ORIGEM E
FORMAÇÃO DA
LÍNGUA PORTUGUESA
Camillo Cavalcanti
Homem
e a
Índole
Comunicativa
e
Social
A
Linguagem
Verbal
A
linguagem é uma das
características
maiores do
homem.
Desde a
pré-história, a
necessidade de
comunicação se fazia
presente.
Antes da
língua
oral, o
homem desenvolveu outras
linguagens
como
gestos,
sinais e
símbolos
pictóricos,
amuletos,
tudo
isto
profundamente relacionado
com o mítico (deus).
Essa
necessidade de se
comunicar
encontra
fundamento na
própria
essência
humana,
já
que se
nota a
propensão à partilha e à
organização
social.
Acredita-se
que as primeiras
articulações de
sons produzidos
pelo
nosso
aparelho fonador
com
significados
distintos
para
cada
ruído, convencionados
em
código, foram celebradas na
Língua Indo-européia, numa
região incerta da Europa
oriental, a 3000 a.C. A
partir de
então, o
Indo-europeu foi
levado a diversas
regiões,
desde o
Oriente
Próximo
até a Grã-Bretanha.
Justamente
pela
grande
propagação dessa
língua
em
territórios
tão
distantes, O
Indo-europeu evolui na
forma de diversas
novas
línguas,
como o
grego, o
eslavo e o
itálico.
LÍNGUAS
PROVENIENTES DO
INDO-EUROPEU
Hitita — na Ásia
Menor (Síria
Antiga,
1900 a.C.);
Germânico
—
Noroeste
da Europa (Germânia
e Alemanha);
Celta —
Continental
(Gaulês) e
Insular (Gaélico
e
Britânico);
Itálico
— Osco, Sabélico, Úmbrio,
Latim;
Albanês;
Grego —
Junção
dos
Dialetos
do
Mar
Egeu;
Báltico —
Prussiano,
Letão e
Lituano;
Eslavo —
Ocidental
(Polonês e
Tcheco)
,
Meridionais
(Búlgaro,
Servo,
Esloveno) e
Orientais
(Russo e
Ucraniano);
Armênio — no Cáucaso e na Mesopotâmia (com
escrita
desde IX
a.C.);
Indo-iraniano — Iraniano (Persa,
Avéstico,
Medo, Cita) e Indo (Sânscrito,
Prácritos);
Tocário — Turquestão chinês (manuscritos
desde 10
d.C.)
www.humanas.ufpr.br/departamentos/delin/classic/curso/indo.htm. |
Do
Indo-europeu,
passando
pelo
Itálico,
até
o
Latim
O
latim é uma
terceira
fisionomia,
determinada
por
fatores
locais (cultura,
principalmente) , daquela
primeira
língua, o
Indo-europeu,
falada
pelo
homem
ainda na
pré-história.
A
Língua
Latina surgiu na
região do Lácio (da Itália ao
sul do
Rio Tibre) ,
por
volta do
século VII a.C.,
dois
milênios
depois do
Indo-europeu. A
capital do Lácio
era Roma, a
mesma do
futuro
Império
Romano. Olavo Bilac,
nosso
Príncipe dos
Poetas, tem
um
excelente
poema
em
homenagem à
nossa
Língua Portuguesa, evocando
suas
origens nessa
região:
SONETO
DE OLAVO BILAC
Lingua Portugueza
Ultima
flor do
Lacio,
inculta
e bella,
És, a
um
só
tempo,
esplendor
e
sepultura:
Ouro
nativo,
que na
ganga
impura
A
bruta
mina
entre os
cascalhos
vela...
Amo-te
assim,
desconhecida
e
obscura,
Tuba de
alto
clangor, lyra
singela,
Que tens
o
trom e o
silvo
da procella,
E o arrolo da
saudade
e da
ternura!
Amo o
teu
viço
agreste
e o
teu
aroma
De
virgens
selvas e
de
oceano
largo!
