DIALECTOLOGIA
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV)
1 - INTRODUÇÃO
Para melhor compreender a dialectologia, é bom uma revisão geral do que seja dialectologia, dialeto, língua, fala, linguagem, geografia lingüística, atlas lingüístico. São termos básicos para a compreensão dos estudos dialectológicos. Cada termo será definido de acordo com o que dizem os lingüistas, procurando situar a abrangência de cada um, seu objeto de estudo, seu campo de ação, suas limitações.
- Dialectologia
A dialectologia, segundo Dubois (p. 185),
designa a disciplina que assumiu a tarefa de descrever comparativamente os diferentes sistemas ou dialetos em que uma língua se diversifica no espaço, e de estabelecer-lhe os limites. Emprega-se também para a descrição de falas tomadas isoladamente, sem referência às falas vizinhas ou da mesma família.
Dubois enfoca dois aspectos na dialectologia: a) a descrição dos diferentes sistemas ou dialetos em que se diversifica uma língua; b) o estabelecimento dos limites de um espaço geográfico de uma fala que pode ser tomada isoladamente sem se preocupar com os falares vizinhos ou com os que pertençam à mesma família lingüística.
Borba (p. 31) diz que a dialectologia é “o estudo dos sistemas lingüísticos em suas variações geográficas ou sociais”. Como Dubois, fala sobre os sistemas lingüísticos no seu espaço geográfico que abrange a geografia lingüística e sua demarcação em atlas lingüístico, e os aspectos sociais que possam influenciar as variações das falas.
Mattoso (p. 94-95) define a dialectologia como “o estudo do arrolamento, sistematização e interpretação dos traços lingüísticos dos dialetos”. Apresenta duas técnicas para o desenvolvimento da dialectologia: a da Geografia Lingüística que busca a distribuição geográficas de cada traço lingüístico dialetal, consolidados nos ATLAS LINGÜÍSTICOS, e a da ”descrição dos falares por meio de monografias dedicadas a uma dada região” compondo gramáticas e glossários regionais.
A dialectologia estuda, pois, as variações lingüísticas delimitadas no espaço geográfico e nos agrupamentos sociais dos diferentes sistemas lingüísticos ou dialetos que caracterizam as diversificações de uma língua, restritas ao espaço geográfico que ocupa. Seu campo de estudos é, conseqüentemente, os falares regionais com suas delimitações geográficas, caracterizadas por diferenças próprias na fonética, no léxico, na gramática...
- Dialeto
Dubois (p. 184) apresenta o dialeto como “uma forma de língua que tem o seu próprio sistema léxico, sintático e fonético, e que é usada num ambiente mais restrito que a própria língua”. Apresenta dois tipos de dialeto: o dialeto regional que é “um sistema de signos e de regras combinatórias da mesma origem que ou sistema considerado como a língua, mas que se desenvolve, apesar de não Ter adquirido status cultural e social dessa língua, independentemente daquela”. Ao lado do dialeto regional, Dubois fala de uma língua oficial ou normalizada a que ele chama a língua a que poderíamos chamar de norma culta, norma oficial, língua sistematizada. A língua que se aprende na escola, especialmente. O dialeto regional é dado como “um sistema de signos e de regras sintáticas usada por um grupo social ou em referência a esse grupo. É o que se chama de gíria dos malfeitores, dos estudantes, dos soldados. Concluindo, há uma língua oficial e normalizada, há dialetos regionais, há dialetos sociais.
Borba (p.31) caracteriza dialeto como um “Desvio em todos os planos da língua: fônico, gramatical e vocabular.
Mattoso (p. 95) vê o dialeto sob dois pontos de vista: 1º: ponto de vista puramente lingüístico: se “os dialetos são falares regionais que apresentam entre si coincidência de traços lingüísticos fundamentais”; 2º: ponto de vista extralingüístico: a) se existe um sentimento lingüístico comum em que os dialetos são sentidos como variantes de uma língua geral e ideal; b) se existe uma língua culta, superposta aos dialetos que ficam limitados ao uso cotidiano, sem maior expressão literária; c) se existe subordinação política das regiões como partes de um estado político nacional.
No Brasil, não temos dialeto, mas um sistema de fala que apresenta desvios da norma oficial, isto é, caracteriza-se por todo e qualquer desvio que ocorra em qualquer aspecto da linguagem, seja léxico, fonético, morfológico, sintático, semântico. É o conceito de Borba que caracteriza o dialeto no Brasil, em sentido amplo porque não há em nossa terra dialeto stricto sensu, como existe na Europa. O que há no Brasil é a caracterização de desvios que a língua apresenta nas falas regionais não constituindo dialetos. Na Europa, por exemplo, os falares regionais têm tudo o que a língua oficial nacional possui. Falta-lhes somente a condição política para que assumam o status da língua oficial. A Espanha, através de resolução política, deu status de língua regional a vários de seus dialetos como o catalão, o galego, o basco. A França possui inúmeros dialetos, como o Provençal que luta para Ter o status de língua regional, uma vez que além de possuir todas as características de uma língua oficial, possui uma rica literatura.
As divergências de fala que caracterizam muitas regiões brasileiras, estão enquadradas no que Borba caracteriza como dialeto: “desvio em todos os planos da língua: fônico, gramatical e vocabular”. As várias regiões brasileiras apresentam tendências dialetais da fala, todas assimiláveis por qualquer falante da língua. As maiores divergências estão no léxico por causa do significado que pode dificultar a compreensão entre falantes de outras regiões ou nível social. Quantas vezes, após um papo, uma conferência, um discurso, se ouve dizer: “Não entendi muita coisa do que falou porque não entendi o significado de muitas palavras”. Isso pode ocorrer até entre pessoas de um mesmo grupo social de fala. Com muito maior razão entre grupos diferentes e distantes.
- Língua
O poder de comunicar idéias através de um sistema articulado é exclusivo do ser humano. Por mais que se procure dar uma linguagem articulada aos irracionais, eles jamais aprenderão uma língua. Eles jamais transmitirão o que pensam porque não têm o poder, a capacidade de julgar, de pensar.
O meio normal que o ser humano utiliza para comunicar suas idéias, seus pensamentos, suas volições, é a linguagem articulada em que o papel do órgão da língua é fundamental para que possa manobrar a sua posição na boca na execução dos sons, variando-os e apresentando características pertinentes e até individuais. Pelo papel da língua, deu-se o nome de língua ao meio que os seres humanos utilizam para se comunicarem.
A língua, no dizer de Dubois (p.378), é um instrumento de comunicação, um sistema de signos vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade”. Chama de “língua materna à língua em uso no país de origem do falante e que o falante adquiriu desde a infância, durante o aprendizado da linguagem”.
