UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

DEPARTAMENTO DE LETRAS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SENA MADUREIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

ANÁLISE DE LÉXICOS EM JARGÕES PROFISSIONAIS EM SENA MADUREIRA

 

Antõnia Marta Chaves Sampaio

Antõnia Mikelce  Souza da Silva

Maria José Sousa da Silva

Maria José do Nascimento Torres

Gilberto da Silva Cunha

Marenita Bastos Canizo Dantas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Trabalho apresentado ao professor

José Pereira da Silva para avaliação

da disciplina Morfossintaxe, do

curso de Pós-graduação em língua

Portuguesa do departamento de

Letras  da UFAC.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sena Madureira-Acre, 15 de maio de 2001.

Introdução

 

1.1-Definição

 

Este trabalho apresenta uma análise de léxicos em jargões profissionais, tais como os dos caçadores, estivadores, agricultores, curandeiros, e ainda em expressões típicas dos jovens de Sena Madureira.

Com esse estudo, pretendemos registrar as variações lingüísticas na comunicação das categorias supracitadas.

Demonstrando que, no ponto de vista sócio-lingüístico, esses falantes dominam somente a linguagem coloquial, e por isso apresentam em seu falar, simplificação sintática, vocabulário restrito e uso abusivo de gírias. Tal fator ocorre por motivo de baixo ou nenhum nível de escolaridade, pelo ambiente e pelas condições sócio-econômicas em que vivem, e ainda, devido a uma tendência à economia e criação de palavras.     

  

 

1.2- Justificativa

O presente trabalho justifica-se por compreender a linguagem como reflexo da cultura de seus falantes. Sendo assim, procuramos resgatar parte da cultura madureirense e a partir da análise e registro das variações lexicais, dos traços lingüísticos que caracterizam as falas locais. Redescobrindo , desta forma os neologismos, gírias e expressões próprias de determinados grupos sociais.

Nessa pesquisa, foi realizado um estudo sincrônico das variantes lingüísticas em termos sociais, abrangendo as seguintes profissões: caçador, agricultor, pescador, estivador, curandeiro e estudante.

 

  

2. Desenvolvimento

A amostra da coleta lexical  será feita por grupo social, subdividindo-se em classes gramaticais, campos semânticos, instrumentos utilizados no trabalho e expressões diversas.

Linguagem típica do caçador

Para este grupo optou-se por anotá-los nos seguintes campos semânticos:

Tipos de Caça

Alencó: s. m. pássaro de ribanceira  que possui um canto com alta sonoridade.

Bigodeiro: s. m. espécie de macaco, de pêlo acinzentado, possui longo bigode branco.

Capelão: s. m. espécie de macaco de cor avermelhada, macho da guariba, possui peso aproximado de 6 Kg.

Cachorro do mato: s. m. espécie de cachorro selvagem, de pequeno porte.

Cátia-baca: s. f. (exp. Indíg.): anta.

Caça-grande: s. f. classificação dada a animais a animais de grande porte.

Caroca: s.f. ave pequena, de cor preta, vive na beira dos rios e voa em bandos.

Cutiara: s. f. animal da família dos roedores, espécie de cutia pequena.

Imbiara: s. f. classificação dada a pequenos animais que vivem na restinga.

Mutum: s. m. ave galinácea, preta, com uma crista vermelha, peso aproximado: 3 Kg.

Paruacu: s. m. espécie de macaco preto  com matizes brancas, possui farto p~elo, peso aproximado: 2 Kg.

Quatipuru: s. m. espécie de quati pequeno, mamífero carnívoro.

Soim: s. m. espécie de macaco, possui pêlo vermelho e preto, peso aproximado, 1Kg.

 

Instrumento de trabalho

 

Capanga: s. f. bolsinha que o caçador põe na cintura, onde se carrega cartucho e balas, geralmente é feito de látex.

Estopa: s. f. bolsa o mesmo que lalau: saco usado para carregar o animal morto.

Teçado: s. m. o mesmo que terçado, tipo de facão.

Comidas

Baginha: s. f. vagem fruto com sementes, espécie de legumes.

Caju: s. m. Fruto silvestre.

Coité de macaco: s. m. fruto grande, co miolo branco e consistente, que serve para alimentação da caça.

Inharé: s. m. árvore que possui um fruto amarelado de forma  redonda e pequena.

Jaracatiá: s. f. fruta silvestre.

Tucumã: s. f. fruta amarelada, de forma redonda.