Amo-te, ó
rude e
doloroso
idioma,
Em
que da
voz
materna
ouvi: “meu
filho!”,
E
em
que
Camões chorou, no exilio
amargo,
O genio
sem
ventura
e o
amor
sem
brilho!
Fonte: BILAC, Olavo.
Poesias |
O
Latim
e o
Império
Romano
Apropriando-se da
língua utilizada
pelos
povos
itálicos (fundadores
de Roma)
que
ainda sofriam
invasões bárbaras, os
romanos tornaram o
Latim a
língua
oficial do
Império.
Só atente
para
um
pequeno
detalhe: olhe o
tamanho do
Império!
DOMÍNIO DO
LATIM
Fonte: http://acd.ufrj.br/~pead/tema05/por-tm05.html
Esta
era a
área dominada
pelo
Império
Romano
em 116 d.C.,
bem no
seu
auge. É
claro
que,
como aconteceu ao
Indo-europeu, o
Latim,
não podendo
permanecer o
mesmo
em
tão
diferentes
lugares e
tão longínquas
regiões, foi sofrendo alterações,
devido,
sobretudo, a
fatores
locais (cultura,
folclore,
invasões) ,
até se
fragmentar.
Latim
Vulgar,
um
uso
“clandestino”
(VII a.C. – IX d.C)
Ainda no
Império
Romano, as
pessoas eram obrigadas a
falar
Latim,
mesmo
não sendo
sua
língua
local. Os
romanos conquistaram a
Península
Ibérica
em 218 a.C. A
partir de
então, o
Latim
falado na Galícia e na Lusitânia (províncias
ibéricas) adquiriu
traços
peculiares
próprios da
Península. Essa
época é
chamada pré-histórica
porque
não há
documentos
escritos: lembrem-se, o
Latim
Vulgar
era
apenas
falado,
mas
oficialmente (nos
documentos e
registros
escritos)
só se podia
usar o
Latim
Canônico.
O
povo queria
usar a
língua de uma
maneira
mais
próxima de
suas
tradições culturais, na
pronúncia e na
escolha das
palavras, na
organização e na
sintaxe da
frase.
Por
isso,
em todas as
situações domésticas,
não se usava
outra
variante
senão a do
Latim
Vulgar, e
Vulgar
porque
era do
povo.
“Primeiras
Letras”
do
Latim
Vulgar
(IX d.C. – XII d.C.)
No
século IX,
começa a
escritura dos
primeiros
documentos
em
Latim “bárbaro”,
ou seja,
com
traços de uma
nova
língua
que se anunciava
entre o
povo. Dessa
forma, trata-se de
registros de
pequena
importância na
hierarquia de
poder (testamentos,
contratos,
documentos
jurídicos de
pequena
monta).
Note-se
que
esses
documentos de
cartórios, se
não atendiam aos
interesses dos
governantes, faziam
parte da
vida
privada do
povão,
que dava a
mão-de-obra
para as
instituições de
baixo
escalão.
ESCRITURA
DE
DOAÇÃO
EM
LATIM
BÁRBARO
(874 D.C.)
Fofino, Gaton, Astrilli, Arguiru, Vestremiru, Guinilli et
Aragunti placitum facimus inter
nos,
unus ad alios,
per
scripturam firmitatis, notum die quod erit IIIº nonas Apritis
era
DCCCCª XIIª, super ipsa eclesia et super nostras hereditates, quantas
habuerimus et ganare potuerimus usque ad obitum nostrum,
que
non habeamus licentiam super illas nec uindere, nec donare, nec testare in
parte
extranea, nisi unus ad allios aut ad ipsa eclesia uocabulo Sancti Andree
Apostoli. Et qui minima fecerit, et istum placitum excesserit, pariet
parte
de
que
isto
placito obseruauerit X boues de XIIIm XIIIm modios, et iudicato.
Nos
pernominatos in hoc placito manus nostras ro +++++++ uoramus.
