A ORIGEM DA LINGUAGEM[1]

Gladstone Chaves de Melo (UFF)

 

Para ser a comunicação verbal o mais cotidiano e constante fato de cultura e por nos afazermos a ele como à respiração e à ingestão de alimentos, muito raramente e em raros aparece a indagação por que? E como?

Começaria eu por uma distinção que não se costuma fazer: Fala-se na “origem da linguagem”, quando se queria falar na origem, remota e primeira, das línguas.

Sim, porque linguagem é a palavra de duplo sentido, nenhum dos quais adequado à nossa indagação de hoje. Pode significar a faculdade que o homem tem de comunicar-se intencionalmente e por meio de sinais. Neste caso, a origem do homem, porque se trata de uma propriedade essencial à espécie: todos os homens têm e sempre tiveram essa faculdade.

Significa também a palavra qualquer manifestação exterior realizada por sinais, sejam eles gestuais, fisionômicos ou construídos, como as fogueiras significantes, o telégrafo de Morse, os atuais semáforos para governar o trânsito nas cidades maiores, a dupla comunicação dos surdos-mudos, através de gestos que significam letras ou dos gestos simbólicos por eles criados e que permitem uma conversa quase tão rápida quanto a nossa.

Neste segundo sentido da palavra linguagem, ela vale como elaboração concreta da faculdade, de acordo com a indústria humana, mais remota ou mais recente.

O problema que de fato se nos põe é o da origem primeira de um tipo de linguagem articulada, porque se realiza por meio de sons ou ruídos vocais, produzidos pela laringe e modificados na caixa de ressonância, fixa ou móvel, que produz, num caso, o timbre individual e, noutro caso, os diversos fonemas que constituem o sistema sonoro do idioma tal ou tal: /a/, /e/, /i/, /o/, /u/, /b/, /t/, /ç/ etc.

Vemos, pois, que a língua é uma espécie – e a mais importante – do gênero linguagem, cuja origem tem sido preocupação de filósofos e curiosidades da antigüidade, da Idade Média e dos tempos modernos.

Os lingüistas geralmente não se ocupam do problema, porque foge de suas cogitações. No século passado estiveram eles aplicados em estudar, através da comparação, os grupos de línguas afins, resultados históricos de uma protolíngua muito antiga e desaparecida.

Essa atividade prosseguiu, com menos fervor, no primeiro quartel deste século, tendo os lingüistas, daí por diante, aplicado seu esforço e erudição em descrever estruturalmente a língua x ou y, descrição tão minuciosa quanto possível e usando uma nomenclatura técnica bastante complicada e inacessível aos leigos.

O lingüista trabalha com documentos, escritos ou falados, e, evidentemente, da primeira língua que o mundo se usou não ficou, nem pode ter ficado qualquer documento.

A comparação, tão fecunda no século passado e nos começos deste, chegou a estabelecer diversas famílias de línguas, resultados históricos e variados de um tronco remoto, chamado pelos alemães Ursprache.

Com maior ou menor rigor descobriram diversas famílias, como a indo-chinesa, a dravídica, a malaio-polinésica, a uraloaltaica, a indo-européia, a banta, a camítica, a semítica, a sudanesa e os grupos americanos.

O eminente glótico italiano Alfredo Trombetti foi defensor acérrimo do monogenismo lingüístico e pensava que, com os dados atuais, se poderia chegar à existência da Ursprache, que estaria na origem de todos os idiomas atualmente falados (mais de dois mil, fora os dialetos).

Defende a tese no seu livro Elementi di Glottologia (Bolonha, 1923), que, apesar de chamar-se Elementi, tem 751 páginas, fora os mapas.

Das diversas famílias aqui enumeradas, a mais conhecida e mais estudada é a indo-européia, que apresenta documentos muito antigos e que cobre uma grande área, desde a Índia, passando pelo Afganistão, a Pérsia e o Mar Cáspio, até praticamente toda a Europa, exceptuadas apenas três línguas, o basco, o húngaro e o finlandês, estas duas últimas aparentadas, embora separadas e distanciadas a talvez dois mil anos.

Esse indo-europeu comum, que teria existido há mais de quatro mil anos, com o tempo e com a expansão, se desgarrou em 12 grupos, dos quais manam sobgrupos e, daí, dezenas de línguas diferentes: o hitita, falado outrora na Capadócia e desaparecido há cerca de dois mil anos, o tocário, também desaparecido, falado em Koutchua até o século VII de nossa era, e o ramo indo-iraniano, que se desdobrou em índico e iraniano. Saltando por etapas intermédias, está ele hoje representado por mais de cem línguas, que se falam quase todas dentro dos domínios políticos da Índia (onde se ouvem mais de 200 idiomas filiados ou não ao indo-europeu, ao dravídico e ao monkmer). se destaca, pela importância cultural, o sânscrito, fixado pelo admirável gramático Panini, cuja obra agora vem sendo conhecida e que viveu no século IV a. C. O sânscrito é uma língua clássica, de vasta literatura e que até hoje funciona como língua erudita de comunicação entre os pandites da Índia, exatamente como o foi o latim na Idade Média. Poderíamos fazer referência, entre as línguas atuais, ao Bengali (na região de Calcutá e do delta do Ganges), em que estão as obras do poeta universal Rabindranath Tagore.

