Four-letter or more words da tieta saxonica
a tradução da intimidade dialógica

Adilson da Silva Correia (UNEB)

 

Mais uma vez, estamos diante de uma atividade nada fácil, encontrarmos palavras para expressar o que sentimos sobre esta senhora, chamada tradução. Lembremo-nos de trabalhos publicados em que adotamos o conceito, trazido por Arrojo (1992), de Paulo Rónai, de humanizar este ato humano, por isso a denominação de senhora que está sempre na boca, nas linhas de muitas teorias, transportada dos conceitos de Campos (1987).

Não pretendemos, nestas breves linhas, pois não é uma atividade simples atrevermo-nos a comentar sobre tradução, deter-nos na corrente dos que determinam a literalidade dela, no sentido de aprisionamento dos conceitos, pois até mesmo o ser literal tomou rumos da polissemia, quando a palavra se encontra no contato das culturas, como nos mostra eloqüentemente S. Possenti (2002: 232) na seguinte afirmação:

Se houver universais semânticos, certamente, são em número diminuto e não transferem suas propriedades aos inúmeros outros sentidos (nem inatos nem universais) que existem nas línguas.

Diante deste posicionamento teórico, eis que aparece um outro complicador que é exatamente pensar a linguagem que essa senhora utiliza para expressar a linguagem, e pior ainda, encontrar a linguagem certa para expressar o ato desta senhora. Estamos diante de um problema de natureza filosófica e paradoxal, pois iremos reutilizar a língua da obra de partida para falarmos da língua de chegada, buscando explicar o ato tradutório.

Essa condição se intensifica, quando buscamos as questões de interpretação do que deve significar ou não, e é nesta base que se encontram todas as divergências a respeito do que é traduzir. Quando o etnocentrismo e o preconceito se apresentam, ficamos presos ao literal monossêmico, pois os medos de avançar e os entraves políticos conduzem a vontade da tradução. Ao perder essa característica, passa a ser ato criador e transformador.

Toda essa trama teórica é pertinente por se tratar da tradução de Tieta do Agreste, de Jorge Amado, um local onde a linguagem íntima das pessoas é mostrada sem a censura militar de 1977, data da publicação brasileira.

O comportamento da tradução em relação à obra amadiana foi estudado por Pedreira (2001) que não somente revelou a domesticação de Gabriela cravo e canela (Gabriela clove and cinnamon), na tradução inglesa de James Taylor e William Grossman, mas também demonstrou a planificação da linguagem, a qual afirmou ser uma tentativa de suavizar para o leitor lowbrow o que de melhor a obra amadiana traz, a irreverência no trato lingüístico.

Depois, Correia (2002 e 2003) internaliza a planificação e conduz os estudos para o que chama de padronização da linguagem amadiana: o falar popular se torna o falar culto através das normas do inglês.

A nossa conduta, neste trabalho, não é de esperar que a postura dos tradutores de Gabriela cravo e canela (1962) seja adotada pela tradutora de Tieta do Agreste, Bárbara Shelby Merello, em 1979, data da publicação em língua inglesa, até porque entendemos que os momentos são bastante diferentes. Gabriela se encontra na organização do Movimento de liberação e do não-conformismo dos anos 60, enquanto Tieta já se posiciona nos alcances obtidos desse Movimento já dominado da década de 70.

Seguiremos, como objeto de análise, o fio condutor, onde o martelo dos críticos bate mais forte, a linguagem obscena da obra, pois é aqui que acreditamos que o povo se torna vivo.

Depois, a tradução de Tieta do Agreste apresenta um diferencial em relação à Gabriela cravo e canela, pela intensificação do uso de palavras e expressões obscenas, marcas maiores da obra. Alguns falares representam comportamento lingüístico característico da região nordeste, sinalizando a realização de uma minuciosa pesquisa dos vulgarismos regionais, por parte da tradutora, a exemplo de estrovenga, quando Amado se refere ao órgão sexual masculino e xibiu, referente à vulva.