Pro test.: Oliti test., Tramondu test., Arguiru test.
Menendo notuit.”
(VASCONCELLOS, 1959: 9) |
O
Latim
já
está
tão
Vulgar
que
já
não
é
mais
latim:
é o
Galego-português
(últimas
décadas
do
século
XII ao XIV)
A
partir do
final do
século XII (1150-1200) , na
Península
Ibérica
não se
fala
mais o
Latim,
nem
mesmo
em
sua
forma
Vulgar. As
características do
Latim
que
não se identificavam
com a
vida e o
pensamento da
grande populaça se perderam.
Portanto,
já
completamente
descaracterizado, o
latim torna-se, aos
poucos,
língua
morta, e
cada
vez
mais vigora o
Galego-português, uma
evolução do
Latim
totalmente de
acordo
com o
que o
povo queria,
pois, lembrem-se, o
Latim foi uma
língua
imposta
pelos
romanos as
povos
ibéricos.
No
mundo
nom
me sei
parelha,
Mentre
me vai
Ca moiro
por
vós, e
ai
Mia
senhor
branca e
vermelha.
Queredes
que
vos
retraia
Quando
vos vi
em
saia?
Mau
dia
me
levantei
Que
vos
enton non vi
feia.
E, ma
senhor,
dês
aquel’
dia, ai,
Me foi a
mi
mui
mal.
E
vós,
filha de
Dom
Pai
Muniz,
bem
vos
semelha
D’aver
eu
por
vós g
(u) arvaia
Pois
eu, mia
senhor, dalfaia
Nunca de
vós
houve
nem hei
valia d’huma
correia. |
No
mundo
não sei
de
coisa
igual
Se
continuar do
jeito
que vai
Porque
morro
por
vós, e
ai
Minha
senhora, de
branco e
vermelho
Quereis
que
vos
envergonhe
Quando
vos
vir de
pijama?
Maldito
dia
me
levantei
Para
então
não
mais
te
ver
feia.
E,
minha
senhora,
desde
aquele
dia, ai,
Me tem
sido a
mim
muito
ruim.
E
vós,
filha de
Dom
Paio
Muniz,
vos
parece
correto
De
eu
ter
por
vós
sentimento
Pois
eu,
minha
senhora,
em
troca
Nunca de
vós
tive,
nem
tenho,
Valor
sequer
de uma
correia. |
Fonte:
Oficina
Literária Ivan Cavalcanti Proença
(atualização
minha, à
direita)
A
primeira
poesia
escrita
em
Galego-português, “Ca moiro
por
vós”, de
Paio
Soares de Taveirós,
conhecida
como “Canção da
Ribeirinha”, concorre
como
primeiro
texto
escrito nessa
moderna
língua galego-portuguesa,
por
ser do
final do
século XII (1189?)
CANÇÃO DA
RIBEIRINHA
O
Galego-português
(das últimas
décadas
de XII
até
XIV)
Nesse
período, a
língua de Portugal e da Galícia
era a
mesma.
Somente no
século XIV a
separação dos
idiomas
português e
galego se
consuma. Na
passagem do
século XIII ao XIV, o
principal
poeta foi D. Dinis,
rei de Portugal.
Ele escreveu
muitos
versos
trovadorescos
que marcaram a
história do Trovadorismo
Português,
sob
forma de
cantiga d’amor (de
voz
masculina dirigida à
amada)
ou d’amigo (de
voz
feminina dirigida a uma
confidente). Confira esta
cantiga d’amor:
POEMA DE D. DINIS (1261-1325)
Preguntar-vos quero
por
Deus,
Senhor fremosa,
que
vos fez
mesurada e de
bom
grado
e de
bom
prez,
que
pecados
foron os
meus
que
nunca
tevestes
por ben
De
nunca
mi
fazerdes ben.
Pero
sempre
vos soub’amar,
des aquel
dia
que
vos vi,
mays
que os
meus
olhos
em
mi,
e assy o
que quis
Deus
guisar,
que
nunca
tevestes
por ben
De
nunca
mi
fazerdes ben.
