NOÇÕES DE SINTAXE ESTRUTURAL
DA LÍNGUA PORTUGUESA

Carlos Alberto Gonçalves Lopes (UNEB)

A Sintaxe tem sido considerada um bicho-papão pelos estudantes de Língua Portuguesa e, quase sempre, rejeitada com o argumento equivocado de ser um conhecimento inútil.

A verdade, contudo, é que tais estudos não são apreciados porque são ministrados mediante uma metodologia equivocada que expõe o fenômeno lingüístico de modo fragmentado e quase sempre incoerente.

Por outro lado, há muitos, infelizmente, que ignoram o fato de ser o conhecimento da Sintaxe importantíssimo, não só para se poder fazer uma interpretação textual correta, como também para orientar o processo redacional, a exemplo do que ocorre na prática da pontuação.

Por conseguinte, pretendemos propor um ensino da Sintaxe de forma global, estrutural e coerente, mediante a fixação dos padrões frasais, sem fragmentar ou isolar os seus elementos constituintes estudando-os separadamente. Procedendo assim, o estudo da Sintaxe será fácil, racional e sobretudo útil, pelo resultado prático que o aprendiz obterá já nas primeiras lições, em termos de melhor inteligibilidade dos textos lidos e facilidade para a expressão escrita dos seus pensamentos.

Inicialmente será apresentada a lista dos termos oracionais, não para serem estudados isoladamente, mas apenas para consulta, com o objetivo de se ter consciência dos elementos constituintes da estrutura oracional; observando que aqui deixaremos de lado a apreciação das frases nominais para nos determos apenas ao estudo das frases verbais, frases estas que admitem variações de modalidade obrigatória (declarativa, interrogativa, imperativa, exclamativa) e facultativa (enfática, negativa, passiva).

Cabe observar ainda a coerência da relação entre as categorias gramaticais do discurso e os termos oracionais em que à categoria primária de substantivo corresponde o núcleo do sujeito e dos termos integrantes do nome e do verbo; à categoria secundária de verbo e adjetivo, corresponde o verbo e os adjuntos do nome (adnomes) , termos estes periféricos e determinantes do nome, sendo estes últimos indispensáveis para a expansão das frases; e à categoria terciária de advérbio, corresponde os adjuntos adverbiais e oracionais, responsáveis pela expansão e modalização das frases. A propósito, ver LOPES (2003) , que também ressalta para o fato de que o verbo de ligação a rigor não é verbo, mas um simples verbóide que pode funcionar como um translativo capaz de transformar um nome ou pronome em verbo.

Por fim, resta dizer que nos limitamos apenas à apreciação da frase simples, que, por sinal, tem estrutura similar à da frase complexa, visto que as orações substantivas, adjetivas e adverbiais da frase complexa nada mais são do que o sujeito, o complemento nominal, o objeto direto, o complemento adverbial, o agente da passiva, o adjunto adnominal, o aposto e o adjunto adverbial expandidos mediante a instrumentalidade de um conectivo (conjunção ou pronome relativo). Sendo assim, quem sabe analisar a frase simples, logo saberá analisar a frase complexa sem dificuldade.

TERMOS ORACIONAIS

Essenciais do tipo verbo ou verbóide:

a) transitivo: João cortou a melancia.

b) intransitivo: O gato morreu.

c) de ligação: O gato é preto.

Obs. – Os verbos, além de simples, podem assumir a forma composta, a exemplo de “Eles têm ameaçado” (ter/haver+particípio invariável); locucional, a exemplo de “Eles andam ameaçando” (ter/haver e outros aspectuais+infinitivo ou gerúndio); passiva, a exemplo de “Eles são ameaçados” (ser/estar/ficar+particípio variável); ou conglomerada, a exemplo de “Eles jogam bola”.

Essenciais do tipo nome ou pronome transferido a VERBO

a) predicativo do sujeito: Ela é educada.

b) predicativo do objeto: Ela julgou o Rui incompetente.

Essenciais do tipo nome ou pronome não transferido a verbo
(SUBSTANTIVOS):

a) sujeito determinado: Eva comentou sobre a eleição.

b) sujeito indeterminado: Comentam sobre a eleição.

Integrantes do nome (SUBSTANTIVOS):

complemento nominal: Adiei minha ida à Europa.

Integrantes do verbo (SUBSTANTIVOS):

a) objeto direto: Camões escreveu “Os Lusíadas”.

b) objeto indireto: A Terra deve a sua vida ao Sol.

Obs. – Uma variante do objeto indireto é o complemento adverbial de lugar (CA) , ou locativo, exigido pela semântica de alguns verbos transitivos, a exemplo de “Eu vou a Goiás”.

Adjuntos do nome (ADJETIVOS):

a) adjunto adnominal: Adoro meu lindo filho querido.

b) aposto restritivo: Meu amigo artista viajou.

c) aposto explicativo: Pelé, o rei do futebol, viajou.

