Culinária e mídia
reflexões textuais e discursivas

Silvana Siqueira Eduardo (UFF)

Considerações iniciais

Neste artigo, analisaremos publicações especializadas em culinária, adquiridas em bancas de jornais e revistas entre abril e junho de 2003, das mais populares à mais sofisticada, a fim de se desvendar a identidade do seu leitor.

Como referência teórica, utilizaremos o contrato de comunicação preconizado por Charaudeau(1996) - em que parceiros se unem por um contrato de interesses mútuos - e as noções de cena enunciativa e ethos propostas por Maingueneau(2002).

O contrato de comunicação

Charaudeau (1996:35) concebe a teoria do discurso como um “jogo de comunicação”, no qual participam quatro protagonistas que se articulam em dois circuitos de produção: o externo e o interno.

No circuito externo, encontram-se os parceiros, interlocutores, que agem como seres sociais e possuidores de intenções - o sujeito comunicante e o interpretante.

No circuito interno do ato de linguagem, situam-se os protagonistas, os intralocutores, os sujeitos - seres de fala, responsáveis por seu ato de comunicação - o sujeito enunciador e o destinatário.

Neste jogo, o sujeito comunicante constrói uma imagem de um sujeito enunciador que esteja de acordo com a sua finalidade de comunicação, ao mesmo tempo que imagina um leitor ideal para quem escreve (sujeito destinatário), a fim de que possa alcançar os seus objetivos. Da mesma forma, no processo de interpretação, o sujeito interpretante, a partir da imagem construída do sujeito enunciador, formula hipóteses sobre o sujeito comunicante.

Também em relação à revista culinária, observamos a encenação de parceiros, unidos por um contrato de interesses mútuos.

No circuito externo, a revista é o “objeto de troca”, que representa enriquecimento para o editor e aquisição de um bem para o consumidor. De um lado, há o editor da revista culinária (sujeito-comunicante), que tem o objetivo primeiro da venda. Do outro, há o leitor, o consumidor (sujeito interpretante), que tem o interesse despertado pela publicação - e a adquire.

Quanto ao circuito interno das publicações analisadas, foi cuidadosamente construída a imagem de um editor (Receitas & Cia, Ana Maria Receitas e Alta Gastronomia) ou de um redator (Cozinhando com Malu) amigo, benfeitor, pronto para satisfazer as vontades - explícitas ou implícitas - de um sujeito destinatário, construído como um “alguém” que tem necessidades e urgência em preenchê-las, sob pena de frustração. A satisfação plena é, então, atingida com a compra da revista e o conseqüente acesso às receitas. Exemplos:

Para agradar a todos os gostos, essa edição de Cozinhando com Malu está trazendo vários tipos de receitas. O melhor é que você pode fazer todas elas rapidinho e aproveitar o tempo que sobrar para curtir a família. Com essas delícias, todo mundo vai ficar feliz e pedir mais um pedaço. Experimente!

(Cozinhando com Malu, nº 18, p.2)

Com as receitas da referida edição, a leitora, além de fazer felizes as pessoas que ama, também experimentará tal sentimento, pois os familiares apreciarão as “delícias” preparadas por ela. E ainda sobrará um “tempinho” para estar com a família.

Você programou um almoço ou jantar em sua casa, mas ainda não sabe ao certo qual o cardápio que irá oferecer aos convidados? Bom, então, esta edição de Receitas & Cia é tudo o que você vai precisar para elaborar pratos deliciosos. Como você verá nas páginas seguintes, nós não esquecemos de nada: desde sugestões leves, para serem servidas como entrada, até sobremesas deliciosas. (...)

(Receitas & Cia, nº25, p.2)

Sem sombra de dúvida, com a ajuda de Receitas & Cia, a leitora será muito bem-sucedida no almoço ou jantar oferecido aos convidados - é o que garante o texto.

Entretanto, a publicação das receitas pode condicionar-se a outros fatores. Leitores podem estar, no momento, interessados em fabricá-las artesanal e /ou comercialmente. O discurso da revista também prevê o fato:

Aproveite o fim de semana e faça trufas caseiras para deliciar a todos ou para vender e ganhar um dinheiro extra

(Ana Maria Receitas, 2/06/2003, p. 16)

Assim, além das diversas receitas de trufas, a Ana Maria Receitas ainda dá informes úteis (“dicas” no texto) para quem quiser vendê-las, incentivando a leitora a aumentar o orçamento doméstico.

Outros objetivos, porém, serão vislumbrados pelo sujeito enunciador. Veja-se o exemplo:

(...) Queremos ressaltar, neste número, um dos principais motivos de cozinhar: a sedução.(...)

Ninguém resiste a um jantar romântico preparado pelas próprias mãos. Podem acreditar!

(Alta Gastronomia, n°23, p.3)

Com a proximidade do “Dia dos Namorados”, o leitor pode contar, então, com a preciosa ajuda de Alta Gastronomia para seduzir a pessoa amada.

Finalmente, esquematizando os dois circuitos, teríamos:

CIRCUITO EXTERNO

SUJEITO COMUNICANTE SUJEITO INTERPRETANTE
Editor Leitor-consumidor

CIRCUITO INTERNO

SUJEITO ENUNCIADOR SUJEITO DESTINATÁRIO
Imagem do editor ou do redator (amigo e benfeitor) Leitor ideal

Charaudeau (1996:23) ancora suas reflexões sobre o exercício da palavra em um contrato de comunicação. Para a existência de tal contrato, é necessário, basicamente, que os dois parceiros do intercâmbio se reconheçam mutuamente em seu papel de interlocutante (um EU não existe sem um TU) e que possuam, em comum, um mínimo de saberes colocados em jogo no ato do intercâmbio linguageiro.

No ato de comunicação, o sujeito falante precisa ser reconhecido pelo outro como digno de ser escutado - ou, no caso sob crivo, de ser lido. Só então será possível atribuir uma pertinência intencional, fundada na razão, ao seu projeto de fala. Para que ele tenha o direito à palavra, faz-se necessário que possua LEGITIMIDADE e que adquira CREDIBILIDADE.

Charaudeau (1996:33) explica

- que a legitimidade é pré-determinada e não negociável no que ela é dada ao sujeito (seja por efeito - “ele fala como um X” - seja por inferência - “Eu sei que ele é um X”), a partir da posição que ele ocupa nas diferentes redes de práticas sociais. Essa legitimidade pode apoiar-se sobre uma autoridade que precede do Saber e do Poder. Dir-se-á que posição confere ao sujeito comunicante uma identidade socioinstitucional que só pode ser julgada em relação com o seu estatuto linguageiro.

- que a credibilidade, em troca, não é pré determinada. Ela não é dada, mas adquirida, e pode ser, a todo o momento, rediscutida. Ela representa uma capacidade de capitalizar uma autoridade de fato, pela demonstração de um saber fazer (competência). Ela é, dessa maneira, fundadora do direito à palavra, já que a legitimidade tem necessidade de ser confirmada por ela e, às vezes, esta pode ser rediscutida por aquela.