As línguas caracterizam ainda cada falante que usa características próprias para externar sua individualidade, seu modo de recortar a vida. Na fala, utiliza-se de recursos tonais para externar a intensidade do que sente. Isso fez surgir, no interior de uma mesma língua, as variações que
são igualmente importantes, sincronicamente falando: para os níveis de língua, fala-se de língua familiar, elevada, técnica, erudita, popular, própria a certas classes sociais, a certos subgrupos (família, grupos profissionais); nesta categoria colocam-se os diferentes tipos de gíria; para as variações geográficas, fala-se de dialetos e de patoás
(Dubois, p. 378).O ser humano não se contentou em criar a língua articulada. Criou, no correr dos séculos, meio deixar gravada a sua linguagem, a expressão de suas idéias. Criara a língua falada e criou um meio de perpetuá-la na língua escrita. São dois meios de comunicação, dotados cada um de um sistema próprio. São duas as aprendizagens da língua: uma falada e outra escrita. A falada começa a ser aprendida pela criança desde o momento em que nasce. A escrita é um índice de cultura e requer aprendizado mais complexo. O falante tem que aprender a escrever através dos recursos que lhe oferece a cultura em que está inserido. A fala é um aprendizado expontâneo uma vez que o aprendiz já nasce com a predisposição da fala internalizada. O meio em que vive é que vai determinar o aprendizado da língua escrita que começa em casa. Mas é na escola onde vai sistematizá-lo e aperfeiçoá-lo. A criança vai para a escola falando a língua mas é nas carteiras da escola que esta língua vai ser sistematizada, ordenada, normatizada. É na escola que se vai ter consciência sobre a língua que fala. É um avanço cultural, é uma conscientização da fala devidamente estruturada. È um aprendizado cultural em que não só se fala a língua que sabe mas se tem consciência dessa língua. Saber uma língua todos os falantes sabem, mas conhecê-la é um avanço cultural que propicia ao falante usar a sua língua de um modo mais aprimorado, mais cheio de recursos não só estruturais mas também intelectuais e propícios para um aperfeiçoamento da exposição de suas idéias, enriquecida não só de novas estruturas possíveis na língua como também de um vocabulário, de um léxico mais amplo e mais rico em expressividade.
A criança não vai aprender a língua que já foi internalizada e que ela já sabe, mas vai aprender como ela funciona, como ela pode atingir um grau mais elevado no saber e mesmo artístico. Vai enriquecer o seu vocabulário, vai abri novos horizontes, atingindo o conhecimento do mundo que a cerca e até conhecer outras línguas que a vida social propicia na convivência com outros povos, donos de outras línguas. Vai se expandir, vai satisfazer o seu desejo de conhecer, função primacial do ser humano. A língua escrita é o aperfeiçoamento da língua falada. É uma escala mais elevada do saber lingüístico que amplia e gera novos conhecimentos.
Os estudiosos das línguas classificam-nas em vários tipos: língua coloquial ou usual, língua escrita, língua falada ou oral, língua formal, língua franca ou geral, língua literária, língua materna, língua mista, língua monotônica, língua morta, língua não-formal, língua politônica ou tonal, língua primitiva, língua simbólica, língua técnica, língua viva... (Ver Borba, pp. 71/72).
“Cada língua apresenta um sistema gramatical implícito, comum ao conjunto de falantes dessa língua” (Dubois, p. 379). Saussure dá a esse sistema no nome de língua e às variações individuais o nome de fala. Há pois uma dicotomia entre língua e fala. A língua é uma parte da linguagem. “A linguagem é uma propriedade comum a todos os homens e depende de sua faculdade de simbolizar” (Dubois, p. 279).
- Geografia Lingüística
Dubois (p. 304) diz em sua obra que a geografia lingüística é “a parte da dialectologia que se ocupa em localizar as variações das línguas em relação às outras”.
Carreter (p. 209) caracteriza Geografia Lingüística como o
método de investigação lingüística, consistindo em situar sobre o mapa da região estudada cada uma das formas com que se expressa um conceito ou alternância. Para cada noção ou alternância se emprega um mapa distinto. O conjunto de mapas constitui um Atlas Lingüístico.
Carreter transcreve o que diz Jaberg sobre a Geografia Lingüística:
A idéia fundamental da geografia lingüística consiste em transpor o estudo da língua de um determinado lugar para outro campo, em não considerar o fato lingüístico localizado em sua origem e em sua evolução, senão em colocá-lo em seu âmbito geográfico, em estabelecer sua área.
Mattoso (p. 94), no verbete Dialectologia, diz, “A Geografia Lingüística consiste em levantar mapas da distribuição geográfica de cada traço lingüístico dialetal.”
A Dialectologia ao estudar as variações de um sistema lingüístico, procura lançar em Mapas Lingüísticos (ou Cartas Lingüísticas) as alterações que a língua apresenta numa determinada região, delimitada geograficamente. A reunião dos Mapas Lingüísticos é tarefa da Geografia Lingüística.
O levantamento geográfico de uma língua está relacionado ao mapeamento que se faz da região ao assinalar onde ocorre qualquer desvio da língua em qualquer de seus planos: fonético, morfológico, sintático, semântico. Pode-se, ainda, incluir as criações etnográficas de cada região, constituindo os Mapas Etnográficos.
- Atlas Lingüístico
A decorrência natural da Geografia Lingüística são os Atlas Lingüísticos que registram a particularidade de cada item lingüístico que aparece num determinado ponto de um território.
Dubois (p. 78) fala dos elementos que devem compor um atlas lingüístico:
(1) um questionário indicando as noções cujas denominações se devem extrair dos informantes, os tipos de frases que devem deles obter, as conservações a travar; (2) uma determinação dos pontos de inquérito e das pessoas interrogadas; (3) e, como parte essencial, os mapas lingüísticos nos quais se registram ponto por ponto as formas, as palavras e os tipos de construção registradas.
A pesquisa dialectológica clássica determina o que expõe Dubois. Nossa pesquisa, no entanto, foge em alguns aspectos do que ele expõe porque ela não é feita em um aglomerado urbano social com mínimo de 700 moradores, para alguns, outros exigem mais de 1000. O Esboço do Atlas Lingüístico de Minas Gerais do Prof. Zágari exige aglomerados urbanos com mais de mais de 2000 habitantes. Algumas sedes de município jamais poderiam servir de local de pesquisa porque possuem menos de 2000 habitantes. Esta foi realizada em propriedades rurais, que hoje, com o êxodo rural, não vai além da família no proprietário que é também reduzida (cinco a oito pessoas), em regra e em poucas aparecem os colonos. A escolha do informante não pôde ser determinada como manda a pesquisa clássica. O informante era quase sempre o proprietário.
- DIALECTOLOGIA E MUTAÇÃO LINGÜÍSTICA
As línguas mudam? E podem as línguas vivas sofrer mudanças? Por que mudam as línguas? Como se operam as mudanças?
No mundo da comunicação lingüística, cada agrupamento humano tem sua linguagem própria, suas expressões características. As divergências que aparecem no ato de fala manifestam-se em todos os setores da convivência humana, até na restrita área de uma família, como já foi comprovado por Rousselot.
Já o saber técnico-científico, com sua linguagem eivada de nomenclatura e terminologia próprias e universais não está tão sujeita a alterações como a fala cotidiana de uma comunidade lingüística. Isso acontece porque o saber científico é uma atividade humana que não tem fronteiras, tornando-se universal e pertencente a toda a raça humana. É a ciência para o homem, ser capaz de conhecer, sua função primacial. O homem busca o saber, o conhecimento, a ciência. Esta a serviço do homem.
O conhecimento passa pela língua e cada língua tem, para seu uso, uma gama de termos e expressões gerais e de generalidades que se estende para fala diária. Esta é, no entanto, mesclada de mutabilidades que revelam o dinamismo a que toda língua viva está sujeita. Ora, o que é dinâmico não pode ser estável. No entanto, a língua se apresenta como um paradoxo - imutabilidade dinâmica, sujeita a modificações.
Eugênio Coseriu aborda a condição de mutabilidade quando diz que “ela é característica essencial e necessária da língua” porque, continua, “a língua não está feita, mas sim, faz-se continuamente pela atividade lingüística”. Afirma, ainda, que “a língua muda porque é falada e o falar é atividade criadora, livre e finalista, e é sempre novo”.