Não obstante esses detalhes, o contexto da época não era muito propício ao emprego de vulgarismos nas publicações. As tendências eram de contenção dos termos obscenos. No Brasil, a obra foi publicada durante o período militar, sob uma marca de silenciamento já mais que desgastada.

Em dicionário de termos ingleses vulgares que por muito tempo sofreu o veto de publicação da censura, Gomes (1990) comenta que o periódico bimensal Reading Today, fevereiro/marco de 1989, publica a lista dos livros proibidos nos Estados Unidos, por conta dos vulgarismos e acrescenta, na nota de apresentação, como se vê, a censura não oficial esta viva e passa bem.

Esta citação de Gomes nos sugere que a Tieta americana deve ter sido censurada, ainda mais por se tratar de uma tradução de um país do Cone Sul. No entanto, se o foi, não se rendeu aos mandos dos purismos da época, já sacudidos pelo movimento da contracultura da década de 60. Todavia, em contrapartida ao citado periódico, no Brasil, a editora Record publica, em 1988, o Dicionário do Palavrão e Termos Afins, de Mario Souto Maior, prefaciado por Gilberto Freyre, com notas de consideração de Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado.

Na verdade, ao tomar o uso do vulgarismo, a tradução manteve a linguagem viva do povo, considerou-a uma parte da língua usada no cotidiano como marca expressiva tanto dos marginalizados e marginais, quanto das pessoas comuns, nas rodas das conversas, como trazem os textos amadianos. Assim, é a forma com que as prostitutas, os loucos, os bêbados, as pessoas da família em reunião, as fofoqueiras ou intrigueiras e os homens reunidos à mesa de um bar utilizam para se comunicar e dar risadas, e como informa Souto Maior (1992: 13), o mundo inteiro diz palavrão: homens, mulheres, velhos, moços, crianças, ricos, pobres, em russo, em chinês, em croata, em todos os idiomas, e acrescentamos, é também a forma com que muitas passagens cômicas são construídas na intenção do riso, exemplos esses que servem a título de ilustração sobre o paradoxo da censura mundial.

Ao mesmo tempo em que compõe a língua viva, o vulgarismo é comprometedor em ambientes distantes da intimidade, nos espaços formais e para os falsos moralistas motivo de rubores, e é considerado, na literatura jurídica, uma contravenção social e, na literatura lingüística, enquadrado como tabu lingüístico.

A tradução, ao optar pelo uso do obsceno, quebrou essa atmosfera proibitiva e manteve a tradição das obras de Jorge Amado por ser considerado o escritor que mais usa o palavrão em sua vasta obra literária, na qualidade de um dos mais lidos escritores brasileiros,... (SOUTO MAIOR, 1992: 15).

Por outro lado, Correia (2003), aplicando os conceitos de Mayer, inclui a tradução em três categorias: como ato transformador, mantenedor e revolucionário. Como transformadora, a tradução possibilita a entrada de novas formas, de novos conceitos nos modelos estabelecidos, criando uma tensão que provoca a mudança.

Enquanto ato mantenedor, ela inclui as idéias rígidas do estabelecido e não intenciona mudanças nos modelos. No entanto, do lado oposto a esse, encontramos a natureza revolucionaria da tradução, inserindo-se no contexto dos movimentos revolucionários, trazendo as idéias de transformações radicais nas linhas interpretativas.

A tradução de Tieta encontra-se na interseção de duas categorias: a mantenedora e a transformadora. Consideramos mantenedora pelo fato de trazer as marcas da obra amadiana original, como os vulgarismos. Por outro lado, se os trouxe o fez na confiança de criar um espaço na literatura traduzida dos falares populares do cotidiano. Não podemos inclui-la na categoria de revolucionária, pelo fato de já se posicionar em momento em que a liberação sexual da Contracultura já havia instaurado uma certa abertura.

