UMBERTO
ECO –
ESCRITOR E
PESQUISADOR
Carmem Praxedes (UERJ)
Quando
o
escritor
(ou
o
artista
em
geral)
diz
que
trabalhou
sem
pensar nas
regras
do
processo,
quer
dizer
apenas
que
trabalhava
sem
saber
que
conhecia a
regra.
(ECO,
1985: 14)
O
conhecimento
humano é,
sem
dúvida, cumulativo. O
homem e o
cientista,
que é
um
homem
com
espírito de
criança
em
busca da
resposta
para os
diversos
porquês, fazem
uso no
seu
cotidiano do
saber
que se consolidou no
decorrer dos
séculos, tendo,
atualmente, a
compreensão da
inexistência de
verdades absolutas.
Constroem-se a
sabedoria
humana,
átomo
sobre
átomo, “littera”
sobre “littera”.
Porquanto,
não será o
escritor
ou o filósofo e/ou
teórico da
literatura
que alicerçarão
suas
obras
sobre o
nada,
pois,
nem a
folha de
papel
em
branco é
inexpressiva,
que
nos diga FIELDING e
MACHADO.
O
escritor
contemporâneo é
um
homem
consciente de
seu
ofício e
procura “alimentar-se”,
através da
investigação,
para
propiciar ao ficcional a
verossimilhança
necessária.
Isto,
contudo,
não significa
submeter a
Literatura à
Ciência, retirando-lhe a
beleza
inventiva,
nem
que o
escritor faça da
ficção
um
relatório de
suas
experiências.
Todavia,
enquanto
pessoa imbuída
por
um
objetivo
específico,
sem
dotes
supremos,
ele é
apenas
um
homem
hábil na
expressão,
que faz
uso dos
documentos
que dispõe e
que julga adequados
para
dar
lastro ao ficcional,
tais
documentos
são
selecionados
por
si, tendo
em
vista
presentear os
leitores
com
mais uma
obra ficcional.
Outra
forma de
dar
lastro ao ficcional está na
técnica de
construção da
narrativa
que irá
estabelecer a
verossimilhança
interna.
Por
exemplo,
Machado de Assis dá
lastro às
Memórias póstumas de Brás
Cuba,
quando faz o narrador
apresentar o
seu
personagem
principal
como
autor –
defunto,
assim tornou
verossímil a
narrativa
incomum
em “flash back” “post-mortem”.
Desta
forma,
ele estabeleceu
um
realismo
interno ao
romance,
que
não
precisa
ter
relação
com as
realidades do
mundo dos
homens,
pois,
para os
personagens,
depois da
criação do
seu
mundo,
tudo é
possível.
Se a
vida é uma
busca de
identidades, busca-se
também no ficcional identificar-se na
qualidade de
leitor e na
qualidade de
autor,
teórico, filósofo,
porque
nós procuramos as
idéias
que
nos parecem
mais consonantes
com os
nossos
pensamentos e
visão de
mundo.
Teóricos, filósofos, ficcionistas e
poetas,
que possuem a
prática de
expressar as
suas
idéias
críticas
através de
seus
personagens
ou
sujeitos – poéticos, há
bons
exemplos: Fernando
Pessoa, Ítalo Calvino, Silviano Santiago e Umberto
Eco,
entre
outros. Notem
que esta
postura
não é uma
característica
específica de uma
cultura
literária,
determinada
pela
cultura de
um
país, poderá
ser
talvez uma
maneira de se
relacionar
com a
Literatura.
