ANÁLISE ACÚSTICO-ARTICULATÓRIA DAS VOGAIS ASSILÁBICAS DO PORTUGUÊS DO RIO DE JANEIRO
Adriano de Souza Dias
(UFF)
Mirian da Matta Machado (UFF)
INTRODUÇÃO
Em língua portuguesa, até o presente momento, há poucas pesquisas que tratam da questão das vogais assilábicas. Temos conhecimento apenas dos artigos de ZERLING & MOUTINHO (ZERLING, 1988, 177-201) e de MATA DA SILVA (MATA DA SILVA, 1987, p. 379-400) que abordam esse tema para o Português de Portugal. CÂMARA Jr. (1970: 45-46) considera a existência dessas vogais assilábicas no português, por uma abordagem de seus valores lingüísticos, pois se refere, somente, ao aspecto fonêmico.
Assim, a descrição acústico-articulatória dessas vogais continua sem ter sido tratada no Brasil, até onde chegam nossos conhecimentos. Esta é a razão, que nos levou a fazer uma pesquisa baseada em métodos de Fonética Experimental, a fim de descrever a natureza acústico-articulatória dessas vogais e das suas correspondentes silábicas, para aferir as semelhanças e diferenças entre ambas, na expectativa de contribuir para uma descrição precisa e científica do sistema vocálico do português do Rio de Janeiro.
As vogais assilábicas do português apresentam problemas complexos, não somente do ponto de vista de sua interpretação fonológica, como também do ponto de vista de sua realização fonética.
Assim, desenvolvemos, nesta pesquisa, uma análise das qualidades físicas dos sons vocais: duração, intensidade e freqüência dos dois primeiros formantes.
II - METODOLOGIA
Para esta pesquisa, dispusemos de três informantes, naturais do Rio de Janeiro. Estes realizaram as gravações do corpus em estúdio especializado, de alta tecnologia acústica e equipamentos adequados ao trabalho proposto. A gravação foi realizada num único dia e cada informante leu todas as frases, na seqüência do corpus. Vale ressaltar que o corpus foi dado aos informantes, com a antecedência devida, a fim de que os mesmos pudessem se familiarizar com as frases, facilitando assim a realização do corpus no estúdio. Por medida de segurança, gravamos duas vezes cada informante.
No estúdio, havia a orientação técnica de um especialista em gravações que controlava todos os índices sonoros, com o escopo de proporcionar uma gravação precisa. A orientadora desta pesquisa, Profª Doutora Mirian da Matta Machado, com larga experiência em gravação, também se fez presente e monitorou toda a gravação.
O corpus foi constituído de 34 (trinta e quatro) frases que foram realizadas por cada informante de maneira a mais espontânea e natural possível, em um ambiente em que cumpria totalmente esses requisitos.
Posteriormente, essa gravação foi transferida para um microcomputador do tipo PC-AMD K6 II 500, com 64 Mb de memória e placa sound blaster de 132 bites não-compartilhada.
Nesse micro-computador, foi instalado o programa computacional de análise da voz denominado Winpitch, projetado e desenvolvido pelo Engenheiro e Foneticista Doutor Filippe MARTIN, da Universidade de Toronto.
Winpitch é um analisador do sinal da fala, capaz de proporcionar ao pesquisador uma análise em tempo real de freqüência dos formantes e dos parâmetros prosódicos - Fo, intensidade e duração. Fornece espectogramas de alta resolução coloridos e monocromáticos e marcadores de tempo que facilitam a segmentação do sinal. Esse programa, ainda, permite que se selecione, de uma frase, um único segmento, possibilitando ouvi-lo reiteradas vezes, fornecendo, ainda, detalhadamente, suas qualidades físicas.
Inicialmente, selecionamos as vogais isoladas silábicas, as vogais, bases de ditongo e as vogais assilábicas (semivogais e semiconsoantes), analisando a duração, a intensidade e os dois primeiros formantes (F1 e F2), no início, meio e fim da vogal. Depois fizemos a descrição de cada segmento vocálico: vogal isolada, vogal, base de ditongo e vogal assilábica (semivogal e semiconsoante), precisamente, nessa ordem. Efetuamos, posteriormente, a discussão dos dados e a conclusão.
