DIALÉTICA
DA SIGNIFICAÇÃO NO
DISCURSO
ÉTICA
E
MORAL
Maria
Margarida
de Andrade
(Univ. Mackenzie)
Desde a antigüidade
greco-romana sabe-se
que os filósofos e
gramáticos
já se preocupavam
com os
problemas da significação das
palavras e da
comunicação
lingüística.
O
significado
das
palavras
em
estado
de
dicionário,
ou
seja, no
sistema
da
língua,
é
neutro;
em
situação
de
discurso,
isto
é, no
uso,
é
que
se revelam os
múltiplos
significados,
as
diferenças
profundas
ou
sutis
em
palavras
que
aparentemente
são
sinônimas.
Ainda
que
façam
parte
de uma
série
sinonímica,
em
situação
de
discurso
cada
palavra
assume
um
significado
específico.
A
título
de
exemplo,
veja-se no
Novo
Aurélio
Século
XXI (1999, p. 1020) a
entrada
guia,
com
21
significados
não
relacionados
entre
si.
Collinson, citado
por
ULLMANN (1977, p. 294) aponta
nove
motivos
que
alteram o
sentido
de
um
vocábulo,
entre
eles:
um
pode
ser
mais
geral
que
outro
(médico/cirurgião);
um
mais
intenso
que
outro
(recusar/repudiar);
um
mais
emotivo
que
outro
(rejeitar/declinar);
um
mais
profissional
que
outro
(óbito/morte);
um
mais
literário
que
outro
(morte/passamento);
um
mais
coloquial
que
outro
(dizer
que
não/recusar);
um
mais
local
ou
dialetal
que
outro
(açougueiro/carniceiro).
A
série
sinonímica
deixar,
abandonar,
rejeitar,
renunciar
ilustra
bem
a afirmação de
que
não
existem
sinônimos
perfeitos
ou
absolutos.
Um
fumante
pode
deixar,
abandonar,
rejeitar
ou
renunciar
o
cigarro,
porém
se a
mãe
deixar
seu
filho
na
creche
para
trabalhar
não
significa
abandonar,
rejeitar
ou
renunciar
a
ele.
Analisando-se
pares
de
palavras
em
situação
de
discurso
ficarão
evidentes
as
diferenças
de significação
em
vocábulos
aparentemente
sinônimos,
como:
concernente/pertinente;
estreito/estrito;
signo/símbolo;
inédito/original;
probabilidade/possibilidade;
contrário/contraditório;
cargo/função;
palavra/termo
e
tantos
outros.
Às variações decorrentes da
adaptação
ao
contexto
lingüístico,
agregam-se variações extralingüísticas,
conforme
a
época,
o
lugar,
a
cultura
e a
sociedade.
O
Homem
não
vive isoladamente,
mas
dentro
de uma
comunidade
que
deve
ser
mantida e preservada. A
relação
de
sobrevivência
, o
bom
andamento
do
grupo
a
par
dos
interesses
do
indivíduo
determinam uma
grande
classe
de
valores.
No
século
XIX surgiu uma
disciplina,
a
teoria
dos
valores
ou
axiologia (do
grego,
axiós =
valor),
que
se preocupa
com
as
relações
que
se estabelecem
entre
os
seres
(coisas
inertes,
seres
vivos
ou
idéias)
e o
sujeito
que
os analisa. Os
valores,
num
primeiro
momento
são
herdados:
desde
cedo
aprendem-se
normas
de
comportamento,
direitos
e
deveres,
que
podem
ser
éticos
ou
morais.
O
comportamento
pode
ser
avaliado
como
bom
ou
mau,
conforme
obedeçam
ou
transgridam os
padrões
aceitos
pela
sociedade.
Pela
significação de
um
vocábulo
pode-se
deduzir
os
conceitos
inerentes
a
ele.
Os
gregos,
por
exemplo,
distinguiam os
conceitos
de
tempo
por
meio
de
dois
vocábulos:
cronos = a
passagem
do
tempo,
donde provém
cronologia;
cairós o
tempo
certo
para
determinados
eventos.
O
ideal
de
beleza
cultuado
pelo
mundo
helênico
determinou o
emprego
do
mesmo
vocábulo
kalós
para
significar
belo
e
bom.