 

Principais four-letter words or more de Tieta

Palavras que denotam as partes íntimas da mulher

1- Xibiu, perequita, partes, no sentido de vulva, traduzidos por:

1.a- cunt

Embolsa o cheque, escorna no uísque, baba congotes e xibius, manera o jornal e ao mesmo tempo proclama- baixinho – os princípios, radicalissimo. Um porreta. (AMADO, 2001: 4)

He pockets the check, guzzles the whisky, drools over tits and cunts and pulls his newspaper into line all the while proclaiming- in a low voice - his radical principles. Pretty Smart. (AMADO, 2003: 4)

1.b- honeypot

– Se ela está dando, dá o que é dela e eu nunca soube que se deitasse com homem por dinheiro,é o corpo que pede. Que pede a ela e a todas, não e mesmo, Roberta? As outras não dão, trancam com sete chaves mas só a caixa da periquita. O resto não faz mal, não é isso, Gesilda? Do sovaco ao fiofó, tudo vasculhado. (AMADO, 2001: 36)

-Whatever she’s giving away, it’s hers to give, and I never knew of her sleeping with a man for money. Her natural cravings won’t let her be. That’s the way it is with her and plenty of others, ain’t it, Roberta? The difference is the others won’t give it away, they keep that honeypot shut up tight ‘cause the rest don’t matter, does it, Gesilda? The boys can paw over all the rest, from neck to fanny, as long as they can’t get into that honeypot. (AMADO, 2003: 43)

1.c- private parts

Beleza de coroinha! – murmura Cinira, gulosa, a beira do barricão, uma coceira nas partes. (AMADO, 2001: 61)

“What a handsome altarboy,”murmured lustful Cinira, on there verge of irrevocable spinsterhood feeling a shameful itching in her private parts. (AMADO, 2003: 74)

 

2- Bunda também rabo e fiofó, no sentido de nádegas, traduzidos por:

a- cheeks

Bom-dia patroa – Sabino brechou rápido do decote no alto as ancas embaixo, salve salve quem inventou esses vestidos justos, colados ao corpo, marcando até as pregas da bunda, nada mais jeitosa. (AMADO, 2001: 22)

“Good morning, ma’am”. Sabino took quick inventory from cleavage to hips; hurray; hurray for whoever invented those tight slinky dresses that show everything a woman’s got, even the crease between her cheeks; now that’s what I call high style. (AMADO, 2003: 27)

b - backside

Nas páginas coloridas das revistas Ascânio admirou minissaias bem mais ousadas, a de Leonora até que lhe encobre a bunda se ela se mantém em prumo. (AMADO, 2001: 118)

Ascânio had seen and admired much more daring miniskirts in the illustrated magazines; Leonora’s actually covered her backside as long as she stood up perfectly straight. (AMADO, 2003: 140)

c- ass

–Primeiro permita, meu doutor, que eu lhe informe ser um dos fregueses prediletos das meninas da casa de Zuleika e da própria patroa, boa de rabo. (AMADO, 2001: 113)

“First off, Doc, let me set you right on one point. I’m a steady customer of that house and, I might add, a favorite with Zuleika’s girls and the madam, who’s got a mighty sweet ass herself. (AMADO, 2003: 133)

d- fanny

– Se ela está dando, dá o que é dela e eu nunca soube que se deitasse com homem por dinheiro,é o corpo que pede. Que pede a ela e a todas, não é mesmo, Roberta? As outras não dão, trancam com sete chaves mas só a caixa da periquita. O resto não faz mal, não é isso, Gesilda? Do sovaco ao fiofó, tudo vasculhado. (AMADO, 2001: 36)

– Whatever she’s giving away, it’s hers to give, and I never knew of her sleeping with a man for money. Her natural cravings won’t let her be. That’s the way it is with her and plenty of others, ain’t it, Roberta? The difference is the others won’t give it away, they keep that honeypot shut up tight ‘cause the rest don’t matter, does it, Gesilda? The boys can paw over all the rest, from neck to fanny, as long as they can’t get into that honeypot. (AMADO, 2003: 43)

3- Furada, no sentido de ter perdido a virgindade, traduzida por hole in her.

