O ITEM VOCÊ EM PERSPECTIVA FUNCIONAL
Márcia de Assis Ferreira (UFF)
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, pretendemos apresentar análise parcial quantitativa e qualitativa preliminarmente realizada em nossa pesquisa, ora em andamento, para elaboração de dissertação de Mestrado, cujo tema versa em torno do uso genérico do item você. Estamos verificando a continuidade do processo de gramaticalização por que você vem passando. Questionamentos acerca do comportamento lingüístico do termo, que tradicionalmente é classificado com pronome de tratamento, o que parece não dar conta da variedade de usos que apresenta, acabaram por nos levar à elaboração de algumas hipóteses iniciais:
a) Os usos do item você seguem trajetória do + concreto para o + abastrato;
b) Falantes mais escolarizados tendem a apresentar maior registro de usos mais abstratos de você;
c)Textos de natureza descritiva, tais como o relato de procedimento e de natureza argumentativa, como o relato de opinião, são contextos favorecedores desses usos;
d) Nos textos de natureza descritiva usa-se você para indefinir elementos; nos de natureza argumentativa, para indeterminar.
Na necessidade de buscar confirmação de nossas hipóteses, elegemos o corpus do grupo Discurso & Gramática, constituído de tipologia textual diversa, razão por que optamos por sua escolha, com registro de fala e escrita de informantes de todos os níveis de escolaridade, ou seja, da alfabetização ao ensino superior. Além dessas variáveis, é importante enfatizar que os falantes são de cinco cidades brasileiras de diferentes regiões, sul, sudeste e nordeste.
A escolha da orientação teórica, o funcionalismo americano, pautou-se no fato de os pressupostos teórico-metodológicos dessa escola irem ao encontro de uma concepção de língua com a qual compartilhamos, além de considerar os usos, os usuários, e a situações comunicativas na descrição dos fatos lingüísticos.
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Visto que a perspectiva funcionalista leva em conta, nos estudos sobre a língua, o conjunto de situações comunicativas em que ocorre o procedimento lingüístico, optou-se por esta teoria. E o que corresponde a esse conjunto? Os interlocutores, as condições de produção, a dinâmica do ato comunicativo enfim.
Um postulado básico do funcionalismo é a relação natural entre forma e função, a chamada iconicidade, proposto por Bolinger (1977) e Givón (1990). Afirmar que há uma relação icônica, em sua versão mais forte, entre expressão e conteúdo implica estar ciente de que a estrutura da língua reflete, de algum modo, a estrutura da experiência. Em outras palavras, não há o acaso em termos lingüísticos, mas sim intencionalidade.
A relação de um-para-um entre forma e função, no entanto, é o que se denomina versão forte do princípio da inconicidade. Em versão mais branda, admite-se que pode haver opacização entre codificação e função desempenhada, ou seja, perda de transparência.
Gramaticalização, por sua vez, relaciona-se, em perspectiva diacrônica, à mudança contínua de categorias e significados. Segundo Hpper & Traugott (1993) , em perspectiva sincrônica, relaciona-se ainda ao estudo dos padrões fluidos de uso lingüístico. Nesse sentido, é possível de se verificar não apenas a mudança do ponto de vista diacrônico, em que se evidencia a trajetória de um item do léxico à gramática, mas também, sincronicamente, a aquisição de novas propriedades por um elemento já gramatical.
O esquema de ondas cíclicas proposto por Givón (1979) representa a maior parte dos processos de gramaticalização, prevendo a seguinte trajetória que as formas lingüísticas podem percorrer para que se caracterizem tipos de variação e mudança lingüística:
discurso>sintaxe>morfologia>morfofonologia>zero
Parâmetros caracterizadores da gramaticalização foram formulados por Heine et alii (1991): manipulação conceitual (a gramaticalização) implica alteração do significado da forma fonte; unidirecionalidade (a direção da mudança se dá das formas lexicais para as gramaticais ou das menos gramaticais para as mais gramaticais e não no sentido contrário); assimetria forma/significado (itens que deram origem à forma gramaticalizada não desaparecem necessariamente após o surgimento da nova forma o que pode implicar casos de polissemia); decategorização (a mudança de categoria impede que a nova forma seja modificada pelos processos morfossintáticos da classe original); perda de autonomia (perda de autonomia morfossintática); erosão (perda de material fonético); recategorização (formação de morfemas específicos, o que recupera a simetria forma/significado).
