GIUSEPPE UNGARETTI
E A PALAVRA COMO TRINCHEIRA
Leda Papaleo Ruffo (UFRJ)
Giuseppe Ungaretti, poeta pertencente ao ermetismo italiano, nasceu em 1888 no Egito, faleceu em 1970. “O seu lirismo, angustiado pelo mistério da vida, sente o cansaço e o sofrimento de existir e sonha estar escorregando na escuridão da morte, sem lembranças, sem queixas, sem temores…” (BORMIOLI , 1954)
A Europa vinha apontando no final do século XIX, para a inquietação e a crise que, pouco a pouco, se estabeleciam no mundo.
A dificuldade dos novos líricos, em geral dos literatos, abalava o desempenho das composições. A procura da palavra que dissesse o papel da literatura em um mundo tão obscuro era o grande problema. Principalmente, no início do século XX, a visão do futuro era uma indefinição, ou melhor, uma interrogação. A busca da palavra pura, não poluída, deixava atônitos aqueles, que por sua formação intelectual, se sentiam responsáveis e confusos. Como aplacar o medo que já despontava no povo, com as mudanças…? A angústia na Velha Europa tornava tenebroso o ambiente.
O que fazer? O drama de ser homem era a batalha primeira! A sensação de dores futuras e presentes traziam intranqüilidade.
O século que se iniciava sugeria amargamente a mudança total do momento de inquietação e desvario: as duas guerras mundiais aconteceram com a violência centrada no poder: o totalitarismo. As figuras funestas de Mussolini e Hitler abortaram…
Cabia aos intelectuais da época (1914 - 1918 a Primeira Grande Guerra e 1939 - 1945, a Segunda Grande Guerra) achar o alento a fim de, ao menos, poetar para a humanidade, com a humanidade, e pela humanidade de então. Era a tarefa difícil de se concretizar nos textos produzidos.
Giuseppe Ungaretti foi considerado pelos críticos o criador do ermetismo (de Hermes) pela sua técnica expressiva: versos brevíssimos, às vezes reduzidos a uma só palavra, muitas pausas, entonação marcante, vibrante léxico essencial e aparente (scarno), rápidos movimentos analógicos intensos, sugerindo a aproximação com o irracional. Rápidos movimentos analógicos intensos a fim de sugerir aproximações que beiravam o irracional.
Os simbolistas franceses, Ungaretti, Montale, Quasimodo e outros poetas são chamados poetas erméticos em referência à obscuridade de suas composições. Os poetas de então primavam pela negação da existência, de forma possível. A vida, para eles, era um mal sem explicação eles percebem e se sentem entre a vida cotidiana e a plenitude desejada ardentemente, tão esperada por eles. A frustracão e o sentimento de impotência causa profunda e negativa atmosfera à Itália pelo fascismo, cuja ética centrada na força bruta é violenta, e dá-lhes a certeza de pertencerem a uma geração condenada à inanição e à aridez espirituais.
Por conseqüência, não têm coragem para confiar, nas palavras e nos versos, os grandes ideais, porque vêem, nas palavras apenas um início de consciência alógica e imediata e, também, não conseguem transmitir ao homem, verdades e valores, umas palavras apenas sugerem uma realidade que nem a razão e nem os sentidos, podem colher ou compreender.
Por tudo isso, os erméticos se valem de uma linguagem de caráter intuitivo, emotivo e não racional. Um desempenho lingüístico que traduz imediatamente as revelações do subconsciente, privilegiando os nexos analógicos para estabelecer a relação do “eu ” pensante e as coisas e entre várias coisas...
A poesia Cielo e Mare testemunha a belíssima sinestesia ( visão + tato) “ M’illumino d’ immenso” ainda com o poeta.
Su un oceano
di scampanelli
affiora
repentina
un’ altra
mattina
Havia um perigo na escolha das palavras, os erméticos desejavam usufruir de sua poesia evocativa e sugestiva e assim, observar a chegada a uma lírica que tivesse a finalidade de atingir um centro, cujo papel seria ela mesma: a palavra pura embora obscura. Assim os poetas se isolaram em um espaço fora da história, reduzidos ao individualismo exasperado.
Outros intelectuais aderiram ao ermetismo: Vittorio Sereni, (1913-1983), Afonso Gatto, (1909-1976), Sandro Penna (1906-1907), Mario Lusi Giorgio Caproni que vivem até pouco tempo.
A poesia I fiumi (D’ Alegria 16/08/1916) é um texto caro ao poeta que traça o seu percurso e a sua posição de poeta diante da crise que assola o mundo:os ditadores, as guerras….
