PRINCÍPIOS DO SISTEMA ALFABÉTICO
DO
PORTUGUÊS DO BRASIL

Leonor Scliar-Cabral (UFSC/CPNq)

 

    +ant

-cor

(labiais)

+ant

+cor

(anteriores)

-ant

+cor

(posteriores)

-ant

-cor

-post

(posteriores)

-ant

-cor

+post

(posteriores)

+obstruinte

 -cont

(oclusivas)

-son

(surdas)

+son

p

b

t

d

    k

g (galo)

 +cont

(fricativas)

-son

+son

f

v

s

z

§ (chá)

½ ()

  R (rosa)
-Obstruinte

 +nasal

  m n   ø (vinho)  
(+vocálico)

 +lateral

 -lateral

 -cons (semivogais)

     

l

r (caro)

   

ñ (velha)

 

 

 

j (pai)

 

 

 

 

w (teu)

Quadro fonêmico das consoantes, conforme o modelo de Lopez (1979), com o acréscimo das semivogais, exemplos e termos comparativos (entre parênteses) à nomenclatura de Mattoso Câmara Jr. (1975). Também substituímos o símbolo x que constava na casa da [+cont, +post] e que se referia à variedade carioca descrita por Lopez, pelo símbolo R, mais genérico, adotado por Mattoso Câmara Jr., para cobrir todas as realizações possíveis nas diversas variedades sociolingüísticas do português do Brasil.

 

+Orais

-posterior

-arredondado

(anteriores)

+posterior

-arredonado

 

+posterior

+arredonado

 +alta i   u
 -alta

 -baixa

e   o
 +baixa « () a ¿ ()
-Orais (nasalizadas)      
 +alta ĩ   ũ
  -alta   õ
  +baixa   ã  

Sistema vocálico do português do Brasil, conforme o modelo de Quicoli (1990), com acréscimo das vogais nasalizadas.


 

PRINCÍPIOS APLICADOS PELO LEITOR: DESCODIFICAÇÃO

Examinaremos como se aplicam os princípios do sistema alfabético do português do Brasil por um leitor proficiente.

A leitura começa por uma intenção por parte do leitor, desde a busca de informação, de um momento de lazer, de prazer estético e assim por diante. Suponhamos que esteja lendo um jornal, no qual terá preferências por seções como os editoriais, o noticiário internacional, a página esportiva, os anúncios classificados, ou a coluna social. Ao selecionar qualquer uma destas seções, os títulos ou subtítulos acionam um ou mais esquema(s), ou marco(s), ou roteiro(s) de sua memória (isto é chamado de pré-leitura conforme assinalamos anteriormente), o que garantirá a atribuição dos sentidos às palavras, adequada ao texto. Iniciada a leitura do texto propriamente dito, no momento de fixação do olhar, que é precedido e seguido pelos movimentos em sacada, ocorre o primeiro fatiamento, através das pistas fornecidas pelo impresso, em geral, sinais de pontuação, maiúsculas ou outros operadores, combinadas com o conhecimento sintático internalizado (conforme se verifica, adotamos um modelo de processamento interativo e compensatório).

Uma vez reconhecidas e identificadas as letras, pelos princípios que explicaremos a seguir, um certo número delas é suficiente para a identificação da palavra (o que se costuma denominar por descodificação propriamente dita), com suas informações sobre se é substantivo ou verbo, se está no singular ou plural, etc.; a seguir, é atribuído o sentido. A articulação dos sentidos das palavras numa frase constitui uma micro-estrutura provisoriamente arquivada na memória operacional e assim sucessivamente, até se chegar à compreensão do texto. Quando o leitor não possui em sua memória lexical o item cujas letras identificou (uma palavra com a qual esteja se defrontando pela primeira vez), terá que atribuir o sentido graças principalmente à informação que provém do impresso.

O reconhecimento e identificação das letras que representam os grafemas e seus respectivos valores para que se a busca das palavras e seu acesso, no sistema da língua portuguesa do Brasil, ocorre através de quatro meios, fundamentalmente (observe que nas regras de conversão usamos a transcrição fonológica, por economia. Na realidade, o leitor converte os grafemas às unidades tais como são realizadas em sua variedade sociolingüística).

A leitura dos grafemas representados por duas consoantes contíguas, sendo a primeira [-cont] como /p/ /t/, /k/, /b/, /d/, /g/ e a segunda, uma consoante que não [+voc], isto é, que não seja /l/ ou /r/, determina para a maioria dos falantes brasileiros a inclusão de uma vogal epentética /i/ entre ambas, como emcóccixà /Èk ¿kisi/ (a minha faxineira deixou um recado para eu comprar “ajáquis”, para a marca Ajax). É o que se observa em encontros como “ps”, “tm”, “cn”, “gn” e assim por diante.

APLICAÇÃO: Chamamos a atenção do professor para o fato de que o detalhamento da descodificação nesta obra é movido pela necessidade de aprofundamento da matéria para fundamentação do planejamento em sala de aula e não porque ela seja o único ou mais importante processo envolvido na leitura.

 

Regras de descodificação

Observe que, na notação__ V”, a letra V poderá ser lida como a descodificação das letras “i” ou “e” e “u” ou “o” na semivogal /w/ ou /j/, se o hiato puder ser dito como ditongo crescente.

 

Regras D1: Regras de correspondência grafo-fonêmica

independentes de contexto[1]

A correspondência grafo-fonêmica independente de contexto significa que uma ou duas letras (os grafemas) sempre corresponderão à realização do mesmo fonema, seja em que posição ocorrerem na palavra. Daremos a seguir cada uma das correspondências, com o respectivo ex.:

“p” à /p/ “pato”; “b”à /b/ “bola”; “t”à /t/ “tatu”; “d”à /d/ “dado” (os fonemas são [-contínuos] e sua realização não pode ocorrer isoladamente). Observe-se que, quando “t” e “d” estiverem antes da letra “i” ou da letra “e” lidos como [i] ou semivogal [j], na maior parte das variedades sociolingüísticas africam e palatizam, lendo-se como [d½] e [t§], respectivamente, como emdia” e “tia”.

“f”à /f/ “café”; “v”à /v/ “uva”; “ss”à /s/ “massa”; “ç”à /s/ “moça”; “sç” à /s/ “desço”; “ch” à/§/ “chave”; “j” à/½/ “janela”; “nh”à /µ/ “tinha”; “rr”à /R/ “carro”; “ü” à /w/ “sagüi”; “ó”à/¿/ “óculos”; “õ” à /õ/ “põe”; “á” à/Èa/ “água”; “à”à a(; “â”à /Èã/ “lâmpada”; “ã” à /ã/ “”.