Des
que
vos vi,
sempr’ o mayor
bem
que
vos
podia
querer
vos
quigi, a
todo
meu
poder,
e pero quis Nstro
Senhor
que
nunca
tevestes
por ben
De
nunca
mi
fazerdes ben.
Mays,
senhor,
ainda
com ben
Se cobraria
bem
por
bem. |
Quero
vos
perguntar,
por
Deus,
Senhora
formosa,
o
que
vos fez
talhada
e de boa
índole,
que
pecados
foram os
meus
para
nunca
terdes
por
bem
De
nunca
me
fazerdes
bem.
Mas
sempre
vos
soube
amar,
desde
aquele
dia
que
vos vi,
mais
que os
meus
olhos
em
mim,
e
assim
Deus
quis
fadar,
para
nunca
terdes
por
bem
De
nunca
me
fazerdes
bem.
Desde
que
vos vi,
sempre o
amior
bem
que
eu podia
de
vós
querer
eu
vos
quis,
com
todas as
minhas
forças
mas
porém
quis
Nosso
Senhor
para
nunca
terdes
por
bem
De
nunca
me
fazerdes
bem.
Ainda
mais,
senhor,
com
bem
Se cobraria
bem
por
bem. |
Fonte: SPINA, Segismundo. A
lírica
trovadoresca. (atualização
minha à
direita)
A
Língua
Portuguesa no
século
XV
A
partir do
século XIV,
como
visto, o
Galego-português
cada
vez
mais é substituído
pelos
dialetos
regionais da Lusitânia e da Galícia,
até
que o
Português se dissocia do
Galego. Observe
como
este
fragmento de uma
crônica de Fernão Lopes (1380?-1460?)
marca
bem
esse
período
em
que os
traços do
galego-português se escasseiam
para
dar
lugar à
feição
estilística do
Português.
CRÔNICA
DE FERNÃO LOPES
Razoões desvairadas,
que
alguuns fallavam
sobre o
casamento delRei
Dom
Fernamdo Quamdo foi sabudo pello
reino,
como
elRei reçebera de
praça
Dona
Lionor
por
sua
molher, e
lhe
beijarom a maão
todos
por
Rainha,
foi o poboo de
tal
feito
mui
maravilhado,
muito
mais
que da
primeira;
por
que
ante
desto nom enbargando
que o
alguuns sospeitassem,
por o
gramde e honrroso geito
que
viiam a elRei teer
com ella,
nom eram porem çertos se
era
sua
molher
ou nom;
e
muitos
duvidamdo, cuidavom
que se
emfa daria elRei della, e
que
depois
casaria
segundo
perteemçia a
seu
real
estado:
e huuns e
outros
todos
fallavam desvairadas razõoes sobresto, maravilhamdose
muito
delRei nom emtemder quamto desfazia
em
si,
por se
comtemtar de
tal
casamento.
Razões
desvairadas, aquelas
que
alguns
falavam
sobre o
casamento de El-rei
Dom
Fernando.
Quando
foi
sabido
por
todo o
reino
como
El-rei recebera
depressa
Dona
Leonor
por
sua
mulher,
e
todos
lhe
beijaram a
mão
como
Rainha,
foi o
povo de
tal
feito
muito
maravilhado,
muito
mais do
que da
primeira;
porque,
antes
disto,
não
embargando
que
alguns
suspeitassem,
pelo
grande e
honroso
jeito
que viam
El-rei
ter
com
ela,
não
eram,
porém,
certos
se
era
sua
mulher
ou
não; e
muitos
duvidando, cuidavam
que se
enfadaria El-rei dela, e
que
depois
casaria
segundo
pertencesse a
seu
real
estado;
e uns e
outros
falavam desvairadas
razões
de
sobre,
maravilhando-se
muito de
El-rei
não
entender
quanto
se desfazia de
si,
por se
contentar
com
tal
casamento.
www.unicamp.br/iel/alunos/publicacoes/textos/p00001.htm |
A
Língua
Portuguesa no
século
XVI
A
Língua
já está
muito
perto do
uso
que dela fazemos
hoje. O
Português
começa a
dar
seus
primeiros
passos.