Todavia, a mudança na língua só é possível porque ela é lenta, gradual, quase imperceptível na comunidade onde ela ocorre. Portanto, a mutabilidade lingüística é o reflexo que aparece em todo e qualquer agrupamento lingüístico onde a língua é usada e, se usada, é viva e cheia de sutis alterações que a vão modificando lentamente.
A mutabilidade da língua se manifesta nas variações regionais da fala que, dentro do arcabouço imutável, apresenta variantes contínuas da fala. São variações que se manifestam no aspecto fônico, morfológico ou sintático e, de modo mais acentuado no lexical e semântico. É a “lei do menor esforço”, ou melhor, a economia lingüística provoca as mutações que se processam de modo lento e persistente, criando as variações na linguagem, os regionalismos, os dialetos.
Dentre as variações, serão focalizadas as lexicais que implicam na criação de novos signos ou atribuindo novas conotações para signos já existentes. As modificações de signos ou a sua criação trazem distúrbios na comunicação que podem, às vezes, torná-la incompreensível. Serão focalizados os alofones que aparecem na alteração do significante, às vezes bem acentuada. Pode acontecer que haja alterações fonéticas tão grandes num feixe de fonemas de um vocábulo que este se torna quase incompreensível ou irreconhecível em relação ao seu étimo primitivo. No entanto, ambos coexistem diacronicamente na linguagem, com um aqui e outro acolá. Há exemplos desse fato na pesquisa rural como, por exemplo, mal-de-ano>manjina.
Pode-se focalizar, ainda, o comportamento das duas linguagens. De um lado, a científica que progride a cada dia, a cada hora, criando novos termos e incorporando-os a seu universo lingüístico-cultural. De outro, a linguagem da fala diária que exprime seus atos de criação, seus sentimentos, sua vivência do dia a dia, arrastando sua linguagem tão lentamente, com a paciência de quem espera uma árvore crescer e dar seus frutos. Não é de se estranhar que a linguagem, utilizada por todos, inclusive por aqueles que a dominam em todas as suas possíveis nuanças por mais sutis que sejam, está sujeita a mutações mas sempre de modo lento e gradual.
Bally afirma que “les langues changent sans cesse et ne peuvent funcioner qu’en ne changeant pas”. Sofrer mutações é, pois, um “continuum” que caracteriza toda língua viva, e é a condição básica para sua sobrevivência. Sendo a língua um sistema de comunicação constante, não deveria, normalmente, sofrer mudanças, porque “...a língua é um organismo sistemático em que tudo está relacionado entre si, e o seu objeto é a compreensão por parte da comunidade em que é falada, dever-se-ia esperar a sua estabilidade como sistema que cumpre adequadamente sua função”. Essa estabilidade, entretanto, não ocorre porque há interferência de fatores externos de instabilidade, o que, paradoxalmente, contribui para que o sistema lingüístico, equilibrado por definição, não caia na estabilidade perpétua, nem na imobilidade.
Llorac, citado por Coseriu, faz a distinção entre os fatores externos que atuam sobre a língua. Os primeiros motivam a mudança e reconstituem o sistema perturbado em sua estabilidade e imutabilidade. É o próprio Saussure quem afirma: “em si mesmo, o sistema é imutável” Essa é, no entanto, uma concepção estática da língua porque nela se verifica mudança real. E no dizer de Coseriu, “a língua que muda é a ‘língua real em seu existir concreto’. Mas esta língua não pode ser isolada dos ‘fatores externos’ - isto é, de tudo aquilo que constitui a fisicidade, a historicidade e a liberdade expressiva dos falantes - pois ela só se realiza no falar” Coseriu distingue, ainda, a língua abstrata (que não muda) e a língua real (que muda). A primeira não é irreal, ela existe no interior de cada falante, onde jazem todas as possibilidades permitidas pela estrutura interna da língua que os falantes usam individualmente provocando alterações e mudanças “na língua real em seu existir concreto” (Coseriu). Essas alterações são lentas e progressivas e refletem uma tendência geral dos falantes e que condizem com a afirmativa de H. Paul, citado por Coseriu: “Toda língua [ou melhor: todo falante] preocupa-se constantemente em eliminar irregularidades inúteis para criar para o equivalente funcional a mesma expressão oral”. Isso leva a concluir que qualquer alteração na língua só pode existir partindo dos seus utentes que “impõem” (inconscientemente) as mudanças a que as línguas estão sujeitas. Coseriu reconhece essa realidade quando diz: “nunca se viu uma gramática que se modificasse por si mesma, nem um dicionário que se enriquecesse por conta própria”.
Pode-se acrescentar que nenhum filólogo, gramático, lexicólogo ou lingüista pôde ou pode tirar, modificar ou enriquecer uma língua, uma gramática ou dicionário com o mais tênue item lingüístico. O poder de criar que cada um desses estudiosos da língua pode usar, é o mesmo de cada falante de sua língua. Cada um deve buscar, nos seus estudos, o que é de usa geral ou particular, o que foi usado de acordo com as leis que subjazem em qualquer estrutura da língua, isto é, nas possibilidades de expressão manifestadas tanto na língua popular como na língua culta. Ambas vivem uma dinâmica contínua, ambas, com seu poder criador, enriquecem a língua de acordo com o que se sente e se vive no seu dia a dia, de acordo com os recortes da vida que a cultura apresenta. No entanto, há algumas expressões ou formas que são mais ou menos usadas na linguagem falada popular como na formal ou culta, falada ou escrita. Outras, todavia, são reflexos de modismos de época, de momentos passageiros que, por isso mesmo, têm vida efêmera.
As formas, ou melhor, os usos lingüísticos, tanto na linguagem popular como na formal ou culta são criações e realizações criadas pelos usuários de uma mesma língua. São recursos subjacentes, permitidos pela língua abstrata, sendo conseqüentemente, criações da língua real. As divergências entre as criações populares e as cultas, são, por sua vez, reflexos de contextos também diferentes que uma e outra linguagens podem realizar, de acordo com o recorte que cada um faz do seu mundo. Pode-se acrescentar que a diferença entre a linguagem culta e a popular reside no fato de externar aquela em apresentar um aspecto mais aperfeiçoado do belo lingüístico e esta uma fala comum, de uso diário e pragmático. Isso é possível porque “a língua real e histórica é dinâmica porque a atividade lingüística não é falar e entender uma língua, mas falar e entender algo de novo por meio da língua. Por isso a língua se adapta às necessidades expressivas dos falantes e continua a funcionar como língua na medida em que se adapta”.
Coseriu mostra, ainda, que nada impede este ou aquele falante de criar ou alterar dentro da língua. Logo a seguir afirma: “O que não se ‘altera’ não tem ‘continuidade’ mas permanência, e carece de historicidade”. A língua é, pois, “enérgeia” e “dynamis” porque uma modificação se realiza, “não em algo já realizado, mas na técnica do fazer lingüístico”.
Sobre a mutação lingüística, o mesmo Coseriu diz que “a mudança lingüística não é senão a manifestação da criatividade da linguagem na história das línguas” e a seguir acrescenta que “um estado de língua em projeção sincrônica não é ‘a’ língua, mas um corte transversal na língua que continua historicamente”.
Após essas considerações sobre o porquê que as línguas mudam, serão focalizados dois tipos de mudanças mais comuns que atingem as línguas no uso diário. De um lado, ocorrem as mudanças fônicas que caracteriza, no Brasil, os regionalismos da fala; de outro, aparecem mudanças lexicais que marcam, também, os regionalismos, não podendo falar ainda em dialetos, pois estes deveriam apresentam diferenças não só no léxico e na fonética mas também diferenças morfossintáticas e de modo especial na estrutura frasal a serem apresentados, oportunamente, em alguns momentos da fala.
