Renata da Silva de Barcellos
(Col. Est. Ten. Otávio
Pinheiro)
O
conceito de
ato
de
linguagem
é
definido
por
Kerbrat-Orecchioni
como: “uma
seqüência
lingüística dotada de
um
certo
valor
ilocutório
que pretende
operar
sobre o
destinatário
um
certo
tipo de
transformação” (2001:146). É o
enunciado
efetivamente
realizado
por
um
falante,
em uma
determinada
situação,
com a
intenção de
produzir
algum
efeito
sobre o
outro.
O
conceito
fundador de
atos
de
linguagem
surgiu na
filosofia
analítica, na
obra do
filósofo Austin:
Quando
dizer é
fazer.
Posteriormente,
foi revisto e ampliado
por Searle
em
Os
atos
de
linguagem.
Segundo Danilo
M. S.
Filho,
em
sua
apresentação da
tradução da
obra de
Austin, a
teoria dos
atos de
fala
‘’insere-se na
tradição
britânica da
filosofia
analítica
inaugurada
por G.E. More,
B.Russel e L.Wittgenstein nas primeiras
décadas de
nosso
século’’(1990:7).
Essa
corrente surgiu
como
reação aos
preceitos
filosóficos
dominantes na
Grã-Bretanha no
final do
século
passado.
Como
conseqüência,
a
questão
principal da
investigação
filosófica
muda: a
problemática
da
consciência dá
lugar à
problemática
da
linguagem e o
conceito de
representação
é substituído
pelo
conceito de
significado,
culminando
assim na
filosofia da
linguagem,
teoria
filosófica
sobre a
natureza e a
estrutura da
linguagem.
Pioneiros da
teoria dos
atos de
linguagem,
Austin e
seu
sucessor
Searle, entendendo a
linguagem
como
forma de
ação (todo
dizer é
um
fazer), começaram a
observar e a
teorizar
sobre a
forma
como os
homens
praticam
diferentes
ações
através da
linguagem.
Mostraram
assim
que
toda
enunciação
constitui
um
ato (negar,
jurar,
prometer,
sugerir etc)
que
visa
modificar uma
situação.
Austin
toma
como
ponto de
partida da
sua
obra os
enunciados
performativos (eu
prometo =
ação de
prometer)
que
ele distingue
dos constatativos (ex. lavo a
roupa,
ele promete =
efetuar uma
informação),
que
são
aqueles
cuja
vocação seria
referir-se a
aspectos do
estado do
mundo
exterior,
representando-os
verbalmente. O
autor inicia
seus
questionamentos
com uma
reflexão
sobre os
verbos
performativos,
aqueles
cujo
enunciado
realiza a
ação indicada
pelo
verbo, o
qual se
apresenta na
primeira
pessoa do
singular do
presente do
indicativo.
Por
exemplo, ao
dizer
apropriadamente
a
frase "eu
batizo", o enunciador estaria realizando a
ação de
batizar. Dessa
forma,
segundo
Austin, o proferimento performativo é "aquela
expressão
lingüística
que
não consiste,
ou
não consiste
apenas,
em
dizer
algo,
mas
em
fazer
algo,
não sendo
um relato,
verdadeiro
ou
falso,
sobre alguma
coisa”.(1990: 38). A
partir do
conceito de
performativo e
depois de
ampliar a abrangência de
suas
observações de
forma a
incluir
outros
tipos de
enunciados ‘’acionais’’,
Austin conclui
que
dizer é
sempre
fazer,
mas
nem
sempre da
mesma
forma. Pode-se
dizer alguma
coisa
que parece
ser
outra.
Segundo
Evelyne Bérard, o
dizer e o
fazer estão intimamente
ligados num
mesmo
enunciado
(2000: 23).
P:
Sim. (silêncio)
Como é
teu
irmão,
descreva-me
teu
irmão.