Na descrição das vogais, analisamos todas as vogais idênticas a fim de se estabelecer uma média para a duração e a intensidade. Quanto ao timbre, descrevemos o campo de variação das vogais, ou seja, a menor e a maior freqüência, em de F1 e F2. Em que concerne ao movimento dos formantes, fizemos a média de todas as vogais idênticas e a distância entre F1 e F2.
Para a discussão dos dados, comparamos a vogal isolada e a vogal, base do ditongo com a vogal assilábica (semivogal e semiconsoante), para descrever as semelhanças e diferenças entre esses segmentos vocálicos.
3.1.12.Descrição e discussão dos dados
Duração, Intensidade e Campo de Variação dos Formantes
Vogal tônica [i] isolada
Duração e Intensidade das vogais |
Campo de variação das vogais |
|||||
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[i]- |
0.071 |
31 |
de 387 a 473 |
86 |
de 1894 a 2153 |
259 |
[i]- |
0.090 |
29 |
de 387 a 473 |
86 |
de 1894 a 2110 |
216 |
[i]- |
0.063 |
32 |
de 387 a 430 |
43 |
de 1981 a 2196 |
215 |
[i]- |
0.145 |
35 |
de 344 a 387 |
43 |
de 1981 a 2239 |
258 |
[i]- |
0.134 |
33 |
de 344 a 387 |
43 |
de 1421 a 2239 |
818 |
[i]- |
0.094 |
31 |
de 344 a 516 |
172 |
de 1894 a 2325 |
431 |
_____ |
M=0.099 |
M=31 |
de 344 a 516 |
172 |
de 1421 a 2325 |
904 |
Vogal tônica [i], base do ditongo decrescente [iw]
Duração e Intensidade das vogais |
Campo de variação das vogais |
|||||
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[iw]-1 |
0.047 |
31 |
de 387 a 473 |
86 |
de 1550a 1981 |
431 |
[iw]-2 |
0.094 |
29 |
de 430 a 516 |
86 |
de 1464 a 2153 |
689 |
_____ |
M=0.070 |
M=32 |
de 387 a 516 |
129 |
de 1464 a 2153 |
689 |
Vogal tônica [i], base do ditongo crescente [чi]
Duração e Intensidade das vogais |
Campo de variação das vogais |
|||||
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[wi] |
0.086 |
32 |
de 387 a 473 |
86 |
de 1765 a 2153 |
388 |
Semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [aj]
Duração e Intensidade das vogais |
Campo de variação das vogais |
|||||
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[ej] |
0.027 |
32 |
de 387 a 430 |
43 |
de 1851a 1981 |
130 |
Semivogal palatal [j], base do ditongo decrescente [ej]
Duração e Intensidade das vogais |
Campo de variação das vogais |
|||||
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[ej] |
0.027 |
32 |
de 387 a 430 |
43 |
de 1851a 1981 |
130 |
Semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [oj]
Duração e Intensidade das vogais |
Campo de variação das vogais |
||||||
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
|
[oj]-1 |
0.078 |
35 |
de 430 a 559 |
129 |
de 1421a2024 |
603 |
|
[oj]-2 |
0.027 |
33 |
de 430 a 516 |
86 |
de 1722 a 2153 |
431 |
|
_____ |
M=0.052 |
M=34 |
de 430 a 559 |
129 |
de 1421 a 2153 |
732 |
Semivogal palatal [j], base do ditongo decrescente [uj]
Duração e Intensidade das vogais |
Campo de variação das vogais |
|||||
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[uj] |
0.027 |
32 |
de 387 a 430 |
43 |
de 1851a 1894 |
43 |
A vogal [i] isolada possui duração média de 0.099 ms; a vogal, base do ditongo decrescente [iw], 0.070 ms; a vogal, base do ditongo crescente [чi], 0.086 ms., a semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [aj], 0.060 ms., a semivogal do ditongo decrescente [ej], 0.027 ms.; a semivogal do ditongo decrescente [oj], 0.052 ms. e a semivogal do ditongo decrescente [uj], 0.027 ms.
Assim, podemos notar que a vogal tônica [i] isolada possui uma duração mais longa do que a vogal [i], base dos ditongos crescente e decrescente e, mais ainda, do que a semivogal palatal [j]. Percebemos, também, que a vogal [i], base dos ditongos crescente e decrescente possui uma duração mais longa do que a semivogal palatal [j].