Paulista sem preconceito casou com moça furada. (AMADO, 2001)

Those Paulistas don’t give a damn, they’ve just as soon marry a girl with a hole in her as not. (AMADO, 2003: 73)

 

Palavras
que denotam as partes íntimas do homem

Estrovenga também instrumento traduzidos por:

1.a- prick

As histórias de Osnar, entre as quais o notável caso da polaca, são de morrer de rir, em geral tem a ver com o descalibrado tamanho de seus órgãos sexuais. Estrovenga de jumento, afirma Astério, distanciando as mãos para indicar a medida espantosa: daqui para maior. (AMADO, 2001: 13)

Osnar’s stories, including the remarkable affair of the Polish prostitute, always made his hearers split their sides, they usually had to do with the remarkable size of his own penis. “ He has a stallion’s prick”, Astério declared, separating his hands to show its amazing size: “this big or bigger. (AMADO, 2003: 16)

2.1.b- tool

Anjo decaído, o sobrinho propõe massagear-lhe o cangote com o magno instrumento. (AMADO, 2001: 142)

The nephew, now a fallen Angel, proposed to massage her back with his magnificent tool. (AMADO, 2003: 168)

 

Levantar o pau, no sentido de ereção, traduzida por to get it up.

Admirador do seu intelecto, Osnar despreza-lhe o físico, essa não me levanta o pau. (AMADO, 2001: 32)

Osnar admired her intelligence but not her looks. “I can’t get it up for that one”, he was heard to remark. (AMADO, 2003: 39)

 

Palavras que denotam relação sexual

1- “Dar” traduzida por:

a) to play around/with.

Cuidado com os chifres, Chico Sobrinho, estão crescendo demais. Tua mulher, Ritinha, vive dando na beira do rio... Não vou dizer a quem, não sou dedo-duro. (AMADO, 2001: 33)

Better take a look at your horns, Chico Junior, they’re getting mighty long. The woman of yours, Ritinha, spends more time playing around on the riverbank than she spends at home... I won’t say who she’s playing with; I ain’t the kind to rat on my neighbors. (AMADO, 2003: 40).

b) to give/ away

Moca, aquela sujeitinha? Rapariga é o que ela é...para deus e o mundo. (AMADO, 2001: 36)

Little gal, you call her? She’s a little tramp, that’s what she is. Gives away free samples to everybody and his brothers. (AMADO, 2003: 43)

-Se ela está dando, dá o que e dela e eu nunca soube que se deitasse com homem por dinheiro,é o corpo que pede. Que pede a ela e a todas, não é mesmo, Roberta? As outras não dão, trancam com sete chaves mas só a caixa da periquita. O resto não faz mal, não é isso, Gesilda? Do sovaco ao fiofó, tudo vasculhado. (AMADO, 2001: 36)

-Whatever she’s giving away, it’s hers to give, and I never knew of her sleeping with a man for money. Her natural cravings won’t let her be. That’s the way it is with her and plenty of others, ain’t it, Roberta? The difference is the others won’t give it away, they keep that honeypot shut up tight ‘cause the rest don’t matter, does it, Gesilda? The boys can paw over all the rest, from neck to fanny, as long as they can’t get into that honeypot. (AMADO, 2003: 43)

c) to get into, no sentido de meter

-Se ela está dando, dá o que é dela e eu nunca soube que se deitasse com homem por dinheiro,é o corpo que pede. Que pede a ela e a todas, não é mesmo, Roberta? As outras não dão, trancam com sete chaves mas só a caixa da periquita. O resto não faz mal, não é isso, Gesilda? Do sovaco ao fiofó, tudo vasculhado. (AMADO, 2001: 36)

Whatever she’s giving away, it’s hers to give, and I never knew of her sleeping with a man for money. Her natural cravings won’t let her be. That’s the way it is with her and plenty of others, ain’t it, Roberta? The difference is the others won’t give it away, they keep that honeypot shut up tight ‘cause the rest don’t matter, does it, Gesilda? The boys can paw over all the rest, from neck to fanny, as long as they can’t get into that honeypot. (AMADO, 2003: 43)[1].

