A TRANSFORMAÇÃO DO SUPER HOMEM ATRAVÉS DA EVOLUÇÃO DOS TEMPOS

Geysa Silva (UNINCOR)
Érika Kress
(UNINCOR)
Evanil Rodrigues Fernandes
(UNINCOR)

 

O que são "Quadrinhos"?

 

                A Teoria da Literatura não se preocupa só com a Literatura Canônica , mas também com outras práticas verbais até então consideradas apenas como cultura de massa .

                Ao investigar as HQs como forma narrativa não se pode ignorar que elas devem ser examinadas também sob o ponto de vista filosófico, visto que se caracterizam por uma atitude reflexiva que tende a afastar de seu âmbito o kitsch e a banalidade .

                Desde o momento em que surgiram no século XIX, as HQs sempre incitaram discussões polêmicas e reações diversas que , de uma certa forma , ajudaram a consagrar a arte dos quadrinhos. Abordando, a princípio , temas ingênuos e cômicos as travessuras de um garoto , Little Nemo, ou as peripécias de um gato esperto contra os seus malfeitores , Crazy Kat, as HQs conquistaram um lugar inquestionável na sociedade , apesar das críticas que receberam como a de G. Legman, publicada em Les Temps Modernes, em maio de 1949, traduzido de uma revista americana :

A geração americana posterior a 1930 não soube ler . Ela não aprendeu, não vai aprender e nem sente nenhuma necessidade disso. Saber decodificar os cartazes publicitários é tudo o que nosso nível cultural exige dela. Há mais de uma década , o rádio , o cinema , as revistas ilustradas e as histórias em quadrinhos têm atendido a todas as suas necessidades culturais e recreativas, razão pela qual a língua impressa está em vias de desaparecimento 1.

 

Quadrinhos ou Histórias em Quadrinhos, as conhecidas HQs, são narrativas feitas com desenhos seqüenciais , em geral no sentido horizontal , e normalmente acompanhados de textos curtos de diálogo e algumas descrições da situação , convencionalmente apresentados no interior de figuras chamadas " balões ".

Difundidos em revistas e jornais , os quadrinhos se tornaram um dos mais importantes veículos de comunicação de massa e criaram linguagem própria , com uma série de signos inovadores , em grande parte incorporada posteriormente pelo cinema , pela televisão e pela publicidade .

As tirinhas de jornal e as revistas de HQs, tornaram-se inquestionavelmente o maior e mais influente campo iconográfico da História , com bilhões de ilustrações produzidas desde 1900 ou um pouco antes . Essa produção certamente representa a mitologia gráfica dominante no Século XX. Nem mesmo o cinema e a televisão podem vangloriar-se de ter conseguido atingir um terço da humanidade , como os quadrinhos o fizeram.

Dedicadas a crianças , jovens e adultos , as HQs apresentam diferentes ambientes para agradar ao público . Com mundos estranhos , estrangeiros , distantes e universos irreais , elas conjugam o rigor e o suspense , o inverossímil e a reviravolta salvadora. Nesse tipo de narrativa , é próprio dramatizar para inquietar o leitor , comovê-lo e, se possível , surpreendê-lo.

Além do prazer despertado por aquilo que se vê , a ambientação ajuda na adaptação do real para o verossímil . Toda a ambientação está a serviço de uma intriga constituída por lances teatrais , de suspenses , etc.

                As histórias de aventuras possuem típicos heróis com super poderes , vilões com planos para conquistar a humanidade e dominar o mundo , mocinhas em situações perigosas esperando serem salvas . Mas existem também histórias que apresentam crítica social , política e religiosa . Revistas como Hellbazer e Preacher demonstram o lado mais sério das HQs contemporâneas . Abordam temas como a violência urbana , a diferença social e a discriminação étnica .

Observadas algumas características dessa arte , conhecida também como a “ nona arte ”, o que se verifica é o quanto ela mobiliza a maioria dos setores intelectuais da sociedade , como a crítica , a imprensa , a psicologia , a política , as ciências , mesmo sem possuir o seu lugar , o seu espaço . Considerada como uma obra mista , não há ainda um método crítico que lhe seja dedicado. Constata-se, entretanto , a presença da mitologia em suas páginas .

                As mitologias são conjuntos de figuras simbólicas do imaginário , imaginário esse fantasioso em que deuses , semideuses e heróis engendram modelos de comportamento e de modos arquetípicos de estar em relação com o mundo .

