formas
pronominais
alocutivas
no italiano
contemporâneo
Mariarosaria
Fabris (USP)
Entre os
pronomes
pessoais
retos (vide
quadro
abaixo),
interessa-me
focalizar neste
texto as
chamadas
formas
alocutivas,
isto é, os
pronomes
que se referem
à(s)
pessoa(s)
com
quem se
fala. O
termo
alocutivo
deriva do
latim
alloquor (segundo
Giuseppe Pittano)
ou adloqui
(segundo
Marcello Sensini) e significa
dirigir a
palavra a
alguém.
|
|
singular
|
plural
|
|
|
1a
pessoa
aquela(s)
que
fala(m) |
io |
noi |
|
FORMAS
PRONOMINAIS
ALOCUTIVAS
|
2a
pessoa
aquela(s)
com
quem
se
fala |
Lei
(raro:
Ella)
Voi
|
Voi
Loro |
reverentes |
|
3a
pessoa
aquela(s)
de
quem se
fala |
lui/egli
lei/essa |
loro
(essi/esse) |
|
São
formas
alocutivas
naturais
tu
e voi,
empregadas
entre
pessoas
que têm
intimidade
ou
entre aquelas
que têm
relações
igualitárias,
que se tratam
por
tu;
são
formas
alocutivas de
cortesia
Lei
(Ella), Voi (singular),
Loro
(Voi),
empregadas nas
relações
entre
pessoas
que
não têm
intimidade
ou
que respeitam
uma
ordem
hierárquica (por
idade,
classe
social,
cargo, etc.),
que se tratam
por
Lei
ou,
mais
raramente,
por Voi.
O Voi de
cerimônia, o
Lei, o
Loro e
seus
respectivos
pronomes
oblíquos e
possessivos
eram
escritos,
em
geral,
com a
letra
inicial
maiúscula,
enquanto
hoje se
prefere
empregar a
letra
minúscula.
Neste
texto, no
entanto,
continuarei empregando a
letra
inicial
maiúscula,
para
evitar
confusão
entre a
forma de
intimidade da
segunda
pessoa no
plural e os
pronomes da
terceira
pessoa.
Segundo
Alberto A. Sobrero, o
falante, ao
empregar uma
determinada
forma
pronominal
alocutiva, denuncia
seu
ponto de
vista
quanto à
relação
hierárquica (em
vários
níveis)
que intercorre
entre
ele e o
interpelado;
quanto ao
papel
social
que atribui ao
interlocutor;
quanto ao
grau de
formalidade da
situação.
Embora
com
menor
freqüência de
uso
em
relação ao
tu de
intimidade, o
pronome
alocutivo de
cortesia
mais difundido
é o
Lei, o
qual, no
entanto,
nem
sempre foi a
forma
pronominal
mais
empregada. Na
época do
fascismo,
por
exemplo,
entre as
várias
campanhas
lingüísticas,
houve uma
também
contra o
Lei.
Em
janeiro de
1938, o
literato
florentino
Bruno Cicognani iniciou uma
cruzada
contra o
Lei,
incitando os italianos a voltarem a
empregar o
tu,
como
expressão do
conceito do
universal
cristão e
romano, e o
Voi,
como
fórmula de
respeito e
reconhecimento
da
hierarquia. Tachado de
pouco
viril,
burguês,
esnobe,
servil e
estrangeiro
(foi considerado erroneamente de
origem
espanhola), o
Lei foi
sendo eliminado
oficialmente,
até
mesmo naqueles
casos
em
que a
burocracia
fascista
não soube
distinguir a
forma
pronominal
alocutiva
Lei do
pronome
sujeito da
terceira
pessoa do
singular no
feminino. Foi
o
caso da
revista
para
mulheres
Lei,
que, a 15 de
novembro de
1938, passou a chamar-se Annabella.
Os
antigos
romanos
só empregavam
o
pronome
tu;
Dante Alighieri, no
entanto,
acreditava
que
o Voi havia sido introduzido
em
Roma, na
época
de Júlio César,
para
aclamá-lo
depois
de uma
vitória,
e o
usa
em
A
divina
comédia
como
fórmula
de
deferência,
por
exemplo,
quando
se dirige a
seu
antepassado
Cacciaguida:
Dal "voi" che
prima
Roma sofferìe,
in che la
sua
famiglia men persevra,
ricominciaron le parole mie; [...].
