Teorizar a ecdótica
a questão teórica da morte do autor
inviabiliza a ecdótica?

Mario Newman de Queiroz (FAETEC-RJ)

 

A ecdótica se propõe reconstituir a obra literária o mais próximo possível da vontade autoral. Um ponto de discussão se abre imediatamente entre essa disciplina e a teoria da literatura: que vem a ser vontade autoral? A questão se torna ainda mais complicada e conflitante quando nos damos conta que a teoria da literatura, em várias de suas linhas dominantes nos últimos 50 anos, fala sobre a morte do autor, o fim do autor. Percebemos, então, que um verdadeiro conflito de base se trava entre a teoria da literatura e a ecdótica. A nossa questão aqui, neste pequeno trabalho, é se essa querela não pode ser superada, por um prisma que para alguns pode parecer surpreendente, através de uma ecdótica para o fim do autor? Ou, ainda, nos perguntarmos, é impossível conciliar o rigor da ecdótica com as teorias da literatura que afirmam o fim do autor? A nossa proposta então é pensarmos a ecdótica sob um novo plano valorativo. E, para isso, exemplificaremos através das sucessivas leituras e estabelecimentos de texto que o soneto “O último número” de Augusto dos Anjos já recebeu.


 

A ecdótica se propõe reconstituir a obra literária o mais próximo possível da vontade autoral. Um ponto de discussão se abre imediatamente entre essa disciplina e a teoria da literatura: que vem a ser vontade autoral? A questão se torna ainda mais complicada e conflitante quando nos damos conta que a teoria da literatura, em várias de suas linhas dominantes nos últimos 50 anos, fala sobre a morte do autor, o fim do autor. Percebemos, então, que um verdadeiro conflito de base se trava entre a teoria da literatura e a ecdótica. A nossa questão aqui, neste pequeno trabalho, é se essa querela não pode ser superada, por um prisma que para alguns pode parecer surpreendente, através de uma ecdótica para o fim do autor? Ou, ainda, nos perguntarmos, é impossível conciliar o rigor da ecdótica com as teorias da literatura que afirmam o fim do autor? A nossa proposta então é pensarmos a ecdótica sob um novo plano valorativo. E, para isso, exemplificaremos através das sucessivas leituras e estabelecimentos de texto que o soneto “O último número” de Augusto dos Anjos já recebeu.

Após essa colocação de intenções, apresentamos algumas palavras sobre a questão do fim do autor. Por si uma questão polêmica e tantas vezes discutida. Então, vamos a ela como nos parece pode ser brevemente apresentada a partir de Foucault.

Primeiro ponto: Foucault coloca a questão da existência e da morte do autor sob um prisma histórico. Não nos esqueçamos Foucault sempre se coloca como historiador e um historiador que pensa as transformações históricas e as condicionantes históricas. Para Foucault o que hoje nomeamos de autor se articula com os discursos de um modo que nem sempre foi assim, e falar do fim do autor adquire o caráter projetivo de que não será para sempre como existe hoje, e talvez seja “na orla do mar, um rosto de areia” (Foucault, 1987a: 404).

Segundo ponto: repetindo literalmente Foucault, “trata-se de retirar ao sujeito (ou ao seu substituto) o papel de fundamento originário e de o analisar como uma função variável e complexa do discurso” (Foucault, 1992: 70).

O autor, longe de ser uma entidade pacificada, resolvida em torno da figura física de uma existência pessoal, é uma figura conceitual, uma função. Se estudamos um mesmo texto de um autor, por exemplo, mas chegamos a leituras absolutamente antagônicas, cabe perguntar, estamos diante do mesmo autor (pessoa)? Ou de uma figura conceitual que é capaz de servir de território para as nossas duas leituras antagônicas? As nossas práticas contemporâneas de leitura parecem falar a favor desta última. Conforme Foucault, “o nome do autor não está situado no estado civil dos homens nem na ficção da obra, mas sim na ruptura que instaura certo grupo de discursos e o seu modo de ser singular” (Foucault, 1992: 46).

Um olhar para a história do estabelecimento de texto dos poetas gregos arcaicos, Safo, Calino, Alceu, Baquílides..., feita pelos estudiosos de Alexandria, séculos depois da morte dessas pessoas, pode ilustrar bem sobre o que estamos tratando na questão autoral. Quando os textos desses poetas foram estabelecidos, eles foram estabelecidos em conformidade com o que a tradição legara sobre cada um deles. Cooperações as mais diversas podem ter sido incluídas nas obras a que chamamos de poesias de Safo, de Calino, de Alceu, de Baquílides etc. Mas esses nomes são a figura conceitual desses autores.