2- “Acender o pito” e “pito aceso”, no sentido de estar excitado sexualmente, traduzidos por:

a- be raring to go

Um frangote, não chegou ao ponto exato. Se fosse mulher, estaria de pito aceso, homem tarda mais, sobretudo se lhe enfiam uma batina, capam-lhe os bagos com o temor de Deus, ameaçam-no com as chamas do inferno. (AMADO, 2001: 111)

The young rooster wasn’t ripe yet. A girl that age would be raring to go, but it takes longer for a man, especially if you stuff him into cassock and castrate him with the fear of God and the flames of Hell as a threat. (AMADO, 2003: 131)

b- turn on

Dona Edna mede o garoto, ainda não lhe acende o pito. (AMADO, 2001: 134)

Dona Edna appraised the boy. No, he was a little too young to turn her on. (AMADO, 2003: 159)

3- “Chuparino”, no sentido do homem que tem sexo oral com uma mulher, traduzido por cunt-sucker.

-De suas visitas profissionais a pensão de Zuleika, meu doutor, ouvi falar, Silvia Sabia me contou em segredo que chuparino igual a vosmicê não há por essas bandas. Meus sinceros parabéns! (AMADO, 2001: 113)

I’ve heard about your professional calls at Zuleika’s, Doc, Silvia Sabiá told me in strictest confidence that there ain’t a cunt-sucker for miles around that can hold a candle to you. My sincere congratulations. (AMADO, 2003: 134)

 

Palavras que denotam
a condição do homem traído

Chifres traduzido por horns.

Cuidado com os chifres, Chico Sobrinho, estão crescendo demais. Tua mulher, Ritinha, vive dando na beira do rio... Não vou dizer a quem, não sou dedo-duro. (AMADO, 2001: 33)

Better take a look at your horns, Chico Junior, they’re getting mighty long. The woman of yours, Ritinha, spends more time playing around on the riverbank than she spends at home... I won’t say who she’s playing with; I ain’t the kind to rat on my neighbors. (AMADO, 2003: 40).

 

Palavras que denotam meretriz

1- “Rapariga” traduzida por:

1.a- tramp

Moca, aquela sujeitinha? Rapariga é o que ela é... dá para deus e o mundo. (AMADO, 2001: 36)

Little gal, you call her? She’s a little tramp, that’s what she is. Gives away free samples to everybody and his brothers. (AMADO, 2003: 43)

1.b- whore

Não vi ele nunca mais, em troca fiz a vida no interior, vida de rapariga, em Jequié, em Milagres, em Feira, por aí a fora. (AMADO, 2001: 107)

I never saw hide nor hair of him again, but I went from one whorehouse to another all through the interior, back in Jequié, in Milagres, in Feira de Sant’Ana, all over. I tell you, the life of a whore on the backwoods is one of hell of a school of hard knocks. (AMADO, 2003: 127)

2- “Polaca”[2] traduzida por Polish prostitute.

As histórias de Osnar, entre as quais o notável caso da polaca, são de morrer de rir, em geral tem a ver com o descalibrado tamanho de seus órgãos sexuais. Estrovenga de jumento, afirma Astério, distanciando as mãos para indicar a medida espantosa: daqui para maior. (AMADO, 2001: 13)

Osnar’s stories, including the remarkable affair of the Polish prostitute, always made his hearers split their sides, they usually had to do with the remarkable size of his own penis. “ He has a stallion’s prick”, Astério declared, separating his hands to show its amazing size: “this big or bigger. (AMADO, 2003: 16)

3- “Quenga de baixa extração” traduzida por low-class hooker.

Altas horas, quando voltavam da beira do rio, Osnar acompanhado de uma quenga de baixa extração, encontram-se com o doutor Caio Vilasboas, um catão, vindo de atender a velha dona Raimunda, asmática incurável. (AMADO, 2001: 112)

Coming back from the riverbank toward dawn, Osnar with a low-class hooker in tow, they met up with the austere Dr. Caio Vilasboas returning from the bedside of old Dona Raimunda, an incurable asthmatic. (AMADO, 2003: 133)

4- “Rameira” traduzida por harlot.