(Corpus
de Travail nº 3, p. 9)
Além do
conteúdo
proposicional ‘’dizer
como é o
irmão’’, o
enunciado
acima
apresenta
um
caráter (interacional)
de
injunção,
pois o
emprego do
imperativo no
enunciado do
professor dirigido ao
aluno indica
que se
trata de uma
ordem
‘’descreva-me’’. Nesse
momento
então da
aula de LE, o
professor negocia
com a
aluna a
utilização dos
adjetivos
estudados
através de
três
atos de
linguagem:
um
afirmativo ‘’sim’’,
um
com
valor de
pergunta ‘’como
é
teu
irmão e
outro
solicitativo’’descreva-me
teu
irmão’’.
Após
discriminar o performativo
do constatativo, Austin (x
conferência:
103) estabelece
distinção
entre os
três
tipos de
atos:
locutório, ilocutório e perlocutório. O
ato
locutório é o
ato de
dizer alguma
coisa. Resulta do
conjunto de
sons
articulados
para a
produção de
fonemas da
língua, é o
ato de
pronunciá-los.
O
ato
ilocutório é
aquele
que atribui ao
conjunto de
sons
articulados uma
determinada
força: de
ameaça, de
promessa, de
ordem etc.
Ou seja, é o
valor de
que se reveste
um
enunciado. Às
vezes, pode
haver num
enunciado a
superposição
de
valores
ilocutórios.
Para
ilustrar esta
questão pode-se
observar o
trecho transcrito
abaixo:
70 P:
Sim /
mas
eu /
eu
me acho
alta /
então de
toda
maneira / / (risos)
aqui
não funciona
porque
eu acho
que sou
alta.
71: Adaora:
Não
/
Gordo
(ela
faz
mímica)
72 P: Ah /
Gorda?!
73 Adaora:
Gorda /
sim.
(Corpus
de Travail nº 1 p 13)
No
trecho
acima se
observa
que na
segunda
intervenção do
professor (turno
72) há a
superposição
de
valores
ilocutórios.
Isto
porque o
enunciado
proferido
em
forma de
pergunta-exclamação tem
não
só o
sentido de uma
correção do
tipo: ‘’para
mulher se
usa
gorda’’,
mas
também de ‘’surpresa’’,
‘’indignação’’
ou ‘’recusa’’
por
parte da
professora
que, no
seu
entender, teria sido
chamada de ‘’gorda’’.
Nesse
caso,
ela negocia ao
mesmo
tempo duas
questões:
primeiro, a
correção
relativa à
concordância
nominal do
termo <<gorda>>
que está se
referindo “a
ela’’ e
segundo, a
demonstração de
sua
opinião
em
relação ao
fato de
ter sido
chamada de ‘‘gorda’’
pela
aluna.
Então, a
professora
além de
corrigi-la,
indiretamente
diz
algo do
tipo: <<
Quer
dizer
que
você
me considera
gorda? >>“.
O
ato
perlocutório é o
ato
que tenderia a
produzir
certos
efeitos
menos
diretos
sobre o
interlocutor:
questionamento,
medo,
convencimento
etc;
efeitos
que podem
realizar-se
ou
não.
Por
exemplo, ao
dar
um
conselho a
alguém (ato
ilocutório) do
tipo: ‘’Por
que
você
não vai de
carro?’’, o
enunciador pode
estar tentando (e
conseguir)
levar o
destinatário a
lhe
oferecer uma
carona (ato
perlocutório).
A
maior
contribuição
de Austin foi
ter
proposto de
forma
inequívoca
um
redimensionamento da
linguagem
no
que
diz
respeito
a
sua
natureza
e a
sua
vocação
– a
linguagem
é uma
forma
de
ação
- abandonando
assim
a
concepção
de
linguagem
como
representação
do
mundo
e do
pensamento.