Quanto ao timbre, a vogal isolada mostra F1 com uma variação compreendida entre 344 Hz e 516 Hz e F2 entre 1421 Hz e 2325 Hz, a vogal, base do ditongo decrescente [iw] registra, para F1, uma variação entre 387 Hz e 516 Hz e F2 entre 1464 Hz e 2153 Hz, já a vogal, base do ditongo crescente [чi] apresenta F1 entre 387 Hz e 473 Hz e F2 entre 1765 Hz e 2153 Hz. A semivogal palatal [j] registra, no ditongo decrescente [aj] F1 que se realiza entre 430 Hz e 775 Hz, enquanto F2 figura entre 1636 Hz e 2153 Hz. A semivogal [j] mostra, no ditongo [ej], F1 compreendido entre 387 Hz e 430 Hz e F2 entre 1851 Hz e 1981 Hz, enquanto na semivogal [j] do ditongo decrescente [oj], F1 varia entre 430 Hz e 559 Hz e F2 entre 1421 Hz e 2153 Hz e, por fim, a semivogal [j] do ditongo decrescente [uj] apresenta F1 compreendido entre 387 Hz e 430 Hz e F2 entre 1851 Hz e 1894 Hz.
Podemos afirmar, mediante as freqüências obtidas, que ocorre uma menor variação no primeiro formante das vogais estudadas, em comparação à variação de F2, o que, de um certo modo, é esperado. Ressaltamos que a semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [aj] possui a maior variação em F1.
Para F2, percebemos que a vogal isolada [i] registra os seguintes campos de variação: vogal [i] isolada, 904 Hz; vogal, base do ditongo decrescente [iw], 689 Hz, vogal, base do ditongo crescente [чi], 388 Hz, semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [aj], 517 Hz, semivogal [j] do ditongo decrescente [ej], 130 Hz, semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [oj], 732 Hz e semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [uj], 43 Hz.
Vale notar que a vogal [i] isolada possui uma variação maior de freqüência dos formantes do que a da vogal, base dos ditongos crescente e decrescente e da semivogal palatal [j], sendo que a semivogal palatal [j] é o som que apresenta a menor variação de freqüência dos formantes.
A intensidade média da vogal [i] isolada é 31 dB, da vogal, base do ditongo decrescente [iw] é 30 dB, da vogal, base do ditongo crescente [чi] é 32 dB, da semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [aj] é 38 dB, da semivogal do ditongo [ej] é 32 dB, da semivogal do ditongo decrescente [oj] é 34 dB e da semivogal do ditongo [uj] é 32 dB.
A intensidade da vogal isolada é, praticamente, a mesma da semivogal palatal [j], pois apresenta, no geral, uma variação de apenas 1 dB, sendo considerado irrelevante para os resultados obtidos.
Média dos formantes das vogais e a distância entre F1 e F2
Vogal tônica [i] isolada
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
2104 |
2212 |
1989 |
F1 |
365 |
422 |
415 |
Distância entre F1 e F2 |
1739 |
1790 |
1574 |
Vogal tônica [i], base do ditongo decrescente [iw]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
2002 |
1937 |
1507 |
F1 |
451 |
430 |
451 |
Distância entre F1 e F2 |
1551 |
1507 |
1056 |
Vogal tônica [i], base do ditongo crescente [чi]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
1937 |
2153 |
1765 |
F1 |
387 |
430 |
473 |
Distância entre F1 e F2 |
1550 |
1723 |
1292 |
Semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [aj]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
1937 |
2153 |
1765 |
F1 |
387 |
430 |
473 |
Distância entre F1 e F2 |
1550 |
1723 |
1292 |
Semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [ej]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
1981 |
1894 |
1851 |
F1 |
430 |
387 |
430 |
Distância entre F1 e F2 |
1205 |
1507 |
1421 |
Semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [oj]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
1571 |
1980 |
2002 |
F1 |
537 |
494 |
430 |
Distância entre F1 e F2 |
1034 |
1486 |
1572 |
Semivogal palatal [j] do ditongo decrescente [uj]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
1894 |
1894 |
1851 |
F1 |
387 |
387 |
430 |
Distância entre F1 e F2 |
1507 |
1507 |
1421 |
Quanto ao movimento dos formantes
Quanto ao movimento dos formantes, percebemos que a vogal [i] isolada é a única que apresenta tanto F1, como F2 com uma ascensão, do início ao meio, e um decréscimo, no fim de sua realização. A vogal isolada apresenta uma grande distância entre os seus formantes, fazendo-os figurar nas extremidades do espectro, o que a torna, por excelência, uma vogal mais difusa.