Io cominciai: "Voi
siete il
padre
mio;
voi
mi
date a
parlar
tutta baldezza;
voi
mi
levate sì, ch'io son più ch'io. [...]". (Paraíso,
Canto
XVI)
Entre
os
séculos
XIII e XV, o
emprego
das
formas
pronominais
alocutivas variou
muito
e as
personagens
importantes
podiam
ser
tratadas
por
tu
ou
por
Voi,
como
faz Dante
com
Beatriz
em
A
divina
comédia:
Tacette allora, e poi comincia'
io:
- O donna
di virtù,
sola
per
cui
l'umana
spezie eccede ogni
contento
di quel
ciel che ha minor li cerchi sui,
tanto
m'aggrada il tuo comandamento,
che l'ubbidir, se già
fosse, m'è tardi;
più non t'è uopo aprirmi
il tuo
talento.
(Inferno,
Canto
II)
"[...]
Questo m'invita, questo
m'assicura
con
reverenza, donna, a dimandarvi
d'un'altra verità che m'è
oscura.
Io vo' saper se
l'uomo può sodisfarvi
ai vóti
manchi sì con altri beni,
che alla
vostra statera non sien parvi". (Paraíso,
Canto
IV)
Francesco Petrarca,
também,
no
Cancioneiro,
dirige-se a
Laura,
alternando o Voi
com
o
tu:
Se la mia vita da l'aspro
tormento
Si
può
tanto
schermire e dagli affanni,
Ch'i' veggia
per
vertù degli ultimi anni,
Donna, de' be' vostr'occhi il
lume
spento [...]. (III)
Vera
donna! ed a cui di nulla cale
Se non d'onor, che sovr'ogni
altra mieti:
Nè d'Amor
visco temi, o lacci o reti;
Nè 'nganno altrui contr'al tuo
senno
vale.
(LII)
No
século
XV,
quando
os
humanistas
tentaram
voltar
ao
tratamento
usual
entre
os
romanos,
o
emprego
do
pronome
tu
generalizou-se.
Quanto
à
forma
Voi (Vos),
os
primeiros
exemplos
datam do III
século
depois
de
Cristo
e
são
freqüentes
na
correspondência
eclesiástica,
provavelmente
como
plural
de
modéstia
(um
bispo,
ao
escrever
a
outro
alto
dignitário
da
Igreja,
dirigia-se
não
só
a
ele,
mas
à
comunidade
de fiéis
que
este
representava).
Mais
ou
menos
no
mesmo
período,
começou a
ser
usado o
nós
majestático
(ou
plural
de
majestade),
sempre
com
esse
sentido
coletivo:
ou
seja, o
rei
confundia-se
com
a
nação,
que
se expressava
por
meio
dele.
Os
primeiros
casos
de
Vos
enquanto
alternativa
sociolingüística de
uso
comum
datam da
época
medieval,
como
formas
de
respeito
tanto
de
inferior
para
superior
(tu-Vos),
quanto
entre
colegas
de
alto
grau
(Vos-Vos),
isto
é,
quando
um
bispo
se dirigia a
outro
bispo,
um
duque
a
outro
duque,
o
papa
a
um
imperador,
etc.:
Vos
|Vos
---|---
Vos
|tu
Até
o
fim
do
século
XV, o
Lei
quase
não
é
empregado
ou
alterna
com
o Voi,
pois
não
se
tinha
certeza
quanto
a
seu
uso.
Se o
humanista
Pietro Bembo escreve ao
papa
Paulo III, dizendo: Vostra Beatitudine, io farò come ella vuole;
em
O
cortesão
(1528), Baldesar Castiglione
só
emprega
o Voi,
como
Maquiavel.