As diferentes fases do processo de gramaticalização revelam também um aspecto considerável a ser observado. Segundo Heine e Reh (1984 apud, Heine et alii), quanto mais gramaticalizada uma forma se torna, mais perde em complexidade semântica, significação funcional e/ou valor expressivo. Além disso, mais perde em significação pragmática e ganha em significação sintática ao passo que mais reduzido se torna o número de membros que pertencem ao mesmo paradigma morfossintático. A sua variabilidade sintática decresce, o que implica maior fixidez no que se refere à sua posição dentro da cláusula. A obrigatoriedade do seu uso em determinados contextos aumenta. Em contrapartida, pode se tornar agramatical em outros contextos. Por fim, mais se funde semântica, morfossintática e foneticamente com outras unidades e perde mais em substância fonética.
ANÁLISE PARCIAL
Foram registradas 1142 ocorrências do item você usado genericamente nos 1580 textos lidos, que se dividiam em 790 na modalidade oral e 790 na modalidade escrita. Em uma primeira análise, pôde-se evidenciar o uso em questão tanto em textos orais quanto escritos. Foram registradas 49 ocorrências na modalidade escrita ao passo que na oral foram encontradas 1193. Há que esclarecer, no entanto, que a quantidade de material que reproduzia escrita era bastante menor em termos quantitativos que o material que reproduzia a fala. Dessas 49 ocorrências observadas na escrita, o maior número concentrou-se no relato de procedimento no qual foram computadas 29. Em seguida, 12 para descrição de local, 07 para relato de opinião e 01 para narrativa de experiência. Esses dados, embora pouco expressivos em termos percentuais, podem apontar uma tendência no decorrer dos processos de variação e mudança lingüística, no sentido de que os registros escritos também podem acabar por regularizar tal uso.
Foi possível constatar ainda a presença desse você genérico em todos os subgêneros textuais pesquisados, embora a ocorrência seja bem menos significativa nas narrativas recontadas e nas narrativas de experiência pessoal. Semelhante ocorrência pode implicar alguma mudança futura em que outros contextos passem a eleger o item para compor o discurso.
O tipo de texto, em modalidade oral, em que mais se registrou o uso do item em questão foi o relato de procedimento, acompanhado de perto, em termos quantitativos, do relato de opinião. Registraram-se 447 ocorrências daquele e 373 deste. Poder-se-ia dizer inicialmente então que contextos descritivos e argumentativos parecem ser mais favorecedores desse comportamento lingüístico.
Quanto à escolaridade, pôde-se verificar que são os falantes de ensino médio e superior os que mais apresentaram o uso. Dos 1580 textos lidos, 530 foram produzidos por falantes dessas faixas de escolaridade. Esse total corresponde a 1/3 do total de textos produzidos. Foi justamente neste 1/3 onde mais se registrou a ocorrência: 830. Semelhante resultado pode estar relacionado a maior capacidade que falantes mais escolarizados têm de usar itens cuja gramaticalização os caracteriza como passíveis de desempenharem funções mais abstratas, ou seja, usar um item cuja função é pronome de tratamento como pronome indefinido ou como recurso a indeterminação do sujeito.
São mostradas abaixo as tabelas em que se podem observar os números relativos às ocorrências do item em questão. Esse primeiro levantamento foi de fundamental importância para que se verificasse a necessidade de alguns recortes para análise qualitativa que será feita em uma segunda etapa da pesquisa.
As tabelas apresentam os tipos de textos produzidos tais como narrativa de experiência pessoal (NE), narrativa recontada (NR), descrição de local (DL), relato de procedimento (RP) e relato de opinião (RO), bem como se dividem em modalidade oral (O) e modalidade escrita (E). Como os dados foram coletados na década de noventa, optou-se por manter a denominação de primeiro, segundo e terceiro graus no que se refere à escolaridade dos informantes.
