Livro de Resumos - 3a parte


 

CONSIDERAÇOES SOBRE OS INÉDITOS DE JOÂO GUMES

Maria da Conceição Souza Reis (UNEB/UFBA)

A leitura dos autógrafos da obra do baiano João Antônio dos Santos Gumes oferece elementos que nos permite inferir: o escritor deixa marcas lingüísticas que revelam a sua escritura, o modo de construir a sua obra, fato que o particulariza diante de outros escritores. É através dessas marcas deixadas nos manuscritos e da escolha vocabular que o autor expressa sua visão de mundo e sua intenção poética, além disso, dialoga com as obras que o precedem, ao tempo que elabora seu texto pressionado pela tradição literária. A partir do estudo dos manuscritos do escritor, pretende-se apresentar os primeiros resultados da pesquisa que visa editar os inéditos e elaborar a gramática estilística de João Gumes.

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CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS, FINAIS E CONTRASTIVAS

Violeta Virginia Rodrigues (UFRJ)

Este estudo visa a contribuir para a descrição lingüística do uso de três tipos de orações subordinadas adverbiais - as condicionais, as finais e as concessivas. Reuniram-se tais orações porque são, segundo Mateus et alii (1983:457), construções mistas - envolvem a noção de encaixe de uma frase na outra, como também o conhecimento de noções lógico-semânticas.

A principal questão que este trabalha tenta responder é se a anteposição da subordinada à principal nessas construções, tanto na fala quanto na escrita, constitui ou não um fenômeno de variação lingüística.

Os corpora utilizados são de dois tipos: um, de língua escrita e outro, de língua falada. O corpus de língua escrita compõe-se de textos jornalísticos, retirados do JORNAL DO BRASIL, impresso no decorrer dos dias 27 de agosto a 8 de setembro de 1997. O corpus de língua falada compõe-se de inquéritos do Projeto NURC/BR, constituído de entrevistas com falantes cultos, distribuídos por faixas etárias e gênero.

Para o processamento das 180 construções de subordinação, 90 de língua falada e 90 de língua escrita, 30 de cada tipo - condicional, final e concessiva - , foi utilizado o programa VARBRUL, que possibilita dar aos dados um tratamento estatístico e probabilístico. O quadro teórico que orienta o trabalho é o da Teoria da Variação Lingüística proposta por Labov, que constitui um aparato metodológico para se estudar a heterogeneidade lingüística, isto é, a variação.

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CONSTRUÇÕES REDUZIDAS – ONTEM E HOJE

Amanda Medeiros Simões Moreira (UFF)
Orient.: Mariângela Rios de Oliveira & Sebastião J. Votre  (UFF)

O presente estudo (parte do projeto de pesquisa Continuidade, Variabilidade e Mudança no Português escrito no Brasil, desenvolvido pelo Grupo de Estudos Discurso & Gramática - UFF), oferece uma interpretação sobre o comportamento do latim, português arcaico e contemporâneo, em termos de construções em -ndo, “a” + infinitivo, particípio passado e presente. Fazemos uma análise pancrônica dos fenômenos da língua, na busca de evidências para (des)gramaticalização, iconicidade, unidirecionalidade e extensão imagética. Analisamos fontes do latim, português arcaico e contemporâneo. Contabilizamos dados das diferentes construções na busca de tendências, com foco nas diferenças ou semelhanças semântico- sintáticas das mesmas. Constatamos que as construções em -ndo, ligadas ao verbo, bem como, ao nome (gerundivo no latim), são quantitativamente superiores a outras construções reduzidas, tendência verificada no latim. Nesta sincronia observamos uma oscilação entre o uso do particípio presente e gerundial. Buscamos as motivações que fizeram o português lusitano preferir “a” + infinitivo, quebrando a tendência gerundial. As informações codificadas pela construção em -ndo ligado ao verbo, poderiam, aparentemente, ser codificadas por “a” + infinitivo. Entretanto, para “a” + infinitivo verificamos um caráter de indeterminação. Vimos para as formas de particípio passado e presente, indeterminação entre os sentidos verbal e adjetival.

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CRYSANTHÈME

OLHARES DE MULHER SOBRE O RIO DE JANEIRO

Maria de Lourdes de Melo Pinto (UNESA)

A cronista Cecília Moncorvo Bandeira de Melo Rebelo de Vasconcelos, autognominada Chrysanthème, foi figura de notável presença nas primeiras décadas do século XX. Apesar de sua volumosa produção ao longo de 60 anos de trabalho em renomados jornais como O Paiz, o Correio Paulistano, entre outros, seu nome foi, infelizmente, apagado da memória carioca.

Com o intuito de inverter esse quadro, detemo-nos sobre crônicas colhidas no jornal O Paiz entre os anos de 1914 e 1937, trazendo a lume não apenas uma figura feminina da época, mas alguns de seus registros e impressões sobre as transformações sociais, políticas e arquitetônicas ocorridas no Rio de Janeiro de então.

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DESCRIÇÃO DA FAMÍLIA OCUPACIONAL
DOS FILÓLOGOS, TRADUTORES E INTÉRPRETES

José Pereira da Silva (UERJ)

Apresentação resumida dos resultados a que chegaram os doze especialistas dessa família ocupacional, reunidos em São Paulo no mês de julho, num painel promovido pelo Ministério do Trabalho e Emprego para a elaboração da Classificação Brasileira de Ocupações, num projeto denominado, abreviadamente CBO 2000.

Da profissão de filólogo, foram convidados para esse painel, os professores Bruno Fregni Basseto (USP), Célia Marques Telles (UFBA) e José Pereira da Silva (UERJ).

Este projeto é de grande importância para o país porque permitirá a atualização de códigos, títulos e descrições da Classificação Brasileira de Ocupações, obra de referência para classificar os empregos no mercado de trabalho brasileiro. A família ocupacional é um conceito ampliado de emprego, entendido como um conjunto de atividades realizadas pelo profissional e as competências para a sua realização.

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DESEJOS ALEXANDRINOS
LEITURAS HELENÍSTICAS E MODERNAS

Fernanda Lemos de Lima (UERJ)

Na presente comunicação, pretendo observar como dois poetas de momentos diferentes da Grande Alexandria expressam o desejo homoerótico em suas poesias. O primeiro, Calímaco de Cirene, que vive na corte dos Ptolomeus, usa a palavra livre de censura, ao passo que o segundo, Konstantinos Kaváfis, precisa camuflar o desejo através da palavra ambígua, que deixa a cargo do leitor a percepção de uma poesia homoerótica. O primeiro, Calímaco de Cirene, que vive na corte dos Ptolomeus, usa a palavra livre de censura, ao passo que o segundo, Konstantinos Kaváfis, precisa camuflar o desejo através da palavra ambígua, que deixa a cargo do leitor a percepção de uma poesia homoerótica.

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DIACRONIA E SINCRONIA

ABORDAGENS E INTERRELAÇÕES.

Antônio Carlos Siqueira de Andrade (UERJ)

Histórico dos estudos diacrônicos; a sua importância para o estabelecimento da lingüística como ciência; a visão diacrônica soberana. A sincronia como resposta ao domínio da diacronia. O estado atual e a necessidade de integrar os estudos de língua. As transformações como evidência da dinamicidade da língua.