Entre as duas mudanças, a fônica é facilmente assimilável. São alterações que ocorrem, na maioria das vezes, num ou noutro traço fônico que não chega a constituir característica pertinente, não prejudicando a comunicação. Às vezes, no entanto, a alteração fonética é realizada, em alguns lugares (em propriedades rurais), num feixe de fonemas de tal modo que da forma do vocábulo primitivo pouco resta aparentemente. Há vocábulos que sobrevivem com uma ou mais formas sincrônicas que trazem em si os traços de uma evolução diacrônica explicável, constituindo verdadeiras diacronias sincrônicas.
- SINCRONIA - DIACRONIA
A mudança lingüística é característica de toda língua viva, falada por qualquer povo. Uma língua ao ser falada sofre um desgaste natural porque cada falante procura adaptar a fala às tendências regionais da sua cultura. Nessas tendências a língua sofre modificações lentas e suaves, quase imperceptíveis que aos poucos vai alterando a língua.
Uma língua falada por vários povos, em várias regiões, se altera a ponto de constituir-se em novas línguas, novos falares que muitas vezes não é compreendido entre os falantes de regiões diversas. Isso ocorre com os “espanhóis” das Américas e os “Ingleses” da Inglaterra, EUA, Índia, Austrália, etc. Nos EUA, cada região tem seu “inglês” próprio com características peculiares. Essas modificações alteram a língua em seus aspectos fonéticos, morfológicos, sintáticos, semânticos. É a diacronia: transformações ocorridas na sincronia da língua no momento em que é falada.
Acontece de um mesmo falante, como foi constatado na pesquisa rural, usar, até numa mesma frase, duas formas sincrônicas de fala para um mesmo item lexical ou para uma mesma estrutura de frase. O falante faz concordância, nominal ou verbal, entre determinado e determinante mas pode ocorrer a marca de gênero e/ou número só no determinante.
Existem simultaneamente a sincronia com a diacronia ou uma pancronia. Essa constatação vem colocar dúvidas no que Saussure expõe sobre a oposição entre sincronia e diacronia. Parece, como será apresentado mais adiante, que a posição da peças no tabuleiro de xadrez, no momento de novo lance, não diz bem a realidade de fala constatada na pesquisa. Só se o momento for determinado pelo momento em que cada vocábulo pronunciado e logo a seguir esse mesmo vocábulo terá, exemplo, uma alteração na sua parte fônica ou na sua marca de gênero ou número. Como exemplo: “Os minino e as mininas saiu” ou “Os minino e as minina saiu” ou “Os mininos e as minina saiu ou saíram”. Esses tipos de construção foram encontrados em várias frases emitidas por informantes. Não há uniformidade na sincronia pois ela apresenta estados de tendência evolutiva numa mesma frase. Há várias tendências diacrônicas em cada sincronia. As formas evolutivas aparecem num momento sincrônico e são tendências diacrônicas da evolução sincrônica. A sincronia revela alterações diacrônicas.
4 - MICRORREGIÃO DE VIÇOSA
Na microrregião de Viçosa iniciou-se uma pesquisa dialectológica enfocando a fala do meio rural. Foram pesquisadas 210 propriedades rurais espalhadas pelos 20 municípios da microrregião.
O objetivo da pesquisa é atingir todas as sete microrregiões da Zona da Mata. A pesquisa início-se na Microregião 62 de Viçosa, localizada na Mesorregião 12 da Zona da Mata de Minas Gerais. Em 03.05.1990 foi publicada portaria do IBGE com nova divisão do Brasil em 31 Macrorregiões que formam Unidades da Federação. Cada uma destas está dividida em Mesorregiões, que se dividem em Micorregiões com seu número variável de municípios. O Estado de Minas Gerais passou a ter 12 mesorregiões:
01 - Mesorregião do Noroeste de Minas
02 - Mesorregião do Norte de Minas
03 - Mesorregião do Jequitinhonha
04 - Mesorregião do Vale do Mucuri
05 - Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Pananaíba
06 - Mesorregião Central Mineira
07 - Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte
08 - Mesorregião do Vale do Rio Doce
09 - Mesorregião do Oeste de Minas
10 - Mesorregião do Sul/Sudeste de Minas
11 - Mesorregião do Campo das Vertentes
12 - Mesorregião da Zona da Mata
A pesquisa dialectológica rural teve seu início na Microrregião de Viçosa pertencente à Mesorregião 12 da Zona da Mata. Essa Mesorregião está dividida em 7 Microrregiões:
060 - Microrregião de Ponte Nova
061 - Microrregião de Manhuaçu
062 - Microrregião de Viçosa
063 - Microrregião de Muriaé
064 - Microrregião de Ubá
065 - Microrregião de Juiz de Fora
066 - Microrregião de Cataguases
A Microrregião de Viçosa-062 foi escolhida para o início da pesquisa. Abrange 20 Localidades ou Municípios, numa extensão territorial aproximada de 4.763, 8 km2. Cada Localidade tem sua numeração alfanumérica do IBGE, um número dado pela pesquisa e, entre parênteses, o da propriedade pesquisada.
Localidades da Microrregião
01 - 0210.0 - Alto Rio Doce (16 propr.) 11 - 4830.1 - Paula Cândido (10 propr.)
02 - 0250.6 - Amparo do Serra (10 propr.) 12 - 4880.6 - Pedra do Anta (09 propr.)
03 - 0370.2 - Araponga (09 propr.) 13 - 5080.1 - Piranga (09 propr.)
04 - 0870.1 - Brás Pires(10 propr.) 14 - 5230.3 - Porto Firme (14 propr.)
05 - 1020.2 - Cajuri (08 propr.) 15 - 5310.3 - Presidente Bernardes (14 propr.)
06 - 1170.5 - Canaã (11 propr.) 16 - 5520.7 - Rio Espera (10 propr.)
07 - 1630.8 - Cipotânea (10 propr.) 17 - 6380.5 - São Miguel do Anta (09 propr.)
08 - 1670.4 - Coimbra (10 propr.) 18 - 6600.6 - Senhora de Oliveira (10 propr.)
09 - 2400.5 - Ervália (11 propr.) 19 - 6850.7 - Teixeiras (09 propr.)
10 - 3790.8 - Lamim (08 propr.) 20 - 7130.3 - Viçosa (16 propr.)
O número de propriedades foi determinado pela extensão territorial do município, perfazendo um número de 210. As localidades foram demarcadas aleatoriamente nos mapas oficiais, adquiridos no IGA de Belo Horizonte. Todavia estabeleceu-se o critério da possível eqüidistância entre propriedades, para que se pudesse ter uma amostragem geral do município. Foram evitadas, dentro do possível, propriedades muito próximas da sede municipal.
BIBLIOGRAFIA
BALLY, Charles. Linguistique générale et linguistique française. Berna : 1950, p. 18.
BORBA, Francisco da Silva. Pequeno vocabulário de lingüística moderna. 2ª ed. rev. e aum. São Paulo : Nacional, 1976.
CARRETER, Fernando Lázaro. Diccionario de términos filológicos. 3ª edicion corregida. Madrid : Gredos, 1974.
DUBOIS, Jean et alii. Dicionário de lingüística. São Paulo : Cultrix, 1978.
LLORAC, E. Alarcos. Fonología española. Madrid : 1954, p. 97.