É tendo
em
vista esta
relação
com o ficcional,
que
expressa uma
forte
consciência
crítica de
mundo e
necessidade de
constatação de uma
série de
idéias e
valores
intrínsecos às
culturas e,
principalmente, a uma
cultura
literária,
que procuraremos
identificar na
obra ficcional de Umberto
Eco
traços de
seu
pensamento
crítico às
Letras e as
implicações deste
pensamento
manifesto na
construção da
estética ficcional,
não perdendo de
vista a
relação
entre o
documento
teórico e a
técnica de
produção de
sua
obra,
ou seja, constrói-se uma
obra ficcional
com
determinados
instrumentos –
aquele
saber
prévio
que o
homem tem
sobre
si e
sobre as
coisas do
mundo
que é
selecionado
por
ser considerado adotável
para
agir no
imaginário do
leitor
como
incentivo a uma
determinada
compreensão de
mundo. Neste
caso, o
escritor será,
muita
vez, o
seu
primeiro
leitor
ideal,
mas
não o
leitor –
objeto do
seu
fazer narrativo. E podemos
notar
isto a
partir da
leitura da
obra
teórica de
ECO.
Pós-escrito a O
nome da
rosa – “nulla
rosa est”
“(..) a
linguagem pode
falar
tanto das
coisas desaparecidas
quanto das
inexistentes”. (Idem,
p. 7)
A
linguagem
expressa e faz o
homem se
expressar. É
fascista
quando obriga a
dizer (BARTHES: 1989), é
anarquista (pois, é
mais do
que
democrática,
porque rompe
com os
poderes)
quando permite a
cada
um
compreensão de
suas
expressões de
sentido.
Em O nome da rosa em “per finire”
afirma-se, após ter sido contada a história: “Morale: esistono idee ossessive,
non sono mai personali: i libri si parlano tra loro, e una vera indagine
poliziesca deve provare che i colpevoli siamo noi”. (ECO,
1989: 533)
tal assertiva vem
corroborar a
citação
inicial,
ou seja, a
linguagem
literária estabelece o
seu
próprio
mundo,
fundamentado
em
premissas próprias.
ECO constrói
narrativas
em
que demonstra
ter
ele e o
seu narrador
consciência e
onisciência plenas do elaborado.
Ele sabe,
também,
teorizar
sobre o
fazer
literário, sendo
teórico, semiólogo,
enfim,
um
estudioso dos
signos, da
linguagem e da
literatura.
Em
Pós-escrito a O
nome da
rosa,
ECO (1985) demonstra-se,
além disto
tudo,
um apaixonado
pesquisador, colocando-se a
contar o
processo,
como
ele
mesmo afirma, de
criação de O
nome da
rosa. E demonstra,
como
poucos,
saber
expor o
quanto
tinha
consciência do
método
que iria
adotar
para
elaborar
um
romance
histórico,
sem
perder de
vista a
importância de
deixar
um
leque de
interpretações
possíveis
aberto ao
leitor.
Para
ECO, as
regras do
processo de
criação estão
diretamente relacionadas
com o
fazer narrativo,
mas a
consciência de
conhecer as
regras é
aquilo
que
nem
todos os
escritores têm.
Quando o
escritor (ou
o
artista
em
geral) diz
que trabalhou
sem
pensar nas
regras do
processo,
quer
dizer
apenas
que trabalhava
sem
saber
que conhecia a
regra. Uma
criança
fala
muito
bem a
língua
materna,
mas
não saberia
escrever a
sua
respectiva
gramática.
Mas o
gramático
não é o
único
que conhece as
regras da
língua,
porque estas,
sem
saber, a
criança
conhece
muito
bem: o
gramático é
apenas
aquele
que sabe
como e
por
que a
criança
conhece a
língua. (ECO,
1985:14)
Ou
com
um
conhecimento adquirido
antes da
elaboração da
obra,
ou
com
um
conhecimento acumulado
para
escrever uma
narrativa, seja
empírico
ou seguindo
rigorosamente
um
método de
pesquisa, o
escritor está
em
contínua
relação
com o
saber, manifestando o
seu
posicionamento
crítico
diante dele.
Em O
nome da
rosa
isto é
bastante perceptível,
tanto na
ficção
em
si,
quanto na metaficção
que é o
Pós –
escrito a O
nome da
rosa,
tanto
nos
elementos de
criação,
quanto
nos
discursos dos
personagens.
Comecei a
escrever
em
março de 1978,
movido
por uma
idéia
seminal.