Do ramo persa ou irariano, provieram e provêm diversas línguas, que se estendem dos vales do Pamir ao Curdistão e do Balochistão e Afganistão ao Mar Cáspio. Delas a mais importante é o persa, que vem de longe e que atualmente é escrito em alfabeto árabe, como, aliás, acontece com quase todas as línguas modernas do grupo. A par da influência na escrita contribui largamente o árabe para a língua persa de hoje, cujo vocabulário é talvez menos iraniano que semita.

Dos ramos que floresceram e se multiplicaram na Europa, cabe referir em primeiro lugar (pela ordem geográfica) o grego-comum, idioma dos antigos helenos. Quando se toma contato histórico com a língua, está ela diversificada nas diversas regiões, de modo que se podem classificar os falares em quatro grupos dialetais, jônico-ático, aqueu, eólico e dórico. Das línguas antigas, destaca-se, como todos sabem, o grego clássico, atico, veículo de uma importantíssima literatura e de que se serviram Platão e Aristóteles. O grego atual, ou romaico, está para esse grego clássico, mais ou menos como o italiano para o latim.

Teria havido uma unidade ítalo-celta, cedo repartida em itálico e celta, teoria de Meillet, abalada por Marstrander. O traço comum seria o genitivo emi. De qualquer modo, do ramo itálico promanam o latim, o osco e o umbro, sendo o primeiro, a princípio, a língua de Roma e arredores. Todos conhecem o impressionante destino dessa pobre e tosca língua de pastores: com o tempo e a expansão da urbs veio a ser falado em toda a România Ocidental e hoje está representado por cerca de quarenta línguas e grandes dialetos, entre os quais figura o nosso português, ao lado do castelhano, do italiano, do francês e do romeno (que ainda tem vestígios de declinação e usa o artigo posposto ao nome), para falar nas línguas de civilização, isto é, correspondentes a unidades políticas autônomas. O celta, mal conhecido no seu aspecto antigo, se triparte em gaulês, britônico e gaélico. Do britônico o atual galês, do País de Gales na Inglaterra, e o bretão, usado nas zonas rurais da Armórica Francesa. Pertencem à feição gaélica a língua local do interior da Irlanda e do interior da Escócia.

Do antigo germânico procedem várias línguas atuais, excluído o gótico e seus dialetos, hoje língua morta. Do germânico setentrional temos hoje o sueco, o norueguês e o dinamarquês. Do germânico ocidental, consideravelmente menos uno que o nórdico procedem vários fatores e línguas, entre as quais se destacam o alemão culto, o neerlandês, o frisão e o ferroês.

No interior da Alemanha, a língua é muito dialetada, pertencendo os diversos falares ao chamado baixo-alemão, Neider-Deutsch. O alemão culto é do tipo alto-alemão, Hoch-Deutsch e provém de falares francônios, que receberam sua feição literária na versão de Lutero, que, sob este ponto-de-vista, se assemelha a Dante, para o italiano culto. Este se opõe a grande quantidade de dialetos, muitos dos quais são verdadeiras línguas, como o napolitano e o barês.

O inglês formou-se na segunda metade do século XIV, com predominância de elementos do centro do país e que, da cidade de Londres, se irradiou por toda a ilha, a Irlanda e as ilhas menores circunvizinhas. Pela colonização, estendeu-se aos Estados Unidos, Canadá Austrália, Nova Zelândia e, como língua-segunda, ao Egito, Índia e África do Sul, sem falar nas jovens nações africanas que o adotaram como língua nacional.

Depois da segunda guerra mundial adquiriu grande prestígio e alçou-se à condição de língua universal, apesar da extrema dificuldade da pronúncia e da disparidade total entre a feição falada e a feição escrita.

Para se ter uma idéia concreta de como as línguas se modificam no tempo, peço licença pra transcrever aqui três versos do poema Beowulf, que remonta ao século VI, mas que foi escrito muito depois:

Gethenc nu, se maera maga Healfdenes,

Snofra fengel, nu ic eom sidhes fus,

Gold-wine gumena, hwaet wit geo spraecon:

(vs. 1474-76)

Traduzindo: “Lembra-te agora, ó ilustre filho de Healfdene, chefe sábio, – agora que eu estou pronto para partir, generoso amigo dos homens –, do que nós dois dissemos para partir, generoso amigo dos homens-, do que nós dois dissemos há pouco”. Com um pouco de esforço, poderemos descobrir alguma coisa do inglês moderno: em ge-thec não é difícil descobrir to think: em nu, now: em Healfdenes, no-es final, o genitivo –s ainda usado em determinadas situações; em ic (aliás igual ao holandês atual), pode-se desvendar o pronome pessoal da primeira, hoje sem a consoante final e com a vogal alongada em ditongoI; eom traz à memória am (ic eom, I am); gumena é o genitivo plural de guma, “homem”, facilmente aproximável do latim homo e do atual inglês woman que, historicamente, é o correspondente da forma indo-européia masculina; hwaet quase se identifica com what; wit é o dual de “nós” (cfr. we) ; spraecon está próximo do alemão sprechen e não muito longe do atual inglês speech.

