Do desejo e do sonho
representações do 25 de Abril
na
Literatura Portuguesa

André Luiz Alves Caldas Amóra (PUC-Rio)

 

Há quinhentos anos que mudei a cara do mundo para conhecida e amável e fui votado assim a uma vocação prematura e amarga. (Maria Velho da Costa, Cravo)

 

Um dos temas mais explorados na produção literária portuguesa contemporânea refere-se à Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal em abril de 1974. Escritores como José Saramago, José Cardoso Pires, Maria Velho da Costa, entre outros, expressaram literariamente a situação vivida na época ditatorial e a “libertação” de Portugal do regime salazarista.

Nosso estudo pretende delinear o pensamento desse sonho e desejo portugueses, refletindo sobre a questão do discurso literário em uma sociedade marcada pela opressão exercida pelas forças da extrema direita portuguesa. Buscaremos também a observação das metáforas utilizadas pelos escritores, em sua produção literária, retratando, assim, a representação do antes e do depois do 25 de abril na literatura portuguesa.

Partindo da epígrafe acima, pensar Portugal no século XX não é apenas situá-lo historicamente, mas refletir sobre a condição de um país atado a suas antigas conquistas e glórias. O sonho expansionista e o caráter colonizador do Império lusitano, cantados por Camões em sua epopéia, encontram-se à mercê de uma melancolia devastadora, que se perdura no “peito ilustreportuguês. Após o início da República, em 1910, Portugal enfrenta diversas crises sociopolíticas, chegando, então, ao Estado Novo – apoiado por grande parte da população. O saudosismo, que perdurava há séculos, desde o desaparecimento de D. Sebastião, aterrava a nação numa espera constante de um grande líder, que poderia edificar o tão sublimado Quinto Império. Surge, então, Salazar que, em 1928, entra no governo, como Ministro das Finanças. Em 1933 é instituído um regime que se arrastaria por longas e pesadas décadas e que tinha como principal arma a ideologia do nacionalismo. O Estado salazarista impunha um sistema totalitário, exaltando a Pátria, a Família e Deus, criando

uma imagem idealizada para si mesmo, a de uma pátria feliz e estável, apesar do seu isolamento no contexto europeu de guerra e guerra fria, que o lemaorgulhosamente sós” do regime salazarista expressa bem. (PEREIRA, 2001: 204)

Portugal, em tempos de regime ditatorial, encontra-se como uma caravela ancorada no mais distante oceano, da prostração. Seu comandante exercendo um regime fascista e impondo diferentes tipos de violência à nação, como a tortura e a censura, insere o país em uma onda de pessimismo. O retrocesso português faz o país distanciar-se de seus vizinhos europeus: a questão da cidadania é altamente prejudicada, pois, além da difícil situação socioeconômica, ocorre também um forte atraso no que diz respeito à educação que, segundo Vilaverde Cabral, até hoje se reflete na sociedade portuguesa:

(...) além dos fatores sócio-econômicos habituais, o atraso do processo de escolarização, que afectou maciçamente todas as gerações nascidas antes do 25 de Abril e as mulheres em especial, tem ainda hoje um peso muito considerável na explicação da baixa propensão da população portuguesa para assumir e exercer os seus direitos de cidadania. (CABRAL, 2001: 18)

Sabemos que a Educação pode “transformar”, ao munir o cidadão de poderes e de consciência, entretanto, o salazarismo utilizava-se da Educação para manter os seus valores como dominantes.

As sucessivas crises de governo, a II Guerra Mundial, golpes de estado e a guerra colonial em África, desestabilizavam, aos poucos, o regime e, com a morte de seu líder, abrem-se caminhos para a Revolução de 25 de abril.

Porém, antes mesmo dos Cravos, os escritores portugueses posicionavam-se como opositores ao regime, assumindo uma postura de um intelectual sartriano, engajado social e politicamente, de esquerda. José Cardoso Pires, um dos expoentes da literatura contemporânea portuguesa, reflete acerca do papel do escritor:

Não participar, pois, do debate activo do seu país corresponde a uma alienação do exercício do escritor e a um empobrecimento desse mesmo país. É uma demissão imposta ao homem, uma irresponsabilização que se lhe determina pela não-existência de um diálogo público. É, ao fim e ao cabo, uma fractura que se abre num continente de irmãos. (PIRES, 1977:28)

Em 1968, Cardoso Pires publica O Delfim, uma narrativa que apresenta profundas inovações romanescas, uma espécie de romance policial em que não se chega a desvendar o crime. Baseado em uma estrutura circular, o romance apresenta como metáfora de Portugal um lugarejo – a Gafeira –, que tem como proprietário absoluto o Infante Palma Bravorepresentação do regime de Salazar, ou seja, de um poder totalitário. E, através de uma desgraça transformadora, a Gafeira, antes dominada por um poder absoluto, é socializada.