Uma revista culinária é legitimada por um estatuto de SABER, ao mostrar que o seu propósito está ligado a um determinado universo de discurso. Ela se propõe a ensinar a preparar receitas, porque detém tal conhecimento, procurando demonstrar isso logo na capa da publicação, ilustrada por pratos coloridos e apetitosos.

Legitima-se , também, por um estatuto de PODER: é um veículo midiático - o que lhe dá um status específico -, cujo papel a sociedade já reconhece.

A credibilidade relaciona-se com o SABER FAZER. É o reconhecimento que permite julgar o sujeito competente em sua ação de sujeito que comunica. As publicações analisadas propõem-se a ensinar a fazer refeições ligeiras, econômicas, sofisticadas etc. Para que tenham credibilidade, utilizam-se de recursos como: (a) apresentação de ilustrações atraentes dos pratos que ensinam a confeccionar; (b) afirmação de que as receitas foram previamente testadas e aprovadas; (c) colaboração de chefs famosos, culinaristas, engenheiros de alimentos e cozinhas experimentais e (d) indicação do tempo em que a publicação circula no mercado. Ou seja: estratégias que atestam a sua aceitação e a existência para um público fiel.

Logo, a credibilidade da revista confirma a sua legitimidade. Se aquela for abalada, esta precisará ser reavaliada.

A cena enunciativa e a noção de ethos

Segundo Maingueneau (2002:87), “um texto não é um conjunto de signos inertes, mas o rastro deixado por um discurso em que a fala é encenada”.

Dependendo do ponto de vista, três podem ser as cenas de enunciação de um texto: (a) a cena englobante, que corresponde ao tipo de discurso; (b) a cena genérica, que corresponde ao gênero de discurso e (c) a cenografia, que é a cena construída pelo texto.

A cena englobante e a cena genérica compõem o quadro cênico do texto, no qual o leitor deve situar o enunciado, para que seja capaz de reconhecer o seu papel em tal contrato de comunicação, bem como identificar a finalidade com que o texto foi organizado. Sabendo o que esperar dele, terá condições de construir adequadamente o seu sentido.

Quando o leitor recebe o texto, confronta-se, primeiramente, não com o quadro cênico, mas com a cenografia (forma como é apresentado), da qual um discurso (conteúdo) não pode ser dissociado. Aquela é cuidadosamente preparada em função deste, harmonizando-se com ele, implicando um processo de enlaçamento paradoxal: se o leitor aceitar o lugar estabelecido para ele naquela cenografia, isto é, se o objetivo de convencer for alcançado, a cenografia legitima o enunciado que, por sua vez, também a legitima.

Em relação ao nosso trabalho, os parceiros devem se posicionar no seguinte quadro cênico: o da receita culinária (cena genérica), encontrada em revistas culinárias (cena englobante). Desta forma, o leitor reconhecerá o papel que lhe cabe neste contrato de comunicação e, assim, construirá adequadamente o sentido do texto.

O gênero receita culinária limita-se ao cumprimento de sua cena genérica: há um enunciador, investido pelo estatuto do saber e do poder, que se põe na posição daquele que está habilitado a instruir, a orientar o destinatário (leitor) a fazer com sucesso o prato escolhido. Este coloca-se na posição de alguém que deve obedecer às instruções do enunciador, se seu objetivo for, de fato, pôr em prática com eficiência a receita culinária.

O enunciado - além de ser um produto da enunciação que implica uma cena - também precede de um enunciador, a quem se atribui um caráter (conjunto de traços psicológicos) e uma corporalidade (conjunto de traços físicos e indumentários).

Quando o sujeito comunicante se projeta na imagem do sujeito enunciador, ele tem a finalidade de persuadir o sujeito interpretante. Para tal, usará de artifícios, a fim de conquistá-lo. Através da sua enunciação, dará “pistas” que revelarão a sua personalidade (ethos), cabendo ao sujeito interpretante atribuir-lhe caráter e corporalidade. Ao se identificar com a imagem do enunciador, une-se, ao mesmo tempo, à do sujeito destinatário criada para ele e se inscreve, então, no mundo que lhe foi construído.

Corpora

Para o presente trabalho, foram analisadas as revistas Cozinhando com Malu, Receitas & Cia, Ana Maria Receitas e Alta Gastronomia.

Cozinhando com Malu é uma publicação mensal da Editora Alto Astral, que está no terceiro ano de circulação no mercado e que custa R$0,90. Distribuem-se pelas suas 14 páginas um editorial, receitas de salgados, sobremesas e pratos light, todas fáceis de fazer, rápidas, baratas e saborosas, segundo a editora de núcleo de redação, Rosane Coutinho, que busca a empatia dos leitores, ao procurar ver o mundo na perspectiva deles, como se observa no seguinte editorial:

Quem disse que, para fazer receitas gostosas, você precisa gastar mais no supermercado ou fazer aqueles pratos difíceis? Nesta edição de Cozinhando com Malu, você vai encontrar receitas rápidas de fazer, baratas e de dar água na boca.(...)

Um beijão!

(Cozinhando com Malu, nº19, p.2)

Observamos o emprego do você, um embreante de pessoa, que visa a inscrever o leitor no texto. Logo, a enunciação estabelece com ele um modo de comunicação que o considera como participante do mundo evocado pelo texto.

São apresentadas de três a cinco receitas por página, muitas sendo concluídas na seguinte, o que evidencia a necessidade de se aproveitar cada espaço.

As receitas são divididas em duas partes: uma contendo os ingredientes e a outra, o modo de fazer. Trazem, ainda, informações adicionais, como o tempo de preparo e o rendimento do prato. As light ainda explicitam o valor calórico da unidade ou porção.

Não há referência alguma a consultores ou colaboradores responsáveis pelas receitas, talvez com o objetivo de fazer crer que qualquer pessoa pode executá-las com facilidade.

Na última página, há um cupom a ser preenchido e enviado pela leitora, o que evidencia, além de uma preocupação em satisfazer o co-enunciador - já que procura conhecer as suas maiores dificuldades na cozinha e a sua opinião sobre o que mais a revista em questão poderia oferecer - o interesse em identificar o seu público, a fim de traçar o seu perfil através do conhecimento do seu sexo, idade e localização geográfica.

Receitas & Cia é uma publicação mensal da Editora Novo Mundo, com 34 páginas, que está no quarto ano de circulação no mercado e que custa R$1,90. Traz um editorial, assinado pela editora Dulce Marli Kernbeis, que se dirige à leitora de uma maneira bastante informal e íntima. Na edição analisada (nº 36), com a finalidade de inscrever o co-enunciador no texto, chama-o de “você” e ainda utiliza “a gente” com o objetivo de provocar a sua empatia, induzindo-o a compartilhar da mesma opinião da enunciadora:

Só tem coisa boa

As temperaturas mal começaram a baixar e a gente já está com aquela vontade de preparar comidas mais substanciosas, como uma carne bem suculenta, não é verdade? Para que você não fique apenas com vontade, nesta edição trazemos várias sugestões tentadoras. Do frango ao pernil, você vai encontrar receitas para agradar a todos os paladares. Para acompanhar essas delícias incluímos saborosos molhos. Confira! (...)