Do antigo báltico, temos hoje representantes no letão e no lituânio, língua esta particularmente interessante ao indo-europeísta, por causa de seu aspecto muito arcaico, exemplificando em esti (terceira pessoa do singular do verboser”) paralelo ao sânscrito védico ásti e do grego homérico esti.

O ramo eslavo, cujo protótipo é o velho-eslavo, no qual São Cirilo e São Metódio traduziram os Evangelhos, datável do século IX, tripartiu-se em meridional, oriental e ocidental. Do primeiro temos hoje representantes do búlgaro, no serbo-croata (da Iugoslávia) e no esloveno. No segundo, encontramos o grande russo, ou simplesmente russo, que adquiriu grande importância depois da Segunda Guerra; o pequeno russo, ruteno ou ucraniano e o russo branco, língua da Bielorrúsia. No ocidental encontramos o tcheco, o eslovaco, muito parecido, e o polonês. Com seus dialetos lequitas, sorábico, eslovinco e o catchub, talvez os dois últimos emudecidos, por causa da trágica situação da Polônia.

Do ramo albanês, conhecido no século XV, destacam-se hoje os falares guéguico, ao norte, e tosco, ao sul, língua da Albânia e dos albaneses habitantes de dezenas de paesi italianos, na Calábria, Apúlia, Abruzos e Sicília.

O armênio, hoje espalhado um pouco por toda a parte, por causa da perseguição turca, é falado, com relativa unidade, por três milhões de pessoas, que se entendem, apesar das duas línguas literárias em que se bipartiu.

Fizemos hoje longo e fastidioso excurso, para mostrar como as línguas, apesar do tronco comum, se diferenciam e se multiplicam, dando esse resultado aqui resumido, em que não quisemos, quase, falar em datas e em dialetos. E isto, em muitos casos, num espaço curto de tempo.

A tendência natural das línguas é para se modificarem, o que é uma espécie de mistério, porque as novas gerações fazem sempre questão, põem o maior empenho em reproduzir a língua que lhes é ministrada. Se a diversificação não é maior e se se consegue manter uma língua una durante um lapso maior de tempo, isto se deve a fatores extralingüísticos, como a escrita, a unidade nacional, a escola e o prestígio das elites. Faltando esses elementos, entregues à sua própria sorte, as línguas se modificam muito e rapidamente. É ver, por exemplo, o que aconteceu ao latim vulgar, fonte das línguas românicas, no lapso de tempo entre o século V e o século IX, em que desapareceram ou entraram em crise os elementos frenadores da evolução lingüística.

Imaginemos agora o que terá acontecido às línguas da América, faladas por tribos esparsas e carentes de ação unificadora. Aliás, note-se, entre parênteses, que quando se organizou politicamente o Império Inca, houve nele uma língua comum, o quíchua, que até hoje é o mais falado dos idiomas pré-colombianos: 5.000.000 de falantes. Hoje línguas ameríndias faladas por uma centena de pessoas e ás vezes até por menos, como aconteceu ao fulniô, no interior de Pernambuco e Alagoas, que, por fim, quando o pôde gramaticalizar o Padre Antônio Barbosa, estava reduzido, se não me trai a memória, a vinte e seis pessoas.

Imaginemos, igualmente, o que aconteceu e acontece com as línguas da Austrália e da África, distribuídas por centenas e centenas de tribos.

Em todo caso, as línguas do grupo banto são muito aparentadas entre si, mas a língua dos hotentotes, por exemplo, apresenta um tipo de consoantes implosivas, chamadas cliques, que semelham ao som que utilizamos para incitar um cavalo à marcha. Um leigo (e quase todo o mundo o é em relação a essa língua) não distingue entre os estalos de língua: porém, na realidade, eles são opositivos, como se diz em Lingüística Moderna, isto é, servem de suporte a diferenças de significado, como, em português, as diferentes consoantes desta série: bala, cala, fala, gala, mala, pala, rala, sala, tala, vala.

Não obstante a variedade de línguas sudanesas, guineanas, nigrilas, hotentotes, bosquímanas e banas, um grande africanólogo. Homburger, no seu famoso livro Lês langues africaines et lês peuples que les parlent (Payot, Paris, 1941), defende a tese da unidade inicial dessas muitas línguas negras: “Dans le dernier chapitre nous avons exposé les faits qui nous ont amenée à voir dans les langues négro-africaines modernes des formes tardives de l’egyptien ancien”. (Avant propos). Para ele, pois, as variadas e numerosas línguas da África Negra são nada mais que formas atuais do antigo egípcio.