Aproximando-nos do presente, observemos o que se passa no soneto intitulado “Último número” do poeta Augusto dos Anjos e as diversas maneiras como ele tem sido apresentado em diferentes edições.

O ULTIMO NUMERO

Hora da minha morte. Hirta ao meu lado,
A Idéa estertorava-se... No fundo
Do meu entendimento moribundo,
Jazia o Ultimo Numero cansado!

Era de vel-o, immovel , resignado,
Tragicamente de si mesmo oriundo,
Fóra de sucessão, extranho ao mundo,
Como o reflexo funebre do Increado!

Bradei: – Que fazes ainda no meu craneo?
E o Ultimo Numero, atro e subterraneo,
Parecia dizer-me: “É tarde, amigo!

Pois que a minha antogenica Grandeza
Nunca vibrou em tua lingua presa,
Não te abandono mais! Morro comtigo!”

Reproduzimos o poema aqui conforme consta estabelecido na edição crítica de Zenir Campos Reis. Assim, o ponto que queremos em foco está no verso 12, se dá em torno da palavra “antogenica”, como publicado na Gazeta de Leopoldina. O estabelecimento desta palavra, contudo, de 1914 para cá já tem uma história com algo de rocambolesco. Nas edições da Livraria São José, estabelecidas por Antônio Houaiss e Francisco de Assis Barbosa, os organizadores fizeram uma opção por um vocábulo identificado com o cientificismo da época do poeta, vocábulo de fácil localização na obra, por exemplo, de Ernest Haeckel, trocaram então a palavra “antogenica” por “ontogênica” em ortografia atualizada.

A substituição do vocábulo não ocorria, no entanto, pela primeira vez, já na segunda publicação do poema, no Almanaque do Estado da Paraíba de 1917, a palavra era substituída por outra, vindo agora “antagonica”, talvez por ser mais familiar que o primitivo “antogenica”. Quando da publicação da 2ª edição do Eu, agora acrescido de “outras poesias”, a edição organizada por Órris Soares, o poema voltava à forma primitiva com “antogenica”, termo que se refere à formação de gemas florais (segundo a datação etimológica do dicionário Houaiss, marca sua entrada na língua portuguesa em 1909) e que poderia ter sido realmente vocábulo do gosto de Augusto dos Anjos, quer pelo cunho científico, quer pelo seu caráter de vocábulo novo e universal como se propõe ser um vocábulo científico, quer pela sonoridade pouco comum, quer pelas associações fônicas que ele suscita, empregado de forma metafórica no discurso do último número sobre si mesmo a se pôr numa condição “naturalizada” como ente corpóreo tal como na concepção pitagórica.

Na tradição pitagórica os números eram elementos corpóreos da natureza. Em Os filósofos pré-socráticos, G. S. Kirk e J. E. Raven observam, seguindo Aristóteles, que os pitagóricos consideravam o universo como constituído por números, querendo com isto dizer que “os objetos concretos eram literalmente compostos de agregados de unidades-pontos-átomos” (Kirk; Raven, 1990: 253). É de se supor que a relação estabelecida entre a morte e o último número no poema de Augusto dos Anjos tenha a ver com as postulações do pitagórico Alcméon de Crotona quando, em citação de Aristóteles, diz que “os homens morrem pelo facto de não poderem juntar o começo ao fim” (Kirk; Raven, 1990: 238.) Tomada a vida dos homens como uma série numérica[1], seria a existência de um “último” número possibilitada pela não obtenção de um retorno ao número primeiro e à conseqüente não realização da forma perfeita circular, como na “harmonia das esferas”[2].

Deve-se observar que há no poema um grupo significativo de traços que podem ser índices de referências ao pitagorismo ou às suas inúmeras linhas de influência presentes no tempo do poeta como ainda hoje. A relação mística para com os números oriunda dos pitagóricos está presente nas concepções de várias sociedades místicas e teosóficas como as Lojas Maçônicas, as Rosas Cruz, em toda revivescência platônica e da qual a físico-matemática não se encontra de todo isenta. A presença da “Idéa”, no segundo verso, remete à antiga polêmica criada por Aristóteles ao ter afirmado que Platão teria ensinado que os eide são números, muito embora isto não conste em nenhum dos diálogos de Platão (Peters, 1983: 40). Pouco adiante, tem-se no poema a presença do “Ultimo Numero” que jazia “cansado” e no verso seguinte a ele se aplica o adjetivo “immovel” que para o pitagorismo, mormente em Alcméon, é a imobilidade, demarcadora de um último estágio ou momento, a razão da própria mortalidade.