(Receitas & Cia, nº 36, p.2)

Em seguida, apresenta um índice, que consta de receitas de carnes e molhos, de risotos, de sopas, de doces e dicas de cozinha. Para cada uma das seções das receitas apresentadas, há um texto introdutório, intitulado e acompanhado de ilustração. Há cerca de três ou quatro receitas por página, que às vezes continuam na seguinte. São raras a ilustrações de pratos e, quando existe, percebe-se que não há grande preocupação quanto à sua apresentação.

Além de oferecer receitas simples e fáceis de preparar - todas compostas de duas partes (uma com a lista dos ingredientes e a outra com o modo de fazer), trazendo informações quanto ao rendimento e ao tempo de preparo de cada prato, ainda apresenta a seção “Dicas de Cozinha”, que objetiva a facilitar a vida da leitora, levando-a ao sucesso na confecção dos seus pratos:

Para a elaboração das receitas, a publicação conta com a consultoria de uma culinarista e com a colaboração da Cozinha Experimental Nestlé e de uma engenheira de alimentos.

Assim como a revista analisada anteriormente, conclama o leitor a preencher e a enviar um cupom, cuja finalidade é identificar o seu sexo, idade e localização geográfica, bem como a de informar ao editor sobre o que não lhe agradou na edição em questão, o tipo de receita que gostaria de ver publicada e a sua opinião quanto à facilidade ou à dificuldade de compreensão das receitas.

Ana Maria, cujo slogan é “sua melhor amiga” e custa R$ 1,99, é uma publicação semanal da Editora Abril. Circula há seis anos no mercado e tem uma tiragem de 301.955 exemplares.

O editorial (“Nosso cantinho”) é intitulado “Bate-papo com Gisela”, cuja fotografia surge estampada no alto da página. Na edição de 23/06/2003 da revista, a enunciadora, que se dirige com intimidade à leitora, expõe os seus sentimentos, angústias e temores diante de certas situações da vida, sensações também experimentadas pelas leitoras (e por qualquer mortal!). Desta forma, o sujeito da enunciação visa a provocar uma identificação da co-enunciadora com a enunciadora em cena. O bate-papo inicia-se com um “Olá, leitora” (o destinatário é uma pessoa do sexo feminino) e é concluído com “Um beijo e fique com Deus”.

A publicação preocupa-se com sua leitora, apresentando matérias que dizem respeito à sua saúde, ao seu prazer, ao seu guarda-roupa, ao seu bem-estar físico e emocional e aos seus direitos. Também informa sobre o que acontece nas novelas e nos bastidores da fama, assunto que muito interessa ao seu público -alvo.

A revista ainda oferece um encarte de receitas gratuito, que já completou dois anos de circulação: Ana Maria Receitas. Este suplemento de 18 páginas, ao contrário do que se espera, não vem dentro da revista (principal), mas externamente, sobrepondo-se à sua capa, funcionando como um atrativo para a aquisição daquela. Sua finalidade é “ensinar receitas práticas e eficientes”(Ana Maria, nº 349, p.14).

“Na sua cozinha” é uma seção em que se apresenta a cultura da safra do mês em questão, explicando as suas vantagens para a saúde, como escolhê-la e indicando o melhor mês para comprá-la, além de oferecer uma receita em que se utiliza a referida cultura.

A seção “Pratos do Brasil” apresenta o cupuaçu, informando a sua procedência, o significado do seu nome e as vantagens da sua utilização, além de oferecer a receita de “torta de cupuaçu com merengue”.

Em seguida, oferece sugestões de cardápios para serem aproveitados de segunda a sexta-feira, em que se sugere o prato principal, o acompanhamento, a salada, a bebida e a sobremesa, com receitas do chef Tomaz Tacla - que é capaz de fazer “deliciosos croquetes” com sobras de um prato apresentado em uma edição anterior (Ana Maria Receitas, 108, p.7). A leitora também é autora de uma das receitas publicadas e ilustradas, tendo, desta forma, o seu ethos valorizado. Para o final de semana, não é sugerido um cardápio completo, como ocorre nos outros dias, mas um ou outro prato, seguido da indicação minuciosa do seu preparo.

Cada página do suplemento apresenta a ilustração bastante colorida e atraente das receitas, todas testadas e aprovadas e divididas em duas partes: a relação dos ingredientes e o modo de fazer. Informam-se, também, o rendimento e o tempo de preparo. Há, ainda, dicas de substituição de ingredientes, de reaproveitamento e de como deixar o prato mais saboroso.

Alta Gastronomia é uma publicação, inicialmente bimestral e atualmente mensal da Editora AW, com uma tiragem de 45 mil exemplares. Possui 70 páginas e é impressa em papel de excelente qualidade.

Apresenta um editorial, assinado pelo editor Paulo Milreu, no qual se evidencia a preocupação em satisfazer os leitores:

(...) O leitor da Alta Gastronomia pode contar com uma equipe em busca constante da melhoria e, ao mesmo tempo, feliz com o resultado alcançado dentro de uma serena harmonia. (...)

Enfim, quando entregamos mais um exemplar da Alta Gastronomia aos nossos leitores, ficamos satisfeitos com mais uma etapa alcançada (...)

Bom apetite!

(Alta Gastronomia, nº 22, 2003)

O sumário traz, além do título das receitas e o nome dos respectivos chefs, uma série de temas, devidamente ilustrados, a serem tratados na edição. Em seguida, há uma seção intitulada “Foyer”, em que se apresentam notícias do mundo gastronômico.

Os temas do nº 22 se referem (1) à história do Strogonoff; (2) à carne de búfalo, levando o leitor a conhecer mais sobre ela; (3) a um dado restaurante de São Paulo, que oferece “delícias da cozinha italiana moderna”; (4) ao funghi porcini, reconhecido na gastronomia como uma das melhores variedades de cogumelos; (5) ao grão de mostarda; (6) ao kiwi, apresentando informações relativas à sua história, ao seu plantio e armazenamento; (7) ao vinho Jerez; (8) à carne de rã e (9) aos vinhos neozelandeses. Seguem-se às matérias as receitas relativas aos temas tratados (com exceção dos vinhos neozelandeses), cada qual ocupando de uma a três páginas, acompanhadas da fotografia do prato artisticamente montado, assinadas por um chef que, além de um nome, possui um rosto - este estampado junto à sua receita.

Os pratos apresentados, em geral, são trabalhosos, sofisticados, artisticamente montados e ilustrados em até duas páginas. A maior parte das receitas, cada qual ocupando uma página inteira, está dividida em três partes: a lista dos ingredientes, o modo de preparo específicos de cada etapa de elaboração do prato e a sua montagem. Informa, ainda, o seu rendimento.

O leitor desta publicação não é apenas aquele que se interessa por receitas e por sua confecção, mas é alguém que, sobretudo, ama a alta gastronomia e pretende ter acesso a uma cultura gastronômica.

As receitas: critérios de seleção

Para o presente estudo, selecionamos receitas de pratos principais, todos preparados dom carne bovina:

Na revista Cozinhando com Malu, oferece-se a receita de “carne na cerveja” que, além de listar os ingredientes - não necessariamente apresentados na ordem em que serão utilizados -, explicita o modo de preparo.