A vogal, base do ditongo decrescente [iw] mostra uma queda dos formantes, em sua parte final, causada pelo som contíguo da semivogal velar [w], que possui os formantes baixos.
Nossos resultados nos levam a supor que, do ponto de vista articulatório, a vogal isolada silábica [i] é mais fechadas do que suas correspondentes assilábicas. Pensamos isto principalmente em virtude de F2 da vogal silábica apresentar-se mais alto.
Discussão dos dados
Duração, Intensidade e Campo de variação dos formantes
Vogal tônica [u] isolada
Duração e Intensidade das vogais |
Campo de variação das vogais |
|||||
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[u]-1 |
0.126 |
31 |
de 387 a 430 |
43 |
de 732 a 861 |
129 |
[u]-2 |
0.126 |
29 |
de 387 a 430 |
43 |
de 732 a 861 |
129 |
[u]-3 |
0.094 |
32 |
de 344 a 473 |
129 |
de 732 a 818 |
86 |
[u]-4 |
0.098 |
35 |
de 430 a 516 |
86 |
de 1033 a 1205 |
172 |
[u]-5 |
0.153 |
33 |
de 387 a 430 |
86 |
de 775 a 861 |
86 |
[u]-6 |
0.169 |
31 |
de 387 a 430 |
43 |
de 732 a 818 |
86 |
[u]-7 |
0.102 |
32 |
de 430 a 473 |
43 |
de 1033 a 1378 |
345 |
[u]-8 |
0.082 |
32 |
de 430 a 602 |
172 |
de 1205 a 1378 |
173 |
_____ |
M=0.118 |
M=30 |
de 344 a 516 |
258 |
de 732 a 1378 |
646 |
Vogal tônica [u], base do ditongo decrescente [uj]
Vogal |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[uj] |
0.086 |
36 |
de 387 a 473 |
86 |
de 861 a 1291 |
430 |
Semivogal velar [w] do ditongo decrescente [aw]
Vogal |
Duração |
Intensidade |
F1se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[aw] |
0.106 |
40 |
de 387 a 645 |
258 |
de 689 a 1076 |
387 |
Semivogal velar [w] do ditongo decrescente [ew]
Duração e Intensidade das vogais |
Campo de variação das vogais |
|||||
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[ew]-1 |
0.059 |
35 |
de 344 a 473 |
129 |
de 947 a 1550 |
603 |
[ew]-2 |
0.059 |
34 |
de 473 a 559 |
86 |
de 947 a 1378 |
431 |
_____ |
M=0.059 |
M=34 |
de 344 a 559 |
215 |
de 947 a 1378 |
431 |
Semivogal velar [w] do ditongo decrescente [iw]
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[iw] |
0.059 |
36 |
de 387 a 473 |
86 |
de 818 a 1464 |
646 |
Semivogal velar [w] do ditongo decrescente [ow]
Duração e Intensidade das vogais |
Campo de variação das vogais |
|||||
Vogais |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[ow]-1 |
0.082 |
35 |
de 344 a 516 |
172 |
de 645 a 947 |
302 |
[ow]-2 |
0.059 |
34 |
de 430 a 473 |
43 |
de 689 a 775 |
86 |
_____ |
M=0.059 |
M=34 |
de 344 a 516 |
172 |
de 645 a 947 |
302 |
Semiconsoante velar [ч] em ditongo crescente com a vogal tônica [чa]
Vogal |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[чa] |
0.055 |
40 |
de 645 a 775 |
130 |
de 1162 a1378 |
216 |
Semiconsoante velar [ч] em ditongo crescente com a vogal átona [ɐ]
Vogal |
Duração |
Intensidade |
F1 se realiza |
Variação |
F2 se realiza |
Variação |
[чa] |
0.031 |
30 |
de 430 a 602 |
172 |
de 861 a 1205 |
344 |
A vogal tônica [u] isolada tem uma duração média de 0.118 ms.; a vogal tônica [u] do ditongo [uj], 0.086 ms.; a semivogal velar [w], no ditongo decrescente [aw], 0.106 ms.; as semivogais dos ditongos decrescentes [ew] e [iw] têm a mesma duração de 0.059 ms.; a semivogal do ditongo [ow], 0.080 ms.; a semiconsoante velar [ч] em ditongo crescente com a vogal tônica [a], 0.055 ms. e a semiconsoante que forma ditongo com a vogal átona [ɐ], 0.031 ms.