 

Regra D2.1

 

 


 

             /s/                               # __                

“s”à                     /     “n”+,“l”+,“r”+__

              /z/                      “V” __  “V”      

Deve-se ler a regra acima, da seguinte forma: o grafema “s” se como a transposição à realização do fonema /s/, quando estiver em início do vocábulo, como emsapo”, ou quando, em início de sílaba, estiver depois das letras “n”, “l” ou “r” como emganso”, “bolsa” e “urso”; o grafema “s” se como a transposição à realização do fonema /z/ quando estiver entre as letras que representem as vogais ou semivogais como emmesa”, “deusa”, “casual”, “Ásia”. Observe-se que a letra “n” na regra D2.1 está nasalizando a vogal precedente e que o “l” é lido na maioria das variedades sociolingüísticas como a semivogal [w], mas, como estamos vendo, o valor dos grafemas é determinado pelas letras que os circundam e não pelos fonemas.

APLICAÇÃO: Conforme se pode depreender, explicar que a mesma letra ora possa ter um valor, ora outro, dependendo das letras que a cercam não é fácil, particularmente para o ensino do português como segunda língua, como, p. ex.., para falantes nativos do espanhol, onde a oposição entre /s/ e /z/ inexiste.


 

Regras D3: Dependentes da metalinguagem e/ou do contexto textual morfossintático e semântico

Regra D3.1

A forma padrão canônica do vocábulo da língua portuguesa, quanto ao acento de intensidade, é o vocábulo paroxítono, por isto, estes vocábulos, mediante certas condições recebem o acento gráfico. Em decorrência, todo o vocábulo sem acento gráfico, com duas sílabas ou mais, terminado pelas letras “e”, “o” e “a”, seguidas ou não de “s”, deve ser lido como paroxítono, isto é, com acento de intensidade na penúltima sílaba, como p. ex., “casa”, “porta”, “comida”, etc., salvo raros vocábulos com duas sílabas átonos, como, por exemplo, a preposiçãopara” e a combinação da preposiçãopor mais os artigos definidos “o(s)” e “a(s)”, comopelo(s)”, “polo”, ouporque”, cuja atonicidade é percebida na cadeia da leitura e não quando lidas isoladamente. No entanto, os vocábulos de maior freqüência de uso são os monossílabos e dissílabos átonos: artigos, preposições, pronomes e conjunções, como, p. ex.: “o(s)”, “a(s)”, “de”, “por”, “que”, “se”, “porque”. As letras que representam vogais sem acento gráfico nas palavras derivadas ou compostas por aglutinação, quando na primitiva tinham o acento mais forte passam a ser lidas com acento de intensidade secundário, como em “cafezinho”, “radiografia”, “bombeiro”.

 

D3.4.2: Descodificação das letras “e” e “o” na metafonia verbal

A aplicação de conhecimentos morfossintáticos permite, por exemplo, a utilização das regras de metafonia verbal, internalizadas precocemente no processo de aquisição da linguagem. Sendo assim, identificado “gosto como verbo, na cadeiaeu gosto”, o “o” será lido com o valor de /¿/, em virtude da harmonia vocálica entre a vogal do radical /o/, com a vogal temática subjacente da 1ª conjugação /a/. A sistematização abaixo permite atribuir os valores de [+bx] ou [-bx] às letras “e” e “o”, a partir da derivação verbal do sistema do presente, que é onde se aplica a metafonia verbal.


 

D3.4.2.1: Sistema do presente

O sistema do presente é constituído do pres. do ind., (menos a 1a.e 2a. pess. pl., formas arrizotônicas, que derivam do infinitivo), do pres. do subj. e dos imperativos (menos a 2a. pess. pl. do imperat. afirmativo.).

É importante fazer a distinção entre formas rizotônicas e arrizotônicas, no sistema verbal. São rizotônicas todas as pessoas do singular e a 3ª do plural do sistema do presente, ou seja, aquelas em que o acento de intensidade recai sobre a última vogal do radical como emeu levo”, “tu escreves”, “ele refere”, “eles levam”, conforme a tabela abaixo. São arrizotônicas, todas as formas verbais em que o acento de intensidade recai sobre a vogal temática ou sobre a vogal dos morfemas que a sucedem comonós cantamos”, “eu cantarei”.

TABELA 3. Descodificação das formas rizotônicas do sistema verbal

______________________________________________________________________

                        1ª conjugação                     2ª conjugação                     3ª conjugação

VT                  /-a-/ [+bx]                            /-e-/ [-alt, -bx]                    /-i-/ [+alt]

______________________________________________________________________

Pres. ind. VT         /-a-/ ~ /ã/                                                      /e/ ~ /i/ ~ /e)/                /i/ ~ /e)/

sing.

1ª  Harmonia vocálica “levo”à /Èl«vu/             “movo”à/ Èmovu/        “firo”à /Èfiru/

Regra morfológica: [+bx]

2ª                                              levasà  /‘l«vaS/    “moves”à/mviS/          “feres”àÈf«riS/

3ª                                                                     levaà /Èl«va/           “move”à /Èmvi/       “fere”à /Èf«ri/

pl.

3ª                                            “levam”à /Èl«vãw/    “movem” à /Èmve~j/  “ferem” à /Èf«re~j/

Derivação da 1a. pess. sing. , do pres. ind.:

Pres. subj., imperat. neg. (todo) e afirmat. (menos as 2ªs pess. )

Morfema modo/temporal 

/e/ ~ /i/ ~ /e)/              /-a-/ ~ /ã/                                  /-a-/ ~ /ã/

Sing.

1ª                                             leveà /Èl«vi/      “mova”à/ Èmova/    “fira”à /Èfira/

2ª                                             levesà /l«viS/    “movas”à/‘movaS/   “firas”à /firaS/

3ª                                             leveà /Èl«vi/      “mova”à/Èmova/     “fira”à /Èfira/

pl.