O prato, elaborado com patinho picado e cerveja, na panela de pressão, é bastante simples e não oferece dificuldades para sua confecção. Utilizam-se ingredientes industrializados, como o purê de tomate e os cubos de caldo de carne. Os temperos devem ser adicionados por quem tem alguma prática de cozinha, já que o termo “a gosto” deixa em aberto os ingredientes a serem utilizados e suas respectivas quantidades.

É interessante observar que, na confecção do prato, em vez de se reduzir o caldo acumulado, este deve ser engrossado com maisena, técnica popular e bastante prática.

Em Receitas & Cia, ensina-se a preparar um “estrogonofe de carne” (note a grafia “estrogonofe” aportuguesada) com contra-filé (não é a carne mais adequada para este prato por conter uma capa de gordura), cortado em tirinhas. Os ingredientes não são apresentados na ordem de sua utilização na receita. Alguns, como o caldo de carne, devem ser adquiridos prontos - chega-se a esta conclusão por não ser explicitado o seu modo de preparo. O creme de leite utilizado é o de lata e o conhaque deve ser incorporado ao prato ao final de seu cozimento. A maisena também é utilizada para engrossar o caldo. Há instruções desnecessárias, como abrir a panela para acrescentar ingredientes.

Ana Maria Receitas oferece uma receita fácil de fazer: “cozido de músculo com paio”. Apesar de os ingredientes não serem enumerados na ordem de sua utilização, os passos para a confecção da receita são bem explicados. Há instruções direcionadas a quem tem pouca prática na cozinha, como, por exemplo, quando o interlocutor é orientado a esperar acabar a pressão da panela para abri-la e a adicionar água quente para o caso de a carne necessitar de mais cozimento.

A publicação Alta Gastronomia apresenta a receita de um “strognoff de carne” (prato de origem russa; originalmente, stroganov) com pinhão. A carne utilizada para a realização do prato é o “filet mignon” (grafia em francês) - o corte mais caro da carne bovina, vendido em peça de aproximadamente 2 kg, muito macio, desprovido de nervos, gordura ou osso - que deve ser cortado à jullienne. A mostarda deve ser Dijon e o creme de leite , fresco. Não há informação se o molho de tomate e o molho de carne devem ser preparados especialmente para o prato ou se podem ser comprados prontos. Mas quem conhece a alta gastronomia sabe que não se usam produtos industrializados e que, para o preparo dos pratos, deve-se conhecer previamente as receitas básicas, feitas com ingredientes frescos e de excelente qualidade. Pede-se, ainda, pinhão (semente comestível da pinha do pinheiro-paraná, encontrada na região Sul do país, típica do inverno), que já deve estar cozido, o que exige um conhecimento prévio do cozinheiro. Este prato não utiliza champignons, como era de se esperar. Diferentemente do estrogonofe apresentado em Receitas & Cia, não se acrescenta água e não se engrossa o caldo com maisena. O “cognac”, nesta receita, é utilizado para flambar a carne.

Há alguns termos que exigem uma certa intimidade com a arte culinária, como “saltear”(processo culinário que consiste em frigir rapidamente carnes, aves, legumes ou frutas em fogo forte e com gordura, sacudindo a panela para que o alimento não grude no fundo) e “flambar” (consiste em adicionar uma certa quantidade de bebida alcoólica no alimento e atear fogo em seguida), pois a receita não explica como proceder nestes casos. Há a preocupação, também, com a decoração do prato e com o acompanhamento.

Os ingredientes, em sua maioria, são apresentados seguidos de algum tipo de especificação (azeite de oliva, mostarda Dijon, creme de leite fresco) ou acompanhados de uma forma nominal, exprimindo fundamentalmente o estado de uma ação acabada (filet mignon cortado à julienne, cebola grande picada, dentes de alho picados, pinhão cozido).

Na receita analisada, observamos o uso de termos tomados da língua francesa, cujo significado deve ser conhecido por aquele que confeccionará o prato, que deve demonstrar, além de conhecimento de tais termos ligados à gastronomia, experiência na arte de cozinhar.

Conclusão

Observando as estratégias utilizadas pelo editor da revista, materializadas na figura do enunciador, a fim de atingir o consumidor (sujeito interpretante), chegamos a uma imagem deste consumidor - o sujeito destinatário - em função da qual se dirigem as publicações sob crivo.

Em Cozinhando com Malu e Receitas & Cia, o consumidor é aquele que procura uma publicação que, além de não onerar o seu orçamento , ofereça receitas práticas, rápidas e econômicas, que facilitem o seu dia-a-dia e que o leve a “receber muitos elogios”. Geralmente adquire a publicação com o intuito de confeccionar as receitas.

No caso de Cozinhando com Malu, os ingredientes são facilmente encontrados no mercado e as instruções são objetivas, o que, certamente, levará ao sucesso na confecção da receita.

Já em Receitas & Cia, apesar de os ingredientes também serem facilmente encontrados, os passos para a confecção das receitas apresentam falhas, que podem levar ao insucesso no seu preparo.

O leitor de Ana Maria Receitas, além de buscar receitas também rápidas, práticas e econômicas - cujos ingredientes encontram-se facilmente e cujas instruções caracterizam-se por serem claras e explicadas -, pode aproveitar a sugestão de cardápios para a semana, o que facilita o seu dia-a-dia. Além disso, ainda dispõe da revista Ana Maria, que aborda assuntos diversos e do seu interesse.

Já a Alta Gastronomia, diferentemente das outras (que são revistas de culinária), configura-se como uma revista de gastronomia, termo este empregado com o sentido de “arte do bem comer e do saber escolher a melhor bebida para acompanhar a refeição” (Gomensoro, 1999:195).

O seu leitor é aquele que percebe “a diferença entre comer e saborear” e que dispõe de poder aquisitivo para obter os ingredientes, muitas vezes importados e difíceis de se adquirir. Além disso, interessa-se em adquirir uma cultura gastronômica: almeja conhecer as novidades do mundo gastronômico, a história dos ingredientes utilizados na confecção dos pratos e os bons vinhos, próprios para acompanhá-los. Caso resolva pôr em prática as receitas oferecidas, certamente será bem sucedido, por ter conhecimento necessário do significado de palavras estrangeiras (especialmente do francês ou do italiano), experiência na confecção de pratos mais sofisticados e domínio de variadas técnicas culinárias.

Finalmente, concluímos que, embora em uma escala variável quanto ao grau de conhecimento, há uma exigência implícita em comum nas publicações analisadas: para a realização de suas receitas, é necessário ter-se alguma experiência anterior na arte de cozinhar. Sem tal vivência, dificilmente conseguir-se-á sucesso na elaboração de um prato.

BIBLIOGRAFIA

CHARAUDEAU, Patrick. “Para uma nova análise do discurso”. In: CARNEIRO, Agostinho Dias (org.). O discurso da mídia. Rio de Janeiro, Oficina do Autor, 1996. (Série Investigações Lingüísticas, vol. 2).

GOMENSORO, Maria Lucia. Pequeno Dicionário de Gastronomia. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.

------. Termos-chave da análise do discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2000.

MONNERAT, Rosane Mauro. A publicidade pelo avesso: propaganda, ideologias e mitos e a expressão da idéia - o processo de criação da palavra publicitária. Niterói: EDUFF, 2003.