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DIALETO VIRTUAL

ESTRANGEIRISMOS DE INFORMÁTICA NA LÍNGUA PORTUGUESA

  Roberto Moura de Souza

Esta pesquisa é uma análise das ocorrências de estrangeirismos de informática no português do Brasil, de 1991 a 2001, em que se procurou verificar três questões que parecem afetas aos estudos da gramática do português: o emprego exagerado de lexias estrangeiras, vindas por empréstimo da Língua Inglesa; os desvios da norma ortográfica, com o emprego incompleto dos processos de formação de palavras em formas como “scaneado”, onde não se tem nem um termo português nem um termo inglês; o uso de estrangeirismos em orações vernáculas, sem deixar assinalada no texto a marca de negrito, sublinhado ou aspas, indicando tratar-se de lexia estranha ao idioma; a pronúncia de fonemas estranhos ao português como se fossem sons próprios para distinguir os signos da língua, como por exemplo, a pronúncia da forma “site” como “saite”, quando não se têm fonemas em português que se grafe “i” e se pronuncie “ai”; e elaboração de um questionário sobre as inovações lexicais da informática, aplicado em duas Escolas Públicas e em uma Particular. Esses temas foram organizados em quatro capítulos: no primeiro mostrou-se o pensamento de escritores, jornalistas e estudiosos da linguagem sobre a situação dos estrangeirismos de informática; no segundo, fez-se o levantamento de um vocabulário de informática com os termos e expressões mais comuns, dando-lhes o aspecto semântico e a classificação gramatical; no terceiro, observou-se a vida dessas lexias estrangeiras no idioma, comentando-se ao lado de uma provável produtividade lingüística as possíveis impropriedades vocabulares. E observou-se ainda, nesse capítulo, que na maioria das gramáticas não há uma abordagem ampla e consistente sobre as inovações lexicais que penetram no idioma; no quarto, procurou discutir uma possível Teoria para o aportuguesamento.

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DIÁRIO EM RETALHOS

DIÁRIO, HISTORIOGRAFIA E HISTORICIDADE DO FRAGMENTO

Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo (UERJ)

O trabalho objetiva discutir a organização do diário do escritor Afonso Henriques de Lima Barreto – a partir de fragmentos ou “retalhos” – e sua relação com a historiografia tradicional que o classificou; seu conteúdo de historicidade e a perspectiva moderna de observador crítico de cultura e literatura.

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DICIONÁRIO DE TERMOS DA LINGÜÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO

Antônio Luciano Pontes (UECE/UNIFOR)

Nossa comunicação objetiva apresentar modelos de microestruturas de verbetes, relativo ao glossário dos termos da lingüística da enunciação . A pesquisa baseia-se nos fundamentos da TCT – teoria comunicativa da terminologia, proposta por CABRÉ, 1999 . O corpus que se utilizou para a produção do glossário foi levantado em textos produzidos em língua portuguesa – variante brasileira, incluindo teses, artigos de periódicos e de anais de Congresso e livros, durante o período de 1990 a 2000.

Os resultados da pesquisa até o momento são provisórios. Temos os principais modelos de microestrutura de verbetes. Esses modelos se adaptam mais especificamente a verbetes de obras  enciclopédicas. Achamos  importante mostrar que é possível chegar à homogeneidade de uma obra sobre um tema tão complexo a partir do estabelecimento prévio de modelos de enunciados terminográfica  adequadas à natureza do domínio em questão.

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DICIONÁRIO PARA CADA COISA – GLOSSÁRIOS

Carlos Santos(UESB)

Depois de catalogar os verbetes no Word, gravei em disquete, tendo revisão gramatical e ortográfica. Nas entradas, todas estão em negrito, em ordem alfabética, estilo Normal, fonte Time New Romam, 12, espaçamento simples. Nos significados, palavras estrangeiras, mesmo as “aportuguesadas”, em itálico.

Parcialmente, consegui fazer 1 Glossário de Jornalismo com 500 verbetes, impressos em 75 páginas; 1 Glossário de Rádio e TV, com 500 verbetes, 57 páginas, 1 Glossário de Publicidade e Propaganda, com 300 verbetes, em 40 páginas, 1 Glossário de Fotografia, com 150 verbetes, em 19 páginas, e 1 Glossário de Informática, com 1.350 verbetes, em 161 páginas. Todos estão impressos em papel ofício A4 para publicação. Esse trabalho científico começou em setembro de 2000 e continua pesquisando verbetes para completar uma obra que sirva de fonte para grupos específicos.

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DISCURSO POLÍTICO NA MÍDIA BRASILEIRA

UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO DE SENTIDO

Bruno Rêgo Deusdará Rodrigues (UERJ)

A proposta de trabalho se insere proficuamente na atualidade brasileira, procurando destacar a produção de sentido no discurso político, a partir do suporte midiático. Por conseguinte, o entendimento do mídium não como transmissor de informações, mas como o produtor de sentidos que, de fato, é permite um olhar ainda mais crítico à contemporaneidade. O estudo, portanto, se desenvolve na análise da relação entre as noções de discurso relatado e designações, segundo o quadro teórico de Maingueneau (1989, 1998). Constitui-se o corpus de reportagens de O Globo, jornal de circulação nacional, servindo como fonte de investigação ao que se pretende. Datadas de 23 a 26 de maio de 2001, trata-se de conversa telefônica entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e uma colunista do referido jornal, somada a polemização subseqüente.

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DO EMBLEMA À METÁFORA: BREVE ABORDAGEM
DO VISUALISMO PATÉTICO SEISCENTISTA

Ana Lúcia Machado de Oliveira (UERJ)

Este trabalho parte da constatação do lugar de relevo reservado aos elementos visuais nas diferentes formas de representação seiscentistas. Dos livros de gravuras, empregados na meditação religiosa, aos livros de emblemas e divisas, o apelo às sensações visuais é extremamente valorizado, devido à sua grande eficácia persuasiva. No âmbito da codificação retórico-poética – acompanhando o gosto da época, que recicla o paradigma do ut pictura poesis –, postula-se que o discurso deve criar imagem. Destaque-se igualmente o papel proeminente atribuído, por Gracián, Tesauro e outros preceptistas do século XVII, à metáfora, considerada menos uma figura de estilo particular do que a condensação do engenho como pensamento figural .

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DOCUMENTOS DA COLEÇÃO SANTO AMARO
PROPOSTA DE EDIÇÃO

Ana Júlia Tavares Staudt (UNEB/UFBA)

Apresentar-se-á uma proposta de edição semidiplomática do documento TOM 24/13, manuscrito do século XVIII, pertencente a Coleção Santo Amaro sob a guarda do Setor de Filologia Românica do Departamento de Fundamento para o Estudo das Letras da Universidade Federal da Bahia.

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ELECTRA E O LUTO DA MÃE

Cátia Cristina A. H. dos Santos (UERJ)

Pertence ao senso comum a identificação de Electra com a figura de seu pai, assim como a revolta vingadora que a faz co-partícipe do matricídio, executado pelo irmão Orestes. Mas a personagem das Coéforas de Ésquilo fala de “dores que não se podem acalmar”, referindo-se às difícieis relações entre mãe e filha. Electra chora, pois, por si mesma, por ressentir-se e sentir-se carente de amor materno. Com base nessa idéia de um ressentimento prolongado e contido (“soluços sem fim, que eu escondia”), Eugene O’Neill concebeu Mourning becomes Electra, leitura singular sobre o ódio de Electra à mãe, que enfatiza uma idéia de luto permanente, coagulado, transformado naquilo que Freud denominou melancolia. A correlação entre as duas obras projeta profundas conexões entre a personagem de Ésquilo e sua representante norte-americana. A finalidade deste trabalho é examinar o processo de extração da matéria prima mítica e sua contribuição para a elaboração de uma dramaturgia voltada para o realismo psicológico.