Tal como estes, também Alcméon parece ter defendido a mesma idéia acerca da alma; pois ele diz que a alma é imortal devido à sua semelhança com as coisas imortais; e que tem esta qualidade porque está sempre em movimento; pois tudo o que é divino está em movimento contínuo – o Sol, a Lua, as estrelas e a totalidade do céu. (Kirk; Raven, 1990: 238)

Essa paralização, esse número imóvel se mostra, então, nos versos 7 e 8, como “Fóra de successão”, “Como reflexo funebre do Increado”, pois se o uno é infinito ele não pode ter sido criado (o velho silogismo de se teve um início, um momento inicial não pode ser infinito, o infinito não pode, pois, ter um nascimento) e é a partir do “um” que se faz a sucessão das séries numéricas, como “arché” do mundo físico. Como na fé cristã a criatura é reflexo do criador, num símile com o pitagorismo, qualquer número seria reflexo do primeiro número, do Incriado. Reflexo fúnebre, pois dele, imóvel, nenhuma série se fará, ele rompe as linhas de sucessão e surge singular, individuado, em seu instante insuperável.

Tem-se então nos dois tercetos um diálogo imaginário entre o moribundo e o número que se recusa a ser sucedido por outro. É nesse diálogo, em que o último número fala de si mesmo, que se tem a palavra “antogenica”, que surge em publicação de 1917, como “antagonica”, e que Antônio Houaiss e Francisco de Assis Barbosa vão estabelecer a partir da 29ª edição do Eu como “ontogênica”. Mas, antes ainda da lição estabelecida por Houaiss e Assis Barbosa, antes mesmo daquela publicada em 1917, à ocasião da morte do poeta, publicado no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, em dezembro de 1914, Antônio Torres em seu louvor ao poeta intitulado “O poeta da morte” trazia o poema com uma outra variante “autogenita”, confirmada por Humberto Nóbrega, em estudo de 1962. E, a tirar pelas duas edições da Bedeschi que consultamos, a 19ª de 1952 e a 25ª de 1952, é provavelmente a variante constante no maior âmbito de difusão da obra (a Bedeschi editou da 6ª em 1934 à 28ª em 1961, sempre trazendo o texto de Antônio Torres como introdução) com “autogenita”.

A forma “autogenita”, sendo forma derivada de “autogênese”, diria do que é gerado por si mesmo, em “geração espontânea”, estaria na voz do próprio número corroborando com a afirmação do verso 6, “Tragicamente de si mesmo oriundo”, sendo, pois, também possível de ser tida como a forma pretendida pelo poeta.

Prosseguindo com a análise do poema vemos que o contexto pitagórico do poema é reforçado também pela palavra que está determinada pelo “antogenica”, ou “antagonica”, ou “autogenita”, ou “ontogênica”, a palavra “Grandeza”, escrita com inicial maiúscula, pois conforme também se pode encontrar em observação de Aristóteles para os pitagóricos, e somente para estes, os números não eram abstrações, mas possuíam grandeza (Kirk; Raven, 1990: 250-53), significando com isso que as unidades teriam extensão, sendo este um dos pontos mais controversos a respeito da concepção pitagórica dos números. Mas outro traço polêmico da determinação de uma doutrina pitagórica está na chamada “tábua dos contrários” que teria sido desenvolvida a partir de Alcméon, pois este teria observado que a maioria das cousas humanas ocorre aos pares, formando contrários: branco e preto, doce e amargo, bom e mau, grande e pequeno etc., assim como há o limitado e o ilimitado, o macho e a fêmea, o par e o impar, o reto e o curvo etc. (Kirk; Raven, 1990: 243.). Esta questão dos contrários então, cabe perguntar, não abriria possibilidades para que a forma exata no poema fosse aquela publicada no Almanaque do Estado da Paraíba de 1917, “antagonica”? Justamente aquela que parece ser a menos provável e é pelos vários editores a mais recusada, não encontra também a sua possibilidade? Parece que sim.