3ª                                             “levem”à /Èl« ve~j / “movam”à/Èmovãw/   “firam”à /Èfirãw/

Derivação da 2a. pess. sing. , do pres. ind.:

2ª pess. sing. do imperat. afirmat. menos /S/ (morfema modo/temporal = zero)

                                                 “levaà /Èl«va/     “move”à /Èmvi/   “fere”à /Èf«ri/

______________________________________________________________________

Observe que a vogal temática, na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo, foi assimilada na superfície pela desinência de pessoa e número, mas continua tendo seus efeitos sobre a última vogal do radical, que recebe o acento de intensidade em todas as pessoas do singular e terceira do plural, as formas rizotônicas..

Sendo assim, se o radical contiver, no infinitivo, como última vogal uma [-alt, -bx], isto é, /e/ ou /o/, redundará na 1ª pess. sing. na aplicação da harmonia vocálica: na 1ª conjug. tornam-se [+bx], ou seja, /«/ ou /¿/, salvo se depois delas ocorrer uma consoante [+nas], /m/, /n/, /µ/, como emeu tomo”, “eu abono”, “eu empenho”; na 2ª conjug., as vogais /e/ ou /o/ do radical permanecem idênticas e na 3a conjug. assimilam o traço [+alt], ou seja, tornam-se /i/ ou /u/ (vide exemplos, na Tabela 3).

Antes de uma consoante [-ant, +cor], isto é, /§/ ou /½/ (contexto produtivo apenas na 1ª conjug.), a harmonia vocálica dependerá do radical nominal do qual o radical verbal é cognato, isto é, se o radical nominal contiver uma vogal [+bx], ou seja, /«/ ou /¿/, ou [- alt, -bx], isto é, /e/ ou /o/, ela se mantém na 1ª pess. sing. do pres. do ind. e seus derivados, como emeu flecho” à /ew Èfl«§u/ e “eu arrocho à /ew aÈRo§u/. Nos verbos da 1ª conjug., antes de uma consoante [-ant, +lat], isto é, /ñ/, não aplica a harmonia vocálica, segundo a norma de prestígio, como emeu espelho à /ew iSÈpeñu/, embora a tendência atual, na fala coloquial, seja na direção da aplicação da regra geral, baixando a vogal.

Na segunda pessoa do singular e terceiras pessoas, reaparece a vogal temática átona e aplica uma regra morfológica: em todas as conjugações as vogais [-alt, -bx], isto é, /e/ ou /o/, na última sílaba do radical, se tornam [+bx] (consultem-se os exemplos na Tabela 3), salvo se elas forem nasalizadas ou ocorrerem antes de consoante nasal /m/, /n/ ou /ø/, como emtu empenhas”, “ele come”, “eles fremem”, embora na 3a. conjug. sejam raras as ocorrências, sendo alguns verbos defectivos. Aplica-se a outra restrição examinada em relação à 1a. pess. sing. (contexto com a consoante [-ant, +cor], isto é, /§/ ou /½/, produtivo apenas na 1ª conjug.). Observe que, na terceira pessoa do plural, a letra “m” marca a desinência e a nasalização da vogal temática: ambas passam a ser lidas como um ditongo nasalizado. A letra “e” assinala na 2ª e 3ª pess. sing. a neutralização da vogal temática átona, na maioria das variedades sociolingüísticas, na 2ª e 3ª conjugações, lendo-se, então, como /i/ átono.

Como o pres. do subj. bem como o imperat. (exceto as 2ªs pess. do imperativo afirmativo) derivam da 1a. pess. do sing. do pres. do ind. e a 2a. pess. do sing. do imp. afirmat. deriva da 2a. pess. do sing. do pres. do ind., preservam os efeitos acima descritos.

 

Princípios aplicados à escrita

Em primeiro lugar, deveremos partir do pressuposto de que escrever é mais complexo do que ler, conforme verificaremos nesta abordagem.

Partamos do primeiro momento em que o redator, movido por intenções pragmáticas quaisquer, se resolva a escrever, selecionando esquemas mentais e registros lingüísticos adequados a seus propósitos: há uma fase de planejamento que precede a linearização lingüística, com inserção de itens lexicais nas casas dos constituintes e respectivos comandos manuais, dependendo do suporte empregado para escrever. Apesar de estar se monitorando pari passu, o bom redator não encerra o seu trabalho sem uma revisão.

Neste momento, nos deteremos mais minuciosamente nos princípios que comandam a escolha dos grafemas, realizados por uma ou mais letras, depois de selecionada a inserção do item lexical na frase. Trata-se, aqui, de um processo inverso ao examinado anteriormente, uma vez que a realização dos fonemas deve ser convertida em grafemas, ou seja, devem ser codificados (C). É necessário, porém, enfatizar, que o processo de conversão se dá a partir da variedade sociolingüística internalizada durante a aquisição. Sendo assim, a formalização que damos a seguir, por razões de economia da notação, foi feita com base numa das possíveis sistematizações da fonologia do português.

APLICAÇÃO: Convém reiterar ao professor que não consideramos a codificação nem o único processo, nem o mais importante da escrita. A especificação nesta obra decorre de uma necessidade de aprofundamento da matéria, com vistas a fundamentar o magistério para posterior planejamento de suas atividades didáticas.

O professor deverá estar atento, ainda, à variedade de seu aluno, particularmente no que diz respeito à morfologia verbal: a distância entre o oral e o escrito será muitas vezes muito grande, cabendo explicações específicas, uma vez que a regra não detalha todas as realizações possíveis. Lembre que, embora o sistema escrito seja um para todo o território brasileiro, a diversidade impera na fala.

 

C1: Regras independentes do contexto

Estão aqui implícitas as variantes alofônicas determinadas pelo contexto fonético, não percebidas conscientemente pelo redator:

/p/ à “p”, /b/ à “b”, /t/ à “t”, /d/ à “d”, /f/ à “f”, /v/ à “v”, /m/ à “m”, /n/ à “n”, /µ/à “nh”, /ñ/à “lh”. Exs.: /Èpatu/ àpato”; /Èboña/ àbolha”; /Èdona/ àdona”; /Èfavu/ àfavo”; /Èmiµa/ àminha”.

 

Ditongos abertos:

                               /«j/                             “éi”

       /¿j/          à               “ói”

Exs.: /iÈd«j a / à  “idéia”; /d¿j/ à  “dói”.