Os
conceitos
de
ética
e
moral
apresentam alterações significativas, devidas às
diferenças
cronológicas, diatópicas e diastráticas.
Porém,
até
na
etimologia
os
dois
conceitos
apresentam
grande
semelhança:
ética
provém do
Grego,
éthiké,
pelo
Latim,
ethica,
ligada
ao
adjetivo
éthikós,
pelo
Latim,
ethicu,
Segundo
Machado
(1967, p. 978 e 1605)
ético
significa
moral,
que
vem do
Latim,
mos, moris,
com
o
significado
de “maneira
de
comportamento
regulada
pelo
uso”,
e se relaciona
com
o
adjetivo
moralis, morale, “relativo
aos
costumes”,
por
via
culta.
NASCENTES
(1969,p. 259)
registra
ética
e
moral
na
mesma
entrada,
com
o
significado
de “ciência
dos
costumes,
que
dá
regras
de
conduta
fundadas na
noção
do
bem
e do
mal”.
LALANDE (13 ed. 1980, p. 305 e
655) critica o
conceito
de
ética,
que
tem sido aplicado à
moral,
sob
todas as
formas,
seja
como
ciência,
seja
como
arte
de
normatizar
a
conduta.
Afirma
também
que,
historicamente, os filósofos
alemães
que
sucederam a Kant adotaram a
tendência
de
separar
ética
e
moral.
À
moral
são
atribuídos
três
conceitos
distintos:
a)
conjunto
de
prescrições
concernentes
a uma
época,
em
determinada
sociedade;
b)
ciência
que
tem
como
objeto
a
conduta
humana;
c)
ciência
cujo
objeto
imediato
são
os
julgamentos
de
valor
sobre
os
atos,
qualificados
bons
ou
maus.
Finaliza
sua
crítica
ao
verbete
ÉTICA,
afirmando
que
os
significados
de
ética
e
moral
freqüentemente
se confundem,
contudo,
tal
fato
não
exclui uma
distinção
nítida
entre
os
dois
termos.
Uma
definição
bem
abrangente encontra-se
em
BORBA (2202, p. 653):
Ética
Nf
abstrato
de
estado
1-“conjunto
de
conhecimentos
sobre
os
valores
morais
e os
princípios
ideais
da
conduta
humana.
2-
conjunto
de
princípios
morais
que
se deve
observar
no
exercício
de uma
profissão.
3-
conjunto
de
princípios
ideais
de
conduta.
4-
ideal
de
conduta,
modelo
de
comportamento”.
Moral
Nf
abstrato
de
estado
1-
conjunto
de
regras
de
conduta
consideradas válidas,
quer
de
modo
absoluto
para
qualquer
tempo
ou
lugar,
quer
para
grupo
ou
pessoa
determinada.
Em
suma,
Moral
pode
ser
conceituada
como
a
submissão
aos
valores
pré-estabelecidos,
que
se opõe a
imoral,
oposição
a
todo
valor
e
amoral,
indiferente
ao
valor.
Conforme
a
adequação
(ou
não)
à
norma
estabelecida o
ato
será considerado
moral
ou
imoral,
porque
é uma
capacidade
fundamental
do
ser
humano
produzir
interdições
(proibições).
O
comportamento
moral
varia de
acordo
com
o
tempo,
o
lugar
e as
exigências
das
normas
de
comportamento
coletivo,
estabelecidas
por
uma
sociedade.
LALANDE (1980) afirma
que
“Cada
povo
tem a
sua
moral,
determinada
pela
condições
em
que
vive”.
Em
cada
época
do
desenvolvimento
cultural das
sociedades
predominava
um
conceito
de
moral,
que
se
passa
a
relatar
sucintamente.
Na antigüidade
clássica,
os sofistas
gregos
rejeitavam a
tradição
mítica
primordial,
admitindo
que
os
princípios
morais
são
fruto
de
convenções
humanas.
Sócrates opôs-se aos sofistas e,
embora
rejeitasse
também
a
tradição
mítica, admitia
que
os
princípios
morais
não
se fundamentavam nas
convenções,
mas
na
natureza
humana.