Ainda há
resquícios do
galego-português,
principalmente na
ortografia,
que é
sempre
cambiante.
Entretanto, o
predomínio das
características do
Português é
evidente. Leia-se
esse
trecho de
um
roteiro de Gil Vicente,
que representa
bem
esse
período de
consolidação
entre o
Galego-português e a
Língua Portuguesa, a
fim de se
observar a
proximidade do
Português do
século XVI
com o
Português de
nossos
dias:
TEATRO DE
GIL VICENTE (1465-1537)
FIDALGO.
A estoutra
barca
me
vou.
— Hou da
barca!
Para
onde
is?
Ah,
barqueiros!
Não
me
ouvis?
Respondê-me! Houlá! Hou!
Par
Deus,
aviado* estou!
Quant’a
isto
é
já
pior.
Que
girinconcis, salvanor!
Cuidam
que
são
eu
grou**?
ANJO.
Que
queres?
FIDALGO.
Que
me
digais,
pois parti
tão
sem
aviso,
se a
barca
do
paraíso
é esta
em
que
navegais.
ANJO.
Esta é;
que
me
demandais?
FIDALGO.
Que
me
leixês***
embarcar;
sô
fidalgo
de
solar
é
bem
que
me
recolhais.
ANJO.
Não
se embarca
tirania
neste
batel
divinal.
FIDALGO.
Não
sei
por
que
haveis
por
mal
que
entr’a
minha
senhoria.
*aviado:
em
vias de,
preparado
**cuidam
que
são
eu
grou:
cuidam
que sou
eu
gralha?
*** leixês: deixeis
(VICENTE, Gil. O
auto
da
barca
do
inferno) |
A
Língua
Portuguesa
no
século
XVII
até
a
atualidade.
1600 é o
século da
glória de Camões,
em
que o
Português
finalmente atinge
sua
fase
moderna. A
diferença
maior
para a
língua usada
em
nossos
dias se restringe a
pormenores
como
grafia, vingando as
semelhanças. Camões,
após
sua
morte, será o
poeta do
idioma
nacional,
autônomo e
independente. Os
Lusíadas (1572) tornam-se o
grande
épico de Portugal e
referência cultural a
partir do
século XVII.
Já na
fase
moderna da
Língua Portuguesa, a
escolha vocabular e a
sintaxe seguem
padrões
idênticos aos
atuais.
Leia-se o
soneto
camoniano musicado
por Renato Russo:
Amor é
um
fogo
que arde
sem se
ver,
É
ferida
que doe
e
não se
sente,
É
um
contentamento
descontente,
É
dor
que
desatina
sem
doer.
É
um
não
querer
mais
que
bem
querer,
É
um
andar
solitário
entre a
gente,
É
nunca
contentar-se de
contente,
É
um
cuidar
que
ganha
em se
perder.
É
querer
estar
preso
por
vontade,
É
servir a
quem
vence o vencedor,
É
ter
com
quem
nos
mata lealdade.
Mas
como
causar pode
seu
favor
Nos
corações
humanos
amizade,
Se
tão
contrário
a
si é o
mesmo
amor?
(BERARDINELLI, Cleonice.
Corpus
dos
sonetos
camonianos) |
As
palavras
em
Português vieram todas do
Latim?
A
maior
parte do
vocabulário da
Língua Portuguesa tem
sua
origem no
Latim: pater (pai);
mater (mãe); filius (filho);
manus (mão); aqua (água);
bonus (bom); fortis (forte);
viridis (verde); dicere (dizer);
cadere (cair); amare (amar);
avis (ave).