 

Vocabulário e expressões típicas

 

Balseiro: s. m. (nort. Bras.) lugar vago debaixo de árvores caídas no chão, esconderijo de animais silvestres.

Causo: s. m. estória, fábula, conto.

Caboquim da mata: s. m. entidade da floresta, protetora da caça.

Chiadeira: s. f. lugar onde há folhas secas, que produz barulho quando se pisa.

Cumida: s. f. armadilha natural, lugar debaixo de  árvores frutíferas, onde os animais comem os frutos caídos no chão.

Buiado: adj. Arranjado, sortudo, repleto, satisfeito.

Curtiar: v. t. d., acompanhar, paquerar, observar, andar ao lado.

Embiarar: V. T. D. procurar imbiara (caça pequena).

“De banda” ( exp. Pop. Norte) , loc. Adv. de lugar, nos arredores, pelos lados, perto.

“dar fé:” (exp. Pop.), perceber, tomar conhecimento, notar.

Negócio com caboquim” : indica uma supertição do caçador, trato feito com o espírito da mata para conseguir caça.

“no senta da lua” : indica o momento em que a lua se põe.

Toma chegada” : indica a aproximação em relação à caça.

      

 

Vocabulário típico do Estivador

 

Nesta pesquisa. Os vocábulos estão classificados em ordem alfabética.

A

Afoçado: adj., qualidade daquele que tem força para carregar muito peso.

Adjitório: s. m. , espécie de forro que se usa no ombro para não ferir o corpo.

B

Bater a carga”: (exp. típ.), por a mercadoria nas costas do outro.

Base: s. f. ,  idéia, cálculo; saber  quantidade de.

Babau: Interj. , expressão usada quando se é enganado, quando não se recebe o pagamento de uma conta.

Bichona: Adj. , Mulher de corpo escultural, bela.

Batelão: s. m. , pequena embarcação motorizada que transporta mercadorias e pessoas.

C

Chapa: s. m. , colega de trabalho, amigo.

D

Distiorar: v. t. d. significa destruir, deteriorar.

Distentar: v. t. d. trocar o cheque por cédulas.

De primeiro: loc. Adv. de tempo, antigamente, antes, anteriormente.

E

Enrolar: v. i. acumular serviço, o mesmo que embromar.

Enganchado: Adj. , aquele que trabalha ainda no serviço do dia anterior.

Empilhador: s. m. , aquele que é encarregado de empilhar a mercadoria no armazém.

F

Faroba: s. f. , vantagem; conversa fiada.

L

Lagartão: Adj. , aquele que vive bêbado, embriagado.

M

Miserável; Adj. , aquele que não paga o preço combinado pelo serviço.

Macetona: Adj. , grande, enorme.

P

Pegado: Adj. , qualidade de quem trabalha sem interrupção.

“puxar pra trás” : desfazer o acordo, negócio interrompido.

Pintar: v. i. , aparecer, surgir, conseguir.

Pau: s. m. , dinheiro.

R

Rolar: v. t. d. acontecer.

Regatão: s. m. , pessoa que vende mercadorias pelos rios e seringais.

S

Saqueiro: s. m. , nome dado aos estivadores que usam um saco no umbro.

 

 

LINGUAGEM DO AGRICULTOR

 

A organização dos vocábulos é feita a partir da classificação gramatical, dos legumes e frutas cultivados.

Substantivos:

Jacá: s. m. , objeto feito de cipó, também conhecido como balaio, que serve para transportar verduras e legumes.

Ramo: s. m. , o mesmo que quiçassa, mato que não tem utilidade.

Terra-de-areia: s. f. , terreno arenoso, que serve para plantar feijão, arroz, melancia, macaxeira e jerimum.

Terra-de-barro: s.f. , terreno argiloso, terra fértil.

 

VERBOS

 

Brocar: v. t. d. , cortar o mato, o mesmo que roçar.

Cascar: v. t. d. , tirar a casca, o mesmo que descascar.

Encoivarar: v. t. d., juntar os galhos de árvores que ficam depois da queimada do roçado.

Estrapalhar: v. i. , vender os produtos de forma barata, o mesmo que atrapalhar.

solecar: v. i. , o mesmo que sair repentinamente de um determinado lugar.

 

LEGUMES

Barrigudinho: s. m. , espécie de feijão branco.

Jerimum-caboco: s. m. , espécie de jerimum não adocicado.