Ainda quando pequena é a distância no tempo entre a protolíngua e as derivadas, podem ocorrer diferenças muito sensíveis e até profundas no resultado histórico. O latim aqua, por exemplo, está representado por ova, no engadinês, no friulês age, no lombardo uva, no francês atual eau. Esta última forma é a mais distante da forma originária, e ninguém, leigo no assunto, poderia ver uma evolução fonética. Também ninguém pode desconfiar que vinculu, latino, viesse a dar, por evolução e derivação, brinquedo em português. Tão pouco seria um leigo capaz de encontrar em ontem, português, a continuação histórica de ad noctem. E assim, eu poderia multiplicar às dúzias exemplos em que o resultado final de uma cadeia evolutiva desfigura completamente a forma originária. E isto, nas línguas latinas, que, para o estudo e pesquisa, são privilegiadas, porque temos meios, vários, de reconstituir a Ursprache, o latim vulgar, e de acompanhar, a partir do século IX, algumas transformações sofridas pela fonte vocabular. Depois do século XII, então, dispomos de farta documentação, que nos atestam a evolução das formas. Assim, de tenere, temos, ao longo do tempo, tẽer, teer, ter, cujo resultado atual está paralelo ao engadinês tignair e ao frinlês, tiñi.

Até agora temos, do assunto, como preâmbulo, bom material lingüístico, atestado direta ou indiretamente.

Cabe ainda lembrar que, atualmente, há forte tendência a supor que o indo-europeu, o caucásio com as línguas mediterrâneas, do lício ao basco, o fino-urgiano e o câmito-semita (hoje considerado uma família única) têm origem comum, em data muito remota.

Vemos, pois, que com os dados positivos, manipulados pelos lingüistas, temos várias trilhas conducentes a um resultado unigenético. Eu gostaria de lembrar ainda que Meillet, no prefácio da primeira edição de Les langues du monde (depois recolhido em Linguistique historique et linguistique générale), observa que todas as línguas, em todos os tempos, no fundo têm a mesma textura: são palavras arrumadas de determinada maneira.

Estamos, pois, no terreno dos fatos, apreendidos com maior ou menor dificuldade, pelos lingüistas.

 

X

 

Pareceu-me necessário este longo preâmbulo, para mostrar que a ciência lingüística não pode contrariar a posição que eu aqui defenderei.

O problema da origem da linguagem articulada não pertence nem pode pertencer, à ciência da linguagem, sobretudo nas suas feições comparativas e diacrônicas –, conforme se diz depois de Saussurre, para designar a perquirição no tempo, passado, sobretudo na evolução lingüistica.

Cabe à Filosofia indagar da origem mais remota, do ponto-de-partida, da gênese do fenômeno, tão universal e hoje tão embaraçosamente variado. E não têm faltado filósofos e filosofantes que propuseram solução ou soluções para o problema.

Na antigüidade, Epicuro entendeu que o homem chegou à linguagem articulada sem o sentir, como os animais gritam ou vazeiam. Depois, o progresso teria sido feito por convenção. Lucrécio situa-se mais ou menos na mesma posição, acrescentando que o homem se valeu dos órgãos da fala para inventar a linguagem, levando pela necessidade, de acordo com seu conceito (De rerum natura, V, 1029): utilitas expressit nomina rerum.

De Bonald, De Maistre e Lamennais entendem que a língua é dom divino.

Outros, partidários da aquisição lenta e gradual, supõem que o homem a princípio proferiu exclamações e imitou os barulhos da natureza. É a origem onomatopéica, cheia de adeptos.

Renan, romântico que era, sustentou que a aquisição da linguagem articulada foi instantânea e de um jato no gênio de cada raça. (Apud CoutinHO, 1962: 24). Ora, o conceito de raça é muito relativo e, de fato, não qualquer paralelismo entre língua e raça: povos de raças diferentes falam a mesma língua e um grupo humano de semelhantes caracteres somáticos (ou da mesma raça) falam línguas diversas. Basta lembrar o português falado (e muito bem falado) por negros mulatos angolanos ou moçambicanos, assim como o francês falado por congoleses.

A língua é um fato de cultura e nada tem que ver com a cor da pele, o ângulo facial, o formato do nariz. Uma criança trazida da China ou do Japão, novinha, para o Brasil e posta num meio lingüístico homogênio falará como qualquer brasileiro.

A teoria da origem onomatopéica, que a tanto a seduziu, não tem a menor base. Primeiro, a onomatopéia é um fato de cultura, tanto assim que varia de língua para língua: na linguagem infantil,Cachorro é auau no Brasil, béubéu, na Alemanha wauwau na Inglaterra bow-wou, wanwan em japonês e por fora. (Cf. Baldinger, 1970: 30) A criança ou o adulto não repete o ruído ou som da coisa ou a voz do animal; cria uma palavra sugestiva e, com isso, se situou no campo da língua, que é o do sinal convencional, motivado ou imotivado. No caso em apreço, motivado. O pássaro chamado joãotemneném evidentemente não se chama a si mesmo por esse vocábulo, que, criação lingüística, lhe interpreta o canto.