Eu
tinha
vontade de
envenenar
um
monge. Creio
que
um
romance possa
nascer de uma
idéia desse
tipo, o
resto é
recheio
que se
acrescenta ao
longo do
romance. (Ibidem,
p. 15-6)
No
que se refere a
gênese do
romance –
para
um
autor
que diz
ter a
Idade
Média
como o
seu
imaginário
cotidiano (Ibidem,
p. 17) –
era de se
esperar
que o
tempo
em
que se passaria
um de
seus
romances fosse a
Idade
Média.
Surpresa! os
leitores adoraram remontar-se à
Idade
Média.
Não houve
qualquer
pecado
em a
narrativa
ser
criada a
partir do
desejo de
assassinar
um
monge. Sendo a
escrita uma
terapia
para
muitos,
assim
como é a
leitura, a
idéia
para a
sua
composição pode
ser
tanto
intrínseca
ou
extrínseca ao
autor,
ou seja,
partir de
um
desejo
interno
ou de uma
observação do
externo,
ou
ambos. O
processo de
criação narrado
por
ECO é
um
processo de
busca
incansável a
partir da
observação de
outros narradores,
enfim, uma
pesquisa
sobre o
quê se pretende
narrar foi
desenvolvida
para
fundamentar a “criação do
mundo” narrativo.
“(...) os
livros falam
sempre de
outros
livros e
toda
história
conta uma
história
já contada”. (Ibidem,
p. 20)
A intertextualidade
não é uma
negativa ao
original,
conforme o
labirinto,
embora a
saída seja a
mesma,
cada
espaço percorrido tem a
sua
característica
própria e
cada
pessoa
que
por
ali
passa é
um
leitor
com
traços
bastantes
específicos. A cosmogonia do
romance demonstra
que o
mobiliário deve
ser escolhido a
dedo,
mas,
em
pouco
tempo deixe
que as
peças falem e os
personagens ajam
por
si: “o
problema é
construir o
mundo, as
palavras virão
por
si
sós.” (Ibidem,
p. 22)
E a
verossimilhança
também
não ficou de
lado:
É
preciso
criar
obstáculos,
para
poder
inventar
livremente.
Em
poesia o
obstáculo pode
ser o
verso, o
pé, a
rima,
aquilo
que os
contemporâneos
chamaram de
respiração
conforme o
ouvido...
Em
narrativa o
obstáculo é
dado
pelo
mundo
subjacente. E
isso
não tem
nada a
ver
com
realismo (embora
explique
até
mesmo o
realismo).
Pode-se
construir
um
mundo
totalmente
irreal,
onde os
burros voam e
as princesas
são
ressuscitadas
por
um
beijo:
mas é
preciso
que
esse
mundo,
meramente
possível e
irreal, exista
segundo
estruturas
definidas previamente (é
preciso
saber se, nesse
mundo, uma
princesa pode
ser ressuscitada
apenas
pelo
beijo de
um
príncipe
ou
também
pelo de uma
bruxa, e se o
beijo de uma
princesa retransforma
em
príncipe
só os
sapos
ou, digamos,
também os
tatus). (Ibidem,
p. 24)
Este
trabalho de
pesquisa, ao
qual
ECO se impõe
passo a
passo, contribui
para a
construção de uma
narrativa
histórica,
que,
enquanto
narrativa ficcional
que é,
não se obriga a
estabelecer
um
pacto
com a
verdade,
mas, representa o
que
poderia
acontecer,
ou seja, o
que é
verossímil e
que é,
ainda,
um
critério de literariedade. Neste
caso, o
uso do
documento irá se
diferenciar,
sobremaneira, daquele
feito
para
qualificar
obras históricas
não ficcionais,
pois, estas
não possuem
elementos de
ordem
estética.