Esses mesmos temas são tratados por escritores de HQs contemporâneas, sensíveis à secularização e refletem ( inconscientemente ?) a crise sociocultural finissecular por que passa o homem , valendo-se de uma arte híbrida (a arte seqüencial ) em que várias técnicas das artes moderna e pós-moderna são mescladas. Por isso , para que se entendam as HQs é necessário que se reflita sobre a trajetória da arte nesses dois momentos .

A arte moderna , na medida em que “exprime o imaginário de sua época e configura-se a partir da autonomia de diversos campos do saber como a ciência , a arte , a moral ” (LEMOS, A. 1999, P225) rompe com o modelo clássico , distanciando-se dos padrões de arte do século XIX e utilizando-se da racionalização ( que se desenvolve com a expansão da industrialização ) para expressar sua visão do futuro e superar o passado . Dessa forma , a arte moderna evocará o passado , sim , mas como uma paródia ( escárnio ).

A arte pós-moderna “vai se diferenciar dos movimentos do alto modernismo por preferir formas lúdicas, disjuntivas, ecléticas e fragmentadas” (LEMOS, A. 1999, P.225), como instrumento de reapropriação de estilos e criação de novas possibilidades. Ela , diferentemente da arte moderna , não se estruturará na paródia , mas no pastiche , na pilhagem de formas anteriores .

A concretização desta diferente maneira de ver a arte se expressou nos objetos utilizados por cada setor , como na literatura , na pintura , na escultura , na cultura de massa ( cinema , rádio , televisão , teatro , revistas , e outros ), e que se inspiram na vida e nos fatos para elaborarem mirabolantes narrativas .

As Histórias em Quadrinhos são , dentre todas as artes , aquela que , talvez por sua capacidade de agregar diferentes técnicas e gêneros , apresenta, em suas coloridas páginas , a síntese de todas as mudanças ocorridas a partir do século XIX.

Em uma HQ contemporânea, a complexidade das personagens  coloca a interrogação: o que é um herói? Como definir um ser mitificado por suas façanhas? O que dizer de alguém que é exaltado na medida em que é capaz de ações extraordinárias nas quais o interesse comum leva a arriscar os interesses individuais, inclusive a própria vida?

Herói é aquele que “simboliza a situação conflitante da psique humana agitada pelo combate contra os monstros da perversão”[1] ou ainda, segundo Bérgson, é aquele cujo apelo “está no cerne da moral aberta e, no campo espiritual, no motor da evolução humana[2].

Para Scheler, o herói é um ideal humano (como o santo e o sábio) que possui, em ordem decrescente, cinco valores fundamentais: santidade, brilho intelectual, nobreza, utilidade e capacidade de ser agradável. Segundo o autor, o “herói é um tipo de pessoa ideal, com o centro de seu ser fixado na nobreza do corpo e da alma”[3] Como se observa, o herói destaca-se por seus impulsos, é movido por uma ética própria, e nele, a sensibilidade quase sempre vence a sensação.

 Para M.P. Nilsson, um herói “era propriamente um homem que morrera, um herói de tempos antigos, cuja veneração ultrapassara o círculo de sua raça e se tornara geral; actuava do seu sepulcro e protegia o solo onde repousava os seus restos, e o povo que nele morava”[4]

Para entender os heróis das HQs pós-modernas, têm-se de realizar, portanto, a travessia de narrativas de diferentes momentos da história literária, traçando um percurso que, partindo da antiguidade greco-romana, atravessa a tradição judaico-cristã e chega às atuais narrativas cinematográficas. O leitor é introduzido num universo intertextual, cujos limites estão sempre em expansão, exigindo que se façam relações e referências inusitadas. Essas referências assinalam o princípio criador do herói, que escapa ao aleatório; determinado por mecanismos psicológicos do autor, o processo de composição do herói não é objeto desses trabalho que se limita à sua configuração na obra.

 

[...] o herói revelará muitos disfarces, máscaras aleatórias, gestos falsos, atos inesperados que dependem das reações emotivo-volitivas do autor; este terá de abrir um caminho através do caos dessas reações para desembocar em sua autêntica postura de valores e para que o resto do personagem se estabilize, por fim, em um todo necessário[5].

 

É preciso salientar que, embora um autor possa converter o herói em porta-voz de suas próprias idéias, a relação entre eles não é de correspondência direta. O herói não se reduz a um “alter-ego” do autor. Ele é um “outro homem”, vivendo em outro plano da existência, num mundo que o delimita e contra o qual se destaca. Além da relação do autor com o mundo observável, temos de considerar a memória estética e textual – suporte das produções de HQs contemporâneas.