Além disso, segundo ensina o grande lingüista americano Sapir, que conhecia muitas línguas ameríndias, o número de vozes onomatopéicas nas línguas primitivas é muito menor do que o das nossas línguas modernas de civilização. Aliás, também é dele a observação arguta de que a onomatopéia é língua, é elaboração do espírito, é sinal e não mera e simples imitação. (BALDINGER, 1953: 12-16)

também a teoria gestual, por alguns seguida: o homem teria começado por se comunicar gesticulando, até que um dia descobriu que o gesto laríngeo, a voz articulada, é um gesto mais rico, porque unívoco. Quando expus a Gustavo Corção esta teoria, ele respondeu-me imediatamente, com um argumento decisivo e definitivo: “Esse homem se esqueceu de que noite no mundo”.

É claro que os gestos (sobretudo para os italianos do sul) são auxiliares da comunicação e acompanhantes da linguagem articulada; mas constituem aquilo que Sechehaye chama contexto, que são elementos extralingüísticos, coadjuvantes da comunicação. Opõe-se ao texto, que é o elemento estritamente lingüístico.

Quero agora deter-me mais longamente na teoria de um filósofo de valor e de excelente orientação, F. J. Thonnard, que, no meu entender, errou seriamente na matéria, exatamente por falta de preparo lingüístico. O assunto é filosófico, mas exige conhecimento seguro do fenômeno língua, de seus componentes e de seu funcionamento.

Tratando do assunto em perspectiva estritamente filosófica, depois de esclarecer, em nota, que, de fato, a Bíblia nos ensina que Deus revelou a linguagem articulada ao primeiro homem, Thonnard se inclina pela formação gradual, tomando como modelo, digamos, o aprendizado da língua por parte da criança.

Demos-lhe a palavra, numa citação longa:

Neste assunto, a Filosofia pode formular uma hipótese. Supondo que o homem surgiu na terra dotado apenas de seu instinto bem aparelhado e de bom senso, sem instrumento sensível apropriado,[2] devemos concluir que ele tem de forjar para si esse instrumento indispensável ao progresso de seu pensamento, pelo mesmo método da criança atual; mas inventando, pouco a pouco, os sinais convencionais que ainda nenhuma sociedade lhe poderia fornecer. Parece que se impõe a escolha da linguagem articulada, por si mesma, por causa de suas vantagens, sem, aliás, ser de uso exclusivo; porque os outros sinais convencionais, visuais e táteis, gestos, toques etc., também se usam como linguagem complementar.

Pode-se imaginar a evolução como começando também pelo emprego de sinais naturais, em particular onomatopéias, que em grande número se encontram nas raízes das palavras de nossas línguas modernas, como, por exemplo, em francês, buisser, crisser, ronfler, susurer, o coq, o cou-cou, o glou-glou, o tic-tac etc. Eram sinais vocais, que ele ajeitava e variava, para torná-los adequados a significar os matizes do pensamento, transformando-os em sinais arbitrários: estabelecem-se espontaneamente desde que dois ou vários homens se compreendem...

Aperfeiçoar-se pelo esforço de todos a linguagem assim inventada e graças à tradição, que transmite os resultados bem sucedidos; mas ao mesmo tempo, ela se modifica, como tudo que vive; e quando as raças e grupos sociais da humanidade se dividiram e diversificaram, também ela se cindiu em línguas diferentes. Aqui se verifica que a linguagem se comporta como um fato social; apesar de formada por sinais arbitrários, ela não evolui ao acaso, mas, ao contrário, seguindo leis que a ciência determina: há, e estas têm, por exemplo, tendência a se abreviarem: sacramentum torna-se serment, a cinématographie torna-se cinema, ou cine etc.; leis morfológicas, concernentes às regras gramaticais; por exemplo, caem em desuso as declinações, o que torna mais rígida a ordem das palavras e multiplica as partículas de ligação; – leis semânticas, relativas ao sentido das palavras: por exemplo, o sentido vai do concreto ao abstrato, da parte ao todo etc. Tais leis, aliás, se explicam em conformidade com os outros fatores sociológicos de evolução, como o meio, o tempo, a raça.

Assim, as línguas universais criadas peça por peça, como o esperanto, o volapuque e o ido sempre serão de uso secundário; se elas fossem adotadas pelos povos, diversificar-se-iam, como a primeira língua da humanidade.