A lagartixa, utilizada por Cardoso Pires com o objetivo de metaforizar o tempo português, marca de maneira exemplar a transição da inércia para a atividade. Em sua primeira aparição, surge ainda imóvel, sinal de um tempo em suspenso:

Espalmada na inscrição imperial, havia uma lagartixa. Parda, imóvel, parecia um estilhaço de pedra sobre outra pedra maior e mais antiga, mas, como todas as lagartixas, um estilhaço sensível e vivaz debaixo daquele sono aparente. Pensei: o tempo, o nosso tempo amesquinhado. (Ibidem, p. 37)

Significativamente, após a socialização da Lagoa, a lagartixa aparece desperta, simbolizando um tempo que segue o seu curso:

Em todo o caso, este ano vai haver menos caçadores nas margens porque o tempo (a lagartixa, disse-se) despertou, deu um salto. Noventa e oito espingardas da Gafeira vão este ano enfeitar a lagoa em plena liberdade. (Ibidem, p. 176)

Se O Delfim tematiza, entre outras coisas, o tempo português, a crítica ao regime ditatorial também pode ser vista em Dinossauro Excelentíssimo, de 1972. Apresentando uma narrativa fabular, podemos ver o ditador português alegorizado pela figura do Dinossauro – simbolizando o atraso, a prostração do Reino do Mexilhão.

O mexilhão surge como uma metáfora de um povo que sofre as conseqüências de uma força ditatorial – o mar que bate na rocha:

Criatura (porque o é), criatura à margem, mirrada, coisa pequena; bicho que se alimenta de água e sal, do sumo da pedra, ou de milagres, quem sabe – o mexilhão, oh vida, tem a ciência certa dos anónimos: pensa e não fala, vai por si. Se virou costas à terra foi por culpa dos dê-erres e da conversa em bacharel com que o atacavam; unicamente por cansaço, desinteresse. Agora na sua condição de habitante do litoral era com o oceano que desabafava, levava o dia a medir o infinito e a resmoer o seu ditado preferido: Quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão. (PIRES, 1999: 42)

Em Dinossauro Excelentíssimo, é percebida uma nova crítica ao regime de Salazar. O povo português é comparado a um marisco que é tripa e carne, evidenciando a situação difícil dos mexilhões prostrados entre a terra e o mar.

Nas duas obras cardosianas citadas percebemos a insatisfação diante do regime ditatorial, tanto na socialização da Gafeira – d’O Delfim quanto na morte do Imperador de Dinossauro Excelentíssimo. O desejo e o sonho de se libertar do regime ditatorial aparecem no desfecho dos dois romances. A socialização da Gafeira e a morte do Imperador acabam sendo uma espécie de redenção de um povo marcado pela lâmina do autoritarismo e da arbitrariedade.

Como marca principal do autoritarismo e da arbitrariedade, aparece a censura exercida pela Polícia Internacional de Defesa do Estado, a PIDE. Nas palavras de José Cardoso Pires:

Para qualquer português que realmente viveu a pátria antes do 25 de Abril explicar a PIDE é tão vexatório como submeter-se à necessidade de provar que o fascismo existiu. (PIRES, 1977: 300)

A. H. de Oliveira Marques, em seu livro Breve História de Portugal, diz:

As principais vítimas da P.V.D.E.-P.I.D.E. foram sempre os comunistas ou seus simpatizantes, cujos mártires ultrapassaram, de longe, quaisquer outros oposicionistas. Parece também averiguado que os elementos das classes “inferiores” recebiam em geral pior tratamento do que os das classes média e superior. (...) Todas as correntes de opinião, incluindo os Católicos e Integralistas e representantes de todas as classes e grupos sociais contaram inúmeras vítimas das perseguições policiais. (MARQUES, 1998: 652)

A censura imposta pelo governo e a perseguição da PIDE aos que eram contra o sistema eram demasiado intensas. A censura era imposta como uma forma de repressão e interdição do discurso. A verdade era comprometida pelos “valores do Estado”, pois há coisas – vide discurso político e religioso – que não podem vir à tona, para não abalar a ordem vigente. A manutenção da ordem era imposta pelo medo e, por isso mesmo, era tão importante “a produção de liberdade, que é a mais bela meta que um livro pode ambicionar”. Maria Velho da Costa, em Cravo, comenta sobre o que pode ser aprovado – ou não – para ser dito:

A escola portuguesa: onde pela primeira vez soube o que se diz e sente e não se escreve, essa primeira lição do escândalo a consentir: o que se quer dizer e escrever e o que é aprovado se dito e escrito são coisas mesmo diferentes. (COSTA, 1994)