MATTOSO, J. Camara Jr. Dicionário de lingüística e gramática. 8ª ed. Petrópolis : Vozes, 1879.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de lingüística geral. 4a ed. São Paulo : Cultrix, 1972, p. 100.DIALECTOLOGIA
Joseph Ildefonso de Araújo (UFV)
1 - INTRODUÇÃO
Para melhor compreender a dialectologia, é bom uma revisão geral do que seja dialectologia, dialeto, língua, fala, linguagem, geografia lingüística, atlas lingüístico. São termos básicos para a compreensão dos estudos dialectológicos. Cada termo será definido de acordo com o que dizem os lingüistas, procurando situar a abrangência de cada um, seu objeto de estudo, seu campo de ação, suas limitações.
- Dialectologia
A dialectologia, segundo Dubois (p. 185),
designa a disciplina que assumiu a tarefa de descrever comparativamente os diferentes sistemas ou dialetos em que uma língua se diversifica no espaço, e de estabelecer-lhe os limites. Emprega-se também para a descrição de falas tomadas isoladamente, sem referência às falas vizinhas ou da mesma família.
Dubois enfoca dois aspectos na dialectologia: a) a descrição dos diferentes sistemas ou dialetos em que se diversifica uma língua; b) o estabelecimento dos limites de um espaço geográfico de uma fala que pode ser tomada isoladamente sem se preocupar com os falares vizinhos ou com os que pertençam à mesma família lingüística.
Borba (p. 31) diz que a dialectologia é “o estudo dos sistemas lingüísticos em suas variações geográficas ou sociais”. Como Dubois, fala sobre os sistemas lingüísticos no seu espaço geográfico que abrange a geografia lingüística e sua demarcação em atlas lingüístico, e os aspectos sociais que possam influenciar as variações das falas.
Mattoso (p. 94-95) define a dialectologia como “o estudo do arrolamento, sistematização e interpretação dos traços lingüísticos dos dialetos”. Apresenta duas técnicas para o desenvolvimento da dialectologia: a da Geografia Lingüística que busca a distribuição geográficas de cada traço lingüístico dialetal, consolidados nos ATLAS LINGÜÍSTICOS, e a da ”descrição dos falares por meio de monografias dedicadas a uma dada região” compondo gramáticas e glossários regionais.
A dialectologia estuda, pois, as variações lingüísticas delimitadas no espaço geográfico e nos agrupamentos sociais dos diferentes sistemas lingüísticos ou dialetos que caracterizam as diversificações de uma língua, restritas ao espaço geográfico que ocupa. Seu campo de estudos é, conseqüentemente, os falares regionais com suas delimitações geográficas, caracterizadas por diferenças próprias na fonética, no léxico, na gramática...
- Dialeto
Dubois (p. 184) apresenta o dialeto como “uma forma de língua que tem o seu próprio sistema léxico, sintático e fonético, e que é usada num ambiente mais restrito que a própria língua”. Apresenta dois tipos de dialeto: o dialeto regional que é “um sistema de signos e de regras combinatórias da mesma origem que ou sistema considerado como a língua, mas que se desenvolve, apesar de não Ter adquirido status cultural e social dessa língua, independentemente daquela”. Ao lado do dialeto regional, Dubois fala de uma língua oficial ou normalizada a que ele chama a língua a que poderíamos chamar de norma culta, norma oficial, língua sistematizada. A língua que se aprende na escola, especialmente. O dialeto regional é dado como “um sistema de signos e de regras sintáticas usada por um grupo social ou em referência a esse grupo. É o que se chama de gíria dos malfeitores, dos estudantes, dos soldados. Concluindo, há uma língua oficial e normalizada, há dialetos regionais, há dialetos sociais.
Borba (p.31) caracteriza dialeto como um “Desvio em todos os planos da língua: fônico, gramatical e vocabular.
Mattoso (p. 95) vê o dialeto sob dois pontos de vista: 1º: ponto de vista puramente lingüístico: se “os dialetos são falares regionais que apresentam entre si coincidência de traços lingüísticos fundamentais”; 2º: ponto de vista extralingüístico: a) se existe um sentimento lingüístico comum em que os dialetos são sentidos como variantes de uma língua geral e ideal; b) se existe uma língua culta, superposta aos dialetos que ficam limitados ao uso cotidiano, sem maior expressão literária; c) se existe subordinação política das regiões como partes de um estado político nacional.
No Brasil, não temos dialeto, mas um sistema de fala que apresenta desvios da norma oficial, isto é, caracteriza-se por todo e qualquer desvio que ocorra em qualquer aspecto da linguagem, seja léxico, fonético, morfológico, sintático, semântico. É o conceito de Borba que caracteriza o dialeto no Brasil, em sentido amplo porque não há em nossa terra dialeto stricto sensu, como existe na Europa. O que há no Brasil é a caracterização de desvios que a língua apresenta nas falas regionais não constituindo dialetos. Na Europa, por exemplo, os falares regionais têm tudo o que a língua oficial nacional possui. Falta-lhes somente a condição política para que assumam o status da língua oficial. A Espanha, através de resolução política, deu status de língua regional a vários de seus dialetos como o catalão, o galego, o basco. A França possui inúmeros dialetos, como o Provençal que luta para Ter o status de língua regional, uma vez que além de possuir todas as características de uma língua oficial, possui uma rica literatura.
As divergências de fala que caracterizam muitas regiões brasileiras, estão enquadradas no que Borba caracteriza como dialeto: “desvio em todos os planos da língua: fônico, gramatical e vocabular”. As várias regiões brasileiras apresentam tendências dialetais da fala, todas assimiláveis por qualquer falante da língua. As maiores divergências estão no léxico por causa do significado que pode dificultar a compreensão entre falantes de outras regiões ou nível social. Quantas vezes, após um papo, uma conferência, um discurso, se ouve dizer: “Não entendi muita coisa do que falou porque não entendi o significado de muitas palavras”. Isso pode ocorrer até entre pessoas de um mesmo grupo social de fala. Com muito maior razão entre grupos diferentes e distantes.
- Língua
O poder de comunicar idéias através de um sistema articulado é exclusivo do ser humano. Por mais que se procure dar uma linguagem articulada aos irracionais, eles jamais aprenderão uma língua. Eles jamais transmitirão o que pensam porque não têm o poder, a capacidade de julgar, de pensar.
O meio normal que o ser humano utiliza para comunicar suas idéias, seus pensamentos, suas volições, é a linguagem articulada em que o papel do órgão da língua é fundamental para que possa manobrar a sua posição na boca na execução dos sons, variando-os e apresentando características pertinentes e até individuais. Pelo papel da língua, deu-se o nome de língua ao meio que os seres humanos utilizam para se comunicarem.
A língua, no dizer de Dubois (p.378), é um instrumento de comunicação, um sistema de signos vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade”. Chama de “língua materna à língua em uso no país de origem do falante e que o falante adquiriu desde a infância, durante o aprendizado da linguagem”.