 


 

C2: Regras dependentes do contexto fonético

C2.4: Fonema /s/

 

 


 

                                                                                             /V       [+post]/

                              “s”                # __        / V~~~

                                                                /SV

                                                             

             /s/ à        “c”       /       /j/+__         /V       [-post]/

                                                                 / V~~~

 

 


 

                               “ç”                /j/+__         /V       [+post]/  

                                                                 /

Pela regra C2.4, a realização do fonema /s/ em início de vocábulo, seguido de uma vogal posterior, oral ou nasalizada, ou seja, /u/, /o/, /¿/, /a/, /u~/, /õ/, /ã/ se transcreve “s”, conforme os exs. /Èsubu/ à “subo”, /Èsoma/ àsoma”, /Ès¿la/ àsola”, /Èsala/ àsala”, /Èsu~ga/ àsunga”, /Èsõsu/ àsonso”, /Èsãta/ àsanta”; o hiato que começa com a vogal átona [+post, +alta] pode ser pronunciado como ditongo crescente: neste caso, a regra também contempla este contexto: /suÈavi/ ~ /Èswavi/ àsuave”. Se a realização do fonema /s/ figurar em início de sílaba entre a semivogal /j/ e uma vogal não posterior, isto é, /i/, /e/, /«/, /i~/, /e~/, se grafa “c”, conforme /Èfojsi/ àfoice”, /kõjÈsidi/ à “coincide”, /kojÈseju/ à “coiceio”, /deSÈbejse~j/ à “desbeicem”; caso a realização do fonema /s/ figurar em início de sílaba entre a semivogal /j/ e uma vogal posterior, com exceção de /¿/, que não ocorre neste contexto, isto é, /u/, /o/, /a/, /õ/, /ã/, se grafa “ç” como em /Èojsu/ à “oiço”, /deSbejÈsow/ à “desbeiçou”, /li~Ègwisa/ àlingüiça”, /fejÈsãw/ àfeição”, /feiÈsõjs/ àfeições” . Forma marcada: /giÈnejsi/ à “gneisse”.

 

VOGAIS

Pré-requisito: o acento de intensidade poderá ser grafado com acento agudo ou circunflexo, obedecendo a condicionamentos, conforme se verificará nos exemplos das respectivas regras. Conforme explicado, o critério foi o de contemplar o mínimo de vocábulos, de acordo com a freqüência e/ou, obviamente, quando não têm intensidade, portanto, os vocábulos terminados pelas letras “e”, “o” e “a” seguidas ou não de “s” e os vocábulos átonos (clíticos) não recebem acento gráfico.

 

ALTERNATIVAS COMPETITIVAS

C3 Alternativas competitivas

Quando houver alternativas competitivas para o mesmo contexto fonético, é necessário selecionar no léxico mental ortográfico o item que emparelhe semântica e morfossintaticamente com a forma fonológica. Na atualidade, as alternativas competitivas constituem a grande dificuldade ortográfica, pois o corretor nos programas de computador não não assinala o erro, uma vez que as grafias são possíveis, quanto não pode resolver as dúvidas, se as palavras pertencerem à mesma classe sintática. Alguns corretores são programados para resolver a incompatibilidade entre a grafia e o contexto gramatical, como, p. ex., a ambigüidade dos homófonostrás”, conformepor trás de” e o verbo “traz”. No entanto, quando a diferença for unicamente semântica, são necessários conhecimentos metalingüísticos sobre o significado, como é o caso, p. ex., entreemigrante” e “imigrante”. Veremos, no entanto, que as dúvidas ficam bastante reduzidas, bem como a necessidade de sobrecarregar a memória do léxico ortográfico, com o ensino inteligente da morfologia, particularmente no que se refere à derivação, conforme veremos no item C5.

 

C3.3.1 Fonema /s/ em início de vocábulo

                           “s”                           /V/                       

                                                     /V~/           [-post]

           /s/ à       “c”     /# __        /SV/

A realização do fonema /s/ em início de vocábulo antes de vogal oral ou nasalizada não posterior, ou seja, /i/, /e/, /«/, /i~/, /e~/, ou antes da semivogal /j/ pode se reescrever ou com o grafema “s” ou “c”.

Exs. de C3.3.1: /Èsigla/ àsigla” e /Èsiklu/ àciclo”, /ÈseSta/ à sexta” e “cesta”, /Ès«di/ àsede” e /Èeli Ès«di/ àele cede”, /Èew Èsi~tu/ àeu sinto” e /Èsi~tu/ àcinto”, /Èew Èse~tu/ àeu sento” e /Èse~tu/ àcento”, /sjaÈmeS/àsiamês” e /Èsjanu/ ~ /Èsianu/ à “ciano”.

 

C3.3.7 Fonema /s/ em início de sílaba, depois dos arquifonemas R e W antes de vogal [+post]

“s”           R              / V/

/s/ à     “ç”   /    W      +__ /V~/[-alt], [+bx]~ [+post]

Pela regra C3.3.7, a realização do fonema /s/ em início de sílaba, entre os arquifonemas R ou W e vogal oral posterior ou nasalizada posterior que não a [+alt], isto é, /u/, /o/, /o~/, /¿/, /a/ e /ã/, pode se reescrever tanto por “s” quanto por “ç’.

Exs. da regra 3.3.7: /uRsu/  àurso” e   /ÈtoRsu/ à “torço”; /veRÈsow/ à “versou” e /foRÈsow/ à “forçou”; /peRÈs¿wvi/ à “persolve” e /teRÈs¿w/ àterçol”; /ÈfaRsa/ àfarsa” e /ÈtoRsa/ à “torça”; /veRÈsõjS/ àversões” e /toRÈsõjS/ àtorções”; /Èv«Rsãw/ à “versam” e /Èf¿Rsãw/ à “forçam”; /ÈvaWsu/ à “valso” e /ÈkaWsu/ àcalço”; /vaWÈsow/ à “valsou” e  /kaWÈsow/ à “calçou”; /kõpuÈs¿rja/ ~ /kõpuÈs¿ria/ àcompulsória”e /kaWÈs¿la/ à “calçola”; /vaWsa/ àvalsa” e /ÈkaWsa/ àcalça”; /boWÈsõjS/ àbolsões” e /kaWÈsõjS/ àcalções”; /vaWsãw/ à “valsam” e /ÈkaWsãw/à “calçam.     