Corpus D&G do Rio de Janeiro
Totais de Ocorrências por:
A)Tipo de Texto
B)Modalidade
C)Nível De Escolaridade
TI´PO |
NE |
NR |
DL |
RP |
RO |
|||||
MODAL. |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
3ºG |
03 |
- |
01 |
- |
09 |
- |
42 |
- |
72 |
01 |
2ºG |
- |
- |
03 |
- |
10 |
- |
77 |
- |
29 |
02 |
8ªS |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
03 |
- |
01 |
- |
4ªS |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
53 |
13 |
- |
01 |
ALFA |
- |
- |
- |
- |
- |
02 |
- |
- |
- |
- |
TOTAL |
03 |
- |
04 |
- |
19 |
02 |
175 |
13 |
102 |
04 |
Obs.: Em relação ao corpus do Rio de Janeiro, vale destacar que o total de informantes foi de 93, o que corresponde a mais que o dobro do número de informantes dos demais corpora.
Corpus D&G de Niterói
Totais de Ocorrências por:
A)Tipo de Texto
B)Modalidade
C)Nível de Escolaridade
TIPO |
NE |
NR |
DL |
RP |
RO |
|||||
MODAL. |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
3ºG |
- |
01 |
- |
- |
05 |
06 |
01 |
02 |
02 |
- |
2ºG |
- |
- |
- |
- |
05 |
- |
11 |
- |
03 |
- |
8ªS |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
06 |
- |
07 |
- |
4ªS |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
08 |
04 |
04 |
- |
ALFA |
01 |
- |
- |
- |
01 |
- |
03 |
- |
- |
- |
TOTAL |
01 |
01 |
- |
- |
11 |
06 |
29 |
06 |
16 |
- |
Corpus D&G de Juiz de Fora
Totais de Ocorrências por:
A)Tipo de Texto
B)Modalidade
C)Nível de Escolaridade
TIPO |
NE |
NR |
DL |
RP |
RO |
|||||
MODAL. |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
3ºG |
- |
- |
- |
- |
09 |
- |
47 |
- |
21 |
- |
2ºG |
- |
- |
03 |
- |
10 |
01 |
63 |
04 |
49 |
- |
8ªS |
02 |
- |
- |
- |
01 |
- |
04 |
- |
13 |
01 |
4ªS |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
ALFA |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
05 |
- |
TOTAL |
02 |
- |
03 |
- |
20 |
01 |
114 |
04 |
88 |
01 |
Corpus D&G de Natal
Totais de Ocorrências por:
A)Tipo de Texto
B)Modalidade
C)Nível de Escolaridade
TIPO |
NE |
NR |
DL |
RP |
RO |
|||||
MODAL. |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
3ºG |
15 |
- |
02 |
- |
91 |
02 |
21 |
- |
86 |
01 |
2ºG |
30 |
- |
02 |
- |
34 |
01 |
60 |
- |
91 |
- |
8ªS |
- |
- |
- |
- |
04 |
- |
43 |
02 |
06 |
01 |
4ªS |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
12 |
04 |
- |
- |
ALFA |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
TOTAL |
45 |
- |
04 |
- |
129 |
03 |
136 |
06 |
183 |
02 |
Corpus D&G de Rio Grande
Totais de Ocorrências por:
A)Tipo de Texto
B)Modalidade
C)Nível de Escolaridade
TIPO |
NE |
NR |
DL |
RP |
RO |
|||||
MODAL. |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
O |
E |
3ºG |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
02 |
- |
01 |
- |
2ºG |
- |
- |
- |
- |
04 |
- |
- |
- |
- |
- |
8ªS |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
02 |
- |
4ªS |
- |
- |
- |
- |
01 |
- |
- |
- |
- |
- |
ALFA |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
|
TOTAL |
- |
- |
- |
- |
05 |
02 |
- |
03 |
- |
INTERPRETAÇÕES INICIAIS
Martelotta (1996), interpretando as funções propostas por Halliday, aponta que para se entender determinados aspectos da gramaticalização deve-se considerar três funções da linguagem que seriam a ideacional, a textual e a interpessoal. A primeira consiste na expressão da experiência do falante em relação ao mundo real e ao mundo interno da sua consciência. A segunda compreende a construção e organização do texto e a terceira, por sua vez, consiste na interação entre a expressão, o desenvolvimento da personalidade do falante e a expectativa do ouvinte (Martellota, 1996).
