Introdução
a uma
pedagogia
lingüística
na
escola
Sérgio
Arruda de
Moura (UENF)
Marinete
Sales de Souza (UENF)
Andressa do Amaral
Machado (UENF)
O
campo
da
pedagogia
lingüística
O
presente
texto
toma a
Lingüística e a
Pedagogia
como
matrizes de
ordem
prática e
teórica
para a
montagem de
um
modelo sócio-pedagógico de
orientação do
ensino e
coordenação de
línguas
em
escolas da
rede
pública. Especificamente, a
proposta incorpora a
Lingüística Aplicada
como
campo
prático de
identificação e
solução de
problemas
concernentes ao
ensino de
línguas, ampliando-se esta
categoria aos
usos e variações da
língua na
escola.
Pela
mesma
via, toma-se a
Pedagogia
como “a
reflexão
sobre a
prática
educativa
que se
efetiva
através e
por
meio das diversas
Ciências
Sociais e Humanas, procurando
delimitar o ‘ser’ do
ato
educativo... O
objeto de
conhecimento seria,
então, o
fazer
educativo
em
suas
circunstâncias,
em
suas múltiplas
determinações” (Mazzoti, 1998:15). A
pedagogia
lingüística,
aqui
expressa, salienta a
habilidade e a
necessidade
social da
língua
como
fator
fundamental
para o
desenvolvimento
pleno de
alunos
em
escola – e
cidadãos
usuários da
língua –,
prestes a
ingressar numa
esfera
social e
profissional
cujos
requisitos
imediatos se resumem ao
domínio de uma
língua
com flexibilidade
suficiente
para se
adequar a
contextos
específicos de
uso. A
vertente sociolingüística – na
análise
que faz das
línguas
como
estruturas
que se transformam diacronicamente e se estabelecem
na
sua
variedade
social, cultural e
regional (níveis
diastráticos e diatópicos) – tem no
nosso
projeto de
trabalho
considerável
projeção, uma
vez
que o
que a
Pedagogia apropriou
para a
área
como
conceitos
teóricos
para
justificar
sua
ação,
em
quesitos
tais
como
escola construtora,
pedagogia libertadora, etc, serve
para aproximá-la da
Lingüística
quando
lida
com variação dos
falares, na
perspectiva diatópica e diastrática.
Lingüística e
projetos
pedagógicos têm
projeção
conceitual na
linguagem, esta assumida
como
instituição
social envolvida
com a
construção da
identidade e da
cidadania. No
aspecto
mais
prático,
nosso
trabalho se restringe à
observação da
relevância do
Projeto
Político
Pedagógico das
escolas selecionadas
para
sua
aplicação,
nas
suas
implicações no
cotidiano
escolar e nas
circunstâncias
em
que se demandam mudanças,
especialmente aquelas relacionadas aos
usos
sociais da
língua.
Preocupação nas
escolas e
presença
obrigatória
em
todos os
currículos – do
ensino
fundamental aos
estudos
universitários –, o
ensino de
línguas é
fator
essencial à
capacitação do
aluno
em todas as
demais
disciplinas, incluindo o
desenvolvimento das
aptidões
para a
vida
produtiva.
Trabalhar
nossa
pesquisa no ISEPAM (Instituto
Superior de
Educação
Professor Aldo Muylaert) representa
poder
fazer
ampla
observação
em
diferentes
segmentos
educacionais,
pois esta
unidade
escolar oferece
Educação
Infantil (29
turmas),
Ensino
Fundamental (48
turmas),
Ensino
Médio (28
turmas) e
Ensino
Superior (18
turmas).
Atualmente, o
ISEPAM é a
única
escola
pública, no
município, a
formar
professores
para
atuar na
educação
infantil e nas
quatro primeiras
séries do
ensino
fundamental.
Desde 1955 o
então IEPAM sedia a
antiga
escola
normal, tornando-se,
portanto,
importante
marco na
formação de
professores
em
Campos dos Goytacazes.
Hoje,
com a
implantação do
Normal
Superior,
em atendimento à
exigência da LDB nº 9.394/96, esta
conceituada
escola eleva
sua
formação ao
nível
superior.