 

C4 Dependentes da morfossintaxe e do contexto fonético

C4.1 Paroxítonos terminados em /ãw/:

/ÈV/    à   “”   / [/È(C2)__(C) + C2ãw/ () #, -verbo]

                  “v@

     /ãw/ à “ão”  /  [ /È(C2)V(C) + C2__/() #  -verbo]

                  “am”        [/È(C2)V(C) + C2__/ +verbo]

Pela regra C4.1, os vocábulos paroxítonos que não forem verbos (raros), se terminados em /ãw/, seguido ou não pelo arquifonema S recebem acento circunflexo, como em /Èbensãw/ àbênção”, ou acento agudo, como em /È¿Rfãw/ àórfão”. Os verbos são grafados sempre com “am”, o que ocorre nas 3ªs pessoas do plural. Os monossílabos tônicos ou oxítonos terminados pelo ditongo /ãw/, quer verbos ou não, grafam-se com “ão”, conforme a regra C2.16.1.

 

C4.9 Mudança de vocábulo átono para tônico

C4.9.1 Em virtude de derivação por conversão ou imprópria

Em virtude do fato de que todo o substantivo, por princípio, é um vocábulo fonológico na língua portuguesa e, portanto, possui uma sílaba de intensidade mais forte, quando um vocábulo átono for substantivado (em geral, usado no discurso metalingüístico, isto é, quando se fala sobre a língua), transforma-se em vocábulo com acento de intensidade, havendo, portanto, uma alteração na prosódia do vocábulo: submete-se, então, às regras de acentuação gráfica examinadas. Os processos de derivação por conversão são morfossintáticos. No caso, utiliza-se, em geral, a determinação e o artigo definido ou indefinido, ou outro determinante, que substantivam o vocábulo, passando a assumir quaisquer das funções sintáticas do substantivo, como nos exs. a seguir: “O quê pode ser pronome relativo, conjunção integrante, explicativa ou integrar outras locuções conjuncionais, pronome interrogativo, preposição e até substantivo!”; “Tinha um certo quê no olhar.”

 

C4.9.2 Em virtude de deslocamento para o final do enunciado

A posição do vocábulo átono (clítico) no português é a proclítica, isto é, antes do vocábulo com intensidade, do qual é dependente fonologicamente, com exceção dos pronomes oblíquos átonos que podem ocupar a posição enclítica e mesoclítica. Sendo assim, quando o clítico é deslocado para o final do enunciado, passa a não dispor de vocábulo seguinte com intensidade onde se apoiar. De átono, passa a vocábulo com intensidade, sujeito às regras de acentuação gráfica , conforme o ex. a seguir: “Queres me dizer por quê?”

 

 

C5.1 Derivação morfológica aplicada à codificação no sistema verbal

C5.1.1 Estrutura do verbo no português

Conforme a lição de J. Mattoso Câmara Jr., é a seguinte a estrutura do verbo no português: R + VT + SMT + SPN em que R é o radical, VT, a vogal temática, SMT, sufixo ou desinência modo-temporal e SPN é o sufixo ou desinência de pessoa e número. P. ex., em /leÈvavaS/ à “levavas”, temos:

/lev-/ = radical

/-a-/ = vogal temática da 1ª conjugação

/-va-/ = sufixo ou desinência do pretérito imperfeito do indicativo

/-S/  = sufixo ou desinência de 2ª pessoa do singular

 

C5.1.1.1 Temas das formas primitivas, tempos derivados e respectivos morfemas modo-temporais

As formas primitivas apresentam desinência modo-temporal zero, com exceção do infinitivo, cuja desinência é /-R/ à “r” e da 3a. pess. pl. do pret. perf. do ind.. A peculiaridade da desinência de pessoa e número acaba acumulando funcionalmente a marca modo-temporal, como é o caso, p. ex., das 1as. pessoas do singular no presente e pretérito perfeito do indicativo, respectivamente /-u/ à “o” e /-j/ à “i” e da 3a . pess. sing. do pret. perf. do ind.

 

C5.1.2 Sistema do presente

O sistema do presente foi exaustivamente analisado na descodificação, no item D3.4.2.1.

TABELA 5. Codificação no sistema do presente

1ª conjugação      2ª conjugação          3ª conjugação

VT                            /-a-/ [+bx]                   /-e-/ [-alt,-bx]                      /-i-/ [+alt]

____________________________________________________________________

Pres. ind. VT                /-a-/ ~ /ã/                /-e-/ ~ /i/ ~ /e)/                      /i/ ~ /e)/

Morfema modo/temporal: 0

sing.

1ª Harmonia vocálica   /Èl«vu/à“levo”            /Èbebu/à“bebo”    /Èfiru/à“firo”

Regra morfológica:[+bx]

2ª                              /Èl«vaS/àlevas”               /Èb«biS/à“bebes”               /Èf«riS/à “feres”

3ª                              /Èl«va/àleva”                   /Èb«bi/à“bebe”          /Èf«ri/à “fere”

pl.

3ª                              /Èl«vãw/à“levam”             /Èb«be~j/à“bebem”             /Èf«re~j/à“ferem”

Derivação da 1a. pess. sing. do pres. ind.:

Pres. subj., imperat. neg. (todo) e afirmat. (menos as 2as. pess.)

Morfema modo/temporal  /-e-/ ~ /i/ ~ /e)/                     /-a-/ ~ /ã/                /-a-/ ~ /ã/

Sing.

1a.                                            /Èl«vi/àleve”                    /Èbeba/à“beba”      Èfira/à“fira”

2a.                            /Èl«viS/àleves”                /ÈbebaS/à“bebas” ÈfiraS/à“firas”

3a.                           /Èl«vi/àleve”     /Èbeba/à“beba”     Èfira/à“fira”

pl.

3a.                           /Èl«ve)j/à“levem”    /Èbebãw/à“bebam” /Èfirãw/à“firam”

Derivação da 2a. pess. sing., do pres. ind.:

2a. pess. sing. do imperat. afirm., menos /S/ (morfema modo/temporal: 0)

                                /Èl«va/àleva”                    /Èb«bi/à“bebe”                     /Èf«ri/à “fere”

_________________________________________________________________

A aprendizagem desta regra resolve uma parte considerável da grafia da realização dos fonemas /e/, /«/ pelo mesmo grafema “e” e /o/, /¿/, pelo mesmo grafema “o”, bem como a respectiva descodificação dos grafemas “e” e “o” na leitura.

C5.1.2 Sistema do Infinitivo: todas as formas são arrizotônicas

TABELA 6. Codificação do sistema do infinitivo

___________________________________________________________________

1ª conjugaçã        2ª conjugação          3ª conjugação

VT                                           /-a-/ [+bx]                   /-e-/ [-alt,-bx]                      /-i-/ [+alt]

___________________________________________________________________

Pres. ind.