Platão, Aristóteles e
outros
filósofos expressaram
cada
qual
seu
ponto
de
vista,
embora
partilhassem a
convicção
de
que
a
virtude
(o
bem)
se identifica
com
a
sabedoria
e o
vício
(o
mal),
com
a
ignorância.
Como
os
gregos
considerassem
em
alto
grau
as
noções
de
cidadania,
a
moral
estava, inevitavelmente,
ligada
à
política.
Na
Idade
Média,
caracterizada
pela
visão
teocêntrica do
mundo
e
pelo
regime
feudal, o
trabalho
era
desvalorizado e restrito aos
servos.
O
teocentrismo
determinou a
identificação
da
moral
com
a
fé
cristã. O
homem
moral
era
aquele
temente
a
Deus;
o
ato
moral
deveria
estar
de
acordo
com
as
normas
do
cristianismo.
O
aparecimento
da
burguesia
fez
surgir
novos
valores
e
novas
relações
de
trabalho,
que
resultaram na
crítica
à
ociosidade
e,
conseqüentemente,
na valorização do
trabalho.
A
moral,
embora
seja reconhecida
como
submissão
às
normas
estabelecidas,
não
se reduz à
herança
dos
valores
recebidos
por
tradição.
O
Homem
é ao
mesmo
tempo
herdeiro
e
criador
da
cultura,
portanto,
se
em
determinado
momento
as
normas
se tornam caducas
ou
obsoletas, devem
ser
mudadas.
Em
outras
palavras,
o
Homem
só
terá
vida
autenticamente
moral
se,
diante
da
moral
constituída
for
capaz
de
propor
a
moral
constituinte,
feita
por
meio
das
experiências
vividas.
A
partir
da
Idade
Moderna,
culminando no
movimento
intelectual
do
Iluminismo,
a
moral
se desligou da
religião,
tornando-se
laica
ou
secularizada.
Ser
moral
já
não
significa
ser
religioso,
pois
não
são
mais
situações
inseparáveis,
porque
o
fundamento
dos
valores,
dessa
época
em
diante,
não
se
encontra
em
Deus,
mas
no
próprio
Homem.
O
Iluminismo,
que
surgiu no
século
XVIII, o
Século
das
Luzes,
exaltava a
capacidade
do
Homem
de
agir
pela
razão
e criticava
a
religião
que
o subjugava aos
preconceitos,
podendo levá-lo ao
fanatismo.
A rejeição de
toda
tutela,
baseada
no
princípio
de
autoridade,
defende o
ideal
de
tolerância
e
autonomia,
ampliando o
grau
de
consciência
e
liberdade
e,
portanto,
de
responsabilidade
pessoal
no
comportamento
moral.
Tais
concepções
introduziram
um
elemento
contraditório
que,
com
o
tempo,
tornou-se
fonte
de
angústia
para
o
Homem:
a
moral,
que
ao
mesmo
tempo
é
um
conjunto
de
regras
que
orientam o
comportamento
dos
indivíduos
de
um
grupo
social,
é
também
a
livre
aceitação
das
normas
pelo
indivíduo.
Isso
significa
que
o
ato
moral
diz
respeito
ao
indivíduo,
no
mais
fundo
do
seu
foro
íntimo,
ao
mesmo
tempo
que
o vincula às
pessoas
com
as
quais
convive.
A
aceitação
do
caráter
unicamente
social
da
moral
pode
levar
ao
dogmatismo
e ao
legalismo. No
entanto,
aceitando-se
como
predominante o
questionamento
das
normas
pelo
indivíduo,
corre-se o
risco
de
cair
no
individualismo,
e,
conseqüentemente,
no amoralismo,
ou
seja,
ausência
de
princípios.
ARANHA
e MARTINS (1993, p. 276) afirmam:
Portanto,
é
preciso
considerar
os
dois
pólos
contraditórios
do
pessoal
e do
social
numa
relação
dialética,
ou
seja, numa
relação
que
estabeleça o
tempo
todo
a
implicação
recíproca
entre
determinismo
e
liberdade,
entre
adaptação
e desadaptação à
norma,
aceitação
e recusa da
interdição.
A
questão
é
sumamente
importante
nos
tempos
atuais,
quando
o
estilo
de
vida
é o
oposto
das
sociedades
tradicionais,
que
mantêm a
homogeneidade
de
pensamento
e
valores.
Atualmente,
nas
grandes
cidades,
onde
há inúmeras
expressões
de
moralidade
torna-se
necessária
a
aceitação
de
valores
de
grupos
diferentes,
evitando-se o
moralismo,
que
consiste na
imposição
de
um
ponto
de
vista
particular
a
todos
os
outros.
A
moral
contemporânea,
portanto,
evoluiu da
concepção
grega
de
princípios
morais
resultantes
de
convenções
ou
da
natureza
humana,
para
a
Idade
Média,
quando
as
concepções
éticas,
as
noções
do
bem
e do
mal
eram impregnadas dos
valores
religiosos,
transcendentes
e vinculados à
fé
cristã.
A
partir
da
Idade
Moderna,
o
fundamento
dos
valores
não
mais
se encontrava
em
Deus,
segundo
a
visão
teocêntrica do
mundo,
predominante na
Idade
Média,
mas
no
próprio
Homem.
O
Homem
passou a
ser
a
medida
de todas as
coisas.
Com
a secularização da
moral
tornou-se
possível
a
construção
de
um
projeto
desligado
da
religião,
cujo
fundamento
se encontrava na
razão.
Nos
séculos
seguintes,
várias
críticas
se fizeram à
razão,
seja
por
abafar
os
sentimentos,
emoções
e a instintividade, os
valores
da
vida,
seja
por
tornar-se
instrumento
de
opressão
política,
mascarando a
ideologia..
Acrescente-se
ainda
que,
enquanto
instrumento
capaz
de
desenvolver
a
ciência
e a
tecnologia,
revela-se impotente
para
resolver
os
problemas
por
elas
desencadeados.
Enfim,
o
ato
moral
pressupõe
solidariedade,
sociabilidade,
cooperação
e
reciprocidade;
provoca
efeitos
não
somente
na
pessoa
que
age,
mas
naquelas
que
a cercam,
ou
seja, na
sociedade.
A
análise
de uma
crônica
de CONY , A
moral
e a
ética
(Folha
de S. Paulo, 22-02-2003, Cad. A2),
exemplifica a variação e a
evolução
desses
vocábulos,
com
graça
e
humor
(já
foi
dito
que
“Nem
toda
sabedoria
precisa
ser
grave
e
séria”).
Nesta
crônica,
Cony relata
um
episódio
ocorrido
nos
anos
40,
que
se tornou
escândalo
público,
quando
um
deputado
deixou-se
fotografar
de
cuecas
e foi cassado
por
falta
de
decoro
parlamentar
¾ a
ética
ainda
não
estava
em
moda.
Ele
alegou
que
fora
enganado
pelo
fotógrafo,
que
lhe
pedira
para
vestir
a
casaca
sem
as
calças.
O
decoro
parlamentar, naquele
tempo,
precisava de
calças.
Hoje
precisa,
além de
calças, de
muita
ética,
que é
administrada
por uma
comissão
obviamente de
ética.”
Continua, revelando
sua
implicância
com
a
palavra
“ética”,
que
“tende a
substituir
a desmoralizada
palavra
“moral”,
para
em
seguida
definir:
A
ética seria a
moral
compartimentada num
determinado
ofício
ou
função: a
ética do
médico, do
sacerdote, do
jornalista, do
parlamentar.
Por
que
não a
moral
pura e
simples,
que é
abrangente e transcende o
ofício e a
função?”
Transportando-se os
conceitos
implícitos
na referida
crônica,
pode-se
construir
um
octógono,
de
acordo
com
a
semiótica
greimasiana, apontando as
relações
dialéticas
subjacentes
ao
Universo
de
Discurso
do
vocábulo
MORAL.
O
termo
dominante
do UD,
MORAL,
articula-se
com
dois
semas:
contrários
S1
ética
X S2
improbidade,
suscitando
relações
dialéticas
do
gráfico
seguinte.
Segundo
Greimas (1975) e
PAIS
(1993), o
termo
S (MORAL)
aparece
como
um
eixo
semântico
que
se opõe a nS (DESMORALIZAÇÃO).
O
eixo
semântico
S (MORAL)
articula-se, no
nível
do
conteúdo,
com
dois
semas
contrários:
S1 (ética)
x S2 (improbidade).
Esses
dois
semas indicam os
termos
contraditórios:
nS1 (n –
ética)
x nS2 (probidade).
Atributos
da deixis
positiva
Honestidade
Pudor
Decoro
Honra
Integridade
Dignidade |
Atributo
da
deixis
negativa
desonestidade
despudor
indecorosidade
desonra |
A
estrutura
elementar
da significação (S) articula as
categorias
sêmicas e as
instâncias
constitutivas dos
sistemas
semióticos.
Assim,
os
conteúdos
ética
e
improbidade
concebem
todo
o
universo
semântico
representado
por
S1 S2.
Esses
termos
se articulam,
cada
qual,
em
duas
instâncias
sistemáticas:
definições
positivas e
negativas,
que
se expressam
respectivamente:
S1 x nS2; S2 x nS1 e
que
se articulam
em
sistemas
sêmicos.
Para
estabelecer
os
quatro
termos,
toma-se, a
partir
de
cada
um
o
contrário
e o
contraditório,
para
obter
os
outros
três.
Os
termos
sêmicos,
por
suas
definições
relacionais, agrupam-se
dois
a
dois,
segundo
as
seis
dimensões
sistemáticas:
·
dois
eixos:
S e nS estão
em
relação
de
contradição.
S (MORAL)
é o
eixo
complexo,
pois
compreende S1 e S2; nS (DESMORALIZAÇÃO),
eixo
dos
contraditórios:
nS1 e nS2,
portanto,
é o
eixo
neutro,
relativamente
a S1 e S2 ,
porque
pode
ser
definido
como
nem
S1,
nem
S2.
·
dois
esquemas:
S1 + nS1 constituem o
esquema
1; S2 + nS2, o
esquema
2.
Cada
um
deles representa uma
relação
de
contradição.
· duas deixis: a
primeira,
constituída
pela
relação
de
implicação
entre
S1 e nS2; a
segunda,
pela
implicação
entre
S2 e nS1.
Esquematicamente, tem-se:
RELAÇÕES
CONSTITUTIVAS |
DIMENSÕES
ESTRUTURAIS |
ESTRUTURAS
SÊMICAS |
contrariedade |
eixo
S (complexo)
eixo
nS (neutro) |
S1 + S2
NS1 + nS2 |
contradição |
esquema
1
esquema
2 |
S1 + nS1
S2 + nS2 |
implicação
simples |
deixis 1
deixis 2 |
S1 + nS2
S2 + nS1 |
(Greimas, 1975, p. 130)
Desse
modo,
pode-se
apontar
três
tipos
de
relações
dialéticas:
a) hierárquicas –
relação
hiponímica
estabelecida
entre
s1,
s2 e S;
outra
entre
ns1, ns2
e nS;
b) categóricas
*relação
de
contradição
entre
S X nS; no
nível
hierarquicamente
inferior,
nS1X nS2;
entre
S2 X nS2
*relação
de
contrariedade
articula S1X S2 de
um
lado
e nS1X nS2 de
outro;
*
relação
de
implicação
entre
S1 e nS2 de
um
lado
e
entre
nS2 e S1 de
outro;
S2 implica nS1; S1 implica nS2
ou
o inverso.
Pode-se
dizer
que,
relativamente
à
manifestação,
S (MORAL)
apresenta-se
como
um
conjunto
de
injunções
(prescrições
ou
injunções
positivas, de compatibilidade) (S1) e (nS) (DESMORALIZAÇÃO)
como
um
conjunto
de não-injunções (interdições
ou
injunções
negativas
ou
de
incompatibilidade)
(S2), representados,
segundo
Greimas (1975) no
seguinte
quadro:
Relações
permitidas
Relações
excluídas
compatibilidades
incompatibilidades
(deixis 1)
(deixis 2)
(S)
injunções
prescrições
interdições
(injunções
positivas) (injunções
negativas)
S1
S2
nS2 nS1
(nS)
não
injunções
não
interdições
não
prescrições
(não
injunções
negativas)
(não
injunções
positivas) |
A
esses
quadros
Pais
(1993, p. 504-521), tendo
em
vista
o
dinamismo
destas
relações,
incluiu
um
percurso dialético, constituído de
dois
ciclos:
da deixis
negativa
(indignidade)
ao
termo
neutro
(DESMORALIZAÇÃO),
degradação
da
moral,
caracterizada pelas
injunções
negativas
ou
relações
de
incompatibilidade.