Com
aproximadamente 3.500
alunos e 300
professores, o ISEPAM
nos chamou a
atenção
pela
sua
diversidade
lingüística,
pois recebe
alunos e
professores de todas as
partes do
município e da
região,
com
diferentes
históricos de
vida, garantindo
assim
rico
material de
pesquisa e
excelentes possibilidades de
representar
um
quadro
real das
condições de
utilização e
manejo da
língua,
ponto
essencial de
nosso
trabalho.
O
problema detectado diz
respeito,
inicialmente, às
inadequações metodológicas e curriculares dos
programas de
curso
que,
via de
regra, podem
inviabilizar o
desenvolvimento
satisfatório da
habilidade
expressiva do
falante/aluno,
dificultando-lhe a
expressão.
Embora os
problemas
listados a
seguir assumam
forma generalizante,
não observados
diretamente na
escola citada,
tais
problemas, na
vivência
lingüística do
aluno na
relação deste
com os
padrões instituídos de
uso da
língua no
âmbito
escolar,
são
vários, sendo os
mais
críticos:
·
descompasso
entre o
seu
registro
lingüístico e
aquele instituído na
escola
por
força de
vários
mecanismos,
um dos
quais a
gramática ideológica;
·
desenvolvimento
ainda
insatisfatório de
repertório adequado
em
circunstâncias específicas de
uso da
língua,
especialmente,
dentro da
escola no
cumprimento de
tarefas acadêmicas;
·
habilidade
não
desenvolvida de
uso de
padrões de
fala diferenciados
socialmente;
·
intimidação
ideológica
resultante de
censura ao
uso de
dialetos não-padrão,
ou de
baixo
prestígio
social;
O
professor de
comunicação e
expressão
ou
língua
materna vive
um
desafio multifacetado,
que
não
são
obstáculos
diferentes daqueles encontrados
pelos
demais
professores das outras
disciplinas.
Em
geral,
este
professor sente-se
incapaz de:
·
munir-se de
um instrumental
teórico
que possa
embasar
sua
prática;
·
questionar/avaliar
o
material
didático,
entre os
quais a
gramática normativa, adequando-o à
realidade político-cultural e lingüístico-funcional;
·
evitar o
fracasso
escolar
por
meio de
estratégias de valorização do
conhecimento do
aluno e
incorporação instrumental
que respalde
suas
relações
sociais;
·
atualizar-se nas
formulações e reformulações teóricas das
ciências
sociais,
para
que possa
adequar
sua
ação
pedagógica aos
novos
desafios;
·
dominar as
novas
tecnologias de
ensino,
que constituem,
hoje, a
linguagem das transformações
sociais.
Por
que
uma
pedagogia
lingüística?
Nossa
estratégia consiste,
primeiramente,
em
justificar a
necessidade de se
avaliar as
políticas de
ensino de
línguas,
especialmente a
materna, nas
escolas públicas estaduais de
Campos dos Goytacazes,
com
vistas a
respaldar
projetos
futuros de
capacitação
docente.
Para
tanto, uma
visão
mais aproximada da
realidade da
linguagem (na
sua
diversidade,
função e
adequação) deve se
fazer
presente na
ação
administrativa da
escola
para
que
novas
políticas e
diretrizes estejam
permanentemente agindo
entre os
professores no
âmbito das
relações
sociais conduzidas
pela
linguagem, o
que julgamos
fundamental
como
pesquisadores das
áreas de
Educação e
Linguagem. No
que diz
respeito ao
cruzamento Pedagogia-Lingüística, a
ação coordenadora daquela se alia à
prática
teórica desta.
Justifica-se,
ainda, a
nossa
estratégia
por desejarmos
dispor os
grupos pesquisados de
um
aparato
teórico adequado
para encaminhamento de
solução de
problemas
concernentes ao
uso da
língua
como
instituição
social
que é.
Desde os
anos 70, a
Lingüística passou a
compor o
currículo dos
cursos de
Letras, o
que propiciou uma
reflexão
crítica
sobre a
natureza variacional das
línguas
entre os
futuros
professores. A
partir de
então, os
professores passaram a
ter
condições de
orientar
sua
prática
em
sala de
aula
dentro dos
critérios
científicos.
Entretanto, esta
intervenção na
prática
não se efetivou
plenamente
por
conta de
outros
obstáculos
tais
como:
metodologias e
aplicação da
Lingüística
não satisfatórias
nos
livros
didáticos utilizados,
orientação dos
currículos
para atendimento a
exigências de
concurso e
não
para o
uso
social e
funcional da
língua, inculcação da
gramática ideológica.