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ELECTRA E O LUTO DA MÃE

EM TORNO DA CRIATIVIDADE DAS LÍNGUAS

Júlia Maria Costa de Almeida (USF)

O trabalho pretende analisar concepções diferenciadas em torno da idéia de criatividade lingüística, tomando como alvo de problematização o “modelo calculável ou recursivo da criatividade” tal como é sustentado por Chomsky. Tendo as análises de Sylvain Auroux como base para o debate, investigaremos como a interpretação da criatividade lingüística, enquanto se apresenta como simples possibilidade de produção e interpretação de um número infinito de frases a partir de um conjunto de regras finitas, passa ao largo do que há de verdadeiramente criativo na prática da linguagem, fornecendo uma idéia simplista do comportamento lingüístico. Contra este modelo que supõe a fixidez do conjunto de partida realizando-se infinita e previsivelmente, a questão da criatividade será retomada pela indagação sobre o novo, pela questão de saber de onde vem a capacidade de engendrar o ‘novo’, o  imprevisível, ecoando os termos de campos teóricos, tais como a física dos sistemas dinâmicos que trabalha com sistemas abertos e imprevisíveis, com estados e propriedades distantes do equilíbrio, em que a instabilidade dinâmica é produtiva. Este modo de pensar os objetos do conhecimento, não através do que eles teriam de constante e de inalterável, mas do que apresentam de novidades e de instabilidades vai em sentido paralelo às indagações filosóficas contemporâneas que propõem conceitos sobre a linguagem imantados de diferença e de variação, sugerindo aos estudos da linguagem um campo fecundo de investigações.

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ENTRE A DERIVA E O ABASTARDAMENTO

Aileda de Mattos Oliveira  (CiFEFiL e FGS)

Como produto social, a língua está sujeita à mesma trajetória dos que a falam, refletindo assim, o estágio da sociedade em todos os seus aspectos. As transformações por que uma língua passa, podem ser o resultado da marcha inexorável de todo instrumento de intercomunicação, ajustado, continuamente, às necessidades das gerações que se sucedem. Paralelamente a esses fenômenos naturais de adaptação espácio-temporal, ocorrem outros de degeneração cultural, cujas causas secundárias poder-se-iam analisar no âmbito diastrático, e primárias, no político-educacional. Resultantes deste último, os meios de informação, notadamente os televisuais, concorrem para deslustrar o que ainda permanece viçoso em termos de língua, numa tentativa de, pela massificação intelectual, criar nos laboratórios experimentais de efeitos especiais, uma variante única, em nível popular ou chulo. Procurar-se-á analisar o que decorre da dinâmica social e o que provém da incúria cultural.

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ERASMO DE ROTTERDAM: "ELOGIO DA LOUCURA" – UM POSSÍVEL   PARADIGMA DE RAZÃO HUMANIZADA ADOTADO PELA TV GLOBO EM “VOCÊ  DECIDE

Rosângela Maria Couto (UFSC)

Com este trabalho, pretende-se, ainda, justificar as fundações do pensamento político de Erasmo, nas alças da antropologia humanista, que chegaram ao século XVI, para apontar uma reinterpretação da sociedade não só no tocante à liberdade individual, bem como à crença no poder da Razão instrumentalizada através das leituras dos clássicos e de cenas do cotidiano.

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EROS: UM FOCO DE LUZ
NA OBRA POÉTICA DE FLORBELA ESPANCA

Maria Alice Aguiar (UERJ)

A leitura de alguns poemas da obra de Florbela Espanca suscitou, em nós, uma interpretação óptica no sentido de ser o eu poético um elemento prismático. Com base na teoria da semântica estrutural - Greimas – e em leis da física, pretendemos demonstrar, pela análise de alguns poemas, que cada foco de luz, a que denominaremos Eros – linguagem erótica -, ao incidir sobre o eu poético, um prisma, refratará uma gama de imagens que se farão representar por diversas freqüências semânticas. Supondo ser o eu poético um prisma, ele se revela como o corpo principal de um processo de decomposição da luz branca admitindo-se como foco de luz, Eros. Assim, cada raio incidente – Eros – transportando em si os atributos que lhe são inerentes, atravessa a transparência do eu poético, espalhando sua luz e obtendo do processo um espectro, uma dispersão semântica. O eu poético, então, recebe o foco luminoso – Eros – e o refrata sob forma de raios divergentes que determinam os núcleos sêmicos: Eros-saudade, Eros-transcendência, Eros-êxtase, Eros-lamento, Eros-suavidade, Eros-doação, Eros-esperança. Thánatos, nesta leitura, emerge como não Thánatos, que se faz significante pela sua presença ausente. Uma cadeia sêmica de equivalência nos conduz ao classema existência. Destarte, a existência para Florbela se assenta na flutuação de Eros em busca do não Thánatos.

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ERROS DO PORTUGUÊS
COMO EVIDÊNCIA DA HISTÓRIA DA LÍNGUA

Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

A situação lingüística do Brasil nos séculos XVI e XVII: semicrioulo português do elemento negro e a “língua geral” do elemento indígena.

As dificuldades de aquisição do português por parte do falante da “língua geral” ou do “semicrioulo”: acomodações fonéticas e sintáticas resultantes do contato do português e evidências dessas acomodações nos erros mais comuns do português atual do Brasil.

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ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO DE HUMOR EM TIRAS DE QUADRINHOS: UMA ANÁLISE DE ENQUADRES E ALINHAMENTOS EM TIRAS DE QUADRINHOS

Maria da Penha Pereira Lins(UFES)

O estudo consiste na descrição das estratégias lingüístico-discursivas utilizadas em tiras de quadrinhos com vistas à produção de humor. Trata-se de um trabalho de micro-análise dos discursos, na área da Sociolingüística Interacional, que utiliza, basicamente, as noções de esquemas de conhecimento e enquadres interativos. Na análise de tiras do autor Quino, que tem como personagem principal Mafalda, foi constatada a mudança nos enquadres e alinhamentos dos personagens, o que provoca uma ruptura com as estruturas de expectativas do leitor, ativadas pelos esquemas de conhecimentos relacionados aos enquadres.

Levando-se em conta os códigos verbal e não-verbal, observou-se que essas mudanças de enquadres e alinhamentos são marcadas pelo conteúdo das falas dos personagens, pelas estratégias discursivas utilizadas e pela quebra da seqüência prevista para as atividades de fala.

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ESTUDO EXPERIMENTAL DAS VOGAIS ASSILÁBICAS DO RIO DE JANEIRO

Adriano de Souza Dias (UFF)

A Fonética Experimental permite uma análise das qualidades físicas do som, tais como: duração, intensidade, freqüência dos formantes, entre outras. Nossa pesquisa consistiu numa descrição acústico-articulatória das vogais silábicas e assilábicas do português do Rio de janeiro, comparando-as entre si, a fim de se estabelecer as semelhanças e as diferenças entre ambos os segmentos vocálicos. Constatamos que as vogais assilábicas se diferenciam das silábicas correspondentes, não só do ponto de vista acústico, como também do articulatório. Além disso, as vogais assilábicas apresentam menor duração e formantes com maiores freqüências, se comparadas às silábicas correspondentes. A intensidade não se mostrou relevante na comparação entre essas vogais, outrossim, observou-se uma grande influência dos sons contíguos nas vogais analisadas.

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ESTUDO PRÁTICO DO LATIM VULGAR

Nestor Dockhorn (UNIG/)

EMENTA: Quatro lições de estudo comparativo do latim clássico e do latim vulgar.

Sentenças elaboradas dentro dos padrões clássicos, apresentadas em transcrição fonética e traduzidas para o latim vulgar, também transcritas foneticamente.

Apresentação gradual dos processos fonológicos, morfológicos, sintáticos e léxicos que ocorrem na passagem do latim clássico ao latim vulgar.

Exercícios de transcrição fonética e de tradução para o latim vulgar.

Eventuais traduções das sentenças estudadas para os padrões do português medieval.