O
emprego do
Lei
começou a afirma-se na Itália
entre os
séculos XVI e
XVII, na
época do
domínio
espanhol, e,
por
corresponder
a Vostra Bontà, Vostra Grazia, Vostra Eccellenza, Vostra
Signoria (ou
Signoria Vostra), exigia a
concordância
no
feminino
mesmo
quando se
referia a
um
homem. Essa
ambigüidade,
que
não permitia
diferenciar
entre
um
interlocutor
de
sexo
masculino
ou
feminino,
começou a
incomodar
escritores do
século XIX,
como
Alessandro Manzoni, o
qual,
em I
promessi sposi (Os
noivos),
deu
mais
ouvidos ao
bom
senso do
que à
gramática:
“Misericordia! Cos’ha signor padrone?”
“Niente, niente,” rispose Don Abbondio,
lasciandosi
andar tutto ansante
sul suo seggiolone.
“Come, niente? La
vuol dare ad intendere a
me?
così brutto
com’è?
Qualche
grave
caso
è avvenuto.”
Nesse
pequeno
trecho dialogado
entre o
pároco e
Perpetua, o
adjetivo brutto (feio)
deveria
ter sido usado no
feminino,
brutta (feia),
em
virtude do
tratamento
formal
que a
empregada
dispensa a
seu
patrão.
Hoje,
além de
ambígua, a
atribuição de
adjetivos
femininos a
um
homem,
poderia
criar
situações
embaraçosas,
por
isso,
mesmo
quando se
empregam os
pronomes
oblíquos de
cortesia, os
adjetivos e os
particípios
das
locuções
verbais
concordam
com o
sexo do
interpelado:
Signor professore,
Lei è
giusto ma
severo
(e
não giusta
e
severa).
Anche
Lei,
direttore, è invitato a
cena (e
não
invitata).
O
mesmo acontece
quando
nos dirigimos
a várias
pessoas de
sexo
masculino,
empregando o
Loro:
Entrino pure, signori, ma non
possiamo assicurare
Loro che
saranno bene accolti.
Vale
salientar
que, no
italiano
contemporâneo,
esse
Loro
está
cada
vez
mais sendo
substituído
pelo Voi,
mesmo
quando
não existe
um
grau de
intimidade
ou
amizade
com os
interlocutores:
Entrate pure, signori, ma non possiamo
assicurarVi che sarete bene accolti.
Os
pronomes, os
adjetivos e os
particípios
concordam
gramaticalmente,
quando
empregamos a
forma
pronominal
alocutiva Ella (que
hoje caiu
em
quase
total desuso),
as
formas de
tratamento
cerimonioso
Signoria Vostra,
Sua
Eccellenza, Vostra Eminenza,
Sua
Maestà,
Sua
Altezza,
Sua
Santità, etc.,
tanto no
singular
como no
plural:
Ella è assai
stimata, signor giudice (e
não stimato).
Sua
Maestà è attesa (e
não atteso).
Le
Loro
Signorie
sono
tanto
magnanime e comprensive.
O Voi de
cerimônia
exige as
formas
verbais e os
pronomes da
segunda
pessoa do
plural,
mas a
concordância
dos
adjetivos e
dos
particípios se
dá no
singular,
tanto no
masculino
como no
feminino,
dependendo do
sexo da
pessoa à
qual
nos referimos:
Voi, signora, siete molto
generosa.
Voi, giovanotto, siete
forte e
robusto.
O Voi foi
empregado
em algumas
regiões do
Centro e do
Sul da Itália
como
única
forma
pronominal
alocutiva no
singular, e
ainda
hoje pode
ser
ouvido,
embora esteja
caindo
em desuso. No
Sul da Itália,
quando se
trata de
demonstrar
respeito
para
com a
pessoa
que está sendo
interpelada, o
uso do Voi
pode
ser
espontâneo,
como no
exemplo a
seguir, extraído do
conto
Sostiene
Pessoa, de Andrea
Camilleri, ambientado na Sicília:
"Cu
si?",
spiò
una
voce di vecchio, bassa, senza tremore.
Chi
sei. L'aveva
veramente
fiutato, un’ombra
estranea nell'ammasso di ombre che costituiva la càmmara [...].
Era
in svantaggio, Montalbano [...]. E capì macari che sarebbe stato un errore
irrecuperabile dire in quel
momento
la parola sbagliata.
"Sono
un commissario. Montalbano
sono."
L'omo non
si
cataminò, non parlò.
"Voi siete
Antonio Firetto?"
Il "voi" gli
era
venuto spontaneo e con quel particolare tono che indica considerazione, se non
rispetto.
"Sì."
"Da
quanto
tempo
non vedevate Giacomo?"
"Da cincu anni.
Vossia
mi
cridi?"
"Vi
credo."
Estranhamente, na
linguagem das
histórias
em quadrinhos,
o Voi alocutivo
ainda é
empregado
como
fórmula de
respeito no
lugar do
Lei (principalmente
entre
inferiores e
superiores),
em
oposição ao
tu das
relações
familiares e
do
círculo de
amizades. Essa
sobrevivência
do Voi nas
histórias
em quadrinhos
só pode
ser explicada
por uma
cristalização do
emprego
lingüístico
dos
pronomes nesse
tipo de
publicação.
Em
virtude da
simplificação das
formas
pronominais
alocutivas no italiano
contemporâneo, Alberto A.
Sobrero propõe
um
esquema
ainda
mais
simples do
que
estabelecemos no
início deste
texto:
|
singular
|
plural
|
|
FORMAS
PRONOMINAIS
ALOCUTIVAS |
tu
Lei |
voi
Voi |
naturais
de
cortesia |
Nos
dias de
hoje, a
forma alocutiva
mais difundida
é aquela de
intimidade e a
tendência é a
de
empregar o
tu
não
só
entre
jovens (sobretudo
das
camadas
sociais
altas),
colegas de
trabalho e
pessoas
marginalizadas
pela
sociedade,
mas
mesmo
em
situações
formais,
em
relacionamentos
ocasionais e
entre
interlocutores
que
não se
conhecem.
Isso, no
entanto,
não
quer
dizer
que o
falante de
italiano possa
empregar automaticamente
essa simplificação.
O
Lei,
já
vimos, muitas
vezes
foi considerado
sinônimo
de
comportamento
burguês,
como
na
época
do
fascismo.
Em
1968, nas
assembléias,
os
estudantes
universitários
se dirigiam ao
reitor
empregando o
tu,
como
demonstração
de
um
tratamento
igualitário.
Ao
contrário,
na
década
passada,
a
esquerda
parlamentar
empregava sistematicamente o
Lei,
com
a
intenção
de
manter
distância
da
direita.
Fausto
Bertinotti,
presidente
de Rifondazione
comunista,
declarava,
em
junho
de 1994:
No, io proprio non ce la
faccio a dare del
tu
ai fascisti, o a
chi
appoggia quelli che licenziano i sindacalisti. Oggi l'Italia è spaccata, c’è
uno
scontro durissimo. Bisogna ristabilire le distanze. Anche cominciando a usare di
più il
Lei...
No
segundo
pós-guerra,
a
não
ser
no
Plenário,
onde
ainda
hoje
é
obrigatório
o
emprego
do
Lei,
os
políticos
de
esquerda
tratavam
todos
por
tu:
o
comunista
Palmiro Togliatti
assim
interpelava
seu
arquiinimigo,
o democrata
cristão
Alcide De Gasperi.
Mesmo
em
anos
mais
recentes,
Marco
Pannella,do
Partido
Radical,
numa
transmissão
televisiva ao
vivo
pedia o
impeachment
do
chefe
de
estado,
Francesco Cossiga,
que
respondia a
suas
acusações.
Ambos
empregavam o
tu,
assim
como
o
socialista
Bettino Craxi, o
qual,
de
novo
num
programa
na
televisão
disse “Questo vallo a dire a tuo nonno” ao
diretor
do
jornal
Paese sera,
que
lhe
respondeu: “Lei
è un gran maleducato”.
O
emprego
do
Lei
por
parte
da
esquerda
põe
fim
a uma
praxe
de
cumplicidade
familiar
de
quase
cinqüenta
anos
e representa a
admissão
da
derrota
política,
no
plano
lingüístico.
