UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM LÍNGUA PORTUGUUESA
ESTUDO DA FORMAÇÃO DE PALAVRAS EM PORTUGUÊS
por:
Alda Brito da Cruz
Alcélio Cavalcante de Lima
Antônio Charles Freitas Mendes
Carlos Marcelo Ribeiro de Matos
Manoel Damasceno Costa
Marta Cavalcante de Lima
Trabalho apresentado ao Prof. José Pereira
na disciplina MORFOSSINTAXE da Língua
Portuguesa, do Curso de Pós-Graduação em
Língua Portuguesa do Departamento de
Letras da Universidade Federal do Acre.
Sena Madureira - Acre
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
3. DESENVOLVIMENTO
3.1 – Derivação e composição
3.2 – Derivação prefixal e sufixal
3.3 – Derivação regressiva e abreviação
3.4 – Derivação imprópria ou conversão
3.5 – Composição
4. CONCLUSÃO
5. BIBLIOGRAFIA
1. INTRODUÇÃO
Neste trabalho sobre a Formação de Palavras em Português destacamos os dois processos gerais de formação dos vocábulos em português: a derivação e a composição.
Nesse processo examinamos os tipos de derivação, apontando a necessidade de se recorrer ao estudo diacrônico – o levantamento histórico do vocabulário – para elucidar certas ocorrências.
No que se refere à composição, a formação das palavras compostas caracteriza-se por apresentar uma estrutura sintática, analisando minuciosamente a flexão de número dos compostos, que em muitas vezes estão em desacordo com as regras estabelecidas.
Com a análise desses processos de formação e composição das palavras, percebemos as variações e os recursos que temos em mãos para aumentar o vocabulário da língua portuguesa, e, além do mais, serviu-nos para enriquecer nossos conhecimentos, que até o momento eram limitados, e porque não dizer pequeno, mas com essa pesquisa, com certeza, só tivemos a ganhar, pois sabemos que a linguagem é fator fundamental na vida do ser humano, para que haja entre eles uma comunicação, ou seja, um relacionamento social.
É bom lembrar, que o vocabulário de uma língua varia à medida que mudam os costumes e atitudes, a tecnologia, as ciências, as artes. Para nomear objetos ou expressar idéias novas, a expressão mais simples é formar palavras. Isto, porém, não significa que seja necessário inventar sempre vocábulos completamente diferentes dos que já existem, ou seja, depende da necessidade de nomearmos novos objetos com palavras que já têm uma origem (uma coisa parecida leva um nome que varia de uma palavra já existente).
2. OBJETIVO
O presente trabalho tem o objetivo de mostrar os vários tipos de formar palavras no português do Brasil. Com isso, percebemos a grande variação que existe em nossa língua. Além do mais, serviu-nos para compreender melhor o falar brasileiro e conseguir entender melhor a língua portuguesa.
3. DESENVOLVIMENTO
DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO
Neste trabalho, expomos os processos formadores de palavras em português, os quais também já são bem conhecidos, pois pertencem à sua origem: o latim.
Basicamente, distingue-se dois processos de formação lexical: a derivação e a composição.
Quando um vocábulo é formado de um só radical, a que se anexam afixos (prefixos e sufixos), tem-se a derivação:
Ex.: recolocar (= re (pref.) + colocar)
A composição ocorre quando dois ou mais radicais se combinam.
Ex.: amor-perfeito
Guarda-chuva
Verifica-se, contudo, que certos prefixos na língua portuguesa têm uso autônomo, como se fossem preposições; é o caso de contra e entre:
Contrapor / José está contra os colegas.
Entreabrir / Ficou entre a cruz e a espada.
Fica explicito que os prefixos não contribuem para a mudança da classe gramatical do radical a que se ligam: rever é verbo, como ver, desigual é adjetivo, como igual. Os sufixos, pelo contrário, podem contribuir para a mudança da classe gramatical do radical: civilizar é verbo, ao passo que civil é adjetivo.
As diferenças que encontramos mostram a complexidade do problema. O que vemos é a simplificação e economia, considerando a prefixação como um tipo de derivação, seguindo as normas da NGB.
DERIVAÇÃO PREFIXAL E SUFIXAL
Contrariamente aos vocábulos que contem um só prefixo (in/feliz) ou um só sufixo (ruin/dade), as palavras com dois ou mais afixos (in/just/iça, dês/respeit/osa/mente) parecem apresentar uma estrutura mais complexa.
Em desrespeitosamente trata-se de uma derivação prefixal e bissufixal simultânea ou de uma estruturação subjacente mais simples.
DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA
Processo não consignado pela NGB, a parassíntese, ou derivação parassintética, muito comum em português, consiste na adjunção simultânea de um prefixo e de um sufixo a um radical, de forma que a exclusão de um ou de outro resulta numa forma inaceitável na língua.