Dessa forma o herói como se conhece atualmente, foi inspirado em modelos clássicos. Esses, dotados de grande poder físico, sabedoria, paciência e perseverança, ajudados ou não pelos deuses, constituíram parte da formação do mundo grego e, conseqüentemente, da cultura ocidental. Observa-se a importância, já salientada por Bakhtin, do aspecto físico dos heróis: “Pois o aspecto físico deve englobar – conter e acabar o todo da alma – o todo da postura emotivo-volitiva e ético-cognitiva no mundo – e essa função o aspecto físico só a assume para outrem”[6]. Qualquer leitor mais atento percebe quanto da configuração do herói se deve à sua aparência.

Super-Homem é um exemplo irrefutável dessa afirmação; seus traços apolíneos são imagens idealizadas, aproximando-se dos deuses da antiguidade greco-romana, quando os homens e deuses estavam intimamente relacionados, participando de um jogo em que os deuses se humanizavam e os homens se endeusavam. Nesse incessante jogo antropomórfico, homens e deuses traçavam um embate pela sobrevivência.

As HQs não são, entretanto, narrações mitológicas. Recorrem, apenas, aos mitos como se recorre às peças de um arquivo, peças guardadas no acervo do imaginário ocidental, usadas por autores que delas dispõem livremente.

Apesar dos perigosos obstáculos colocados em seus caminhos, usando a força interior de que dispunham, os heróis clássicos desbravaram mares, enfrentaram monstros e perigos desconhecidos, a fim de preservarem as tradições e garantirem o legado deixado por seus antepassados.

A figura exemplar do herói, entretanto, não está sozinha, pois as histórias, os contos, os romances, as fábulas não vivem somente de sua presença; em todas estas formas de contar e recontar histórias aparece a figura de seu oposto, o duplo que é seu inverso e que surge como inimigo da paz.

Por outro lado, a presença do anti-herói, às vezes, não significa a representação do mal, pura e simplesmente. O anti-herói pode ser a pilastra de sustentação de uma ficção, o principal integrante de uma saga, de uma aventura e não ser necessariamente o vilão, o malfeitor, mas uma personagem que não apresenta todas as qualidades inerentes aos grandes heróis.

Heróis e anti-heróis, cada um deles acrescentou e acrescenta novas perspectivas ao universo literário. Vão surgindo e contribuindo para a elaboração de outras histórias, na avalanche de formas narrativas do mundo pós-moderno, incluindo-se aí as HQs.

Aproveitando-se das narrativas de ficção científica, dos romances policiais e da técnica cinematográfica, as HQs, hoje, criam uma galeria de heróis complexos, que deslizam do território do Bem para o Mal, confundindo-se ora com santos, ora com vilões, ora com anjos, ora com demônios.

As raízes dessas personagens encontram-se, muitas vezes, nos deuses mitológicos da antiguidade clássica, com seus poderes e suas paixões. Super-homem é um exemplo típico. Com poderes extraterrestres (superforça, supervisão), ajuda a humanidade em seus problemas e identifica-se com o grego Hércules, um dos mais famosos heróis da antiguidade. Consagrado não só pela força, mas também pela persistência, Hércules é vencido pela paixão, tal como Clark Kent.

Além das semelhanças com o mundo mitológico (deusas, deuses) e com o universo da ficção científica, as HQs também fazem uma ponte com a vida real. Muitas das histórias possuem situações em que se vivem habitualmente com a violência, o tráfico de drogas e de informações, os conflitos racistas, sejam eles étnicos ou xenofóbicos e o avanço tecno-científico que possibilita ao homem controlar a vida ansiando por controlar a morte.

Constata-se, portanto, que os heróis de quadrinhos, de uma forma geral, sofreram mudanças no decorrer dos anos e do desenvolvimento das próprias HQs.

Os “velhos” super heróis se transformaram em pós-modernos. Ganharam novas formas, novos poderes e uma variedade enorme de novas personagens surgiram, todos elas dotadas dos mais recentes elementos de um mundo globalizado e dominado pela tecnologia. A maioria das histórias coloca em cena situações e problemas bem universais, podendo com isso serem reduzidas e vendidas nos mais diferentes e distantes países do mundo. Mandrake, Fantasma ou mesmo o Super-Homem podiam ser identificados com determinado espaço, seja ele selva ou cidade. Eram heróis que atraiam pequenos leitores por suas grandes qualidades. Hoje, os heróis despertam admiração de seu público pela forma violenta como enfrentam seus perigosos inimigos.