Estes a
nosso
ver constituem
entraves ao
desenvolvimento da
língua na
sua funcionalidade.
A
orientação
científica dos
estudos de
lingüística,
por
força dos
obstáculos,
não se
encontra
plenamente estabelecida,
razão
pela
qual entendemos
que a
gramática continua sendo o
apoio
fundamental da
orientação dos
programas de
línguas, uma
vez
que se observa
que a
noção
que se
procura
ter de
língua é a de uma
estrutura
estável,
acabada,
disponível de
maneira
uniforme
entre
todos os
falantes. Na
ausência de
um
saber e de uma
prática
compatíveis
com a
Lingüística, o
professor,
freqüentemente, deixa-se
guiar
pelo
senso
comum, da
ordem do ideológico, no
qual a
ilusão de uma
língua
perfeita se estabelece. Entendemos
que
tal
arbítrio justifica o
desenvolvimento de
um
Projeto
como o
que se propõe.
Objetivos
de uma
Pedagogia
Lingüística
O
objetivo
geral de uma
pedagogia
lingüística consiste
em
desenvolver na
escola
condições
que criem no
aluno, no
professor e na
administração da
escola a
liberdade
para o
uso
expressivo e
funcional do
seu
idioma, de
forma a
assumir
sua
cultura
lingüística
onde
quer
que esteja,
sem
embaraços de
ordem ideológica,
como
forma de
instituir o
pleno
domínio da
própria
cidadania. Nestes
termos, o
Projeto se define ao
objetivar
pôr
em
prática
um
saber
desenvolvido
pela
Lingüística,
que contrapõe a
discriminação de
usos
lingüísticos
não
padrão
própria da
Gramática Ideológica (ou
Tradicional) à
liberdade
que devem
ter os
falantes de
dispor de
sua
própria
língua
em
consonância
com
sua
identidade e
herança
Lingüísticas.
Especificamente, objetivamos:
·
fundamentar
linhas de
ação teórico-práticas de uma
pedagogia
lingüística destinada a
orientar o
pedagogo e o
professor a
definir
políticas de
ensino de
línguas no
ensino
fundamental e
secundário;
·
criar
condições
para o
pleno
desenvolvimento da
memória
lingüística do
aluno, compreendida
como
bem de
capital
lingüístico
sem o
qual
não se opera a
compreensão do
mundo;
·
avaliar criticamente o
material
didático (livros)
que se apresenta na
escola e
fazer
circular
crítica e
reflexivamente
material discursivo
que expresse a
diversidade de
usos da
língua;
·
introduzir na
escola,
com
critérios
específicos, a
produção
teórica
em
termos de
técnicas e
metodologias de
ensino
com
base na
ciência
lingüística;
·
capacitar o
professor a
enfrentar,
com a
devida instrumentação, o
fracasso
escolar
em
decorrência da
inadequação do
ensino de
línguas;
·
municiar os
professores
com
instrumentos
teóricos
que possibilitem a auto-reflexão de
sua
ação
pedagógica.
Aplicando a
pedagogia
lingüística
A
metodologia de
trabalho
com
pedagogia
lingüística consiste no
levantamento
inicial das
políticas de
orientação do
ensino de
línguas nas
escolas selecionadas
para
observação,
para
deduzir do
material
observado
um
modelo
que expresse
claramente o
estágio
em
que se
encontra
tal
prática. O
conhecimento e a
análise
minuciosa dos
currículos,
programas e
bibliografia
em
uso nas
escolas,
bem
como a
escuta de
aulas servirão de
baliza
para a
orientação
futura de uma
política
lingüística
que
dê
curso aos
objetivos traçados a
partir da
consecução das
seguintes
atividades:
·
Consulta à
documentação (currículos,
programas,
Projeto
Político
Pedagógico)
para uma
análise
qualitativa
que permita
traçar o
perfil das
escolas relacionadas
para a
pesquisa e,
assim,
esboçar
sua
dinâmica
política e
educacional
concernente ao
ensino de
língua
materna;
·
Proceder a
entrevistas e
aplicação orientada de
questionários
entre
professores e
alunos
que objetivam
identificar o
perfil dos
programas de
língua portuguesa,
bem
como a
atuação de uma
pedagogia
lingüística na
prática de
ensino de
línguas
por
professores;
·
Definir o
universo de
expectativas comunicacionais de
alunos e
professores,
em
um
ambiente tradicionalmente
restritivo no
que diz
respeito a
práticas sociolingüísticas.