Outro
percurso, da
restauração
da
moral,
parte
da deixis
positiva
(honradez)
à
tensão
dialética
(MORAL),
ou
restauração
da
moral,
cujas
injunções
positivas se definem
como
relações
de compatibilidade.
Em
resumo,
os
dicionaristas
consultados
não
apresentam
divergências
quanto
à significação dos
termos
ética
e
moral,
embora
demonstrem
em
suas
definições
uma
certa
confusão,
melhor
dizendo,
identificação
de
significados
entre
um
e
outro.
Os
esquemas
greimasianos estabelecem as
distinções
subjacentes
aos
conceitos
apresentados e os
tipos
de
relações
depreendidas dos
termos
envolvidos,
em
situação
de
discurso.
Pais
(1993) acrescentou aos
esquemas
greimasianos os percursos dialéticos de desconstrução e
reconstrução
dos
atributos
inerentes
à deixis
negativa
ou
injunções
de
incompatibilidade,
que
leva
à
degradação
moral
e o percurso dialético da
reconstrução,
caracterizado
pelos
atributos
da deixis
positiva,
ou
reconstrução
da
moral,
cujas
injunções
positivas revelam-se
como
relações
de compatibilidade.
A
crônica de Cony,
com a
leveza de
estilo
que se
espera de uma
crônica, reafirma,
em
linguagem
leiga, os
conceitos apontados
pelos
dicionaristas, filósofos e
semanticistas.
Portanto,
de
tudo
o
que
foi
exposto,
pode-se
concluir
que
ética
e
moral,
dois
termos
aparentemente
sinônimos,
admitem
distinções
e
equivalências.
Ambos
sofrem variações
nos
seus
significados,
em
virtude
das
diferenças
de
tempo,
de
lugar,
de
cultura,
ou
de
visão
de
mundo
de
cada
sociedade.
Ambos
apresentam, no
discurso,
distinções
devidas ao
uso,
por
motivo
de
diferenças
sociais,
temporais
e geográficas.
LALANDE (1980, p. 306), define
Ética
como
“ciência
que
tem
por
objeto
o
julgamento
de
valor,
aplicado à
distinção
entre
o
BEM
e o
MAL”
e atribui à
Moral
três
conceitos
distintos.
Conclui
que:
“os
significados
atribuídos à
Moral
e
Ética
freqüentemente
se confundem,
mas
isto
não
exclui,
absolutamente
uma
distinção
nítida
de
suas
definições.”
O
Dicionário
de
usos
do
Português
do Brasil,
de BORBA (2002),
um
dos
mais
recentes
entre
os consultados,
registra
as
diferenças
apontadas
por
outros
autores.
Ao
contrário
de LALANDE,
porém,
registra
um
único
conceito
geral
para
Moral,
na
acepção
aqui
analisada: “conjunto
de
regras
de
conduta
consideradas válidas,
quer
de
modo
absoluto
para
qualquer
tempo
ou
lugar,
quer
para
grupo
ou
pessoa
determinada”.
O
mesmo
Autor
(BORBA, 2002 p.1060) especifica
quatro
acepções
para
Ética:
1-
conjunto
de
conhecimentos
sobre
os
valores
morais
e os
princípios
ideais
da
conduta
humana.
2-
conjunto
de
princípios
morais
que
se deve
observar
no
exercício
de uma
profissão.
3-
conjunto
de
princípios
ideais
de
conduta.
4-
ideal
de
conduta,
modelo
de
comportamento.
A
conclusão
final a
que se
chega, de
acordo
com a unanimidade dos
autores consultados, é
que
moral tem
um
sentido
mais
social,
mais
geral
enquanto
ética refere-se ao
indivíduo
ou uma
classe de
indivíduos.
Como
diz Cony
em
sua
crônica,
empregando
linguagem
simples
e desataviada:
“A
ética
seria
a
moral
compartimentada num
determinado
ofício
ou
função:
a
ética
do
médico,
do
sacerdote,
do
jornalista,
do
parlamentar.”
A
moral
“é abrangente e transcende o
ofício
e a
função”.
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