Apesar de todas as diversidades, todas as línguas humanas têm um fundo comum, constituído por certo número de raízes semelhantes.[3] Mas, sobretudo o que por toda parte é idêntico é o próprio pensamento, são as operações intelectuais significadas e sintetizadas em sistemas de verdades científicas: em todos os lugares e sempre, sem grande dificuldade, os homens de todas as raças chegam a compreender-se e a comunicar, uns aos outros, seu patrimônio intelectual, estabelecendo uma equivalência entre suas línguas. A única hipótese explicativa deste fato é a unidade específica da humanidade, estando ligada a diversidade das línguas às diferenças individuais, socializadas pelas raças e as nações. (Thonnard, 1950: 782-83)

Esta longa citação foi de propósito, para tentar não trair o pensamento do autor, que é de primeira categoria. O último parágrafo da citação, relativo à unidade básica de todas as línguas do monogenismo da espécie humana e da universalidade do pensamento e de seus processos está inteiramente certo. O único senão é considerar a “raça como fator de câmbio lingüístico, coisa que vimos, antes, não ter fundamento, porque não qualquer paralelismo entre tipo racial e tipo lingüístico, mesmo atenuado, como faz o autor, pela dimensão socializadora. Repetimos: as línguas são fatos culturais e independem, absolutamente, de fatores raciais: qualquer indivíduo, de qualquer raça, pode falar perfeitamente qualquer língua.

Thonnard faz uma hipótese inaceitável, com vários desdobramentos. Assim, de começo ele estabelece um paralelismo entre a invenção da linguagem articulada e o aprendizado da língua por parte da criança:

Nous devons conclure qu’il doit se forger cet instrument indispensable au progrès de as pensée, par la même méthode que l’enfant actuel; mais inventant peu à peu les signes conventionnels qu’aucune société ne pouvait encore lui fornir.

Ora, vai nisso um indiscutível engano. As duas situações são completamente diversas. A criança encontra um sistema lingüístico todo feito, que ela vai assimilar aos poucos. Chego a pensar que o balbucio dos recém-nascidos é algo diferente, segundo as línguas que eles estão ouvido: talvez um bebê alemão balbucie diferente de um bebê brasileiro.

Depois, a criança vai associando determinados vocábulos a tais ou a tais objetos: começa a compreender, muito elementarmente, a língua que se lhe está fornecendo. Nessa altura ela muita vez inventa palavras, monossilábicas ou dissilábicas, imitativas ou não, para se fazer compreendida. Mas tem vaga e instintiva noção do que chamamos signo, isto é, relação entre significante e significado. Daí por diante, ela vai tateando, à procura da aquisição ativa do complexo sistema que ouve, seja nas conversas a ela dirigidas, seja nas conversas de terceiros.

Mais: ela aprende e compreende a língua às vezes muito antes de começar a falar (todos observamos isto). Entre três e quatro anos, ela se assenhoreou do sistema, para expressar seu mundo infantil e o ambiente que a cerca: fala de aviões, carros, televisores, cavalos, charretes etc.

O essencial é notar que a criança vai receber e de fato recebe um sistema lingüístico, que lhe vão fornecendo os que o rodeiam: crianças mais velhas, adolescentes, pais, tio e outros adultos.

Todo o seu esforço é, pois, de interpretação e de imitação, laborioso, penoso, mas coroado de sucesso.

Não era esta – nem podia sê-lo – a situação do primeiro casal, que tinha o que assimilar e o que imitar. Mas também não poderia criar uma língua, como vamos tentar explicar.

 

X

 

Depois de Saussure, ficou clássica na Lingüística Moderna a dicotomialíngua” e “fala” – langue e parole. São os dois aspectos fundamentais da atividade e da realidade lingüística. A “língua” é social; a “fala” é individual.

A langue é um sistema, isto é, um todo, extremamente complexo e fechado. Podemos, para facilidade, desdobrar esse sistema em subsistemas: fonológico, morfológico, sintático, semântico.

Considerando o primeiro, observaremos que o material sonoro de uma língua é coerente e interdependente. As dezoito vogais mais comuns da língua portuguesa têm um mesmo tipo geral de articulação, de intensidade, de musicalidade, de modulação. Quando falamos uma ou mais línguas estrangeiras, tendemos a levar para o novo idioma as características do nosso, nativo: é o sotaque. A música, o ritmo, o desempenho da frase também é diferente, e isto é o que mais nos custa apreender, se é que chegamos a fazê-lo. Exemplifico com o subsistema vocálico inglês em relação ao português. Sobretudo no que diz respeito aos tênues matizes das vogais chamadas neutras. E que ocorrem com extrema freqüência. A língua, na sua feição culta (pelo menos) não tem /a/ puro, mas, sim, velarizado ou palatalizado, quando tônico, e indefinível quando neutro. A música, tonalidade e cadência da frase são completamente diversas das nossas. Com o francês se passa a mesma coisa, no que diz às nasais, diferentes uma das outras e todas diferentes das portuguesas. O alemão (neste ponto, como o francês) tem vogais compósitas, palato-velares, e tem um forte acento de intensidade inicial, de palavra, de frase e de período, que é quase impossível imitar, mas que qualquer alemãozinho de cinco anos sabe perfeitamente fazer. E por afora.