E vivendo situações rotineiras, integram, com humor e crítica o cotidiano da vida, nas histórias em quadrinhos. Para tratar o motivo dos heróis, recorreu-se a Bakthin, por oferecer um rico estudo sobre as relações entre o autor e o herói, uma vez que um e outro (autor e herói) se interpenetram pela palavra e pelo traço.

O herói e o narrador são intercambiáveis; qual dentre nós – serei eu será o outro começou a narrativa que conta o outro, esse outro com quem vivo uma mesma vida, com quem compartilho os mesmos valores, no seio de uma família, de uma nação, da humanidade8.

Superman é a fantasia de infância de todo garoto e garota (elas certamente já desejaram ser a supergirl). Ele é um símbolo eterno do sonho americano. Ele é um herói clássico na idade moderna que luta contra criminosos, resgata os desamparados e tem um sentido de moral e justiça tão fortes e incansáveis como ele.

        A história do Super-Homem começa com a destruição do planeta Krypton. Seu pai Jor-El, em um último ato desesperado, construiu um foguete a fim de abrigar seu único filho (Kal-El) e salvá-lo do destino iminente de todos os kryptonianos.

O planeta escolhido por Jor-El para adotar seu filho foi a Terra, um mundo muito atrasado tecnologicamente em relação a Krypton, mas com uma particularidade: como kryptoniano, Kal-El, se exposto aos raios de um sol amarelo (o tipo de sol que banha a Terra), ganha poderes fantásticos, como força quase ilimitada, invulnerabilidade, capacidade de voar a enorme velocidade, visão de calor, super-sentidos, etc. Calculando isso, Jor-El supôs que o seu filho seria provavelmente um dos seres mais poderosos que já existiu.

O pequeno foguete aterrissou nos EUA, em Kansas, Pequenópolis, onde foi encontrado por Jonathan e Martha Kent. O pequeno Kal-El foi batizado na Terra como Clark Kent. No princípio, o casal pensou que Clark fosse uma criança normal, mas eles perceberam que, na medida em que o garoto ia crescendo, seus poderes começavam a surgir. Vale lembrar que no filme "Superman: the movie", o  Super já tinha poderes desde criança, diferente dos quadrinhos, onde Clark só descobriu seus poderes  quando já era adolescente, e só os teve em sua totalidade quando adulto.

Somente quando Clark começou a desenvolver suas habilidades, Jonatham revelou para Clark os restos do foguete e como ele foi achado. A única pessoa para quem Clark revelou seu segredo foi para sua melhor amiga, Lana Lang. Aos 18 anos Clark começou a viajar em torno do mundo para aprender sobre seus super poderes, e aperfeiçoar-se, e até secretamente salvar pessoas. Até que finalmente, alguns anos depois, foi estudar na Universidade de Metrópoles, onde se formou em jornalismo. Clark fez sua primeira aparição em publico quando uma nave espacial da NASA estava caindo. Foi  nessa ocasião que foi batizado de "Superman" pela repórter Lois Lane. Para esconder sua identidade Clark e seus pais fizeram um uniforme azul e vermelho, que mais tarde, viria a ter um "S" no peito. Ele também passou a usar óculos. Depois de descobrir o que aconteceu com seu planeta, Clark jurou que iria proteger o planeta Terra, e é o que faz até hoje.

O Super-Homem foi o primeiro de uma série de novos heróis do universo DC pós-Crise nas Infinitas Terras que surgiram na Terra. A partir daí a vida do Super foi lutas atrás de lutas, com inúmeros inimigos, alguns poderosíssimos, como Brainiac, Bizarro e o Ciborgue, outros geniais, como Lex Luthor, e até semi-deuses, como Dominus, que surgiu há pouco tempo nas revistas.

CURIOSIDADES - O primeiro esboço do personagem não era tão heróico como ele viria a se tornar depois. Na realidade,  em sua primeira história,  ele era retratado como um alienígena com super-poderes que era o ditador na Terra. Sua primeira história se chama "The reign of the Superman"(O Reino do Super-Homem). Somente meses depois foi publicada uma história em que o Super-Homem era o mocinho, como é hoje em dia.