A perseguição aos que se posicionavam contra o regime culminava em sessões de tortura, comparadas, por Cardoso Pires, a um sangrento espetáculo teatral:

Digo então de mim para mim que tem de haver qualquer significado nesta vizinhança, nesta simpatia topográfica, superstição ou lá o que é, e aproximando-me da rua, da PIDE e do teatro, configuro palcos gradeados e cenários sangrentos, música e ‘gritos de fundo’. É natural: entre o interrogatório policial e a encenação dramática existe qualquer coisa em comum. (PIRES, 1977: 316)

Essa “encenação teatral” pode ser vista em Levantado do Chão, de José Saramago, na cena que retrata a tortura sofrida por João Mau-Tempo. Humilhação, coação e violência física faziam parte da técnica da PIDE para conseguir informações:

Levantem bem o focinho para vermos se são parecidos com as putas das vossas mães, disse o paisano, João Mau-Tempo não se teve que não dissesse, A minha mão já morreu, e o outro, Queres que te parta os cornos, só falas quando eu disser (...). Fiquem vocês sabendo que não saem daqui vivos se não vomitarem tudo quanto sabem sobre esta greve, a organização, quem vos deu as ordens, a propaganda, tudo, quero aqui tudo despejado, ai de vocês se não falam. (SARAMAGO, 1988: 155)

A LEI – Latifúndio, Estado e Igreja – também é denunciada no romance de Saramago, apresentando a Trindade salazarista que agia juntamente na repressão:

(...) eu que sou a terra, eles que o trabalho são, o que for bom para mim, bom para eles é, foi Deus que quis assim as coisas, o padre Agamedes que explique melhor, em palavras simples que não façam mais confusão à confusão que têm na cabeça, e se o padre não for suficiente, pede-se aí a guarda que dê um passeio a cavalo pelas aldeias, só a mostrar-se, é um recado que eles entendem sem dificuldade. (Ibidem, p. 72)

Levantado do Chão pode ser visto como uma conscientização, marcada pelo ato de levantar a cabeça para mudar – a evolução e amadurecimento da consciência da arraia miúda. O romance apresenta três tempos: o das formigas – que apenas vêem, acuadas pela opressão –, o dos cães – que ladram, se questionam – e o dos homens – que lutam, fazem greve por mudanças, simbolizando, assim, a mudança de postura dos dominados.

Mesmo sendo publicado em 1979, após a Revolução dos Cravos, o romance saramaguiano reflete acerca dos acontecimentos históricos e sobre o próprio movimento revolucionário. É notada a posição esquerdista de Saramago em sua obra. Segundo Teresa Cristina Cerdeira da Silva:

O tratamento dado pela narrativa aos elementos de repressão é profundamente irônico e reflete a postura crítica de um narrador cuja opção ideológica é claramente a favor dos oprimidos. A forma de despersonalizar os agentes do poder é a de subtraí-los dos seus atributos individuais, reduzindo-os a meros representantes de uma força que eles endossam e executam. (SILVA, 1989)

O sonho da Revolução concretiza-se em 1974, na madrugada do dia 25 de Abril, quando acontece o golpe que tem como principal objetivo depor o regime fascista que assolou o país por mais de quarenta anos. A oposição ao fascismo envolveu quase todas as classes da sociedade portuguesa, e a culminância de greves em diversos setores acabou por influenciar o processo revolucionário.

Como mostrado neste estudo, os intelectuais portugueses sempre constituíram uma forte oposição ao regime fascista, através de ações culturais e das criações literárias. A criação da APE – Associação Portuguesa de Escritores – deu ainda mais força à classe artística. Politicamente falando, a guerra colonial ia enfraquecendo o regime salazarista, enfraquecimento esse agravado pelos movimentos de libertação da Guiné - Bissau, Moçambique e Angola.

Aquilo que ficou conhecido como Movimento dos Capitães foi importante, pois marcou a conscientização do povo português. O apoio das Forças Armadas a uma causa democrática foi fundamental para o sucesso da deposição da ditadura.

Uma das imagens mais impressionantes do levante é, sem dúvida, a dos inúmeros cravos vermelhos que o povo carregava, e que foram utilizados para enfeitar os fuzis militares. Um símbolo que acabou por batizar a revolução, conhecida como Revolução dos Cravos.

Manuel Alegre, em seu poema Abril de Abril, de 1981, tematiza a Revolução, demonstrando a alegria e a comunhão presentes no processo revolucionário:

Era um Abril de amigo Abril de trigo

Abril de trevo e trégua e vinho e húmus

Abril de novos ritmos novos rumos.