A variante preferida (ou produzida) por Antônio Houaiss e Francisco de Assis Barbosa com “ontogênica” tem a enorme chance de ser a mais correta, pois traria para dentro do contexto hermético, pitagórico do poema, aquele outro tão querido do poeta, o do cientificismo de Haeckel. Significando a palavra, conforme Ernest Haeckel, “a história do desenvolvimento (orgânico) do indivíduo” que bem se aplica ao caso do número falando de si mesmo. A edição de uma antologia intitulada Os melhores poemas de Augusto dos Anjos, com seleção e prefácio por José Paulo Paes, já na 4ª edição em 2003, publicada pela editora Global, apresenta também o texto do poema conforme a fixação feita por Antônio Houaiss e Francisco de Assis Barbosa.

Porém, uma nova variante surge na edição da Obra completa de Augusto dos Anjos da Editora Nova Aguilar, estabelecida por Alexei Bueno e explicada em nota ao fim do volume (sem indicações no corpo do texto). Após descartar a variante “antogenica” por não fazer “nenhum sentido” e “antagonica” pelo mesmo motivo, o editor ressalta a variante “autogênita” que é um neologismo que faz sentido, “mas que se afasta muito da forma da primeira publicação, pois exige a mudança de duas letras... ou seja, a troca de n e c por u e t” (Bueno, 1995: 832.). A seguir comenta de forma favorável sobre a variante apresentada por Houaiss e Assis Barbosa, com relação aos aspectos semânticos e estilísticos, conclui dizendo: “apesar de a troca de um o por um a no início da palavra não ser dos erros mais corriqueiros, embora rigorosamente possível”. Condena a fixação do texto feita por Zenir Campos Reis – muito embora este tenha procedido absolutamente dentro das normas de apresentação de uma edição crítica, tanto na fixação do texto quanto no tratamento das variantes – por ser excessivamente fiel à “lição inaceitável da Gazeta de Leopoldina e da 2ª edição do Eu”. Para logo a seguir apresentar a sua lição.

Finalmente chegamos à presente lição, com a qual julgamos reencontrar, após oitenta anos de equívocos, a forma original do verso:

Pois que a minha autogênica Grandeza

Tendo o mesmo sentido da forma autogênita, mas alterando apenas uma letra da palavra original, em vez de duas, não sendo como esta um neologismo incomum, e explicando facilmente o surgimento da forma antogênica, pelo tradicional erro tipográfico da troca do u pelo n, letras do mesmo formato que se distinguem pela posição na vertical, julgamos probabilíssimo ter sido esta a palavra usada pelo poeta.

Essa nova variante já frutifica em novas edições como podemos ver na 45ª edição do Eu, pela editora Bertrand Brasil, de 2002, igualmente com a variante “autogênica”, que embora bem cuidada por Ivaldo Pio de Azevedo traz, como vimos acima no caso do “Recife” sucedido por ponto ou por vírgula, uma nota da editora afirmando serem as edições de 35 a 42 (pela Civilização Brasileira) reproduções ipsis literis do texto da 31ª edição (pela Livraria São José) e a edição em pauta (a 45) utilizar como texto base o da 42. Mas novamente ocorre aqui o que já apontáramos. A julgar pela 35ª edição, onde encontramos o poema em questão com a palavra “antogênica” e não “ontogênica” como deveria se reproduzisse a 31ª edição com a lição de Houaiss e Assis Barbosa.

O que parece saltar aos olhos no caso do estabelecimento de texto deste poema é que todas as variantes apresentadas podem ser legitimadas por uma análise que leve em conta como salientou Antônio Torres o caráter hermético, ocultista do poema.

É um soneto cabalístico, não há negá-lo. É sibilino. Que será o “último número”? Será a última vibração do seu ser em prol da Beleza? Será o último transporte das suas faculdades em direção à sua companheira de todos os dias – a Poesia? Será a sua derradeira aspiração a objetivar na angústia de uma estrofe todo o infinito que ele trazia dentro de si? (Torres, 1973: 104)

A solução encontrada por Alexei Bueno parece não levar em conta (e não por ignorá-las) as condições de aparição do poema. O poeta tísico, no leito de morte, já sem condições de escrever, talvez entre ataques de tosse e apoplexia, dita o poema para alguém que o transcreve. Depois o poema manuscrito é levado para a redação do jornal da pequena cidade mineira de Leopoldina, em que residia àquela altura o poeta, e ali tem sua primeira publicação. Tem-se assim a possibilidade da compreensão da palavra menos corriqueira do poema já ter sido corrompida na escuta de quem o transcreveu, tornando o critério ecdótico, como o quer entender Alexei Bueno, “o da maior probabilidade de determinados erros tipográficos” (Bueno, 1995: 832), infrutífero para, em seus termos também, “reencontrar” a forma “original do verso” e estabelecer a lição corretora de oitenta anos de equívocos.

