MEMÓRIA
A louça que fazem as
índias do Estado,
para ser apensa as amostras
velhas
que foram remetidas
nos
caixÕes Nº 4, Nº 5 e Nº 8
da primeira remessa
Tanto as amostras
do número 4 e 5,
como
as que foram no
caixão
nº 8, todas são da
louça
que fazem as índias de Barcelos. O que a este respeito participei em
outra ocasião,
quando remeti algumas amostras da louça
fabricadas nos
subúrbios
do Pará, é o
que
agora repito: Que
o barro mais
limpo de areia
é o que elas
mais preferem:
sem
rodas, nem
máquinas algumas empreendem à mão a tal fábrica de panelas,
pratos, [etc. ]
que pronto que
esteja o barro, incorporam com ele a cinza pisada, a
que reduzem a
casca
da árvore "cairaipé...
gênero cairapa,
tábuas
223 e 224 da flora de Guaiana. [Por]que entre si
amassam estas duas substâncias, até as reduzirem a uma massa;
aí vão
dando com as mãos
os feitios que
querem; [por]que
sem este
adubo não
lhes fica a louça
consistente; mas
logo
que têm feito
as formas, as levam ao forno a cozer, que também não é forno, antes um tijupá de lenha,
com que
os cobrem e, de ordinário, são cascas de paus que, tiradas do forno
assim quentes,
como sabem, dão
por
dentro com
uma resina da intaiúca, que ao calor da
forma se derrete, enverniza o
barro
e o deixa como
vidrado; que para
a panela, em
sendo nova, não
comunica ao comer o sabor
da resina, voltam-na com a boca para baixo sobre as brasas,
até se lhe
queimar a resina.
O tanha que é a
cera
de aterro, o curi,
que
é a argila tinta
da mesma obra
já queimado, o
urucu
e o carajuru, são as tintas que
empregam nas diferentes pinturas. É notável
a consistência que
dá ao barro a tal
casca de caraipé [d]os cadilhos assim preparados,
ao que dizem os
curiosos
de experiências diversas. Dos ourives sei eu,
porque vejo que
não são
de outros cadilhos.
Quando
não há a tal
casca, para
se incorporarem com o barro, suprem as escórias
do aterro pisadas
e moídas; se nem
escórias
há, suprem os cascos das tartarugas, depois
de calcinados. Sem
este
adubo, qualquer
que seja dos 3,
mas
uns na tábua dos
outros,
estala a louça.
Barcelos, 05 de fevereiro de 1786.
Códice
21,1,27 da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro