PARA UMA
NOVA
TIPOLOGIA
DAS
CONSTRUÇÕES COMPARATIVAS
EM
PORTUGUÊS
Violeta Virginia Rodrigues (UFRJ)
Há
diferentes
análises
¾
tradicionais/normativas, gerativistas, funcionalistas e discursivas
¾
sobre as
orações subordinadas adverbiais
comparativas.
Tal
fato,
por
si
só, justificaria o
presente
estudo.
Como afirma Menezes (1989:8),
onde
não há
concordância, pode
haver
fatos interessantes a
estudar.
Em
vista
desse
quadro
tão
diversificado, preferiu-se, neste
trabalho,
adotar
a
terminologia
estruturas
e/ou
construções
comparativas
como
denominação
mais
geral,
pois
entre
elas
poderão
ser
identificadas as
construções
oracionais
e as não-oracionais,
como
se ilustra a
seguir:
1.
construções
comparativas
em
que
no
segundo
membro
da comparação o
verbo
está
explícito
- A Isabela é
mais
estudiosa
do
que
a Priscila é trabalhadeira.
/
Ela
dá
aula
há
tanto
tempo
quanto
eu
faço
quentinhas.
Nesse
caso,
as
construções
são
oracionais;
não
envolvem
elipse/apagamento
do SV.
2.
construções
comparativas
em
que
no
segundo
membro
da comparação o
verbo
está
elíptico;
estas se subdividem
em:
2.1 -
construções
comparativas
com
Ns – Geraldo comprou
mais
CDs do
que
o José Ricardo. /
Ela
dá
aula
há
tanto
tempo
quanto
eu.
2.2 -
construções
comparativas
com
ADVs – O Paulo escreve à
máquina
melhor
do
que
a
Vera.
/ Chico Buarque
canta
pior
[do
que
Milton Nascimento.]
2.3 -
construções
comparativas
com
Vs – A Mônica engordou
mais
do
que
a Elenice.
/ A Priscila
fala
mais
[do
que
a Isabela.]
Nesse
caso,
as
construções
são
não-oracionais; envolvem a
elipse/apagamento
do SV.
Nos
exemplos
anteriormente
mostrados, vê-se
que
as
construções
comparativas envolvem
graduação.
Entretanto,
existem
construções
em
que
isto
não
se observa,
tais
como:
a)
Antigamente,
não
tinha
violência
como
tem
hoje.
b)
João bebe
como
um
gambá.
Em
a), tem-se uma
construção
oracional
e
em
b), não-oracional.
Casos
como
o de b), Ordóñez (1997a:64-65) denomina
ponderação
elativa
ou
comparação
intensiva,
isto
é,
expressões
prototípicas
para
expressar
comparação consagradas
pelo
uso
da
comunidade
falante
e
que,
segundo
ele,
podem
ser
consideradas
um
grupo
especial
de comparativas. Ao analisá-las, o
autor
evidencia as
seguintes
características:
1ª. possuem
caráter
intensivo;
2ª. a
interpretação
adequada de
tais
comparações depende do
conhecimento
de
mundo
do
falante,
isso
porque
toda
comparação pressupõe
que
o
interlocutor
conheça o
ponto
de
referência
adotado;
3ª.
não
se comportam de
maneira
diferente
de
qualquer
outra
comparação,
isto
é, a
estrutura
lingüística
é a
mesma.
Já
segundo
Napoli (1983),
casos
como
o de b)
são
de
construções
não-oracionais,
visto
que
podem
tanto
envolver
uma
leitura
não-literal
quanto
uma
leitura
literal.
Portanto,
para
a autora, o
fato
de a
construção
poder
admitir
as duas
leituras
é
um
possível
indicador
de
ser
a
mesma
uma
estrutura
não-oracional.
Para
se
estabelecer
a
tipologia
das
estruturas
comparativas, os
trabalhos
de Napoli (1983) e Napoli & Nespor (1986) tornaram-se
fundamentais.
Com
base
nessas autoras, foi
possível
depreender
estruturas
comparativas completas e incompletas,
ou
seja, aquelas
que
não
envolvem
elipse/apagamento
e,
ainda,
estruturas
comparativas envolvendo
elipse/apagamento.
As completas e incompletas
são
estruturas
oracionais
e as
que
envolvem
elipse
são
não-oracionais.
Com
base
nesta
oposição
principal,
distingue-se,
ainda,
a
construção
pelo
procedimento
sintático
envolvido –
correlação
ou
subordinação.
Assim,
propõem-se
quatro
tipos
de
estruturas
de comparação
em
Língua
Portuguesa:
1.
construções
comparativas
oracionais
correlatas
(1)
Hoje
eu
trabalho
mais
[do
que
trabalhava.]
(AC 18)
2.
construções
comparativas
oracionais
não-correlatas
(2)
Conheço o
Pão
de
Açúcar
[como
conheço o
Corcovado].
(OHDQN2)
(3)
Agarrada
às
minhas
orelhas,
[como
o
náufrago
à
tábua
de salvação.]
(OJESDA)
3.
construções
comparativas não-oracionais correlatas
(4)
Minhas
notas
foram
muito
mais
altas
no
curso
profissional
[do
que
no
básico.]
(AC 1)
4.
construções
comparativas não-oracionais não-correlatas
(5)
Lá
não
há,
não
tem
bom
tempo
[como
aqui.]
(AC 1)
Nos
itens
1 e 2, tem-se
exemplos
como
(1) e (2)
em
que
o
verbo
vem
expresso,
e
como
(3)
em
que
há o
cancelamento
do SV,
mas
não
dos
seus
argumentos.
Portanto,
casos
de
estruturas
oracionais
completas e incompletas,
respectivamente.
Nos
itens
3 e 4, tem-se os
exemplos
(4) e (5)
em
que
ocorre a
elipse/apagamento
do SV
como
um
todo.
Analisando-se
ainda
os
exemplos,
nota-se
que
as
estruturas
comparativas envolvem
correlação
e
subordinação.
Assim,
pode-se
depreender
que
os
casos
denominados de não-correlatas
são
de
estruturas
de
subordinação.
Este
estudo,
a
partir
das
propostas
e
tipologia
apresentadas, defenderá a
hipótese
de
que
as
estruturas
comparativas
não
são
uniformes,
podendo
ser
oracionais
ou
não-oracionais.
Trabalhos
tradicionais,
como
o de Luft (1978:154) ¾
que
defende a
idéia
de
que
a
parte
sublinhada
em
seqüências
do
tipo
Trabalha
como
um
mouro.
são
locuções
adverbiais e
não
orações
¾ e
como
o de
Oiticica
(1942; 1953) ¾
que
defende a
idéia
de
que
as comparativas
são
correlatas ¾ apontaram
para
a
necessidade
de uma
revisão
dessas
estruturas.
Adaptando-se as
propostas
de Napoli & Nespor (1986),
juntamente
com
a de
outros
autores,
foi
possível
estabelecer
uma
tipologia
para
as
construções
comparativas
em
Língua
Portuguesa.
Nas
gramáticas
tradicionais, as comparativas estão inseridas
entre
as
orações
subordinadas adverbiais.
Adotar
esse
ponto
de
vista
significa
aceitar
que
as
construções
comparativas funcionam
como
adjuntos;
contudo,
essa
não
é a
única
possibilidade de
análise.
Acatando-se o pressuposto de
que
a
determinação
estabelece uma
relação
entre
uma
constante
e uma
variável
e de
que
a
interdependência
estabelece uma
relação
entre
duas
constantes,
conforme
orientação
de García (1994),
opta-se, nesse
trabalho,
também,
por
inserir
as comparativas no
tipo
de
relação
intersentencial na
constituição
de
sentenças
complexas estruturadas
por
correlação,
em
que
uma
sentença
estabelece uma
relação
de
interdependência
com
a
outra.
Postura
semelhante
adotam Barreto (1992), Mattos e Silva (1993) e Castilho (1998),
que
tal
como
se faz
aqui,
resgatam a
proposta
de
Oiticica
(1942).
Portanto,
as comparativas correlatas
não
são
orações
subordinadas adverbiais,
porque
não
podem
ser
consideradas
como
parte
constituinte
de
outra
como
ocorre
com
as substantivas,
em
que
há uma
relação
de complementação,
ou
seja, encaixamento. Naquelas ocorre
interdependência
sintática,
mas
não
encaixamento.
Portanto,
parte-se do pressuposto de
que
há
três
processos
sintáticos
em
Língua
Portuguesa:
coordenação,
correlação
e
subordinação.
Este
último
envolve
tanto
as
relações
de complementação
quanto
as de
adjunção.
Estabelecido o
processo
sintático
caracterizador
de
um
dos
tipos
das
construções
comparativas (as
estruturas
correlatas
que
envolvem
graduação),
resta
mencionar
que
as comparativas não-correlatas (estruturas
que
não
envolvem
graduação)
são
construções
de
subordinação,
pois
funcionam
como
adjuntos.
Tendo
em
vista
que
se usam
também
os pressupostos sociolingüísticos neste
estudo,
além
de se
descrever
o
comportamento
das
construções
comparativas
com
o
objetivo
de
estabelecer
se
são
ou
não
oracionais,
procurou-se
verificar,
ainda,
se o
uso
de
tais
estruturas
envolve variação
ou
mudança
lingüística.
No
que
tange ao
presente
trabalho,
o
objeto
de
estudo
é a
mudança
sintática,
que,
além
de
ser
menos
perceptível, é,
segundo
Labov (1994), a
que
ocorre de
forma
mais
lenta.
Os
dados
que
servirão de
base
para
este
trabalho
serão
analisados
com
o
auxílio
do
aparato
teórico-metodológico da
Teoria
da Variação
Lingüística
(Cf. Labov, 1994),
que
parte
do pressuposto
básico
de
que
o
sistema
lingüístico
é
essencialmente
heterogêneo,
exibindo variação. Essa variação é
passível
de sistematização e está condicionada
por
fatores
lingüísticos
e extralingüísticos.
Portanto,
este
estudo
leva
em
consideração
ambos
os
tipos
de condicionamentos.
Para
desenvolver
a
análise
quantitativa,
será utilizado o
pacote
de
programas
VARBRUL (Sankoff, 1988),
com
a
finalidade
de
quantificar
as
estruturas
comparativas ao
longo
dos
períodos
examinados, confrontando-os
com
diferentes
tipos
de condicionamentos.
Com
tal
enquadramento teórico-metodológico pretende-se,
pois,
estabelecer
uma
tipologia
mais
coerente
e
sistemática
das
construções
de comparação na
Língua
Portuguesa, visando a
depreender
aquelas
que
de
fato
devem
ser
tratadas
como
estruturas
comparativas
oracionais.
A
falta
de
consenso
em
relação
à classificação das comparativas justifica o
estudo
dessas
estruturas,
levando-se
em
conta
o
quadro
teórico
apresentado. Os
resultados
servirão
para
apontar
também
a
freqüência
com
que
essas
estruturas
ocorrem
em
nosso
sistema.
A
análise
se baseia
em
diferentes
tipos
de
dados.
Os
dados
de
Língua
Escrita
provêm de
peças
teatrais,
em
geral
comédias
de
costumes,
nas
quais
procura-se
adequar
a
variedade
lingüística
à
identidade
da
personagem
e à
situação
de
comunicação,
estilização
que
tenta
aproximar
esse
tipo
de
texto
ao
falado.
Ao
todo,
analisaram-se 20
peças
teatrais
–
três,
da 1a.
metade
do
século
XVIII; uma, da 2a.
metade
do
século
XVIII;
seis,
da 1a.
metade
do
século
XIX;
cinco,
da 2a.
metade
do
século
XIX;
três,
da 1a. do
metade
século
XX e duas, da 2a
metade
do
século
XX. Essa
amostra
permitirá
fazer
um
estudo
em
tempo
real
de
longa
duração.
Os
dados
de
Língua
Oral
provêm do
Projeto
NURC – RJ e compreendem a
fala
de 30 informantes gravada
nos
anos
70 e
nos
anos
90.
Em
90, tem-se
tanto
gravações
feitas
com
indivíduos
distintos,
separadas,
portanto,
por
um
intervalo
de
cerca
de 20
anos,
chamada
de
Amostra
Complementar
e
que
possibilita o
que
se denomina
estudo
de
tendência,
quanto
aquelas
em
que
um
mesmo
informante é recontactado 20
anos
depois
de
sua
primeira
entrevista,
permitindo o
que
se denomina
estudo
de
painel
(Cf. Labov, 1994).
Então,
para
o
estudo
de
tendência,
as
coletividades
devem
ser
distintas,
enquanto
para
o de
painel,
incluem-se os
mesmos
informantes.
Em
uma, avalia-se o
comportamento
da
comunidade
e na
outra,
o do
indivíduo.
Essas
amostras
possibilitam,
pois,
estudar
a variação /
mudança
em
tempo
real
de
curta
duração.
Ao
todo,
analisaram-se 30
inquéritos
– 8, da
faixa
etária
1 (25 a 35
anos);
12, da
faixa
etária
2 (36 a 55
anos)
e 10, da
faixa
3 (acima
de 56
anos);
10,
são
da
década
de 70; na
década
de 90, 10
são
de
Amostra
Complementar
e 10, de Recontato.
A
aplicação
do
estudo
painel
ou
de
tendência
pode
ajudar
a
verificar
se houve
mudança
na
forma
das
estruturas
comparativas.
Uma
última
amostra
traz
dados
do
Português
Europeu
Oral.
Tais
entrevistas
fazem
parte
do
acervo
do
Projeto
Português
Fundamental,
denominada
Corpus
de
Freqüência,
que
se compõe de
gravações
do
português
falado
europeu
feitas
na
década
de 70.
Além
dessas, utilizaram-se,
ainda,
amostras
da
década
de 90, denominadas
Portugal –
anos
90.
Tais
amostras
envolvem
diferentes
falantes.
Ao
todo,
analisaram-se 42
inquéritos
– 15 da
década
de 90 e 27 da
década
de 70: 15 desses
inquéritos
estão na
faixa
etária
1; 18, na
faixa
2; e 9, na
faixa
3.
Afirmar
que
a
expressão
da comparação é
complexa
é o
mesmo
que
dizer
que
ela
envolve
tipos
distintos
de
construções
comparativas.
Este
trabalho
propõe
que
as
construções
comparativas podem
ser
oracionais
ou
não-oracionais, subdividindo-se,
ainda,
em
correlatas e não-correlatas.
Tomando-se
por
base
o
fato
de
que
as
estruturas
comparativas podem
ser
oracionais
ou
não
e o
tipo
de
introdutor
presente
na
segunda
parte
dessa
construção,
é
que
se pôde
estabelecer
a
forma
das comparativas – se correlata
ou
não-correlata.
Normalmente,
as
construções
introduzidas
por
como
e
outros
introdutores
como
feito,
igual
são
não-correlatas, e as introduzidas
pelos
introdutores
do
que/que
são
correlatas.
São
assim
denominadas
porque
vêm introduzidas
por
um
termo
relacionado
com
outro
da
oração
principal
(Cf. Luft, 1978:154). A
seguir,
listam-se
alguns
exemplos
dos corpora
para
dar
conta
da
tipologia
antes
proposta.
1.Construção
comparativa
oracional não-correlata
(6) (Fala
de Jeremias)
Por
isso
perdôo-a [como
em
idênticas
circunstâncias
a perdoaria o
meu
mestre...]
(OSJ)
Percebe-se
em
(6)
que
na
segunda
parte
da
construção,
destacada
entre
colchetes,
não
há
cancelamento
de
constituintes.
Tem-se,
pois,
uma
estrutura
oracional
e não-correlata,
portanto,
subordinada.
(7)
(Fala
de Faustino) (...)
Agarrada
às
minhas
orelhas
, [como
o
náufrago
à
tábua
de salvação,] ouço-o
dizer:
_ Maricota
não
te
ama!
(OJESDA)
Em
(7), cancela-se
apenas
um
constituinte
na
segunda
parte
da
construção,
o
núcleo
do SV ¾ o
verbo
agarrar
foi
cancelado ¾
como
o
náufrago
(se agarra) à
tábua
de salvação
¾,
mas
os
seus
argumentos
aparecem,
ou
seja, há
evidências
de
que
o SV foi projetado.
1.
Construção
comparativa
oracional
correlata
(8) (...)
Porque
está havendo uma
forma
aquisitiva
maior
[do
que
havia na
classe
média
antigamente...]
(INQ. 373 -
PB)
2.
Construção
comparativa
não-oracional não-correlata
(9) (...)
Então,
e
então
ela
berrava, ti (...)
tinha
os
chifres
[como
uma
cabra,]
e
tudo,
aí,
ah,
ainda
me
pregou uma
turra.
(B - ROALDE
- PE)
Em
(9), nota-se
que
nenhum
verbo
conjugado
segue
como,
portanto,
um
caso
de
elipse
e a
segunda
parte
da
construção
exerce a
função
de
adjunto
adverbial.
3.
Construção
comparativa
não-oracional correlata
(10)
(Fala
de Fabiana) (...)
ela,
uma
atrevida
que
quer
mandar
tanto
ou
mais
[do
que
eu,]
(...) (QCQC)
Em
(10),
não
há
verbo
conjugado
seguindo do
que.
(11)
(...) uma
parte
do
problema
do
pingente
é
isso...
quer
dizer...
o
sujeito
não
tem
noção
do
perigo...
viajar
dependurado num
trem
deve
ser
muito
mais
confortável...
muito
mais
gostoso...
muito
mais...
eh...
excitante
[do
que
viajar
dentro
dum
trem
daqueles...]
(INQ. 233 - PB)
Analisando o
exemplo
(11), percebe-se
que
a
parte
destacada
entre
colchetes
não
é uma
construção
comparativa
oracional.
Na
verdade,
é
um
constituinte
oracional
– uma
oração
subordinada
substantiva
subjetiva
reduzida de
infinitivo
¾,
portanto,
o
sujeito
da
oração
principal
– deve
ser
muito
mais
confortável...
muito
mais
gostoso...
muito
mais...
eh...
excitante.
Por
isso,
uma reescritura
possível
para
tal
construção
é do
que
(é
confortável,
é
gostoso,
é
excitante)
viajar
dependurado num
trem
daqueles...
Depreende-se,
pois,
no
exemplo
(11) uma
oração
principal
– deve
ser
muito
mais
confortável
– e duas
coordenadas
–
viajar
dependurado num
trem
e
viajar
dentro
dum
trem
daqueles,
exercendo a
função
sintática
de
sujeito
da
principal.
Tal
correlação
se faz
através
do
elemento
do
que.
Comparando o
comportamento
das
construções
comparativas nas
amostras
analisadas,
constata-se
que
as não-oracionais
são
as
construções
mais
freqüentes
em
Língua
Portuguesa, contrariando o
postulado
de
que
sejam
sempre
estruturas
oracionais.
Os
resultados
permitem
afirmar
que
estruturas
como
(19)
são
mais
freqüentes
do
que
(20)
abaixo
ilustrada:
(19)
Vim
por
causa
deles,
agora,
lamento
muito
porque
acho
que
casa
é
mil
vezes
melhor
[do
que
apartamento.]
(INQ. 140 -
PB)
(20) (...)
e os
estudantes...
também...
então
eles
têm...
realmente...
possibilidades
financeiras
muito
grandes...
muito
maiores
[que
nós
tínhamos naquele
tempo...]
(INQ. 233 -
PB)
Apesar
de as
construções
comparativas não-oracionais serem as
mais
freqüentes
nas duas
amostras
analisadas, a
forma
em
que
estão
tais
estruturas
distingue o
comportamento
da
Língua
Escrita
e o da
Língua
Falada.
As
construções
comparativas não-correlatas
são
mais
recorrentes
na
Escrita,
enquanto
a
Fala
prefere as correlatas.
Tal
fato
liga-se
estreitamente
ao
introdutor
da
segunda
parte
da
construção
comparativa.
Assim,
não
é
por
acaso
que
como
introduza
preferencialmente
as
construções
comparativas não-correlatas da
Língua
Escrita
e do
que
e
que
caracterizem
preferencialmente
as
estruturas
correlatas da
Fala.
A
presença
desses
introdutores
relaciona-se,
por
sua
vez,
com
o
conteúdo
semântico
das
construções
comparativas. Há
maior
incidência
de
construções
não-oracionais não-correlatas na
Escrita
exprimindo
igualdade
e
leitura
não-literal.
Já
na
Fala,
predominam as
estruturas
correlatas de
superioridade.
Estas
são
introduzidas
por
do
que
e
que,
aquelas
por
como.
Atente-se
para
o
fato
de
que
como
é o
introdutor
característico
não
só
das
construções
que
exprimem
igualdade
mas
também
das
estruturas
que
envolvem
leitura
não-literal.
Portanto,
os
introdutores
do
que/que
e
como
servem
para
distinguir
em
Português
as
construções
comparativas de
igualdade
das de desigualdade. Na comparação de
igualdade,
há duas
entidades
que
não
diferem
com
relação
à
qualidade
ou
à
propriedade,
isto
é, há
identidade
e similaridade (Cf.
exemplo
(21), a
seguir);
na comparação de desigualdade, existem duas
entidades
que
realmente
diferem,
ou
seja,
não
há similaridade (Cf.
exemplos
(22) e (23),
mais
adiante).
(21)
(Fala
de Otávio)
Apesar
de
não
ser
milionário
[como
o sr. Douglas,]
também
me
assiste o
direito
de
ter
caprichos.
(OSJ)
(22)
(...)
quando
se
chega
ao, a
Faro,
por
exemplo,
eu
acho
que
é
muito
pior
[do
que
Lisboa.] (
GC -
PORTO
- PE)
(23)
(...) No Brasil
eles
são
organizados
muito
mais
a
nível
municipal [do
que
a
nível
nacional.]
(REC 164 -
PB)
Uma
característica
das
estruturas
comparativas
que
não
gera
controvérsias
entre
os
estudiosos
é a de
que
estas
construções
envolvem duas
partes.
Assim,
identificar
o
constituinte
presente
na
segunda
parte
da
construção
comparativa
auxiliou na
melhor
descrição
do
comportamento
dessas
estruturas
tanto
na
Escrita
quanto
na
Fala
(Cf.
exemplos
(24) e (25)
abaixo).
(24)
(...)
Hoje
eu
trabalho
muito
mais
[do
que
eu
trabalhava...]
(AC 18 - PB)
(25)
(Fala
do
Mestre)
(...) Os
noviços,
seus
companheiros,
os
irmãos
leigos
e os
domésticos
dos
conventos
temem-no, [como
se teme a
um
touro
bravo.]
(ON)
Tanto
na
amostra
de
Língua
Escrita
quanto
na de
Língua
Falada,
em
relação
às
estruturas
não-oracionais, prevalece o SN ¾
simples
ou
complexo
¾
como
constituinte
mais
freqüente
da
segunda
parte
das comparativas (Cf. ex. (26)).
(26)
(Fala
de Cecília) E o
que
tem
isso?
Estou
eu
que
amo
a
mais
de
um,
e
não
perderia
um
tão
bom
casamento
[como
o
que
agora
tu
tens.]
(ODOOIM)
Na
Escrita,
no
que
tange às
construções
oracionais,
predominam as
estruturas
completas e incompletas, restringindo-se as últimas a essa
amostra
(Cf. ex. (27), a
seguir):
(27)
(...)
que
hei de evitar-te [como
o
devedor
ao
credor.]
(ACS)
Em
(26), o
constituinte
presente
na
segunda
parte
da
estrutura
comparativa
é o SN
complexo
e,
em
(27), SN + SPrep.
Em
síntese,
os
constituintes
característicos
das
construções
comparativas não-oracionais,
independente
da
amostra
utilizada,
são
SN
simples,
constituinte
oracional,
SPrep, SN
complexo
e SAdj; das
oracionais
são
o SV e o SN + SPrep.
Com
base
nessa
constatação
e na
análise
dos
dados
dos corpora, puderam-se
estabelecer
os
padrões
de do
que,
que,
como
+ SN
em
oposição
aos
padrões
do
que,
que,
como
+ SV,
característicos
de
construções
não-oracionais e
oracionais,
respectivamente.
Sabe-se
que
o
papel
de
qualquer
estudioso
da
linguagem
humana
não
se deve
limitar
à
simples
descrição
do
seu
maior
instrumento
de
comunicação
– a
língua.
Contudo,
sem
o
auxílio
desse procedimento
científico
não
se podem
alcançar,
muitas
vezes,
a sistematicidade,
objetividade
e
coerência,
quesitos
necessários
a uma
pesquisa
lingüística.
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