A
partir do
estudo de
Austin, Searle (1982) propõe
cinco
tipos de
atos de
fala:
representativos (que
descrevem
um
fato);
diretivos
(que
levam o
interlocutor a
realizar uma
determinada
ação
futura);
comissivos (que
engajam o
locutor a
realizar uma
ação
futura);
declarativos (que
tornam
efetivo o
conteúdo do
ato) e
expressivos
(que
expressam
um
estado
psicológico,
dentre outras
contribuições).
Searle, ao
retomar a
teoria de
Austin,
também
considera
que o
ato ilocutório
pode
ser realizado de duas
formas: uma
explícita,
com o
uso de
um
performativo, e
outra
implícita,
sem o
uso de
um
performativo.Mas,
nesse
segundo
tipo,
sempre seria
possível
depreender o performativo
omitido,
como
em:
– Vamos assustá-lo. =
Eu afirmo
que vamos
assustá-lo
– Vamos assustá-lo? =
Eu pergunto se
vamos assustá-lo
– Vamos assustá-lo! =
Eu ordeno
que o
assustemos
Adotada, aperfeiçoada
ou contestada,
a
teoria
desenvolvida
por Austin e
Searle influenciou
um
grande
número de
lingüistas,
dentre
eles,
Kerbrat-Orecchioni,
especialista
em
análise
conversacional,
que utiliza
alguns de
seus
conceitos na
análise da
interação
verbal.
Em
Os
atos
de
linguagem
no
discurso,
ela faz uma
leitura de
vários
pontos do
assunto,
lembrando
que, na
comunicação,
os
enunciados
efetuados
geralmente
são
acompanhados de
gestos,
mímicos e outras
produções
corporais’’
(2001:150).
Pr:
Então, o
golfinho
avança, recua
e pode
também
descer no
mar (gestos)
e o
contrário,
pode?
Julia:
Recuar
(hesitante)
Pr:
Não,
descer e
(gestos)
Julia: Ah
sim,
subir
Pr:
Não dessa
forma.
Ele desce e
(gestos)
Fab:
Subir
Pr:
Sim, é
isso.
(Corpus
de Travail nº 2, p. 34)
Observa-se ao
longo
desse
trecho
que
o
professor
utiliza
além
dos
atos
de
linguagem
verbais,
os não-verbais
para
que
os
alunos
empreguem o
vocábulo
correspondente
(subir).
Até
os
alunos
a empregarem, o
professor
negocia a
exploração
lexical
sobretudo
fazendo
gestos.
A
partir da
explanação
feita
já é
possível
distinguir os
atos de
linguagem
verbal e
não-verbal e
suas
funções tendo
em
vista a
análise da
interação
estabelecida no
processo de
ensino /
aprendizagem.
Agora vamos
nos
ater aa
classificação dos
atos de
linguagem
verbais.
Os
atos
de
linguagem
diretos
e
indiretos
Como
já se sabe,
em
qualquer
interação
verbal, os
interlocutores
se comunicam
através da
realização de
atos de
linguagem. O
que determina
a
realização de
um
ato
direto
ou
um
indireto é
não
apenas o
tipo de
negociação
que se
pretende
estabelecer,
mas
também a
questão da
preservação
das
faces (este
assunto será
tratado
mais
adiante).
Agora será
feita a
distinção dos
dois
modos de
formulação dos
atos de
linguagem.
No
contrato
pedagógico, a
intervenção
feita
através da
realização de
ato de
linguagem
direto
ou
indireto
dependerá de
alguns
fatores,
tais
como: o
perfil do
professor, as
características
da
turma
ou do
aluno, a
situação
comunicacional, o
objetivo da
intervenção, a
estratégia
adotada, a
necessidade de
adoção de
mecanismos de
preservação
das
faces, o
tipo de
negociação etc.
A
partir da
observação de
trechos de
transcrições,
pode-se
dizer
que algumas
intervenções
tendem a
ser
feitas de
forma
mais
direta
ou
mais
indireta.