Constatamos que a vogal tônica [u] silábica apresenta uma duração mais longa do que as vogais assilábicas.
A vogal isolada [u] mostra uma intensidade de 30 dB; a vogal, base do ditongo [uj], 36 dB, a semivogal velar [w], no ditongo [aw] registra 40 dB, no ditongo [ew], 34 dB, no ditongo [iw], 36 dB, no ditongo [ow], 34 dB, enquanto a semiconsoante velar [ч] quando forma ditongo crescente com a vogal tônica [a] registra uma intensidade de 40 dB e, formando ditongo com a vogal átona [ɐ] possui 30 dB.
A vogal isolada se realiza com F1 compreendido entre 344 Hz e 602 Hz, o que resulta num campo de variação de 258 Hz e F2 entre 732 Hz e 1378 Hz, o que significa uma variação de 646 Hz. A vogal, base do ditongo [uj] se realiza com F1 entre 387 Hz e 473 Hz, com uma variação de 86 Hz e F2 entre 861 Hz e 1291 Hz, o que mostra uma variação de 430 Hz. A semivogal velar [w], no ditongo decrescente [aw] mostra um campo de variação de 258 Hz, para F1, e de 387 Hz, para F2; F1 está compreendido entre 387 Hz e 645 Hz, enquanto F2 está entre 689 Hz e 1076 Hz. Para a semivogal do ditongo [ew] F1 se realiza entre 344 Hz e 559 Hz, com um campo de variação de 215 Hz e F2 entre 947 Hz e 1550 Hz, o que significa uma variação de 603 Hz. A semivogal do ditongo [iw] mostra F1 compreendido entre 387 Hz e 473 Hz, com uma variação de 86 Hz e F2 entre 818 Hz e 1464 Hz, o que registra um campo de variação de 646 Hz. A semivogal do ditongo [ow] mostra F1 com uma variação de 172 Hz, estando compreendido entre 344 Hz e 516 Hz, já F2 possui um campo de variação de 302 Hz, sendo realizado entre 645 Hz e 947 Hz, isso representa uma variação. A semiconsoante velar [ч] em ditongo com a vogal tônica [a] mostra F1 compreendido entre 645 Hz e 775 Hz, com uma variação de 130 Hz e F2 entre 1162 Hz e 1378 Hz, resultando num campo de variação de 216 Hz. Por fim, a semiconsoante em ditongo com a vogal átona [ɐ] apresenta F1 com uma realização entre 430 Hz e 602 Hz, o que significa uma variação de 172 Hz e F2 entre 861 Hz e 1205 Hz, apresentando uma variação de 344 Hz.
Média dos formantes e a distância entre F1 e F2
Vogal tônica [u] isolada
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
947 |
904 |
963 |
F1 |
430 |
462 |
413 |
Distância entre F1 e F2 |
517 |
442 |
550 |
Formantes da vogal [u] do ditongo [uj] e distância entre F1 e F2
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
861 |
1033 |
1291 |
F1 |
387 |
473 |
430 |
Distância entre F1 e F2 |
28 |
34 |
36 |
Semivogal velar do ditongo decrescente [aw]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
1076 |
904 |
689 |
F1 |
645 |
602 |
387 |
Distância entre F1 e F2 |
431 |
302 |
302 |
Semivogal velar [w] do ditongo decrescente [ew]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
1464 |
1119 |
947 |
F1 |
516 |
473 |
408 |
Distância entre F1 e F2 |
948 |
646 |
539 |
Semivogal velar [w] do ditongo decrescente [iw]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
1464 |
1033 |
818 |
F1 |
473 |
430 |
387 |
Distância entre F1 e F2 |
431 |
603 |
431 |
Semivogal velar [w] do ditongo decrescente [ow]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
861 |
710 |
667 |
F1 |
473 |
430 |
387 |
Distância entre F1 e F2 |
388 |
280 |
280 |
Semiconsoante velar [ч] em ditongo crescente com a vogal tônica [a]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
1162 |
1248 |
1378 |
F1 |
645 |
732 |
775 |
Distância entre F1 e F2 |
517 |
516 |
603 |
Semiconsoante velar [ч] em ditongo crescente com a vogal átona [ɐ]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
861 |
1033 |
1205 |
F1 |
430 |
559 |
602 |
Distância entre F1 e F2 |
431 |
474 |
603 |
Semiconsoante velar [ч] do ditongo crescente [чε]
Posição |
Início |
Meio |
Fim |
F2 |
1119 |
1291 |
1550 |
F1 |
602 |
689 |
732 |
Distância entre F1 e F2 |
517 |
602 |
818 |
Quanto ao movimento dos formantes
A vogal tônica [u] silábica, pela média, mostra F1 com uma ascensão, no meio, e um decréscimo, no fim. Para F2, ocorre o contrário, ou seja, desce, no meio, e sobe, no fim de sua realização. Em comparação com a vogal tônica [u] isolada, percebemos que a vogal tônica [u], base do ditongo decrescente [uj] mostra, em sua parte final, F2 mais alto por influência da semivogal palatal [j], seguinte à sua realização. Para a semivogal velar [w] dos ditongos decrescentes, tanto F1, como F2 descem, gradativamente, em toda a sua extensão, enquanto a semiconsoante velar [u] apresenta uma tendência distinta, pois F1 e F2 registram uma ascensão gradativa do início ao fim de sua realização.