As línguas caracterizam ainda cada falante que usa características próprias para externar sua individualidade, seu modo de recortar a vida. Na fala, utiliza-se de recursos tonais para externar a intensidade do que sente. Isso fez surgir, no interior de uma mesma língua, as variações que
são igualmente importantes, sincronicamente falando: para os níveis de língua, fala-se de língua familiar, elevada, técnica, erudita, popular, própria a certas classes sociais, a certos subgrupos (família, grupos profissionais); nesta categoria colocam-se os diferentes tipos de gíria; para as variações geográficas, fala-se de dialetos e de patoás
(Dubois, p. 378).O ser humano não se contentou em criar a língua articulada. Criou, no correr dos séculos, meio deixar gravada a sua linguagem, a expressão de suas idéias. Criara a língua falada e criou um meio de perpetuá-la na língua escrita. São dois meios de comunicação, dotados cada um de um sistema próprio. São duas as aprendizagens da língua: uma falada e outra escrita. A falada começa a ser aprendida pela criança desde o momento em que nasce. A escrita é um índice de cultura e requer aprendizado mais complexo. O falante tem que aprender a escrever através dos recursos que lhe oferece a cultura em que está inserido. A fala é um aprendizado expontâneo uma vez que o aprendiz já nasce com a predisposição da fala internalizada. O meio em que vive é que vai determinar o aprendizado da língua escrita que começa em casa. Mas é na escola onde vai sistematizá-lo e aperfeiçoá-lo. A criança vai para a escola falando a língua mas é nas carteiras da escola que esta língua vai ser sistematizada, ordenada, normatizada. É na escola que se vai ter consciência sobre a língua que fala. É um avanço cultural, é uma conscientização da fala devidamente estruturada. È um aprendizado cultural em que não só se fala a língua que sabe mas se tem consciência dessa língua. Saber uma língua todos os falantes sabem, mas conhecê-la é um avanço cultural que propicia ao falante usar a sua língua de um modo mais aprimorado, mais cheio de recursos não só estruturais mas também intelectuais e propícios para um aperfeiçoamento da exposição de suas idéias, enriquecida não só de novas estruturas possíveis na língua como também de um vocabulário, de um léxico mais amplo e mais rico em expressividade.
A criança não vai aprender a língua que já foi internalizada e que ela já sabe, mas vai aprender como ela funciona, como ela pode atingir um grau mais elevado no saber e mesmo artístico. Vai enriquecer o seu vocabulário, vai abri novos horizontes, atingindo o conhecimento do mundo que a cerca e até conhecer outras línguas que a vida social propicia na convivência com outros povos, donos de outras línguas. Vai se expandir, vai satisfazer o seu desejo de conhecer, função primacial do ser humano. A língua escrita é o aperfeiçoamento da língua falada. É uma escala mais elevada do saber lingüístico que amplia e gera novos conhecimentos.
Os estudiosos das línguas classificam-nas em vários tipos: língua coloquial ou usual, língua escrita, língua falada ou oral, língua formal, língua franca ou geral, língua literária, língua materna, língua mista, língua monotônica, língua morta, língua não-formal, língua politônica ou tonal, língua primitiva, língua simbólica, língua técnica, língua viva... (Ver Borba, pp. 71/72).
“Cada língua apresenta um sistema gramatical implícito, comum ao conjunto de falantes dessa língua” (Dubois, p. 379). Saussure dá a esse sistema no nome de língua e às variações individuais o nome de fala. Há pois uma dicotomia entre língua e fala. A língua é uma parte da linguagem. “A linguagem é uma propriedade comum a todos os homens e depende de sua faculdade de simbolizar” (Dubois, p. 279).
- Geografia Lingüística
Dubois (p. 304) diz em sua obra que a geografia lingüística é “a parte da dialectologia que se ocupa em localizar as variações das línguas em relação às outras”.
Carreter (p. 209) caracteriza Geografia Lingüística como o
método de investigação lingüística, consistindo em situar sobre o mapa da região estudada cada uma das formas com que se expressa um conceito ou alternância. Para cada noção ou alternância se emprega um mapa distinto. O conjunto de mapas constitui um Atlas Lingüístico.
Carreter transcreve o que diz Jaberg sobre a Geografia Lingüística:
A idéia fundamental da geografia lingüística consiste em transpor o estudo da língua de um determinado lugar para outro campo, em não considerar o fato lingüístico localizado em sua origem e em sua evolução, senão em colocá-lo em seu âmbito geográfico, em estabelecer sua área.
Mattoso (p. 94), no verbete Dialectologia, diz, “A Geografia Lingüística consiste em levantar mapas da distribuição geográfica de cada traço lingüístico dialetal.”
A Dialectologia ao estudar as variações de um sistema lingüístico, procura lançar em Mapas Lingüísticos (ou Cartas Lingüísticas) as alterações que a língua apresenta numa determinada região, delimitada geograficamente. A reunião dos Mapas Lingüísticos é tarefa da Geografia Lingüística.
O levantamento geográfico de uma língua está relacionado ao mapeamento que se faz da região ao assinalar onde ocorre qualquer desvio da língua em qualquer de seus planos: fonético, morfológico, sintático, semântico. Pode-se, ainda, incluir as criações etnográficas de cada região, constituindo os Mapas Etnográficos.
- Atlas Lingüístico
A decorrência natural da Geografia Lingüística são os Atlas Lingüísticos que registram a particularidade de cada item lingüístico que aparece num determinado ponto de um território.
Dubois (p. 78) fala dos elementos que devem compor um atlas lingüístico:
(1) um questionário indicando as noções cujas denominações se devem extrair dos informantes, os tipos de frases que devem deles obter, as conservações a travar; (2) uma determinação dos pontos de inquérito e das pessoas interrogadas; (3) e, como parte essencial, os mapas lingüísticos nos quais se registram ponto por ponto as formas, as palavras e os tipos de construção registradas.
A pesquisa dialectológica clássica determina o que expõe Dubois. Nossa pesquisa, no entanto, foge em alguns aspectos do que ele expõe porque ela não é feita em um aglomerado urbano social com mínimo de 700 moradores, para alguns, outros exigem mais de 1000. O Esboço do Atlas Lingüístico de Minas Gerais do Prof. Zágari exige aglomerados urbanos com mais de mais de 2000 habitantes. Algumas sedes de município jamais poderiam servir de local de pesquisa porque possuem menos de 2000 habitantes. Esta foi realizada em propriedades rurais, que hoje, com o êxodo rural, não vai além da família no proprietário que é também reduzida (cinco a oito pessoas), em regra e em poucas aparecem os colonos. A escolha do informante não pôde ser determinada como manda a pesquisa clássica. O informante era quase sempre o proprietário.
- DIALECTOLOGIA E MUTAÇÃO LINGÜÍSTICA
As línguas mudam? E podem as línguas vivas sofrer mudanças? Por que mudam as línguas? Como se operam as mudanças?
No mundo da comunicação lingüística, cada agrupamento humano tem sua linguagem própria, suas expressões características. As divergências que aparecem no ato de fala manifestam-se em todos os setores da convivência humana, até na restrita área de uma família, como já foi comprovado por Rousselot.
Já o saber técnico-científico, com sua linguagem eivada de nomenclatura e terminologia próprias e universais não está tão sujeita a alterações como a fala cotidiana de uma comunidade lingüística. Isso acontece porque o saber científico é uma atividade humana que não tem fronteiras, tornando-se universal e pertencente a toda a raça humana. É a ciência para o homem, ser capaz de conhecer, sua função primacial. O homem busca o saber, o conhecimento, a ciência. Esta a serviço do homem.
O conhecimento passa pela língua e cada língua tem, para seu uso, uma gama de termos e expressões gerais e de generalidades que se estende para fala diária. Esta é, no entanto, mesclada de mutabilidades que revelam o dinamismo a que toda língua viva está sujeita. Ora, o que é dinâmico não pode ser estável. No entanto, a língua se apresenta como um paradoxo - imutabilidade dinâmica, sujeita a modificações.
Eugênio Coseriu aborda a condição de mutabilidade quando diz que “ela é característica essencial e necessária da língua” porque, continua, “a língua não está feita, mas sim, faz-se continuamente pela atividade lingüística”. Afirma, ainda, que “a língua muda porque é falada e o falar é atividade criadora, livre e finalista, e é sempre novo”.