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EU FALEI COM UM PROFESSOR AÍ”

EVIDÊNCIAS SEMÂNTICO-SINTÁTICAS DE UM PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO

Maria Alice Tavares (UFSC)

A sentença que inicia o título deste resumo é ambígua: podemos ter um dêitico apontando para um ponto no espaço próximo ao ouvinte (dêitico 1); um dêitico apontando para um professor dentre um conjunto de professores que estão nas proximidades (dêitico 2); ou um especificador (cf. Tavares, 2001) fornecendo ao SN o traço [+específico]. Utilizando dados extraídos de programas televisivos e dados criados por mim, proponho um percurso passível de ter sido seguido por em sua passagem pelo processo de gramaticalização (cf. Hopper e Traugott, 1993) rumo à especificação de SNs indefinidos. Um dois mecanismos de mudança que parecem estar envolvidos nesse processo é a reanálise. Segundo Harris & Campbell (1995), a reanálise modifica a estrutura subjacente de uma expressão ou classe de expressões, envolvendo reorganização e mudança de regra lineares e sintagmáticas. Como dêitico 1, não faz parte do SN e indica um lugar próximo ao ouvinte. Os contextos em que segue o SN indefinido permitiram a reanálise da estrutura, tornando-se o mais ligado ao nome, como dêitico 2. O uso do como dêitico relacionado a um nome para cujo referente aponta permitiu nova reanálise rumo a uma maior proximidade com o nome: o torna-se imediatamente adjacente a este e passa a fornecer-lhe um traço de especificidade. Ou seja, quanto maior o relacionamento do com o nome no plano do significado, maior a proximidade com o nome na estrutura sintática, alterando-se a relação entre constituintes e a estrutura hierárquica.

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EXPRESSÕES PROVERBIAIS
NA CENA TRIMALCHIONIS DE PETRÔNIO

Edison Lourenço Molinari (UFRJ)

Neste trabalho serão analisadas frases e expressões proverbiais colhidas na Cena Trimalchionis, com o objetivo de ressaltar como esses recursos fraseológicos refletem a mentalidade popular romana.

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FILOLOGIA JURÍDICA: O PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE E O ACESSO À JUSTIÇA NOS JUIZADOS ESPECIAIS

Antonio do Passo Cabral (UERJ)
Orientador: Luiz Fux (UERJ)

Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais foram criados com o escopo de operacionalizar, em termos práticos, o acesso à Justiça, movimento que vem norteando o Direito Processual nas últimas décadas. Com efeito, o amplo acesso à Justiça reclama uma prestação jurisdicional rápida e eficiente, onde todos tenham possibilidades de contar com a proteção judicial.

Assim, os Juizados Especiais são regidos pelos princípios da celeridade, informalidade, simplicidade, entre outros. Por outro lado, a assistência técnica especializada, que em regra deve ser exercida pelos advogados foi dispensada no procedimento dos Juizados Especiais, com o intuito de permitir que até os indivíduos mais pobres alcancem a tutela jurisdicional, sem arcar com os encargos econômicos da contratação de advogado.

Desta forma, o legislador viabilizou o acesso à Justiça de cidadãos com limitada instrução e formação educacional Assim, impende que esses indivíduos, vez que garantida sua participação sem auxílio de procurador especializado em Direito, possam entender o conteúdo da linguagem jurídica, extremamente técnica e pouco acessível aos leigos.

Por conseguinte, o princípio da simplicidade, que norteia o processo nos Juizados Especiais, deve ser interpretado não só como norma que visa a desburocratizar as formalidades procedimentais, mas também como imperativo de linguagem, para que a terminologia jurídica seja simplificada, para que os termos técnicos sejam compreendidos por todos.

Esta é uma Filologia do Direito libertária e igualitária, atenta para a correta compreensão do princípio da simplicidade e sua aplicação como forma de consecução do acesso à Justiça nos Juizados Especiais.

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FLEXÃO/DERIVAÇÃO

NOVOS ENFOQUES, ANTIGOS PROBLEMAS

Carlos Alexandre Gonçalves (UFRJ)

O mapeamento de fronteiras entre as duas principais divisões da Morfologia – Flexão e Derivação – vem sendo repensado em recentes abordagens sobre o assunto. Stump (1998), por exemplo, admite que os critérios empíricos usados para segregar as duas “morfologias’ nem sempre dividem as operações nos mesmos dois grupos, mas opta por descrevê-las como categorias discretas. Bybee (1985), ao contrário, propõe que a diferença entre as duas morfologias é de grau apenas: Flexão/Derivação constituem processo único, gradiente, e as operações morfológicas são dispostas numa escala, afastando-se ou se aproximando mais dos extremos prototípicos.

Nesta comunicação, pretendo apresentar e discutir a proposta de Bybee (1985), mostrando que esse novo enfoque leva aos mesmos problemas que surgem quando se analisam Flexão/Derivação como categorias discretas. Se, por um lado, Bybee nega a existência de fenômenos nitidamente categorizáveis, por outro, não oferece ferramentas para medir “quanto” um processo morfológico se aproxima ou se afasta dos extremos. Os “determinantes da expressão flexional” – Relevância e Generalidade não explicam por que uma operação é mais flexional (derivacional) que outra. Relevância e Generalidade fornecem subsídios para caracterizar uma operação morfológica como discreta (e não como gradiente). Ao discutir a aplicação dos “determinantes da expressão flexional” a processos morfológicos do português, objetivo mostrar que é necessário buscar parâmetros para posicionar as operações morfológicas ao longo do continuum idealizado por Bybee (op. cit.). Proponho algumas medidas de avaliação do teor flexional/derivacional das operações morfológicas, fornecendo instrumental para checar em que proporção um processo se afasta ou se aproxima dos extremos da escala.

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FONTES DO LATIM VULGAR

Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)

Cuida o presente trabalho de apresentar um estudo das fontes do latim vulgar, destacando, em especial, o Appendix Probi, com os comentários valiosos de Serafim da Silva Neto, dos quais selecionamos alguns registros.

Esses comentários tratam de aspectos da diacronia da língua, haja vista as alterações fonéticas das vogais, a síncope da  penúltima vogal postônica (uma das características principais da passagem do latim vulgar para o português e para as outras línguas românicas), o emprego do b pelo v, dentre outros fatos relevantes.

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HELENISMO: UMA NOVA FACE/FASE

Dulcileide Virgínio do Nascimento (UERJ)

O mundo greco-alexandrino nos foi apresentado como uma pintura; a primeira impressão que temos é a de estar diante de um borrão, causado pelas chagas das sucessivas guerras; mas, à medida que direcionamos nossa visão, deparamo-nos com cores que se unem e forma uma imagem coesa.  Assim ocorreu com a arte/literatura alexandrina, cujo objetivo foi o de relatar e representar esse momento tão bem identificado na poesia de Teócrito e de tantos outros poetas que uniram a sensação provocada pelo cárcere do realismo com a da liberdade criadora de quem busca uma nova identidade.  Palavra, objeto e movimento se tornam um ser único e, assim como a Fênix, a Grécia ressurge e revive para se tornar, mais uma vez, imortal.

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HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

O PORTUGUÊS ARCAICO

Nícia de Andrade Verdini Clare (UERJ)

Segundo Teyssier (1990:21), a língua portuguesa, falada desde o século IX, apresentou os primeiros textos escritos no começo do século XIII. Durante o período compreendido entre os séculos XIII e XIV, a língua comum é o galego-português, nascido ao Norte da Península Ibérica e desenvolvido graças ao movimento da Reconquista.

É através de três cancioneiros que conservamos fundamentalmente a língua da primitiva poesia lírica peninsular: o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Vaticana e o Ccancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa. Esses cancioneiros contêm três categorias de poesia: as cantigas d’amigo, as d’amor e as d’escárnio e maldizer. Só no final do período surgem as primeiras obras em prosa literária. Trata-se do período da prosa histórica, em que destacamos a figura de Fernão Lopes, com a Crônica de El-Rei D. João, entre outras obras.

Entre as manifestações do português arcaico, algumas formas ainda se mantêm no português atual; outras são fatos em desuso. No plano lexical, notamos a permanência de alguns vocábulos, sofrendo ou não alterações morfofonêmicas, como se pode observar em feestra (do latim fenestra, com nasalização da 1ª vogal)>feestra (com perda da nasalidade) > fresta; o desaparecimento de outros, como bafordar; a eliminação de adjetivos, como quisto, que sobrevive nas formas compostas benquisto e malquisto; o desaparecimento da palavra coyta, significando tristeza, mas a permanência do adjetivo derivado coitado.