Nos primeiros anos de existência, o Super-Homem não era tão poderoso quanto é hoje em dia. Sua força era muito limitada, ele não voava, nem possuía os vários tipos de visão que tem atualmente. O herói locomovia-se dando pulos enormes de um lugar para outro, mais ou menos como o Hulk fazia (na época do 'Hulk esmaga!'). Os principais inimigos do Super-Homem eram os nazistas. Afinal de contas, nada melhor para os americanos da década de 40 do que um cara vestido com a bandeira dos EUA dando um pau no Hitler!

Alguns anos depois, o Super-Homem ganhou poderes fantásticos como ele tem hoje em dia. Com o tempo, porém, esses poderes foram aumentando ainda mais e acabaram se tornando um problemão para os roteiristas. Afinal de contas, como seria possível arranjar inimigos para um cara que poderia parar a rotação da Terra com uma mão? A solução foi encontrada mais tarde,como veremos.

Como reflexo da fase Hiper-Homem do herói, o universo das revistas do Super sofreu com a criação de diversos "nativos" de Krypton que desembarcavam na Terra. Surgiram superbichos de Krypton para todo lado, como um cachorro (o Krypto),  um macaco, enfim, um verdadeiro super-zoológico, e todos com o mesmo poder do Homem de Aço. Dos kryptonianos, surgiu também a prima do Super-Homem, Kara-El, que atuava como Supermoça.

Como maneira de limitar os poderes do Super-Homem, os roteiristas bolaram uma aventura em que o herói perdia 1/3 de seu poder. Em compensação, toda kryptonita da Terra se transformou em ferro.

Mesmo estando menos poderoso, toda a cronologia do Super ainda era problemática para um universo de quadrinhos onde o ambiente ficava cada vez mais real (graças à Marvel). Como uma criança superforte agiria realmente? Provavelmente destruiria tudo o que tocasse. Fatos como esse fizeram os roteiristas aproveitarem um mega evento da DC chamado Crise nas Infinitas Terras (elaborado para "dar uma ajeitada" no universo DC, que contava com inúmeras dimensões, tornando-o complexo demais) para ajeitar toda a história do Super-Homem, reformulando drasticamente o personagem. Nessa revisão, Clark só soube que era de outro planeta com 18 anos; seus poderes foram se desenvolvendo lentamente com o passar dos anos (não houve sua carreira de Superboy); nunca houve supercão ou supermacaco; seu poder era mais limitado do que era na década 50/70; enfim, o principal intuito dos roteiristas era humanizar o Homem de Aço. O responsável principal pela reformulação foi John Byrne, conhecido por seus trabalhos com os X-Men e Quarteto Fantástico. A reformulação ocorreu em 1986.

As tradições mitológicas foram criadas já desde que o homem começa a tentar explicar os acontecimentos da natureza, como chuvas, o sol, o nascimento e a morte. Na Antigüidade, quando as eventuais tribos nômades se fixam e dão origem às primeiras civilizações, os mitos surgem como explicações das eras primordiais ou para dar embasamento à história ancestral dos homens. Os mitos servem como mediação entre o sagrado e o profano, aquilo que em geral, liga os homens aos deuses, funcionando também como um mediador nas sociedades, na medida que ele regulava as leis e a moral.

              Para Freud, os mitos são mostras da expressão simbólica do inconsciente. Freud se apropriou de alguns mitos clássicos, provindos dos gregos, para exemplificar suas teorias a respeito da sexualidade humana. Sem dúvida, os mitos gregos são muito ricos e traduzem perfeitamente o pensamento ocidental. Para Jung, o famoso discípulo de Freud, que se dissocia radicalmente do pensamento de seu mestre, os mitos podem ser encarados como sublevações humanas, expressões puras do inconsciente coletivo da humanidade.

Contudo o super-homem não surgirá pelos alucinados esforços dos cientistas que se julgam poderosos através da eugenia. O super-homem já deveria habitar o Planeta, mas isso somente ocorrerá quando corpo, mente e espírito atuarem em conjunto, na exata medida do equilíbrio preconizado pelas Leis da Criação. Fora disso teremos os monstros humanos, os imbecis, os nanicos e os doentes de corpo e alma povoando este maravilhoso Planeta, semeando discórdia e miséria onde apenas paz e harmonia deveriam habitar.

 

 

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1 GUYOT, D.Q. (1994), p.19

[1] CHEVALIER, J. e CHEERBRANT, A. (1982), p.489.

[2] Idem.

[3] CURTIUS,  E.R. (s.d), p.01

[4] PEREIRA, M.H.R. (1982), p.321

[5] BAKHTIN, M. (1992), p.26

[6] BAKHTIN, M. (1992), P.54

8 BAKHTIN, m. (1992), P.168