Um
estudo
com estas
características e
objetivos tem
como
público
alvo
estudantes e
professores das
áreas de
Pedagogia e
Letras.
Pedagogos
com
habilitação
em
Administração e
Gestão
Escolar,
bem
como
Educação
Infantil (ênfase
ora
em
estágio de
implantação na
graduação de
Ciência da
Educação da UENF), têm na
linguagem
um
campo
vasto de
formação, preponderante
para o
desenvolvimento das
demais
habilidades na
escola. O
Professor de
Letras, ao
lidar
com as
classes de
língua
materna,
principalmente, desenvolve, obrigatoriamente,
outros
aspectos envolvidos
com a
construção da
cidadania,
quando operam o
respeito
que se deve
ter
para
com as
variedades
lingüísticas.
Aqui,
ele vai
encarar a
norma
culta
padrão
como uma
variante
dialetal
urbana (caracterizada
como de
bastante
prestígio), ao
lado da
qual subsistem todas as
demais
variantes. Estas constituem
parte
fundamental da
riqueza lingüístico-cultural
inerente a todas as
línguas e das
quais
não podemos
abrir
mão. A
abordagem da
linguagem no
seu
campo
científico
específico – i. é., na
Lingüística – repercute
em
considerações de
aplicações
sociais, culturais,
políticas e cognitivas amplas
quando operadas
pelo
pedagogo e
pelo
professor de
línguas,
quais sejam:
·
a
linguagem é
um
bem
capital e cultural,
vetor de
identidades e de
relações
sociais;
·
ao
ser encarada
como
um
meio, e
não
como
um
fim
em
si
mesma, a
linguagem potencializa o
desenvolvimento de
aptidões cognitivas amplas;
·
a
linguagem é o
fator preponderante de
determinantes histórico-ideológicas e de
interação
contextual;
·
a
linguagem é
um
fator de afirmação
regional (diatópica) e cultural,
tanto
coletiva
quanto
individual (diastráticas).
Professores e
alunos de
Letras e
Pedagogia têm
como
horizonte de
expectativas
conjunturais e
teóricas as
ciências da
linguagem
nos
avanços
operados
até
hoje,
desde
quando,
nos
anos 60, a
herança
estruturalista reorientou os
estudos
lingüísticos
na
perspectiva
social,
inserindo
em
seus
programas
disciplinas
tais
como
Lingüística
Textual,
Sociolingüística,
Análise do
Discurso,
além da
Lingüística propriamente
dita.
Assim,
operacionalmente,
este
projeto
visa à
implantação de
Projetos de
capacitação
em
escolas
como
forma de
fazer da
linguagem
um
fórum
permanente de
discussão
social
pela
via de uma
pedagógica
lingüística.
O
conhecimento
crítico
da
língua
nas
escolas
Nosso
primeiro
empenho de
pesquisa se
efetiva numa consulta
formal a
um
universo de informantes constituído de 61
professores do
já citado ISEPAM,
assim distribuídos: 15 atuam no
nível
Superior; 13, no
Ensino
Médio, e 33, no
Ensino
Fundamental. Os
docentes
que atuam na
Educação
Infantil
não foram
ouvidos nesta
primeira
parte da
pesquisa,
por
ainda
não
termos
definido
estratégias metodológicas
mais específicas. O
questionário (ver
Anexo) foi formatado
em
programa Excel
com as
respostas obtidas,
em
números
inteiros e
percentuais,
por
grupo de informante e na
soma
total. A
soma dos
percentuais ultrapassa 100%
por
ter sido
permitido
assinalar
livremente
mais de uma
resposta às
questão. A
seguir, trataremos os
dados usando os
percentuais
gerais.
Do
universo de 61
professores, depreendemos
um
quadro
um
tanto
quanto
homogêneo
sobre o
que constitui
um
saber e uma
reflexão
crítica
sobre a
língua
com
respeito a
sua
função
social,
ou seja,
como
meio
para a
expressão
individual e
entre
grupos, e
não
como
um
fim
em
si
mesma.