O mesmo se diga do complexo consonântico, que forma um todo coerente, mas que é diverso em cada língua. Assim, por exemplo, os alemães têm as oclusivas aspiradas, coisa que não acontece no português ou no espanhol, por exemplo. O holandês tem uma aspiração glotal sonora, que é praticamente impossível para nós (e qualquer estrangeiro) realizar. O árabe tem íctus intervocálico, muito característico e que se opõe frontalmente ao nosso subsistema, que funde as vogais átonas finais na inicial do vocábulo seguinte, produzindo ditongo, tritongo ou crase: “nesta idade”; Foi em março, ao final das chuvas...”, “ainda agora” – que soam “nestaydade”, “marçaw findar”, “aindagora”.

O subsistema morfológico, o mais fácil de perceber, pode chegar a ter uma enorme complexidade. O nosso é bastante complicado na ordenação dos constituintes imediatos dos vocábulos, tem grande variedade de prefixos e sufixos (com matizes semânticos muito variados), tem um plural sigmático (que, nos casos concretos, oferece variantes): mesa-mesas, fácil-fáceis, barril-barris, doutor-doutores, lápis-lápis. Formam-se palavras novas, tiradas das virtualidades da língua, por derivação (sufixal, prefixal, parassintética e regressiva), por mudança de classe e por composição. Os verbos, além de pertencerem a três conjugações (caracterizadas pelo tema), apresentam uma abundância de formas, que totalizam sessenta e cinco, fora os tempos compostos e as chamadas perifrásticas ou locuções verbais, estas quase sempre como recurso de aspecto, que a língua não tem como categoria gramatical autônoma. Somem-se a isto os chamados verbos irregulares, onde brilha o verbo ir, com três raízes diferentes.

A sintaxe portuguesa marca-se pela variedade e pela liberdade, sobretudo quanto à ordem das palavras na frase. A concordância, em vários casos, apresenta variantes aceitas e a regência verbal e nominal (como, em geral, em todas as línguas) é muito complexa e apresenta não poucos casos de sincretismo.

Está dada, descritivamente, uma primeira idéia de sistema (ou esquema, ou código, como hoje preferem dizer os partidários de certa corrente lingüística, ainda muito prestigiosa no Brasil).

Esse sistema, que é o arcabouço da língua, sua estrutura, sua montagem, existe em estado virtual na memória de todos os membros de uma comunidade lingüística e constitui o que se poderia chamar a gramática interior. Todas as suas inúmeras peças se equilibram e se combinam, valendo-se umas às outras, justificando-se umas às outras, num todo homogêneo, coerente e fechado, que se rompe para dar nascimento a outra língua. Um exemplo: teoricamente e (na realidade) instintivamente e por força de hábito maquinal, para se compreender uma forma verbal como fiz, é necessário estabelecer uma porção de oposições lingüísticas, como, por exemplo: fiz não é faço, não é farei, não é fazemos, não é fizemos, não é faremos. E assim por diante. Isto é a travação interna do sistema, que, além disso, se manifesta nos dois eixos sintagmático e paradigmático, de que não vou tratar para não importunar mais do que o venho fazendo.

Hoje, como disse, muitos dizem código, em vez de sistema, por dar nova (e mais completa) explicação do circuito lingüístico, binário até Saussure.

A fala (ou discurso, ou texto, como tem traduzido a parole saussuriana) é a execução individual da língua, do sistema. Cada pessoa que se exprime, oralmente ou por escrito, faz sucessivas escolhas no grande armazém de possibilidades, que é o sistema, transformando o que é virtual em atual, concreto. Escolhe fonemas, formas, palavras, combinações de palavras ou frases, e vai exteriorizando suas vivências.

esbarramos com um curioso paradoxo. A língua é importantíssimo fato social e existe em estado latente, na memória dos membros da mesma comunidade. temos contato com a fala dos indivíduos. Quem me ouve neste momento está acompanhando meus sucessivos atos de escolha no material lingüístico pré-existente, e interpreta-o.

Assim se forma o circuito: um emissor se exterioriza, dentro de um código (ou sistema); sua mensagem (que é o conteúdo) é transmitida através da atmosfera e é captada pelo receptor (que tem na memória o mesmo sistema) e descodifica-a, ou interpreta, ou entende.

Logo, para haver a comunicação, o circuito lingüístico, é necessário que os emissores e receptores (ou falantes e escreventes; ouvintes e leitores) tenham na cabeça o mesmo código, o mesmo sistema.

Se eu disser a um estrangeiro (que não saiba português): – “Você é um canalha”, ele ficará na mesma, fará um ar indagatório e dará a perceber, pela fisionomia ou por um gesto, que não entendeu, isto é, não captou, decifrou, descodificou nada.

Para que um ouvinte tome conhecimento da mais simples frase, é necessário que ele tenha, em estado virtual, na memória, o mesmo sistema. Para se entender a mais simples frase – “está chovendo”, “il pleut”, “it rains” ou “es regnet”, é preciso que o ouvinte conheça o código português, ou francês, ou o inglês, ou o alemão. Do contrário, não descodifica, não interpreta.

Agora, examine-se a hipótese de duas pessoas, que não têm na cabeça nenhum sistema, conversarem. Ou, se quiserem, forme um no outro, peça por peça, desde a primeira, um código. É impossível a intelecção.