Incomodava,
porém,
ser
tratado
por
tu
pela
direita
vitoriosa,
que
empregava o
pronome
com
malícia,
dando a
entender
que
eram
todos
farinha
do
mesmo
saco.
Empregar
o
Lei,
no
entanto,
não
é
prerrogativa
da
esquerda.
Silvio Berlusconi,
por
exemplo,
só
usa
essa
forma,
seguido do
nome
e
não
do
sobrenome
do interpelado: “Lei
Giuliano” (e
não
Lei,
Ferrara
ou
Lei,
Giuliano Ferrara).
Segundo
Sobrero, o
Lei
seguido do
nome
próprio
caracteriza uma
relação
hierárquica
de
superior
para
inferior
(nunca
o
contrário).
Em
artigo
dedicado ao
ensino e às
relações
entre
professores e
alunos, a
jornalista Cristina
Bianchi, ao
indagar a
respeito do
emprego “democrático”
do
tu na
escola,
concluía
que
isso depende
da
idade do
professor.
Para os
educadores
mais
moços,
não representa
nenhum
sinal de
desrespeito,
como
para os
mais
idosos. É
importante
não
confundir o
tu
com uma
garantia de
intimidade,
que muitas
vezes
não existe.
Para a
psicóloga
Giovanna Camana, entrevistada
pela
jornalista, deixar-se
tratar
por
tu
não representa
uma
maior
intimidade,
assim
como
preferir
ser
tratado
por
Lei
não significa
uma
maior
frieza no relacionamento
com os
outros.
Segundo
ela, os
adolescentes
confiam
mais
nos
adultos
que se
comportam
como
adultos do
que
nos
que pretendem
comportar-se
como
adolescentes.
E, na
opinião do
crítico de
arte Gillo Dorfles, a
criança (e o
adolescente)
precisa
ainda de uma
figura
paterna
que emane
autoridade: o
professor é
quem substitui
essa
figura
paterna.
Podemos
deduzir,
então,
que
não é o
emprego do
tu o
que poderá
garantir uma
maior
aproximação
entre as
pessoas
ou
um
relacionamento
mais
democrático do
ponto de
vista
social. Num
texto
intitulado Gli accendini del “vu’ cumprà” e la Neolingua, Umberto
Eco,
sensível à
dificuldade
que os
terceiro-mundistas
que exercem as
profissões
mais
humildes têm
para inserir-se na
sociedade italiana
contemporânea,
atribui essa
dificuldade
também ao
fato de
esses
imigrantes
falarem
um pidgin
e
não a
língua
padrão. E
um dos
sinais do
não-domínio do italiano está
exatamente na
pouca
familiaridade
com as
formas
pronominais
alocutivas,
que os
leva a
empregarem
em
qualquer
situação o
tu:
Sino
a poco
tempo
fa ritenevo che gli accendini Bic e i pennarelli a
feltro
fossero l'unico esempio di
comunismo
realizzato.
Tu
prendi quelli degli altri e gli altri prendono i tuoi, non c’è proprietà
privata.
Sino
a che un dotto collega dell'università di Gerusalemme
mi
ha fatto notare che però, di queste merci, ciascuno ne ha
sempre
meno di quante ne abbia perdute. Il che significa che c'è un luogo del mondo –
probabilmente nel Tibet – dove
si
ammassa questa eccedenza.
Il luogo è probabilmente il
centro
segreto di rifornimento degli ambulanti extracomunitari.
Domenica scorsa ero andato a
comperare i giornali e
sono
stato avvicinato da un "vu' cumprà" (e
uso
di proposito questo appellativo, che molti ritengono dispregiativo, e dirò poi
le ragioni
per
cui). Quest'uomo, dai tratti non indoeuropei,
mi
ha offerto appassionatamente
una
scatoletta da dieci
accendini. Stavo
per
congedarlo con un educato
gesto
di diniego, poi
mi
sono
reso
conto
che ero davvero a corto di accendini,
era
l'una
e forse il poveretto doveva mangiare, gli ho chiesto "Quanto
vuoi?", il prezzo
era
quello
standard,
affare fatto, e l'ho salutato con un
sorriso
democratico.
Poi ci ho ripensato e
mi
sono
accorto che gli avevo dato del "tu".