Culinária e mídia

reflexões textuais e discursivas

Silvana Siqueira Eduardo (UFF)

Considerações iniciais

Neste artigo, analisaremos publicações especializadas em culinária, adquiridas em bancas de jornais e revistas entre abril e junho de 2003, das mais populares à mais sofisticada, a fim de se desvendar a identidade do seu leitor.

Como referência teórica, utilizaremos o contrato de comunicação preconizado por Charaudeau(1996) - em que parceiros se unem por um contrato de interesses mútuos - e as noções de cena enunciativa e ethos propostas por Maingueneau(2002).

O contrato de comunicação

Charaudeau (1996:35) concebe a teoria do discurso como um “jogo de comunicação”, no qual participam quatro protagonistas que se articulam em dois circuitos de produção: o externo e o interno.

No circuito externo, encontram-se os parceiros, interlocutores, que agem como seres sociais e possuidores de intenções - o sujeito comunicante e o interpretante.

No circuito interno do ato de linguagem, situam-se os protagonistas, os intralocutores, os sujeitos - seres de fala, responsáveis por seu ato de comunicação - o sujeito enunciador e o destinatário.

Neste jogo, o sujeito comunicante constrói uma imagem de um sujeito enunciador que esteja de acordo com a sua finalidade de comunicação, ao mesmo tempo que imagina um leitor ideal para quem escreve (sujeito destinatário), a fim de que possa alcançar os seus objetivos. Da mesma forma, no processo de interpretação, o sujeito interpretante, a partir da imagem construída do sujeito enunciador, formula hipóteses sobre o sujeito comunicante.

Também em relação à revista culinária, observamos a encenação de parceiros, unidos por um contrato de interesses mútuos.

No circuito externo, a revista é o “objeto de troca”, que representa enriquecimento para o editor e aquisição de um bem para o consumidor. De um lado, há o editor da revista culinária (sujeito-comunicante), que tem o objetivo primeiro da venda. Do outro, há o leitor, o consumidor (sujeito interpretante), que tem o interesse despertado pela publicação - e a adquire.

Quanto ao circuito interno das publicações analisadas, foi cuidadosamente construída a imagem de um editor (Receitas & Cia, Ana Maria Receitas e Alta Gastronomia) ou de um redator (Cozinhando com Malu) amigo, benfeitor, pronto para satisfazer as vontades - explícitas ou implícitas - de um sujeito destinatário, construído como um “alguém” que tem necessidades e urgência em preenchê-las, sob pena de frustração. A satisfação plena é, então, atingida com a compra da revista e o conseqüente acesso às receitas. Exemplos:

Para agradar a todos os gostos, essa edição de Cozinhando com Malu está trazendo vários tipos de receitas. O melhor é que você pode fazer todas elas rapidinho e aproveitar o tempo que sobrar para curtir a família. Com essas delícias, todo mundo vai ficar feliz e pedir mais um pedaço. Experimente!

(Cozinhando com Malu, nº 18, p.2)

Com as receitas da referida edição, a leitora, além de fazer felizes as pessoas que ama, também experimentará tal sentimento, pois os familiares apreciarão as “delícias” preparadas por ela. E ainda sobrará um “tempinho” para estar com a família.

Você programou um almoço ou jantar em sua casa, mas ainda não sabe ao certo qual o cardápio que irá oferecer aos convidados? Bom, então, esta edição de Receitas & Cia é tudo o que você vai precisar para elaborar pratos deliciosos. Como você verá nas páginas seguintes, nós não esquecemos de nada: desde sugestões leves, para serem servidas como entrada, até sobremesas deliciosas. (...)

(Receitas & Cia, nº25, p.2)

Sem sombra de dúvida, com a ajuda de Receitas & Cia, a leitora será muito bem-sucedida no almoço ou jantar oferecido aos convidados - é o que garante o texto.

Entretanto, a publicação das receitas pode condicionar-se a outros fatores. Leitores podem estar, no momento, interessados em fabricá-las artesanal e /ou comercialmente. O discurso da revista também prevê o fato:

Aproveite o fim de semana e faça trufas caseiras para deliciar a todos ou para vender e ganhar um dinheiro extra

(Ana Maria Receitas, 2/06/2003, p. 16)

Assim, além das diversas receitas de trufas, a Ana Maria Receitas ainda dá informes úteis (“dicas” no texto) para quem quiser vendê-las, incentivando a leitora a aumentar o orçamento doméstico.

Outros objetivos, porém, serão vislumbrados pelo sujeito enunciador. Veja-se o exemplo:

(...) Queremos ressaltar, neste número, um dos principais motivos de cozinhar: a sedução.(...)

Ninguém resiste a um jantar romântico preparado pelas próprias mãos. Podem acreditar!

(Alta Gastronomia, n°23, p.3)

Com a proximidade do “Dia dos Namorados”, o leitor pode contar, então, com a preciosa ajuda de Alta Gastronomia para seduzir a pessoa amada.

Finalmente, esquematizando os dois circuitos, teríamos:

CIRCUITO EXTERNO

SUJEITO COMUNICANTE SUJEITO INTERPRETANTE
Editor Leitor-consumidor

CIRCUITO INTERNO

SUJEITO ENUNCIADOR SUJEITO DESTINATÁRIO
Imagem do editor ou do redator (amigo e benfeitor) Leitor ideal

Charaudeau (1996:23) ancora suas reflexões sobre o exercício da palavra em um contrato de comunicação. Para a existência de tal contrato, é necessário, basicamente, que os dois parceiros do intercâmbio se reconheçam mutuamente em seu papel de interlocutante (um EU não existe sem um TU) e que possuam, em comum, um mínimo de saberes colocados em jogo no ato do intercâmbio linguageiro.

No ato de comunicação, o sujeito falante precisa ser reconhecido pelo outro como digno de ser escutado - ou, no caso sob crivo, de ser lido. Só então será possível atribuir uma pertinência intencional, fundada na razão, ao seu projeto de fala. Para que ele tenha o direito à palavra, faz-se necessário que possua LEGITIMIDADE e que adquira CREDIBILIDADE.

Charaudeau (1996:33) explica

- que a legitimidade é pré-determinada e não negociável no que ela é dada ao sujeito (seja por efeito - “ele fala como um X” - seja por inferência - “Eu sei que ele é um X”), a partir da posição que ele ocupa nas diferentes redes de práticas sociais. Essa legitimidade pode apoiar-se sobre uma autoridade que precede do Saber e do Poder. Dir-se-á que posição confere ao sujeito comunicante uma identidade socioinstitucional que só pode ser julgada em relação com o seu estatuto linguageiro.

- que a credibilidade, em troca, não é pré determinada. Ela não é dada, mas adquirida, e pode ser, a todo o momento, rediscutida. Ela representa uma capacidade de capitalizar uma autoridade de fato, pela demonstração de um saber fazer (competência). Ela é, dessa maneira, fundadora do direito à palavra, já que a legitimidade tem necessidade de ser confirmada por ela e, às vezes, esta pode ser rediscutida por aquela.