Todavia, a mudança na língua só é possível porque ela é lenta, gradual, quase imperceptível na comunidade onde ela ocorre. Portanto, a mutabilidade lingüística é o reflexo que aparece em todo e qualquer agrupamento lingüístico onde a língua é usada e, se usada, é viva e cheia de sutis alterações que a vão modificando lentamente.
A mutabilidade da língua se manifesta nas variações regionais da fala que, dentro do arcabouço imutável, apresenta variantes contínuas da fala. São variações que se manifestam no aspecto fônico, morfológico ou sintático e, de modo mais acentuado no lexical e semântico. É a “lei do menor esforço”, ou melhor, a economia lingüística provoca as mutações que se processam de modo lento e persistente, criando as variações na linguagem, os regionalismos, os dialetos.
Dentre as variações, serão focalizadas as lexicais que implicam na criação de novos signos ou atribuindo novas conotações para signos já existentes. As modificações de signos ou a sua criação trazem distúrbios na comunicação que podem, às vezes, torná-la incompreensível. Serão focalizados os alofones que aparecem na alteração do significante, às vezes bem acentuada. Pode acontecer que haja alterações fonéticas tão grandes num feixe de fonemas de um vocábulo que este se torna quase incompreensível ou irreconhecível em relação ao seu étimo primitivo. No entanto, ambos coexistem diacronicamente na linguagem, com um aqui e outro acolá. Há exemplos desse fato na pesquisa rural como, por exemplo, mal-de-ano>manjina.
Pode-se focalizar, ainda, o comportamento das duas linguagens. De um lado, a científica que progride a cada dia, a cada hora, criando novos termos e incorporando-os a seu universo lingüístico-cultural. De outro, a linguagem da fala diária que exprime seus atos de criação, seus sentimentos, sua vivência do dia a dia, arrastando sua linguagem tão lentamente, com a paciência de quem espera uma árvore crescer e dar seus frutos. Não é de se estranhar que a linguagem, utilizada por todos, inclusive por aqueles que a dominam em todas as suas possíveis nuanças por mais sutis que sejam, está sujeita a mutações mas sempre de modo lento e gradual.
Bally afirma que “les langues changent sans cesse et ne peuvent funcioner qu’en ne changeant pas”. Sofrer mutações é, pois, um “continuum” que caracteriza toda língua viva, e é a condição básica para sua sobrevivência. Sendo a língua um sistema de comunicação constante, não deveria, normalmente, sofrer mudanças, porque “...a língua é um organismo sistemático em que tudo está relacionado entre si, e o seu objeto é a compreensão por parte da comunidade em que é falada, dever-se-ia esperar a sua estabilidade como sistema que cumpre adequadamente sua função”. Essa estabilidade, entretanto, não ocorre porque há interferência de fatores externos de instabilidade, o que, paradoxalmente, contribui para que o sistema lingüístico, equilibrado por definição, não caia na estabilidade perpétua, nem na imobilidade.
Llorac, citado por Coseriu, faz a distinção entre os fatores externos que atuam sobre a língua. Os primeiros motivam a mudança e reconstituem o sistema perturbado em sua estabilidade e imutabilidade. É o próprio Saussure quem afirma: “em si mesmo, o sistema é imutável” Essa é, no entanto, uma concepção estática da língua porque nela se verifica mudança real. E no dizer de Coseriu, “a língua que muda é a ‘língua real em seu existir concreto’. Mas esta língua não pode ser isolada dos ‘fatores externos’ - isto é, de tudo aquilo que constitui a fisicidade, a historicidade e a liberdade expressiva dos falantes - pois ela só se realiza no falar” Coseriu distingue, ainda, a língua abstrata (que não muda) e a língua real (que muda). A primeira não é irreal, ela existe no interior de cada falante, onde jazem todas as possibilidades permitidas pela estrutura interna da língua que os falantes usam individualmente provocando alterações e mudanças “na língua real em seu existir concreto” (Coseriu). Essas alterações são lentas e progressivas e refletem uma tendência geral dos falantes e que condizem com a afirmativa de H. Paul, citado por Coseriu: “Toda língua [ou melhor: todo falante] preocupa-se constantemente em eliminar irregularidades inúteis para criar para o equivalente funcional a mesma expressão oral”. Isso leva a concluir que qualquer alteração na língua só pode existir partindo dos seus utentes que “impõem” (inconscientemente) as mudanças a que as línguas estão sujeitas. Coseriu reconhece essa realidade quando diz: “nunca se viu uma gramática que se modificasse por si mesma, nem um dicionário que se enriquecesse por conta própria”.
Pode-se acrescentar que nenhum filólogo, gramático, lexicólogo ou lingüista pôde ou pode tirar, modificar ou enriquecer uma língua, uma gramática ou dicionário com o mais tênue item lingüístico. O poder de criar que cada um desses estudiosos da língua pode usar, é o mesmo de cada falante de sua língua. Cada um deve buscar, nos seus estudos, o que é de usa geral ou particular, o que foi usado de acordo com as leis que subjazem em qualquer estrutura da língua, isto é, nas possibilidades de expressão manifestadas tanto na língua popular como na língua culta. Ambas vivem uma dinâmica contínua, ambas, com seu poder criador, enriquecem a língua de acordo com o que se sente e se vive no seu dia a dia, de acordo com os recortes da vida que a cultura apresenta. No entanto, há algumas expressões ou formas que são mais ou menos usadas na linguagem falada popular como na formal ou culta, falada ou escrita. Outras, todavia, são reflexos de modismos de época, de momentos passageiros que, por isso mesmo, têm vida efêmera.
As formas, ou melhor, os usos lingüísticos, tanto na linguagem popular como na formal ou culta são criações e realizações criadas pelos usuários de uma mesma língua. São recursos subjacentes, permitidos pela língua abstrata, sendo conseqüentemente, criações da língua real. As divergências entre as criações populares e as cultas, são, por sua vez, reflexos de contextos também diferentes que uma e outra linguagens podem realizar, de acordo com o recorte que cada um faz do seu mundo. Pode-se acrescentar que a diferença entre a linguagem culta e a popular reside no fato de externar aquela em apresentar um aspecto mais aperfeiçoado do belo lingüístico e esta uma fala comum, de uso diário e pragmático. Isso é possível porque “a língua real e histórica é dinâmica porque a atividade lingüística não é falar e entender uma língua, mas falar e entender algo de novo por meio da língua. Por isso a língua se adapta às necessidades expressivas dos falantes e continua a funcionar como língua na medida em que se adapta”.
Coseriu mostra, ainda, que nada impede este ou aquele falante de criar ou alterar dentro da língua. Logo a seguir afirma: “O que não se ‘altera’ não tem ‘continuidade’ mas permanência, e carece de historicidade”. A língua é, pois, “enérgeia” e “dynamis” porque uma modificação se realiza, “não em algo já realizado, mas na técnica do fazer lingüístico”.
Sobre a mutação lingüística, o mesmo Coseriu diz que “a mudança lingüística não é senão a manifestação da criatividade da linguagem na história das línguas” e a seguir acrescenta que “um estado de língua em projeção sincrônica não é ‘a’ língua, mas um corte transversal na língua que continua historicamente”.
Após essas considerações sobre o porquê que as línguas mudam, serão focalizados dois tipos de mudanças mais comuns que atingem as línguas no uso diário. De um lado, ocorrem as mudanças fônicas que caracteriza, no Brasil, os regionalismos da fala; de outro, aparecem mudanças lexicais que marcam, também, os regionalismos, não podendo falar ainda em dialetos, pois estes deveriam apresentam diferenças não só no léxico e na fonética mas também diferenças morfossintáticas e de modo especial na estrutura frasal a serem apresentados, oportunamente, em alguns momentos da fala.