Não
obstante, a estas
palavras se somam outras provenientes do
Latim
Vulgar (termos
populares): bellus (belo);
caballus (cavalo); cattus (gato);
casa (casa);
grandis (grande)
Também há de se
considerar a
sobrevivência de várias
palavras oriundas da
língua
local,
antes da
invasão
romana:
barro,
manteiga, veiga,
sapo,
esquerdo
Algumas
palavras germânicas foram incorporadas a muitas
línguas românicas,
inclusive o
Português. Na
maioria dos
casos, foram introduzidas
por
ocasião das
invasões bárbaras, das
quais estas
são provenientes:
guerra;
guardar;
trégua;
ganso;
lua;
roubar;
espiar;
fato (roupa);
ataviar;
estaca;
espeto;
marta;
agasalhar;
gana;
branco;
brotar
A
última
observação recai na
longa
permanência dos
mouros na
Península,
fato
que refletiu na
Língua.
Até
hoje, a
presença dos
árabes na Ibéria pode
ser notada
pela
região de Andaluzia,
onde existe uma
grande
quantidade de
ciganos e
outros
povos
bárbaros
ou
nômades.
Dentre as
palavras de
uso
corrente na
Língua Portuguesa, citem-se:
arroz;
azeite;
azeitona;
bolota;
açucena;
javali;
azulejo;
açúcar;
refém,
arrabalde;
mesquinho;
baldio;
até
Dentre
elas, pode-se
destacar o
grupo de
palavras
que se iniciam
por AL,
que é o
artigo da
língua
árabe:
alface;
alfarrábio;
alfinete;
albarda;
alicerce;
almofada;
alfaiate;
almocreve;
almoxarife;
alfândega;
aldeia
Quais
são as
diferenças
então
entre o
Português e o
Latim?
Listemos
algumas
características
que explicam a
passagem do
Latim à
Língua Portuguesa:
a)
Queda do
acento de
quantidade
Encerra-se
a
distinção
entre
sílabas longas e
breves. As
vogais longas conservaram
sua
identidade: ā, ē, ī, ō, ū
em
Português se tornaram a, ê, i, ô, u, de tonicidade fechada, a
que se pode
somar a
vogal ă
breve
em
par
com
sua
longa. A
contraposição das
vogais
breves ĕ e ŏ
frente as respectivas longas foi marcada
pelo
acento
aberto do
Português.
Entretanto, as
vogais
breves ĭ e ŭ somaram-se às
vogais fechadas ê e ô do
Português. Desse
modo: a (ā, ă) , é (ĕ) , ê (ē, ĭ) , i (ī) , ó (ŏ) ,
ô (ō, ŭ) , u (ū).
b)
Queda das 5
declinações do
Latim
O
Latim possuía
um
sistema de
declinações
que agrupava as
palavras de
acordo
com
suas
terminações. Desse
modo, as
palavras da
primeira
declinação
como femina, -ae, comportava
grande
número de
palavras de
gênero
feminino.
Já a
segunda
declinação continha muitas
palavras de
gênero
masculino,
como é o
caso de uir, -i.
Assim
como
a
primeira
declinação
apresentava
desinência
“-ae” e a
segunda,
desinência
“-i”, a
terceira
declinação
era
marcada
pela
desinência
“-is”,
como
dolor, -is,
enquanto
a
quarta
conjugação
possuía
terminação
“-us”, a
exemplo
de spiritus, -us.
Finalmente,
existia
ainda
uma
quinta
declinação
de poucas
palavras,
como
dies, -ei.
Com as transformações históricas
em
direção ao
Português, as
declinações foram extintas dando
lugar à
noção de
gênero. Desse
modo, a
primeira e a
quinta
declinações se alinharam
por serem constituídas
quase
totalmente de
gênero
feminino,
em
confronto
com a
segunda e a
quarta
declinações, predominantemente do
gênero
masculino. A
terceira
declinação,
por
abrigar os
gêneros
masculino,
feminino e
neutro
sem
predominância de
nenhum deles, foi distribuída
ora no
grupo das
palavras de
gênero
feminino,
ora nas de
gênero
masculino. O
gênero
neutro caiu,
quase
sempre
em
favor do
masculino.