Giuseppe Ungaretti, combatente no front, narra a noite que passou junto a um soldado morto:
Veglia 22/12/1915 ( de l’ Allegria )
Un’ intera nottata
buttato vicino
a um compagno
massacrato
volta al plenilunio
con la congestione
delle sue mani
penetrata
nel mio silenzio
Ho scrito parole d’ amore
Non sono mai stato
tanto
attaccato alla vita
(vita d’ um nomu )
Ungaretti reuniu sua poesia em três coletâneas (raccolte): A primeira de nome Allegria dei Naufragi (1919), que trata da vida nas trincheiras: na segunda, de nome Sentimento del tempo (1933), a certeza da solidão, na qual o homem se debate; a terceira coletânea é fruto da dor pela. perda do filho, (1947). As três coletâneas, nascidas de temas diferentes, se aproximam, às vezes, do seu livro Un grido e paesaggi, a morte do filho reaparece como lição de confiança no homem e na vida.
Não seria possível finalizar essa passagem pelo ermetismo sem falar de I fiumi poesia autobiográfica de Giuseppe Ungaretti, na qual ele traça a trajetória de sua vida.
I fiumi
Mi tengo a quest’ albero mutilado
abbandonato in questa dolina
che ha il languore
di un circo
prima o dopo lo spettacolo
e guardo
il passagio quieto
delle nuvole sulla luna
Stamani mi sono disteso
In un’ urna d’acqua
E come una reliquia
ho riposato
L’ lsonzo scorrendo
mi levigava
come un suo sasso
Ho tirato su
le mie quattr’ossa
e me ne sono andato
come un acrobata
sull’acqua
Mi sono accoccolato
Vicino ai miei panni
sudici di guerra
e come un beduino
mi sono chinato a ricevere
il sole
Questo è l’Isonzo
e qui meglio
mi sono riconosciuto
una docile fibra
dell’ universo
Il mio supplizio
è quando
non mi credo
in armonia
Ma quelle occulte
mani
che m’ intridono
mi regalano
la rara
felicitá
Ho ripassato
le epoche
della mia vita
Questi sono
I miei fiumi
Questo è il Serchio
al quale hanno attinto
duemil’ anni forse
di gente mia campagnola
e mio padre e mia madre
Questo è il Nilo
che mi ha visto
nascere e crescere
e ardere d’ inconsapevollezza
nelle estese pianure
Questa è la Senna
e in quel suo torbido
mi sono rimescolato
e mi sono conosciuto
Questi sono i miei fiumi
Contati nell’ Isonzo
Questa è la mia nostalgia
che in ognuno
mi traspare
ora ch’è notte
che la mia vita mi pare
una corolla
di tenebre
Há no resumo as palavras - chave dessa poesia, o que justifica, o termo ermético. A palavra como trincheira é a constante escolhida por Giuseppe Ungaretti e outros pelo termo e consciência da inutilidade de existir. Os poetas procuram na palavra pura, não poluída, o instrumento que lhes possibilita viver sem temores.
L’ aurora, la luce, il sole africano: sono questi, non c’ è alcun dubbio, I grandi temi dell’opera di Ungaretti. Si direbbe che il poeta - dall’ inizio alla fine della sua carriera - non abbia mai avuto che una sola ambizione: stringere nelle proprie mani e nei propi versi qualche impalpabile scheggia di luce. In sede teorica, questa stessa ambizione ha prodotto, come vedremo, una poetica della luce intensa come principio che istituise distanza, misura, e pudore - poetica da cui derivano in ultima analisi molti altri tipici motivi ungarettiani: la sua aspirazione a fondare un “ nuovo classicismo” (1), la sua polemica contro il romanticismo e contro alcune delle esperienze d’ avanguardia che ne sarebbero scaturite ( surrealismo e futurismo, tanto per intendersi), il suo elogio dell’ endecasillabo, le sue costanti preoccupazioni di forma e di stile.
Voltado para os irmãos sofredores ele escreve a poesia.
Fratelli
Di che reggimento siete
fratelli ?
Parola tremante
Nella notte
Foglia appena nata
Nell’aria spasimante
involontaria rivolta
dell’ uomo presente alla sua
fragilitá
Fratelli
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS;
BACHELARD Gaston. A poética do espaço. Tradução Padua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
BORMIOLI, Mario e PELLEGRINETTI. Letture italiane per stranieri. Milão: Mondadori, 1954, vol. 2.
SEGRE , Cesare. Intrecci di voci. Torino: Einaudi, 1922.
VERTECHI Alberto; RONCORDNI Frederico. Ghi Autori e le opere. 1º ed. Milão: Mondadori, 1986.