Contudo, subsistem
certas
particularidades
com
relação à
observância da
norma e,
principalmente,
quanto à
estratégia de
solução de
certos “vícios”
presentes na
fala de
alunos. Convivendo
com
alunos de variadas
procedências sócio-econômicas e culturais, os
professores, de uma
forma
geral, desejam
unificar o
uso da
língua,
que significa
desempenhar o
dialeto
padrão, trabalhando
sempre
com a
perspectiva de
que uma
língua
culta, unificada, constitui o
grande
objetivo da
aula de
português.
Em
mais de uma
circunstância, os
professores
não entendem
que esta
estratégia tende a
alienar o
aluno de
sua
identidade
lingüística
própria
em
construção,
língua esta
que se
encontra
tanto
sob a
influência de
universos infantis (ou
infanto-juvenis) –
que os atestam
como desconhecedores de
práticas
lingüísticas
sociais
mais amplas –,
quanto de
sua
realidade sócio-cultural.
A
norma,
contudo, é a
grande
fonte de
questões relativas aos
sentidos produzidos
tanto
em
sala de
aula
por
professores e
alunos,
quanto no
senso
comum
externo à
escola. A
verdade é
que a variação da
norma
lingüística
entre
grupos é definidora de
mais de uma
característica sócio-cultural do
indivíduo.
Em
geral, a
palavra
norma está
ligada
apenas à
norma documentada
pela
gramática.
Assim, o
termo acaba rotulando a
tradição de
correção e
esmero do
bem
falar
que deve
ser
próprio das
classes escolarizadas.
Contudo,
entre os
professores
ouvidos,
apenas 20% (questão 8) entendem
que
usar a
língua de
acordo
com as
normas
gramaticais
em
vigor corresponde a
falar
corretamente uma
língua. Na
mesma
questão, 70% das
respostas relacionam a
eficiência à
clareza,
em
detrimento da
norma. A
estratégia de
professores fica
evidente na
questão 12,
onde 49% das
respostas privilegiam o
domínio da
norma
como
algo
que produz o
desenvolvimento de uma
metodologia de
expressão de
idéias
bem colocadas possibilitando uma
interlocução
culta e
agradável.
Pela
mesma
via, constitui
questão
relevante o
fato de 61% das
respostas, na
mesma
questão, indicarem
que uma
excessiva
preocupação
com os
elementos
gramaticais impede a fluência das
idéias.
Porém,
expressivos 49% acham
que o
domínio da
gramática normativa desenvolve uma
metodologia de
expressão de
idéias
bem colocadas possibilitando uma
interlocução
culta e
agradável.
Do
outro
lado da
expectativa dos
alunos, situam-se
professores,
encarregados de promoverem
com
sucesso, a mobilização
lingüística e
social almejada
pela
escola e
pelos
seus
programas. O
conhecimento da
língua na
sua
natureza é
imprescindível
para
que esta
operação
não seja frustrada na
raiz,
por
conta
mesmo da
inclinação
já
natural de
facultar à
língua
poderes de
que
ela
não é
capaz, de
por
si
poder
providenciar a mobilização
social. O
conhecimento
puro e
simples de uma
língua
não habilita
socialmente o
seu
falante.
Não é de
admirar
que a
língua/dialeto
padrão tenha
apenas
relativo
prestígio
social (52%), ao
invés de
bastante
prestígio
social (28%), de
acordo
com a
questão
2. A
língua, neste
caso, deve
ser encarada
como
um
instrumento
auxiliar de
desempenhos
sociais, e integrador de
sua
identidade na
medida
em
que
seu
universo cultural e
individual é habitado
por
experiências
em
que a
linguagem tem
papel preponderante.
Depreender
que
todos possuem
sua
própria
individualidade e
que a
diversidade
só existe na
unidade é
um
passo
essencial.
Entre os
professores
ouvidos, 79% deles (questão
1) acham
que a
unidade
lingüística é
um
mito e
que o
português é diversificado
porque
também entendem
que “o
dinamismo
histórico
trata de
incorporar à
língua
particularidades culturais de
seu
povo”. Desta
forma, 95% (questão 4) dos entrevistados
consideram o
português
brasileiro,
simplesmente,
diferente do
português de Portugal.