O
mais
importante é
entender
que nesse
processo a
organização
em
declinações foi recusada
em
favor da
organização
pela
distinção dos
gêneros
masculino e
feminino.
c)
Extinção dos
casos de
marcação
sintática
(nominativo,
acusativo,
ablativo,
dativo, etc.)
A
utilização dos
casos na
distinção das
funções sintáticas se reduziu ao
caso
mais
genérico e
habitual,
ou seja, de
uso
mais
corrente. Na Ibéria, a
preferência se deu
pelo
caso
acusativo,
desde
que se entenda a
apócope da
terminação “m”
característica.
Outra
forma de
compreender o
fenômeno da
extinção dos
casos é
perceber a
fusão
entre o
nominativo e
um
segundo
caso, formado a
partir da
fusão
entre
acusativo e
ablativo.
Exemplo: (erectus, nom. >
erecto, abl. >
ereto, port.); (vita, nom > vitas,
ac. >
vidas, port.).
São
extintos,
assim, os
morfemas de
marcação
sintática.
d) A
dissolução do
gênero
neutro
em
masculino
ou
feminino
Das
palavras de
gênero
neutro,
em
geral, foram incorporadas ao
gênero
masculino as
que eram usadas
freqüentemente no
singular,
como no
caso de (templum,
neutro >
templo, masc.); (patrimonium >
patrimônio).
Já as
habitualmente
empregadas no
plural foram somadas ao
gênero
feminino,
como é o
caso de (olivum >
oliva); (diarium >
diária).
Quanto
aos
gêneros,
portanto,
a
Língua
Portuguesa opera sistematicamente,
salvo
raras
exceções
(ex.
lápis,
simples)
,
com
uma
forma
única
para
o
singular
(masculino
ou
feminino)
contraposta à
outra
forma
para
o
plural,
além
de algumas
flexões
pela
desinência
“-a”.
d) Redução das 4
conjugações
verbais do
Latim
a
partir da
convergência
entre 2ª e 3ª
No
Latim,
havia
quatro
conjugações.
Porém,
a 2ª e a 3ª
não
conseguiram
permanecer
diferenciadas,
pois
a tonicidade
entre
longo
e
breve
era
a
única
distinção
(debēre, 2ª ≠ vendĕre, 3ª).
Com
a
fusão,
fixaram-se
três
conjugações:
(amāre >
amar);
(debēre/vendĕre) > (dever/vender);
(punīre >
punir).
e) Alteração dos
quadros modo-temporais dos
verbos
São
tempos
que
permaneceram do
Latim
clássico
ao
Português:
·
presente e
imperfeito do
indicativo: (amo >
amo); (debeo > devo); (vendo > vendo); (punio >
puno).
·
pretérito
perfeito do
indicativo: (amavi > amai > amei); (debui > debei >
devi); (vendedi > vendei > vendi); (punivi >
punii > puni).
·
pretérito mais-que-perfeito: (amavĕram > amaram >
amara).
·
presente do
subjuntivo: (amem > ame); (debeam > devam >
deva)
·
imperativo
presente: (ama >
ama); (debe > deve); (venda
> vende); (puni > pune)
São
tempos substituídos
por
nova
construção perifrástica:
·
futuro
imperfeito (amabo, debebo, vendam, puniam) foi
substituído
por uma
perífrase de
infinitivo + habere no
presente (amare habeo) , (debere habeo) , (vendere habeo) ,
(punire habeo).
Através de
elisões (metaplasmo
por
queda) , a
perífrase transformou-se no
futuro do
presente (amarei, deverei, venderei, punirei).
·
futuro
perfeito (perfectum) foi substituído
por uma
perífrase de
infinitivo + habere no
imperfeito do
indicativo,
que expressava o
futuro do
pretérito: (amāre habēbam > amaria).