Dos fatos morfológicos, destacamos: o desaparecimento do particípio em –udo, na 2ª conjugação, como se pode ver em perdudo; o desuso do particípio presente em –nte, hoje apenas com valor adjetivo: temente, amante; os pronomes aqueste e aquesse, hoje em desuso; as preposições antre e ontre, que também caíram em desuso; a sobrevivência da preposição per aglutinada ao artigo lo (per+lo=perlo>pello>pelo). Mas o objetivo maior de nossa pesquisa será o estudo filológico de uma cantiga de amigo, de Pedro Amigo de Sevilha (NUNES, J.J. Crestomatia arcaica, VII, p.344). Desse texto, extraímos vinte fatos que, sem dúvida, mereceram comentários, tanto no plano fonético, como em nível morfológico, semântico e sintático que nos permitirão penetrar a fundo no conhecimento do português arcaico.

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IDENTIDADE CULTURAL E LINGUAGEM: ANÁLISE DO VOCABULÁRIO DO CARNAVAL DE PERNAMBUCO

Sophia Karlla Mota(UFPE)

Este trabalho é parte da dissertação de mestrado, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística, do Departamento de Letras, da UFPE, sob a orientação da Profa. Dra. Nelly Medeiros de Carvalho. Parte do levantamento de termos relacionados ao léxico da festa mais popular no estado de Pernambuco - o carnaval. Visa buscar um instrumento de análise do processo de enquadre do léxico na cultura, a fim de conferir um caráter formal da organização conceitual dos termos como construção simbólica da realidade. O estudo socioterminológico, em seus diferentes aspectos, vincula-se muito diretamente aos paradigmas de desenvolvimento econômico, tecnológico e cultural do mundo contemporâneo. Por ser o carnaval uma manifestação cultural relevante na identidade cultural pernambucana, e, portanto, um universo a ser pesquisado, no campo da Sociolingüística bem como da Socioterminologia, foi feito um recorte teórico-metodológico, elegendo o frevo como objeto de estudo. Segundo vários autores, o frevo é o símbolo da pernambucanidade. Surgiu do caldeamento de raças e culturas diversas e distintas, tomando as ruas do Recife e aferventando os padrões sócio-político-econômicos de uma época. Pela via discurssiva, assumiu uma identidade própria ao ser nomeado pelo jornalista Osvaldo de Almeida, ao discutir as questões políticas e sociais que permeavam a primeira década do século XX. Devido ao enfoque adotado nesta pesquisa, foi necessário “deslocar o olhar” do conceito de identidade adotado pelo senso comum e concebê-lo como uma construção simbólica que envolve processos de caráter histórico e social que se articulam (e se atualizam) no ato individual de atribuição de identidade. Este ato, foco do presente estudo, realiza-se na linguagem. Pressuposto que se observa nas especificidades do texto oral, como é o caso da música folclórica, utilizada como corpora neste trabalho.  Assim sendo, coloca-se de imediato a posição da linguagem nas questões de identidade cultural, fazendo-se necessário explorar, no campo da Lingüística, recursos para uma abordagem adequada para trabalhar a temática: identidade cultural e linguagem no vocabulário do carnaval de Pernambuco, na linha de pesquisa Léxico e Terminologia.

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INDEXAÇÃO DA REVISTA DE LÍNGUA PORTUGUESA,
DE LAUDELINO FREIRE

Regina Maria de Souza (UERJ)

Um dos mais importantes periódicos da área filológico-gramatical no Brasil foi a Revista de Língua Portuguesa, dirigida por Laudelino Freire e publicada no período de 1919 a 1935, num total de sessenta e oito números, em suas três fases. A indexação que estamos elaborando se divide em três partes: de matérias por exemplar, de autores e colaboradores e o índice geral temático. Estudamos, assim, a organização interna da revista, autores e assuntos publicados, tais como notícias, dados biográficos, principalmente de seu fundador, polêmicas geradas pelas diferentes correntes filológicas existentes na época, brasileirismos e galicismos, tupinologia, toponímias, linguagem profissional e textos literários ou de valor documental, dentre outros aqui não mencionados. Situamos a obra dentro de seu contexto histórico e mostramos sua importância naquele momento sócio-cultural do país.

Nesta comunicação, pretendemos apresentar o conteúdo do trabalho até o estágio em se encontra, de acordo com o processo de elaboração com que trabalhamos, adotando uma postura crítica diante dos fatos a serem abordados.

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INTERFERENTES NA DECODIFICAÇÃO
E CODIFICAÇÃO DA LÍNGUA ITALIANA, L2

Carlos da Silva Sobral (UFRJ)

Uma língua de característica plural como a língua italiana, completamente permeada por dialetos, muito marcada pela geossinonímia, pela intensidade fonética e por uma estrutura sintática que privilegia a subordinação, apresenta algum nível de dificuldade peculiar nos processos de tradução característica que induz à correspondência possível.

Considerando que os lingüistas italianos (Tullio de Mauro , Gaetano Berruto, Lorezo Cveri, Angelo Marchese) têm reavaliado a classificação do afluxo recíproco entre língua e dialetos, propomos algumas reflexões a partir da tradução de Il piacere, de Gabriele D’Annunzio, Decameron, de Giovanni Boccaccio e de alguns processos de codificação, dinâmica e analítica para a língua italiana, L2, sob um enfoque sociolingüístico (cf. Renzo Titone) e geolingüístico.

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ITALO SVEVO E A ESCRITURA DO “EU”

Anamaria Vieira Magalhães (UFRJ)

O objeto da nossa comunicação é uma releitura de fragmentos da obra poética do autor italiano Italo Svevo (1861-1928) à luz de alguns conceitos baseados na obra de Freud que remetem à questão autobiográfica. Svevo emergiu no cenário cultural italiano mostrando, em sua narrativa, as modernas tendências da época, absorvidas através de suas constantes viagens a países europeus. Os resultados desse estudo argumentam em favor da relevância do autobiografismo para o entendimento da narrativa sveviana.

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JARGÕES EVANGÉLICOS

Nataniel dos Santos Gomes (UNESA)

Houve um tempo que os estudos da linguagem eram voltados exclusivamente para textos literários. Todavia, atualmente, temos visto o surgimento de diversos estudos lingüísticos que pesquisam a linguagem no seu uso cotidiano.

Ao mesmo tempo, é notório o crescimento dos evangélicos no país: são emissoras de rádio AM e FM, programas nos mais diversos canais de televisão, cultos ao ar-livre, encontros em escolas, deputados, vereadores, governadores etc. Tudo isso nos dá um corpus imenso para estudo da linguagem desse grupo. Notamos nos casos acima uma forma peculiar do grupo se expressa, seja na pregação, na música, e mesmo no informal. Uma das explicações para isso, está no uso do texto bíblico, que norteia a visão evangélica. Tal texto, escrito há dois mil anos atrás, tem uma linguagem típica oriental de um povo típico daquela época, que os evangélicos usam na contemporaneidade sem grande preocupação com a norma culta. Na mesa-redonda pretendemos abordar um pouco do jargão evangélico, mostrando a sua utilização, o seu significado e a sua origem. Na realidade, é apenas o primeiro estudo de uma série que pretendemos desenvolver.

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LATIM E ESPERANTO, VIA INTERNET

Luiz Fernando Dias Pita (UNIGRANRIO/UCB)

Pretendendo analisar o modus operandi pelo qual a Internet integra comunidades lingüísticas cujos falantes vivem em situação de diáspora, selecionamos como objeto de estudo idiomas cujo crescimento na rede não pode creditar-se ao aumento do número de seus falantes nativos. Falamos aqui de idiomas cuja ausência de nativos é uma das peculiaridades que compartilham: o Esperanto e o Latim.