Uma revista culinária é legitimada por um estatuto de SABER, ao mostrar que o seu propósito está ligado a um determinado universo de discurso. Ela se propõe a ensinar a preparar receitas, porque detém tal conhecimento, procurando demonstrar isso logo na capa da publicação, ilustrada por pratos coloridos e apetitosos.

Legitima-se , também, por um estatuto de PODER: é um veículo midiático - o que lhe dá um status específico -, cujo papel a sociedade já reconhece.

A credibilidade relaciona-se com o SABER FAZER. É o reconhecimento que permite julgar o sujeito competente em sua ação de sujeito que comunica. As publicações analisadas propõem-se a ensinar a fazer refeições ligeiras, econômicas, sofisticadas etc. Para que tenham credibilidade, utilizam-se de recursos como: (a) apresentação de ilustrações atraentes dos pratos que ensinam a confeccionar; (b) afirmação de que as receitas foram previamente testadas e aprovadas; (c) colaboração de chefs famosos, culinaristas, engenheiros de alimentos e cozinhas experimentais e (d) indicação do tempo em que a publicação circula no mercado. Ou seja: estratégias que atestam a sua aceitação e a existência para um público fiel.

Logo, a credibilidade da revista confirma a sua legitimidade. Se aquela for abalada, esta precisará ser reavaliada.

A cena enunciativa e a noção de ethos

Segundo Maingueneau (2002:87), “um texto não é um conjunto de signos inertes, mas o rastro deixado por um discurso em que a fala é encenada”.

Dependendo do ponto de vista, três podem ser as cenas de enunciação de um texto: (a) a cena englobante, que corresponde ao tipo de discurso; (b) a cena genérica, que corresponde ao gênero de discurso e (c) a cenografia, que é a cena construída pelo texto.

A cena englobante e a cena genérica compõem o quadro cênico do texto, no qual o leitor deve situar o enunciado, para que seja capaz de reconhecer o seu papel em tal contrato de comunicação, bem como identificar a finalidade com que o texto foi organizado. Sabendo o que esperar dele, terá condições de construir adequadamente o seu sentido.

Quando o leitor recebe o texto, confronta-se, primeiramente, não com o quadro cênico, mas com a cenografia (forma como é apresentado), da qual um discurso (conteúdo) não pode ser dissociado. Aquela é cuidadosamente preparada em função deste, harmonizando-se com ele, implicando um processo de enlaçamento paradoxal: se o leitor aceitar o lugar estabelecido para ele naquela cenografia, isto é, se o objetivo de convencer for alcançado, a cenografia legitima o enunciado que, por sua vez, também a legitima.

Em relação ao nosso trabalho, os parceiros devem se posicionar no seguinte quadro cênico: o da receita culinária (cena genérica), encontrada em revistas culinárias (cena englobante). Desta forma, o leitor reconhecerá o papel que lhe cabe neste contrato de comunicação e, assim, construirá adequadamente o sentido do texto.

O gênero receita culinária limita-se ao cumprimento de sua cena genérica: há um enunciador, investido pelo estatuto do saber e do poder, que se põe na posição daquele que está habilitado a instruir, a orientar o destinatário (leitor) a fazer com sucesso o prato escolhido. Este coloca-se na posição de alguém que deve obedecer às instruções do enunciador, se seu objetivo for, de fato, pôr em prática com eficiência a receita culinária.

O enunciado - além de ser um produto da enunciação que implica uma cena - também precede de um enunciador, a quem se atribui um caráter (conjunto de traços psicológicos) e uma corporalidade (conjunto de traços físicos e indumentários).

Quando o sujeito comunicante se projeta na imagem do sujeito enunciador, ele tem a finalidade de persuadir o sujeito interpretante. Para tal, usará de artifícios, a fim de conquistá-lo. Através da sua enunciação, dará “pistas” que revelarão a sua personalidade (ethos), cabendo ao sujeito interpretante atribuir-lhe caráter e corporalidade. Ao se identificar com a imagem do enunciador, une-se, ao mesmo tempo, à do sujeito destinatário criada para ele e se inscreve, então, no mundo que lhe foi construído.

Corpora

Para o presente trabalho, foram analisadas as revistas Cozinhando com Malu, Receitas & Cia, Ana Maria Receitas e Alta Gastronomia.

Cozinhando com Malu é uma publicação mensal da Editora Alto Astral, que está no terceiro ano de circulação no mercado e que custa R$0,90. Distribuem-se pelas suas 14 páginas um editorial, receitas de salgados, sobremesas e pratos light, todas fáceis de fazer, rápidas, baratas e saborosas, segundo a editora de núcleo de redação, Rosane Coutinho, que busca a empatia dos leitores, ao procurar ver o mundo na perspectiva deles, como se observa no seguinte editorial:

Quem disse que, para fazer receitas gostosas, você precisa gastar mais no supermercado ou fazer aqueles pratos difíceis? Nesta edição de Cozinhando com Malu, você vai encontrar receitas rápidas de fazer, baratas e de dar água na boca.(...)

Um beijão!

(Cozinhando com Malu, nº19, p.2)

Observamos o emprego do você, um embreante de pessoa, que visa a inscrever o leitor no texto. Logo, a enunciação estabelece com ele um modo de comunicação que o considera como participante do mundo evocado pelo texto.

São apresentadas de três a cinco receitas por página, muitas sendo concluídas na seguinte, o que evidencia a necessidade de se aproveitar cada espaço.

As receitas são divididas em duas partes: uma contendo os ingredientes e a outra, o modo de fazer. Trazem, ainda, informações adicionais, como o tempo de preparo e o rendimento do prato. As light ainda explicitam o valor calórico da unidade ou porção.

Não há referência alguma a consultores ou colaboradores responsáveis pelas receitas, talvez com o objetivo de fazer crer que qualquer pessoa pode executá-las com facilidade.

Na última página, há um cupom a ser preenchido e enviado pela leitora, o que evidencia, além de uma preocupação em satisfazer o co-enunciador - já que procura conhecer as suas maiores dificuldades na cozinha e a sua opinião sobre o que mais a revista em questão poderia oferecer - o interesse em identificar o seu público, a fim de traçar o seu perfil através do conhecimento do seu sexo, idade e localização geográfica.

Receitas & Cia é uma publicação mensal da Editora Novo Mundo, com 34 páginas, que está no quarto ano de circulação no mercado e que custa R$1,90. Traz um editorial, assinado pela editora Dulce Marli Kernbeis, que se dirige à leitora de uma maneira bastante informal e íntima. Na edição analisada (nº 36), com a finalidade de inscrever o co-enunciador no texto, chama-o de “você” e ainda utiliza “a gente” com o objetivo de provocar a sua empatia, induzindo-o a compartilhar da mesma opinião da enunciadora:

Só tem coisa boa

As temperaturas mal começaram a baixar e a gente já está com aquela vontade de preparar comidas mais substanciosas, como uma carne bem suculenta, não é verdade? Para que você não fique apenas com vontade, nesta edição trazemos várias sugestões tentadoras. Do frango ao pernil, você vai encontrar receitas para agradar a todos os paladares. Para acompanhar essas delícias incluímos saborosos molhos. Confira! (...)