Por
exemplo, a
intervenção
elucidativa é
formada na
maioria das
vezes de
modo
direto,
pois se
por
um
lado cabe ao
professor a
tarefa de
explicar
aspectos do
funcionamento
da
língua,
por
outro
lado essa
atitude é esperada
pelo
aluno,
que a percebe
como
necessária e
positiva.
Por esta
razão o
professor pode formulá-la
de
modo
explícito /
direto.
Em
compensação, a
intervenção
corretiva
tende a
ser realizada de
forma
indireta
sobretudo
para
não
constranger
aluno
perante os
demais,
não
desmotivá-lo
ou inibi-lo
em
suas
tentativas de
expressar-se na LE.
Essas variações
são
não
apenas
possíveis,
mas
necessárias. A
língua
possibilita ao
homem
expressar-se de
diferentes
maneiras,
permitindo-lhe
conciliar ao
mesmo
tempo a
manifestação
da
intenção e a
observação dos
mecanismos de
preservação
das
faces (GOFFMAN,
1974).
Segundo Searle
(1972:52)
falar uma
língua
significa
ser
capaz de
realizar
atos de
linguagem
diretos
ou
indiretos.
O
ato de
linguagem é
direto
quando
“realizado
através de
formas
lingüísticas
especializadas
para
tal
fim:
certos
tempos
ou
modos
verbais, dadas
expressões
estereotipadas,
determinados
tipos de
entonação etc”
(KOCH, 1997:21).
Ou seja,
quando a
intenção do
falante está
explícita no
seu
enunciado,
como no
seguinte
exemplo
em
que,
por
causa do
barulho
provocado
pela
porta, o
professor intervém (intervenção
diretiva)
para
que o
aluno repita o
que disse.
55 Prof. : espere,
repita,
porque
com a
porta
eu
não
compreendi.
(Corpus
deTravail n 2, p. 57)
No
exemplo
acima,
verifica-se
que há
três
tipos de
atos de
linguagem
diretos: o
primeiro e
um
ato de
solicitação ‘’espere’’,
através do
qual o
professor interrompe o
fluxo da
fala do
aluno. O
segundo é
um
ato de
ordem
(‘’repita’’) o
qual constitui
o
ato de
linguagem
principal dessa
intervenção. O
terceiro é
um
ato de
justificativa
(porque
com a
porta...).
Nesse
turno de
fala o
professor realizou
atos de
linguagem
diretos ao
negociar
com o
aluno a
tentativa de
fazer
com
que
ele repetisse
a
sua
formulação,
expressando
assim
sua
intenção
explicitamente. Tratando,
portanto, de
uma negociação de
caráter
diretivo.
O
ato de
linguagem
indireto é
segundo a
autora, ‘’ realizado
através do
recurso a
formas típicas
de
outro
tipo de
ato’’ (ibid:
22).
Quando é
proferido
um
enunciado
com
valor
indireto,
deve-se
levar
em
consideração o
conhecimento
de
mundo
ou a
prática
social,
pois
são
esses
dois
fatores
que permitirão
reconhecer a
real
força
ilocutória do
ato realizado.
A professora ao
entrar na
sala de
aula diz aos
alunos:
–
Que
bagunça
é essa? Quero a
sala
arrumada
imediatamente.
A professora formulou a
primeira
parte da
intervenção
acima
não
com o
intuito de
identificar a
desordem
propriamente
dita,
mas
sim de
manifestar
seu
desacordo
em
relação ao
estado da
sala e de
repreender os
alunos. Desse
enunciado
produzido
em
forma de
pergunta destaca-se
inequivocamente a verdadeira
força
ilocutória do
ato produzido:
a de uma
repreensão.
Em
seguida,
ela profere
um
enunciado de
tipo
declarativo: << Quero a
sala arrumada
imediatamente.
>>,
cujo
conteúdo
proposicional corresponde a
manifestação
de uma
vontade,
mas
que é de
fato uma
ordem
para arrumarem a
sala.