São
tempos
que se fundiram
com
outro
semelhante:
·
imperfeito do
subjuntivo caiu
em
favor do mais-que-perfeito do
subjuntivo (no
Português, o “imperfeito do
subjuntivo” derivou do mais-que-perfeito do
subjuntivo).
·
futuro
perfeito do
indicativo confundiu-se
com o
perfeito do
subjuntivo, resultando no
futuro do
subjuntivo: (amavĕro > amaro >
amar); (debuĕro > debero >
dever); (vendidĕro > vendero >
vender); (punivĕro > puniro >
punir)
·
particípio
presente tornou-se
adjetivo (amantis >
amante)
enquanto o
gerúndio o substituiu: amando
·
imperfeito do
subjuntivo foi substituído
pelo mais-que-perfeito do
subjuntivo, dando
origem ao
imperfeito do
subjuntivo e ao
infinitivo flexionado simultaneamente.
São
tempos
que caíram:
·
infinitivo
perfeito (perfectum)
·
imperativo
futuro (infectum)
·
particípio do
futuro
ativo (algumas
formas permaneceram,
mas
em
caráter
nominal: “nascedouro”, “vindouro”,
“bebedouro”).
·
gerundivo (algumas
formas permaneceram,
mas
em
caráter
nominal:
merenda,
oferenda, graduando)
·
supino
A
voz
passiva
sintética possuía
formas
verbais próprias terminadas
em “-r”:
amor, amabar, amabor (presente,
imperfeito e
futuro do
indicativo); amer, amarer (presente
e
imperfeito do
subjuntivo). No
imperativo (amare, amamini) , no
infinitivo (amari) , no
gerúndio (amandus, -a, -um) e no
particípio
passado (amatus, -a, -um) , as
formas
não se restringem à
terminação
em “-r”. Todas estas
formas caíram
em desuso —
exceto o
particípio
passado (amatus >
amado) — e foram substituídas
por
perífrases (amor >
amatus sum); (amabar > amatus eram); (amabor > amatus ero); (amer > amatus
sim); (amatus essem > amarer).
Mais
tarde, ocorreram algumas modificações (amatus sum >
amatus fui); (amatus eram > amatus fueram).
f) Palatalização dos
encontros
consonantais “pl”, “cl”, “fl”
para “ch” [š]
Exemplos: (pluva >
chuva); (clave >
chave); (flamma >
chama).
Palavras
mais eruditas cambiaram
para “pr”, “cr”, “fr”: (placere >
prazer) , (clavu >
cravo) , flaccu >
fraco); ao
que se
soma “bl”
para “br”: (blandu >
brando)
g)
Síncopes intervocálicas
L
Exemplos: (salire >
sair); (dolore > door >
dor); (voluntade > vountade >
vontade)
N
Exemplos: (manu >
mão); (luna >
lũa); (lana > lãa >
lã); (bonu > bõo)
h) Dêiticos
Do
quadro de
pronomes
que
já vigorava no
Galego-português, deve-se
ressaltar a
oposição
entre
adjetivo (este/aqueste,
esse/aquel) e
advérbio (aqui/ali,
acá/alá, acó, aló).
Somente as
formas “aqueste” e acó” caíram
em desuso
completamente,
enquanto “aló”
ainda sobrevive
como
saudação
ou chamamento.
i)
Artigo
O
artigo da
Língua Portuguesa é uma
evolução do
pronome
demonstrativo “ille”,
que,
após
aférese, sofreu alteração
fonética de “le” (conservado no
Francês)
para “lo” (conservado no
Castelhano ao
lado de “el”).
Por
último, a
partícula
ainda perdeu a
consoante
líquida, logrando a
forma
atual “o”.
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Na
Internet
http://acd.ufrj.br/~pead/tema05/por-tm05.html
http://www.unicamp.br/iel/alunos/publicacoes/textos/p000001.htm
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