(Receitas & Cia, nº 36, p.2)

Em seguida, apresenta um índice, que consta de receitas de carnes e molhos, de risotos, de sopas, de doces e dicas de cozinha. Para cada uma das seções das receitas apresentadas, há um texto introdutório, intitulado e acompanhado de ilustração. Há cerca de três ou quatro receitas por página, que às vezes continuam na seguinte. São raras a ilustrações de pratos e, quando existe, percebe-se que não há grande preocupação quanto à sua apresentação.

Além de oferecer receitas simples e fáceis de preparar - todas compostas de duas partes (uma com a lista dos ingredientes e a outra com o modo de fazer), trazendo informações quanto ao rendimento e ao tempo de preparo de cada prato, ainda apresenta a seção “Dicas de Cozinha”, que objetiva a facilitar a vida da leitora, levando-a ao sucesso na confecção dos seus pratos:

Para a elaboração das receitas, a publicação conta com a consultoria de uma culinarista e com a colaboração da Cozinha Experimental Nestlé e de uma engenheira de alimentos.

Assim como a revista analisada anteriormente, conclama o leitor a preencher e a enviar um cupom, cuja finalidade é identificar o seu sexo, idade e localização geográfica, bem como a de informar ao editor sobre o que não lhe agradou na edição em questão, o tipo de receita que gostaria de ver publicada e a sua opinião quanto à facilidade ou à dificuldade de compreensão das receitas.

Ana Maria, cujo slogan é “sua melhor amiga” e custa R$ 1,99, é uma publicação semanal da Editora Abril. Circula há seis anos no mercado e tem uma tiragem de 301.955 exemplares.

O editorial (“Nosso cantinho”) é intitulado “Bate-papo com Gisela”, cuja fotografia surge estampada no alto da página. Na edição de 23/06/2003 da revista, a enunciadora, que se dirige com intimidade à leitora, expõe os seus sentimentos, angústias e temores diante de certas situações da vida, sensações também experimentadas pelas leitoras (e por qualquer mortal!). Desta forma, o sujeito da enunciação visa a provocar uma identificação da co-enunciadora com a enunciadora em cena. O bate-papo inicia-se com um “Olá, leitora” (o destinatário é uma pessoa do sexo feminino) e é concluído com “Um beijo e fique com Deus”.

A publicação preocupa-se com sua leitora, apresentando matérias que dizem respeito à sua saúde, ao seu prazer, ao seu guarda-roupa, ao seu bem-estar físico e emocional e aos seus direitos. Também informa sobre o que acontece nas novelas e nos bastidores da fama, assunto que muito interessa ao seu público -alvo.

A revista ainda oferece um encarte de receitas gratuito, que já completou dois anos de circulação: Ana Maria Receitas. Este suplemento de 18 páginas, ao contrário do que se espera, não vem dentro da revista (principal), mas externamente, sobrepondo-se à sua capa, funcionando como um atrativo para a aquisição daquela. Sua finalidade é “ensinar receitas práticas e eficientes”(Ana Maria, nº 349, p.14).

“Na sua cozinha” é uma seção em que se apresenta a cultura da safra do mês em questão, explicando as suas vantagens para a saúde, como escolhê-la e indicando o melhor mês para comprá-la, além de oferecer uma receita em que se utiliza a referida cultura.

A seção “Pratos do Brasil” apresenta o cupuaçu, informando a sua procedência, o significado do seu nome e as vantagens da sua utilização, além de oferecer a receita de “torta de cupuaçu com merengue”.

Em seguida, oferece sugestões de cardápios para serem aproveitados de segunda a sexta-feira, em que se sugere o prato principal, o acompanhamento, a salada, a bebida e a sobremesa, com receitas do chef Tomaz Tacla - que é capaz de fazer “deliciosos croquetes” com sobras de um prato apresentado em uma edição anterior (Ana Maria Receitas, 108, p.7). A leitora também é autora de uma das receitas publicadas e ilustradas, tendo, desta forma, o seu ethos valorizado. Para o final de semana, não é sugerido um cardápio completo, como ocorre nos outros dias, mas um ou outro prato, seguido da indicação minuciosa do seu preparo.

Cada página do suplemento apresenta a ilustração bastante colorida e atraente das receitas, todas testadas e aprovadas e divididas em duas partes: a relação dos ingredientes e o modo de fazer. Informam-se, também, o rendimento e o tempo de preparo. Há, ainda, dicas de substituição de ingredientes, de reaproveitamento e de como deixar o prato mais saboroso.

Alta Gastronomia é uma publicação, inicialmente bimestral e atualmente mensal da Editora AW, com uma tiragem de 45 mil exemplares. Possui 70 páginas e é impressa em papel de excelente qualidade.

Apresenta um editorial, assinado pelo editor Paulo Milreu, no qual se evidencia a preocupação em satisfazer os leitores:

(...) O leitor da Alta Gastronomia pode contar com uma equipe em busca constante da melhoria e, ao mesmo tempo, feliz com o resultado alcançado dentro de uma serena harmonia. (...)

Enfim, quando entregamos mais um exemplar da Alta Gastronomia aos nossos leitores, ficamos satisfeitos com mais uma etapa alcançada (...)

Bom apetite!

(Alta Gastronomia, nº 22, 2003)

O sumário traz, além do título das receitas e o nome dos respectivos chefs, uma série de temas, devidamente ilustrados, a serem tratados na edição. Em seguida, há uma seção intitulada “Foyer”, em que se apresentam notícias do mundo gastronômico.

Os temas do nº 22 se referem (1) à história do Strogonoff; (2) à carne de búfalo, levando o leitor a conhecer mais sobre ela; (3) a um dado restaurante de São Paulo, que oferece “delícias da cozinha italiana moderna”; (4) ao funghi porcini, reconhecido na gastronomia como uma das melhores variedades de cogumelos; (5) ao grão de mostarda; (6) ao kiwi, apresentando informações relativas à sua história, ao seu plantio e armazenamento; (7) ao vinho Jerez; (8) à carne de rã e (9) aos vinhos neozelandeses. Seguem-se às matérias as receitas relativas aos temas tratados (com exceção dos vinhos neozelandeses), cada qual ocupando de uma a três páginas, acompanhadas da fotografia do prato artisticamente montado, assinadas por um chef que, além de um nome, possui um rosto - este estampado junto à sua receita.

Os pratos apresentados, em geral, são trabalhosos, sofisticados, artisticamente montados e ilustrados em até duas páginas. A maior parte das receitas, cada qual ocupando uma página inteira, está dividida em três partes: a lista dos ingredientes, o modo de preparo específicos de cada etapa de elaboração do prato e a sua montagem. Informa, ainda, o seu rendimento.

O leitor desta publicação não é apenas aquele que se interessa por receitas e por sua confecção, mas é alguém que, sobretudo, ama a alta gastronomia e pretende ter acesso a uma cultura gastronômica.

As receitas: critérios de seleção

Para o presente estudo, selecionamos receitas de pratos principais, todos preparados dom carne bovina:

Na revista Cozinhando com Malu, oferece-se a receita de “carne na cerveja” que, além de listar os ingredientes - não necessariamente apresentados na ordem em que serão utilizados -, explicita o modo de preparo.