Ex.: o verbo esclarecer, não existe o adjetivo esclaro, nem o verbo clarecer.
Certos verbos e outros vocábulos constituídos de prefixo + radical + sufixos não apresentam simultaneidade dos afixos: reflorescer/florescer; injustiça/justiça. A classificação desses vocábulos como derivados prefixais ou sufixais baseia-se numa análise do constituinte imediato, de acordo com as técnicas especificadas da NGB.
Freqüentemente o caráter parassintético de um verbo só se revele quando levamos em conta o subsistema de que ele faz parte.
Há exemplos curiosos de verbos cujo radical é um adjetivo que exprime cor, e que, aparentemente, não seriam parassintéticos: amarelar, azular. Todavia, se considerarmos o subsistema dos verbos formados por esses adjetivos, verificamos que são, na maioria, parassintéticos: acinzentar, alaranjar, arroxear, avermelhar etc.
Alguns verbos parassintéticos apresentam o radical em sua forma arcaica (abaular, de baul, forma antiga de baú, esfolar, de fole, na acepção antiga de pele); outros contém uma forma reduzida do radical (esfulinhar (de fuligem); enjangar (de jangada)).
Com esse estudo, podemos dizer que a parassíntese não pode ser conceituada com base exclusiva na simultaneidade dos afixos; o exame de subsistemas, bem como a análise do aspecto semântico, são também aspectos indispensáveis para a caracterização desse processo de formação vocabular.
DERIVAÇÃO REGRESSIVA E ABREVIAÇÃO
A derivação regressiva ocorre quando, a partir de um vocábulo com sufixo real ou suposto, formam um novo vocábulo através da eliminação do referido sufixo: assim de aceiro (em que o –eiro faz parte integrante do radical) formou-se aço (pela falta suposição de que –eiro fosse sufixo de pedreiro etc.). É também o caso de sarampo (com relação a sarampão), rosmano (com relação a rosmaninho), em que as terminações das segundas formas foram interpretadas como sufixos de grau.
Contudo, o maior número de regressivos é constituído de substantivos deverbais, como:
pega, de pegar
luta, de lutar
Os deverbais regressivos são extraídos da primeira ou da terceira pessoa do singular do presente do indicativo; daí, serem nomes de tema em –o (quando precedem da primeira pessoa) ou de tema em –a ou –e (quando precedem da terceira pessoa).
Os deverbais de tema em –o adquirem, no português moderno, grande validade: o agito, o chego, o sufoco.
Freqüentemente um verbo da primeira conjugação dá origem a um deverbal de tema em –e; nesse caso, trata-se de analogia, ou de influência de outra língua românica assinalada em nossos dicionários etmológicos:
Empate (talvez analogia com abater® e embate(r))
Saque (do catalão)
A derivação regressiva é exemplo de fato lingüístico em que uma perspectiva exclusivamente sincrônica nem sempre é suficiente. O estudo da regressão requer, com freqüência, a pesquisa diacrônica, com consulta a dicionários etimológicos; por exemplo, os substantivos falha e falta, apesar de uma certa idéia de ação, são primitivos; mexerica e condão, por sua vez, são regressivos.
Pode-se também depreender o valor dinâmico do substantivo pelo contexto extravocabular. Assim, a palavra pesca no par
A pesca do bacalhau/a pesca sobre a mesa
contém a idéia de ação no primeiro membro do par, em oposição ao segundo, em que emerge a idéia concreta (e onde, portanto, não teríamos um deverbal regressivo).
Sobre a abre a abreviação, podemos dizer que é um fenômeno semelhante ao da derivação regressiva, mas caracterizado por outros traços específicos.
É claro a distinção dos dois processos, a forma abreviada consiste com a forma a qual foi extraída; nesse caso, estabelece entre elas uma diferença de sentido ou de distribuição. Um exemplo claro é o par cine / cinema: utiliza-se a forma abreviada quando se acrescenta o nome do cinema; com omissão deste, usa-se a forma primitiva, mais longa:
Vou ao cine Astor.
Vou ao cinema (e não vou ao cine).
Essa diferença de emprego entre as duas formas é sempre pautada por critérios distribucionais, que fazem parte da língua portuguesa fala da no Brasil.
COMPOSIÇÃO
É um processo de formação lexical que consiste na formação de palavras novas pela combinação de vocábulos já existentes: amor-próprio; ganha-pão.
É importante mencionar que, na palavra composta os elementos primitivos perdem a significação própria em benefício de um único conceito, novo, global. Um substantivo como amor-perfeito designa uma flor e, em qualquer contexto em que figure, pode comutar com uma palavra simples, como rosa, margarida ou cravo. Referimos-nos, naturalmente, a uma comutação formal – isso não significa que esses nomes de flores sejam sinônimos.