O –Arreda! Sai da minha frente, volta para as profundas do inferno, mulher imunda, pecadora, rameira. (AMADO, 2001: 120)

“Away with you! Out of my sight! Back to the lowest depths of Hell, unclean woman, sinner, harlot” (AMADO, 2003: 159)


 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após as considerações teóricas e analisadas as passagens, podemos lançar mão de algumas afirmações a respeito da tradução dos vulgarismos da Tieta amadiana:

a-       a tradução manteve o vulgarismo, o que indica uma preocupação em criar uma atmosfera de falares próximos do povo, ao invés de preferir a padronização das falas pela ocultação do obsceno;

b-       em algumas partes do texto, o vulgarismo foi intensificado, o que indica o fortalecimento da fala popular, garantindo o uso expressivo vivo do obsceno, mesmo que no texto original o recurso não apareça;

c-       alguns recursos semânticos foram utilizados para se criar uma atmosfera obscena e a repetição se inclui neste espaço.

 

Referências bibliográficas

AMADO, Jorge. Tieta do Agreste pastora de cabras ou a volta da filha pródiga, melodramático folhetim em cinco sensacionais episódios e comovente epílogo: emoção e suspense! 26ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

AMADO, Jorge. The goat girl, or the return of the prodigal daughter, a melodramatic serial novel in five sensational episodes, with touching epilogue: thrills and suspense! Translated by Barbara Shelby Merello. Wisconsins: The University of Wisconsin Press, 2003.

ARROJO, Rosemary. Tradução. In: JOBIM, José Luis (org.). Palavras da crítica. Rio de Janeiro: Imago, 1992.

ARROJO, Rosemary. Oficina de tradução: a teoria na prática. São Paulo: Ática, 1986: 411-442.

CORREIA, Adilson da Silva. Gabriela na malha da tradução domesticadora dos anos 60. In: CONGRESSO NACIONAL DE DE LINGÜÍSTICA E FILOLOGIA, 7, 2003, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos. Rio de Janeiro: CIFEFIL, 2003. Disponível em www.filologia.org.br/vicnlf/anais/caderno03-03.html. Acesso em 1 de julho 2003.

COSTA, Luiz Angélico. Limites da traduzibilidade. Salvador: EDUFBA, 1996.

CAMPOS, Geir. Como Fazer tradução. Rio de Janeiro: Vozes, 1987.

GARCIA, Afrânio da Silva. Processos metonímicos no calão. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2001.

GOMES, Luiz Lugani. Inglês Proibido: dicionário do sexual vulgar. São Paulo: Thomson Pioneira, 1990.

GUERIOS, Rosário Farani Mansur. Tabus lingüísticos. 2ª ed. São Paulo: Nacional e EDUFPA, 1979.

SOUTO MAIOR, Mario. Dicionário da palavrão e termos afins. 6ª ed. Rio de Janeiro, 1992.

STANLEY, Coben e RATNER, Norman. O desenvolvimento da cultura norte-americana. Tradução de Elcio Gomes e Neide Loureiro Pinto. Rio de Janeiro: Anima Produções Artísticas e Culturais, 1985.


 


 


[1] Nesta passagem, a tradução intensifica o uso do vulgarismo pela sucessiva repetição do termo honeypot, enquanto que o texto original sumariza com a expressão “tudo vasculhado”.

[2] Segundo Souto Maior (1992), depois da I Grande Guerra Mundial, a população jovem masculina da Europa foi bastante dizimada, restando as mulheres, crianças e velhos muito empobrecidos. As mocas, dentre elas as polonesas (polacas), economizaram a fim de se mudarem para o Novo Mundo, principalmente, para a cidade de Recife, em busca de nova vida, mas encontraram como forma de sobrevivência a prostituição. Historicamente, foi assim que o termo polaca, que designa prostituta, passa a compor o vulgarismo do Português do Brasil, o qual e retomado historicamente pela tradução através do adjetivo Polish acompanhado pelo substantivo prostitute.

 

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