Noutros termos: o sistema que possibilita e fala, preexiste a esta, senão ela nunca poderá realizar-se. O caso da hipótese é mais absurdo do que entenderem um chinês e um brasileiro que não conheçam, cada um, o código do ouvinte-falante e falante-ouvinte. Mais absurdo, porque, em todo caso, cada um dos dois interlocutores incompreensíveis têm na cabeça um código, apenas não conhecido dos dois. Poderão entender-se, por gestos e indicações digitais, coisas simplicíssimas, elementares, curiais e, ainda assim, irão, sem o quererem (melhor, sem disso tomarem consciência), acompanhando os gestos com as respectivas palavras nas respectivas línguas.

Os dois supostos interlocutores que não têm na cabeça qualquer código jamais poderão conversar, ainda que de coisas rudimentares. É impensável a formação, complexíssima, do código a partir da mútua estaca zero. Portanto, é-nos forçoso concluir que os dois primeiros falantes receberam (de fato, não de direito) o código feito e daí por diante começaram a usá-lo. Com o tempo e na variedade do espaço, seus descendentes foram-no alterando e surgiram os dialetos e novas línguas (a partir da ruptura do sistema), até se chegar às milhares de hoje, espalhadas pelo mundo inteiro.

Ignoro se outro lingüista fez exata análise para chegar, assim, à mesma conclusão. Mas, no caso afirmativo, tanto melhor para mim: estarei bem acompanhado.

O que não posso aceitar (e estou certo de que ninguém que considere com realismo o problema), o que não posso aceitar é a teoria da formação gradual da língua ou de sua origem imitativa, onomatopaica ou gestual. Nada disso explica. É uma petição de princípio.

O mal é que os lingüistas geralmente não põem este problema, porque não está ao alcance da documentação e da pesquisa da ciência positiva, enquanto os filósofos que indagam da origem da linguagem articulada e de sua formação geralmente não conhecem, na sua estrutura íntima, o fenômeno lingüístico e não analisam o circuito, coisa, aliás, muito recente, a partir de Roman Jakobson, se estou bem informado.

Não sei se consegui fazer-me entendido, num assunto meio abstrato como este e que exige vários pressupostos, que não têm obrigação de possuir os enfadados ouvintes.

Aproveito para lembrar que um dos dramas da cultura é a, talvez inevitável, incomunicabilidade. Acontece que, por vezes, homens sábios chegam a conclusões idênticas seguindo caminhos diferentes, ou reclamam de certas carências, ignorando uns o trabalho dos outros. É o que acontece, por exemplo, com Ferdinand de Saussure, o pai da Lingüística atual, e com o grande filósofo Maritain; reclamam pela constituição de uma nova ciência, sem que os dois, defasados, aliás, no tempo, pudessem saber da coincidência.

Saussure, para situar bem a Lingüística, acha que seria necessário enquadra-la numa disciplina mais geral, a que chama Semasiologia, que tivesse como escopo o estudo da importância do sinal na vida das sociedades, e Maritain faz o mesmo reclamo, bastante tempo depois, no capítulo “Signe et symbole”, do seu Quatre essais sur l’esprit dans as codition charnelle.

cerca de 30 anos aqui esteve Eugenio Coseriu (talvez o maior lingüista de hoje) e fez-nos duas conferências sobre as idéias lingüistas de Platão e Aristóteles, muitas delas correspondentes e coincidentes com as nossas nações de hoje. Na ocasião até escrevi um artigo (nesse tempo eu era colaborador regular de O Jornal) exatamente com o títuloUm drama da cultura”.

Quanta coisa nova ou novíssima aparece hoje, que foi dita e arrazoadas pelos antigos! Certas coisas de Psicologia de Freud estão em Santo Agostinho, assim como no seu De Magistro está, com todas as letras e todos os argumentos, a moderna teoria pedagógica, de que o principal educador é o próprio educando e de que nada se aprende papagueando ou repetindo o professor, mas meditando e chegando, pela própria inteligência, à conclusão, certa, a ele comunicada ab extrínseco.

 

Este excurso final talvez seja pretexto para eu me desculpar de lhes ter prendido a atenção com coisas estranhas e talvez áridas.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALDINGER, Kurt. Teoria Semántica. Madrid, 1970.

––––––. Le langage. Trad. de S. M. Guillement. Paris: Payot, 1953.

COUTINHO, Ismael de Lima Coutinho. Pontos de Gramática Histórica. 5ª ed. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1962.

Thonnard, F. J. Précis de Philosophie. Paris, Tournai, Rome: Société de Saint Jean l’Evangeliste, Desclée & Cie., 1950.


 

[1] Conferência proferida no III Congresso Nacional de Lingüística e Filologia, no Auditório 111 do Instituto de Letras da UERJ, no dia 17 de agosto de 1999.

[2] Nota do autor: “De fato, ensina-nos a Bíblia que Deus revelou a linguagem articulada ao primeiro homem”.

[3] Nota do autor: “Cf. Ribot, Evolution des idées générales, p, 81