Morfema modo-temporal: 0

pl.                          

1a.               /leÈvamuS/à“levamos”/beÈbemuS/à“bebemus” /feÈrimuS/à“ferimos”

2a.           /leÈvejS/à“leveis”                /beÈbejS/à“bebeis”              /feÈriS/à“feris”    

Imp.afirm.

Morfema modo-temporal: 0

pl.

2a.                            /leÈvaj/à“levai”   /beÈbej/à“bebei”   /feÈri/à“feri”

Pret.imp. ind.

Morfema modo-temporal:                /-va-/à“va”   /-ia-/à “ia”      /-ia-/à “ia”

Exs.:           /leÈvava/à“levava”               /beÈbiaS/à“bebias” /feÈriãw/à “feriam”

Fut.do pres.

Morfema modo-temporal:

 /-Èra-/à“ra” ~ /-Ère-/à“re” ~/-Èrã-/à”, para as 3 conjugs.

Fut. do pret.:

Morfema modo-temporal:

/-Èria/ària” ~ /-Èriã/ària”  para as 3 conjugs.

Exs.: /levaÈria/à “levaria”    /bebeÈriejS/à“beberíeis”    /feriÈriãw/à “feririam”.

Formas Nominais

Inf. pess.

Morfema modo-temporal: /-r-/à “r”  para as 3 conjugs.

Exs.:          /leÈvaR/àlevar”    /beÈberiS/àbeberes”     /feÈrire~j /à“ferirem”  

Gerúndio

Morfema modo-temporal:   /du/ à  “ndo”, para as 3 conjugs.. A vogal temática nasaliza.

/leÈvãdu/à “levando”   /beÈbe~du/à“bebendo”   /feÈri~du/à“ferindo”

___________________________________________________________________

Observe as seguintes variantes alomórficas no sistema do infinitivo:

1) No pres. do ind., na 2ª pess. pl. (em desuso), a vogal átona da desinência modo-temporal [+bx, +post,-arr] /a/ torna-se [-bx, -post], antes da semivogal /j/, isto é, /a/ à /e/ /__/jS/, como em /beÈbiejS/à“bebíeis”, /kãÈtavejS/à “cantáveis”.

2)No pret. imperf. do ind. a desinência modo-temporal da 1a. conjug. apresenta os seguintes alomorfes foneticamente condicionados: /-va-/à“va”~ /-ve-//__/-jS/à “ve”~ /-vã-/ /__/-w/à “va”,

ou seja, a desinência modo-temporal /-va-/à“va” apresenta a variante /-ve-/, quando seguida da desinência de pessoa e número da 2ª pess. pl. /-j(S)/à “is” e /-vã-/ à “va”, se for a semivogal nasalizada /-w/ à “m”, que assinala a 3ª pess. pl. Exs.: /leÈvava/à “levava”, /leÈvavejS/ à “leváveis”, /leÈvavãw/à“levavam”.

Na 2ª e 3ª conjs.:  /-ia-/à “ia” ~ /-ie-/à “ie”/__ /-jS/à ~ /-iã-/à”ia”/__/-w/.

Na 2ª conjug., a vogal temática é assimilada pelo /i/ da desinência modo-temporal; na 3ª conjug. ocorre a crase da vogal temática /i/ com o /i/ da desinência modo-temporal.

Exs.: /beÈbiaS/à“bebias”, /feÈria/à “feria”, beÈbiejS / à“bebíeis”, /feÈriãw/à “feriam” .3) No fut. do pres. ocorrem os seguintes alomorfes, para as três conjug.: /-Èra-/à“ra”~ /-Ère-/à“re” /__ /-j(S)/ ou /__+/-m/ ~/-Èrã-/à//__w/, ou seja, a desinência modo-temporal /-ra-/à “ra” apresenta a variante /-re-/à “re”, quando seguida da desinência de pess. e número de 1ª pess. do sing. /-j/, da 2a. pess. do pl. /-jS/ ou da consoante /-m/ que inicia a sílaba da 1ª pess. do pl. e a variante /-Èrã-/à quando seguida da semivogal nasalizada /-w/, com ela formando o ditongo nasalizado que se grafa “ão”. Exs. :/levaÈrej/à “levarei”, /bebeÈraS/à“beberás”, /feriÈrãw/à “ferirão”, /levaÈremuS/à “levaremos”, /bebeÈrejS/ à“bebereis”.

4) No fut.do pret., ocorrem os seguintes alomorfes, para as três conjug.: /-Èria/ària” ~ /-Èrie/à “rie” / /__jS/ ~ /-Èriã-/ària/ /__w/, ou seja, a desinência modo-temporal /-Èria-/ària” apresenta a variante /-Èrie-/à “rie”, quando seguida da desinência de pess. e número de 2ª pess. do pl. /-jS/ e /-Èriã-/ària”, quando seguida da desinência de 3a. pess. pl. /w/ à “m”. Exs.:/levaÈria/à “levaria”, /bebeÈriejS/à“beberíeis”, /feriÈriãw/à “feririam”.

5) No infinitivo pessoal, se observam as seguintes variantes: /-r-/à “r” ~ /-ri-/à “re” // +__/ ~ /-rẽ~-/ à “re” /__j/# para as 3 conjs.)

Exs.:/leÈvaR/àlevar”, /beÈberiS/àbeberes”, /feÈrire~j /à“ferirem”.

6)O morfema do gerúndio vem precedido da vogal temática nasalizada: /du/ à “ndo” //V~__/. Exs.:/leÈvãdu/à “levando” /beÈbe~du/à“bebendo”, /feÈri~du/à“ferindo”.

 

C5.1.3 Sistema do perfeito

Observe que nos verbos regulares o tema do perfeito é idêntico ao do infinitivo e, com alterações apenas na 1a. e 3a. pess. sing. do pret. perf. do de alguns verbos, toda a derivação é regular, mesmo nos verbos mais irregulares.

 

TABELA 7. Codificação do sistema do perfeito

____________________________________________________________________

1ª conjugação           2ª conjugação           3ª conjugação

VT            /-a-/ [+bx]               /-e-/ [-alt,-bx]          /-i-/ [+alt]

____________________________________________________________________

Os morfemas modo-temporais são os mesmos para as três conjugações.