Adjuntos do verbo (ADVÉRBIOS):

a) adjunto adverbial: Ontem viajei de avião pela TAM.

b) agente da passiva: Ele foi demitido pelo chefe.

Obs. – O vocativo, que freqüentemente tem por núcleo um substantivo, a exemplo de “Senhor, tende piedade de nós!” , não faz parte da estrutura oracional, por se tratar de uma expressão de chamamento não inserida no “dictum”. Algo semelhante ocorre também com alguns nomes denominados advérbios pela gramática tradicional, com a diferença de que eles funcionam como moduladores de frase, a exemplo de “Felizmente, ele dispensou a secretária” e “Não sairei com você”.

PADRÕES FRASAIS BÁSICOS

a) PADRÃO I: S+VI ± (AADV) → Elas morreram.

b) PADRÃO II: S+VT+OD± (AADV) → Ela ouviu isto na reunião.

c) PADRÃO III: S+VT+OI± (AADV) → Nós obedecemos ao regulamento, hoje.

d) PADRÃO IV: S+VT+OD+OI± (AADV) → Ele ofereceu um livro ao rei, hoje.

e) PADRÃO V: S+VL+PS± (AADV) → Elas estão tranqüilas hoje. Ela estava assustada na reunião.

PADRÕES FRASAIS COMPOSTOS POR SUPERPOSIÇÃO

f) PADRÃO I + PADRÃO V = S+VI+PS± (AADV) → Elas morreram tranqüilas hoje.

g) PADRÃO II (ou III ou IV) + PADRÃO V = S+VT+OD/OI+PS ± (AADV) → Ela ouviu isto assustada, na reunião.

VARIAÇÕES NOS PADRÕES FRASAIS

h) PADRÃO I: S+VI± (AP) ± (AADV) → Elas foram mortas pelo assaltante hoje.

i) PADRÃO III: S+VT+CA± (AADV) → Nós moramos na mata.

j) PADRÃO IV: S+VT+OD+CA± (AADV) → Ele pos o carro na garagem.

k) PADRÃO II + PADRÃO V = S+VT+OD+PO± (AADV) → O juiz declarou o réu inocente.

Obs. – A rigor, o predicativo do objeto da gramática tradicional inexiste, porque corresponde ao predicativo do sujeito, como se pode constatar no exemplo referido, onde “inocente” é predicativo do sujeito de uma oração em que verbo e conjunção encontram-se elípticos (que o réu é inocente).

ANÁLISE SINTÁTICA

Após analisar sintaticamente as frases abaixo, identifique o padrão frasal de cada uma delas:

1 – João fez a tarefa.

2 – Notícia suspeita quebrou a suave harmonia.

3 – Gostamos de nossos pais.

4 – Todos responderam ao meu apelo.

5 – Desejo-lhe muita prosperidade.

6 – Flávio há de emprestar o carro a Maurício.

7 – Devemos-lhe uma retribuição.

8 – Havia muitas crianças na igreja.

9 – Faz cinqüenta anos.

10 – Neva.

11 – Joaquim é nosso amigo.

12 – Quem ficou atrapalhado?

13 – O Paraná elegeu Roberto Santos governador.

14 – Eu o tenho por competente.

15 – Ela se encontra fragilizada.

16 – Artur foi nomeado inventariante pelos seus irmãos.

17 – Esses morreram justificados.

18 – Ninguém adoeceu aqui.

19 – João, João, não tens esperança e vendes ilusão?

20 – Jesus é a única esperança de salvação das penas do inferno.

BIBLIOGRAFIA

BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos estudos lingüísticos. 9ª ed. São Paulo: Nacional, 1986.

CÂMARA Jr., Joaquim Mattoso. Dispersos. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1972.

CÂMARA Jr., Joaquim Mattoso. Princípios de lingüística geral. 5ª ed. Rio de Janeiro: Padrão, 1977.

CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. São Paulo: Ática, 1986.

CARONE, Flávia de Barros. Subordinação e coordenação. São Paulo: Ática, 1988.

DUBOIS CHARLIER, Françoise. Bases de análise lingüística. Coimbra: Almedina, 1976 (Cap. 1 e 2).

GARCIA, Afrânio. “Sobre a inexistência de orações sem sujeito no português”. In: –––. Ensaios: textos sobre Lingüística e Estilística. 2ª ed. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2002, p. 84-89.

KURY, Adriano da Gama. Novas lições de análise sintática. São Paulo: Ática, 1985.

LOPES, Carlos Alberto Gonçalves. Lições de morfologia da língua portuguesa. Jacobina: Tipô-Carimbos, 2003.

LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. 3ª ed. Porto Alegre: Globo, 1979.

 

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