Constatamos que os falantes/usuários dos idiomas mencionados têm, através da rede, construído comunidades virtuais por meio nas que não apenas se mantêm aglutinados como, ademais, vêm captando novos interessados nas línguas e culturas que nesses idiomas se manifestam. É perceptível pois, que, no âmbito das Ciências da Linguagem, faz-se necessária a reavaliação dos conceitos de "língua artificial" e de "língua morta" que normalmente lhes são aplicados; pois uma vez que tais comunidades parecem ter deixado a condição subjacente em que se encontravam, tais conceitos - estabelecidos anteriormente a sua integração virtual - não dariam mais conta da nova realidade deste idiomas.

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LEITOR E JORNAL
A POLIDEZ NA EDIFICAÇÃO DE IDENTIDADES SOCIAIS

Sigrid Gavazzi  (UFF/UFRJ)

Este estudo objetiva verificar as estratégias discursivas -   presentes nas respostas às “Cartas dos Leitores”, em três jornais do RJ – e que proporcionariam um quadro de técnicas específicas para o estabelecimento de graus de polidez na mídia impressa, em três graus distintos.  Para tal categorização, levaram-se em conta os seguintes filtros classificatórios : marcadores de atenuação, tempo/modo verbal, uso de pronomes e de vocativo.   Como aparato teórico, utilizamos Charaudeau (1996), para a noção de contrato mediático, e Rosa (1992), Brown & Levinson (1978) e Silva (1998), para a polidez.  Pela análise dos dados, verificamos, no geral,   a predominância 1) dos marcadores de opinião, distanciamento e de opinião, 2) do tempo presente/Indicativo e 3) dos pronomes possessivos e demonstrativos.  O J1, dirigido à classe social mais intelectualizada, apresenta maiores índices de plidez (polidez 1/ +alta). Já em J2, dirigido à classe média privilegiada financeiramente, há  menos cordialidade (polidez 2/ +- alta).  Em J3, finalmente, há maior presentificação do modo Imperativo e dos hedges, por exemplo, confirmando o conhecimento do auditório a que se dirige, mais inseguro intelectualmente (polidez 3/ -alta). Os resultados obtidos confirmam, então, a hipótese de ser a elocução mediática uma tessitura composta por elementos sintático-discursivos que, intencionalmente reunidos, preservam a face positiva do jornal e adequam-se a seus leitores/auditório – quanto mais refinado intelectualmente, maiores serão os índices de polidez.

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LEITURA DE CHARGES E TIRAS
NUMA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR

Vânia Carmem Lima(UFU/UFG) DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE A charge e tiras constituem-se textos verbais humorísticos e opinativos, cuja função é criticar fatos ou situações. Fundamentam-se em um quadro teórico atual,  envolvendo princípios da Análise do Discurso e da Lingüística Textual. Sua construção baseia-se na remissão a um   universo textual. As charges e tiras mantêm relações intertextuais com textos verbais e visuais. O que torna singular nesses tipos de textos é o fato de congregarem, num jogo polifônico, o verso e o reverso do que tematizam. Dessa maneira, através do desenho e da língua, utiliza-se o humor para destronar os poderosos e buscar o que está oculto em fatos, personagens e ações políticas. A polifonia, a ambivalência e o humor nesses tipos de textos  fazem com que o leitor reflita sobre fatos e personagens do mundo, principalmente político, uma vez que põem a nu  aquilo que está oculto por trás deles. A charge e tiras são um tipo de texto que atraem o leitor, pois, enquanto imagem, são de rápida leitura, transmitindo múltiplas informações de forma rápida. O leitor desses textos tem que ser um indivíduo bem informado para que ele compreenda e capte o seu teor crítico. Eles têm o objetivo de persuadir, influenciar ideologicamente o imaginário do interlocutor. Assim, a charge e tiras se mostram como um poderoso instrumento de crítica, devendo ter um lugar privilegiado nas instituições educacionais que buscam formar o aluno cidadão crítico. Desse modo, este trabalho busca, através desse tipo de leitura, formar o leitor crítico capaz de ler não apenas o que está explícito, mas também aquilo que não se explicita na superfície do texto, além do que, com este trabalho, o leitor pode perceber que o texto não se constitui apenas de palavras, mas se faz como um todo significativo.

A atividade consistirá em desenvolver com os participantes metodologias de trabalho que façam com que eles seja capazes, a partir de então, de explorar charges e tiras em sala de aula com seus alunos.

MATERIAL NECESSÁRIO

1. Retroprojetor;

2. Cópias de textos teóricos;

3. Quadro-giz e apagador

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LENDO ANGOLA

O PORTUGUÊS NAS NARRATIVAS POPULARES ANGOLANAS

Oswaldo Eurico Rodrigues da Silva (UERJ)

Análise estilística de narrativas populares de Angola coletadas em entrevistas com emigrantes angolanos no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais.

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LENDO UM CADERNO DE MARCEL PROUST

Guilherme Ignácio da Silva (USP)

Discutem-se questões de análise e interpretação de textos do escritor francês Marcel Proust, à luz do trabalho com alguns de seus manuscritos.

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LÉXICO, CULTURA E PUBLICIDADE

Nelly Carvalho (UFPE)

O estudo de palavras lexicais, onde o componente cultural manifesta-se com mais intensidade, pode ser o fio condutor para o conhecimento de uma comunidade. O acervo lexical é formado por unidades estáveis e econômicas, receptáculos pré-construídos e lugares de penetração privilegiados para certos conteúdos da cultura que a eles aderem, anexando-lhes outra dimensão à dimensão originária. Palavras que nomeiam referentes inexistentes na outra cultura, como cachaça (Br) e ginja (Port.), ou formas diferentes de nomear o mesmo referente, como garoto (Br) e puto (Port.), são exemplos de marca cultural. Essa carga ultrapassa a denotação ou o sentido literal e até a conotação ou o sentido figurado. Para essa questão, buscamos resposta nas mensagens publicitárias veiculadas no Brasil e em Portugal, examinando os diferentes usos lexicais, as mudanças semânticas, os neologismos e as variantes vocabulares.

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LIDERANÇA É FUNDAMENTAL: ENTRELAÇAMENTOS DAS HISTÓRIAS DE SERAFIM DA SILVA NETO E DA FILOLOGIA NO BRASIL ENTRE 1940 E 1960

Olga Ferreira Coelho (USP)

Na conferência, examino fatores intelectuais e sociais relacionáveis ao sucesso de um ‘paradigma’ (Kuhn 1987[1962]) numa comunidade científica. É um estudo de caso, no qual focalizo o debate entre Filologia e Lingüística no Brasil entre 1940 e 1960, a partir da perspectiva dos filólogos.

Para a elaborá-lo, analisei a produção científica publicada de Serafim Pereira da Silva Neto (1917-1960) ¾ um estudioso de grande projeção, cuja obra foi tomada pela comunidade científica a ele contemporânea como ‘exemplar’ ¾ e informações relativas a sua atuação institucional.

A análise teve o propósito de caracterizar sua função de ‘liderança intelectual’, isto é, de provedor e defensor de idéias, e de ‘liderança organizacional’, ou seja, de criador de meios para a difusão dessas idéias entre os membros da comunidade científica (cf. Murray 1994), e, ainda, de avaliar a contribuição desse seu papel de líder para que o ‘paradigma’ filológico se consolidasse como a forma preferencial de conceber e conduzir os estudos sobre a linguagem naquela época.

Visando à reconstrução do contexto de produção científica entre os anos 1940 e 1960, levo também em conta dados referentes ao meio acadêmico-institucional em que a geração de Silva Neto atuou, assim como os tipos de produção científica característicos do período.