Este é
seu
valor
ilocutório.
Já no
trecho transcrito a
seguir, verifica-se
que o
professor intervém a
fim de
corrigir o
aluno.
4
Gada:
Sim,
quando
eu cheguei
aqui na
França,
eu entrei
ao
supermercado.
5 P:
Eu entrei
NO
supermercado.
6
Gada:
Eu entrei no
supermercado e
eu
não
falava
nada.
(Corpus
de Travail n 3, p. 105)
Nessa
intervenção, o
professor corrige o
aluno
indiretamente.
Ao
retomar a
fala do
aluno
corrigindo a
preposição <<
eu entrei NO
supermercado>>,
fica
implícito
para o
aluno
que a
regência do
verbo
entrar é <<em>>.
Cabendo,
então, ao
aluno
reconhecer a
força
ilocutória (de
correção) do
ato
indireto
produzido
pelo
professor, haja
vista
que
ele pronuncia
o
segmento
passível de
correção de
forma
mais
enfatizada.
Assim,
quando o
locutor
realiza
um
ato de
linguagem
indireto, tem
em
mente
um
objetivo
que será
captado se o
destinatário
for
capaz de
apreender
seu
valor
ilocutório. Se o
interlocutor
não
reconhecer a
força
ilocutória, o
ato será
inócuo, o
que pode
ser
observado no
seguinte
exemplo:
Num
estágio
de
verão
de
professores
de
francês,
um
professor
marroquino,
ao dirigir-se a uma professora
brasileira,
lhe
diz:
–
Você
vale
muitos
camelos.
–
Mal-educado,
retruca a
gaúcha.
Por
ignorar
a
cultura
marroquina,
a
brasileira
não
foi
capaz
de
captar
a
intenção
do
professor
(que,
ao
realizar
tal
ato,
almejava elogiá-la).
Como
não
reconheceu a
força
ilocutória do
ato,
o
efeito
produzido foi o de
insulto,
de uma
ofensa
de
tal
forma
que
suscitou a
réplica
(mal-educado),
por
parte
dela.
Observa-se,
então,
que é o
conteúdo
proposicional
juntamente
com o
contexto
situacional
que tornam
saliente a
forca
ilocutória, conferindo ao
enunciado
um
determinado
sentido. O
ato de
linguagem,
enquanto
conceito
pertinente ao
estudo de
comunicação,
revela-se
central
dentro da
perspectiva
interacionista.
A
partir da
distinção das
duas possibilidades de
formulação dos
atos de
linguagem
realizados
durante a
intervenção
didática, será apresentada
a
seguir a
divisão dos
atos de
linguagem
indiretos
em
convencionais
e não-convencionais.
Os
atos
de
linguagem
indiretos
Pode-se
aprofundar
um
pouco
mais a
reflexão
sobre os
atos de
linguagem
tentando
verificar, do
ponto de
vista
interpretativo,
em
que
medida o
valor
ilocutório atribuído aos
atos de
linguagem
indiretos é
fruto da
decodificação (consagrada e reconhecível
socialmente)
ou de
um
processo
associativo-inferencial. Nessa
ótica, os
atos de
linguagem
indiretos
podem
ser de
dois
tipos: os
convencionais
e os não-convencionais.
O
ato
indireto
é
convencional
quando é
realizado
indiretamente
e faz
parte das
convenções de
uma língua-cultura.
Sua
interpretação
não exige
esforço
suplementar
por
parte do
destinatário.
É
codificado.
Para
que o
destinatário
perceba a
força
ilocutória pretendida
pelo
locutor,
basta
seguir as
convenções.
8 Sylvia: ‘’eu
não tem guma
simpatia
por
ela’
9 P:
eu
não
tenho NENHUMA
10 Sylvia:
eu
não tenho
neguma
11 P:
eu
não
tenho NENHUMA
12 Sylvia: NENHUMA
13 P: m m m, ....
simpatia
…
(Corpus
deTravail n 3, p.77)
Nesse
trecho,
em
suas duas
primeiras
intervenções,
o
professor realiza
dois
atos de
linguagem
indiretos
convencionais.