Consideraremos aqui, na interpretação do uso em questão, a segunda e a terceira funções, tendo em vista a distinção que o autor estabelece entre componente de orientação para o falante e componente de orientação para o ouvinte. Este associa-se ao estabelecimento de relações comunicativas, ao passo que aquele constitui-se de julgamentos, atitudes, crenças que estão na mente do falante.
Já que o relato de procedimento é um texto em que se deseja, em princípio, mostrar como proceder para efetivar dadas ações, é comum que o componente de orientação para o ouvinte se manifeste por ordens, pedidos, ou ainda através de expressões que direcionam imposições ao ouvinte. Assim, pode-se justificar a presença acentuada desse uso do você em relatos de procedimento e de opinião visto serem contextos que pressupõem a existência de um interlocutor, ainda que este não exista concretamente ao se relatar dado procedimento ou opinião. Além disso, a função textual também se faz presente por orientar a interação, o que se verifica nos contextos relato de opinião. Transcreveu-se abaixo um fragmento de relato de opinião que passa a ser objeto de algumas interpretações:
Exemplo 1
... faz-se necessário que o indivíduo tenha uma religião...porque...porque ele precisa acreditar em alguma coisa...tem que::você tem que ter um...você tem que ter um objetivo...né...não importa a religião que seja...(corpus Discurso &Gramática de Natal)
A falante emite uma opinião acerca da necessidade de se ter uma religião fazendo referência, inicialmente ao “indivíduo” que seria o elemento sujeito, porém não determinado. Em um segundo momento, ao justificar o porquê da necessidade, retoma anaforicamente o indivíduo, usando um pronome pessoal de referência à terceira pessoa. Logo após, usa a forma você também para estabelecer coesão anafórica. Assim, evidencia-se que um termo de natureza substantiva e outro de natureza pronominal são retomados por um terceiro elemento também de natureza pronominal.
Ao usar você, quando poderia usar “o indivíduo”, “a pessoa”, “o sujeito”, a falante revela saber usar e interpretar interacionalmente esse item, na verdade, confirma a sua competência comunicativa. Se você é uma forma reconhecida e interpretada pelos usuários da língua como um pronome, pode ocupar, portanto, o lugar de um nome substantivo que sirva para fazer referência a um sujeito animado, porém não especificado sem que se prejudique em termos de clareza a recepção da mensagem na interação. O você que se destacou nesse exemplo estaria sendo usado como um recurso para indeterminação do referente.
O próximo exemplo é um fragmento de uma descrição de local em que se observa o você usado mais com um recurso para indefinição, visto que não se pode recuperar com precisão o referente. É importante ressaltar ainda que esse você não pode ser interpretado como pronome de tratamento em face à natureza monologal do corpus.
Exemplo 2
...essa casa é uma casinha...não muito grande...mas ela tem...tem dois quartos...tem a sala...mas o lugar ali que eu mais gosto é a ::exatamente a varanda dela que dá de frente pro mar...no caso ali você não chega a pegar o sol...da tarde...mas você vê o nascente do sol ali...nascendo lá embaixo no horizonte do... da lagoa né no mar... (corpus Discurso & Gramática de Niterói).
Um subprincípio da iconicidade, a quantidade, e o parâmetro peso, também podem explicar os usos nos dois exemplos apresentados. Segundo o subprincípio quantidade, informação imprevisível e maior apresenta forma cuja estrutura sintática ou componentes fônicos também são maiores. Por outro lado, informações mais referenciais e previsíveis necessitarão de forma também menor. Em relação ao parâmetro peso, constituintes mais leves apresentam maior referencialidade e definitude.