Percebemos que a semivogal velar [w] em ditongo com as vogais [e] e [i] mostram F2 mais alto, o que é esperado, levando-se em consideração que essas vogais apresentam F2 alto.
Observamos, também, que a semivogal [w] do ditongo [ow] apresenta os formantes mais próximos um do outro, representando, inclusive, a menor diferença entre todas as outras realizações. Isso se dá pelo fato de que essa semivogal [w] está contígua à vogal tônica [o], sofrendo, assim, a sua influência.
A semiconsoante velar [ч] que forma ditongo crescente com a vogal tônica [a] mostra os formantes mais altos do que a semiconsoante em ditongo com a vogal átona [ɐ].
CONCLUSÃO
Do ponto de vista acústico, a vogal silábica [i] é mais aguda e mais difusa, se comparada com as vogais correspondentes assilábicas. Os formantes da vogal silábica são mais estáveis do que das assilábicas, o que confirma os resultados obtidos por ZERLING & MOUTINHO.
Do ponto de vista articulátorio, a vogal silábica [i] é mais longa, mais anterior e mais fechada do que as correspondentes assilábicas.
A vogal assilábica [j] apresenta formantes menos estáveis e com maior variação de freqüência, se comparada com a vogal silábica correspondente.
A vogal silábica [u], do ponto de vista articulatório, é mais posterior, mais fechada e mais longa.
Do ponto de vista acústico, a vogal silábica [u] é mais grave, mais difusa e mais longa, se comparada com a vogal correspondente assilábica.
A vogal assilábica u, se comparada com a vogal silábica correspondente, do ponto de vista acústico, é menos grave, menos difusa e menos longa.
Quanto à intensidade, nossos resultados não estão de acordo com os encontrados por ZERLING & MOUTINHO, pois nossa pesquisa constatou que a intensidade não se mostrou relevante na comparação das vogais analisadas.
De uma forma geral, constatamos que a vogal silábica isolada é realizada com uma duração mais longa do que as vogais silábicas que se constituem base de ditongo.
Concluímos que as vogais silábicas tiveram as suas freqüências influenciadas pelas vogais assilábicas.
BIBLIOGRAFIA
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MALMBERG, Bertil. Manuel de Phonétique Générale. Paris: Picard, 1974.
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MATA DA SILVA, A. I. “Ditongos crescentes em Português: análise acústica.” Actas do 3º Encontro da APL., Lisboa, 1987, p. 379-400
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PAGEL, Dário. Étude acoustique des voyelles du portugais parlé à Blumenal `partir de la méthode sonagraphique. Thèse de doctorat de 3 ème cycle. Strasbourg, Université des Sciences Humaines, 1981.
STRAKA, G. “La division des nos du langage em voyelles et consonnes peut-elle être justifiée? In: Les sons et les mots: choix d’études de phonétique et de linguistique. Paris: Klincksieck, p. 59-141.
ZERLING, J. P. & MOUTINHO, L. C. Les diphotongues orales du portugais. Étude acoustique préliminaire, In travaux de L’institute de Phonétique de Strasbourg, 1988, nº 28, p. 177-201.