A “lição” de Alexei Bueno parece-nos apontar não para uma fixação definitiva do texto do poema de Augusto, mas para o caráter rizomático da máquina poética de Augusto dos Anjos. A capacidade de trazer para si o leitor para que ele também ali desenvolva essa potência rizomática da poesia em traçar linhas de fuga, mesmo quando ele, o leitor, pensa estar definindo o caminho significante do poema. A resposta que Antônio Torres dá às suas próprias indagações sobre o que seria o último número, parece aqui também ter sua eficácia, “Pode não ser nada disso e pode ser tudo isso ao mesmo tempo...” O soneto de Augusto à beira da morte está ainda vivo, plástico, se transformando ainda em sua matéria significante por sobre a matéria da morte, sugerindo-nos que nós o produzamos ainda mais, ainda mais uma vez. Participemos da obra desse autor com nossa autoria, entremos na máquina literária de Augusto dos Anjos.

Fato, porém, de suma importância para nós hoje, aqui, nesta Semana, somente através do acompanhamento crítico das edições podemos chegar aos desenvolvimentos a que um texto se entrega às diversas reescritas que ele sofre, os diversos desejos de autoria que tentam se apossar do texto. A lição definitiva a que chegou Alexei Bueno, longe de apontar para uma vontade autoral, fala-nos, exemplarmente, que a vontade do autor será sempre uma nova articulação autoral do leitor.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. Edição especial revista e ampliada aos cuidados de Ivaldo Pio de Azevedo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

––––––. Obra completa. Organização, fixação de texto e notas por Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

––––––. Eu e outras poesias. 35ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.

––––––. Toda a poesia. Com um estudo crítico de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

––––––. Eu (outras poesias e poemas esquecidos). Fixação de texto e nota por Antônio Houaiss, com Elogio de Augusto dos Anjos por Orris Soares, e Notas Biográficas por Francisco de Assis Barbosa, além de fac-símiles de capas e de folhas de rosto. 31ª ed. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1971.

––––––. Eu e outras poesias. Com um estudo por Antônio Torres (1914). 19ª ed. Rio de Janeiro: Bedeschi, 1952.

––––––. Eu e outras poesias. Com um estudo por Antônio Torres (1914). 25ª ed. Rio de Janeiro: Bedeschi, 1958.

BUENO, Alexei. Notas e variantes. In: ANJOS, Augusto dos. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.

DELÉTAIN, Simone. L’Arithmologie: Le grand Cosmos pythagorien. In: NÉROMAN, Dom. (Dir.) Grande Encyclopédie Illustrée des Sciences Occultes. Tome II. Paris: Argentor, 1952.

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. 4ª ed. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1987a.

––––––. A arqueologia do saber. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987b.

––––––. O que é um autor? Lisboa: Veja, 1992.

KIRK, G. S; RAVEN, J. E. Os filósofos pré-socráticos. Tradução de Carlos Alberto Louro Fonseca, Beatriz Rodrigues Barbosa, Maria Adelaide Pegado. 3ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990.

PETERS, F. E. Termos filosóficos gregos: um léxico histórico. Tradução de Beatriz Rodrigues Barbosa. 2ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

TORRES, Antônio. O poeta da morte. In: COUTINHO, Afrânio; BRAYNER, Sônia. Augusto dos Anjos: textos críticos. Brasília: INL, 1973.


 


 

[1] – “A geração da série numérica é, para os pitagóricos, tanto a geração dos objectos da geometria como dos da cosmogonia. Visto que as coisas são iguais aos números, a primeira unidade ao gerar a série numérica, está também a gerar o universo físico.” (Ibidem, p.261).

[2] – Simone Delétain, estudiosa de ocultismo, chama atenção para a semelhança entre essa concepção presente na esfera de Pitágoras desenvolvida pelos místicos e a serpente Ouroboros, símbolo da eternidade cíclica, do que não tem início nem fim, pois emenda-os uns nos outros. (Cf. Delétain, 1952: 103-05).