Possibile,
mi
son detto, che
mi
sia comportato come un razzista, e istintivamente l'abbia trattato da schiavo?
Ci ho ripensato ancora rievocando l'incontro, e
mi
sono
reso
conto
che lui
mi
aveva avvicinato con un "Capo, senti, ti servono accendini?" – o qualcosa del
genere. Tutto normale, avvicinato in seconda persona singolare, avevo reagito
nello stesso
modo
per
inerzia linguistica.
Ma non ero soddisfatto. Se lui
mi
aveva dato del "tu"
(per
scarsa dimestichezza con la lingua e le usanze), io, che questa dimestichezza ce
l'ho, avrei dovuto egualmente rispondergli con il "lei".
Però, pensavo ancora, se qualcuno avesse assistito a questo scambio ("Capo, vuoi
accendini?", "Che cosa Ella richiede in contraccambio?"), la cosa sarebbe parsa
grottesca e ancor più ingenerosa. La
sua
marginalità
mi
aveva intrappolato, e avevo contribuito a marginalizzarlo.
Con questa storia degli
extracomunitari
si
discute
tanto
di quote, permessi di soggiorno e posti di lavoro, ma molto poco di educazione
linguistica.
Perché essi parlano un pidgin.
Ora
il pidgin, di cui l'esempio più
noto
è quello diffuso nell'area cino-malese, è
una
lingua imperfetta, fatta con pezzi di altre lingue, con la quale
si
possono esprimere
solo
concetti elementari e non
si
possono condurre transazioni comunicative complesse. In
una
parola, serve
per
vendere e comperare un carico di pesce, ma non
per
trattare la cessione di TeleMontecarlo.
Per
questo i pidgin
sono
sempre
una
lingua
per
colonizzati, e
chi
parla
solo
pidgin avrà
sempre
e soltanto
una
posizione
subalterna.
I pidgin
nascono da soli, ma un bell'esempio di pidgin inventato è la
famosa
Neolingua di cui parla Orwell in 1984, con
una
sintassi elementare e un lessico ridotto. La Neolingua non serve
tanto
per
permettere di comunicare alcune cose,
quanto
per
impedire di comunicarne altre. Altrove avevo rilevato che il lessico della
Neolingua è simile a quello degli
spot
pubblicitari, ma il
processo
di pidginizazzione del teleutente europeo rappresenta un altro argomento.
Ora
parlo del pidgin degli immigrati.
Il giorno
prima,
a un supermercato,
mi
sono
trovato in
coda
dietro a un ragazzo
evidentemente
arabo che aveva rotto
una
bottiglietta di
birra
in
una
confezione da tre, l'aveva mostrata al cassiere, e aveva
preso
un'altra confezione integra. Il cassiere voleva dirgli che avrebbe dovuto pagare
entrambe le confezioni. Il cassiere non
era
razzista, anzi parlava con pazienza
paterna:
"Ragazzo mio,
tu
dovere pagare due,
mi
spiace". In pidgin. Ma il rapporto non
si
risolveva, e gli altri in
coda
incominciavano a indignarsi.
Alla fine io e
il cassiere abbiamo capito che il ragazzo aveva tutte le migliori intenzioni di
pagare anche
per
la bottiglia rotta,
solo
che non
era
riuscito a spiegarsi.
Visto
che comperava
birra,
quel ragazzo aveva forse abbastanza da mangiare. Ma non aveva abbastanza da
parlare. E quindi se io un giorno comprassi accendini da lui,
per
non fargli saltare il
pasto,
non avrei fatto ancora nulla.
Diante dessa
reflexão de
Eco, podemos
concluir
que, do
ponto de
vista
lingüístico, a
verdadeira democratização
não consiste
no
emprego
indiscriminado
de
um
pronome de
intimidade, o
qual,
aparentemente,
teria uma
função
igualitária,
mas na
possibilidade de
permitir a
todos o
acesso e o
domínio
total de uma
língua, a
fim de
que essa
língua seja
cada
vez
menos a
língua de
poucos
eleitos, a
língua do
poder, e se torne
cada
vez
mais a
língua de
todos.
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