ECO
com a
paciência e o
método de
um
pesquisador,
que, a
partir da
hipótese elaborada, obriga-se a
percorrer os
mais
áridos
caminhos
para comprová-la, legitimou a
narrativa de O
nome da
rosa,
conforme o
seu
depoimento
em
Pós –
escrito a O
nome da
rosa e,
principalmente,
pelo
sucesso do
livro, a
isto se unem as assertivas do
autor
sobre
cultura de
massa – demonstrando
que as
massas leitoras gostam do
melhor,
desde
que
este
melhor
não venha fechado às
chaves do
hermetismo
lingüístico – há uma
grande
diferença
entre
falar
por
metáforas e fechar-se
em
metáforas.
Por
outro
lado, o
método de
elaboração da
narrativa adotado
por
ECO,
que
busca a
história
através da
leitura de
crônicas
medievais, desenvolve-se a
partir de
estudos
preliminares, fazendo,
portanto, uma
investigação motivada
pela
idéia
inicial,
em
suas
palavras: “tinha
vontade de
envenenar
um
monge” (Ibidem,
p. 21, 22, 23) diferencia-se da
investigação
ou “Le procéss
verbal” proposto
por ZOLA,
pois,
para
ECO, a
investigação se deu a
partir da
vontade de
escrever. E a
leitura de
crônicas e
busca de
dados desenvolveu-se, provavelmente,
porque
ECO tem o
espírito
investigador,
ele é
um
professor –
pesquisador e faz da
busca de
dados
um
método de
composição
necessário ao
Romance
Histórico. (consultem-se as
páginas 23 – 4 – 5 e 6 de
Pós-escrito a O
nome da
rosa)
Quanto à
questão de
cultura de
massa:
(...)
não será
descabido
buscarmos na
base de
cada
ato de
intolerância
para
com a
cultura de
massa uma
raiz
aristocrática,
um
desprezo
que
só
aparentemente
se dirige à
cultura de
massa,
mas
que, na
verdade
aposta
contra as
massas e
só
aparentemente
distingue
entre
massa
com
grupo
gregário e
comunidade de
indivíduos
auto –
responsáveis,
subtraídos à
massificação e
à
absorção
em
rebanho;
porque, no
fundo, há
sempre a
nostalgia de
uma
época
em
que os
valores da
cultura eram
um
apanágio de
classe e
não estavam
postos,
indiscriminadamente,
à
disposição de
todos. (ECO,
1990: 36)
ECO, na
citação
acima, posiciona-se
veementemente a
respeito da
cultura de
massa. E
mais do
que o
ato de
ocupar o
outro
lado do
rio, destaca-se a desconstrução do
discurso
dominante
que comumente se esconde
atrás de
um
academicismo
inacessível e de uma
arte
quase santificada,
porque se
encontra
em
um
lugar ao
qual as
massas
não podem
alcançar.
Ao
invés de
digerir o
outro, aos
moldes da
antropofagia de Oswald de Andrade,
em
busca de uma
assimilação das
culturas, no
sentido de “comer” o
totem
para
adquirir,
digerir o
seu
saber, propõe-se
que a
arte seja
tornada,
mais
ainda,
um
objeto a
que
só podem
ter
acesso os
iniciados. Dessa
forma, tentam
inviabilizar a democratização das
linguagens literárias, artísticas, pictóricas às
massas
populares,
ou seja, ao
invés de abrirem os
museus
com
suas
artes
milenares, fecham-nos,
pois afirmam
que as
massas
não estão preparadas à
contemplação.
Ao abrirem-se o
mosteiro aos
olhos
laicos, retira-se a
aura
ali existente de
lugar fechado,
sacro, destinado a
poucos.
Quando se abrem os
livros do
mosteiro, é lido o
saber destinado aos
clérigos e
aristocratas,
àqueles
que
não estejam nestas
classes inseridos
resta a
punição
com a
morte
por
ter tido
acesso aos
objetos
sagrados – note-se a
etimologia bibli(o) –
livro – e o
veneno emana de
um
livro
para
destruir a
vitalidade do
seu
leitor.
Sem
dúvida
que existem
aí
questões
inerentes à democratização do
saber e à conceptualização de
obra de
arte
que teremos de
discutir e
esclarecer no
decorrer da
pesquisa,
além de
sua
própria
representação
social .