Dada
como
função preponderante, a
coerência é uma das reivindicações clássicas
tanto de
professores
quanto de
livros
didáticos. A
bibliografia a
esse
respeito é
ampla, podendo
ser mencionado o
já
clássico A
coerência
textual, de Ingedore Villaça Koch e Luiz
Carlos Travaglia (ver
Bibliografia). A
matéria é
amplamente discutida
além do
âmbito da
gramática tradicional
por
importantes
nomes da
pesquisa
lingüística,
entre
eles Luiz Antônio Marcuschi.
Entre os
professores abordados, 98% acreditam
que
saber a
língua portuguesa significa expressar-se
com
coerência e
clareza
através da
fala e da
escrita (questão 5).
Embora esta
resposta seja
óbvia e
não reste a
menor
dúvida
sobre a
coerência
como
conceito
operante
fundamental na
fala,
entre as
respostas
alternativas apontadas consta
também o
zelo
pela
capacidade de
escrever e
falar obedecendo às
normas
gramaticais,
com 20% de
incidência. A
coerência, sabe-se,
não depende
sobremaneira da
correção
gramatical. É
possível
um
texto “correto” e
criativo a
revelia das
normas.
Portanto, a
escola esmera-se nesta
capacidade
muito
mais
em
função dos
seus
programas e do
seu
próprio
universo do
que
em
função da
expressão
lingüística
sem
controles institucionais.
Entre os
professores,
isto se esclarece da
seguinte
forma:
embora desenvolvam esta
aptidão no
aluno, 30% deles acreditam
que,
independentemente de o
indivíduo
ter freqüentado
aulas de
português,
seu
discurso pode
ser
sempre
coerente (questão 11).
Quanto ao
campo ideológico das
gramáticas normativas,
onde se travam as
lutas
entre o “certo” e o
“errado” no
que concerne ao “bom”
uso da
língua, 82% dos
professores consultados têm a
seguinte
noção de
língua
como
instituição
que se define
em
detrimento da
fragmentação
social: as
pessoas
sem
instrução
escolar falam de
acordo
com
seu
status sócio-cultural (questão
7). Esta
resposta se
complementa
com uma
noção, situada na
ordem do
senso
comum,
segundo a
qual
todos os
falantes de uma
língua têm o
seu
próprio
linguajar (38%). Uma
resposta é
coerente
com a
outra,
embora se situem
em
patamares
teóricos
distintos.
Não
ter
conhecimento da
gramática (33%)
não constitui
impedimento,
portanto, a uma
prática de
linguagem condizente
com
seu
status sócio-cultural.
Contudo, o
conhecimento da
gramática normativa traz uma funcionalidade
lingüística, na
concepção dos
professores: 70% das
respostas dadas na
questão 11 fazem-nos
crer
que o
indivíduo escolarizado amplia
seus
horizontes
comunicativos,
pois domina
maior
quantidade de
instrumentos
verbais,
mas
não
chega a
ser
determinante na
construção da
fala do
indivíduo (13%).
No
que diz
respeito à
língua
em
si,
um
mito alardeado
por
brasileiros,
especialmente
aqueles de
quem
são exigidos
mais de uma
modalidade normativa, os
professores consultados acham
que (questão 6) o
português é
muito
difícil (70%),
embora
não concordem
que
só
em Portugal se
fala
bem
português. A
incidência de
respostas
livres de 87% dá a
noção de
que,
quando uma
nação adota uma
língua, o faz num
determinado
momento; a
partir daí, o
dinamismo
histórico
trata de
incorporar à
língua
particularidades culturais de
seu
povo.
Estas
são
conclusões
parciais a
que chegamos,
fruto da
análise de
respostas a
um
questionário fechado de
respostas
para uma
pesquisa
quantitativa. As
respostas
abertas
serão tratadas
posteriormente. O
que temos
aqui é
um
primeiro
levantamento de
dados
que
vão
possibilitar a
incursão desejada no
universo de
professores
com os
objetivos
definidos.
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Este
artigo
traz
resultados
parciais
da
pesquisa
intitulada
Políticas
Lingüísticas
em
Escolas
da
Rede
Pública,
coordenada
por
Sérgio
Arruda
de
Moura,
Professor
Associado
III na
Universidade
Estadual do
Norte
Fluminense
Darcy
Ribeiro
– UENF.