Jerimum-de-leite: s. m. , fruto de sabor adocicado, próprio Para comer com leite.

FRUTAS

 

Jambo: s. m. , fruta avermelhada, semelhante  à maçã.

Pupuaçú: s. m. , o mesmo que cupuaçu, fruto que serve para fazer sucos, cremes, doces  etc.

 

 

LINGUAGEM DOS CURANDEIROS

 

Os vocábulos encontrados foram organizados em ordem alfabética e nos seguintes campos semânticos: moléstias e ervas.

 

Cobrêro: pipocas que circulam o corpo.

Constipação: mal na vista.

Dismintidura: machucamento, carne triada,carne machucada.

Erisipela: vermelha, ferimento inflamado.

Espiela caída: dor nas costas, corcundo.

Equizema: mal que dar abrindo enfermidade.

Estalecido: mal do nariz.

Espremedêra: infecção no intestino.

Infirmidade: feridas.

Izipa roxa: manchas roxas.

Izipas: alergias.

Izague: fogo selvagem , queimadura.

Neuvagia: dor nos queixos;

Quebrante: admiração, mal fluído, mal olhado.

Ramo: derramo cerebral.

Susto: vento caído, um pé está maior que o outro.

Tracoma: mal do 7º dia.

Tomar sangue de palavras: sangramento.

 

 

 

EXPRESSÕES TIPICAS DOS JOVENS DE SENA MADUREIRA

 

Substantivos:

 

Ap: restaurante,churrascaria, etc.

Cambada: galera:  turma de amigos.]cevas: gelas: cerveja.

Cigas; baseado; bia; queimante; canela de anjo: cigarro.

Coroa: pai, mãe.

Esquema; parada; lance jogada: plano. Então galera,vamos armar um esquema para hoje  à noite?

Goró: bebida.

Magrela; magras: bicicleta.

Piseiro: dance; point: festa

Porrada: dose de bebida. Garçom, prepare uma porrada daquelas!

Prof: professor(a).

Rango: comida, refeição.

Rex.: dinheiro.

Zoeira: bebedeira.

 

VERBOS

 

Alugar: incomodar muito uma pessoa.

Bailar; entrar água: quando o plano dá errado.

Descarar: dar testada, responder bruscamente.

Enrabar: engravidar.

Ficar: relacionamento momentâneo, por uma noite.

Filar: conseguir algo de graça.

Jogar; entregar: dar algo, contar um segredo.

Nhanhar; trelar; torar; quebrar a castanha; socar; comer; transar: ter relação sexual.

Sacar: entender , perceber.

Segurar: namorar; namoro duradouro.

 

LOCUÇÕES VERBAIS

 

Bater um lero; queixar; chegar: paquerar, conquistar para namoro.

Dar rock;  dar praia: fazer sucesso, conseguir o objetivo. Desista não vai dar rock.

Dar um role; dar um balão: passear.

Dar um time; relex; stop: dar um tempo, parar, descansar.

Ficar legal: ficar bêbado.

Forrar o bucho; fazer uma boca; pegar o rango: comer.

Furar o couro; bolar o gato: ter relação sexual.

Levar um nike: ser levado: ser dispensado, levar um fora. Ex.: Marcelo levou um nike da namorada.

Passar o pano: olhar co atenção. Ex.: Ana passou o pano em Marcos.

Ralar os peitos; vazar; dar o pira; sair fora; lavar; pegar o beco; vumbora: sair de algum lugar.

Tomar goró: beber.

Virar bicho: ficar agitado numa festa.

Voar baixo: andar em alta velocidade.

 

Locuções adjetivas:

 

Boca de caçarola: quem não guarda segredos.

Boca de siri: quem guarda segredos.

Fora de órbita: desligado, desatento. Ex.; José estava fora de órbita, por isso  não fez o exercício.

Fundo de garrafa: quem usa óculos.

Pura-bucha: que não presta , chato. Ex.; A aula ta pura bucha!

 

 

Adjetivos:

Arrastona: oferecida; serrote: mulher que sai com vários homens.

Arregaçado: 1- que anda em alta velocidade. Ex.; Ivo passou arregaçado.

2- esperto. Ex: Ivo é arregaçado resolveu o problema rapidinho!

Brejera; cara-inchada; só-o-pó; pé inchado: bêbado.

Caidão; cachorra: apaixonado.

Carvão; asfalto: pessoa negra.

Chiclete: pessoa que incomoda, que não sai do pé, chato.

Derrubado; derbis: de baixo astral.