Com tais análises, esboço, em grandes linhas, as práticas e idéias lingüísticas do autor, em seus traços mais marcantes e gerais, delineando um quadro indicativo dos tipos de ‘produtos científicos’ prestigiados pela comunidade acadêmica em foco.

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LÍNGUA PORTUGUESA E ENGENHARIA

AS DINÂMICAS DE AULA PARA A FLUÊNCIA COMUNICATIVA E A PRÁTICA REFLEXIVA

Ana Malfacini

Este trabalho tem por objetivo mostrar como o ensino da língua portuguesa de base lingüística desperta em estudantes de Engenharia o interesse por questões que, embora presentes no cotidiano do alunado, até então nunca lhe foram ensinadas nos conteúdos programáticos do ensino fundamental e médio.

À luz da base teórica da Análise do Discurso e da Sociolingüística Interacional, associada aos objetivos estabelecidos pelos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, verificou-se como a prática pedagógica integrada ao conhecimento de mundo dos alunos pode estimular sua leitura e produção textual, instrumentalizando cada um dos estudantes para a fluência oral e escrita da língua materna. Para isso, dinamizaram-se as aulas com músicas e outros textos atuais – verbais e não-verbais, literários e não-literários -, textos esses que permitiram a abordagem de aspectos discursivos e normativos presentes nas obras estudadas.

Os resultados do trabalho foram obtidos em dois tipos de avaliação: a primeira, oral em grupo, mostrou a fluência comunicativa lingüística e paralingüística das turmas objeto do estudo, a qual esteve amparada pelo uso de recursos como retroprojetor e rádio; a segunda, escrita, evidenciou a adequação das propostas de produção de texto ao conteúdo diário dos alunos, o que estimulou a associar criatividade a questões normativas.

Com isso, verificou-se em que medida a utilização de ferramentas diversificadas – didáticas e de avaliação – foi fator motivador que colaborou com o aprendizado, incentivando, assim, a utilização de mecanismos vinculados ao estudo individual para a fluência dos alunos na língua materna falada e escrita.

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LÍNGUA PORTUGUESA

SEMIÓTICA E ANÁLISE DO DISCURSO

UMA NOVA DIMENSÃO PARA O LER E REDIGIR

Cláudio Artur de Oliveira Rei (UERJ)

É de conhecimento de todos o significado de pertinência que a Lingüística dá para o estudo da significação. À Lingüística não interessam os modos como se processam a enunciação (pausada, irritada, cochichada etc.) possivelmente porque, ao se apoiar no significado, não dê relevância aos múltiplos efeitos que essas modalidades produzem, uma vez que não são pertinentes ao sistema, mas o são nos atos discursivos. E são exatamente aqueles elementos que individualizam o discurso. Assim, seguindo essa esteira de raciocínio, pode-se migrar do macro para o micro, isto é, sair do estilo coletivo para um estilo individual, pois ao compor um texto, o aluno mostrará um insubornável lastro de individualidade – informação, cultura, sensibilidade, idade, experiência vital –, mesmo que essa produção seja oriunda da leitura de um outro texto. É nesse momento em que vemos como a Estilística se funda no ato de que, a despeito de convencionalismo, a linguagem humana é um instrumento de intercomunicação, a gramática normativa norteie a língua e não há palavras ou construções que, usadas por diferentes indivíduos, sejam exatamente iguais ou alcancem o mesmo conteúdo: conceptual, emotivo, intencional e estético. Por isso, o conceito de tato estilístico é ao mesmo tempo lingüístico, psicológico e social, além de estético, porque seu objetivo geral é tornar o texto compreensível; e o particular, criar beleza por meio da palavra.

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LÍNGUA PORTUGUESA

SEMIÓTICA E ANÁLISE DO DISCURSO

UMA NOVA DIMENSÃO PARA O LER E REDIGIR

Darcília Simões (UERJ)

Discussão dos novos rumos do ensino da língua portuguesa, subsidiado pela Semiótica, pela Análise do discurso e orientado pela Análise Estilística. Enfoque das orientações dos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS no sentido de buscar a interdisciplinaridade por intermédio da exploração multissígnica e da conscientização das relações entre significado, significação, sentido e posição discursiva. Consideração do valor comunicativo do domínio da língua portuguesa como língua materna e nacional, enfatizando (e buscando minimizar) as conseqüências sócio-políticas de um ensino eminentemente gramatical (ou nomenclatural), que não instrumentaliza o usuário para a comunicação eficiente e para a formação da cidadania. Relevo da importância da leitura da redação como determinantes da atuação sócio-política do indivíduo e de sua capacidade de compreensão das mensagens verbais e não-verbais, examinadas como conseqüência de uma era cibernética, veloz e multicultural, que exige dos indivíduos uma ampla cosmovisão e uma competência e desempenho lingüísticos capazes de afastá-los de quaisquer mecanismos de marginalização sócio-econômica e cultural. Enfim, discutir a capacitação para a leitura do mundo aliada a um potencial de fluência discursiva e enunciativa (oral e escrita) suficientes para a melhoria de sua qualidade de vida e para a sua colaboração no aperfeiçoamento da sociedade de que participa, a partir de um processo de ensino-aprendizagem da língua calcado num instrumental teórico consistente e indispensável ao novo modelo de professor de linguagens.

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LINGUAGEM E NEUROSE

Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

Os processos oníricos de Freud: associações semânticas, fonéticas e sintáticas, inversões, deslocamentos, transferências, inversões e formas mistas.

A programação neurolingüística: generalização, eliminação ou redução e distorção.

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LINGÜÍSTICA E TEORIA DA LITERATURA

RELAÇÕES E LIMITES

Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba (UERJ)

Os pontos tomados para apresentação no V Congresso de Lingüística e Filologia referem-se ao modo pelo qual a Teoria da Literatura, no período inaugural do estruturalismo, estabeleceu seus vínculos com as principais noções desenvolvidas pela Lingüística, em especial, nos pensamentos de Saussure e de Hjelmslev. A análise de tal intercâmbio permite inicialmente verificar a importância da contribuição da Lingüística para o campo da Teoria da Literatura, não só pelo aproveitamento dos pares conceituais intrínsecos às reflexões saussurianas, mas, particularmente, das noções de Hjelmslev, pelo fato de elas terem ampliado significativamente as possibilidades de análise do discurso literário. Contudo a interdisciplinaridade estabelecida permite também repensar a concepção vigente de texto literário, os respectivos princípios metodológicos de análise discursiva, colocando sob suspeita a passagem literal de certos conceitos de um para outro campo do saber.

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LIRA E LÍNGUA: A MÚSICA NA CULTURA GREGA

Elisa Costa Brandão de Carvalho

A música representa um dos aspectos mais importantes dentro da cultura grega antiga.

A começar pela própria língua, passando pela literatura, pela religião e pela filosofia, a música era o canal de comunicação do homem grego.

Lembremo-nos de Homero, que invoca a Musa, pedindo-lhe inspiração para “cantar” seus versos.

Assim, o canto poético de Homero, passando de geração em geração, inspirou e influenciou toda uma cultura que conheceu e cantou a grandeza, a beleza e o saber, principalmente no Período Alexandrino.

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LITERATURA E FILOLOGIA

AS DUAS FACES DA CRÍTICA NOS TEXTOS

Celina Márcia de Souza Abbade (UNEB/UFBA)
Itana Nogueira Nunes
(UNEB/ UFBA)

Vistas numa perspectiva de aproximação de funções, as atividades constantes de críticos literários e filólogos, ou melhor, editores críticos, são, portanto, atividades afins, pois se o editor crítico de um texto traz à luz a sua autenticidade e originalidade, o crítico literário tenta buscar, mesmo que, às vezes com uma certa carga de subjetividade, o que este chama de “verdade literária”, ainda que essa verdade às vezes não exista, desejando com isso traduzir o texto, escavá-lo nas suas zonas mais abissais, assim como quer o seu companheiro de empreitada, o filólogo.

