SUMÁRIO
EDIÇÃO DOS SONETOS DE GREGÓRIO DE MATOS – Leodegário A. de Azevedo Filho
APRESENTAÇÃO DO MODELO DESTA EDIÇÃO, A PARTIR DE PROPOSTA DE EDIÇÃO CRÍTICA FEITA POR FRANCISCO TOPA – José Pereira da Silva
Apresentação dos textos e do aparato
A Versificação nos Sonetos de Gregório de Matos
A Inconveniência de um Glossário
SONETOS
POEMAS SACROS E MORAIS
Estou, Senhor, da vossa mão tocado
Pequei, Senhor, mas não por hei pecado
Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade
Meu Deus, que estais pendente em um madeiro
Divina flor, se en esa pompa vana
Entre as partes do todo, a melhor parte
O todo sem a parte não é todo
Oh, quanta divindade, oh, quanta graça
Venho, Madre de Deus, ao vosso monte
Como na cova tenebrosa e escura
Desse cristal que desce transparente
Temor de um dano, de uma oferta indício
Ó magno serafim que a Deus voaste
Na conceição o sangue esclarecido
Na oração que desaterra ..... aterra
Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te
Isto que ouço chamar por todo o mundo
O alegre do dia entristecido
Nasce o sol e não dura mais que um dia
Seis horas enche e outras tantas vaza
Ditoso, Fábio, tu que retirado
Ditoso tu, que na palhoça agreste
Ditoso aquele e bem-aventurado
Carregado de mim ando no mundo
Meu ofício é mentir, mas proveitoso
Quem perde o bem que teve possuído
O bem que não chegou ser possuído
POEMAS ENCOMIÁSTICOS
Essa plausível cópia soberana
Pincel, a que te atreves reverente
Este, senhor, que fiz, leve instrumento
Nasces, infanta bela, e com ventura
O Apolo de louro coroado
Num dia próprio a liberalidades
Quem, senhor, celebrando a vossa idade
Quando Deus redimiu da tirania
Sacro pastor da América florida.
Subi à púrpura já, raio luzente
Subi à púrpura já, raio luzente.
Hoje os Matos incultos da Bahia.
Tal frota inda não viram as idades.
Bem-vindo seja, Seor, Vossa Ilustríssima.
Senhor Doutor, muito bem-vinda seja
É questão mui antiga e altercada.
Douto prudente nobre humano afável
É este memorial de um afligido
Fazer um passadiço de madeira
Entre aplausos gentis, com luz preclara.
Oráculo das ciências consultivo.
Eminente prodígio sem segundo
Razão alma da lei, aqui se apura.
Ministro douto, afável, comedido
Prelado de tan alta perfeción.
Alto sermão, egrégio e soberano
Amigo Capitão, forte e guerreiro
De repente e c’os mesmos consoantes
Ilha de Itaparica, alvas areias.
Ó Ilha rica, inveja de Cambaia.
Que vai por lá, senhores cajaíbas?
Há cousa como estar em São Francisco
POEMAS FÚNEBRES..
Hoje pó, ontem deidade soberana,.
Bem disse eu logo que éreis venturosa.
Nasceste bela e fostes entendida
Se a dar-te vida a minha dor bastara.
Furtado ao Brasil foi, si, foi forçoso
Aquele Afonso jaz em cinza fria
Chora a pátria a Afonso esclarecido
Se maravilhas buscas, perigrino
A coronarte subes, Castro, al cielo.
Oh, caso o mais fatal da triste sorte!
Teu alto esforço e valentia forte.
Quem há de alimentar de luz ao dia?
Alto Príncipe, a quem a parca bruta.
Neste túmulo a cinzas reduzido
Este mármor encerra, ó peregrino.
Brilha em seu auge a mais luzida estrela.
Nasceste em pranto (débito preciso)
Esqueça-se o materno sentimento.
Quando a morte de Abner Davi sentia.
Do prado mais ameno à flor mais pura.
Em essa de cristal campanha errante
No reino de Netuno submergido..
No reino de Netuno submergido.
Nace el Sol de los astros presidente
Querido filho meu, ditoso esp’rito
Na flor da idade à morte se rendeste
Astro do prado, estrela nacarada.
Flor em botão nascida e já cortada.
Sôbolos rios, sôbolas torrentes.
Errada a conclusão hoje conheça
Alma ditosa, que na empírea corte
Quem poderá do pranto soçobrado
Alma gentil, esp’rito generoso.
Até vir a manhã serena e pura.
Um prazer e um pesar quase irmanados
POEMAS AMOROSOS.
Fábio, que pouco entendes de finezas!
Oh, que cansado trago o sofrimento!..
Em o horror desta muda soledade.
Una, dos, tres estrellas, veite, ciento.
Como corres, arroio fugitivo?
Como exalas, penhasco, o licor puro.
Suspende o curso, ó rio retorcido
Na parte da espessura mais sombria..
Não te vás, esperança presumida.
Renasce, fênix quase amortecida.
Ó tu, do meu amor fiel traslado
Porque não merecia o que lograva.
Quem viu mal como o meu sem meio ativo?
Largo em sentir, em respirar sucinto
Oh, caos confuso, labirinto horrendo..
Horas contando, numerando instantes.
Debuxo singular, bela pintura..
Não vira em minha vida a formosura.
Se há de ver-vos quem há de retratar-vos
Anjo no nome, angélica na cara
Discreta e formosíssima Maria..
Discreta e formosíssima Maria.
Vês esse sol de luzes coroado?.
À margem de uma fonte que corria.
Ontem quanto de vi, meu doce emprego
Aquele não sei quê que, Inês, te assiste
Cada dia vos cresce a fermosura..
Ai, Custódia! Sonhei, não sei se o diga
Não me culpes, Filena, não, de ingrato
Deixei a dama a outrem; mas que fiz?
Ardor em coração firme nascido
Corrente que do peito desatada.
Nos últimos instantes da partida1
Que presto el tiempo, Nise, me ha mostrado
Rompa ya el silencio el amor mío.
Dama cruel, quem quer que vós sejais.
Oh, que esvaída trago a esperança
Adeus, vão pensamento, adeus, cuidado
Quem a primeira vez chegou a ver-vos.
Que me qués, profiado pensamento
Que me queres, porfiado pensamento.
Entre, ó Floralva, assombros repetidos.
Peregrina Florência Portuguesa.
Ausentou-se Floralva e ocultou.
Tão depressa vos dais por despedida.
Senhora Flore[n]ciana, isto me embaça
Já desprezei, sou hoje desprezado.
Querido um tempo, agora desprezado
Ser decoroso amante e desprezado
Querida amei, prossigo desdenhada..
Amar não quero, quando desdenhada
Que importa, se amo, que ame desdenhada.
Até aqui blasonou meu alvedrio.
Se me queres, também eu sei querer-te
Tirana ausência, ingrata soledade..
Puedes, rosa, dejar la vanidad..
De uma dor de garganta adoecestes..