 

Era um Abril comigo Abril contigo

ainda só ardor e sem ardil

Abril sem adjectivo Abril de Abril.

 

Era um Abril na praça Abril de massas

era um Abril na rua Abril a rodos

Abril de sol que nasce para todos.

 

Abril de vinho e sonho em nossas taças

era um Abril de clava Abril em acto

em mil novecentos e setenta e quatro.

 

Era um Abril viril Abril tão bravo

Abril de boca a abrir-se Abril palavra

esse Abril em que Abril se libertava.

 

Era um Abril de clava Abril de cravo

Abril de mão na mão e sem fantasmas

este Abril em que Abril floriu nas armas.[1]

Pode-se notar o jogo gráfico da palavra Abril, ora representando o mês referente à revolução, ora remetendo ao verbo abrir, em oposição ao fechamento imposto pela ditadura. É percebida a presença de símbolos que representam a vida e a fertilidade – vinho e húmus –, trazidas pelos novos ritmos e novos rumos. A força do 25 de Abril é vista no último verso da segunda estrofe, não havendo a necessidade de adjetivar o movimento, pois ele já possui um valor único e substantivo. O poema de Manuel Alegre explora a imagem da liberdade e da igualdade, que tanto foram negadas pelo fascismo salazarista. O abrir palavras opõe-se à censura que assolou Portugal durante mais de quatro décadas, mostrando a libertação do povo português do fantasma de Salazar e da ditadura, em um Abril que floria em armas, que remete ao ato de enfeitar os fuzis com cravos, imagem central da Revolução.

Após os Cravos, os escritores portugueses não eram mais vistos como marginalizados, chegando mesmo a ser incentivados a produzir. Segundo Cardoso Pires, a Literatura, antes marginalizada, agora tem sua voz resgatada:

A partir dessa data o escritor não era mais o animal à margem ou o ornamento tolerado que uma Política dita do Espírito pretendera estrangular durante meio século. De todas as áreas culturais a literatura tinha sido a mais segredada pelo ódio fascista, agora dispunha de voz total, a que quisesse. E participava, recebia incentivos, apelos vários à intervenção. (PIRES, 1977: 274)

Sofia de Mello Breyner Andresen, em seu poema 25 de Abril, compara a madrugada do 25 de Abril ao início de um novo tempo, a um dia inteiro e limpo, seguindo-se à noite e ao silêncio, representações claras da ditadura. A liberdade surge, também nesse texto, como a palavra-chave, demonstrando que a coletividade portuguesa, expressa pelos verbos no plural, agora desfruta da leveza do novo tempo:

Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo[2]

Maria Velho da Costa, comentando sobre a instauração do direito de liberdade em Portugal, ressalta que

É sempre comovente ver um povo retomar em mãos, com angústia e hesitação e pobremente, os seus próprios destinos, os seus modos preferidos de navegar os ventos da história. (COSTA, 1994: 93)

Enfim o desejo e o sonho de liberdade se concretizam – apesar de movimentos de contra-revolução e supostos atentados – e a caravela lusitana começa a tomar o rumo da democracia, deixando para trás um regime que durante quase meio século assolou a nação.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CABRAL, Manuel Villaverde. "Um quarto de século depois do 25 de Abril: balanço crítico de uma democracia consolidada". In: Semear 5.Revista da Cátedra Padre Antônio Vieira de Estudos Portugueses. Rio de Janeiro: Nau, 2001.

COSTA, Maria Velho da. Cravo. Lisboa: Dom Quixote, 1994.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.

MARQUES, A.H. de Oliveira. Breve História de Portugal. Lisboa: Presença, 1998.

PEREIRA, Maria Luiza Scher., "Espaço em questão: Portugal no romance de Cardoso Pires". In: Semear 5. Revista da Cátedra Padre Antônio Vieira de Estudos Portugueses. Rio de Janeiro: Nau, 2001.

PIRES, José Cardoso. Dinossauro Excelentíssimo. Lisboa: Dom Quixote, 1999.

––––––. E agora, José?. Lisboa: Moraes, 1977.

––––––. O Delfim. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.

SARAMAGO, José. Levantado do chão. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.

SARTRE, Jean-Paul. Em defesa dos intelectuais. São Paulo: Ática, 1994.

SILVA, Teresa Cristina Cerdeira da. Entre a História e a Ficção: uma saga de portugueses. Lisboa: Dom Quixote, 1989.

www.uc.pt


 


 

[1] Extraído da página www.uc.pt/cd25a/aedp_po/textos/tl_4.htm em 07/03/2005.

[2] Extraído da página www.uc.pt/cd25a/aedp_po/textos/tl_8.htm em 07/03/2005.

 

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