Enquanto à Critica textual cabe a busca da autenticidade do texto, a Crítica literária vai se preocupar com o seu conteúdo. Apesar de terem objetivos diferentes, essas duas ciências se encontram no mesmo objeto de estudo: o texto. E, apesar de tão distintas, apresentam-se com um mesmo fim quando têm em comum a busca de um caráter elucidativo e verdadeiro das obras. Nas mãos destes reinventores é que o texto se manifesta nas suas mais infinitas formas e nos seus enigmáticos mistérios. Mas o homem, não apenas o homem moderno, como também o homem na sua mais remota existência, não está acostumado a aceitar enigmas indecifráveis, ou pelo menos sem solução provável. Ao contrário, raramente está satisfeito com o que lhe salta aos olhos, com o que está visível, quer sempre estar buscando algo que não está satisfatoriamente claro.

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MANUSCRITOS DA COLEÇÃO SANTO AMARO-BA

RELATIVOS A ESCRAVOS

Mônica Pedreira de Souza (UFBA)

A partir de alguns manuscritos da “Coleção Santo Amaro”, pertencentes ao Acervo de Manuscritos Baianos, faz-se uma transcrição semidiplomática, enfocando-se os aspectos pertinentes a escravos. De início, se mostra o interesse que surgiu em relação aos documentos, a partir de uma bolsa de monitoria e o “por quê” de se trabalhar com documentos relativos a escravos. Na primeira parte, se dá o histórico desses documentos, a quantidade de documentos existentes, os trabalhos realizados pelo Grupo de Filologia Românica da UFBA, na tentativa de preservação e conservação desses documentos que se encontram em estado precário. Baseando-se em outros trabalhos, faz-se um breve estudo sobre os escravos, tais como o tráfico, a vida social, sua língua, a sua influência na economia. Já na segunda parte, se trata dos aspectos concernentes à edição de textos, tais como, a edição semidiplomática, os critérios que foram utilizados na transcrição desses manuscritos, as abreviaturas encontradas. Logo em seguida se tem a transcrição e a descrição de cada texto e um breve estudo sobre alguns aspectos jurídicos e outros termos que foram encontrados nos documentos.

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MEMÓRIA DOCUMENTAL DE LITERATOS EM PORTUGAL E NO BRASIL

Zeny Duarte (UFBA)

De acordo com seu produtor, os arquivos podem se dividir em duas classes fundamentais: públicos e privados. Foi no mundo grego que passaram a coexistir os arquivos públicos e privados, os segundos deixando de ser constituídos, apenas, como arquivos de direito restringido. A partir de então, o conceito de arquivo sofreu modificações, tendo hoje a denominação de público e privado, em função de características específicas. Segundo suas atividades, os primeiros são judiciais, estaduais, municipais. Os segundos, de empresas, pessoais, eclesiásticos, de sindicatos, entre outros. A arquivística grega e romana diz que:  "O desenvolvimento do direito romano deverá ter contribuído para a proliferação de arquivos privados, que constituíam um instrumento essencial para o desenvolvimento dos negócios e garantia da propriedade dos cidadãos. Em Pompéia, no primeiro andar da casa do banqueiro Cecilius Jucundus, apareceu um grande cofre com a respectiva escrituração, feita em tabuinhas de cera."  O arquivo privado é formado na medida em que o titular passa a agrupar documentos resultantes de conjuntos de atos, em concordância com o seu modo de vida. Pretende-se apresentar reflexões sobre essa temática com imagens do acervo documental dos escritores, Godofredo Filho (Salvador/Bahia), José Régio (Vila do Conde/Portugal) e Fernando Pessoa (Lisboa/Portugal).

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MOEMA: MITO, MONSTRO, MÁSCARAS

Martha Rocha Guimarães (UERJ)

Este trabalho tem como base a obra de Nelson Rodrigues, Senhora dos Afogados, na qual se verifica uma nítida relação com a Oréstia de Ésquilo. O objetivo deste estudo é verificar na estrutura das peças elementos que aproximam a personagem esquiliana, Electra e a personagem rodrigueana, Moema. As questões giram em torno da construção dúplice de Moema que, devido ao caráter criativo de Nelson Rodrigues, espelha-se ora em Electra, ora em Clitemnestra. Essa construção reduplicada, proporciona a verificação de alguns aspectos contundentes na constituição de Moema, como sua característica monstruosa, articulada a uma “superposição de máscaras míticas” - a grega e a indígena - que compõem a figura dessa personagem híbrida, meio mulher, meio monstro.

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NACIONALISMO LINGÜÍSTICO

CONSIDERAÇÕES SOBRE VERNÁCULO ESCOCÊS

Ana Lucia de Souza Henriques (UERJ/UVA)

Nos séculos XVIII e XIX, a necessidade de preservar a identidade nacional lingüística da Escócia fez com que o escocês das terras baixas ou Lallans, como é conhecido popularmente na Escócia, despertasse o interesse de muitos que desejavam afirmá-lo como idioma nacional. Na segunda metade do século XX, debates em torno de questões nacionalistas ganharam força ao longo das discussões sobre a recuperação do parlamento escocês. O vernáculo volta a ter destaque na literatura, nos meios acadêmicos e na mídia, sendo mais uma vez tomado como um traço distintivo da nacionalidade escocesa. Esta comunicação tem por objetivo tecer algumas considerações sobre o tema, procurando analisar de que maneira lingüistas e críticos literários se posicionam em relação ao uso do vernáculo escocês no século XX e nos dias de hoje.

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O CHAMADO DIALETO CAIPIRA
NO CONTEXTO LINGÜÍSTICO NACIONAL

Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)

No contexto lingüístico nacional, deparase-nos uma variante muito importante representada pelo chamado Dialeto Caipira, encontrado em São Paulo, Minas, parte de Goiás e em outras áreas do Brasil central.

Magistralmente estudado por Amadeu Amaral, o Dialeto Caipira apresenta aspectos fonéticos, morfológicos, sintáticos e lexicais, que lhe imprimem facetas peculiaríssimas  da língua portuguesa falada no Brasil

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O CONCEITO DE GRAMÁTICA
NAS GRAMÁTICAS DO SÉCULO XIX

Leonor Lopes Fávero (USP)

O trabalho objetiva examinar as gramáticas publicadas no Brasil no século XIX, mostrando suas fontes doutrinárias: a herança logicista de Port-Royal e o comparativismo histórico. Na primeira metade do século, o Brasil pouco conhece fora do método herdado de Prisciano e Condillac e na segunda, ainda que Freire da Silva publique em 1875 uma gramática em que já cita Brachet, Bournouff e Ayer, Sotero dos Reis e Grivet continuam a tradição da gramática geral e filosófica, mais geral, no sentido de dedicar-se ai estudo das línguas, da linguagem humana, do que filosófica no sentido estrito.

Porém, no fim do século, o pensamento alemão já se faz sentir e Fausto Barreto, em 1870, é o primeiro a refletir as idéias de Bopp, iniciando o que Sílvio Elia (1963) denomina o período científico na gramática brasileira. A nova vertente inicia-se com a publicação da Gramática Portuguesa de Júlio Ribeiro em 1831.

O exame dessas obras mostra que a gramática exerce um duplo papel: de um lado descrever os componentes lexical, morfológico e sintático e, de outro, estabelecer regras que orientem o usuário, determinando o que deve e o que não deve dizer.

Na sua função descritiva – sempre do uso padrão – o gramático explica o modo de funcionamento da estrutura da língua, enquanto na função prescritiva, está preocupado em estabelecer normas que disciplinem seu uso.

O trabalho se insere no quadro da História das Idéias Lingüísticas (Auroux, 1989) que abrange não só o período que se inicia em 1881, quando há um distanciamento da Gramática Filosófica de Jerônimo Soares Barbosa e da tradição portuguesa em geral, mas também de todos os outros saberes anteriores transmitidos como produto histórico.

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