Entre as duas mudanças, a fônica é facilmente assimilável. São alterações que ocorrem, na maioria das vezes, num ou noutro traço fônico que não chega a constituir característica pertinente, não prejudicando a comunicação. Às vezes, no entanto, a alteração fonética é realizada, em alguns lugares (em propriedades rurais), num feixe de fonemas de tal modo que da forma do vocábulo primitivo pouco resta aparentemente. Há vocábulos que sobrevivem com uma ou mais formas sincrônicas que trazem em si os traços de uma evolução diacrônica explicável, constituindo verdadeiras diacronias sincrônicas.
- SINCRONIA - DIACRONIA
A mudança lingüística é característica de toda língua viva, falada por qualquer povo. Uma língua ao ser falada sofre um desgaste natural porque cada falante procura adaptar a fala às tendências regionais da sua cultura. Nessas tendências a língua sofre modificações lentas e suaves, quase imperceptíveis que aos poucos vai alterando a língua.
Uma língua falada por vários povos, em várias regiões, se altera a ponto de constituir-se em novas línguas, novos falares que muitas vezes não é compreendido entre os falantes de regiões diversas. Isso ocorre com os “espanhóis” das Américas e os “Ingleses” da Inglaterra, EUA, Índia, Austrália, etc. Nos EUA, cada região tem seu “inglês” próprio com características peculiares. Essas modificações alteram a língua em seus aspectos fonéticos, morfológicos, sintáticos, semânticos. É a diacronia: transformações ocorridas na sincronia da língua no momento em que é falada.
Acontece de um mesmo falante, como foi constatado na pesquisa rural, usar, até numa mesma frase, duas formas sincrônicas de fala para um mesmo item lexical ou para uma mesma estrutura de frase. O falante faz concordância, nominal ou verbal, entre determinado e determinante mas pode ocorrer a marca de gênero e/ou número só no determinante.
Existem simultaneamente a sincronia com a diacronia ou uma pancronia. Essa constatação vem colocar dúvidas no que Saussure expõe sobre a oposição entre sincronia e diacronia. Parece, como será apresentado mais adiante, que a posição da peças no tabuleiro de xadrez, no momento de novo lance, não diz bem a realidade de fala constatada na pesquisa. Só se o momento for determinado pelo momento em que cada vocábulo pronunciado e logo a seguir esse mesmo vocábulo terá, exemplo, uma alteração na sua parte fônica ou na sua marca de gênero ou número. Como exemplo: “Os minino e as mininas saiu” ou “Os minino e as minina saiu” ou “Os mininos e as minina saiu ou saíram”. Esses tipos de construção foram encontrados em várias frases emitidas por informantes. Não há uniformidade na sincronia pois ela apresenta estados de tendência evolutiva numa mesma frase. Há várias tendências diacrônicas em cada sincronia. As formas evolutivas aparecem num momento sincrônico e são tendências diacrônicas da evolução sincrônica. A sincronia revela alterações diacrônicas.
4 - MICRORREGIÃO DE VIÇOSA
Na microrregião de Viçosa iniciou-se uma pesquisa dialectológica enfocando a fala do meio rural. Foram pesquisadas 210 propriedades rurais espalhadas pelos 20 municípios da microrregião.
O objetivo da pesquisa é atingir todas as sete microrregiões da Zona da Mata. A pesquisa início-se na Microregião 62 de Viçosa, localizada na Mesorregião 12 da Zona da Mata de Minas Gerais. Em 03.05.1990 foi publicada portaria do IBGE com nova divisão do Brasil em 31 Macrorregiões que formam Unidades da Federação. Cada uma destas está dividida em Mesorregiões, que se dividem em Micorregiões com seu número variável de municípios. O Estado de Minas Gerais passou a ter 12 mesorregiões:
01 - Mesorregião do Noroeste de Minas
02 - Mesorregião do Norte de Minas
03 - Mesorregião do Jequitinhonha
04 - Mesorregião do Vale do Mucuri
05 - Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Pananaíba
06 - Mesorregião Central Mineira
07 - Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte
08 - Mesorregião do Vale do Rio Doce
09 - Mesorregião do Oeste de Minas
10 - Mesorregião do Sul/Sudeste de Minas
11 - Mesorregião do Campo das Vertentes
12 - Mesorregião da Zona da Mata
A pesquisa dialectológica rural teve seu início na Microrregião de Viçosa pertencente à Mesorregião 12 da Zona da Mata. Essa Mesorregião está dividida em 7 Microrregiões:
060 - Microrregião de Ponte Nova
061 - Microrregião de Manhuaçu
062 - Microrregião de Viçosa
063 - Microrregião de Muriaé
064 - Microrregião de Ubá
065 - Microrregião de Juiz de Fora
066 - Microrregião de Cataguases
A Microrregião de Viçosa-062 foi escolhida para o início da pesquisa. Abrange 20 Localidades ou Municípios, numa extensão territorial aproximada de 4.763, 8 km2. Cada Localidade tem sua numeração alfanumérica do IBGE, um número dado pela pesquisa e, entre parênteses, o da propriedade pesquisada.
Localidades da Microrregião
01 - 0210.0 - Alto Rio Doce (16 propr.) 11 - 4830.1 - Paula Cândido (10 propr.)
02 - 0250.6 - Amparo do Serra (10 propr.) 12 - 4880.6 - Pedra do Anta (09 propr.)
03 - 0370.2 - Araponga (09 propr.) 13 - 5080.1 - Piranga (09 propr.)
04 - 0870.1 - Brás Pires(10 propr.) 14 - 5230.3 - Porto Firme (14 propr.)
05 - 1020.2 - Cajuri (08 propr.) 15 - 5310.3 - Presidente Bernardes (14 propr.)
06 - 1170.5 - Canaã (11 propr.) 16 - 5520.7 - Rio Espera (10 propr.)
07 - 1630.8 - Cipotânea (10 propr.) 17 - 6380.5 - São Miguel do Anta (09 propr.)
08 - 1670.4 - Coimbra (10 propr.) 18 - 6600.6 - Senhora de Oliveira (10 propr.)
09 - 2400.5 - Ervália (11 propr.) 19 - 6850.7 - Teixeiras (09 propr.)
10 - 3790.8 - Lamim (08 propr.) 20 - 7130.3 - Viçosa (16 propr.)
O número de propriedades foi determinado pela extensão territorial do município, perfazendo um número de 210. As localidades foram demarcadas aleatoriamente nos mapas oficiais, adquiridos no IGA de Belo Horizonte. Todavia estabeleceu-se o critério da possível eqüidistância entre propriedades, para que se pudesse ter uma amostragem geral do município. Foram evitadas, dentro do possível, propriedades muito próximas da sede municipal.
BIBLIOGRAFIA
BALLY, Charles. Linguistique générale et linguistique française. Berna : 1950, p. 18.
BORBA, Francisco da Silva. Pequeno vocabulário de lingüística moderna. 2ª ed. rev. e aum. São Paulo : Nacional, 1976.
CARRETER, Fernando Lázaro. Diccionario de términos filológicos. 3ª edicion corregida. Madrid : Gredos, 1974.
DUBOIS, Jean et alii. Dicionário de lingüística. São Paulo : Cultrix, 1978.
LLORAC, E. Alarcos. Fonología española. Madrid : 1954, p. 97.
MATTOSO, J. Camara Jr. Dicionário de lingüística e gramática. 8ª ed. Petrópolis : Vozes, 1879.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de lingüística geral. 4a ed. São Paulo : Cultrix, 1972, p. 100.