Modo/Tempo          Morfema modo-temporal

Indicativo

Pret. perf.              0

Exs.:       /leÈvaSti/à“levaste”  /beÈbemuS/à “bebemos” /feÈriw/à “feriu”

Pret. m.q.-perf.     /-ra-/à“ra”~ /-re///__jS/à“re”~/-rã-/à“ra”/ /__w/

Exs.:       /leÈvara/à “levara”               /beÈberejS/à “bebêreis”  /feÈrirãw/à “feriram”

Subjuntivo

Pret. imperf /-si-/à “sse” ~ /-se/ //__jS/à“sse” ~/se)//+__/j/#  à “sse”

Exs.:        /leÈvasi/à“levasse”    /beÈbesejS/à“bebêsseis”   /feÈrisi/à “ferisse”

Fut.           /-r-/ à “r” ~ /-ri-// +__  / S/ ~ /-re~-/ /+__/j/# à “re”

Exs. :       /leÈvaR/à levar”    /beÈberiS/àbeberes”   /feÈrirej~/ à “ferirem”

____________________________________________________________________

Observe os alomorfes abaixo no sistema do perfeito:

1) No pret. perf. a vogal temática /a/ anterioriza antes da semivogal /j/ da 1ª pess. sing. e arredonda antes da semivogal /w/, da 3ª pess. sing., isto é, /a/ à /e/ / /__j/ e /a/ à /o/ / /__w/, cf. os exs. /leÈvej/à “levei”, /leÈvow/à “levou”.

A maioria das gramáticas no tópico da derivação verbal dá a 3a. pess. do pl. como a forma primitiva. Preferimos a 2a. pess. do sing. porque a 3a. pess. do pl. acusa excepcionalmente o morfema /-rã-/, descaracterizando a forma como primitiva. A 3a. pess. do sing., forma mais usada do que a 2a., apresenta alomorfias no tema, como é o caso da 1a. conj., em que a vogal temática /a/ se transforma em /o/, por influência da desinência de pessoa /w/, enquanto na 2a. e 3a. conjugações, ocorre assimilação.

2) No m.q.-perf., a desinência /-ra-/ apresenta a variante /-re-/ antes da semivogal /j/ da desinência de 2ª pess. pl. /-jS/ e // antes da semivogal /w/ nasalizada da 3ª pess. pl., grafada como “m”.

3) A desinência /-si-/ de pret.imperf. do subj. apresenta a variante /-se-/, ou seja, uma dissimilação, antes da semivogal /j/, da desinência de 2a pess.pl. /jS/.

4) No fut. simples do subj., a desinência /-r-/, apresenta as variantes /-ri-/ em início de sílaba antes da desinência de 2ª pess. sing. /S/ e /-re~-/ em início de sílaba, antes da semivogal nasalizada /j/, formando com ela um ditongo nasalizado, conforme os exs.: /leÈvaR/à levar”, /beÈberiS/àbeberes”, /feÈrirej~/ à “ferirem”.

 

C5.1.4 Sistema do Particípio

TABELA 8. Codificação do sistema do particípio

____________________________________________________________________

1ª conjugaçã            2ª conjugação          3ª conjugação

VT                                          /-a-/ [+bx]                   /-i-/ [+alt]              /-i-/ [+alt]

____________________________________________________________________

Observe-se a neutralização da oposição da vogal temática na 2ª e 3ª conjugs., em favor de /i/.

Morfema modo-temporal:    /-d- ~ -t- ~ -z-/ à “d” ~“t” ~ “s”

Derivação: não tem

Exs.:        /leÈvadu/à levado”    /beÈbidu/à“bebido”     /feÈridu/à “ferido”

                /ÈpoStu/àposto”, /Èprezu/ àpreso”.

____________________________________________________________________

 

C5.1.5 Codificação das desinências de pessoa e número

Analisaremos primeiro a codificação das desinências de pessoa e número no singular.

TABELA 9. Codificação das desinências de pessoa e número no singular

____________________________________________________________________

Péss.

Sing        1a                                 2a                                 3ª

____________________________________________________________________

0                                  /-S/à “s”                    0

Exs.:        /leÈvava/à“levava”   /beÈbera/à “bebera”  /feÈrisi/à “ferisse”

Exceções

Ind.

Pres.                       /-u/ à “o”

Ex.:                          /Èl«vu/ à “levo”

                                /-Èow ~ -Èo/  àou

Exs.:                       /Èdow/ ~/Èdo/à “dou”

/iSÈtow/ /iSÈto/à “estou”

Pret. perf.   /-j/ à “i”                            /-Sti/ à “ste”          /-w/ à “u”

Exs.:         /leÈvej/ à “levei”                /feÈriSti/à “feriste”              /leÈvow/ à “levou”

Fut. do pres.                          “              “

Ex.:                         /bebeÈrej/ à “beberei”

Imp. afirm.                                           0

Ex.                                                           /Èb«bi/à“bebe”

____________________________________________________________________

Examinaremos a seguir alguns processos morfofonêmicos relacionados às desinências de pessoa/número no singular e suas repercussões funcionais.

1)A peculiaridade das desinências /-u/ à “o” ~ /-Èow ~ -Èo/ àou” e /-j/ à “i” exclusivas, respectivamente, do presente e do pret. perf. do indicativo, que são tempos primitivos, acaba assinalando funcionalmente tais tempos. No fut. do pres. do ind. o /-j/ à “i”, funcionalmente , somente marca a 1a. pess. sing., pois este tempo e modo vêm marcados por morfema específico. Exs.:/ Èl«vu/ à“levo”, /leÈvej/ à “levei” e /bebeÈrej/ à “beberei”.

2) A desinência de 1a. pess. sing. /-j/ (semivogal) afeta a vogal temática /a/ da 1ª conjug. e o /a/ da desinência modo-temporal do fut. do pres. transformando-os em [-alt, -bx], isto é, /-e-/ à “e”, como em /leÈvej/ à “levei” e /bebeÈrej/ à “beberei”. Na 2ª e 3a. conjugs, as vogais temáticas /-e-/ e /i/ são assimiladas pela desinência /-j/ que se transforma em vogal /-i/ à “i”, como em /beÈbe-/ + /-j/à /beÈbi/à “bebi” e /feÈri-/ + /-j/ à /feÈri/ à “feri”.

3) A peculiaridade da desinência, /-Sti/ à “ste”, exclusiva do pret.perf. do ind. acaba assinalando funcionalmente o tempo/modo que, por ser forma primitiva, não apresenta desinência modo-temporal.