Sobre
isto, afirma-nos
ECO:
“Eu definiria o
efeito poético
como a
capacidade
que tem
um
texto de
gerar
leituras
sempre diversas,
sem
nunca se
esgotar
completamente”. (ECO,
1985: 13)
Tomando
todo o
cuidado ao
elaborar
um
romance
histórico, colocando na “receita”
elementos do
romance
policial, num
lugar
um
tanto
incomum a
isto:
um
mosteiro, e elaborando uma
narrativa
longa
com
um
certo
tom
jornalístico,
que é
bastante
acessível às
massas,
ECO conseguiu
propiciar ao
público
leitor uma
narrativa de
qualidade
sem
ter se sujeitado às
imposições da
Indústria Cultural. O
nome da
rosa
não é
um “Masscult, Midcult
ou
mass
média” é uma
obra de
arte,
mas
não
um
objeto de
arte
detentor de uma
aura
que o torne inalcançável. Gozando dos
benesses da
reprodução
rápida da
obra
literária, O
nome da
rosa
chega ao
público contando uma
história
que se
passa na
Idade
Média,
época dos
manuscritos,
escribas e
mosteiros,
não
como
mais
um
apelo da
Indústria Cultural,
mas
como
um
livro
ou
filme dotado de
muita
autenticidade.
“O
que faz
que uma
coisa seja
autêntica é
tudo o
que
ela contém de originariamente transmissível,
desde à
sua
duração
material
até
seu
poder de
testemunho
histórico”. (ECO,
1985: 15)
O
romance é uma
forma de
narrativa
que foi
feito
para
ser reproduzido, sendo
obra de
arte,
ou
não, é
filho da
burguesia
emergente e da
industrialização
por
ela desencadeada.
Mas,
desde o
seu
início,
ele estabeleceu
um recorte no
público
leitor
pelo
poder sócio-econômico,
pois, os
livros eram
caros e o
poder aquisitivo
baixo na
maior
parte da
população trabalhadora.
Não
era,
enfim,
um
gênero
popular,
não
obstante o
público
leitor
muito se
interessar
por
ele, haja
vista o
rápido
sucesso das
bibliotecas públicas
ou circulantes
como passaram a
ser
chamadas no
Século XVIII, referia-se o
romance aos
assuntos
religiosos, o
que
nos permite
observar a tradicionalidade inovadora de O
nome da
rosa
que,
como o
romance, teve a
sua popularização
inevitável e
oportuna,
porque ao
manter a
tradição do
objeto
artístico, perpetuou as
características próprias de
narrativa burguesa, preservou a
sua
aura e propôs a democratização da
arte.
Sem
dúvida
que
outros
recursos,
como a
fotografia e o
cinematógrafo, contribuíram
definitivamente
para esta
mudança,
mas o
artista e o
escritor mantiveram-se,
senão
seres dotados de uma
capacidade
especial,
pelo
menos,
seres
cercados de
mistérios a
quem
todos desejam
conhecer – a
eles e aos
seus
mistérios.
E o
leitor...
Em
Seis
passeios
pelos
bosques da
ficção,
ECO dá
especial
atenção ao
leitor,
ele afirma: numa
história
sempre há
um
leitor, e
esse
leitor é
um
ingrediente
fundamental,
não
só do
processo de
contar uma
história,
como
também da
própria
história. (ECO, 1994:
7)
Tecendo
comentários
sobre a intertextualidade
ocasional
que há
entre Lector in fabula e
Um
viajante numa
noite de
inverno, de Ítalo Calvino,
ECO afirma
que o
leitor encontrará neles
semelhanças e,
principalmente,
traços de continuidade,
que
somente
alguns
leitores perceberão.
ECO
também realça o
lugar privilegiado de
quase
coadjuvante da
narrativa
ocupado
pelo
leitor.
Por
enquanto,
só quero
dizer
que
qualquer
narrativa de
ficção é
necessária e
fatalmente
rápida
porque, ao
construir
um
mundo
que inclui uma
multiplicidade de
acontecimentos
e de
personagens,
não pode
dizer
tudo
sobre
esse
mundo.