O
primeiro é interpretado
pelo
aluno
como uma
correção da
forma do
vocabulário ‘’nenhuma’’ e
o
segundo
trata-se
também de uma
correção,
mas
agora da
sua
pronúncia.
E se o
aluno
não for
capaz de
captar o
valor
ilocutório do
enunciado e
proceder respondendo <<neguma>>,
e se
por
sua
vez o
professor
também
não
perceber
que
ele está
agindo dessa
forma
porque
não captou o
valor
ilocutório do
enunciado,
neste
caso, será
certamente
considerado
um
provocador
ou
então
alguém
que
não domina
bem as
regras da
língua
segundo
Kerbrat-Orecchioni (2001:39). Na
verdade, na
prática
social, às
vezes,
um
enunciado se
apresenta
com uma
feição (uma
pergunta,
por
exemplo) e
corresponde a
um
outro
ato de
linguagem (uma
ordem,
por
exemplo).
O
ato
indireto é
não-convencional
quando o
ato de
linguagem
formulado
indiretamente
escapa dos
padrões
convencionais,
dos
enunciados
proferidos
convencionalmente.
69 P:
Um … E os
pais,
qual é a
profissão
deles?
Você
INVENTA,
TANTO
FAZ.
Então
qual é a
profissão
deles ?(risos
e
comentários
inaudíveis de
Ana)
AJUDEM-NA,
VOCÊS SABEM,
vocês podem
ajudá-la
... à
Ana,
seu
pai,
qual é a
profissão
dele?
(Corpus
de Travail nº 3, p.7)
Nesse
exemplo,
em
que o
professor
tenta
fazer
com
que o
aluno produza
frases
para
empregar o
vocabulário estudado
em
aula
anterior,
um dos
atos
realizados é
indireto
não-convencional.
Quando o
professor formulou o
enunciado: <<
você
inventa,
tanto faz>>,
não o fez no
intuito de
emitir
simplesmente
sua
opinião
ou
indiferença,
mas
sim de
negociar a participação do
aluno
para
que se
expressasse,
mesmo
que dizendo
coisas
não-verdadeiras.
Embora se
saiba
que
durante a
aula de LE
são convocadas
em
vários
momentos
situações de
comunicação
ficcionais,
não é
um
fato
freqüente o
professor
em
seu
discurso
solicitar explicitamente
ao
aluno
que diga
qualquer
coisa (<<
tanto faz >>),
contanto
que fale,
ou seja, o
que interessa
é
que
ele (o
aluno) produza
enunciados na
LA.
Assim,
verifica-se
que
durante o
processo de
ensino /
aprendizagem, o
professor negocia
com o
aluno
etapas da
aquisição da LE de
diferentes
formas.
Para
tal, muitas
vezes, realiza
atos de
linguagem
indiretos,
visando
preservar a
face do
aluno e, ao
mesmo
tempo,
estimulá-lo a expressar-se na LA.
Bibliografia
AUSTIN, J. L.
Quando
dizer é
fazer.
Porto
Alegre:
Artes Médicas,
1990.
BARCELLOS, Renata da Silva de. A negociação na
aula de FLE. Niterói.
Universidade
Federal
Fluminense, 2003. [Dissertação
de
Mestrado].
CERVONI, Jean.
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São Paulo:
Ática, 1989.
CICUREL, Francine.
CEDISCOR
Corpus
de travail. Université de Paris III,
Sorbonne Nouvelle.
––––––.
Parole sur parole
ou
le métalangage en
classe de langue.
Paris: CLE International, 1985.
DUCROT, Oswald. O
dizer e o
dito.
Campinas:
Pontes,
1987.
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