4) A semivogal /-w/ afeta a vogal temática /a/ da 1ª conjug. transformando-a em [+post, -alt, -bx], isto é, /-o-/ à “o”, como em /leÈvow/ à “levou”. Como nos casos acima, a peculiaridade da desinência /-w/ à “u”, exclusiva do pret. perf. do ind., acaba assinalando funcionalmente o tempo/modo que, por ser forma primitiva, não apresenta a desinência modo-temporal.

Passaremos a examinar a codificação das desinências de pessoa e número no plural.

TABELA 10. Codificação das desinências de pessoa e número no plural

____________________________________________________________________

Péss.

Pl.           1a.                                2a.                            3ª.

____________________________________________________________________

/-muS/ à “mos”           /-jS/ à “is”              /-w/ à “m” /__/

Exs.:        /feÈrimuS/à“ferimos”                               /leÈvajS/ à“levais”         /Èl«vãw/à“levam”

Exceções

Ind.

Pret. Perf.                             /-StiS/ à “stes”

 Ex.:                                        /feÈriStiS/à “feristes”

Imp. afirm.                            /-j/ à “i” /#/C2V+__/

Ex.:                                              /leÈvaj/ à“levai”

____________________________________________________________________

Analisaremos a seguir alguns condicionamentos fonéticos nas desinências de pessoa e núrmero no plural.

1) Na 2ª pess.pl. a desinência /-jS/ à “is” apresenta um alomorfe /-diS/ //R+__ /, /C2V+__/ à “des” como em /leÈvaRdiS/ à “levardes”, beÈbeRdiS/à“beberdes” e /feÈriRdiS/à “ferirdes”.

2) Uns poucos verbos irregulares da 2ª e 3ª conjugação, cujo radical primitivo é monossílabo, têm a vogal do radical assimilada pela vogal temática tônica e também pedem a desinência /-diS/à “des”, conforme a formalização /-diS/ //#C2V+__/ à “des”. Exs.: /ÈvediS/ à “vedes”, /ÈkrediS/ à “credes”, /ÈidiS/ àides”, /ÈpõdiS/ à “pondes”. Esta regra morfofonêmica se estende à 2a. pess. do pl. do imperat. afirm. /-di/ à “de”, como em /Èsedi/ àsede”, ”, /Èidi/ à “ide”. Aplica-se também aos derivados.

3)A desinência de 3ª pess. pl. apresenta os seguintes alomorfes foneticamente condicionados: /-w/ à “o” //ã__/; /-j/à “m” //e~__/. Exs.: /Èl«vãw/à“levam”, /feriÈrãw/à“ferirão”, /beÈbebere)j/ à “beberem”.

 

C5.1.6 Codificação das desinências de gênero e número no particípio

As desinências de gênero se codificam como /-o-/à “o” e /-a-/à “a”.

Exs.: /leÈvadu/à levado”, /leÈvada/à levada”.

As desinências de número são zero e /-S/ /à “s”, como em /leÈvadu/à levado” e /leÈvaduS/à levados”.

 

SÍMBOLOS

As instruções para a organização do vocabulário ortográfico da língua portuguesa foram estabelecidas no Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua portuguesa, aprovado pela Academia Brasileira de Letras em agosto de 1943, com pequenas alterações em 18 de dezembro de 1971. Endossamos o disposto na “Nota Explicativa” da ABL (1998):

Em virtude de não ter sido ainda cumprido o disposto no artigo 3º do acordo assinado em 12 de outubro de 1990, pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, seguiram-se nesta edição as Instruções para a Organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, aprovadas pela Academia de Letras em sessão de 12 de agosto de 1943, observadas as alterações introduzidas pela Lei no. 5.765, de 18 de dezembro de 1971.

 


 

SÍMBOLOS PARA A INTERPRETAÇÃO DAS REGRAS

# significa limite de palavra; sua ausência à esquerda quer dizer que se admite a anteposição de uma ou mais sílabas.

+ subscrito, significa limite de sílaba.

// ao final da regra significa pausa vazia de limite de enunciado.

/ / (barras paralelas) significam transcrição fonológica.

“ ” as aspas se referem à transcrição canônica.

[ ] (colchetes) incluem o(s) traço(s) fonético(s) relevantes.

[ ] [ ] colchetes em duplicata ou triplicata significam que os símbolos à esquerda se referem somente aos que estão à direita no mesmo alinhamento.

{ } chaves indicam que qualquer dos símbolos nelas contidos pode se combinar com o que estiver à esquerda.

( ) (parênteses) indicam ocorrência ou não.

 à se reescreve.

C2 implica uma ou duas consoantes.

/ no contexto.

... nos demais contextos.

 ___ indica a posição ocupada pelo segmento objeto da regra.

Ècolocado à esquerda do início da sílaba significa sílaba mais intensa.

˘ assinala, para maior clareza, a sílaba átona, em geral sem nenhum diacrítico no presente trabalho. Contudo, as vogais /«/, /¿/, por receberem obrigatoriamente o maior acento de intensidade, também não têm suas sílabas assinaladas por nenhum diacrítico

~ símbolo de alternância, também usado toda a vez que ocorrer a neutralização entre dois fonemas.

? S ? arquifonema utilizado para economia da transcrição, sempre que não prejudique o entendimento da regra. Interprete-se como a neutralização dos fonemas /s/, /z/, /§/, /½/ nos seguintes contextos:

/s/ e /z/; /§/ e /½/ preservam, respectivamente o traço [+voz] ou [-voz] da consoante que os sucede; caso for vogal, preservam o traço [+voz] e, antes de pausa silenciosa //, preservam [-voz]; /s/ e /§/; /z/ e /½/ são mutuamente exclusivos em final de sílaba, conforme a variedade sociolingüística.

 ? R ? arquifonema utilizado para representar a neutralização entre os fonemas /R/ e /r/ em início de vocábulo e final de sílaba interna ou externa.

? W ? arquifonema utilizado para representar a neutralização entre os fonemas /l/ e /w/ em final de sílaba interna ou externa.

[?voz] engloba os traços [+voz] e [-voz] que são respectivamente preservados se emparelharem com o traço da consoante precedente, no caso, as fricativas /s/, /§/, /z/ e /½/.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SCLIAR-CABRAL, Leonor. Princípios do sistema alfabético do português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2003, 263 p.

––––––. Guia Prático de alfabetização, baseado em Princípios do sistema alfabético do português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2003, 255 p.

 


 

[1] Vide interpretação dos símbolos no final.