aspecto
central do
processamento
lingüístico de
um
modo
geral.
Assim, é
possível
imaginar
que o
processamento
textual (enquanto
movimento de
produção e
recepção de
texto numa
perspectiva cognitiva) tem
muito de
comum na
fala e na
escrita.
Tudo
leva a
crer
que a interatividade é
um
aspecto
que diz
respeito
não
tanto às
modalidades de
uso da
língua,
mas à
relação do
escrevente/falante
com a
língua.
Outra
conseqüência
sugestiva, decorrente do
exposto
acima, é uma
nova
visão nas
relações fala-escrita no
aspecto da formalidade-informalidade. Observe-se
que na
posição
aqui defendida fica
implícito
que
formalidade (questão de
estilo)
não necessariamente acarreta
distanciamento do
interlocutor,
nem elimina automaticamente as
marcas de interatividade. É
assim
que
um dos
textos
mais
formais,
qual seja o
acadêmico, apresenta
alto
índice de
marcas de interatividade.
Também é de
salientar
que a
presença de
marcas de interatividade
não é
um
indício de
presença da
fala na
escrita,
mas de uma
projeção da
escrita dimensionada
para uma
determinada
audiência. Os
indícios de interatividade na
escrita
são
sobretudo uma
marca do
escrevente a
respeito de
sua
relação
com a
língua. A dialogicidade será
tanto
maior
quanto
mais
definido for o
interlocutor. Veja-se o
caso das
cartas
pessoais
ou dos
bilhetes e
cartões.
Em
suma, as
marcas de interatividade na
escrita e na
fala atuam
como
operadores de
orientação cognitiva sugerindo
perspectivas de
interpretação
preferencial
por
parte do
escrevente/falante.
Mais do
que
simples
marcas
estilísticas
são
atos de
fala (formas de
ação)
que fazem
propostas, negociações,
contratos e definem
posicionamentos
para uma
relação intersubjetiva
ou
interação
comunicativa
mais
eficaz,
assim podemos
concluir dizendo
que as
marcas de interatividade na
escrita estão
entre as
estratégias
mais
eficazes de
que se
lança
mão
para
produzir o
efeito de “esquisita
precisão” no
processo
comunicativo.
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MACHADO A. P. et alii.
Gêneros
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São Paulo: Cortez, 1994.
TRAVAGLIA, Luiz C.
Tipologia
textual e a
coesão/coerência no
texto
oral:
transições tipológicas.
Letras &
Letras. Uberlândia: UFU, 1992, n° 8, p.
37-56.
VYGOTSKY, L. S.
Pensamento e
linguagem. 2ª ed.
São Paulo: Martins
Fontes, 1989.
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