Em busca da Libélula

Marilza Maia (UERJ)

Michele Geledan (UERJ)

Monique Vicente (UERJ)

Natássia Amaral (UERJ)

 

Hodiernamente, o leitor conta com um sem número de textos, verbais e não-verbais, dos quais precisa extrair dados de leitura que façam sentido para ele e que estejam de acordo com a leitura autorizada (Simões, 2003) do texto com que se depara. O texto oferece as pistas de interpretação; o leitor tem a chave.

Tendo como base a teoria semiótica dos signos, de acordo com Pierce, o leitor poderá seguir as pistas deixadas pelo produtor no texto, cônscio de que estas pistas ora podem aproximá-lo do resultado que se almeja, os signos orientadores, ora podem transformar-se em complicadoras da leitura (Simões, 2004), os signos desorientadores, que dão um caráter plurissignificativo ao texto. A escolha desses signos ou da dosagem deles no texto depende do gênero textual, da habilidade do produtor do texto e do resultado que se espera alcançar mediante o contato do público receptor com o texto.

Pretende-se, pois, partir desses conceitos na análise do filme O Mistério da Libélula, um gênero textual que explora com freqüência o potencial simbólico dos signos, tanto para indicar o caminho da interpretação, quanto complicá-lo, o que é perfeitamente cabível em função da intenção comunicativa.

Desenhando a trama do filme, no entanto, o autor insere pistas para seu espectador pensar em possibilidades de como termina essa trama. O desaparecimento do corpo da personagem principal (Emily) no rio, a missa sem o corpo, mas com fotos dela, as crianças de quem ela cuidava no hospital onde exercia a profissão de médica, dentre outros elementos, são exemplos de signos orientadores para que o leitor possa desvendar o mistério proposto no filme. Na trilha dos signos orientadores, o espectador tenta captar o desfecho da história. O produtor, contudo, valer-se-á de subterfúgios que dificultem esse processo de leitura imediata, confundindo dados que facilitam e que dificultam esse entendimento, para prender a atenção do espectador e inserir dados que surpreendam-no ao final – signos desorientadores.

Dois símbolos que funcionam como complicadores de leitura e também oferecem a chave de interpretação do filme são constantemente usados em toda a trama. O primeiro trata-se da libélula, um sinal de nascença de Emily e, o segundo, uma suposta cruz que é desenhada por crianças que tem experiência de quase morte e encontram-se internadas na oncologia do hospital, onde terão contato com Joe.

As libélulas são, portanto, símbolos que têm a função de fazer Joe regressar aos momentos que vivera com Emily, índices de que ela deseja se comunicar com o marido e ícones que acionam as lembranças de Joe, sobretudo, o sinal no ombro direito de Emily. A cruz desenhada pelas crianças da oncologia, apresenta-se, num primeiro momento, na trama como um signo despistador ou desorientador (Simões, 2004). Inicialmente, é um objeto que simboliza uma mensagem de Emily a Joe que, para decifrá-la recorrerá a estratégias religiosas e pesquisas científicas. No entanto, essa busca é dificultada, pois, quanto mais avança em suas decifrações, as pessoas próximas a Joe o desencorajam, sugerindo que ele esteja devaneando. Num sobressalto, ao observar um mapa de rafting, Joe se depara com a cruz que o perseguira durante toda a trama, que agora passa a ser um signo orientador. Com esse índice, Joe chega até o local do acidente e, para realizar seu desejo de rever a esposa, vive uma experiência de quase morte, trazendo à tona os instantes do acidente.

A partir de então, Joe consegue chegar até a aldeia dos índios Ianomanis, que não conseguiram salvar a vida de Emily, mas fizeram seu parto e guardam consigo, na aldeia, a filha do casal – elemento buscado ao longo de toda a trama.