Doidinha: garota distraída.

Escopeta; bomba; canhão; dragão; baranga; irara; bala dobrada: mulher feia.

Etiqueta; mauricinho; patricinha: bem vestido.

Excomungado; lavado: excluído

Galinha; cafachrro: homem safado.

Gata; broto; princesa: menina bonita.

Geladeira: triste.

Horrorizado: enxerido; gaiato; maluco.

Ibope: que está no auge.

Isca: lugar ruim, feio, chato, coisa ruim, sem graça.

Lagóia; tonto: distraído.

Legas; o bicho: bom, animado, alegre, divertido.

Liso; derrubado; ralado; quebrado; sem rex.: sem dinheiro.

Marombado; bombado: que faz musculação, que toma anabolizantes.

Parado; ta fraco: tímido.

Peixe; chegado: amigo íntimo.

Piranha: mulher safada.

Poronga; bocó; tobó; toró: idiota, bobo.

Pré-histórico: velho, feio.

Presença; pré: jeitoso, bonito,

Ralf: gigolô.

Raspado; brocado; rafado; varado: faminto.

Serrote; penetra; bicão: intrometido, que não é convidado.

Um-sete-um: bom de conversa,.

Uréia-seca: bagunceiro, safado.

Vaga: vagabunda.

 

Outras expressões

 

Ah! Pôdi: refere-se a alguém de quem não se gosta.

Atira leu!: termo usado para dizer que alguém está mentindo.

Bleis blais: é um termo que complementa ou enfatiza a oração; espécie de marcador convencional com gradação.

E aí meu? : comprimento, acompanhado de gestos, tapa nas costas etc.

E pê a pá, e pum; e tal e tal...: (ver, bleis e blais).

Falo meu!: despedida.

INCRA: (sigla) Infelizmente Nada conseguimos Realizar Aqui

Nem com nojo: de maneira nenhuma.

Ou não?: Pedido de confirmação, usa-se também para enfatizar a conversa.

Tem!...: expressão usada para interromper uma conversa.

Truco-truco: representa um segredo acompanhado por gestos.

Tudo booom!!!: (ver: e ai meu).

Valeu!: termo irônico usado para reclamar ou responder.

 

 

3. Conclusão:

 

O presente trabalho nos levou a compreender claramente que a linguagem é o espelho de vida dos falantes. É através da linguagem que o homem consegue expressar toda a sua fé, esperança e seu amor pelas pessoas e pela vida.

Levou-nos ainda, a compreender que o significante faz parte da história cultural do homem, conseqüentemente,da comunidade que ele vive. Assim embora o signo lingüístico seja arbitrário, ele compartilha, no seu todo, de um pacto social entre o homem, a cultura e o mundo que o circundeia.

Convém lembrar que a língua é um sistema de elementos e de relações: sistema esse, formado por subsistema, que organizam-se nos níveis fonológicos, morfossintático e semântico.

Por fim, este estudo auxiliou-nos para transformar as nossas experiências empíricas em conhecimentos científicos, conhecimento sobre o universo do léxico do povo madureirense e principalmente para a abrangência sólida do papel lexicológico no universo das significações.

 

  

4. BIBLIOGRAFIA

 

HOUAISS, Antônio. O Português no Brasil. 3ª edição, Rio de Janeiro:

      Revan, 1992.

LESSA, Luisa Galvão. O vocabulário. Texto publicado no Jornal Página 20. Coluna: Letras     e letras. Rio Branco, 1999.

PRETI, Dino. Sociolingüística: Os níveis de fala. 7ª edição. São Paulo: Edusp, 1999.

..........., Pesquisa sobre os diferentes níveis de Linguagem. Trabalho realizado pelos acadêmicos do Curso de Letras Vernáculo em Sena Madureira Acre.

 

 

SUMÁRIO

  1. Introdução Definição........................................................................................................1
  2. Justificativa....................................................................................................2
  3. Desenvolvimento: Linguagem típica do caçador...........................................3
  4. Vocabulário do estivador...............................................................................4
  5. Bibliografia.....................................................................................................5
  6. Outras expressões...........................................................................................6
  7. Locuções verbais.............................................................................................7
  8. Expressões típicas dos jovens.........................................................................8
  9. Frutas..............................................................................................................9
  10. Linguagem do agricultor................................................................................10
  11. Vocabulário típico do estivador...................................................................  11
  12. Vocabulário e expressões típicas...................................................................12