O prato, elaborado com patinho picado e cerveja, na panela de pressão, é bastante simples e não oferece dificuldades para sua confecção. Utilizam-se ingredientes industrializados, como o purê de tomate e os cubos de caldo de carne. Os temperos devem ser adicionados por quem tem alguma prática de cozinha, já que o termo “a gosto” deixa em aberto os ingredientes a serem utilizados e suas respectivas quantidades.

É interessante observar que, na confecção do prato, em vez de se reduzir o caldo acumulado, este deve ser engrossado com maisena, técnica popular e bastante prática.

Em Receitas & Cia, ensina-se a preparar um “estrogonofe de carne” (note a grafia “estrogonofe” aportuguesada) com contra-filé (não é a carne mais adequada para este prato por conter uma capa de gordura), cortado em tirinhas. Os ingredientes não são apresentados na ordem de sua utilização na receita. Alguns, como o caldo de carne, devem ser adquiridos prontos - chega-se a esta conclusão por não ser explicitado o seu modo de preparo. O creme de leite utilizado é o de lata e o conhaque deve ser incorporado ao prato ao final de seu cozimento. A maisena também é utilizada para engrossar o caldo. Há instruções desnecessárias, como abrir a panela para acrescentar ingredientes.

Ana Maria Receitas oferece uma receita fácil de fazer: “cozido de músculo com paio”. Apesar de os ingredientes não serem enumerados na ordem de sua utilização, os passos para a confecção da receita são bem explicados. Há instruções direcionadas a quem tem pouca prática na cozinha, como, por exemplo, quando o interlocutor é orientado a esperar acabar a pressão da panela para abri-la e a adicionar água quente para o caso de a carne necessitar de mais cozimento.

A publicação Alta Gastronomia apresenta a receita de um “strognoff de carne” (prato de origem russa; originalmente, stroganov) com pinhão. A carne utilizada para a realização do prato é o “filet mignon” (grafia em francês) - o corte mais caro da carne bovina, vendido em peça de aproximadamente 2 kg, muito macio, desprovido de nervos, gordura ou osso - que deve ser cortado à jullienne. A mostarda deve ser Dijon e o creme de leite , fresco. Não há informação se o molho de tomate e o molho de carne devem ser preparados especialmente para o prato ou se podem ser comprados prontos. Mas quem conhece a alta gastronomia sabe que não se usam produtos industrializados e que, para o preparo dos pratos, deve-se conhecer previamente as receitas básicas, feitas com ingredientes frescos e de excelente qualidade. Pede-se, ainda, pinhão (semente comestível da pinha do pinheiro-paraná, encontrada na região Sul do país, típica do inverno), que já deve estar cozido, o que exige um conhecimento prévio do cozinheiro. Este prato não utiliza champignons, como era de se esperar. Diferentemente do estrogonofe apresentado em Receitas & Cia, não se acrescenta água e não se engrossa o caldo com maisena. O “cognac”, nesta receita, é utilizado para flambar a carne.

Há alguns termos que exigem uma certa intimidade com a arte culinária, como “saltear”(processo culinário que consiste em frigir rapidamente carnes, aves, legumes ou frutas em fogo forte e com gordura, sacudindo a panela para que o alimento não grude no fundo) e “flambar” (consiste em adicionar uma certa quantidade de bebida alcoólica no alimento e atear fogo em seguida), pois a receita não explica como proceder nestes casos. Há a preocupação, também, com a decoração do prato e com o acompanhamento.

Os ingredientes, em sua maioria, são apresentados seguidos de algum tipo de especificação (azeite de oliva, mostarda Dijon, creme de leite fresco) ou acompanhados de uma forma nominal, exprimindo fundamentalmente o estado de uma ação acabada (filet mignon cortado à julienne, cebola grande picada, dentes de alho picados, pinhão cozido).

Na receita analisada, observamos o uso de termos tomados da língua francesa, cujo significado deve ser conhecido por aquele que confeccionará o prato, que deve demonstrar, além de conhecimento de tais termos ligados à gastronomia, experiência na arte de cozinhar.

Conclusão

Observando as estratégias utilizadas pelo editor da revista, materializadas na figura do enunciador, a fim de atingir o consumidor (sujeito interpretante), chegamos a uma imagem deste consumidor - o sujeito destinatário - em função da qual se dirigem as publicações sob crivo.

Em Cozinhando com Malu e Receitas & Cia, o consumidor é aquele que procura uma publicação que, além de não onerar o seu orçamento , ofereça receitas práticas, rápidas e econômicas, que facilitem o seu dia-a-dia e que o leve a “receber muitos elogios”. Geralmente adquire a publicação com o intuito de confeccionar as receitas.

No caso de Cozinhando com Malu, os ingredientes são facilmente encontrados no mercado e as instruções são objetivas, o que, certamente, levará ao sucesso na confecção da receita.

Já em Receitas & Cia, apesar de os ingredientes também serem facilmente encontrados, os passos para a confecção das receitas apresentam falhas, que podem levar ao insucesso no seu preparo.

O leitor de Ana Maria Receitas, além de buscar receitas também rápidas, práticas e econômicas - cujos ingredientes encontram-se facilmente e cujas instruções caracterizam-se por serem claras e explicadas -, pode aproveitar a sugestão de cardápios para a semana, o que facilita o seu dia-a-dia. Além disso, ainda dispõe da revista Ana Maria, que aborda assuntos diversos e do seu interesse.

Já a Alta Gastronomia, diferentemente das outras (que são revistas de culinária), configura-se como uma revista de gastronomia, termo este empregado com o sentido de “arte do bem comer e do saber escolher a melhor bebida para acompanhar a refeição” (Gomensoro, 1999:195).

O seu leitor é aquele que percebe “a diferença entre comer e saborear” e que dispõe de poder aquisitivo para obter os ingredientes, muitas vezes importados e difíceis de se adquirir. Além disso, interessa-se em adquirir uma cultura gastronômica: almeja conhecer as novidades do mundo gastronômico, a história dos ingredientes utilizados na confecção dos pratos e os bons vinhos, próprios para acompanhá-los. Caso resolva pôr em prática as receitas oferecidas, certamente será bem sucedido, por ter conhecimento necessário do significado de palavras estrangeiras (especialmente do francês ou do italiano), experiência na confecção de pratos mais sofisticados e domínio de variadas técnicas culinárias.

Finalmente, concluímos que, embora em uma escala variável quanto ao grau de conhecimento, há uma exigência implícita em comum nas publicações analisadas: para a realização de suas receitas, é necessário ter-se alguma experiência anterior na arte de cozinhar. Sem tal vivência, dificilmente conseguir-se-á sucesso na elaboração de um prato.

BIBLIOGRAFIA

CHARAUDEAU, Patrick. “Para uma nova análise do discurso”. In: CARNEIRO, Agostinho Dias (org.). O discurso da mídia. Rio de Janeiro, Oficina do Autor, 1996. (Série Investigações Lingüísticas, vol. 2).

GOMENSORO, Maria Lucia. Pequeno Dicionário de Gastronomia. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.

------. Termos-chave da análise do discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2000.

MONNERAT, Rosane Mauro. A publicidade pelo avesso: propaganda, ideologias e mitos e a expressão da idéia - o processo de criação da palavra publicitária. Niterói: EDUFF, 2003.