Podemos distinguir dois tipos de composição, conforme a fusão mais ou menos íntima das palavras componentes: justaposição e aglutinação. Ocorre a justaposição quando os termos associados conservam a sua individualidade: passa-tempo, sempre-viva.
Tem-se a aglutinação quando os vocábulos ligados se fundem num todo fonético, com um único acento, e o primeiro perde alguns elementos fonéticos (acento tônico, vogais ou consoantes): boquiaberto, pernalta.
Segundo Celso Pedro Luft, há três condições para a hifenização nas palavras compostas:
1. Apresentar unidade semântica;
2. Ter consciência dos elementos constitutivos que conservam a realização prosódica normal de fonema e acentos;
3. ser em forma livres os elementos componentes.
Como primeira propriedade, é preciso observar que a ordem de sucessão os termos
do composto é rígida e entre eles na se pode introduzir nenhum outro elemento. Assim, um substantivo composto como amor-perfeito não poderia sofrer a inversão perfeito-amor. Qualquer adjetivo modificador do grupo deverá estar à esquerda ou à direita deste, não sendo aceitável a sua colocação no interior do composto:
Delicado amor-perfeito
Amor –perfeito delicado
Amor-delicado-perfeito (inaceitável).
A segunda propriedade assinala que os elementos do composto não podem, isoladamente, ser substituídos ou suprimidos.
A expressão colher, amores-perfeitos não admitem a supressão ou a comutação com F (zero) para nenhum dos componentes do composto:
Colher amores-perfeitos
Colher amores F
Colher F perfeitos
A terceira propriedade afirma que os compostos apresentama com frequancia construções sintáticas anómalas, diferentemente do que ocorre com a combinação dos termos dos sintagmas livres.
Como última propriedade, cabe ressaltar que o composto funciona sintaticamente como uma só palavra; sempre pode ser substituído por um único vocábulo:
Admiro a ½ estrada de ferro.
Admiro a ½ pista.
4. CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho é possível expor os aspectos mais importantes do processos formadores de palavras na língua aportuguesa, que é muito extenso e impossível de limitarmos os vários tipos de derivação e composição.
Com relação à derivação, percebemos que embora seja variável o número de afixos presos a uma determinada base, há uma regularidade subjacente, vista pela análise em constituintes imediatos: o vocabulário é sempre constituído de camadas binárias de mesma estrutura, pois não há coincidência entre a ordem linear dos morfemas na cadeia da fala e a sua ordem estrutural.
Sobre os tipos de derivação – parassíntese, regressão e conversão -, é preciso lembrar que não se trata apenas de subdivisões de um mesmo processo básico. Um bom exemplo é no estudo da parassíntese, onde destacamos não só o traço da simultaneidade dos afixos, como também a importância do exame de subsistemas, sem o qual muitos parassintéticos passariam despercebidos.
No que diz respeito à derivação regressiva, um exame sincrônico revelava-se insuficiente para dar conta desse fenômeno, e foi necessário também um estudo diacrônico.
Por conseguinte, à conversão, percebemos a exposição dos limites de uma análise morfológica centrada essencialmente sobre o vocábulo, ou seja, a análise do contexto sintagmático exterior ao vocábulo revela novas facetas do processo de conversão, situando-o no campo da morfossintaxe.
Percebemos a riqueza dos processos de formação das palavras em língua portuguesa – a composição, que se caracteriza por apresentar uma estrutura sintática diferente do que ocorre na derivação.
Em se tratando da estrutura sintática dos compostos, percebemos os fenômenos aparentemente problemáticos, como a flexão de número, que é conveniente insistir que se trata de uma estruturação sintática de sintagmas fixos, contrapostas em muitos aspectos à estrutura dos sintagmas fixos. Isto explica alguns plurais em desacordo com as regras estabelecidas, bem como a existência de duas ou mais possibilidades de pluralização de alguns compostos.
Por fim, percebemos que a reduplicação ou redobro é um processo de estruturação não-onomatopéica. O hibridismo está estreitamente vinculado à composição. Embora seja um processo em que predominam elementos gregos e latinos, dada a grande produtividade desses elementos é possível considerar que o hibridismo também pode ser estudado no campo da sincronia , pois trata de um fenômeno de grande importância no vocabulário, especialmente da língua portuguesa.
5. BIBLIOGRAFIA
KEHDI, Valter. Formação de palavras em português. Série Princípios. Editora Ática, São
Paulo, 1985 (pp. 7-51).
RIBEIRO, Manoel Pinto. Nova Gramática Aplicada da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro, Metáfora Editora: ed. 11ª, 2000.
HELP!, Sistema de Consulta Interativa. Editora Globo. Rio de Janeiro, editora Klick,
1987 (p. 50).