Alude a
ele e pede ao
leitor
que preencha
toda uma
série de
lacunas.
Afinal (como
já escrevi),
todo
texto é uma
máquina
preguiçosa
pedindo ao
leitor
que faça uma
parte de
seu
trabalho. (Idem,
p. 9)
ECO é
um
autor
que sabe e
gosta de
falar
sobre o
seu
fazer narrativo e manifestando a
sua
intenção designa o
conjunto de
volições,
desejos,
planos,
projetos,
veleidades,
aspirações
que o motivaram a
criar
suas
obras.
Posto
isto, será nesta
relação de
autor
com
intenções autodeclaradas e leitor-autor-teórico,
necessariamente comprometido
com o
signo e
suas
representações,
que buscaremos
analisar a
sua
obra ficcional a
partir do pressuposto de
ser
ela
espaço de
realização de
suas teorizações.
O
nome da
rosa,
primeiro
grande
sucesso romanesco de
ECO, tornou-se mundialmente
conhecido.
Mas, ao
contrário daquilo
que é proposto
como
regra
pela
Indústria Cultural,
ele
não é de
fácil,
nem de
rápida
leitura,
muito
pelo
contrário,
para
ler O
nome da
rosa é
preciso
ser
um
investigador,
mas
não
um
breve e
apressado
detetive
que raciocina silogisticamente, é
necessário colocar-se num
mosteiro e no “Medievo”,
eis a
construção de
seus leitores-modelos..., e
não
poucos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO.
Arte
poética. In: A
poética
clássica.
São Paulo: Cultrix, 1985.
ASSIS,
Machado.
Memórias póstumas de Brás
Cubas.
Rio de
Janeiro: Tecnoprint, [s/d.].
BARTHES, Roland.
Aula.
São Paulo: Cultrix, 1989.
CALVINO, Ítalo.
Porque
ler os
clássicos.
São Paulo:
Companhia das
Letras, 1993.
ECO, Umberto.
Pós –
escrito a O
nome da
rosa. 3ª ed.
Rio de
Janeiro:
Nova
fronteira, 1985.
––––––. Apocalípticos e integrados.
São Paulo:
Perspectiva, 1990.
––––––. A
estrutura
ausente.
São Paulo:
Perspectiva, 1991.
––––––. O
super-homem de
massa.
São Paulo:
Perspectiva, 1991.
––––––.
Obra
aberta.
São Paulo:
Perspectiva, 1991.
––––––. Il
nome della
Rosa. Milano: Bompiani, 1980.
––––––.
Seis
passeios
pelos
bosques de
ficção.
São Paulo:
Companhia das
Letras, 1994.
LIMA, Luiz
Costa. "Documento e
ficção". In: –––.
Sociedade e
discurso ficcional.
Rio de
Janeiro: Guanabara, 1986.
––––––. "Os
atos de
fingir e o
que é
fictício no
discurso ficcional". In: –––.
Teoria de
literatura
em
suas
fontes. VII.
Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1983.
––––––. “Representação
Social e mímesis”. In:
Dispersa
Demanda.
Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1981.
PESSOA, Fernando.
Obras
em
prosa.
Rio de
Janeiro: Aguilar. 1986.
SANTIAGO, Silviano.
Em
liberdade.
Rio de
Janeiro:
Paz e
Terra, 1981.
SILVA, Vitor Manuel de Aguiar e Silva. "Do
conceito de
literatura ao
conceito de literariedade". In: –––.
Teoria da
Literatura. Coimbra: Almedina, 1998.
VALLADARES, Maria Therezinha do
Prado. "Literatura e
consciência da
História". In: Matraga 1 vol II .
Rio de
Janeiro: UERJ: IFL, 1997.
WATT, Ian. "O
público
leitor e o
surgimento do
romance". In: –––. A
ascensão do
romance.
São Paulo:
Companhia das
Letras, 1990.