Usar você para retomar o indivíduo no primeiro exemplo e para fazer referência quem quer que seja, no segundo, parece ser funcionalmente mais apropriado uma vez que o sujeito em si não é relevante tampouco imprevisível, mas sim aquilo que ele deve fazer, no primeiro caso, e a descrição do local, no segundo. Portanto, pode-se utilizar uma forma menor.
Outro comportamento relevante diz respeito à variação observada entre a forma você e a gente. Semelhante fato parece confirmar o postulado de que a gramaticalização tipicamente não ocorre em função do preenchimento de falhas no domínio funcional. As alternantes, na verdade, competem com outras que exercem a mesma função:
Exemplo 3
...eu acho que falta muito hoje...é você...ter alguém...entendeu? ter um tipo de::/alguém que você possa conversar a respeito de...a respeito do que você quer...entendeu? o que você pensa que isso pode...e o que você pensa...isso pode te ajudar... na escolha profissional...você...::/se a gente tivesse alguém que pudesse se abrir mais pra gente conversar... (Corpus Discurso & Gramática de Juiz de Fora)
Ao usar o você indeterminado a falante alterna esse uso com o pronome a gente cujo significado de fazer referência à pessoa que fala, deiticamente determinada, não é o que está presente nesse contexto, mas há um resgate do significado originalmente indeterminador presente no substantivo gente, também usado para nomear coletiva e indeterminadamente um agrupamento de seres humanos. Observa-se aqui um contexto de variação em que uma mesma função é representada por formas diferentes.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise preliminar do corpus que compõe o presente projeto, pôde-se constatar serem os subgêneros textuais relato de opinião e relato de procedimento na modalidade oral os contextos mais produtivos no que se refere ao uso indeterminado e impessoal de você. Além disso, o fato de ter sido verificado que o uso é recorrente em duas faixas escolares, Ensinos Médio e Superior implica serem os subgêneros citados produzidos por esses grupos os que deverão ser selecionados para uma análise mais minuciosa em uma segunda etapa da pesquisa.
Mesmo a percepção de que o pronome nem sempre ocorre de maneira indeterminada, assumindo em alguns contextos certa indefinição, orienta para uma novo procedimento de avaliar os aspectos funcionais de um e de outro tipo de ocorrência, aplicando-se o suporte teórico funcionalista na tentativa de interpretá-los.
Outro ponto de interesse recai sobre a alternância entre as formas “você”, “a gente” e “tu” nos contextos pesquisados. Investigar mais de perto fatores motivadores de uso ora de um ora de outra forma pode levar a interpretações ainda mais abrangentes no que diz respeito ao aspecto funcional, na tentativa de entender o comportamento lingüístico dos falantes.
Sabe-se que a análise aqui realizada ainda é superficial, pois há que se verificar ainda questões relativas aos cinco princípios propostos por Hopper para detectar os primeiros estágios de um processo de gramaticalização, bem como as relativas a outros postulados dentro do funcionalismo. Pretende-se, pois, dar continuidade à pesquisa tendo em vista essas considerações e as lacunas que ainda faltam ser preenchidas.
BIBLIOGRAFIA
BOLINGER, Dwigth. Meanig and form. London : Longman, 1977.
GIVÓN, Talmy. On understanding grammar. New York : Academic Press, 1979.
_____. Functionalism andr grammar. Amsterdam :Benjamins, 1995.
HEINE, Bernd. et alii... Gramaticalization: a conceptual framework. Chicago : The University of Chicago Press, 1991.
HOPEER, Paul J. On some principles of grammaticization. IN: Traugot e Heine (ed). Aproaches to grammaticalization. 2 vols. Amsterdam : Benjamins, 1991.
MARTELLOTA, Mario E. et alii (org). Gramaticalização no português do Brasil - uma abordagem funcional. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 1996.
NICHOLS, Johanna. Funcional theories of grammar. Anuual Review of Anthropology, 1984.